O sol gargalhava raios de luz e as flores portavam coloridos vestidos de veludo e seda.
Era feriado e a notícia me chegou, atingindo-me em cheio o coração.
Senti como se um punhal se cravasse em meu peito e dilacerasse o órgão cardíaco.
Por alguns instantes, sequer consegui algo balbuciar.
O impacto da morte súbita, o acidente brutal, eram tantas informações chegando, aos atropelos, que meu cérebro parecia desejar concatenar ideias, sem conseguir, de imediato.
Na sequência, foram as providências, e tantas eram, para serem diligenciadas.
Esteio dos familiares, fiz-me fortaleza moral enquanto ansiava por derramar lágrimas, chorar intensamente.
Apenas isso.
Sim, eu sabia da vida que não morre, da Imortalidade do Espírito, da vida do Mais Além.
Contudo, a rapidez com que tudo aconteceu, me surpreendeu.
Em verdade, é assim: nunca aguardamos que a morte nos venha bater à porta.
E, no entanto, nada há de mais preciso.
Receber os amigos, os parentes, os colegas de trabalho, providenciar flores, o sepultamento, tudo me foi tomando as horas.
Mas, então, parei.
E quando parei, ouvi a passarada orquestrando uma sinfonia.
Indaguei-me como podia haver tanta alegria lá fora se meu coração estava tão triste.
Cheguei à janela e observei o quadro de tantos outros dias.
O jardim exalava perfumes, o vento bailava entre a ramagem dos arbustos, a passarada brincava.
Um beija-flor, em seu espetacular voo, visitou uma e outra flor.
Pareceu pairar no ar, como em êxtase.
Sim, eu sofria.
Mas Deus continuava a derramar as Suas bênçãos pela Terra.
Pensei em quantos, como eu, sofriam a perda física de um amor.
Pensei em tantos outros que, entre risos e emoção, recebiam um novo ser entre seus braços.
Vida.
Morte.
Renascimento.
E, então, aprendi a primeira lição da morte: a orquestra da vida não para de tocar porque um músico se vai.
O concerto prossegue.
E prossegue porque a vida se renova incessantemente.
Enquanto penso, escrevo e falo, quantas transformações ocorrem em mim.
Células morrem, são repostas.
E eu continuo a trabalhar, a agir, a amar.
Segunda lição da morte: o amor não morre quando o amado transpõe o portal da morte.
O amor é imortal e acompanha o amado em sua peregrinação pela Espiritualidade.
Então, orei.
Orei por mim, pelos que ficamos abraçados à pauta da saudade, por você que alçava voo para espaços mais amplos.
E aprendi a terceira lição: a oração nos une onde quer que nos encontremos.
Ela estabelece a ligação entre as almas, a comunhão entre os Espíritos.
E, além disso, dulcifica a imensa saudade, acarinha a face da esperança do reencontro.
Reencontro breve, nas asas do sonho ou um pouco depois, quando eu também transpuser a aduana da morte e adentrar pelos portões da vida maior.
Por isso, digo:
-Até breve, amor!
Redação do Momento Espírita.
Em 31.10.2012.
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