O pôr do sol a fez lembrar-se do seu pai.
E ela começou a falar.
Ele estava mortalmente enfermo e sabia disso.
Ela abandonou o seu trabalho para estar com ele.
E conversaram sobre a partida que se aproximava, tranquilamente.
Aqueles que aceitam a chegada da morte ficam tranquilos.
Disse-me que a hora que seu pai mais amava era o crepúsculo.
Desde menina, ele se assentava com ela e ia mostrando a beleza das nuvens incendiadas, a progressiva e rápida sucessão das cores: azul, verde, amarelo, abóbora, vermelho, roxo...
À medida que a morte se aproximava, a fraqueza aumentava.
Mas, mesmo fraco, queria ver o pôr do sol.
Talvez pela irmandade de um homem que morre e um sol que se põe.
Numa dessas tardes, ela não conseguiu conter as lágrimas.
Chorou.
Ele a abraçou e colocou seu dedo sobre seus lábios.
-“Não quero que você chore...”
E, apontando para o sol que se punha, disse:
-“Eu estarei lá...”
E contou-me também de uma orquídea que silenciosamente acompanhou esses momentos de despedida.
A orquídea, depois que seu pai partiu para o pôr do sol, se recusou a parar de florir...
Será que o seu pai foi morar na orquídea?
É possível...
* * *
O belo texto de Ruben Alves aborda, com delicadeza, uma temática muito comum nos textos espíritas.
A Doutrina dos Espíritos tem como arcabouço maior a imortalidade da alma.
Foram as vozes dos imortais que se fizeram ouvir através da mediunidade segura e confiável de jovens francesas.
Foram essas vozes que bradaram:
-A morte não existe! Estamos aqui! Mais vivos do que nunca! Estamos no pôr do sol.
E foram esses Espíritos, almas que já haviam vivido na Terra, que iniciaram o processo de elaboração da chamada Codificação Espírita.
A autoria do Espiritismo é dos Espíritos em conjunto com Kardec.
Foram os seres que já se encontram no pôr do sol que anunciaram verdades confortantes aos amigos encarnados na Terra.
A orquídea que nunca deixa de florir é similar à alma humana.
Nunca deixa de existir, nunca deixa de crescer e florescer.
Haverá dia em que iremos encarar a morte de forma diferente.
Uma separação temporária que, às vezes, nem mesmo separação o é – se considerarmos que entre almas não necessita haver afastamento.
O amor não se perde nunca, pois ele não está no outro, está em nós.
O ser amado ora está aqui, ora acolá, nesses tantos ir e vires da vida, mas isso não faz o amor fenecer nem desistir de amar.
O amor, por ser criação de Deus - como tudo, nEle confia sempre.
Nele se fortalece.
Que as inevitáveis separações da vida possam ser vistas de ângulos diferentes daqueles de sempre.
Não perdemos ninguém, pois a ninguém possuímos na verdade.
Ninguém deixa de existir, pois a morte não existe.
É apenas um momento de transição de um estado de vida para outro.
Todos vivem.
Todos viveremos.
Redação do Momento Espírita, inspirado no texto
O pôr do sol e a orquídea, do livro Ostra feliz não faz
pérola, de Ruben Alves, ed. Planeta.
Em 16.1.2024.
http://momento.com.br/pt/index.php
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