sexta-feira, 27 de outubro de 2023

A LIÇÃO DA ÁRVORE

Um homem bom, que amava a natureza, plantou a mudinha em um dia pleno de sol. 
Ela brotou exuberante e cheia de vida, feliz, espreguiçando os braços, alongando-os dia a dia. 
De início, quase ninguém reparou naquele projeto de árvore que crescia e se cobria de folhas, agitando-as ao vento brando que as tocava. 
Finalmente, ela se tornou uma árvore robusta, os ramos viraram galhos fortes e ela adquiriu a maioridade vegetal. 
Nos dias de sol forte, as pessoas se acolhiam debaixo de sua fronde, enquanto aguardavam a condução que as levaria aos seus destinos. 
As crianças aproveitavam para se pendurar em seus braços, balançando-se de cá para lá. 
E todos foram se acostumando com aquela presença amiga e silenciosa que dava sombra, que suportava as pessoas que se encostavam em seu tronco, que aguentava as crianças subindo e descendo, e se pendurando em seus galhos.
Contudo, numa noite de tristeza, um homem descontente com as folhas que caíam no outono e as flores da primavera que atapetavam o chão, resolveu cortar a árvore. 
Ele não queria o trabalho de recolher as folhas mortas, nem de varrer as flores que coloriam a relva e formavam interessantes arabescos. 
Quando o dia despertou, o que se via eram os galhos cortados, amontoados na calçada e um pedaço de tronco erguendo-se nu, quase envergonhado. 
As crianças lamentaram, os adultos questionaram quem teria executado tal maldade. 
E o tronco lá ficou, liso, em pé, sem proteção alguma, aguentando o frio das noites invernosas e o calor das tardes.
Também a chuva, o vento. 
E todos pensaram que a árvore morreria de tristeza e de dor por tanta crueldade. 
Ela dera tudo de si, doara-se sem reservas. 
Que recebera em troca senão uma sentença de morte?
Entretanto, os dias rolaram, emendando na semana que se enroscou no mês e os meses na estação seguinte. 
Então, a árvore corajosa resolveu brotar novamente. 
E pequenas folhas verdes apareceram no topo do tronco e nas laterais. 
Folhas tenras, anunciando o retorno à vida. 
A árvore esqueceu os maus tratos, a tentativa de morte e num gesto de autêntico perdão, se dispôs a reviver. 
* * * 
OLAVO BILAC
O grande Olavo Bilac, ao se referir às velhas árvores, escreveu, um dia: 
-Não choremos, amigo, a mocidade! 
 Envelheçamos rindo! Envelheçamos 
Como as árvores fortes envelhecem: 
 Na glória da alegria e da bondade, 
Agasalhando os pássaros nos ramos, 
Dando sombra e consolo aos que padecem.
Parafraseando o poeta, dizemos que bom seria que aprendêssemos com as árvores a lição do perdão, ofertando a quem nos fere a outra face, a da doação. 
Bom seria que, decepados pela calúnia e pela maldade, nos erguêssemos, ofertando flores e frutos em abundância.
Pensemos nisto: perdão é gesto de quem não agasalha mágoas, nem alimenta rancor. 
É gesto de quem vive liberto porque não se permite a prisão da dor da revolta pela injustiça. 
Nem se deixa infelicitar pela infelicidade e inveja dos maus.
Vive plenamente, produz todo o bem que possa e releva os atos indignos, próprios de quem vive prisioneiro de sua própria pequenez. 
Sejamos pois, como a árvore amiga, retribuindo o mal com o bem e nos importando muito mais com quem nos ama do que com quem nos despreza. 
Valorizemos o amor. 
Valorizemos o bem. 
Redação do Momento Espírita. 
Disponível no CD Momento Espírita, v. 30, ed. FEP. 
Em 31.8.2016.

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