quarta-feira, 18 de outubro de 2023

QUERER ANTECIPAR A PRIMAVERA

Querer antecipar a primavera 
É fechar os olhos para as flores invernais. 
É perder a chance de esquentar as mãos, 
De fechar a casa e viver do próprio calor, 
Um tanto mais...
* * * 
Em tempos de ansiedade, em tempos de aversão a qualquer tipo de desconforto passageiro, estamos deixando de aprender com o tempo do agora. 
Vemos os dias da semana como meros sacrifícios para chegarmos numa sexta-feira à noite. 
Vemos as horas do dia como inimigas, que nos impedem de alcançar as seis da tarde, que consideramos a hora da libertação do trabalho.
Vemos os meses do ano como fardos a serem carregados para que alcancemos logo o período das férias. 
Feriados são caçados a dedo nos calendários, como sendo a salvação para os dias enfadonhos. 
Tudo isso como se a vida fosse uma sucessão de aflições constantes, de fatos, coisas e pessoas que temos que tolerar para podermos usufruir, apenas, de breves e fugazes momentos de felicidade. 
Queremos antecipar a primavera. Não somos capazes de admirar as belezas do inverno e o tudo que ele nos traz.
Podemos, talvez, dizer que essa seria uma conduta masoquista. 
Admirar o que não se gosta? 
Curtir o incômodo? 
No entanto, não se trata disso. 
É uma constatação bem mais profunda, que começa com a ideia de que nem tudo que parece ruim, nos faz mal. 
Aquilo que dizemos não gostar, o frio intenso do inverno, por exemplo, é um convite a desenvolvermos outras habilidades.
Toda adversidade é um desafio. 
Todo desafio é uma proposta da vida para uma mudança de patamar, de perspectiva. 
É uma proposta de crescimento. 
Crescemos pelo amor e pela dor. 
Por que não? 
Não essa dor gratuita que provocamos, que criamos sem necessidade, mas a dor das provas, do esforço, do ir um pouco além. 
Quem se fecha para os invernos na vida, em estado de pura revolta, não percebe quantas flores desabrocham nessa estação. 
E podemos falar literalmente. 
A primavera é conhecida como a estação das flores. 
No entanto, existem muitas e muitas flores que aparecem em plena estação fria. 
Vejamos a cerejeira, o pessegueiro, a tulipa, o crisântemo, os lírios. 
Por que fechar os olhos para elas? 
Por que perder a chance de andar pelos jardins em dias frios, se podemos nos proteger do vento gelado? 
Os tempos mais duros têm muito a nos ensinar. As segundas-feiras não precisam ser tão difíceis. 
E as quartas podem ser tão agradáveis quanto os feriados.
Inverno é tempo de olhar para dentro, de nos recolhermos, mas não de tristeza, de desistência. 
Aproveitemos a beleza de cada estação, sem desejar antecipar a próxima. 
Acalmemos o coração. 
A vida não é uma coleção de breves instantes de felicidade, de júbilo, de finais de semana ou de férias sonhadas. 
A vida é o que acontece no meio de tudo isso. 
A felicidade não está somente nos prêmios. 
Está também e, muito mais, no caminho construído para alcançá-los. 
Pensemos nisso. 
O inverno pode ser tão belo quanto a primavera. 
Não queiramos antecipar as estações. 
Redação do Momento Espírita 
Em 17.10.2023.

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