No sofá, um pai recostado, com as pernas esticadas para frente. Ao lado, o filho, com pouco mais de um ano de idade, na mesma posição.
Entende-se que estão assistindo televisão.
O bebê balbucia consoantes e vogais, de forma desordenada, fazendo gestos muito claros, observando a programação e depois virando-se para o pai.
O pai responde:
-É isso mesmo, ele estava fazendo assim.
E imita os gestos do filho.
A criança contra-argumenta, balançando a cabeça, mudando as expressões faciais.
Ele mantém o diálogo, sorrindo, como se tudo que o filho dissesse fosse inteligível, acrescentando:
-Incrível como pensamos o mesmo, né?
A beleza do vídeo está em vários aspectos.
Ambos estão sorrindo, claramente felizes em poder desfrutar daquele tempo.
Há também o belo na perspicácia do pai que, como se diz popularmente, entrou na onda, e curtiu o momento gracioso ao lado do seu bebê, sem exigências, sem querer transformar aquele instante em lição formal.
Pelo que se entende, a mãe armou a câmera do celular sem ninguém perceber e deixou ali, discretamente, captando o momento inesquecível.
Momento de convívio entre pai e filho, momento de encontro verdadeiro, instante de troca e de educação.
A educação se dá das mais diferentes formas.
Talvez pensemos que ela exige formalidades, que traduzam o peso da responsabilidade que nos cabe como pais e educadores.
Sim, ela é a alma de tudo.
É o diferencial numa família, numa sociedade.
No entanto, educa-se de maneiras imperceptíveis, na grande maioria das vezes.
Educação não está nos discursos dos educadores, nos livros, na imposição de dogmas religiosos.
O que temos aí são ideias, conteúdos, teorias.
A educação se faz pela imitação, pelo convívio, pelo exemplo. Principalmente, pelo exemplo.
Aquele pai mostrou muitas coisas em pouco tempo: mostrou que sabe ouvir o filho; mostrou que é importante trocar ideias, num diálogo aberto.
E isso se cultiva assim, desde os primeiros instantes de vida do filho.
Mostrou que gosta de estar ao lado do filho, que cada instante desses pode ser prazeroso e, por mais que tenha muitas tarefas em sua vida de adulto responsável, nunca deixará de reservar momentos como aquele para colecionar na existência.
* * *
O tempo com eles é sagrado, lembremos disso.
Ele começa no ventre.
Eles nos ouvem, nos sentem, nos percebem.
Não recusemos nenhum pequeno braço ou mão esticada nos convidando para estar.
Não deixemos de ouvir cada frase, de captar cada olhar.
Sejamos, estejamos, sempre de corpo e alma presente.
Eles sabem quando só o corpo está ali e nossa mente em outro lugar.
Não precisa ser sacrifício, não precisa ser esforço.
Entendamos cada instante, ao lado dos filhos, como um reviver dos nossos dias de infância, um encontro com nossa criança interior.
Se nossa infância foi ruim; ou se não nos recordamos dela; eis a oportunidade de começar de novo, ali, na alegria de viver e de estar com a família, que só as crianças sabem expressar.
Redação do Momento Espírita
Em 4.4.2022.
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