domingo, 30 de setembro de 2018

DIA DA SECRETÁRIA

Trinta de setembro. Dia da secretária. Ao parabenizarmos a categoria, recordarmos o excelente trabalho que desempenha. Muitas vezes, não reconhecido. Dentre essas profissionais, encontram-se as que de tal forma atuam que se chega a pensar possam bem substituir o próprio executivo. São elas que controlam as chamadas telefônicas. Administram o tempo do seu executivo. Sabem, de forma gentil, mas precisa, evitar-lhe o contato direto com quem somente o poderia perturbar. São elas que planificam a agenda, suas viagens, descendo aos mínimos detalhes. Chegam a opinar acerca da cor do terno, da gravata, do sapato que ele deve portar, nessa ou naquela importante reunião de negócios. Um cafezinho, na hora certa, para desanuviar tensões. A discrição, sempre. De um modo geral, elas conhecem pormenores da vida do executivo, gostos e manias. Têm a capacidade de encontrá-lo, mesmo quando ele parece inacessível a qualquer outra pessoa. Não esquecem de coisas mínimas , mas sempre importantes. Providenciam lembretes para que o executivo não esqueça de cumprimentar pessoas renomadas, em datas certas. E também recordam do aniversário da esposa, dos filhos, do aniversário de casamento, da festinha na escola dos pequerruchos. Providenciam rosas, o presente, tudo. Até a festa, se preciso for. Profissionais anônimas, diligenciam para que ele brilhe e se sobressaia. O sucesso dele é a sua alegria. Para elas se poderiam aplicar as palavras do Batista: É preciso que ele cresça e que eu desapareça. Pois é assim que elas agem. Normalmente, os aplausos do mundo não lhes recordam os esforços realizados para que tudo saia a contento. Da concretização de um negócio de vulto à viagem de passeio. 
 * * * 

RAUL TEIXEIRA
Congratulando-nos com as secretárias, no seu dia, recordando-lhes a dedicação (muitas envelhecem na tarefa, ao ponto de se tornarem arquivos vivos), fazemos uma pausa. Pausa para meditar acerca da profissão. A profissão não é apenas um modo de ganhar a vida. Tem a ver com o crescimento da própria criatura. Escolhida antes do nascimento, vem ajustada à necessidade do Espírito que reencarna. A profissão deverá cumprir uma dupla finalidade: atender ao labor de ser peça útil na estrutura social. E atender às necessidades do ganho da moeda. Deve ser entendida como estância de progresso. O profissional de qualquer área, do lavrador ao botânico,do oleiro ao engenheiro, do motorista ao médico, todos se podem se colocar como médiuns do progresso. Todos se podem transformar em cooperadores de Deus na obra da evolução planetária. A missão do homem inteligente na Terra deve ser a de utilizar os recursos de Mamon, pondo-os a serviço de Deus, de modo feliz, fazendo a vida crescer por onde sigam seus passos. É assim que vemos os médicos ao lado dos doentes, professores ilustrando analfabetos, advogados auxiliando exploradores, agricultores amanhando terras. Trabalhar feliz é razão para viver feliz. Profissão que leve o homem a trabalhar feliz será a que o fará seguir no cumprimento dos seus deveres. Você sabia... ...que a profissão de arrumador foi regulamentada no Brasil em 1954? ...e que arrumador é o trabalhador no comércio armazenador? É o que presta serviços de carga e descarga, transporte e empilhamento na orla marítima. Tal como o oleiro, o lixeiro, o padeiro, a doméstica, a babá são profissões pouco lembradas. Até menosprezadas, por alguns. No entanto, são esses profissionais que nos garantem o abrigo, a limpeza, o pão, a descontração. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 6, do livro Cântico da juventude, pelo Espírito Ivan de Albuquerque, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter e no verbete Profissão, da Enciclopédia Mirador, v. 17, ed. Enciclopédia Britânica do Brasil. Em 7.11.2013.

sábado, 29 de setembro de 2018

DRAMA ÍNTIMO

O ônibus, naquela manhã, estava superlotado. O rapaz se acostumara aos empurrões, apertões, pois aquela era sua condução de todos os dias. Um homem alto, entroncado, foi se aproximando dele e comprimindo-o contra as demais pessoas. Desconfortável em sua situação, o jovem tentou se acomodar melhor, quando sentiu o peso de um pé muito grande sobre o seu pé direito. No momento, não sabia o que doía mais: se o pisão ou o fato de, naquela manhã, ele estar calçando sapatos novos. Diga-se, de passagem, ainda não pagos, pois os adquirira à prestação, na véspera. 
-Senhor, disse ele, seria possível tirar o seu pé de cima do meu? 
O homem destilou raiva pelos olhos e, pisando mais forte, perguntou: 
-E daí? Quer encarar? Vai querer briga? 
O jovem contraiu o cenho, mordeu os lábios e não disse mais nada. Não era uma criatura excepcional, mas já aprendera, apesar dos poucos anos vividos, que revidar não é uma boa opção. Por estar próximo do seu destino, puxou o pé, deu o sinal e desceu do ônibus, no ponto seguinte. O sapato estava estragado, rasgado em sua parte superior. Ele ficou bastante triste. 
Dias depois, no templo religioso onde se entregava ao trabalho voluntário, viu adentrar o homem do ônibus. Estava com o rosto carregado, contraído. 
-O que será que ele quer?-Pensou o rapaz- Nem briguei com ele. 
O agressor olhou ao redor e, vendo-o na recepção, se aproximou. 
-Moço, quem pode me ajudar? Estou desesperado. 
E, como se desejasse compartilhar com outra pessoa a dor que o atormentava, foi narrando, aos atropelos, a sua tragédia. Sua mulher, desde alguns meses, enlouquecera. Operário, ele saía cedo para o trabalho e a amarrava na cama. Em outro quarto, ele trancava os quatro filhos pequenos. Já a internara mais de uma vez em hospital para doentes mentais. Quando retornava, à noite, entre os gritos e agressões da esposa demente, ele precisava alimentá-la, banhá-la. Atender aos filhos. Preparar a marmita para o dia seguinte. Estava tão desesperado, confessou, que provocava as pessoas na rua, a fim de que alguém, enfurecendo-se o matasse. Assim, ele acabaria com o seu calvário. Então, o rapaz entendeu. Aquele homem rude era apenas um homem muito sofrido. Ele tinha um problema tão grande, que se tornara agressivo, a fim de se ver livre da aflição. 
 * * * 
Nunca julguemos pelas aparências. Se alguém é grosseiro para conosco, não nos ofendamos com essa atitude. Pode ser que a pessoa tenha um motivo oculto. Assim, a reação violenta das pessoas é, muitas vezes, resultante da violência da vida, de problemas que aturdem o ser humano. Saibamos compreender, ajudar e passar adiante. Coloquemos, tanto quanto possível, o algodão da calma nessas feridas abertas que fazem os seus portadores quase adentrarem pelos arraiais da loucura. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 29, do livro Semeador de estrelas, de Suely Caldas Schubert, ed. Leal. 
Em 21.5.2013.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

NOSSOS DIREITOS

Antônio sentiu-se mal atendido na loja. Reclamou com a vendedora e com o gerente. Saiu contrariado, sem adquirir o produto desejado. Na rua, encontrou um casal de amigos e compartilhou com eles sua indignação. Chegando em casa, acessou o site de reclamações e descreveu em detalhes o ocorrido, registrando, dessa forma, o mau atendimento recebido no estabelecimento, ampliando a reclamação para toda a rede de lojas. Nisso, Antônio perdeu a manhã toda, intoxicando-se com a própria raiva, sem conseguir resolver o que precisava. Ele não se lembrou das vezes em que fora bem atendido naquela mesma loja; das vezes em que os vendedores se desdobraram para conseguir o produto que ele desejava. Tampouco se lembrou das vezes em que estava mal humorado e foi ríspido com quem o atendia. Ele havia ficado frustrado porque não conseguira o desconto que queria no produto. A vendedora tinha um limite e não pudera atender às suas expectativas. Orgulhoso e desacostumado a ser contrariado, Antônio considerou como ofensa a negativa recebida. 
* * * 
Muitas vezes, nosso orgulho nos faz ter uma ideia distorcida dos fatos. Quando nos julgamos mais importantes que os demais, criamos expectativas irreais e nos frustramos por não recebermos o tratamento e a consideração que imaginamos merecer. Esquecemos que todos somos iguais perante as Leis Divinas. E também conforme as leis humanas. Se as leis humanas por vezes são deturpadas para atender aos caprichos de quem se sente no poder, as Leis Divinas não contemplam privilégios. São perfeitas e imutáveis. Quando nos sentimos ofendidos, prejudicados, buscamos os nossos direitos conforme as leis humanas. Reclamamos, despendemos tempo e energia exigindo retratação, compensação, justiça. É de nos perguntarmos se temos esse mesmo empenho para cumprir com os nossos deveres, tanto os deveres cívicos quanto os morais. Basta pensarmos no Decálogo. Basta recordarmos dos ensinamentos de Jesus. Amamos e respeitamos ao Pai Celeste e ao nosso próximo como a nós mesmos? Evitamos cometer atos ilegais, maliciosos, delitos de qualquer espécie, como por exemplo, furar uma fila, sonegar um imposto, corromper um fiscal, entre outros atos? Evitamos falar mal dos outros, deixando a maledicência e a fofoca bem longe de nossas mentes? Somos pacientes e tolerantes com parentes e familiares problemáticos? Atendemos às necessidades de nossos pais, especialmente se idosos e enfermos? Quando não cumprimos com nossos deveres, isso fica registrado, embora não em um site de reclamações. Nossos pensamentos e atos geram energias que ficam gravadas em nós. Se forem negativos, nos acompanham até que mudemos e passemos a agir de acordo com as Leis Divinas. E isso pode tardar anos ou muitas vidas, a depender de nós mesmos. Todos somos credores do respeito aos nossos direitos. Entretanto, não nos esqueçamos de que, acima de tudo, temos o dever de respeitar os direitos de todos ao nosso redor. Se todos assim agirmos, o mundo será um lugar realmente justo para a grande família que compomos, os que habitamos este planeta em transição para um mundo melhor. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 28.9.2018.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

SEJAMOS COMO JESUS

Sejamos como Jesus Certa vez, numa entrevista, Francisco Cândido Xavier foi questionado se o nome Jesus possui algum significado especial. O médium mineiro, a fim de ilustrar a magnitude desse nome, relatou que, quando ainda morava em Pedro Leopoldo, tinha o costume de, semanalmente, unir-se a amigos, a fim de visitar pessoas, em especial as enfermas, e por elas orar. Uma senhora, de nome Valéria, foi acometida de grave pneumonia. Assim, o grupo de amigos decidiu que iria todas as tardes orar junto dela. Numa dessas ocasiões, Chico Xavier pediu: 
-Minha irmã, diga o nome Jesus. 
Ela tentou, mas o mau desempenho respiratório não lhe dava fôlego suficiente para completar a palavra. Em outra oportunidade, após a oração, novamente o médium solicitou: 
-Diga o nome Jesus, minha irmã. 
Valéria esforçou-se muito e, quase que num sussurro, sorriu e disse: 
-Jesus. 
Dias depois, Valéria desencarnou. Alguns anos se passaram. Certa feita, Chico Xavier foi acometido de um infarto. Após os cuidados no hospital, foi enviado para casa, onde deveria fazer repouso absoluto. Nesses dias de convalescença, muitos Espíritos amigos o visitaram, trazendo-lhe conforto físico e espiritual. Todavia, em certa oportunidade, um Espírito se apresentou. Tratava-se de uma bela mulher, envolvida em luz e paz. Com um afável sorriso, aproximou-se dele e falou: 
-Meu irmão, traz grande alegria ao meu coração visitá-lo. Você se lembra de mim? 
O médium, ainda que se esforçasse, não conseguia se recordar daquele rosto.
-Minha irmã, disse ele, você pode me dizer seu nome? Peço perdão, mas não consigo me lembrar de você. 
-Eu não vou lhe dizer meu nome, redarguiu o Espírito. Faça um esforço, Chico! Lembre-se de mim! 
Entretanto, por mais que tentasse, Chico não conseguia se lembrar. Notando a dificuldade do amigo, o Espírito asseverou: 
-Não irei lhe dizer meu nome, querido Chico. Direi apenas uma palavra e você me reconhecerá: Jesus! 
Nesse exato instante, Chico sorriu para ela e a reconheceu: 
-Minha irmã Valéria! Você veio me visitar! 
Emocionada, ela respondeu: 
-Eu vim, meu amigo. E vim por meio dEle, em nome dEle, Jesus.
 * * * 
O Mestre dos mestres, em Sua grandeza, fez-se pequeno. Pobre, nasceu numa manjedoura. Foi ofendido, desacreditado. Inocente de toda culpa, levaram-nO ao madeiro da cruz. Generoso, em Sua paixão ensinou-nos a perdoar: Pai, perdoa-lhes. Eles não sabem o que fazem. Por um instante, cerremos os olhos e pensemos nEle. Bondoso Jesus, que conheces a toda Humanidade e a cada um de nós em particular, permite que nossas mãos não se apartem das Tuas. Permite que os nossos pés possam seguir as pegadas que deixaste em nossos caminhos. Auxilia-nos para que, nas lutas de cada dia, nosso coração pouco a pouco se iguale ao Teu. 
* * *
¬Que em nossas fraquezas, dificuldades e dores, digamos o nome de Jesus alto ou no segredo da nossa alma. Que em nossas ações diárias, em nossos pensamentos e sentimentos, sigamos Jesus, o Caminho, a Verdade e a Vida.
Redação do Momento Espírita, com base em entrevista concedida por Francisco Cândido Xavier a Hebe Camargo e Nair Belo, em dezembro de 1985. Em 27.9.2018.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

A REAL DECISÃO DE MUDAR

Em uma grande cidade do Brasil, um garoto de oito anos crescia sob os cuidados do irmão, apenas dois anos mais velho que ele. Os pais trabalhavam o dia todo. E ele apresentava dificuldades na escola. Sua professora, ao invés de incentivá-lo a melhorar, expunha seus problemas para a classe, de maneira zombeteira. Acabou dizendo para a mãe que ele não tinha jeito mesmo. O garoto, sentindo-se cada vez mais incapaz, repetiu pela segunda vez o mesmo ano escolar. Revoltado, assaltou a cantina da escola com um revólver de brinquedo. Isso lhe valeu a expulsão da escola. Sem obrigações, passou a ficar na rua o dia todo, junto a outros garotos desocupados. Assaltavam pessoas, roubavam carros, usavam drogas. Tempo depois, alguns de seus colegas de crime perderam suas vidas, em função de dívidas com traficantes. Ele imaginou que poderia ser o próximo. Com medo, procurou uma educadora, que criara uma Fundação no bairro onde morava. Ela ensinava idiomas e música aos jovens carentes. Ela o aconselhou a sair das ruas. Para ajudá-lo a passar o tempo, emprestou-lhe um livro. Era o primeiro livro que ele lia em sua vida, mas foi o suficiente para conquistá-lo. Vieram, depois, outros tantos e a decisão de procurar um emprego. Na Fundação, conheceu outros jovens que estudavam para o vestibular. Conseguiu apostilas e passou a estudar no intervalo do emprego. Concluiu o curso de educação de jovens e adultos, como é conhecido, hoje, o antigo supletivo, aos vinte e um anos. Prestou vestibular para um curso de línguas em uma Universidade pública de renome e foi aprovado. Ainda cursando a Universidade voltou à escola de onde fora expulso. Agora, como professor de português. Depois de formado, seguiu os estudos ingressando na pós-graduação em Educação Social. Atualmente, trabalha em uma Organização Não Governamental, na região onde mora. Escreveu um livro sobre o assunto, desejando mostrar, com seu exemplo, que é possível mudar, que nada é irremediável. 
* * * 
O medo pode paralisar muitas ações. No caso desse garoto, o medo de perder a própria vida agiu como um incentivo para mudar de rumo. Ele ouviu sua própria intuição que o levou a procurar ajuda no local certo. Encontrou alguém que acreditou nele, e o mais importante: ele realmente decidiu mudar. Como aquela educadora que o acolheu, há incontáveis pessoas e instituições que se dedicam a auxiliar criaturas em situação econômica precária, drogaditos, presidiários, dando-lhes oportunidades. Mas, em toda e qualquer situação, o auxílio não muda realmente o indivíduo, a não ser que ele queira. Reflitamos sobre as numerosas mudanças que decidimos fazer em nossas vidas, mesmo que pequenas. Muitas vezes, ficamos somente na vontade, deixando-nos abraçar pelo comodismo. Ou simplesmente culpamos pequenos reveses e contratempos para que tudo continue como está. A história desse jovem nos serve de lição e de exemplo sobre a real decisão de nos modificarmos e superarmos a própria condição.
Redação do Momento Espírita, com base na reportagem O ladrão que virou professor, publicada no Caderno Cidades, do Jornal “on line” https://www.estadao.com.br/
Em 26.9.2018.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

DRAMA DE UM APAIXONADO

Quando a conheci eu tinha apenas 16 anos. Ela, eu não sei. Fomos apresentados numa festa por um rapaz que se dizia meu amigo. Foi atração à primeira vista. Ela me enlouquecia. Nossa ligação chegou a um ponto que já não conseguia viver sem ela. Mas era uma relação proibida. Meus pais não aceitavam. Fui repreendido na escola e passei a buscá-la às escondidas. Mas aí não deu mais. Fiquei louco. Eu queria, mas não a tinha. Eu não podia permitir que me afastassem dela. Eu a desejava sempre mais. Num dia de descontrole, eu bati o carro, quebrei tudo dentro de casa e quase matei minha irmã. Eu estava louco, desesperado, precisava dela... Hoje tenho 39 anos. Estou internado num hospital, sou inútil e vou morrer abandonado pelos meus pais, pelos amigos e por ela. Sabe qual o seu nome? Cocaína. Devo a ela a perda da minha juventude, da minha vida, a minha destruição e a minha morte... Esse desabafo vem assinado por um famoso cantor norte-americano que morreu há alguns anos e foi transcrito no jornal interno de uma empresa multinacional, visando alertar pais e filhos sobre o drama de pessoas que se tornam dependentes de drogas. Hoje, o texto circula pela Internet, e é dedicado a todos os jovens, apaixonados por ela ou não, para que meditem sobre esse tipo de obsessão que não leva a nada, só destrói. É um alerta aos pais de que é necessário preencher o vazio que se instala no coração dos jovens, para que eles não procurem apoio em braços de falsos amigos, que podem apresentá-los às drogas. E, quando se fala em drogas, não imaginemos que o perigo está somente naquelas que são proibidas. Há muito jovem entregando sua saúde, sua juventude, seus sonhos e a sua vida a esses venenos livres que conhecemos como cigarro e álcool. São drogas socialmente aceitas, mas que têm levado muitos dos nossos moços a um sinistro fim, sob os olhares passivos de pais e de governantes. Quanto vale, afinal, a vida de um jovem? Certamente, nem todo o dinheiro arrecadado com impostos sobre a comercialização desses venenos vale a vida de um cidadão. Mas é preciso que as famílias acordem para essa triste realidade e tomem providências urgentes. De nada vale cruzarmos os braços e criticar as fábricas de cigarros e de bebidas alcoólicas pois, se não houvesse consumidores, os produtos não estariam à venda. O que temos a fazer, como cidadãos conscientes da necessidade de mudar esse quadro, é agir diretamente junto à raiz do problema. E vamos encontrá-la na intimidade de cada lar, onde os pais dão o exemplo e sustentam os vícios dos filhos, por não terem, eles mesmos, força e coragem suficientes para romper com seus próprios vícios. Que o desabafo do cantor, que perdeu tudo para a cocaína, sirva de alerta para todos nós, e que possamos fazer algo positivo para ajudar nossos jovens a não seguirem pelo mesmo caminho. 
Redação do Momento Espírita com base em texto do jornal interno da Itaipu Binacional. Disponível no livro Momento Espírita v. 2, ed. Fep. 
Em 03.11.2010.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

DOUTORAS

Certo dia, uma mulher chamada Anne foi renovar a sua carteira de motorista. Quando lhe perguntaram qual era a sua profissão, ela hesitou. Não sabia bem como se classificar. O funcionário insistiu: 
-O que eu pergunto é se tem um trabalho. 
-Claro que tenho um trabalho, exclamou Anne. Sou mãe. 
-Nós não consideramos isso um trabalho. Vou colocar dona de casa, disse o funcionário friamente. 
Uma amiga sua, chamada Marta, soube do ocorrido e ficou pensando a respeito por algum tempo. Num determinado dia, ela se encontrou numa situação idêntica. A pessoa que a atendeu era uma funcionária de carreira, segura, eficiente. O formulário parecia enorme, interminável. A primeira pergunta foi: 
-Qual é a sua ocupação?
Marta pensou um pouco e sem saber bem como, respondeu: 
-Sou doutora em desenvolvimento infantil e em relações humanas. 
A funcionária fez uma pausa e Marta precisou repetir pausadamente, enfatizando as palavras mais significativas. Depois de ter anotado tudo, a jovem ousou indagar: 
-Posso perguntar o que é que a senhora faz exatamente? 
Sem qualquer traço de agitação na voz, com muita calma, Marta explicou: 
-Desenvolvo um programa a longo prazo, dentro e fora de casa.
Pensando na sua família, ela continuou: 
-Sou responsável por uma equipe e já recebi quatro projetos. Trabalho em regime de dedicação exclusiva. O grau de exigência é de quatorze horas por dia, às vezes até vinte e quatro horas. 
À medida que ia descrevendo suas responsabilidades, Marta notou o crescente tom de respeito na voz da funcionária, que preencheu todo o formulário com os dados fornecidos. Quando voltou para casa, Marta foi recebida por sua equipe: uma menina com treze anos, outra com sete e outra com três. Subindo ao andar de cima da casa, ela pôde ouvir o seu mais novo projeto, um bebê de seis meses, testando uma nova tonalidade de voz. Feliz, Marta tomou o bebê nos braços e pensou na glória da maternidade, com suas multiplicadas responsabilidades. E horas intermináveis de dedicação. 
-Mãe, onde está meu sapato? 
-Mãe, me ajuda a fazer a lição? 
-Mãe, o bebê não para de chorar. 
-Mãe, você me busca na escola? 
-Mãe, você vai assistir a minha dança? 
-Mãe, você compra? 
-Mãe... 
Sentada na cama, Marta pensou: 
-Se ela era doutora em desenvolvimento infantil e em relações humanas, o que seriam as avós?  
E logo descobriu um título para elas: 
-Doutoras-sênior em desenvolvimento infantil e em relações humanas.
As bisavós:
-Doutoras executivas sênior. 
As tias:
-Doutoras assistentes. 
E todas as mulheres, mães, esposas, amigas e companheiras: 
-Doutoras na arte de fazer a vida melhor. 
 * * * 
No mundo em que os títulos são importantes, em que se exige sempre maior especialização, na área profissional, torne-se especialista na arte de amar. Como excelente mestra, ensine aos seus filhos, através do seu exemplo, a insuperável arte de expressar sentimentos. Ensine a difícil arte de interpretação de choro de bebê e de secar lágrimas de adolescente. Exemplifique a renúncia, a paciência e a diplomacia. E colha, vitoriosa, ao final de cada dia, os louros do seu esforço, nos abraços dos seus filhos e na espontaneidade de suas manifestações de afeto. 
Redação do Momento Espírita, com base em texto de autoria ignorada. Disponível no CD Momento Espírita, v. 18, ed. FEP. 
Em 18.7.2013.

domingo, 23 de setembro de 2018

UNS DOS OUTROS

Havia uma garotinha que apreciava muito andar pelos jardins de seu casarão. Um dia, viu uma borboleta espetada em um espinho, debatendo-se. Cuidadosamente ela a soltou. A falena imediatamente começou a voar para longe. Porém, segundos depois ela retornou, chegou próximo ao seu ouvido direito e disse: 
-Por sua bondade, vou lhe conceder seu maior desejo. 
A menina pensou um pouco e pediu: 
-Quero ser feliz! 
A pequena voadora deu alguns rodopios, foi até seu outro ouvido, sussurrou algo e então desapareceu. Os anos passavam e a garotinha crescia. Ninguém na Terra era mais feliz do que ela. Sempre que alguém lhe perguntava sobre o segredo daquela sua felicidade, ela somente sorria e respondia: 
-Soltei a borboleta e ela me fez ser feliz. 
Quando ficou bem idosa, os vizinhos temeram que o seu fabuloso segredo pudesse morrer com ela.  
-Diga-nos, por favor! Imploravam. Diga-nos o que a borboleta lhe disse!
Então, a adorável velhinha reuniu todos, sorriu e falou: 
-Ela me disse que todas as pessoas, por mais seguras que pareçam ser, sempre precisam de mim!
 * * * 
Ser útil pode nos fazer felizes. Num mundo onde ainda reina a mentalidade de que é preciso receber coisas, atenção, afeto, para ser feliz, a visão de que devemos dar para que nos realizemos, parece estranha. Somente até percebermos que o ter não nos faz maiores, mais completos ou mais plenos. É quando damos, quando nos damos que nos preenchemos. E o ser útil, o poder atender a todos quando precisam de nós é algo que preenche o vazio que há muito tempo nos incomoda. É isso que nos une realmente em comunidade. É a alma da fraternidade, da compaixão, da simpatia. Ninguém é autossuficiente. Todos precisamos uns dos outros. Essa é uma das belezas da vida em comunidade. Por mais orgulhoso que alguém possa ser e proclamar-se independente de todos, haverá vários momentos em que dependerá, e muito, de seus semelhantes para que tenha seu conforto, suas necessidades atendidas, sua sobrevivência. A Terra é um mundo de colaboração. Hoje, isso fica muito claro. As necessidades econômicas deram início a essa conscientização, que agora extrapola para outras esferas, que vão além da subsistência material apenas. Precisamos uns dos outros para sobreviver, para trocar, para crescer, para aprender, para sermos mais plenos. Cada cultura tem muito a contribuir com as outras. Nenhuma delas é soberana, nenhuma conhece toda a verdade e pode se afirmar superior às demais. Há beleza em todas e beleza maior ainda na miscigenação. Notemos que o Criador nos colocou no caminho da mistura, dos encontros de raças, de povos e religiões. Somos os únicos que ainda não entendemos isso. Não existe mais raça pura na Terra. Aliás, o uso desse termo com a conotação que lhe dão é lamentável. Não é essa pureza que devemos buscar. É a pureza da alma, livre de barreiras, livre de preconceitos, aceitando seus irmãos de Gaia de braços abertos. Precisamos uns dos outros. Sejamos úteis no mundo.
Redação do Momento Espírita, com base em conto de autoria ignorada. 
Em 20.3.2017.

sábado, 22 de setembro de 2018

UMA DOSE DE BOM ÂNIMO

Ele nasceu no ano de 1904, na Áustria. Sua infância foi embalada pelas doces valsas vienenses. Logo seu prazer pela música lhe tomaria horas infindáveis de estudo. Tornou-se maestro. Quando a Áustria foi ocupada pelos nazistas ele, por ser judeu, foi preso. Sofreu tantos maus tratos que quase chegou a desejar a morte. Foi enviado para um campo de concentração, com várias costelas quebradas, pela violência com que fora literalmente jogado no caminhão que o conduzira. Ele, junto a outros tantos, ficou durante dezenove horas perfilado em um enorme pátio, à espera de que decidissem o que fariam de sua vida. Depois de ouvir a voz metálica que lhe assinalava o destino, a partir de então, ditando normas, regras, ordens, seguiu para um dos barracões. Sentou-se e, sem dar-se conta, pôs-se a assobiar uma canção. Em pouco tempo, os demais prisioneiros o cercaram, a ouvi-lo, emocionados. Ele nunca soube o que o levara a cantar naquele momento. Mas, percebendo como a música influenciava o ânimo dos companheiros de desdita, teve a ideia de formar uma orquestra. Havia somente um violino e um violão em todo o campo. Contudo, eles construíram outros violinos e, todo domingo à tarde, durante alguns parcos momentos, eles podiam se deliciar com os sons retirados dos rústicos instrumentos. Embora todos eles considerassem que jamais sairiam vivos daquele lugar, o maestro colocou música nos versos compostos por um colega. Colega que morreria naquele mesmo local de horrores. Com emoção, a canção tomou conta do campo. Era como se um sopro de vida renovada enchesse o peito daqueles homens magros, sofridos, maltratados. Com lágrimas nos olhos eles cantavam todos os domingos. Assim foi por todo o tempo em que o maestro esteve preso. Ele conseguiu ser libertado, graças a providências tomadas por seu pai. A mensagem de bom ânimo que espalhou pelo campo de prisioneiros jamais foi esquecida. Quando a desesperança parecia invadir a todos, alguém se recordava da canção e começava a cantá-la. De seus anos de cativeiro, o maestro trouxe a lição de persistir e lutar sempre, realizando o melhor pelo seu semelhante. Ainda nos anos noventa, ele, agora na América, famoso e aplaudido, dedicava-se a levar a música sinfônica para as escolas públicas, a fim de que as crianças pudessem, desde cedo, entrar em contato com os grandes mestres e descobrir os valores da música. A vida do maestro é uma lição de perseverança para todos nós. Bastante idoso, portando no corpo as marcas dos anos da guerra, ele não deixou de reger, ensinar e transmitir alegria. É também lição de que, onde estejamos, sejam quais forem as condições, se desejarmos fazer o bem, sempre o poderemos realizar. 
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Cada um de nós é colocado no lugar apropriado para melhor servir. Muitas vezes, dadas as dificuldades de que nos vemos cercados, deixamos de operar no bem, justamente alegando empecilhos e percalços. Entretanto, a criatura que verdadeiramente mantém o ideal de realizar o bem ao seu semelhante, o faz, independente de qualquer circunstância. 
Redação do Momento Espírita, com base em vídeo de treinamento intitulado Desistir, jamais! da Siamar. Em 7.2.2012..

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

MOVIMENTO

Imagine que por alguns instantes você ficasse sem se mexer. Parasse tudo que estivesse fazendo. Fechasse os olhos. Permanecesse estático. Você se consideraria completamente parado, não é mesmo? Imóvel. Assim como a maioria das coisas ao seu redor. Pois bem, isso não seria completamente verdade, pelo menos do ponto de vista absoluto. Você acreditaria se afirmássemos que está viajando, primeiramente, a uma velocidade de cerca de mil, seiscentos e quarenta e cinco quilômetros por hora? Sim, cerca de duas vezes a velocidade de um avião a jato. A Terra está girando em torno de seu próprio eixo nesta grande velocidade e nós, como tudo mais no planeta, giramos junto. Porém, não é apenas esta viagem que estamos fazendo. O planeta está dando um grande passeio em torno do sol, como bem aprendemos na escola, o movimento de translação. Isso significa que também estamos viajando a cerca de cento e sete mil quilômetros por hora, dentro de nosso sistema solar. Os dados magníficos e fascinantes não param por aí. Nosso sistema solar também está em movimento contínuo em relação ao centro da galáxia. O sol arrasta todos os planetas com ele cerca de duzentos e quarenta metros por segundo, o que equivale mais ou menos a oitocentos e sessenta e quatro mil quilômetros por hora. Resumindo: estamos voando pelo Cosmo a mais de novecentos mil quilômetros por hora e nos imaginamos completamente parados. Você já havia pensado nisso? 
* * *
Tudo está em movimento, tudo está em atividade e tudo é regido por leis perfeitas que não erram nunca, que não abrem uma exceção. A rotação não falha de vez em quando. A translação não muda de rota de tempos em tempos. Tudo segue um script determinado e majestoso. E nós somos esses viajores velozes, deste Universo criado perfeito, onde tudo é movimento, onde tudo tem um papel, onde tudo cumpre sua missão. E qual será a nossa? Certamente não é a de permanecermos imóveis, pois nada no Universo está assim. Tudo se move, tudo se expande, tudo ruma para cumprir a sua tarefa grandiosa sob a regência segura do grande Criador. O Universo é movimento. A evolução é movimento. Então, nos movimentemos. Movimentemos nossas ideias. Estudemos, leiamos, forneçamos novos estímulos edificantes e bons desafios para nossa mente. Movimentemos os pensamentos negativos. Não permitamos que criem ninho em nosso íntimo. Que possamos substituí-los por outros, melhores, mais otimistas e produtivos, o mais breve possível. Movimentemos os pensamentos positivos. O pensamento é criador. Enviemos bons pensamentos a quem desejar. A prece é comunicação, por isso, pensamento em movimento! Movimentemos a tristeza. Quando ela surgir, mantenhamo-la perto apenas o tempo necessário para que nos faça refletir e aprender. Depois disso, respiremos fundo e abracemos, novamente, a alegria de viver. Movimentemos o amor: alguns de nós temos tanto para dar, porém, nos escondemos do mundo. Doemo-nos. Doemos nosso tempo, movimentemo-nos mais na direção do outro. Movimentemos nosso corpo: façamos exercícios. Alongamentos. Respiremos bem. Tratemos o corpo como ele merece. É um instrumento que necessita ser bem cuidado para que possamos realizar por completo nossa importante missão aqui na Terra. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 21.9.2018.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

DOR

Quem é que nunca sentiu dor? Pelo menos algum tipo de sofrimento todos nós já experimentamos. Mas, como tem sido o nosso comportamento diante da dor? Naquele dia, quando três cruzes foram erguidas no Calvário, três dores haveriam de ser sentidas. Uma era a dor de Dimas, o chamado bom ladrão. A outra, do segundo malfeitor que estava do outro lado de Jesus. E a terceira, era a dor do Injustiçado. Cada um, por sua vez, enfrentou a dor daquele momento com uma disposição íntima toda própria. A dor do bom ladrão era a dor do arrependimento. Dor de quem aceita a cruz por saber merecê-la e não reclama por tê-la como suplício, uma vez que se considera merecedor de tal corrigenda. Já a dor do outro era a dor da revolta, do orgulho ferido, de quem não aceita a cruz por achar-se vítima de uma sociedade a quem lança a culpa pelos seus desatinos. Mas a dor do Cristo era a dor de quem sabia que o verdadeiro sofrimento estava no porvir. Era a dor do Incompreendido, Daquele que, por tanto amar, recebeu a cruz. Jesus, em momento algum blasfemou contra a cruz que carregava sobre os ombros feridos. Sabia por antecipação, que Suas lições e Seus exemplos ficariam para a Eternidade. O Mestre sabia que a lição da cruz seria importante para ensinar o Seu rebanho a enfrentar o sofrimento, ainda quando parecesse injusto. Meu reino não é deste mundo. A felicidade não é deste mundo. Lembrando os ensinos do Mestre de Nazaré, perceberemos que Ele não nos prometeu venturas na Terra. O Reino de Deus, do qual Ele tanto falou, não alcançaremos aqui. Ensinou também, que na Casa do Pai há muitas moradas e que Ele iria nos preparar o lugar. Quis com isto dizer que outras moradas mais ditosas esperam por nós, após vencidas as etapas da vida na Terra. A Terra, portanto, se assemelha a uma escola destinada a nos ensinar as primeiras lições. Tão logo estejamos preparados, outras escolas estarão à nossa disposição e assim, sucessivamente, até conquistarmos o diploma da perfeição relativa que nos cabe. Três cruzes, três dores! Quando a cruz se fizer sentir em nossos ombros já macerados pela dor, lembremo-nos Daquele que a suportou com serenidade no olhar, mesmo sabendo ser inocente. Lembremos ainda que a estrada, por onde seguimos com os pés dilacerados pelas pedras, é a mesma que ontem trilhamos com o sorriso da irresponsabilidade e do desleixo. Tenhamos sempre em mente que Deus é justo. Que não somos vítimas do acaso. E que se não encontramos a causa do sofrimento nesta existência, ela certamente estará oculta pelo véu do esquecimento mas, ainda assim, é uma conquista nossa. 
 * * * 
Procuremos espalhar flores pelos caminhos que percorremos hoje. Enquanto nos curvamos para juntar as pedras que espalhamos ontem, deixemos no solo as sementes das boas obras, que florescerão e frutificarão logo mais. Assim, num amanhã feliz, sentiremos um suave perfume a nos invadir a alma. E veremos a estrada iluminada pelos nossos atos dignos. E a cruz? A cruz fará parte de um passado do qual nem faremos questão de lembrar. 
Redação do Momento Espírita com base no cap. As três dores, do livro Em torno do Mestre, de Vinícius, ed. Feb. Em 01.03.2010.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

ATITUDES QUE COMOVEM

Walter Carr
Em tempos em que os comentários em torno dos jovens se resumem a irresponsabilidade, desleixo, nomofobia(angústia), alguns fatos merecem destaque. Como o ocorrido com o estudante Walter Carr, de apenas vinte anos. Ele conseguiu um emprego em uma empresa de mudanças, distante trinta e dois quilômetros de sua casa. Na véspera do seu primeiro dia de trabalho, seu carro enguiçou. Sem dinheiro para o conserto, ele não teve dúvida. Venceu a longa distância a pé. Com um detalhe: ele não queria chegar atrasado. Então, saiu de casa à noite e andou horas e horas. No caminho, foi abordado por um policial que, impressionado por sua determinação, o levou para tomar café da manhã. A cliente Jenny Lamey esperava os funcionários da empresa de mudanças às oito horas. Às seis e meia, foi surpreendida com um policial à sua porta, trazendo o jovem Walter. Ela ficou emocionada com o que lhe contou o agente. Walter logo se envolveu na atividade que lhe competia. E contou que passara a infância em Nova Orleans, que a família se mudara para outra cidade, depois que tivera a casa destruída pelo furacão Katrina, em 2005. Por isso, era tão importante aquele emprego, o primeiro depois de muito tempo. Eu não posso descrever o quão emocionada fiquei com Walter e a história dele, disse a cliente. Mal consigo imaginar essa caminhada solitária, no meio da noite. Quantas vezes ele deve ter pensado em desistir e voltar para casa. Ao saber da história, Marklin, o chefe executivo da empresa de mudanças foi se encontrar com o novo funcionário. Após conversar, lhe entregou as chaves do seu próprio Ford Escape, ano 2014. Marklin disse que tudo o que o rapaz fizera nesse dia é exatamente a imagem da empresa: 
-Coração e coragem. 
Walter Carr ganhou a admiração de muitos, especialmente depois que a cliente divulgou o fato nas redes sociais. Desejando se formar em dezembro, na área de saúde, afirmou o estudante: 
-Não importa qual seja o problema, você pode superá-lo. Nada é impossível. 
* * * 
Exemplos que comovem: a firmeza do jovem; também do seu empregador, que se sensibilizou com seu esforço. Se estamos a braços com muitas dificuldades, com percalços que parecem intransponíveis, serve-nos como estímulo a renovado ânimo. Exatamente porque pensamos que se ele pode, nós também podemos. Se ele está lutando para vencer, podemos fazer o mesmo. Se temos sob nossa responsabilidade muitos subordinados, nos estimula a uma melhor avaliação do desempenho de cada um. Ter essa empatia no buscar conhecer a história pessoal de cada funcionário; verificar seu crescimento na empresa; o aprimoramento do trabalho que executa. Por fim, este fato nos alerta a que não julguemos as pessoas por uma certa porcentagem, porque, em verdade, temos no mundo um número expressivo de jovens que estudam, trabalham, queimam pestana para se preparar para vestibulares, concursos, provas seletivas. Grande parte deles é arrimo de família, é responsável por irmãos menores, presta serviço voluntário nas suas horas de lazer. Em síntese, os jovens são do bem. É a geração nova que assume, a pouco e pouco, a administração do milênio nascente. 
Redação do Momento Espírita, com base em notícia colhida em https://istoe.com.br, de 18.7.2018. 
Em 19.9.2018.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

A DOR TRANSFORMADA EM POESIA

-A Internet é um veículo baratinho para se brincar de ator. - Afirmou determinada colunista em matéria de jornal. 
Na grande maioria do tempo, o mundo das redes sociais parece ser um mundo paralelo, distante da realidade. fotos de pratos de comida e sorrisos; imagens de gatinhos e cachorrinhos fofos; check-in registrados aqui e acolá e mais sorrisos; declarações de amor e citações de frases e pensamentos de autores famosos, que assinam o que jamais escreveram. Raros os conteúdos aproveitáveis ainda, infelizmente. Dias desses uma imagem chamou a atenção: um rosto sério, sem sorriso, sem máscaras; cortes leves desenhados na pele; um dos olhos ferido seriamente na córnea. Abaixo da foto um poema que se iniciava assim: 
Eu quis escrever um grito. 
Era mais uma pessoa, um artista dedicado que no seu caminho diário havia sido vítima da violência do mundo. Assaltado, espancado, deixado desacordado na calçada para ser encontrado horas depois pela polícia. Ao invés de acusar o mundo e a vida, porém, resolveu transformar sua dor, seu grito, em poesia. Encontrou, assim, o belo no feio, o elevado no mais baixo, e levantou-se corajoso. 
 * * * 
O mundo nos aterroriza, por vezes. O ser humano beira a selvageria quando tem a alma doente, e o corpo entorpecido por substâncias que só existem para proporcionar uma espécie de fuga para lugar nenhum. Os atos de violência de que é capaz nos faz, às vezes, perder a esperança, desanimar, querer, quem sabe, estar longe daqui... Indignação, revolta e ódio gritam na alma que chora, pedindo ajuda. No entanto, a presença de Deus e do belo em nosso coração têm nos ensinado a transformar dor em poesia, revolta em resignação, ódio em ação no bem. É a aplicação do princípio, da lição da outra face do Cristo, muitas vezes mal compreendida. Se o mundo nos oferece a face da violência, devolvamos justamente o oposto, mostremos a face do carinho, do entendimento, do auxílio ao outro. Se os homens nos oferecem preconceito, ofereçamos a compaixão, a compreensão. É esse o nosso protesto, é essa a bandeira que irá mudar o mundo e, em verdade, já está mudando. Que nosso grito de indignação seja um canto. Que toda vez que nos tirarem o manto, mostremos que podem levar também a túnica, pois jamais nos irão tirar o que temos de maior valor, pois não é e nunca será material. Se hoje estamos inseridos neste contexto de sociedade adoecida, problemática; se somos capazes de identificar onde estão as causas, pensemos: será que estamos aqui por acaso? Será que não podemos atuar como agente transformador neste meio? O que podemos fazer? De que maneira? Não há, de alguma forma, parte de nossa responsabilidade em tudo que acontece? Pensemos seriamente nisso. Saiamos da posição de encurralados pelo medo ou da condição de revoltados. Lembremos que não nascemos por acaso, não nascemos sem planos, nem sem lugar e momento específico para estar. 
 * * * 
Se alguém te der uma bofetada numa face, oferece também a outra. Se alguém te tomar o manto, deixa-o levar também a túnica. 
Redação do Momento Espírita. Em 20.7.2018.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

OS TONS MULTICOLORIDOS DO AMOR

Ekaterina Yulia Borodulkina
Ekaterina vive na Rússia com seus pais. Desde cedo, revelou habilidades para a pintura. Correndo os pincéis pelas telas, despontam paisagens harmoniosas: o céu luminoso, os jardins convidativos, os animais de feição serena, o mar manso e pacífico. Sem dúvidas, um talento notável, mas não excepcional, para uma menina de dez anos bastante disciplinada. Isso, não fosse o fato de padecer, desde os três meses de idade, de distrofia muscular, grupo raro de doenças degenerativas que atingem os músculos, impossibilitando-os de se desenvolverem corretamente, o que causa fraqueza e inúmeras deficiências. Atualmente, a pequena Kate não pode mais falar, levantar os braços, respirar por conta própria e arcar com o peso da própria cabeça. Ela utiliza uma cadeira de rodas para se locomover e, a fim de auxiliá-la a superar suas limitações, faz diversas sessões de terapia, o que lhe toma grande parte do tempo. Todavia, embora os abundantes compromissos que sua frágil saúde exige, Kate não esquece seu amor pela arte. Quando deitada, delicadamente seus pais a viram de lado. Uma tela e múltiplas tintas são posicionadas bem ao lado do seu diminuto corpo. Pincéis são postos em suas débeis mãos. Silenciosa, por um instante, ela contempla a tela em branco, possivelmente dando asas à sua imaginação. Pouco a pouco, paisagens repletas de harmonia e tranquilidade vão surgindo. O talento de Kate é notável. Porém, sem lucrar com sua habilidade, seus pais decidiram doar suas obras a diferentes instituições, em especial àquelas que cuidam de crianças. A luta da pequena e de sua família causa admiração de incontáveis pessoas. Diariamente, eles recebem inúmeras mensagens de apoio, que são lidas para Kate por sua mãe. A gentil menina pisca de leve os olhos e, com um doce sorriso no rosto, retorna às suas pinturas, retratando aquilo que se passa em seu mundo interior, tão cheio de mansidão e de paz.
 * * * 
A verdade é que todos nós padecemos, moralmente, de deficiências as mais diversas. O orgulho, o egoísmo, a vaidade e tantas outras mazelas ainda se fazem presentes em nós, em maior ou menor grau. Partícipes que somos de nossa própria criação, é nosso dever ultrapassarmos os limites de nós mesmos, por meio do esforço pessoal, da reforma íntima, da prática do bem. Jesus, irmão, amigo e guia da Humanidade, legou-nos a aquarela com a qual podemos colorir nossas existências, acinzentadas pelas faltas morais. Para a vaidade e para o orgulho, a nobre tinta da humildade. Para o egoísmo, a delicada cor da caridade. Para a falta de perdão, para a impaciência, para a pressa em julgar o próximo, os tons multicoloridos do amor. Amando, renovamos as forças, burilamos a fé, exercemos a caridade, fazemo-nos sábios, fortificamos o Espírito em marcha, tornamo-nos irmãos.
 * * * 
O amor é tinta que nunca seca. Quanto mais praticado, mais colorida torna-se a nossa vida. Saiamos das sombras, do cinza, do monocromático: amemos! 
Redação do Momento Espírita, com base na biografia de Ekaterina Yulia Borodulkina. Em 17.9.2018.

domingo, 16 de setembro de 2018

A DOR SERENA

A experiência da dor é comum a todos os homens. Ela se revela a cada um de modo diferente, mas a todos visita. Os pobres sofrem pela incerteza quanto à manutenção de sua família. Os doentes experimentam padecimento físico. Os idealistas se angustiam pelo bem que tarda em se realizar. O governante se acabrunha pela magnitude da tarefa que lhe repousa sobre os ombros. Qualquer que seja a posição social de um homem, ele vive a experiência do sofrimento. A própria transitoriedade da vida terrena é fonte de angústias e incertezas. Pode-se muito fazer e muito angariar, mas a morte é uma certeza e a tudo transformará. Alguma dilaceração é inerente ao viver. Ninguém ignora a possibilidade de seus afetos o sucederem no retorno à pátria espiritual. Nenhum homem sensato imagina que o vigor físico o acompanhará para sempre. A universalidade da dor chama a atenção dos homens para o fato de que são essencialmente iguais. Ocupam diferentes posições e têm experiências singulares, mas ninguém é feito de material imune à ação do tempo. A vida material é transitória e isso não se pode negar. Contudo, as pessoas evitam refletir sobre essa realidade. Quando apanhadas pelos fenômenos próprios da transitoriedade da vida, costumam se revoltar. Todos sofrem, mas poucos sofrem bem. Tão raro é o bem sofrer que geralmente não é sequer compreendido. Quando, em face de alguma experiência dilacerante, a criatura mantém a serenidade, acha-se que ela tem algum problema. Confunde-se sensibilidade à dor com escândalos. Se a pessoa não brada indignada e não procura culpados por sua miséria, entende-se que ela tem algo de obscuro em seu íntimo. Uma mãe capaz de suportar serenamente a dor da morte de um filho surge aos olhos alheios como insensível. Como se ausência de gritos significasse falta de amor! No sermão da montanha, Jesus afirmou a bem-aventurança dos que choram, dos injuriados e perseguidos. Certamente não estava a referir-se aos que sofrem em meio a revoltas e desatinos. Afinal, em outra passagem evangélica, afirmou que, quem desejasse, deveria tomar sua cruz e segui-lO. Trata-se de um sinal de que a conquista da redenção pressupõe algum sacrifício. A Terra, por algum tempo ainda, será morada de Espíritos rebeldes às leis Divinas. Por séculos, semearam dor nos caminhos alheios e não se animaram a reparar os estragos. Por isso, são periodicamente atingidos pelos reflexos de seus atos, até que aprendam o código de fraternidade que rege a vida. Reflita sobre isso antes de se permitir gritos e rebeldia. As experiências que o atingem visam a torná-lo melhor e mais sensível à dor do semelhante. Elas possibilitam sua recomposição perante a Justiça cósmica. Não perca a oportunidade com atitudes infantis. Cesse reclamações, não procure culpados e não se imagine vítima. Aproveite o ensejo para exemplificar sua condição de cristão. Quando o sofrimento o atingir, sinta-se desafiado a ser um exemplo de dignidade, esforço e luta. Sua serenidade perante a dor fará com que outros repensem a forma com que vivem. Assim, você estará colaborando na construção de um mundo melhor, com menos revolta e insensatez. Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita. Em 14.8.2017.

sábado, 15 de setembro de 2018

DORES QUE ENSINAM

O expediente de trabalho terminara e alguns colegas permaneciam, no local, em conversa amena. Entre um assunto e outro, um deles comentou a respeito da nova colega. Dizia que a imaginava um tanto esnobe, pretensiosa mesmo. Porém, se surpreendeu por constatar que, ao contrário do seu conceito pre-estabelecido, ela se mostrara simples, cordial, amável mesmo. Os demais acrescentaram comentários, no mesmo sentido, até que foram interrompidos por outro colega. Eu conheço Sílvia, há bastante tempo, comentou, desde quando éramos adolescentes. Ela veio de uma família abastada. Nunca lhe faltou nada. Teve educação primorosa, frequentando os melhores colégios. Seu pai, muito amoroso, era também um grande professor da Universidade local, respeitado, elegante, um verdadeiro fidalgo. Foi nesse meio que ela cresceu e sempre se mostrou envaidecida, não somente pelos seus recursos financeiros, também pela família estruturada, um pai amável, o nome de família. Enfim, tudo isso lhe constituía fonte de presunção. Porém, a vida não lhe foi tão tranquila, na sequência dos anos. Eram três irmãos, sendo ela a caçula e bem mais nova. Sua irmã, a primogênita, tinha sérios problemas emocionais. Engravidou cedo, e logo se mostrou totalmente incapaz de criar o filho. Em razão disso Sílvia assumiu o sobrinho, tomando para si todas as responsabilidades naturais da maternidade. Os anos se passaram. Seu irmão mais velho, antes dos cinquenta anos, sofreu um grave Acidente Vascular Cerebral, permanecendo em coma por quatro anos. Sua esposa, vendo a doença que se estendia, ao longo dos meses, o abandonou. Os pais precisaram montar todo um aparato, uma verdadeira unidade de terapia intensiva, em casa, a fim de atendê-lo. A fortuna foi sendo dilapidada, pelo custear de tão caro tratamento. Com a morte do filho e da filha, que sucumbiu, vitimada por um câncer, o pai, alquebrado pelas dores, foi definhando até a morte, como quem houvera desistido de viver. Dessa forma, Sílvia, de uma família abastada e bem estruturada, viu-se só, responsável pela mãe, às portas da velhice, exigindo-lhe cuidados. Reencontrei-a há pouco, e percebi que daquela jovem vaidosa, nada permaneceu. Naturalmente conversamos a respeito da vida, dos anos, e disse-lhe o quanto ficava condoído por tantas dores pelas quais ela houvera passado. Porém, ao invés de lamúrias, ela me disse: 
-“Agradeço todas as dores que a vida me ofertou. Elas me deixaram feridas, cicatrizes que, aos poucos, vão se curando. Mas foram elas quem me ensinaram as melhores virtudes que hoje carrego na alma. As dores me ensinaram a paciência para entender que o tempo de Deus é mais sábio que o tempo de nossa ansiedade. Ensinaram-me humildade, para perceber que tudo na vida é passageiro, e nada nos pertence. E, finalmente, me ensinaram a fé, para compreender que tudo está nas mãos de Deus. É Ele quem nos guia pelos melhores caminhos.” 
Quando concluiu sua narrativa, um silêncio convidando à reflexão se fez entre os colegas. Uma reflexão que levava a ponderar como a dor ensina, enobrece, dignifica, quando a sabemos receber com resignação. Em síntese, quando sabemos dela extrair o melhor, ou seja, quando sabemos bem sofrer. 
Redação do Momento Espírita, baseado em fato. Em 25.5.2017.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

AS DORES DO MUNDO

Muitas vezes te encontras aturdido, com tantas dores que escutas a serem pranteadas pelas estradas da vida. Aflige-te a alma as lágrimas que inundam tantos corações, afogados em atrozes compromissos emocionais. Sentes a alma opressa frente a tantas aflições que grassam na sociedade, com uma frequência cada vez maior. As inúmeras histórias que te relatam, vês ou mesmo vivencias no teu cotidiano, perturbam-te pela intensidade que carregam, deixando-te atônito, quando não, em desequilíbrio emocional. As notícias que antes escutavas pelo noticiário, que ocorriam no país distante ou em uma realidade que não te pertencia, hoje visitam a tua realidade, tornando-se muito mais próximas do que desejavas. O que outrora era apenas algo que não te dizia respeito, hoje faz parte da tua vida, pois que já visita teus familiares, amigos e a ti mesmo. Percebes que as aflições e dores do mundo chegaram a ti, sem te dares conta ou te preparares para tanto. É natural que seja assim. Jesus, ao alertar que no mundo só se teria aflições, lembra do caráter e propósito da estada no planeta Terra, abençoada escola de redenção. As dores e aflições que vivencias no mundo e, mais intensamente, na tua intimidade, são os propósitos da vida para teu aprendizado, para o aprendizado de todos nós. Assim, é natural que cada um de nós vivencie o de que necessita para seu mundo íntimo, e para a aprendizagem dos valores de que ainda carece. As aflições que te ocorrem são proporcionais à estrutura emocional que já desenvolveste. Por isso, Deus permite que essas te cheguem, visitando tua intimidade emocional. As dores que vivencias são as lições preciosas, conforme virás a perceber logo mais, podendo aquilatar com mais tranquilidade da importância que elas carregam para teu aprendizado. Jamais maldigas das aflições que te chegam, por mais intensas que hoje elas te pareçam. É verdade que, muitas vezes, não consegues nem ao menos entender a razão e os porquês do que te sucede. Porém, se questionas da Justiça de Deus para contigo, lembra que Ele era muito antes do que tu mesmo fosses e, por isso, sabe muito bem avaliar das tuas necessidades. Em tempo propício, poderás entender melhor o que hoje te ocorre. Enquanto isso, guarda-te na certeza de que Deus cuida de ti, de cada um dos teus passos, velando para que tua felicidade se construa plena, logo mais. Guarda-te na fé do entendimento que Deus é Pai amoroso, resguarda-te na oração, que te fortalecerá e te encorajará para enfrentares o que deves. Nenhuma aflição pela qual passes será injusta. E todas as dores que experimentes, poderás transformar em lições valiosas. Dessa forma, esses dias de tribulação, pelos quais ora passa a Humanidade, logo mais serão sucedidos por dias de felicidade e paz, tal qual o sol que, inevitavelmente, raia após a tempestade, por mais intensa que essa se apresente. 
Pensa nisso. 
Redação do Momento Espírita. Em 24.09.2011.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

MUITA FELICIDADE

Bertha Celeste Homem de Mello
Corria o ano de 1942. A Rádio Tupi do Rio de Janeiro resolveu fazer um concurso de quadrinhas para substituir a letra em inglês da famosa música americana Happy birthday to you. Na versão estrangeira original o título da canção era repetido quatro vezes, sendo que na terceira, era acrescido da palavra dear (querido ou querida) e mais o nome do aniversariante. Foram cerca de cinco mil inscritos. O júri foi composto por imortais da Academia Brasileira de Letras. E os versinhos vencedores foram da paulista Bertha Celeste Homem de Mello. Os jurados escolheram sua obra principalmente por trazer versos diferentes para cada linha, ao invés de se repetirem como na versão americana, fórmula que fora seguida pela grande maioria dos candidatos. Bertha, até sua desencarnação em 1999, fazia questão de que as pessoas cantassem a letra da exata maneira que escrevera: 
Parabéns a você.
Nesta data querida. 
Muita felicidade. 
Muitos anos de vida. 
Há dois detalhes importantes a serem destacados. Primeiro: a autora, até a sua despedida, em todas as entrevistas que dava, frisava que a letra original dizia: a você e não pra você. O "prá você" foi se popularizando através dos anos em algumas regiões do país. Não deixa de estar correto, mas não é fiel à letra original. Segundo, e aqui está o item mais interessante: Bertha, em uma de suas últimas manifestações, afirmou: Canta-se errado. Não é “muitas felicidades”, é “muita felicidade”, pois felicidade é uma só. 
* * * 
Quem sabe, durante este tempo todo de nossa História como Humanidade, tenhamos buscado apenas colecionar muitas felicidades. E então, aquela tão sonhada ventura plena, aquela que julgamos estar no final de tudo, lá estaria, montada com a soma de todas essas felicidades colhidas pelo caminho. Pensemos um pouco sobre isso. Não parece uma visão muito pequena? Será que a nossa felicidade íntima é feita apenas dos bons momentos que vivemos? Momentos felizes são importantes, é certo. Eles nos animam, nos dão energia, vontade de viver. Momentos inesquecíveis ao lado de quem se ama nos dão forças para seguir, nos dão identidade, nos dão raízes. Momentos de vitórias, de conquistas, realizações, fazem parte da construção segura da felicidade completa da alma. Ser feliz, porém, é um passo além de ter, no caminho, muitas felicidades. Há quem diga que é possível, inclusive, ser feliz sem tê-las sempre. Ser feliz até na dor. Os momentos de luta árdua, de prova dolorida, de sofrimento atroz, também edificam a felicidade verdadeira. A felicidade é um edifício que se constrói em meio aos momentos felizes e infelizes das vidas, pois ela está no que se aprende com eles. As belas telas são feitas de luz e sombra. As esculturas que nos encantam os olhos foram moldadas não apenas pelo carinho de mãos dedicadas, mas, principalmente, pelo cinzel insistente e seguro. Todos estamos sendo moldados, formados, esculpidos pelo planeta para construirmos aqui parte da nossa felicidade, com muitas felicidades ou sem elas. 
Redação do Momento Espírita. Em 13.9.2018.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

A DOR EM NOSSAS VIDAS

Léon Denis
Você já parou para pensar na razão da existência da dor, do sofrimento, em nossas vidas? Talvez num daqueles momentos de extrema angústia, em que o coração parece apertar forte, você tenha pensado em Deus, na vida, e gritado intimamente: 
-Por quê?! 
Os benfeitores espirituais vêm nos esclarecer que a dor é uma lei de equilíbrio e educação. Léon Denis, reconhecido escritor francês, em sua obra O problema do ser, do destino e da dor, esclarece que o gênio não é somente o resultado de trabalhos seculares; é também a apoteose, a coroação de sofrimento. De Homero a Dante, a Camões, a Tasso, a Milton, todos os grandes homens, como eles, têm sofrido. A dor lhes fez vibrar a alma, lhes inspirou a nobreza dos sentimentos, a intensidade da emoção que souberam traduzir com os acentos do gênio, e que os imortalizou. É na dor que mais sobressaem os cânticos da alma. Quando ela atinge as profundezas do ser, faz de lá saírem os gritos sinceros, os poderosos apelos que comovem e arrastam as multidões. Dá-se o mesmo com todos os heróis, com todas as pessoas de grande caráter, com os corações generosos, com os espíritos mais eminentes. Sua elevação se mede pela soma dos sofrimentos que passaram. Ante a dor e a morte, a alma do herói e do mártir se revela em sua beleza comovedora, em sua grandeza trágica que toca, às vezes, o sublime, e o inunda de uma luz inapagável. A história do mundo não é outra coisa mais que a sagração do Espírito pela dor. Sem ela, não pode haver virtude completa, nem glória imperecível. Se, nas horas da provação, soubéssemos observar o trabalho interno, a ação misteriosa da dor em nós, em nosso eu, em nossa consciência, compreenderíamos melhor sua obra sublime de educação e aperfeiçoamento. A dor é um dos meios de que Deus se utiliza para nos chamar a si e, ao mesmo tempo, nos tornar mais rapidamente acessíveis à felicidade espiritual, única duradoura. É, pois, realmente pelo amor que nos tem que Deus nos envia o sofrimento. Fere-nos, corrige-nos como a mãe corrige o filho para educá-lo e melhorá-lo. Trabalha incessantemente para nos tornar dóceis, para purificar e embelezar nossas almas, porque elas não podem ser completamente felizes, senão na medida correspondente às suas perfeições. A todos aqueles que perguntam: Para que serve a dor? a Sabedoria Divina responde: para polir a pedra, esculpir o mármore, fundir o vidro, martelar o ferro. 
 * * * 
A dor física é, em geral, um aviso da natureza, que procura nos preservar dos excessos. Sem ela, abusaríamos de nossos órgãos até ao ponto de os destruirmos antes do tempo. Quando um mal perigoso se vai insinuando em nós, que aconteceria se não lhe sentíssemos logo os efeitos desagradáveis? Ele nos invadiria cada vez mais, terminando por secar em nós as fontes de vida. É assim que, em nosso mundo, para o nosso crescimento, a dor ainda se faz necessária. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. XXVI, do livro O problema do ser, do destino e da dor, de Léon Denis, ed. Feb. Em 31.1.2013.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

DOR DO ERRO

Quem de nós pode avaliar a própria vida como uma estrada feita somente de acertos? 
Quem tem condições de afirmar que seus dias foram construídos de forma irrepreensível, de maneira correta? 
Se bem analisarmos, perceberemos que os erros, tropeços e enganos são naturais em nosso processo de aprendizado, finalidade maior da nossa existência. Erramos, muitas vezes, por imaturidade. Portadores de valores ou sentimentos pouco nobres, acreditamos, ao elegê-los, que esses seriam os mais adequados para nos conduzir. Assim, nos deixamos guiar ora pelo orgulho, ora pela vaidade. Ou, ainda, a soberba e a arrogância nos acompanham nas decisões e comportamentos ao longo da vida. Até que nos apercebemos que eles nos trazem dissabores e não são os melhores conselheiros e condutores da existência. Mais maduros, calejados pela experiência, ao nos darmos conta de que aqueles não são os melhores valores para nos acompanhar, nem os melhores parâmetros para nos aconselhar, os abandonamos para buscar rumos mais felizes e saudáveis. Ao avaliarmos esses dias de equívocos, ao olharmos para trás, percebemos que não agimos por maldade. Apenas éramos imaturos e, talvez, um tanto levianos. Foi necessário que as dores decorrentes do erro e o peso das dificuldades nos forjassem na alma a tessitura da nobreza e do bem. 
 * * * 
Assim ocorre com muitos pela estrada da vida. São vários aqueles que nos acompanham que agem dessa forma. Servem-se de valores equivocados nos relacionamentos. Estabelecem padrões ilusórios para pautar seu comportamento. Buscam condutas reprocháveis na sua vivência. Agem como agíamos há pouco tempo para, logo mais, as dores da vida os convidar para as lições do aprendizado. Como sabemos disso, porque era exatamente assim que nos portávamos, até recentemente, não julguemos. Aqueles que hoje agem de maneira equivocada, sem dúvida terão sobre os próprios ombros o peso dos seus erros, no justo reflexo que a vida oferece de tudo que fazemos. Se hoje, esses ainda agem assim, ofereçamos-lhes a compreensão, pois estamos cientes do que ocorrerá, em tempo imediato ou posterior. Se a vida já nos permitiu esse aprendizado, mais do que ninguém sabemos desnecessários o nosso reproche, nossa crítica e mesmo a nossa vingança para com aqueles que hoje erram. Dessa forma, se os nossos caminhos se cruzam com os caminhos de criaturas ainda iludidas a respeito do verdadeiro significado da vida, aproveitemos a chance para cultivarmos compreensão, indulgência e perdão. E deixemos que a vida, a seu tempo, e sob a tutela vigilante e amorosa da providência Divina, ofereça as melhores lições, para todos nós, que ainda temos tanto a aprender a respeito das coisas de Deus. 
Redação do Momento Espírita. Em 01.06.2012.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

ADIVINHA QUANTO EU TE AMO

Sam McBratney
Era hora de ir para a cama, e o coelhinho se agarrou firme nas longas orelhas do coelho pai. Depois de ter certeza de que o papai coelho estava ouvindo, o coelhinho disse: 
-Adivinha o quanto eu te amo! 
-Ah, acho que isso eu não consigo adivinhar. – Respondeu o coelho pai.
-Tudo isto. – Disse o coelhinho, esticando os braços o mais que podia. 
Só que o coelho pai tinha os braços mais compridos, e disse: 
-E eu te amo tudo isto! 
-Hum, isso é um bocado. - Pensou o coelhinho. Eu te amo toda a minha altura. – Disse o coelhinho. 
-E eu te amo toda a minha altura. – Disse o coelho pai. 
-Puxa, isso é bem alto, pensou o coelhinho. Eu queria ter braços compridos assim. 
Então o coelhinho teve uma boa ideia. Ele se virou de ponta-cabeça apoiando as patinhas na árvore, e gritou: 
-Eu te amo até as pontas dos dedos dos meus pés, papai! 
-E eu te amo até as pontas dos dedos dos teus pés. – Disse o coelho pai balançando o filho no ar. 
-Eu te amo toda a altura do meu pulo!, riu o coelhinho, saltando de um lado para outro. 
-E eu te amo toda a altura do meu pulo. – Riu também o coelho pai. 
E saltou tão alto, que suas orelhas tocaram os galhos da árvore. 
-Isso é que é saltar, pensou o coelhinho. Bem que eu gostaria de pular assim. Eu te amo toda a estradinha daqui até o rio. – Gritou o coelhinho. 
-Eu te amo até depois do rio, até as colinas. – Disse o coelho pai. 
-É uma bela distância, pensou o coelhinho. 
Mas, àquela altura já estava sonolento demais para continuar pensando. Então, ele olhou para além das copas das árvores, para a imensa escuridão da noite e concluiu: nada podia ser maior que o céu. 
-Eu te amo até a lua! – Disse ele, e fechou os olhos. 
-Puxa, isso é longe. – Falou o papai coelho. – Longe mesmo! 
O coelho pai deitou o coelhinho na sua caminha de folhas, inclinou-se e lhe deu um beijo de boa noite. Depois, deitou-se ao lado do filho e sussurrou sorrindo: 
-Eu te amo até a lua... ida e volta! 
* * * 
E você, já disputou alguma vez com seu filho quem gosta mais um do outro? Geralmente as disputas são em torno de questões como quem joga futebol melhor, quem corre mais, quem vence mais etapas no vídeo game, quem coleciona mais troféus etc. A vida atarefada, o corre-corre, os inúmeros compromissos, por vezes nos afastam das coisas simples, como sentar na cama ao lado do filho e lhe contar uma história, enquanto o sono não vem. Acariciar-lhe os cabelos, segurar suas mãozinhas pequenas, fazer-lhe companhia para que se sinta seguro. Deitar-se, sem pressa, ao seu lado quando ele vai para a cama, falar-lhe das coisas boas, ouvir com ele uma melodia suave, para espantar os medos que tantas vezes ele não confessa. Falar-lhe do afeto que sentimos por ele, do quanto ele é importante em nossa vida. Dizer-lhe que um anjo bom vela seu sono e que Deus cuida de todos nós. E se você pensa que isso não é importante, talvez tenha esquecido das muitas vezes que arranjou uma boa desculpa para se aconchegar ao lado do pai ou da mãe, nas noites de temporal... 
* * * 
Se, às vezes, é difícil se aproximar de um filho rebelde, considere que a sua rebeldia pode ser, simplesmente, um apelo desajeitado de alguém que precisa apenas de um colo seguro e um abraço de ternura. 
Redação do Momento Espírita, com base no livro Adivinha quanto eu te amo, de Sam McBratney, ed. Martins Fontes. Em 10.9.2018.

domingo, 9 de setembro de 2018

A DOR DO ABANDONO

Era uma manhã de sol quente e céu azul quando o humilde caixão, contendo um corpo sem vida, foi baixado à sepultura. De quem se trata? Quase ninguém sabe. Muita gente acompanhando o féretro? Não. Apenas umas poucas pessoas. Ninguém chora. Ninguém sentirá a falta dela. Ninguém para dizer adeus ou até breve. Logo depois que o corpo desocupou o quarto singelo do asilo, onde aquela mulher havia passado boa parte da sua vida, a moça responsável pela limpeza encontrou em uma gaveta ao lado da cama, algumas anotações. Eram anotações sobre a dor... Sobre a dor que alguém sentiu por ter sido abandonada pela família num lar para idosos... Talvez o sofrimento fosse muito maior, mas as palavras só permitem extravasar uma parte desse sentimento, grafado em algumas frases: 
-Onde andarão meus filhos? Aquelas crianças ridentes que embalei em meu colo, alimentei com meu leite, cuidei com tanto desvelo, onde estarão? Estarão tão ocupadas, talvez, que não possam me visitar, ao menos para dizer “Olá, mamãe”? Ah! Se eles soubessem como é triste sentir a dor do abandono... A mais deprimente solidão... Se ao menos eu pudesse andar... Mas dependo das mãos generosas dessas moças que me levam todos os dias para tomar sol no jardim... Jardim que já conheço como a palma da minha mão. Os anos passam e meus filhos não entram por aquela porta, de braços abertos, para me envolver com carinho... Os dias passam... E com eles a esperança se vai... No começo, a esperança me alimentava, ou eu a alimentava, não sei... Mas, agora... Como esquecer que fui esquecida? Como engolir esse nó que teima em ficar em minha garganta, dia após dia? Todas as lágrimas que chorei não foram suficientes para desfazê-lo. Sinto que o crepúsculo desta existência se aproxima... Queria saber dos meus filhos... Dos meus netos... Será que ao menos se lembram de mim? A esperança, agora, parece estar atrelada aos minutos... que a arrastam sem misericórdia... para longe de mim. Às vezes, em meus sonhos, vejo um lindo jardim... É um jardim diferente, que transcende os muros deste albergue e se abre em caminhos floridos que levam a outra realidade, onde braços afetuosos me esperam com amor e alegria... Mas, quando eu acordo, é a minha realidade que eu vejo... Que eu vivo... Que eu sinto...Um dia alguém disse que a vida não se acaba num túmulo escuro e silencioso. E Esse Alguém voltou para provar isso, mesmo depois de ter sido crucificado e sepultado... E essa é a única esperança que me resta... Sinto que a minha hora está chegando... Depois que eu partir, gostaria que alguém encontrasse essas minhas anotações e as divulgasse. E que elas pudessem tocar os corações dos filhos que internam seus pais em asilos, e jamais os visitam... Que eles possam saber um pouco sobre a dor de alguém que sente o que é ser abandonado... 
 * * * 
A data assinalada ao final da última anotação, era a data em que aquela mãe, esquecida e só, partiu para outra realidade. Talvez tenha seguido para aquele jardim dos seus sonhos, onde jovens afetuosos e gentis a conduzem pelos caminhos floridos, como filhos dedicados, diferentes daqueles que um dia ela embalou nos braços, enquanto estava na Terra.
Redação do Momento Espírita. Disponível no livro Momento Espírita, v. 3, ed. Fep. Em 28.6.2013.

sábado, 8 de setembro de 2018

A DOR DE CADA UM

Dráuzio Varella
Do canto onde se encontrava, o médico admirava a jovem, com discrição. Ela trajava vestido claro, usava cabelo curto e seus olhos verdes coloriam o rosto sem maquiagem. Tomava uma xícara de chá, no intervalo anterior ao segundo ato da ópera. De repente, seu ar pensativo se transfigurou num sorriso que iluminou a sala. Encantado por ela, o jovem médico somente percebeu o motivo da sua alegria quando um rapaz loiro chegou perto dela o suficiente para a beijar. Naquele belo salão do Teatro da Ópera de Estocolmo, de paredes, teto e ornamentações reluzentes de ouro, Dráuzio observou o casal. O rapaz trajava terno cinza-escuro, camisa branca de gola rulê. De corpo esguio e traços herdados dos ancestrais vikings, ele estava à altura da beleza da moça. Parecia um casal de artistas de cinema. Olhando-os, Dráuzio ficou a imaginar quanta diferença havia entre nascer num lugar sem gente pobre, como Estocolmo, e num bairro operário de São Paulo. Se ele tivesse recebido a mesma educação e fosse tão bonito quanto aquele rapaz, será que sua vida teria sido mais fácil? Mais feliz? Sozinho, no burburinho das pessoas bem-vestidas do salão de ouro, ele sentiu inveja. Queria ter tido as mesmas oportunidades e ser bonito como aquele rapaz. Claro, sem deixar de ser ele mesmo. Queria ter encarnado naquele corpo. Queria poder usufruir do que ele tinha, naquele país culto, organizado, sem miséria por perto. Quando acabou a ópera, ele voltou para o pequeno apartamento de hóspedes que o instituto médico, onde estagiava, lhe cedera. Chovia e ele chegou com as meias ensopadas. Fazia frio. Pensou em tomar um banho quente mas o chuveiro se negou a funcionar. Agasalhou-se o mais que pôde e se sentou junto ao aparelho de calefação, sentindo saudades de sua casa e de sua mulher. Poucos dias depois, ele teve nas mãos um prontuário grosso como uma lista telefônica. Tratava-se de um caso grave de câncer. Há oito anos em tratamento, o portador tivera algumas melhoras. Agora, a doença se apresentava de uma forma mais agressiva. Dráuzio concluiu que o único tratamento a tentar seria novo esquema de medicamentos. Ao menos, eles poderiam controlar a doença por algum tempo. Era uma enfermidade incurável. Quando a enfermeira abriu a porta, Dráuzio custou a acreditar: o doente era o rapaz bonito da ópera. Como naquela noite, ele usava camisa de gola alta para ocultar os gânglios saltados e a cicatriz da biópsia. 
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No mundo de provas e expiações em que nos situamos, não há quem não tenha dores a suportar. Enfermidades no lar, desemprego, abandono, dificuldades de relacionamento, cada qual tem seu cadinho de dor. Ninguém está isento do sofrimento. Ricos, pobres, potentados e anônimos, cada qual tem seu fardo a carregar. Algumas são dores profundas e ocultas, que passam despercebidas até mesmo pelos familiares, por vezes. Por isso é que o Mestre de Nazaré nos ensinou: No mundo só tereis aflições. Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e encontrareis refrigério para vossas almas. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Inveja, do livro Por um fio, de Dráuzio Varella, ed. Companhia das Letras. Em 18.4.2017.