terça-feira, 31 de julho de 2018

OS DOIS CÂNTAROS

MALBA TAHAN
Um moço religioso, que vivia entre os monges do deserto, sentia-se pouco inteligente e incapaz de guardar os ensinamentos recebidos. Entristecido, procurou um velho sábio e lhe disse: 
-Apesar dos esforços constantes que faço, não chego a conservar na memória, durante muito tempo, as instruções que recebo. Vão, também, para o esquecimento os trechos mais belos que leio, diariamente, no Evangelho. 
O sábio, que o escutava com paciência e bondade, pegou dois cântaros e falou ao jovem: 
-Meu filho, toma um destes cântaros. Coloca um pouco d'água, e depois lava-o cuidadosamente. Enxuga-o com o teu próprio hábito e devolve-o ao lugar onde estava. 
Obediente, o moço fez exatamente o que lhe determinou o sábio. Concluída a tarefa, o ancião perguntou-lhe qual dos dois cântaros estava mais limpo e claro. O rapaz tomou nas mãos o cântaro que acabara de secar e respondeu: 
-Este, por certo, está mais limpo.Lavei-o com muito cuidado. 
Disse sorrindo. O sábio, então, retorquiu, apontando para o cântaro limpo: 
-Repara bem. Ele difere muito daquele outro que não foi lavado por você e continua sujo e empoeirado. Porém, embora inegavelmente limpo, este cântaro não retém mais vestígio algum da água que o purificou. 
Também aquele que ouve, confiantemente, os ensinos do Evangelho e se deixa tocar por eles, vivenciando-os, embora não grave na memória a exata palavra dos ensinamentos recebidos, traz o coração tão puro quanto um cântaro lavado. De nada adianta recitar belos trechos do Evangelho e não viver os ensinamentos do Cristo. De nada adianta guardar na memória passagens belas e edificantes da vida de nobres missionários se não exemplificamos em nossos atos diários, as lições que julgamos tão valiosas. De nada adianta saber que Jesus é nosso Modelo e Guia, se nossos passos ainda insistem em seguir por caminhos que nos distanciam do Mestre Nazareno. Em dias como os nossos, em que o conhecimento a respeito de tantas coisas nos é ofertado com grande rapidez e facilidade, devemos refletir a respeito do uso que fazemos dele. A cultura e o esclarecimento têm servido aos homens como alavancas para o desenvolvimento intelectual. O intelecto e a moral são as duas asas necessárias ao progresso do Espírito e a intelectual é a primeira asa que os seres desenvolvem. Mas, com uma asa apenas não há como se alçar voo. Há, pois, outros progressos a serem alcançados. A responsabilidade daquele que conhece a verdade é maior do que a daquele que ainda permanece na escuridão da ignorância. A luz do saber deve estar aliada ao desejo de acertar e de ser melhor. Há tantos seres extremamente inteligentes que têm usado sua capacidade privilegiada para praticar crimes que lesam milhares de pessoas. E assim, com o intuito de obter vantagens indevidas, enganam e criam ciladas variadas. Usufruem, temporariamente de uma felicidade fictícia porque a própria consciência há de lhes exigir, cedo ou tarde, a reparação pelo mal que praticaram. Perceberão, um dia, que mais importante do que saber muito é utilizar bem o pouco que já se sabe. É necessário progredir também moralmente. Eis aí a segunda asa que há de nos permitir atingir o céu da felicidade verdadeira. Asa esta que só conquistaremos quando fizermos uso adequado e justo dos conhecimentos que temos acumulado ao longo das existências e dos séculos. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no livro Os melhores contos de Malba Tahan, ed. Record. Em 31.01.2010.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

DOE PALAVRAS

A tecnologia dos tempos atuais presenteia-nos, por vezes, com oportunidades inigualáveis. Você já pensou em doar palavras de consolo, de amizade, de incentivo? Pois é, hoje isso já é possível - doar palavras. Um hospital brasileiro(Hospital Mário Penna-BH-MG), especializado no tratamento a pacientes com câncer, lançou uma campanha inspiradora. 
Chama-se: Doe palavras. 
Qualquer um de nós acessa o site da instituição e lá encontra o convite: enviar palavras de fraternidade aos pacientes atendidos pelo hospital. Digita-se uma mensagem curta e, dentro de algum tempo, essas palavras chegam ao ambiente de tratamento, através de televisores espalhados por todo hospital. As mensagens aparecem sempre com assinatura, assim, os pacientes podem saber quem as endereçou e quando o fez. As frases são belíssimas, inspiradas, amorosas, mostrando uma face de nosso povo que, por vezes, permanece desconhecida - a face da fraternidade. Eis alguns exemplos: 
Muita fé, esperança e coragem. 
Amanhã será melhor do que hoje. 
Um beijo para cada um de vocês! Enviada por Victoria. 
Esteja em paz com você mesmo.
Esse é o único caminho da vida.
Acredite, ame e fique em paz, tudo vai melhorar. Enviada por Alexandre.
A maior fortaleza do homem é resistir aos impactos da vida. 
Levantar a cabeça e seguir em frente sem ressentimentos. Enviada por Felipe. 
Recebam uma vibração calorosa em seu coração. 
Tenham uma boa noite! Enviada por José. 
Uma após outra vão surgindo nas telas de projeção do centro médico, mostrando que as pessoas ainda se importam umas com as outras. Milhares de quilômetros de distância desaparecem. Alguém do outro lado do mundo poderá acessar, escrever, e dizer: 
-Eu me importo com você. 
Ou ainda: 
-Eu sei o que você está passando, pois já passei por isso. Força, amigo!
Os pessimistas de plantão poderão dizer que a tecnologia está nos afastando uns dos outros, mas esta é uma das muitas provas do contrário. Se a vontade e o coração desejarem, a tecnologia opera milagres no bem. É exatamente isso que o projeto: doepalavras.com.br busca alcançar. Segundo eles mesmos explicam, esse é o objetivo do projeto: usar a inteligência coletiva para gerar um grande fluxo de mensagens do bem, e levar toda essa força para dentro do hospital. Vale a pena participar. Vale a pena criar movimentos que aproximem as pessoas. É tempo do bem mostrar a sua força. 
 * * * 
O Espírito Emmanuel, através da psicografia do inesquecível Chico amor Xavier, afirma: 
-Nem todos conseguimos subordinar as palavras aos princípios gramaticais, a fim de articular uma alocução irrepreensível do ponto de vista idiomático, ao redor de assunto determinado. Todavia, a possibilidade de pronunciar essa ou aquela frase de consolo e esperança, a benefício dos companheiros que estão suportando sofrimentos e provações maiores do que as nossas, não exclui ninguém.
Redação do Momento Espírita com trecho da obra Caminho iluminado, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Céu e informações colhidas no site http://www.doepalavras.com.br/. Em 22.06.2010.

domingo, 29 de julho de 2018

DOENTES E DOENÇAS

Doroteia não saía dos consultórios médicos. A cada dia, apresentava novos sintomas de desconforto, inquietações, dores que não tinham fim. Realizados complexos exames, nada foi constatado. Sua filha, desalentada, e mesmo cansada de tantos embates sem sucesso, procurou ajuda com amiga terapeuta. Essa, que a conhecia de muito tempo, buscou saber se a mãe continuava com aquelas mesmas ideias mórbidas, negativas, de antes. E, diante da confirmação, falou, com sinceridade: 
-Os sintomas que sua mãe apresenta são reflexos dos pensamentos negativos que ela alimenta. A ação do pensamento sobre a saúde, é incontestável. 
A jovem disse que já lera algo acerca do assunto, se convencera a respeito e que tentara fazer com que sua mãe compreendesse a inconveniência de sua forma de pensar, mas não obtivera êxito até então. 
-Tenho esperança de que, algum dia, isso se modifique. 
Disse, concluindo o diálogo. 
 * * * 
A cultura ocidental acorda lentamente para essa realidade. Prendemo-nos tanto às aparências que deixamos de perceber nossa realidade maior. É muito importante compreender que nossa vida é o reflexo daquilo que cultivamos no mundo interior. Cada órgão de nosso corpo físico sofre a influência dos pensamentos, sentimentos e emoções que agasalhamos. Quando ficamos ansiosos, aumentamos a secreção de adrenalina que vai descontrolar nosso sistema nervoso. Quando o pessimismo toma conta de nosso ser, sofremos perturbações no aparelho digestivo. O medo e a revolta causam úlceras gástricas e duodenais. O ódio, a raiva, quando alimentados por muito tempo, podem causar tumores. Sendo a Lei Divina perfeita, o contrário também se dá. Se optarmos por pensamentos e sentimentos elevados, serenos, positivos, as reações salutares serão a resposta. A tranquilidade, o amor, o otimismo são estimulantes da harmonia emocional e orgânica, com efeitos saudáveis sobre o corpo. 
 * * * 
Somos o que pensamos. Nossos pensamentos são energias a sintonizarem com outras energias da mesma categoria. E, como tudo na vida, pela afinidade, pensamentos iguais se atraem e se influenciam, mutuamente, nas mesmas faixas das ondas mentais. Aos nossos pensamentos, se somam os dos desencarnados, que se intercomunicam com os homens por esse mesmo mecanismo. Importante, portanto, pensar de forma edificante. Atrair pensamentos salutares e otimistas, assumindo postura positiva frente à vida. Quando pensamos em amor e paz, alegria e união, recebemos estímulos equivalentes. Se vivermos a cultivar insucessos, só colheremos derrotas. Cada um é responsável pelo seu campo mental, tanto no semear, como no colher. Dependendo das sementes que espalharmos, assim colheremos. Como vivemos mergulhados num mar de emissões mentais, os Espíritos identificam essas emissões e são atraídos de acordo com o que lhes seja de interesse. Assim, bons Espíritos estarão conosco quando nossos pensamentos forem positivos. E as vibrações se somarão às nossas, resultando em harmonia e equilíbrio. Pensemos nisso e cultivemos saúde mental e física. 
Redação do Momento Espírita. Em 19.12.2015.

sábado, 28 de julho de 2018

DOENÇA OU DOENTES?

JOANA DE ÂNGELIS
E
DIVALDO PEREIRA FRANCO
Desde que o mundo é mundo, a Humanidade tem lutado contra as enfermidades mais variadas. Quando consegue controlar uma delas, outras surgem, mais cruéis e ameaçadoras. Tem-se lutado com ardor para extirpar as doenças da face da Terra. Mas por que não se consegue, já que a ciência moderna tem recursos fantásticos? A resposta é simples: tem-se buscado curar os efeitos e não as causas. Ou seja, temos envidado esforços para curar os corpos, esquecidos de que o enfermo é o Espírito imortal e não o corpo que perece. O corpo é como um mata-borrão, que absorve e exterioriza as chagas que trazemos na alma. A mente elabora os conflitos, os ressentimentos, os ódios que desatrelam as células dos seus automatismos, degenerando-as e possibilitando a origem de tumores de vários tipos, especialmente cancerígenos, em razão da carga mortífera de energia que as agride. A sede de vingança volta-se contra o organismo físico e mental daquele que a acalenta, facilitando a instalação de úlceras cruéis e distonias emocionais perniciosas que empurram o ser para estados desoladores. As angústias cultivadas podem ocasionar as crises nervosas, as enxaquecas, entre outros males. A inveja, a cólera, a competição malsã provocam indigestões, hepatites, diabetes, artrite, hipertensão, entre outros distúrbios. O desamor pessoal, o complexo de inferioridade, as mágoas, a autopiedade, favorecem os cânceres de mama, na mulher, e de próstata, no homem, além das disfunções cardíacas, dos infartos brutais e outras doenças. A impetuosidade, a violência, as queixas sistemáticas,os desejos insaciáveis dão ocasião aos derrames cerebrais, aos estados neuróticos, psicoses de perseguição, etc. Como podemos perceber, a ação do pensamento sobre o corpo é poderosa. O pensamento salutar e edificante flui pela corrente sanguínea como tônus revigorante das células, passando por todas elas e mantendo-as em harmonia. O contrário ocorre com o pensamento desequilibrado. O homem é o que acalenta em seu íntimo. O que surge no corpo é a exteriorização dos males que cultiva na alma. Não é outro o motivo pelo qual Jesus alertava àqueles a quem curava dizendo: Vá, e não tornes a pecar para que mal maior não te aconteça. O que quer dizer que a saúde está condicionada ao modo de vida de cada criatura. E que não há doenças, mas doentes, que, em maior ou menor intensidade, somos todos nós. 
 * * *
Jesus, que foi o exemplo máximo do Amor, jamais adoeceu, porque era são em Espírito, o que proporcionava saúde ao corpo. Desta forma, se quisermos a saúde efetiva, enquanto buscamos a cura do corpo, tratemos também o verdadeiro enfermo, que é o Espírito. 
Redação do Momento Espírita, com base no livro Auto-descobrimento – uma busca interior, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. Em 03.05.2010.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

A DOENÇA DO MAU HUMOR

DIVALDO PEREIRA FRANCO
Ele era um servidor de Jesus um tanto imperfeito. Vivia de mau humor. Reclamava de tudo e de todos. Com tal comportamento, natural que as antipatias se multiplicassem ao seu redor. Por fim, era detestado pelos que lhe compartilhavam a vida, a tal ponto que alguns resolveram compor uma comissão e comparecer ante o superior da nobre instituição, pedindo providências. O superior era o papa, um homem devotado ao bem, portador de peregrinas virtudes. Recebeu a comissão em audiência particular e lhe ouviu as reivindicações que incluíam um pedido de transferência para o colega sacerdote tão complicado. Ninguém o desejava na equipe de trabalho, pois todos se sentiam mal com suas constantes reclamações. Que ele fosse enviado a um local distante, para uma tarefa isolada. Afinal, diziam os integrantes da comissão, embora não o quisessem ao seu lado, também a ninguém desejavam tal castigo. De forma surpreendente, quando concluíram o relato, o papa lhes assegurou que iria resolver a questão. Solicitou que o sacerdote fosse encaminhado aos seus próprios serviços. Ele o tomaria para seu secretário particular. Quando lhe chegou o novo secretário, encarregou-o de uma tarefa especial. Todos os dias, às sete horas da manhã, ele deveria despertá-lo e informar: 
- Santidade, são sete horas. O dia está lindo e o café está servido. 
Na manhã seguinte, pontualmente, pois ele era fiel cumpridor dos seus deveres, compareceu à frente do papa e informou, conforme lhe fora ordenado: 
- Santidade, são sete horas. O dia está lindo e o café está servido. 
- Eu sei, meu filho. Respondeu o papa, com bondade. Os anjinhos me contaram. 
E assim foi no segundo dia, no terceiro e em todos os seguintes. Ao final de algumas semanas, o mal humorado servidor já se cansara de ouvir a mesma resposta do papa. Mas, fiel ao seu dever, chegou pela manhã e disse:  
- Santidade, são sete horas. O dia está lindo e o café está servido. 
A resposta foi a mesma. 
-Eu sei, meu filho. Os anjinhos me contaram. 
Então, com todo o mau humor represado há dias, explodiu o secretário:
- Que anjos mentirosos! Saiba Sua Santidade que são nove horas, está chovendo torrencialmente e eu não preparei o café. 
 * * * 
Isso se chama distimia, a doença do mau humor. Difícil de ser debelada, mesmo ao contato de pessoas pacientes e otimistas, que tudo fazem para mostrar a esse enfermo que nunca tudo é ruim. Se nos descobrirmos nesse quadro, busquemos ajuda profissional e repensemos nossas atitudes. Ajustemos as lentes da alma e descubramos quão extraordinário é o mundo em que nos movemos, pleno de cor, magia, encanto. E vejamos que mesmo a lava destruidora do vulcão em erupção, enquanto engole, em sua passagem, o que encontra, ilumina em cores a paisagem. Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base na faixa O padre rebelde do Vaticano, do CD O perdão e o auto-perdão, v. 1, de Divaldo Pereira Franco, ed. Centro Espírita Caminho da Redenção. Em 20.10.2016.

quinta-feira, 26 de julho de 2018

DO CONHECIMENTO DE SI PRÓPRIO

O progresso intelectual e tecnológico da Humanidade, nos últimos séculos, têm sido bastante significativo. O homem compreendeu muitas das leis da natureza e passou a utilizá-las em seu benefício. Valeu-se da sua capacidade de raciocínio para reduzir esforços físicos e produzir máquinas que auxiliam e facilitam trabalhos repetitivos. Descobriu a cura de diversas doenças, fabricando remédios e criando técnicas que diminuem o sofrimento físico e salvam vidas. Desenvolveu projetos para aumentar a produção de alimentos e novas formas de armazenamento e conservação. Estabeleceu meios eficazes de comunicação que facilitam contatos e a obtenção das mais variadas informações. O homem alcançou a lua e ruma, agora, em direção a planetas e estrelas distantes. São grandes vitórias, mas não representam por si só o final da batalha. Isso porque as alegrias ainda são passageiras e o sentimento de insatisfação continua habitando o coração do homem. Resta um vazio, uma sensação de que algo importante foi deixado para trás. E realmente foi. Em meio a tantas realizações, o homem acabou esquecendo de conquistar a si mesmo, de domar sua própria essência. Gasta seu tempo e seu esforço, procurando, mundo afora, o que só encontrará em si mesmo. Seus motivos, sua razão, suas verdades. Deseja alcançar a felicidade e a paz. Crê que as encontrará em rostos, em afetos, em conquistas materiais, em paisagens paradisíacas. Ledo engano. Ninguém, nada, nem lugar algum, será capaz de satisfazê-lo real e definitivamente, enquanto ele não conhecer a si mesmo. Faz-se necessário que o homem empreenda a mais difícil de todas as jornadas. Um caminho sem medida e sem volta. Entender-se, respeitar-se e amar-se. É preciso que o homem tenha coragem de mergulhar em si mesmo e buscar conhecer-se. Não se trata de uma tarefa fácil. Afinal, muitas descobertas poderão ser não muito agradáveis. Porém, muitas revelações poderão ser dolorosas. Muito trabalho deverá ser realizado e muitos vícios deverão ser vencidos. Condutas deverão ser revistas e novos hábitos desenvolvidos. Para isso, porém, será preciso ter coragem e determinação. Coragem para reconhecer as próprias deficiências e falhas. Determinação para não desistir do bom combate. Para não abandonar a meta por considerá-la distante e difícil.
 * * * 
Não somos perfeitos. Ainda não. Mas nosso destino é a perfeição. Quando Deus, em Sua bondade e sabedoria infinitas, criou-nos, semeou em nosso âmago o gérmen da felicidade. É necessário a luz da sabedoria para fazê-lo brotar e frutificar. O autoconhecimento é pré-requisito para que sejamos a cada dia melhores. Assim, pouco a pouco, conscientes de quem e como somos, seremos capazes de vencer a nós mesmos. Transformando o homem velho que ainda existe em nós, alcançaremos o progresso moral que nos falta. Somente então chegaremos ao nosso destino: a verdadeira felicidade. 
Redação do Momento Espírita. Em 03.10.2011.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

A COMPETIÇÃO

Eram dois grupos de jovens de comunidades religiosas diferentes. A competição era constante. Cada coordenador procurava evidenciar o seu grupo juvenil. Competiam em jogos de futebol, em maratonas de conhecimentos bíblicos. Certo dia, um dos grupos estudava o capítulo treze do Evangelho de João, aquele que narra o episódio de Jesus lavando os pés dos discípulos. O coordenador achou muito oportuno pedir aos jovens que saíssem e encontrassem uma maneira prática de ajudar alguém. Para isso, os dividiu em cinco equipes e lhes recomendou: 
-Quero que vocês sejam como Jesus, nesta cidade, durante as próximas duas horas. Imaginem: se Jesus estivesse aqui, o que Ele faria por este povo? 
Entusiasmados, saíram os jovens. Duas horas passadas e eles retornaram à sala de estudos para relatar o que tinham feito. Uma equipe disse que trabalhara durante aquele período, na limpeza do jardim de um senhor idoso, que morava sozinho. Outra equipe relatou que visitara um membro da comunidade que se encontrava hospitalizado. Além da presença, levaram um cartão para alegrá-lo. A terceira equipe informou que comprara sorvetes e os servira a algumas crianças pobres. A quarta se dirigira a uma casa de repouso e cantara cantigas natalinas. Bom, o mês era agosto. Mesmo assim, os internos apreciaram muito o recital. Houve até um senhor que comentou que aquele Natal, em pleno agosto, era o mais feliz de sua vida. A cada relato, o coordenador exultava e elogiava a iniciativa. Entretanto, quando a quinta equipe disse o que fizera, houve uma exclamação de espanto geral. Esse grupo visitara a comunidade rival e perguntara ao coordenador de lá se ele conhecia alguém que precisava de ajuda. Ele os encaminhara à casa de uma senhora que vivia só. Ela precisava de muitas coisas. Então, durante duas horas, eles varreram as folhas do quintal, apararam a cerca viva, cortaram a grama. Quando terminaram e foram se despedir da dona da casa, ela agradeceu dizendo: 
-Eu não sei o que faria sem sua ajuda. Vocês, desse grupo de jovens do bairro estão sempre vindo aqui para me socorrer. 
-Grupo de jovens daquele bairro? 
Interrompeu o coordenador. 
-Espero que vocês tenham dito a ela a que grupo pertenciam. 
-Por quê? – Perguntou um dos jovens. 
-Nós não dissemos nada. Achamos que não era importante. 
Naquele momento, todos compreenderam que aquela equipe entendera verdadeiramente o significado de servir; de dar-se, anonimamente, sem se importar com agradecimentos, elogios ou qualquer outra deferência. De todas as equipes, aquela fora a que melhor interpretara, com seu gesto, o exemplo do Modelo e Guia da Humanidade, Jesus. 
* * * 
Eu vim para cumprir a vontade de meu pai que está nos céus, afirmou o Mestre de Nazaré. E estou no meio de vós, como aquele que serve. Seja Jesus, em toda circunstância, nosso Modelo e Guia. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Não era importante, de Charles Chuck Colson, do livro Histórias para o coração, de Alice Gray, ed. United Press. Em 25.7.2018.

terça-feira, 24 de julho de 2018

O JUMENTINHO DÓCIL

Francisco de Assis, ao se fazer o portador da mensagem do Cristo, em plena Idade Média, estabeleceu para si mesmo regras extremamente rígidas. Seu objetivo não era fundar uma ordem religiosa. Ele desejava simplesmente servir ao próximo. Necessitando ter liberação do Vaticano para que pudesse pregar nas igrejas e nas estradas do mundo, Francisco se submete à exigência e funda uma ordem. As regras que estabeleceu eram severas, onde, entre outras coisas, não era permitido usufruir senão do estritamente necessário. E, se ele criou as regras, era o primeiro a segui-las. Seu quarto parecia uma cela, sem conforto algum. Para cobrir o corpo, ele usava um tecido áspero, em forma de túnica, com uma corda na cintura, à guisa de cinto. O tecido era o desprezado pelos mercadores da cidade de Assis, pois era aquele usado como embalagem das fazendas, sedas e veludos que adquiriam para o comércio. Para as refeições, Francisco era extremamente frugal, alimentando-se um pouco menos que o necessário. Até mesmo porque pensava sempre nos outros, antes que em si mesmo e nas suas necessidades e satisfações pessoais. Certo dia, estando a meditar, compareceu frei Leão, um de seus mais próximos companheiros. Ele dizia que tinha um problema e desejava o auxílio de Francisco para a solução. 
-Pai Francisco, começou, eu conheço uma pessoa que tem um jumentinho. Ele é muito frágil, magro, doente. Apesar disso, seu dono não o alimenta bem e exige muito dele. 
-Ele monta no animal e exige ser carregado? Perguntou Francisco. 
-Sim, pai Francisco. O pobre animal mal se aguenta em pé e o dono lhe exige isso e muito mais. Não tem piedade para com ele. Diga-me, que devo dizer a esse homem? 
Francisco era conhecido por amar os animais. Mais de uma vez, em descobrindo que alguém apanhara uma lebre em armadilha, ele a comprava para a libertar. Em festividades religiosas, jamais esquecia que os animais deveriam ser brindados com rações extras. Fossem animais domésticos ou os pássaros livres, que enchiam os ares. Então, respondeu a frei Leão: 
-Que maldade! Pois traga-me esse homem e eu falarei com ele. Dir-lhe-ei como se deve tratar os animais. 
Frei Leão docemente, esclareceu: 
-Pai Francisco, é você o dono do jumentinho. Seu corpo é o jumentinho que o leva a todo lugar e não está sendo bem tratado. 
Embora hierarquicamente ele fosse o superior, o líder de todo o grupo, humildemente, respondeu Francisco: 
-Verdade, frei Leão? Eu faço isso com meu corpo? Trato-o tão mal assim? 
E, ante a afirmação do companheiro, Francisco ali mesmo se ajoelhou e orou: 
-Meu doce jumentinho, me perdoe. Nem percebi que estava a tratar tão mal a você, de quem dependo para realizar minha obra. Perdoe-me. Terei mais cuidado, daqui em diante. 
 * * * 
A narrativa nos leva a nos perguntarmos: Estamos tratando bem nosso corpo? Tem sido adequada a alimentação? Temos lhe permitido o repouso devido e temos atendido às suas dores? Pensemos nisso: nosso doce jumentinho é nosso instrumento de trabalho na Terra. Amemo-lo. Atendamo-lo. 
Redação do Momento Espírita. Em 18.1.2017.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

QUANDO TODAS AS ESTAÇÕES ESTIVEREM COMPLETAS

Um homem tinha quatro filhos. Ele queria que eles aprendessem a não julgar a vida, as pessoas e as coisas de modo apressado. Por isso, mandou cada um viajar para observar uma pereira, que estava plantada em um local distante. O primeiro filho foi no inverno, o segundo na primavera, o terceiro no verão e o quarto e mais jovem, no outono. Quando eles retornaram, o pai os reuniu e pediu que cada um descrevesse o que tinha visto. O primeiro filho disse que a árvore era feia, torta e retorcida. O segundo disse que ela era coberta de botões verdes e cheia de promessas. O terceiro discordou dos dois. Disse que ela estava coberta de flores, que tinham um odor tão doce e eram tão bonitas, que ele arriscaria dizer que era a coisa mais graciosa que havia visto. Por fim, o último filho não concordou com os irmãos. Ele disse que a árvore estava carregada e arqueada, cheia de frutas, vida e promessas. O pai, então, explicou que todos estavam certos, porque cada um tinha visto apenas uma estação da vida da árvore. Falou que não se pode julgar uma árvore, ou uma pessoa, ou qualquer coisa, por apenas uma estação. Disse que a essência de uma pessoa, e o prazer, a alegria e o amor que vêm daquela vida, podem apenas ser medidos no final, quando todas as estações estiverem completas. Se desistirmos quando for inverno, perderemos a promessa da primavera, a beleza do verão e a expectativa do outono. Podemos estar vivendo um inverno intenso neste instante. Parece não haver previsão de término. Por vivê-lo por tão longo tempo, quem sabe tenhamos esquecido de como é uma outra estação diferente dessa. Importante, no entanto, lembrar que se trata de uma estação. Não julguemos a vida ou a nós mesmos apenas por esse instante mais gelado e difícil. Lembremos que o inverno nos faz mais fortes, mais resistentes. A estação do frio é convite ao recolhimento e à reflexão. A primavera parece distante ou mesmo improvável, mas ela é lei da natureza. Virá de qualquer forma. Por isso, não desistamos de nós, não desistamos de prosseguir, olhando apenas a chuva fria e o dia cinza. Estamos vendo apenas parte e não o todo. Mais tarde, quando todas as estações estiverem completas, perceberemos o quão importantes foram aqueles dias congelantes e o quão foram prazerosos os primeiros instantes da primavera que os seguiu. 
* * * 
Vivemos no mundo das estações e dos ciclos. Os invernos ainda vão e voltam, assim com os dias quentes de verão. Saibamos viver as estações com maturidade, extraindo de cada uma seu valor, suas lições e suas belezas. Haverá dia em que iremos encontrar beleza até na mais vigorosa estação invernal, pois enxergaremos além das temperaturas baixas e dos incômodos que ela traz. Encontraremos a vida a pulsar debaixo da neve, debaixo da dor, debaixo das expiações que nos libertam das amarras da consciência culpada. Não permitamos, assim, que a dor de uma estação destrua a alegria de todas as outras. Não julguemos a vida apenas por uma estação difícil. 
Redação do Momento Espírita. Em 23.7.2018.

domingo, 22 de julho de 2018

DOCES REENCONTROS

Verdadeiramente, vivemos tempos novos sobre a face da Terra. Tempos em que, a cada dia, nos deparamos com seres especiais reencarnados entre nós. Não importa a raça, a nacionalidade, o credo religioso ou crença alguma. Eles são especiais. Trazem conceitos espiritualizados a respeito da vida, do mundo, do destino final das criaturas de Deus. Contou-nos uma amiga que sua filha, na inocência dos seus três anos de idade, certa noite, aconchegou-se na cama, ao seu lado. Em verdade, toda noite era assim. A menina vinha para sua cama e ali se deitava por alguns minutos, antes de se encaminhar para o próprio berço. Nesses momentos, contou-nos a mãe, era que diálogos sempre interessantes aconteciam. Alguns que a surpreendiam, sobremaneira. Era como se aquela criança, que trazia o azul do céu em duas joias brilhantes na face, se pusesse a pensar, mergulhando na doçura e na sabedoria de um passado intensamente vivido. 
- Mamãe, antes de eu nascer eu era anjinho? 
A mãe ficou a imaginar como deveria responder. E resolveu adentrar no clima da inocência infantil, concordando. 
-E antes de você ser mamãe, onde você morava? 
Pacientemente, e alongando o diálogo, a mãe respondeu que morava com seus pais, avós da pequena. Enriqueceu com detalhes, dizendo da casa grande, de janelas azuis, o imenso jardim, em outra cidade, bem longe. 
-Mas, mamãe, e antes de você ser filha do vovô e da vovó, você era anjinho como eu, né? 
-Acho que sim, foi a resposta breve daquela jovem que ficou a cogitar aonde iria parar aquele raciocínio todo. 
Então, a garotinha desatou a falar: 
-Pois é, mamãe, você estava no céu, junto comigo. Aí, você nasceu e eu fiquei lá. Depois, Papai do Céu falou para eu escolher minha mamãe. E eu escolhi você. Viu, agora estamos juntas de novo. 
A conversa parou. Os olhos da mãe se transformaram em pérolas de luz e duas lágrimas brilharam, rolando pela face. Ela estreitou seu tesouro junto ao coração. E enquanto a pequena se acomodava para o sono, ela se pôs a pensar: 
-Quantos filósofos se detêm anos a estudar os mistérios da vida que nunca morre, da vida que se repete na Terra, no espaço, em outros mundos. Estudam a doutrina secreta dos hindus, egípcios, gregos para encontrarem essas verdades que, até hoje, muitos homens não admitem, considerando simples tolices. No entanto, a sua pequerrucha, na extraordinária sabedoria de um Espírito milenar, revestido de carne, ali, descontraída e singelamente, sintetizara a trajetória de dois Espíritos que se amam. Dois Espíritos que, possivelmente, estabeleceram laços de afeto há milênios e se propuseram a prosseguir na conquista do progresso, assim, lado a lado. Ora como mãe e filha. Ora... quem sabe como? 
 * * * 
O maior sábio que já visitou a Terra, ensinou: 
-Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos? 
E olhando para os que estavam sentados à roda de si: 
-Eis aqui, lhes disse, minha mãe e meus irmãos. Porque o que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã e minha mãe. 
Estabeleceu ali a grande verdade de que todos somos uma grande e só família: a família universal. Vamos estreitando laços, estabelecendo pontes de amor e nos reencontrando, aqui, nesta vida; acolá, na Espiritualidade e outra vez mais. 
Pensemos nisso: Quantos reencontros estamos tendo nesta vida?
Redação do Momento Espírita, com base em fato e citação do Evangelho de Mateus, cap. 12, versículos 47 a 50. Disponível no CD Momento Espírita, v. 29, ed. FEP. Em 21.3.2016.

sábado, 21 de julho de 2018

A PIOR DAS CRISES

AMÉLIA RODRIGUES
Tiago, um dos Apóstolos de Jesus, era bastante fiel às tradições da época, ao cumprimento das Leis e aos livros sagrados de seu povo. Costumava refletir sobre a profundidade dos ensinamentos de Jesus, e sobre a grande oportunidade que era conviver com Ele. Certa vez, interrogou o Mestre, preocupado com as sucessivas crises políticas e econômicas que o povo local vivenciava, por conta do domínio esmagador de Roma. Queria saber por que viviam entre crises econômicas sucessivas, e, se uma crise pior ainda estava por acontecer. Jesus, na Sua infinita calma, bondade e sabedoria respondeu: 
-A pior crise, Tiago, é a de caráter moral do homem, que acaba por causar todas as outras. 
Explicou que o ser humano ainda se acomoda na ignorância, ligado a paixões que o dominam e o infelicitam. Salientou que, na raiz da crise moral se encontra o egoísmo, que sempre atuará prejudicando o próximo. Na falta da solidariedade e da fraternidade florescem a ambição, a loucura, a perturbação e os desastres decorrentes desses vícios morais. As pessoas se isolam em seu orgulho, na ilusão do poder, da raça, da fé religiosa ou política, contribuindo para a desarmonia entre as criaturas. A ambição desmedida pelas posses materiais causa profundos desequilíbrios, com alguns possuindo muito, e tantos possuindo quase nada. O consumo desenfreado pode levar indivíduos e, até mesmo uma nação, à ruína. Em sua conversa com Tiago, o Mestre diz que a severa crise daqueles dias era a mesma, desde o início dos tempos, e que se prolongaria ainda por um longo período na sociedade terrestre. Jesus encerra dizendo:
- No futuro, as crises existenciais, políticas e morais cederão lugar ao entendimento, com base no amor, porque, então, a mais severa das crises do ser humano estará resolvida: a crise moral. 
As considerações feitas por Jesus há mais de dois mil anos são de uma atualidade impressionante. Hoje, as crises morais, como crimes e corrupção, tomam enorme tempo em noticiários e grandes manchetes em jornais. As crises políticas, na forma de guerras, se repetem, baseadas na ilusão da posse, no orgulho e no poder. As crises econômicas, baseadas no descaso político, na ganância dos que comandam o sistema financeiro, e na obsessão individual de amealhar bens se repetem, causando desequilíbrios de grande porte. No entanto, sabemos, escutando nosso caro amigo e guia, que a mudança real começa em cada um de nós, e que o mundo caminha, mesmo que a passos lentos aos nossos olhos, para uma mudança real. Um novo mundo só será possível se for baseado no amor, com os atos valendo mais do que as palavras, com entendimento e fraternidade. No futuro, crise será uma palavra restrita ao dicionário. Mas para que isso aconteça uma longa e silenciosa batalha deve ser travada no íntimo do ser humano, em busca do equilíbrio e do amor! 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 11, do livro A mensagem do Amor Imortal, de Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Amélia Rodrigues, ed. LEAL. Em 21.7.2018.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

A DOR TRANSFORMADA EM POESIA

-A Internet é um veículo baratinho para se brincar de ator. - Afirmou determinada colunista em matéria de jornal. 
Na grande maioria do tempo, o mundo das redes sociais parece ser um mundo paralelo, distante da realidade. Fotos de pratos de comida e sorrisos; imagens de gatinhos e cachorrinhos fofos; check-in registrados aqui e acolá e mais sorrisos; declarações de amor e citações de frases e pensamentos de autores famosos, que assinam o que jamais escreveram. Raros os conteúdos aproveitáveis ainda, infelizmente. Dias desses uma imagem chamou a atenção: um rosto sério, sem sorriso, sem máscaras; cortes leves desenhados na pele; um dos olhos ferido seriamente na córnea. Abaixo da foto um poema que se iniciava assim: 
Eu quis escrever um grito. 
Era mais uma pessoa, um artista dedicado que no seu caminho diário havia sido vítima da violência do mundo. Assaltado, espancado, deixado desacordado na calçada para ser encontrado horas depois pela polícia. Ao invés de acusar o mundo e a vida, porém, resolveu transformar sua dor, seu grito, em poesia. Encontrou, assim, o belo no feio, o elevado no mais baixo, e levantou-se corajoso. 
* * * 
O mundo nos aterroriza, por vezes. O ser humano beira a selvageria quando tem a alma doente, e o corpo entorpecido por substâncias que só existem para proporcionar uma espécie de fuga para lugar nenhum. Os atos de violência de que é capaz nos faz, às vezes, perder a esperança, desanimar, querer, quem sabe, estar longe daqui... Indignação, revolta e ódio gritam na alma que chora, pedindo ajuda. No entanto, a presença de Deus e do belo em nosso coração têm nos ensinado a transformar dor em poesia, revolta em resignação, ódio em ação no bem. É a aplicação do princípio, da lição da outra face do Cristo, muitas vezes mal compreendida. Se o mundo nos oferece a face da violência, devolvamos justamente o oposto, mostremos a face do carinho, do entendimento, do auxílio ao outro. Se os homens nos oferecem preconceito, ofereçamos a compaixão, a compreensão. É esse o nosso protesto, é essa a bandeira que irá mudar o mundo e, em verdade, já está mudando. Que nosso grito de indignação seja um canto. Que toda vez que nos tirarem o manto, mostremos que podem levar também a túnica, pois jamais nos irão tirar o que temos de maior valor, pois não é e nunca será material. Se hoje estamos inseridos neste contexto de sociedade adoecida, problemática; se somos capazes de identificar onde estão as causas, pensemos: será que estamos aqui por acaso? Será que não podemos atuar como agente transformador neste meio? O que podemos fazer? De que maneira? Não há, de alguma forma, parte de nossa responsabilidade em tudo que acontece? Pensemos seriamente nisso. Saiamos da posição de encurralados pelo medo ou da condição de revoltados. Lembremos que não nascemos por acaso, não nascemos sem planos, nem sem lugar e momento específico para estar. 
* * * 
Se alguém te der uma bofetada numa face, oferece também a outra. Se alguém te tomar o manto, deixa-o levar também a túnica. 
Redação do Momento Espírita. Em 20.7.2018.

CONSTRUÇÃO DO AMOR

Ele é um homem maduro, casado há mais de vinte anos. Tem um casaco marrom, que teima em usar em todas as ocasiões. O casaco está curto e, é claro, um pouco apertado. Porque esse homem não tem o mesmo corpo de bailarino espanhol que tinha ao se casar. Os anos, a falta de exercício regular, o fizeram adquirir alguns quilos a mais. O casaco está meio descolorido, por ter passado, ao longo desses anos, por muitas lavagens. Para a esposa, que preza a elegância, o casaco é um horror. Mas o marido se sente muito bem com ele. E não deixa de usá-lo, no dia a dia. É sua marca registrada. Os amigos dizem que Marcos, sem aquele casaco, não é Marcos. Certa feita, durante uma viagem, a esposa deliberadamente esqueceu o casaco em um hotel. Pensou que se tivesse desfeito do artigo. No entanto, um amigo do casal, vendo o casaco abandonado no saguão do hotel, de imediato o identificou. Dias depois, num embrulho bem feito, Marcos recebia seu apreciado casaco de volta. Ficou muito agradecido ao amigo. Em outra oportunidade, entrando no carro de um amigo, que o levaria ao seu destino, a esposa já estava pensando: 
-Que bom, ele esqueceu o casaco. 
Mas, ele lembrou e pediu ao amigo: 
-Por favor, espere um pouco. Não posso viajar sem meu casaco. 
E lá se foram as esperanças da esposa de vê-lo trajando um casaco novo, recém adquirido. Se você está pensando que a vida desse casal é uma constante discussão, está enganado. Embora ela implique com o casaco de estimação do marido, eles se amam muito. Esse homem maduro, que pode não parecer elegante aos olhos do mundo; que, por vezes, demora um pouco para entender as brincadeiras dos amigos, é um apaixonado pela esposa. Para ela, as coisas têm que ser sempre as melhores. Dia desses, plantou em seu jardim uma roseira. Quando as primeiras rosas vermelhas desabrocharam, exibindo suas corolas de sangue, ao sol, ele disse a um amigo: 
-Veja a roseira que plantei. Percebeu como ela está bem em frente à janela do nosso quarto? Pois é. Rosas vermelhas são as flores preferidas de Isabel. Assim, toda vez que ela abrir a janela pela manhã, verá as rosas abertas e isso a deixará feliz. 
Esse homem, que usa o mesmo casaco, há tanto tempo, é um enamorado da esposa. Ela é apresentadora de um programa televisivo. Pois ele insiste para que esteja sempre renovando seu guarda-roupa. Você precisa estar elegante, diz ele, demonstrando a sua preocupação pela imagem dela. Os anos passaram. Os filhos cresceram. Talvez em tempo que não vá longe, ele se torne avô. Ele não detém o corpo de bailarino que possivelmente tenha provocado os olhares primeiros daquela que hoje é sua esposa. Contudo, não perde o sentimento dos primeiros tempos. Continua a ser o homem apaixonado. E ela... naturalmente que o ama sempre mais. Afinal, o amor da juventude amadureceu, tornou-se um sentimento forte, misto de respeito, companheirismo, cumplicidade. E o que almejam ambos é que seus filhos tenham aprendido essa lição de amor e maturidade. 
* * * 
Na união a dois, é muito importante que cada um oferte ao outro o que possua de melhor. Também que aprenda com seu cônjuge o que este tenha a lhe oferecer. Assim procedendo, crescerão ambos e, na escola da vida, em que estamos todos matriculados, receberão o diploma da afeição que se solidifica e aprimora com o transcorrer dos anos. Em uma palavra, desfrutarão felicidade. 
Redação do Momento Espírita. Em 18.7.2018.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

DIA DA CARIDADE

Dia 19 de julho é o dia da caridade. Ante o evento, convém nos indagarmos o que entendemos por caridade. Interrogados a respeito do verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus, responderam os mensageiros espirituais: Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas. Elucidando o conceito, o mestre lionês Allan Kardec teve oportunidade de dizer: O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem possível, aquele que desejaríamos nos fosse feito. Tal é o sentido das palavras de Jesus: Amai uns aos outros, como irmãos. A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, mas abrange todas as relações com os nossos semelhantes, quer se trate de nossos inferiores, iguais ou superiores. Ela nos manda ser indulgentes porque temos necessidade de indulgência, e nos proíbe humilhar o infortunado, ao contrário do que comumente se pratica. Se um rico nos procura, atendemo-lo com excesso de consideração e atenção, mas se é um pobre, parece que não nos devemos incomodar com ele. Entretanto, quanto mais lastimável é sua posição, mais devemos temer lhe aumentar a desgraça pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura elevar o inferior aos seus próprios olhos, diminuindo a distância entre ambos. Observa-se que o vocábulo tem um sentido muito além do que comumente pensamos, quando acreditamos que dar esmolas é o suficiente para estarmos bem conosco mesmos. O homem obrigado a esmolar se degrada moral e fisicamente: se embrutece. A verdadeira caridade, portanto, não está tanto no que se dá, mas na maneira de fazê-lo. Quando prestamos um serviço com delicadeza tem duplo valor. Se o fizermos com altivez, pode acontecer que a necessidade do outro o faça aceitar, mas o seu coração não será tocado. E devemos lembrar ainda que manchamos a caridade com o orgulho, quando desejamos que os demais saibam o que fazemos. Nesse sentido, a ostentação apaga perante Deus o mérito do benefício. Esquecemos de que Jesus ensinou: Que a vossa mão esquerda ignore o que faz a direita. Mais ainda, ao simplesmente darmos ao que nos pede, não nos lembramos de que o mais necessitado nem sempre é o que pede: o temor da humilhação faz com que o verdadeiro pobre quase sempre sofra sem se queixar, sem nada pedir. A buscar a esses e a atendê-los é o que a verdadeira caridade nos conclama. 
 * * * 
 Jesus encerrou em dois mandamentos toda a Lei Divina, prescrevendo o amor a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo. 
Redação do Momento Espírita, com base nos itens 886, 888 e 888ª, de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec e no item IV, do cap. XV, do livro O evangelho segundo o espiritismo, de Allan Kardec, ambos edição Feb. Em 3.12.2012.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

UMA DOCE FACE DO AMOR

Wallace Leal Rodrigues
Quanto vale um amor de mãe? 
Será que tem preço? 
Poderá haver substituto ao laço que une mãe e filho? 
Dizem alguns que amor materno é balela, piegas. Contudo, ao dispor, na Terra, que o homem fosse concebido a partir do amor de dois seres que se unem e tivesse a gerá-lo o ventre materno, Deus estabeleceu bases seguras para que a criatura desenvolvesse a sua extraordinária capacidade de amar. E uma das facetas do amor é o amor materno. Consequentemente, a necessidade que sente o filho de ser amado. Certa vez, uma jovem esposa, depois de dez anos de consórcio, abandonou o lar. De algum tempo, a situação se fazia insustentável e ela decidiu começar vida nova. Abandonou esposo e filho, garoto de seis anos. Dois anos depois, já com um novo amor a lhe fazer bater o coração descompassado e um trabalho em agência de correios, foi surpreendida por um papel dobrado em quatro, que caiu dentre os tantos envelopes que ela separava para envio. Era uma folha de caderno, sem envelope, destinada simplesmente a Jesus. A curiosidade fez com que ela abrisse a folha e começasse a ler. 
"Jesus, dizia a carta escrita em letra infantil, eu estou muito doente. Tenho muita tosse. Sei que papai cuida de mim, em todas as horas que não está no trabalho. Tia Margarida e tia Magda também. Mas, Jesus, eu estou tão doente. E por isso eu escrevo esta carta para lhe pedir um presente. O meu aniversário está próximo. Seria possível me trazer, no dia em que eu vou completar oito anos, a minha mãe de volta? Não sei onde ela se encontra, mas o Senhor deve saber, com certeza. Se o Senhor puder, por favor, Jesus, traga minha mãe de volta. Se ela voltar, a nossa casa vai se alegrar outra vez. Haverá flores nas janelas. E eu melhorarei. A minha tosse vai passar. Jesus, eu queria tanto, no meu aniversário, abraçar minha mãe outra vez. Sei que eu não sou um bom menino, mas eu peço assim mesmo porque quando minha mãe estava conosco ela sempre dizia que tudo o que se pedisse a Você, Você conseguiria. Eu vou ficar esperando, Jesus, por favor, traga de volta minha mãe."
A assinatura não deixava dúvidas. Era do seu filho, o garoto que deixara aos seis anos, quando partira para sua nova vida. Rita deixou o trabalho naquele dia e voltou para casa. Bateu à porta e, surpresa, tia Margarida a viu entrar. Passou pela sala e o marido, igualmente surpreendido, somente a olhou, sem nada dizer. Foi ao quarto do filho, que tossia, deitado em sua cama. Ao vê-la, o garoto sorriu, abriu os braços e exclamou: 
- Mãe, Jesus trouxe você! 
 * * * 
Existem muitos corpos que não geraram outros corpos, no entanto, se fizeram mães da dedicação em nome do amor de nosso Pai. São criaturas que sustentam vidas, que não murcharam porque elas tomaram para si a missão de ampará-las e socorrê-las. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Oito horas, do livro Remotos cânticos de Belém, de Wallace Leal Rodrigues, ed. O Clarim e do verbete Mãe, do livro Repositório de sabedoria, v. 2, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. Disponível no CD Momento Espírita, v. 18, ed. FEP. Em 13.5.2017.

terça-feira, 17 de julho de 2018

DOCE COMPANHIA

 William e Thomas
Sheryl Blanksby
Quem tem crianças em casa está acostumado com barulho, com brinquedos espalhados, com sobe e desce pelas escadas. Com correrias, com gritos de alegria porque teve êxito no jogo, ou está se divertindo com o mais recente presente. Também sabe que, quase sempre, quando um grande silêncio acontece, a não ser que estejam dormindo, o sinal é de que elas estão aprontando alguma coisa. Por isso, aquela mãe de dois meninos, Sheryl Blanksby, desconfiou da ausência de barulho. O que estaria acontecendo? O que o menino maior estaria aprontando com o seu irmãozinho? Ela resolveu averiguar. Qual não foi sua surpresa ao encontrar William, deitado no colchão, ao lado do irmão Thomas, de apenas um ano. O mais extraordinário é que ele acariciava o bebê, com delicadeza e lhe dizia, sussurrando: 
-Kuya está aqui. Está tudo bem. 
A cena foi demais comovente porque o bebê sofre com um tipo raro e agressivo de câncer, descoberto na sexta semana de vida. Até então, Thomas parecia completamente saudável. Mas, ao examinar um caroço em sua barriga, os médicos descobriram um grande tumor no rim esquerdo. A doença acomete apenas vinte e cinco pessoas a cada ano, nos Estados Unidos. A taxa de sobrevivência mal ultrapassa os trinta por cento. Então, a família decidiu viver intensamente o tempo que resta com o bebê. A mãe registra cada momento de seu pequeno guerreiro, nas redes sociais.  
-Meu coração se parte a cada sorriso que ele me dá. Acordo querendo que seja um pesadelo, mas olho para ele e lembro que é real. Vou para a cama com medo e peço todos os dias para aquela não ser a nossa última noite, relatou ela. 
E ali estava William confortando o irmãozinho, como a lhe dizer que ficasse tranquilo porque ele estava ao seu lado. Talvez quisesse acalmá-lo, no sentido de que não tivesse medo da dor, da morte, da partida, que pode acontecer a qualquer momento. Talvez desejasse simplesmente afirmar: 
-Sou seu irmão, estou aqui. Você não está sozinho. 
Quando pensamos que as crianças não entendem certas situações, nos surpreendemos. Elas têm, normalmente, um entendimento muito maior do que possamos imaginar. E quando deixam que o afeto extravase, são capazes de atos comovedores. Olhando as fotos no Instagram, postadas pela mãe, cogitamos se esse menino não veio justamente para auxiliar o irmão, na sua dura provação. Por isso, a fala delicada: 
-Kuya está aqui. Tudo vai ficar bem. 
Que doce entendimento de que o amor consola, alivia dores, ampara quem chora. Pudéssemos sempre lembrar dessa verdade e menos vezes nos recolheríamos para dentro de nós mesmos, quando o sofrimento nos alcançasse. Menos vezes nos entregaríamos à tristeza, à depressão. Porque todos temos alguém que nos ama. Um pai, uma mãe, filhos, cônjuge, um amigo, um companheiro. Pode até ser a simples presença de um cão que nos recebe à porta, latindo, que salta e nos lambe. Ou um gato que se esfrega em nossas pernas, num repetido afago. Muito bem já nos foi ensinado: o amor é de essência divina. Usufruamos do amor que nos é ofertado. Ofertemo-nos em amor a quem caminha ao nosso lado, entre dificuldades. 
Redação do Momento Espírita, com base em nota colhida na internet. Em 24.5.2017.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

ADEQUADO USO DA PALAVRA

Afirma um provérbio popular que o homem é senhor das palavras não ditas, mas escravo das que profere. Isso porque, após pronunciadas, são como penas ao vento. Impossíveis de serem recolhidas. Os homens públicos, não poucas vezes, têm se dado muito mal por falarem, de forma apressada, sem refletirem, expressando o que lhes vêm à mente, de rompante. Por mais que, posteriormente, busquem ajustar, acertar, dificilmente são sanados os efeitos, na totalidade. Mesmo porque muitos dos que ouviram, inicialmente, poderão não ser alcançados pelas explicações dadas posteriormente. No relacionamento entre patrões e empregados, a questão não se faz diferente. Funcionários podem ser dispensados por terem utilizado mal o verbo, desrespeitando colegas ou superiores. Ou por passarem informações inverídicas, comprometendo a imagem da empresa. Por sua vez, patrões que não têm a devida sensibilidade, podem sofrer ações punitivas, quando agridem verbalmente aos seus empregados. Entre amigos, a questão se faz ainda mais delicada. Confidências feitas nos momentos em que tudo vai bem são repassadas, sem critério, a muitos, quando o laço afetivo se rompe. Aquele que desvelou o mundo íntimo fica corroído de tristeza e inseguro, ante a possibilidade de não serem honradas as reservas que o assunto requer. O outro, por sua vez, seja por maldade ou por revanchismo, resolve tudo espalhar, denegrindo a imagem do que lhe era amigo até há pouco. Nos dias atuais, com as facilidades das redes sociais, esse procedimento tem tomado maior vulto. Sem refletir, pessoas informam a muitas outras, questões que deveriam ser confidenciais. Também inverdades, calúnias, maldades. Pela rapidez, logo alguém é alvo de suspeitas, queixas e olhares críticos. Assim se destroem reputações de indivíduos e de instituições. Por vezes, totalmente infundadas, as notas alcançam o alvo, amolentando as forças do agredido, provocando-lhe distúrbios físicos e psíquicos. Ou criando, no caso de instituições, entraves de variada ordem. Por tudo isso, os que nos dizemos ser os seguidores de Jesus, necessitamos repensar nossa forma de agir. Não utilizemos a palavra escrita ou falada para denegrir pessoas ou instituições. Reflitamos antes, ponderando se o que nos move não é simplesmente o egoísmo, ou a inveja ou qualquer outra paixão menos feliz. Nesse caso, refreemos o impulso. Se nosso intuito é de ajudar, o primeiro a ser procurado é o próprio interessado. Se, alertado, ele não se deseja modificar, deixemo-lo. Assim também age a Divindade para conosco, não nos violentando a vontade. Que bem nos fará divulgarmos o que de errado pratica alguém? A quem aproveitará? Se nos move o intuito de preservar trabalhos, instituições, ainda aí guardemos reserva. Busquemos os responsáveis, propondo mudanças, alterações, antes de destruir trabalhos de muitos anos. Jesus ensinou que se alguém tiver algo contra seu irmão, deve ir ter com ele. Pensemos nisso. 
* * *
Evita alardear o mal ou ser mensageiro das trevas. O mundo já é suficientemente infeliz, com a maldade que vige. Utiliza a tua palavra para estimular as criaturas ao bem. Busca a virtude, oculta embora, como violeta pequena entre as folhas no jardim, e demonstra-a. Acredita: o mal somente distende tentáculos sempre mais ameaçadores sobre as criaturas, porque lhe fornecemos energias. Sê tu aquele que projeta luz. Sê a tua palavra a da alegria, do bom ânimo, do fortalecimento moral. 
Redação do Momento Espírita. Em 16.7.2018.

domingo, 15 de julho de 2018

DOANDO PARA SER FELIZ

Ele era um homem bem sucedido naquela aldeia da Finlândia. Alfaiate, sustentava com seu trabalho a esposa e os filhos, até o dia em que uma grande epidemia matou todos os seus amores. Ficou só e, por essa razão, deixou de trabalhar. Dentro em breve ninguém mais o reconhecia. Andava pelas ruas, maltrapilho e triste. Era um homem amargurado. Embora os cânticos do Natal se fizessem ouvir em todas as esquinas, ele continuava mergulhado em sua tristeza. De repente, se viu defronte a uma grande vitrine, cheia de brinquedos. Um garoto pobre olhava com desesperança e desilusão as coisas bonitas e vistosas. O homem pareceu ouvir em sua intimidade o que pensava o garoto: 
-Eu nunca saberei o que é ter brinquedos tão bonitos assim. 
O antigo alfaiate começou a chorar, pela primeira vez em muito tempo, não por si mesmo, mas pelo menino. Pensou em quantas crianças como aquela existiriam em sua aldeia. Pobres que não teriam nenhum brinquedo naquele Natal. Sem pensar por onde andava, ele foi seguindo por caminhos desconhecidos. Então, se viu diante de um barracão onde as pessoas da aldeia jogavam bugigangas. Coisas que não queriam mais. Entrou, sem bem saber porquê. Mas parecia que alguém lhe comandava os gestos. E agora, lhe dizia, bem dentro do seu coração:
-Veja! Procure entre as bugigangas o que possa ser consertado. Leve para casa e conserte. Pinte. Presenteie. Faça uma criança feliz. 
Ele começou a remexer os entulhos. Havia bonecas, carrinhos e, maravilha! Encontrou até um caixote de ferramentas. Estavam enferrujadas mas ele as lixou, afiou e ficaram como novas. Numa das divisões do caixote encontrou um jogo de agulhas de costura e linhas de muitas cores. Ele se pôs a trabalhar. Nos dias seguintes, recolheu brinquedos quebrados por toda parte. Discretamente, perguntou e se informou onde morava cada criança carente da cidade. Trabalhou arduamente até altas horas da noite. Até os seus olhos doerem, sua visão ficar embaçada e ele adormecer na cadeira. Ao despontar o dia, acordava e continuava o seu trabalho de amor. Na noite de Natal ele saiu com vários embrulhos e foi andando, deixando em cada porta das casas das crianças da sua lista, um brinquedo. Uma boneca, um carrinho, um cavalo de pau. A noite estava fria e ventava muito. Várias vezes ele foi e voltou, até distribuir todos os sete grandes sacos que conseguira recolher e arrumar. Depois de uma longa noite de trabalho, o homem morreu bem cedinho no silêncio da madrugada de Natal, indo ao encontro dos seus amores. Quando o dia despertou, os sorrisos se multiplicaram nas casas pobres, ante a surpresa e o encanto com os brinquedos. 
 * * * 
Faça do Natal um Natal inesquecível. Conheça Aquele que deu origem ao Natal. Aquele que dá amor e alegria a milhões de pessoas. Abra o seu coração para Jesus. Encha-se do Seu amor, da Sua paz e alegria para sempre. Aprenda, como o alfaiate da nossa história, que dar é muito melhor que receber. Preencha sua vida com atos de amor, fazendo outras vidas felizes. Faça do Natal o início de um Natal permanente em seu coração. 
Redação do Momento Espírita, com base no conto O segredo do alfaiate, de autoria ignorada. Em 15.12.2010.

sábado, 14 de julho de 2018

O DOADOR

SÃO FRANCISCO DE ASSIS
O gesto de doar é um dos mais lindos aos olhos de Deus. O doador é alguém que esquece de si mesmo para pensar no outro. Certa vez, um senhor que estava voltando do laboratório onde costumava doar sangue, foi chamado ao telefone, no seu escritório. Era a esposa a lhe informar do acidente ocorrido com o filho, que já estava fora de perigo graças à transfusão de sangue, certamente de um doador anônimo. Naquele momento, o homem se comoveu ao pensar nas outras vidas que o seu sangue já poderia estar salvando. Esse caso é muito interessante, porque nos demonstra que o bem que promovemos sempre retorna para nós mesmos. Mas, juntamente com as transfusões sanguíneas, os transplantes de órgãos constituem um dos avanços mais significativos da medicina. Devido ao progresso tecnológico, hoje em dia, já é possível o transplante de córnea, ossos, pele, cartilagens, vasos e até mesmo de rins, fígado e coração. Algumas pessoas se mostram preocupadas com a situação do doador após a morte. Temos aprendido que o Espírito sobrevive à morte e mantém sua aparência, sua psicologia, sua individualidade. Isto faculta alguns questionamentos: 
- O Espírito sentirá dores na retirada de órgãos para a doação? O seu corpo espiritual, o perispírito, ficará mutilado? 
Normalmente o ato cirúrgico não implica em dor para o Espírito desencarnado. A agonia da morte impõe uma espécie de anestesia geral ao doente, com reflexos no Espírito, que tende a dormir nos momentos cruciais da grande transição. Além disso, o perispírito não sofre mutilação alguma com a doação de órgãos. Quem deseje doar córneas, por exemplo, não receie ficar cego no mundo espiritual, pois isso não acontece. O único cuidado que se deve tomar na questão do transplante, é o de não acelerar a morte clínica dos acidentados no ensejo de salvar outras vidas. Os Espíritos nos ensinam que cada segundo de vida no corpo físico é um instante precioso para o Espírito encarnado. Pense um pouco nas vidas que você poderia ajudar a salvar, ao doar sangue regularmente, ou ao permitir que, após a sua morte, partes do seu corpo venham a ser úteis para outras pessoas. 
 * * * 
Já nos dizia Francisco de Assis, em sua oração: 
Senhor, ajuda-me a perdoar mais do que ser perdoado; 
Compreender que ser compreendido; 
Amar que ser amado. 
Porque é dando que se recebe; 
É perdoando que se é perdoado; 
É amando que se é amado; 
E é morrendo que se nasce para a vida eterna. 
Pense nisso, mas pense agora. 
Redação do Momento Espírita. Em 27.08.2009.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

UMA DOAÇÃO INSIGNIFICANTE

Ela passa pelo conjunto residencial três vezes na semana. Quase todos a conhecem. Faça frio ou faça sol, ela anda pelas ruas empurrando seu pesado carrinho, recolhendo papéis, latas, vidros. Tudo que possa ser vendido para reciclagem. Nunca está zangada. Quando perguntamos se ela consegue sustentar a família, daquela forma, diz: 
-Sim, graças a Deus. 
Quando lhe indagamos a respeito dos filhos, ela nos informa que sua filha está casada, tem um bebê. Que eles têm dificuldades para suprir todas as necessidades da criança e, por isso, ela auxilia o casal. Também diz que tem um menino de oito anos, que está na escola. Já nos habituamos a guardar tudo separado, para lhe facilitar a tarefa: metal, vidro, papel. Ela chega e vai recolhendo tudo e agradece. Agradece por lhe darmos nosso lixo. Dia desses, resolvemos lhe oferecer algo mais. E lhe entregamos uma bandeja com quatro copos de iogurte. Nossas crianças já estão enjoadas de seu consumo. Mudamos de marca, compramos com polpa, depois com pedacinhos de fruta, para variar. O rosto da mulher se ilumina. 
-Meu filho vai adorar isto, diz ela. 
Dias depois nos conta da alegria do seu menino ao tomar um a cada dia. Como se fosse uma sobremesa, uma recompensa. Algo especial. E nossos filhos cansados de se servirem sempre das mesmas coisas, desejando algo diferente. Porque vivem fartos. Mais uns dias e, porque fosse feriado, o garoto acompanhou a mãe nas suas andanças. Ao nos ver, no portão, foi apontando: 
-Foi aquela dona que deu prá gente o iogurte, mãe? 
E, ao sinal afirmativo, correu em nossa direção, agradecendo e dizendo como ficara feliz. 
-Quatro dias de felicidade. Tomei devagarinho, disse ele. Para sentir bem o gosto e não esquecer por muito tempo. Agradeço demais. 
Um gesto tão simples. Algo tão pequeno. E fez tanta diferença. Quatro dias de felicidade para um menino que não passa fome, mas tem vontade de comer algo diferente. Como nossos filhos que se levantam, saciados, da mesa e perguntam: 
-O que tem mais para comer? 
Ou, em meio à tarde: 
-Estou com fome. O que tem para comer nesta casa? 
Mas eles não desejam pão com manteiga. Querem algo especial ao paladar. Será que, olhando essas crianças que vivem em casebres quase a desabar, ou que acompanham os pais nas longas jornadas, catando lixo pelas ruas, pensamos que elas têm desejos especiais? Vontade de comer chocolate, de tomar um sorvete, um hambúrguer, fritas, iogurte. Afinal, o que apreciam os nossos filhos? Eles também. É hora de pararmos de dar somente pão, sopa, para saciar a fome. É hora de dar algo mais. Um capricho, mas que ilumina os olhos da infância. Os filhos da pobreza têm sonhos, como os nossos filhos. Têm vontades, exatamente como os nossos. Pensemos nisso e nos tornemos mais sensíveis. Podemos começar tendo em nosso carro, ou na bolsa, um chocolate, uma guloseima extra para oferecer a um deles, que encontremos pelas calçadas, pelas ruas. E quando nos dispusermos atender as necessidades dos carentes sociais, quando pensarmos em cestas básicas, pensemos nas crianças. E coloquemos algo mais: uma barra de chocolate, do especial que gostamos ou nossos filhos apreciam. Um suco que acabou de ser lançado, bolachas recheadas, de boa marca, enfim, tudo aquilo que gostamos. Tudo aquilo que costumamos comprar para os nossos filhos. Porque afinal a diferença entre aquelas crianças e as nossas é somente que não estão em nosso lar. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita. Em 27.11.2007.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

DOAÇÃO DE FÉRIAS

Jonathan Dupré
As férias são um período de descanso de uma atividade constante, geralmente trabalho ou aulas, variando a duração, de acordo com a legislação de cada país. A palavra vem do latim "feria", singular de "feriae", que significava, entre os romanos, o dia em que não se trabalhava por prescrição religiosa. A palavra latina encontra-se também na denominação dos dias da semana do calendário elaborado pelo Imperador romano Constantino, no século III d.C.:"prima feria, secunda feria". A língua portuguesa foi a única a manter a palavra feira nos nomes dos dias da semana. Importante é que férias são sempre muito aguardadas, seja pelos profissionais, como pelos estudantes ou servidores de qualquer ordem. Aguardadas, programadas, por vezes, com meses de antecedência. Estudantes esperam férias para retornarem às suas cidades de origem, ao convívio com a família. Pais aguardam férias para viajarem com os filhos; profissionais as esperam para terem descanso físico e mental de atividades, por vezes, estafantes, desgastantes. Por isso é que surpreende a notícia de que funcionários de uma fábrica de cristais, na França, doaram suas férias para um colega de trabalho poder cuidar da filha, que foi diagnosticada com câncer. Jonathan Dupré estava tendo dificuldades em conciliar seus compromissos profissionais e as idas ao médico, para levar a filha de apenas cinco anos. Sensibilizados pela situação, seus colegas se reuniram com o dono da fábrica e com o gerente de recursos humanos, para negociar suas próprias férias em favor de Dupré. Dessa maneira, esse pai poderá folgar por trezentos e cinquenta dias ou seja, um ano. Será o suficiente para ele levar a menina para as sessões de quimioterapia, que acontecem desde dezembro de 2014, quando ela fez a cirurgia para a extração de um tumor de treze centímetros num dos rins. O gesto se tornou possível porque a França outorgou uma lei que permite que funcionários doem dias de férias a colegas, desde que isso seja aprovado pela diretoria da empresa. O câncer da menina está em remissão, mas o tratamento ainda tem algumas etapas a serem cumpridas. O pai se declarou muito emocionado com o gesto de solidariedade. O que se constituía uma grande dificuldade, teve solução, graças à generosidade e desprendimento de seus colegas. 
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Exemplos dessa natureza nos levam a questionar: se a lei trabalhista brasileira permitisse, teríamos nós essa mesma disposição de abdicar do gozo de vinte ou trinta dias de férias, em favor de um colega com dificuldade? Teríamos a capacidade de renunciar a uma viagem de passeio, ao lazer esperado durante um ano inteiro? De toda forma, gestos como esses merecem ampla divulgação porque demonstram, ao contrário do que apregoam pessimistas de plantão, que o mundo está melhor, que pessoas se importam com o seu semelhante; que, de forma desprendida, o homem se doa em favor de outro coração sofrido e angustiado. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com fato extraído do link
Em 28.12.2015.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

A OUTRA JANELA

A menina debruçada na janela trazia nos olhos grossas lágrimas e o peito oprimido pelo sentimento de dor causado pela morte do seu cão de estimação. Com pesar, observava atenta o jardineiro a enterrar o corpo do amigo de tantas brincadeiras. A cada pá de terra jogada sobre o animal, sentia como se sua felicidade estivesse sendo soterrada também. O avô, que observava a neta, aproximou-se, envolveu-a num abraço e falou-lhe com serenidade: 
-Triste a cena, não é verdade? 
A netinha ficou ainda mais triste e as lágrimas rolaram em abundância. No entanto, o avô, que sinceramente desejava confortá-la, chamou-lhe a atenção para outra realidade. Tomou-a pela mão e a conduziu até uma janela opostamente localizada na ampla sala. Abriu as cortinas e permitiu que ela visse o imenso jardim florido à sua frente, e lhe perguntou carinhosamente: 
-Está vendo aquele pé de rosas amarelas, bem ali à frente? Lembra-se de que me ajudou a plantá-lo? Foi num dia de sol como o de hoje, que nós dois o plantamos. Era apenas um pequeno galho cheio de espinhos, e hoje... Veja como está lindo, carregado de flores perfumadas e botões como promessa de novas rosas! 
A menina enxugou as lágrimas que ainda teimavam em permanecer em suas faces e abriu um largo sorriso. Mostrou as abelhas que pousavam sobre as flores e as borboletas que faziam festa entre uma e outra, e as tantas rosas de variados matizes, que enfeitavam o jardim. O avô, satisfeito por tê-la ajudado a superar o momento de dor, falou-lhe com afeto: 
-Veja, minha filha, a vida nos oferece sempre várias janelas. Quando a paisagem de uma delas nos causa tristeza, sem que possamos alterar-lhe o quadro, voltemo-nos para outra, e certamente nos depararemos com uma paisagem diferente. 
Tantos são os momentos felizes que se desenrolam em nossa existência. Tantas oportunidades de aprendizado nos visitam no dia a dia, que não vale a pena chorar e sofrer diante de quadros que não podemos alterar. São experiências valiosas das quais devemos tirar as lições oportunas, sem nos deixar tragar pelo desespero e pela revolta, que só infelicitam e denotam falta de confiança em Deus. A nossa visão do mundo ainda é muito limitada, não temos a capacidade de perceber os objetivos da Divindade, permitindo-nos os momentos de dor e sofrimento. Mas Deus tem sempre objetivos nobres e uma proposta de felicidade a nos aguardar, após cada dificuldade superada. 
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Se hoje você está a observar um quadro desolador, lembre-se de que existem outras tantas janelas, com paisagens repletas de promessas de melhores dias. Não se permita contemplar a janela da dor. Aproveite a lição e siga em frente com ânimo e disposição. O sofrimento que hoje nos parece eterno, não resiste à força das horas que a tudo modifica. A luz sempre vence as trevas, basta que tenhamos disposição íntima e coragem de voltar-nos para ela. Agindo assim, o gosto amargo do sofrimento logo cede lugar ao sabor agradável de viver, e saber que Deus nos ampara em todos os momentos da nossa vida. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 3, ed. FEP. Em 11.7.2018.