sexta-feira, 27 de abril de 2018

UM MINUTO APENAS

Suely Caldas Schubert
Lúcia era uma mulher feliz. Como poucas, acreditava. Casada com o homem por quem se apaixonara nos verdes anos da adolescência, vivia o sonho da mulher realizada. Um filho lhe viera coroar a felicidade. Que mais ela poderia desejar? Acordava pela manhã e saudava o dia cantarolando. Com alegria realizava as tarefas do lar, cuidava do filho, aguardava o marido. Tudo ia muito bem. Até o dia em que descobriu que o homem que tanto amava, a traía. E não era de agora. O problema vinha tomando corpo de algum tempo. Magoada, se dirigiu ao marido. Exigiu-lhe e falou-lhe de respeito. A resposta foi brutal, violenta. O homem encantador tornou-se raivoso, briguento. Chegou a lhe bater. Foi nesse dia que Lúcia teve a certeza de que seu casamento acabara. Era o cúmulo. Não poderia prosseguir a viver com alguém que chegara à agressão física. Então, acordou na manhã de tristeza, depois de uma noite de angústia e tomou uma séria decisão. Iria se matar. Acabar com a própria vida. Mais do que isto. Ela desejava vingança. Por isso, tomou o filho de quatro anos pela mão e decidiu que o mataria. Queria que o marido ficasse com drama de consciência. Seu destino era o Farol da Barra, na cidade de Salvador, na Bahia, onde residia. Ela sabia que era um local onde o mar batia com violência no penhasco. A rua por onde transitava era movimentada. Muitos carros. Enquanto aguardava para atravessar a rua, a criança lhe escapou das mãos e correu, entre os carros. Ela se desesperou. Estranho paradoxo. Conduzia a criança pela mão e tencionava jogá-la do penhasco ao mar para que morresse. Mas, quando a vê correr perigo, esquecida de si mesma, vai-lhe ao encontro, agarra-a, até um pouco raivosa. Puxa-a pela mão. Neste momento, a criança se abaixa, alheia a tudo que se passava, e recolhe do chão um papel. Lúcia o arranca das mãos do pequeno e um título, em letras grandes, lhe chama a atenção: Um minuto apenas. Ela lê: 
"Num minuto apenas, a tormenta acalma, a dor passa, o ausente chega. O dinheiro muda de mão, o amor parte, a vida muda." 
Vai andando, puxando a criança e lendo a página. Era uma página mediúnica que vinha assinada por um Espírito. Ela terminou de ler. Passou o ímpeto. Em um minuto. Parou, olhou ao redor e verificou que tinha chegado ao seu destino. O penhasco estava próximo. Sentou-se e teve uma crise de choro. O impulso de se matar havia desaparecido. Tornou a ler a mensagem. Ela se recordou de um senhor que era espírita e trabalhava no banco, no mesmo onde seu marido trabalhava. Foi para casa. Lembrou que um dia, jantando em casa dele, ele falara algo sobre espiritismo. Algo que ela e o marido, por terem outra formação religiosa, rechaçaram de imediato. Ela lhe telefonou, pediu-lhe orientação e ele a encaminhou a um centro espírita. Atendida por companheiro dedicado, que lhe ouviu os gritos da alma aflita, passou a buscar na oração sincera, na leitura nobre, no passe reconfortante, as necessárias forças para superar a crise. O marido, notando-lhe a mudança, a calma, no transcorrer dos dias, a seguiu em uma das suas saídas do lar. Desconfiado, adentrou ele também à casa espírita. Para descobrir uma fonte de consolo e esclarecimento. Hoje, ambos trabalham na seara espírita. Reconstituíram sua vida, refizeram-se. Os anos rolaram. O garoto é um adolescente e mais dois filhos se somaram a ele. 
* * * 
Mudança de rumo. A vida muda. Em um minuto apenas. Em um minuto apenas Deus providencia o socorro. Pode ser um coração atento, uma mão amiga ou um pedaço de papel impresso caído na calçada. Papel que o vento não levou para longe. Um minuto apenas e o amor volta. A esperança renasce. Um minuto apenas e o sol rompe as nuvens, clareando tudo. Não se desespere. Espere. Um minuto apenas. O socorro chega. O panorama se modifica. A vida refloresce. Tenha paciência. Não se entregue à desesperança. Aguarde. Enquanto você sofre, Deus providencia o auxílio. Aguarde. Um minuto apenas. Sessenta segundos. Uma vida. Um minuto a mais... 
* * * 
Em um minuto apenas, a Misericórdia Divina se derrama, cheia de bênçãos, nas vielas escuras dos passos humanos. Corrige, saneia, repara, transformando-as em estradas luminosas no rumo da vida maior. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 24, do livro O semeador de estrelas, de Suely Caldas Schubert, ed. LEAL. Disponível no CD Momento Espírita, v. 1, ed. FEP. Em 26.4.2018.
NOTA- Em proporções diferentes e muito menores, esse fato ocorreu em minha vida o que me levou a conhecer melhor a doutrina espírita que, por tanto tempo, católico que sou, recusei aceitar! A.Ierárdi

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