Em tempos de tantas lutas por igualdade, por inclusão social; em tempos que quase tudo é levado à conta de discriminação sexual, social, racial, é bom recordar Albert Schweitzer.
Esse pianista, cirurgião, um trabalhador do bem, nos deixou, com suas letras e com seu exemplo, lições extraordinárias.
Na África, onde foi servir aos seus irmãos, ele foi carpinteiro, construtor, capataz da turma de pá e picareta.
Construiu um hospital, em grande parte, com as próprias mãos. Alegremente, o reconstruiu quando, após longa ausência, o encontrou tomado pela selva.
O escritor, o pianista, levantava cercas, pintava de cal as paredes, gastava dias numa canoa, de aldeia em aldeia, para obter folhas de palmeira para cobrir casas.
Arrastando grandes toras, certa feita, chamou um nativo vestido de branco para ajudá-lo. Recebeu como resposta:
-Eu sou intelectual. Não arrasto madeira pelo mato.
Sem se perturbar, retrucou Schweitzer:
-Você é um felizardo. Eu também quis ser um intelectual, mas não tive jeito.
E era assim. Os próprios negros, que ele alimentava e tratava, se estendiam à sombra das árvores, descansando, numa indiferença de enlouquecer.
E à pergunta
-Como gostamos deles, apesar dos aborrecimentos que nos dão?
Dizia que era preciso ter amor e paciência bastante para compreendê-los.
Ele se identificava com cada paciente, sofria com seu sofrimento, atormentava-se com suas ansiedades.
Um deles, depois de submetido a uma cirurgia, recuperando a consciência, olhou com espanto ao redor e exclamou, repetidas vezes:
-Não sinto mais dor! Não sinto mais dor!
Sua mão procurou a do benfeitor e a segurou, com força.
Então, pacientemente, Schweitzer se deixou ficar ali, tendo entre as suas as negras mãos agradecidas.
Aproveitou a oportunidade e começou a dizer a ele e a todos os demais que estavam no mesmo dormitório escassamente iluminado:
-Foi o Senhor Jesus quem me mandou para cá, e a minha mulher, que é minha auxiliar. E quem dá o dinheiro para que possamos ficar aqui, tratando todos os doentes, é gente branca da Europa.
Os nativos ficaram espantados e o crivaram de perguntas. Desejavam saber mais sobre essa tal gente branca. Onde vivia, o que fazia e como sabia que os nativos sofriam tantas doenças e precisavam de tratamento.
O sol africano brilhou, inclemente, lá fora e penetrou na escura barraca, onde todos se encontravam.
Ali estavam sentados, lado a lado, brancos e negros. Uns desejavam saber, outro explicava, informava, esclarecia, como um pai amoroso ensinando aos filhos coisas básicas, corriqueiras.
Algo especial parecia a todos envolver. Uma atmosfera de amizade, de compaixão, de compreensão.
Naquele momento, naquele ambiente, todas aquelas almas sentiram, por experiência própria, o alto significado das palavras:
Somos todos irmãos.
* * *
Somos todos irmãos! Irmãos porque descendentes de um único Pai Criador, amoroso e bom.
Irmãos porque vivemos no mesmo único lar que nos abriga: o planeta Terra.
Irmãos, independente da cor da pele, da crença religiosa, do partido político, do status social, da nação onde vivamos.
Oxalá em breve todos nos conscientizemos firmemente dessa grande verdade: somos todos irmãos. E vivamos dessa forma.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 1,
do livro O profeta das selvas, de Hermann Hagedorn,
ed. Fundação Alvorada.
Em 10.4.2018.
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