O poeta adquiriu um pedaço de terra em plena serra. Um lugar para sonhar. Para fazer poesia, escrever, inebriar a alma.
Não pretendeu mexer em nada. Deus, afinal, fizera tudo tão bonito: o regato de água cristalina descendo do alto da serra, por entre pedras, formando cachoeiras e remansos gelados.
Samambaias, avencas, brincos de princesa em profusão. Campos verdes, bordados de flores minúsculas. Também enormes araucárias, com sua casca rugosa, onde cresciam bromélias.
Um pedaço do céu cheio de beleza e vida.
Mas, nesse belo lugar, havia um morro de terra ruim. Tão ruim que até o capim protestava e não crescia.
O poeta olhou para aquela terra, aparentemente imprestável, e resolveu dar uma mãozinha para a natureza.
Pensou que poderia plantar araucárias. Uma mata cheia de pinheiros, com suas copas altivas, braços erguidos ao céu, como a pedir bênçãos.
Consultou as pessoas do lugar. Ninguém aprovou sua ideia. Imagine. Plantar araucárias. Elas levam muito tempo para crescer.
Como o poeta não era tão jovem, disseram-lhe que, com certeza, ele nem chegaria a ver os pinheiros crescidos.
Além do mais, não se pode cortar araucária. Ela é protegida por lei. Cortar uma árvore dessas é crime.
E para que plantar árvores se não puderem ser cortadas? Afinal, somente cortadas é que elas valem dinheiro, podem ser vendidas.
Aconselharam ao poeta plantar eucaliptos. Eles crescem rápido. Dão lucro, a partir do terceiro ano.
O poeta voltou para sua casa. Ninguém o tinha entendido. Descobriu que ele e os seus vizinhos eram de mundos diferentes.
Ele era um ser da floresta, sem pressa, como as sementes colocadas no solo. Os seus vizinhos pensavam em coisas rápidas, em dinheiro no banco, em lucros.
Ele desejava desfrutar o espetáculo colorido e perfumado da floresta exuberante.
Ver, cheirar. É tudo que queria.
Eles só tinham em mente o comércio, os negócios.
Por isso um eucalipto que pode ser cortado em três anos é muito mais importante do que uma araucária que não pode ser cortada nem em cinquenta anos.
E o poeta ficou a refletir que os homens que só pensam no lucro, perderam o sentido e a beleza da vida.
Recordou dos que olham para uma imensa floresta de sequoias e acham um terrível desperdício aquela propriedade habitada somente por árvores.
No seu conceito de lucro, muito melhor seria queimar a floresta toda e transformá-la em condomínio luxuoso.
Por tudo isso, o poeta resolveu mesmo plantar araucárias. Se ele chegará a vê-las crescidas ou não, não importa.
Importa que ele semeou esperança e vida que poderão alegrar outros olhos e corações, no futuro.
* * *
Onde estiver o seu tesouro, ensinou Jesus, aí estará seu coração.
Nosso coração está na vida, na beleza ou no lucro?
Desejamos uma terra pródiga de maravilhas onde nossos filhos possam viver e se encantar, respirar ar puro ou simplesmente um lugar para usufruir todo o possível, rápida e velozmente?
Dependendo da nossa resposta, decidiremos se plantaremos araucárias ou eucaliptos na terra e em nosso coração.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 4, pt. 3,
do livro Um céu numa flor silvestre, de Rubem Alves,
ed. Verus.
Em 24.4.2017.
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