Ele era o chefe do departamento de um grande hospital. Era o Dr. Figurão. Arrogante. Detestado pelas enfermeiras, por muitos dos seus colegas e auxiliares. Ele era um problema no hospital. Mas, quem lhe diria essa verdade? Certo dia, reuniram-se colegas, enfermeiras e demais profissionais para decidirem o que fazer com aquele homem. Ninguém mais o suportava. Em meio a críticas sem fim, uma enfermeira tímida, jovem, atreveu-se a dizer que gostava daquele médico. Os olhares a fulminaram. Adquirindo coragem, ela contou:
-Vocês não conhecem esse homem. Eu fico à noite. Esse homem faz suas visitas nesse período. Quando todos se vão, ele entra no quarto de um paciente, de forma arrogante. Quando sai, seu rosto está abatido. Entra no quarto seguinte, e quando sai, seu rosto está mais abatido. Quando sai do último quarto, ele parece devastado. Isso acontece todas as noites.
Ante o relato que a todos espantou, disseram que ela devia tentar falar com ele. Ela relutou. Afinal, era só uma enfermeira. Temia a questão da hierarquia hospitalar. Dias depois, voltou ao grupo para relatar que, na noite anterior, ela o vira sair do último quarto. Era o quarto de um jovem que estava morrendo de câncer. O rosto do médico estava lívido, os ombros caídos. Ela se aproximara e lhe dissera:
-Meu Deus, como deve ser difícil.
O médico começara a soluçar. Depois a levara até a sala dele e despejara seu sofrimento, toda sua angústia. Contara que durante anos, enquanto seus amigos já ganhavam a vida, ele continuava a estudar. Sacrificara-se para se especializar no que fazia. Renunciara a sair com garotas, a passear e divertir-se. Dedicação total. Acreditara que realmente poderia ajudar alguém. E concluíra:
-Meu Deus, como deve ser difícil.
O médico começara a soluçar. Depois a levara até a sala dele e despejara seu sofrimento, toda sua angústia. Contara que durante anos, enquanto seus amigos já ganhavam a vida, ele continuava a estudar. Sacrificara-se para se especializar no que fazia. Renunciara a sair com garotas, a passear e divertir-se. Dedicação total. Acreditara que realmente poderia ajudar alguém. E concluíra:
-Agora, sou o chefe de um departamento. E todos os meus pacientes morrem. Não consigo ajudar ninguém. Pergunto-me todos os dias se terá valido a pena renunciar à felicidade pessoal, aos meus amigos, para resultar em nada.
Ele se sentia um fracasso. Depois desse dia, todos passaram a olhar, de forma diversa, aquele médico. Como resultado do gesto daquela enfermeira, um ano depois ele buscou ajuda de uma colega do setor psiquiátrico. Havia se dado conta de que necessitava que alguém o auxiliasse a administrar todos aqueles sentimentos, para se sentir melhor. Ser melhor. Três ou quatro anos depois, ele havia se tornado um outro homem. Humilde, compreensivo, com grande dose de compaixão para com seus pacientes. Tudo porque uma enfermeira, um dia, teve a coragem de olhar o doutor figurão como um ser humano, durante dois minutos e lhe dirigir a palavra.
* * *
Quando tivermos que lidar com pessoas difíceis, lembremos de pensar nelas com amor, compreensão e compaixão. Se todos os colegas ou funcionários de uma unidade fizerem isso com alguém difícil, dia após dia, logo começarão a observar os resultados. Podemos mudar o que acreditamos impossível, se vibrarmos positivamente. Se, além disso, conseguirmos olhar o outro como um ser humano e tratá-lo como tal, teremos colaborado para a melhoria do mundo. Isso porque a melhoria do mundo depende dos resultados individuais de todos os que nele nos movemos, respiramos e agimos. Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. A cura no nosso tempo, do livro O túnel e a luz, de Elisabeth Kübler-Ross, ed. Verus. Em 14.4.2017.
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