quinta-feira, 28 de maio de 2015

O AMOR NÃO SELECIONA

Era um casal sem filhos. Os anos se somavam e, por mais tentassem, a gravidez nunca se consumava. Aderiram a sugestões e buscaram exames mais sofisticados que lhes apontaram, enfim, a total impossibilidade de um dia se tornarem pais dos próprios filhos. Optaram pela adoção e se inscreveram em um programa do município, ficando à espera. Certo dia, a notícia chegou inesperada pelo telefone: Temos uma criança. Vocês são os próximos da lista. Venham vê-la. Rapidamente se deslocaram para o local. Pelo caminho se perguntavam: Como será o bebê? Louro? Cabelos castanhos? Miúdo? Olhos negros? Menino ou menina? Tal fora a alegria na recepção da notícia, que se haviam esquecido de indagar de detalhes. Vencida a distância, foram recepcionados pela assistente social que os levou ao berçário e apontou um dos bercinhos. O que eles puderam ver era uma coisinha miúda embrulhada em um cobertor. Mas a servidora pública esclareceu: 
-Trata-se de um menino. É importante que vocês o desembrulhem e olhem. Não sei o que acontece pois vários casais o vieram ver e não o levaram. Se vocês não o quiserem, chamaremos o casal seguinte da lista. 
Marido e mulher se olharam, ele segurou a mão dela e falou: 
-Querida, talvez a criança seja deficiente ou enferma. Pense, se fosse nosso filho, se o tivéssemos aguardado nove meses, se ele tivesse sido gerado em seu ventre, alimentado por nossas energias, o amaríamos, não importando como fosse. Por isso, se Deus nos colocou em seu caminho, ele é para nós e o levaremos, certo? 
A emoção tomou conta da jovem. Estreitaram-se num amplexo demorado. É nosso filho, desde já. Foi a resposta. A enfermeira lhes trouxe o pequeno embrulho. Era um menino de cor negra. A desnutrição esculpira naquele corpo frágil uma obra esquelética, com as miúdas costelas à mostra. Levaram-no para casa. A primeira mamada foi emocionante. O garotinho sugou com sofreguidão. Pobre ser! Quanta fome passara. Talvez fosse a primeira vez que bebesse leite. No transcorrer das semanas, o casal descobriu que o pequeno era um poço de enfermidades complicadas. Meses depois, foi a descoberta de uma deficiência mental. Na medida em que mais problemas surgiam, mais o amavam. Já se passaram cinco anos. O garoto, ao influxo do amor, venceu a desnutrição e as enfermidades. Carrega a deficiência, mas aprendeu a falar, embora com dificuldade e todas as noites, quando se recolhe ao leito, enquanto os pais lhe ensinam a orar ao Senhor Jesus, em gratidão pelo dia vencido, ele abraça, espontâneo a um e outro e diz: 
-Mamãe, papai, amo vocês. 
Haverá na Terra recompensa maior do que a que se expressa na espontaneidade de um Espírito reconhecido na inocência da infância? 
* * * 
O filho deficiente necessita muito dos pais. Todo Espírito que chega ao nosso lar, com deficiência e limitação, necessita do nosso amor para que se recupere e supere a própria dificuldade. O filho deficiente é sempre compromisso para a existência dos pais. Amemos, pois, os nossos filhos, sejam eles joias raras de beleza e inteligência ou diamantes brutos, necessitados de lapidação para que se lhes descubra a riqueza oculta. 
Redação do Momento Espírita, com base em fato. Disponível no CD Momento Espírita, v. 18, ed. FEP. Em 7.8.2013.

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