segunda-feira, 13 de outubro de 2025

UM SIMPLES GESTO, UM ENCONTRO

 Rachel Naomi Remen
A médica fora convidada a acompanhar uma amiga para um almoço em homenagem ao Dalai-lama, descrito como um homem iluminado. 
Rachel já estivera em presença de algumas pessoas consideradas iluminadas e não percebera qualquer diferença entre elas e as outras. 
Por isso, resolveu aceitar o convite. 
O almoço aconteceu num dos mais requintados hotéis da cidade de São Francisco, Califórnia. 
No imenso salão, estavam centenas de pessoas importantes, ricas e politicamente poderosas. 
Homens em ternos de milhares de dólares e mulheres em vestidos deslumbrantes, de etiquetas famosas. 
O barulho era intenso. 
Rachel teve a impressão de que todos conversavam olhando ao redor para ver se descobriam alguém mais importante com quem passar o tempo. 
Ela e a amiga foram se sentindo pouco à vontade. 
Inibidas e desconfortáveis. 
Devagarinho, foram se dirigindo para a saída. 
Nesse momento, o Dalai-lama adentrou o recinto, cumprimentando os presentes. 
Formou-se uma extensa fila. 
Por estarem quase à porta, ficaram bem à frente. 
A amiga de Rachel levara, em uma sacola, três fotografias, montadas com pesada moldura. 
Eram de pacientes portadores de câncer, com os quais trabalhava uma nova e inspirada abordagem que desenvolvera. 
Desejava mostrá-las e fazer uma simples pergunta ao ilustre homenageado. 
A sacola tinha umas alças de corda e, enquanto ela lutava para tirar os pesados quadros de dentro dela, chegou em frente ao dalai-lama. 
Afinal, conseguiu arrancá-las da sacola, que caiu no chão. 
Ela conversou com ele sobre o trabalho, olharam juntos as fotografias. 
A conversa foi calma, como se estivessem sozinhos no salão.
Quando estavam terminando, o dalai-lama sorriu, abaixou-se e recolheu do chão a sacola caída. 
Da maneira mais natural possível, ele a abriu e a segurou, a fim de facilitar que sua interlocutora colocasse os quadros de volta. 
Rachel, logo atrás, tudo observou. 
Esse gesto espontâneo e simples lhe pareceu poderoso. Nenhum outro homem, mesmo próximo, pensara em tal atitude. 
Mas não era o gesto em si o mais importante. 
O que ela percebera é como ele fora ao encontro da sua amiga, como interagira com ela. 
A questão não era colocar as três enormes fotografias dentro de uma sacola. 
Não era um problema dele ou dela. 
Não era um problema, em verdade. 
Era uma oportunidade de encontro. 
E o homem sábio não a deixou escapar. 
Realmente, pensou Rachel, ele é uma pessoa que faz a diferença no mundo. 
Em outro momento, ela escreveria: 
-Grandes mensagens vêm em pequenas embalagens. 
O simples ato de devolver um objeto perdido ou um papel caído no chão pode ser suficiente para renovar a confiança de uma pessoa na vida. 
Quando fazemos isso, tocamos a bondade guardada nessa pessoa e desejamos que ela se desenvolva. 
Sei agora que os atos de servir são pequenos, silenciosos e estão em toda a parte. 
Aprendi que servimos muito mais com nosso modo de ser do que com aquilo que sabemos. 
E todos servimos, mesmo que não estejamos conscientes disso. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Recebendo o alimento, do livro As bênçãos do meu avô, de Rachel Naomi Remen, ed. Sextante. 
Em 13.10.2025

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