Edgar Morin |
"Para mim, o problema da felicidade é subordinado àquilo que chamo de “o problema da poesia da vida”. Ou seja, a vida, a meu ver, é polarizada entre a prosa - as coisas que fazemos por obrigação, que não nos interessam, para sobreviver. E a poesia – o que nos faz florescer, o que nos faz amar, comunicar. "
E é isso que é importante.
Nas suas reflexões ele separa as atividades da vida em duas categorias: aquelas inevitáveis, as que nos são exigidas para a própria sobrevivência.
Para que possamos nos manter, conquistando o alimento, o abrigo, a vestimenta, precisamos nos escolarizar, precisamos conquistar uma fatia do mercado de trabalho.
As obrigações profissionais, os horários rígidos, as rotinas, o cansaço do deslocamento entre idas e vindas vão nos fazendo escrever linhas e linhas.
Precisamos pensar na manutenção do lar, na sua organização, no seu asseio, no seu abastecimento.
São atividades pouco atrativas ou interessantes, diz o autor.
Precisamos delas para que a vida não pereça.
Tudo isso é a prosa, tudo que se refere ao material.
Naturalmente, nenhum de nós pode viver somente disso.
Temos outras necessidades.
Somos criaturas dotadas de uma alma, que deseja muito mais do que simplesmente a sobrevivência no mundo.
É ela, a alma que somos, que determina que tem sede de poesia, esse encanto que dá sabor ao viver.
Raia, então, nossa veia poética.
Quem de nós não se encanta com um por de sol magnífico, em ouro, prometendo que amanhã o dia raiará ainda mais belo?
Quem de nós não para o que esteja fazendo, quando se desenha nos céus um arco-íris?
Desejamos ver, registrar na memória. Quem sabe captar a mais bela foto digital.
Aquela que mostraremos, depois, aos amigos, aos familiares.
Quem de nós não estanca o passo quando ouve o cantar do João de Barro, do sabiá?
Estarão chamando a companheira, estarão lançando um desafio a outras aves?
Ou será seu louvor ao Senhor da Vida?
Quando nos permitimos alguns minutos para meditar, mergulhar em nós mesmos, fazendo silêncio interior, estamos criando versos de vida.
Quando nos colocamos em oração, conectados ao Criador em colóquio íntimo, seja em agradecimento, louvor ou rogativa, estamos nos deixando invadir pela poesia da vida.
Nossos atos de solidariedade, nossas expressões de empatia e compaixão são outras tantas estrofes, rimas, sonetos que compomos, com métrica perfeita.
É assim que vivemos na prosa das obrigações que nos competem, por vezes, um pouco rudes, cansativas, embora sempre compensadoras.
Também florescendo a cada hora, alimentando nossa alma, nossa mente, nosso coração.
Se soubermos administrar com sabedoria as horas de prosa, intercalando com momentos de poesia enriquecedora, viveremos bem.
E quando chegar a hora de partir, seguirão conosco os poemas que compomos, as bênçãos espalhadas, a alma leve por todas as conquistas alcançadas.
Prosa e poesia.
Um pouco de cada a cada dia.
Redação do Momento Espírita
Em 20.6.2024
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