Os privilegiados espectadores sentados na plateia do Teatro em Viena, então capital do Império Austro-Húngaro, mal sabiam que estavam para presenciar a primeira audição mundial da maior obra-prima da História da música.
Ainda que o autor já fosse uma celebridade, recebido naquele mesmo dia com uma ovação digna das plateias de música pop de hoje, a reação foi surpreendente.
O comissário de polícia precisou intervir, para silenciar a explosão de aplausos na chegada do alemão Ludwig Van Beethoven.
Era o dia da primeira apresentação de sua Nona Sinfonia.
Após as palmas, um grande estranhamento.
Até então, a sinfonia – forma musical para orquestra consagrada durante o classicismo – excluía por definição as vozes humanas.
No entanto, no palco sentavam-se quatro solistas e um coral em quatro partes.
Para aumentar a perplexidade, enquanto todos os outros instrumentos desenrolavam movimentos que superavam a racionalidade clássica, permaneciam em silêncio o coral e os solistas.
Eles entrariam apenas no quarto e último movimento.
Beethoven, três anos antes de sua morte, ali realizava uma vontade que alimentava desde os vinte e dois anos de idade: musicar o poema alemão Ode à alegria, de Schiller.
E era o que fazia no derradeiro movimento da obra, quebrando a última barreira do modelo sinfônico.
-Oh, amigos, não chega desses sons? Entoemos algo mais prazeroso e alegre! – Vibrou o barítono em recitativo.
Os baixos do coro responderam-lhe forte:
-Alegria, alegria! – para que, com a orquestra silenciada, começassem a solar um dos temas mais conhecidos da música ocidental.
O tema proclamava:
-Todos os homens serão irmãos.
Era o poema da fraternidade universal, musicado pela genialidade e sensibilidade irretocáveis de Ludwig.
-Abracem-se milhões! Enviem este beijo para todo mundo!
* * *
A arte é o belo expressando o bom.
É a expressão da beleza eterna, uma manifestação da poderosa harmonia que rege o Universo.
Convidar a arte para nossa vida diária é ter à disposição excelente instrumento de civilização e aperfeiçoamento.
A influência da música sobre a alma, sobre o seu progresso moral, é reconhecida por todo o mundo.
Mas a razão dessa influência é geralmente ignorada.
Sua razão está inteiramente neste fato: a harmonia coloca a alma sob a força de um sentimento que a desmaterializa.
Redação do Momento Espírita, com citações
do cap. A música espírita, do livro Obras póstumas,
de Allan Kardec, ed. FEB.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 16 e no
livro Momento Espírita, v.9, ed. FEP.
Em 03.06.2024.
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