terça-feira, 30 de novembro de 2021

À PROCURA DO AMOR

DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
RABINDRANATH TAGORE
Procurei-Te, desarvorado e triste, pelas terras distantes, em loucas aventuras com os outros, sem conseguir Te encontrar. Onde chegava a minha ansiedade, me deparava com as marcas de Teus pés no chão. Penetrei-me pelas lâminas da angústia, dilacerando todas as minhas ambições, em vãs tentativas de Te encontrar. Exauri-me, sem resultado feliz e me detive caído. Defrontei, um dia, duas estrelas cujo brilho se apagava nos olhos de uma criança abandonada, e a amei. A sua voz sem palavra e a música de sua necessidade, me fizeram encontrar nós três: o próximo, a mim e a Ti, ó Soberano Senhor da minha vida. Não cesses de cantar, brisa ligeira, que passeias pelo vale, nem interrompas o teu curso, água transparente do regato. Toda essa musicalidade que embala a natureza se faz partitura para que o Cantor destrave a voz da Sua garganta e inunde o mundo de harmonias. 
* * * 
O poeta indiano Rabindranath Tagore convida nossa sensibilidade a uma breve viagem pelo espaço infinito de nossa alma. 
Quantos de nós não sentimos que buscamos algo, que procuramos alguma coisa maior, um sentido, uma grande razão, uma luminosa verdade, nos campos férteis do pensamento. 
Quantos de nós nos percebemos insatisfeitos com o que o mundo nos apresenta como valores, como objetivos de existência? 
Quantos de nós flutuamos em espécies de vazios existenciais por falta de um algo mais... 
E como percebemos a necessidade de preenchimento de alguma carência, natural que tentemos ocupar, completar esse vazio. 
O amor surge como resposta imediata e óbvia, pois ele é lei maior de todo o Universo. 
Assim, partimos em busca do amor que nos preencha, que torne a metade inteira, que faça o vazio pleno. 
Preciso ser amado, pensamos. 
Preciso ir em busca de alguém que me ame, que me faça feliz, que me aceite – eis a resposta. 
E lá vamos nós, loucamente, em busca do amor, das mais diferentes formas possíveis. 
Carentes procurando preencher suas carências, por vezes, de formas singelas. De outras, de maneiras esdrúxulas e tresloucadas. 
Mas, o amor nos decepciona... 
O amor nos desaponta... 
Era melhor não ter escolhido o amor – dizemos, pois, muitas vezes, saímos dele mais machucados do que estávamos quando chegamos. 
Surge a grande questão: se o amor é a resposta de tudo por que, mesmo com ele, ainda nos sentimos infelizes? 
Mesmo com ele, ainda nos sentimos vazios?
Porque não entendemos que a real proposta do amor não é ser amado, mas apenas amar. 
O que nos preenche é a construção interna de um amor incondicional, de virtudes erguidas sobre esse alicerce sublime de um sentimento que encontra retorno em si mesmo. 
O amor que nos completa não é aquele que recebemos, mas aquele que irradiamos. 
As grandes almas, que estiveram na Terra, o chamaram de caridade e o viveram intensamente pela benevolência para com todos, pela indulgência para com as imperfeições alheias e pelo perdão de todas as ofensas. 
O poeta Tagore encontrou o amor a Deus, ao próximo e a si mesmo na proposta de cuidar de uma criança abandonada. 
Onde encontraremos o nosso?
Redação do Momento Espírita, com base no cap. LIX da obra Estesia, do Espírito Tagore, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 30.11.2021.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

O HÁBITO NOCIVO

Hábito é o que incorporamos ao nosso dia a dia.
É nossa maneira usual de ser. 
É o que realizamos de forma mecânica. 
Atitudes que assumimos e realizamos, sem nos darmos conta. 
Vejamos: quantas vezes já nos aconteceu de chegar em casa e colocar as chaves sobre algum lugar? 
Tão mecanicamente é executada a ação que, ao precisar das chaves, algum tempo depois, não conseguimos recordar onde as deixamos. 
Saímos de casa, apagamos as luzes, passamos a chave na porta. 
Depois de andarmos algumas quadras, nos questionamos se fechamos ou não a casa.
E precisamos retornar para ter a certeza, a fim de que não permaneçamos o restante do dia em desassossego. 
Muitas outras coisas fazemos de forma automática.
Tomamos café, regamos as plantas, alimentamos o gato, sem pensar. 
Ao lado dessas questões, outros hábitos temos não muito saudáveis. 
E, por incorporados à nossa forma de ser, não nos apercebemos o quão danosos são. 
É comum se observar, antes de uma palestra ou conferência, um grande burburinho pelo salão. 
Natural, num primeiro momento, pelo reencontro com amigos, cumprimentos, saudações, sorrisos. 
Torna-se desagradável quando uma música se faz presente, e não modificamos nossa postura.  Alguém toca ao piano delicada melodia, ou dedilha um violão, ou canta e nós prosseguimos a falar, como se nada estivesse acontecendo. 
A impressão que se têm é que chegamos ao local programados para ouvir a palestra. 
E tudo o mais que antes aconteça, não tomamos conhecimento, não registramos.
Mau hábito, que caracteriza, inclusive, grande indelicadeza de nossa parte, desde que o artista que vai se apresentar naquele momento, merece, ao menos, que permaneçamos em silêncio, para ouvir a sua arte. 
E não menos grave é quando, concluída a palestra que nos propusemos ouvir, de imediato, nos erguemos e saímos com ruído. Não aguardamos a real conclusão do evento para um lembrete final que se fará, um agradecimento ao orador, uma advertência útil. 
E o mesmo se repete nos cinemas quando, acabado o filme, nos levantamos e vamos saindo, esquecidos de que muitos apreciam ver todos os créditos. O que não lhes é permitido porque em nos levantando, obstruímos a sua visão da tela. 
É essa mesma atitude que nos permite observar a miséria perambulando pelas ruas, sem que nos atinja. 
Habituamo-nos de tal sorte às cenas que nos tornamos insensíveis. 
Habituamo-nos a ver a corrupção triunfar, que já não desejamos fazer coisa alguma para a debelar. 
Hábitos... 
Hábito de ver a mentira adquirir forma, volume e não emitirmos movimento algum no sentido de esclarecer a verdade, de defender o caluniado. 
Hábito de receber a bênção da chuva, os raios do sol, as carícias do vento, sem nenhuma gratidão. Como se o Universo inteiro nos devesse o favor de servir. Hábito de não ouvir quem nos fala da sua dor, da sua dificuldade. 
Hábito de não pensar senão em si mesmo. 
É hora de parar para pensar e buscar refazer atitudes. 
Reflitamos que o bom da vida é viver. 
E para viver intensamente é preciso se sentir tudo que se faz, tudo que nos chega.
É preciso olhar em torno, estar presente, agir, tomar atitudes pensadas, atentas.
Desta forma, alteremos o rumo. 
Aprendamos a observar o dia, a olhar as pessoas nos olhos, a perceber o que acontece ao nosso redor. 
Moldemos hábitos de gentileza, de delicadeza, de gratidão. Vivamos mais conscientes. 
Aprendamos a sentir prazer nas pequenas coisas como andar, correr, comer, molhar-se na chuva ou aquecer-se ao sol. 
Aprendamos a olhar para as estrelas, a nos extasiar com a noite enluarada, a vibrar com a música, o perfume, as pessoas. 
Abandonemos hábitos nocivos e nos tornemos mais felizes, desde agora. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 13.09.2010.

domingo, 28 de novembro de 2021

GUIA SEGURO

Naquela ensolarada manhã, uma grande multidão cercava o Mestre Galileu. Jesus ensinava àqueles que O escutavam, a respeito da importância de confiar no Pai Celestial. Um dos homens se aproximou dEle. Aparentemente, pouco lhe compreendera as palavras, visto que estava preocupado apenas com o fato de que seu irmão o estava prejudicando com relação à partilha de uma herança. Dessa forma, desejava que o Mestre tomasse partido naquele litígio familiar. Entretanto, cumprindo Sua missão pedagógica para conosco, o Cristo aproveitou-se daquela situação para contar significativa parábola. 
 A terra de certo homem rico produziu muito bem. Ele pensou consigo mesmo: 
"O que vou fazer? Não tenho onde armazenar minha colheita." 
Então disse: 
Já sei o que vou fazer. Vou derrubar os meus celeiros e construir outros maiores, e ali guardarei toda a minha safra e todos os meus bens. E direi a mim mesmo: Você tem grande quantidade de bens, armazenados para muitos anos. Descanse, coma, beba e alegre-se. 
Contudo, Deus lhe disse: 
"Insensato! Esta mesma noite a sua vida lhe será exigida. Então, quem ficará com o que você preparou?" 
Assim acontece com quem guarda para si riquezas, mas não é rico para com Deus. 
* * * 
Nenhuma conquista material é eterna. 
Tudo o que acreditamos possuir não passa de empréstimo divino, ferramentas da Misericórdia Celeste para que, moral e intelectualmente, possamos progredir. Pelos tesouros acumulados na Terra, quantas famílias se corromperam, quantas amizades se desfizeram, quantas oportunidades de evolução foram lançadas ao léu?
O tempo nada perdoa. 
A ferrugem, o desgaste, o pó vem para todas as coisas materiais. 
Até mesmo o corpo físico nos é um empréstimo e, a seu tempo, a natureza, segundo suas regras, tratará de desfazê-lo. 
O que levaremos conosco quando o convite divino nos chegar e retornarmos à Casa do Pai? 
Somente os tesouros do céu. 
A caridade, que nos permite enxergar no próximo a assinatura divina que há também em nós e que, portanto, faz-nos todos irmãos, responsáveis uns pelos outros. 
A fraternidade, vivenciada com um simples Bom dia, ofertado com sinceridade, um ombro amigo àquele que carece de incentivo, um sorriso gentil aos invisíveis que pouco ou nenhum valor recebem em nossa sociedade. 
A percepção do quão ricos somos: temos o sol que nasce todas as manhãs.
Diariamente, temos a oportunidade de construirmos a nossa felicidade e contribuirmos para com a felicidade alheia. 
Eis o amor que, singelamente, se expressa em sua forma mais pura e simples.
 * * * 
O túmulo é a prova de que nenhum bem material nos acompanha no curso de nosso retorno às moradas celestes. 
Quando bem utilizados, os empréstimos materiais têm a função de nos auxiliar nas tarefas a que nos comprometemos quando reencarnamos. 
Para o outro plano da existência, levamos apenas o profundo, inquebrantável e perene amor. 
Amor, laço que a todos nos une e é, sem sombra de dúvidas, nosso guia seguro pela eternidade que nos aguarda. 
Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base no Evangelho de Lucas, cap. 12, versículos 16 a 21. 
Em 13.10.2020.

sábado, 27 de novembro de 2021

PRESENTE PARA NÓS MESMOS!

Francesco Bernardone, depois de entender o chamado do Cristo, mudou totalmente seu proceder. O jovem, que curtia as noitadas com os amigos, brincando com as horas, como se nada fossem, se impôs um duro regime de vida. Raramente comia alimentos cozidos. Esparzia cinzas sobre eles ou atenuava o sabor dos temperos com água fria. Não se permitia beber, nem mesmo água suficiente, quando queimava de sede. Ao tomar contato com as exortações de Jesus, anotadas por Mateus: 
"Não leveis ouro, prata ou cobre em vossos cinturões, nem alforjes para a jornada, nem duas túnicas, nem sandália, nem bastão", tudo executou ao pé da letra. 
Removeu seu calçado improvisado, ficando descalço. Abandonou o cajado e trocou o cinto por um pedaço de corda. Desfez-se também de uma das suas duas túnicas. Mais tarde, reconheceu o mal que fizera a si próprio com tal regime de mortificação. E desestimulou os companheiros e seguidores a imitá-lO. 
Esses exageros de Francisco eram necessários à época, para chocar o pensamento vigente do luxo e prazer sem limites. Servindo-se do modelo franciscano, existem aqueles de nós que, afeiçoando-se ao Evangelho de Jesus, acreditamos que nada devemos possuir além do indispensável. 
Uma viagem de lazer, na qual o Espírito se alimenta com as renovadas paisagens, nem pensar. 
Um dia de descanso, fora de questão. 
É preciso trabalhar, de forma incansável, usando todas as horas a benefício do próximo. 
Oportuno lembrarmos que Francisco, para retemperar o Espírito, compunha versos, cantava. 
Na contemplação da natureza, refazia-se para as lutas. 
O próprio Cristo, após as horas exaustivas atendendo a multidão insaciável, buscava o Pai em oração. 
É como se amenizasse a saudade das paragens de luz enquanto se movia, entre os homens em sombra. 
Todos precisamos de refazimento. 
E todos merecemos nos presentear. 
Assim não fosse, e Deus não teria enchido de belezas, de cores e de sons este imenso mundo que nos deu para viver. 
O Espírito sente saudades da pátria de onde veio, sente saudades de amores com quem conviveu e não estão ao seu lado, fisicamente, no agora. 
Então, é importante nos presentearmos. 
Uma hora para ouvir uma música que nos leve ao êxtase, um filme que nos conduza a viajar por paisagens esplêndidas, um livro que nos remeta às estrelas.
Todos temos direito de nos deliciarmos com algo que apreciamos, vez ou outra.
Um prato que apreciamos, de forma particular. 
Colher flores no campo ou adquiri-las na floricultura mais próxima para embelezar a nossa moradia. 
Tomar o carro e sair a passeio por uma estrada sem fim, com os vidros abertos, sentindo o vento, olhando o céu, o sol, as montanhas. 
Um presente. 
Não precisamos esperar o dia do aniversário, ou qualquer data específica. 
Um presente é para ser recebido quando a alma está carente, quando a saudade dói, quando desejamos aconchego e carinho. 
Todos merecemos um dia de descanso, uma hora de alegria, um ambiente de paz.
Pensemos a respeito. 
Trabalho, sim. 
Repouso, também. 
Usufruir justas alegrias, com certeza.
Isso significa nos amarmos. 
E somente ama ao próximo quem ama a si mesmo. 
Redação do Momento Espírita, com dados biográficos de Francisco de Assis, colhidos nos caps. 5 e 6, do livro Francisco de Assis, o santo relutante, de Donald Spoto, ed. Objetiva. 
Em 26.11.2021.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

GUERREIRO DA LUZ

A noite estava chuvosa e fria na pacata cidadezinha do interior do Sul do Brasil. O ruído dos raios e da chuva forte no telhado acordaram o jovem guerreiro, em meio à madrugada. Sim, ele é um bravo guerreiro pois, ao se dar conta da intensidade da chuva, lembrou-se que muita gente poderia estar precisando de ajuda. Levantou-se rapidamente e vestiu seu traje de combate. Afinal, ele é um guerreiro. Um guerreiro da luz. É um bombeiro voluntário. Saiu rapidamente sem se importar com o temporal ameaçador. Uma única disposição o animava: ser útil para quem dele necessitasse. Ao apresentar-se no quartel, ficou sabendo que sua intuição estava certa. Muita gente estava desabrigada. Os combatentes eram poucos para a grande e urgente tarefa. Homens, mulheres e crianças corriam perigo, em meio aos desmoronamentos provocados pela forte enxurrada. O guerreiro da luz não mediu esforços. Trabalhou até que todos estivessem a salvo. 
Qual é o nome dele? 
Não importa. 
Por que faz isso? 
Não é por dinheiro, certamente, nem para obter reconhecimento. 
Ele faz por prazer porque é um guerreiro da luz. 
É um cidadão consciente da tarefa que lhe cabe na construção de um mundo melhor. 
Durante o dia ele trabalha para garantir o sustento. 
À noite e nos finais de semana ele é um bombeiro voluntário, sempre pronto para atender a um chamado urgente. 
Se, eventualmente, uma catástrofe precisa de seus braços fortes durante o dia, ele não titubeia. Pede à empresa que o libere e desconta o dia do seu próprio salário.
Sim, porque nem sempre o empresário está disposto a contribuir em casos assim.
Mesmo sabendo que um familiar seu pode estar necessitando da ajuda desses anjos voluntários. 
É assim que esses jovens guerreiros, de vinte e poucos anos, dão utilidade às horas. 
Mas isso não é divulgado pela mídia, porque não dá Ibope. 
Lamentavelmente o que dá Ibope são as ações dos guerreiros das trevas.
Esses poucos jovens que se perdem nos cipoais dos vícios e do crime. 
Por essa razão, vale a pena enaltecer o bem.
Enaltecer a ação desses jovens de valor, que dedicam a sua juventude construindo um mundo justo, fraterno e solidário. 
E são milhares deles no Brasil.
 * * * 
Se você quer ser um guerreiro da luz mas se sente incapaz, pense que todo guerreiro da luz começou dando o primeiro passo. 
Todo guerreiro da luz já ficou com medo de entrar em combate... 
Todo guerreiro da luz já traiu e mentiu, no passado. 
Todo guerreiro da luz já perdeu a fé no futuro... 
Já trilhou um caminho que não era o seu. 
Já sofreu por bobagens... 
Já achou que não era um guerreiro da luz. 
Já falhou em suas obrigações espirituais. 
Já disse sim quando queria dizer não. 
Todo guerreiro da luz já se omitiu quando deveria ter falado... 
Todo guerreiro da luz já feriu alguém que amava. 
Por isso ele é um guerreiro da luz; porque passou por esses desafios e não perdeu a esperança de ser melhor do que era. 
Pense nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base em fato. 
Em 26.07.2011

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

A QUEM DIREI DA MINHA TRISTEZA....

Quando amanheceu, vi o céu cinzento. 
Não sei dizer se era mesmo o céu, prenunciando chuva, ou se era minha alma de óculos escuros. 
Não ouvi o canto dos pássaros. 
Também não sei dizer se eles realmente haviam emudecido ou se meus ouvidos haviam se fechado a qualquer som que os pudesse despertar. 
Abri a janela, mas as portas do meu coração continuaram cerradas. Venezianas abaixadas, nada que permitisse entrar algum raio de luz. 
Um imenso palco de tristeza. 
Desde algum tempo, ela começara a rondar minha casa íntima. Sorrateira, bateu no portão e lhe permiti a entrada. Pensei que logo se iria, depois de ligeira visita.
Ledo engano. 
Ela resolveu se hospedar. 
Acomodou-se. 
Assim agiu porque lhe ofereci uma almofada de veludo para se recostar no caríssimo sofá dos meus sentimentos. 
Desde as primeiras horas de sua chegada, eu a tratei como a um ilustre hóspede. Servi-lhe tudo do melhor que havia guardado dentro de mim. No cálice da emoção, sorveu o elixir do meu encanto pela vida. Tudo bebeu, até quase nada restar. Em taça de cristal, deliciou-se com os frutos da minha alegria, maduros, doces. Até se serviu da calda cremosa dos sorrisos, misturada com as gargalhadas espontâneas dos dias vividos. 
E a fui deixando ficar. 
Finalmente, passei a alimentá-la com os condimentos amargos da minha mágoa, a química das dores, dos reveses, tudo servido nos pratos de porcelana da alma outrora feliz. 
Então, desejei que alguém soubesse da presença dessa hóspede, que se tornara incômoda, indesejada. 
Queria que alguém me desse a fórmula para dela me libertar. 
Procurei amigos, conhecidos e lhes falei a respeito dela. 
Espantaram-se que eu, tão corajoso e bem disposto sempre, pudesse assim me manifestar. 
Não entenderam meu apelo, nem a dor que parecia me sufocar por dentro. 
Deixei que lágrimas espontâneas brotassem, como cascata, dos meus olhos. 
Senti o coração apertar, lembrando de tantos abraços de felicidade de tempos anteriores.
Agora, mais do que nunca, eu precisava de compaixão, de colo. 
Pensei em quantos, em idêntica situação, terão pensado que nada mais valia a pena e desistiram da vida. 
Mas eu, eu não quis desistir. 
Jamais sairei da vida, antes que seja determinado pela Lei Divina. 
Aproveitarei até o último suspiro. 
Olhei para o Alto, como em busca da Divindade que parece eu alijara de minha alma. 
E pedi: 
-Socorre-me. 
Lembrei do Galileu que se apresentou como o Bom Pastor, Aquele que guarda as Suas ovelhas. 
Aquele que busca a ovelha perdida, mesmo que se encontre entre os espinhos da culpa, do desamor ou da desesperança. 
Orei, dizendo palavras que nem lembro. 
Simplesmente saíam do meu coração pela boca. 
Então, o céu se tingiu de cores, a sinfonia da passarada encheu os ares.
Abri olhos e ouvidos, retirei as cortinas do coração. 
Era isso o de que eu precisava: mudar o plano mental. 
Unir a minha alma ao Superior. 
Impregnar-me de luz. 
Abri os abraços. 
Abracei a vida e minha voz cantou: 
-Bom dia, vida! Aqui estou para mais um abençoado dia de experiências. 
Redação do Momento Espírita 
Em 25.11.2021.

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

ONTEM, EU NÃO MORRI

Conhecemos alguém que quase desistiu da vida, na idade adulta, mas manteve-se firme. Hoje, ela olha um passado que poderia não ter existido e valoriza cada segundo, cada momento precioso que a existência terrena lhe concedeu. 
Filha, mãe, esposa e avó, transformou aflição em poema: 
Perdão, Pai, pelas loucas ideias. 
Perdão, por querer desvendar o futuro. 
Perdão, por não ter fé. 
Perdão, por desvalorizar minha vida, 
Esta vida que me emprestaste. 
Se ontem tivesse morrido, 
Não teria vivido sorrisos, chorado lágrimas, compadecido dores. 
Se eu tivesse morrido, 
Não teria visto tanta coisa, 
A formatura do meu meninão vencendo a faculdade. 
Não teria visto a filha, no seu primeiro vestido de baile, seus quinze anos, seu primeiro amor, os primeiros sonhos de mulher... 
Como direi agora, Senhor?
Obrigada, pelas lágrimas que derramei, 
Pelos sonhos que vivi, 
Pela luz que recebi, 
Pelos amigos que conquistei. 
Obrigada, Senhor. 
Pela presença dos meus filhos,  
Pelas mãos que os encaminhei, 
Pelas palavras que pronunciei, 
Pelos passos que evitei, 
Pela vida que desfrutei. 
Rogo, Senhor, 
Que derrames sobre nós a luz da sabedoria, 
Para que possamos aceitar com alegria, 
A vida que nos designaste. 
Rogo, ainda, Senhor, 
Que olhes pelos entes que se foram e pelos que ficaram. 
Àqueles por não mais sofrerem nesta vida, 
E os outros, pela saudade cruciante, nessa perda delirante, 
Que mesmo com fé, não deixaram de chorar. 
Senhor, 
Que haja paz e amor em todos os lares, 
Que eles se desdobrem, com outros risos e outros sonhos. 
Que Teu manto os envolva numa doce harmonia, 
Em hinos de felicidade! 
Estas são palavras dos que vencem o mundo, dos que entendem o caráter educativo de toda experiência, na existência terrestre. 
Ainda bem que eu não desisti. 
Ainda bem que suportei, que compreendi, mesmo a contragosto, as vicissitudes e provas que a vida me apresentou. 
Ainda bem que não me contaminei. 
Ainda bem que não traí meus princípios. 
Ainda bem que só saí daqui com esses arranhões, que doem, sim, mas que logo serão passado e depois nem lembrança mais precisarão ser. 
* * *
Somos livros enormes, de múltiplos capítulos e volumes. 
E desistir é como querer fechar a obra, parar de ler, devido a uma frase, a um parágrafo que nos fez sofrer, que nos desagradou, que não foi escrito do jeito que esperávamos. 
Muitas vezes, não temos nem o cuidado de reler aquele trecho para tentar entender de forma diversa. 
Julgamos à primeira vista e saímos revoltados pelo mundo.
Em muitos casos, bastava ter paciência, esperar o começo da página seguinte e entenderíamos algumas razões... 
Mas não, apressadamente jogamos tudo para o alto. 
Ora, uma obra é muito mais do que isso. 
Nesses momentos de tensão, que voltemos à grandeza da capa de nosso livro e observemos Quem assina conosco e nos sintamos mais seguros. 
Nosso nome está escrito dentro de Outro Nome, muito maior e iluminado por bondade infinita, perfeito e repleto de beleza. 
Redação do Momento Espírita, com base no poema Hoje eu não morri, de Nize Barrozo Prugner. 
Em 23.11.2021.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

UMA GUERREIRA ANÔNIMA

Naquela manhã do mês de setembro, o dia amanheceu nublado, como se já antevisse que aquele seria um dia de despedidas. A chuva fria e o vento insistente faziam crer que o inverno não cederia lugar à primavera que o calendário anunciava para o dia seguinte. A família se revezava, há dias, junto ao leito de dor daquela matrona que se despedia de cada ente caro com um sorriso sereno e confiante. A falência dos órgãos vitais era inevitável. O atendimento por parte dos médicos e enfermeiros se intensificava. Exames e mais exames denunciavam que o fim estava próximo. Era chegada a hora de fechar a mala e retornar para casa. Para a Pátria Espiritual, de onde partira há pouco mais de oitenta janeiros, a fim de cumprir mais uma etapa no corpo físico. Os compromissos assumidos antes do berço não eram poucos, nem fáceis. 
Deveria trazer ao mundo nove filhos. E os trouxe. 
Deveria enfrentar todos os tipos de dificuldades que uma dona de casa do início dos anos vinte enfrentaria. E os enfrentou. 
Jamais pensou em si mesma. Dedicou-se com todo carinho aos filhos e ao esposo. A enfermidade deveria seguir seus passos por toda a existência, como monitora atenta diante do aluno que está em prova. Tinha a certeza de que para sentir o perfume das rosas é preciso suportar os espinhos... 
Quando o medo e a insegurança visitaram-lhe a intimidade, ela teceu a confiança com os fios invisíveis da oração sincera. 
Quando o trabalho árduo exigiu suas forças, ela não lhe negou dedicação com valentia. 
Quando a loucura se instalou em sua mente, como mensageira da Justiça Divina, ela dobrou-se ao único tratamento disponível à época, sem reclamar, mesmo afastada dos filhos queridos. 
Enquanto a solidão e a saudade lhe dilaceravam o coração de mãe, ela lançava ao solo as sementes da renúncia, confiante num amanhã mais feliz. 
Quando as densas nuvens da tristeza pairavam sobre sua cabeça, ela abria brechas de luz para que o otimismo pudesse penetrar. 
Diante da dor, ela sorria... 
Diante da infidelidade dos amores, ela exercitava o perdão... 
Diante da indiferença, ela silenciava. 
Quando a doença lhe tirou o direito à voz, ela treinou abnegação... 
Quando a impediu de andar, ela ensinou a paciência. 
Quando se tornou fisicamente dependente, aceitou ajuda com humildade. 
E, quando a morte, qual hábil cirurgiã, apresentou-se para libertá-la do corpo enfermo e debilitado, ela se entregou sem resistência. 
Foi assim que aquela guerreira anônima partiu... sem alarde nem honrarias... mas cercada do mais puro afeto dos familiares bem-amados. 
* * * 
A chuva fria e o vento insistente faziam crer que o inverno não cederia lugar à primavera que o calendário anunciava para o dia seguinte. 
Mas a primavera sempre chega... 
Naquele dia, a velha guerreira pôde dizer: 
-Meu dia de trabalho acabou. 
E, como uma ave cativa, libertou-se da gaiola e rumou para casa, levando na bagagem uma soma imensa de provas superadas. 
Ela estava certa de que o túmulo não é um beco sem saída. 
É apenas uma passagem, que se fecha ao crepúsculo e a aurora vem abrir novamente.
Os familiares se despediram, sem desespero nem revolta, pois era assim que ela queria.
Foi esse o exemplo que ela deixou para ser seguido. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 07.06.2010.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

AS GUERRAS E VOCÊ

Você aprova as guerras? 
Se alguém lhe fizesse uma pergunta dessas, por certo você ficaria indignado com tanta ousadia, e diria que não compactua com esse tipo de violência. 
No entanto, num ponto você há de concordar: que se vivêssemos num mundo pacífico, as guerras não existiriam, não é verdade? 
Pois bem, você já pensou que as grandes guerras podem ser apenas a consequência das pequenas guerras que alimentamos no dia-a-dia? 
A explosão de um conflito maior pode ser comparada à erupção de um vulcão, que libera as lavas para não provocar abalos maiores e mais prejudiciais ao planeta.
Uma guerra é como uma panela de pressão que estoura porque não consegue suportar as forças que pressionam seu interior. 
Assim, quando nos irritamos violentamente com alguém ou com alguma coisa, jogamos na atmosfera uma carga energética de péssimo teor, que contribuirá para a eclosão de guerras, mais cedo ou mais tarde. 
Essas forças permanecem na atmosfera espiritual da Terra e vão se somando a outras tantas, liberadas por aqueles que se permitem pequenas ou grandes explosões de ira e de ódio. 
É assim que vamos formando uma reserva de violência tão grande, que um dia acaba por explodir e causar danos a milhares de pessoas. 
Dizem os Espíritos Superiores que assim é. 
E que essas reservas de vibrações violentas só podem ser anuladas por uma força contrária chamada amor. 
Portanto, se não quisermos mais alimentar guerras, devemos educar-nos para a paz. 
E a paz deve começar em nossa intimidade. 
Quando não revidamos uma ofensa, estamos ajudando a construir a paz. 
Quando não aceitamos uma provocação da violência, estamos dando nossa contribuição para que a paz possa ser construída. 
Quando calamos uma palavra de irritação, contribuímos com a paz mundial.
Quando apagamos uma faísca de ira que insiste em eclodir de nossa alma, fomentamos a paz. 
Quando repelimos com o amor uma insinuação da revolta, ajudamos a pacificar o mundo. 
Quando, enfim, nos inundarmos de paz, conseguiremos aplacar o ódio de milhões e acabar com as guerras. 
Essa é a única maneira de sermos, efetivamente, contrários aos conflitos cruéis que degradam a Humanidade e a infelicitam.
* * * 
A Terra está no segundo degrau da escala evolutiva dos mundos. 
O nosso é um planeta de provas e expiações e é por isso que Jesus afirmou que a felicidade não é deste mundo. 
A felicidade deve ser construída, e só haverá verdadeira felicidade quando não houver mais conflitos degradantes entre os povos. 
Os mundos estão sujeitos à Lei de progresso e, à medida que seus habitantes evoluem, transformam os mundos em que vivem.
Foi por essa razão que o Cristo afirmou que os brandos e pacíficos herdarão a Terra. 
Nada mais justo, pois colherão os frutos da própria semeadura 
Redação do Momento Espírita. 
Em 19.07.2010.

domingo, 21 de novembro de 2021

GUERRA NO TRÂNSITO

DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANNA DE ÂNGELIS
Se perguntássemos às pessoas se apreciam as guerras, certamente nos responderiam que as abominam. No entanto, se não houvesse guerreiros, as guerras fatalmente não se realizariam. 
Prova evidente disso são as guerras no trânsito, que tantas e tantas vítimas têm feito no mundo inteiro. São pais e mães de família que, sob a aparente proteção de um veículo, sentem-se invencíveis e fazem do automóvel um tanque de guerra.
Isso nos faz lembrar uma passagem narrada na Revista Seleções. 
Um motorista desses que estão sempre apressados, dirigia seu carro agressivamente e insultava todos que estavam à sua frente. Agia como se todos tivessem a obrigação de lhe ceder passagem. Um sobrinho de 6 anos que estava no banco de trás, ouvindo o tio dizer a um que tirasse a carroça de sua frente, a outro perguntar se estava dormindo no volante, entre outros xingamentos, perguntou: 
-Tio Bob, por que você permite que as pessoas trafeguem pela "sua" rua?
Tio Bob teve um choque. 
Diminuiu a velocidade e começou a refletir no que acabara de ouvir da boca de uma criança, fruto da observação do seu comportamento. Deu-se conta de que realmente estava agindo como se fosse o dono da rua. E o que era pior, ele era uma lição viva ao sobrinho que estava atento a todos os seus movimentos. Daquele dia em diante, tio Bob adotou o propósito de nunca mais dirigir como se a rua lhe pertencesse. 
* * * 
Se nós somos daqueles motoristas nervosos, sempre irritados com tudo e com todos, aliviemos um pouco o pé do acelerador e reflitamos sobre a nossa postura.
Além do inconveniente de sermos um exemplo vivo de intolerância e incúria para os que nos observam, há o agravante de fomentarmos as guerras no trânsito.
Quantos motoristas que, por falta de prudência e paciência, jazem inermes nas rodovias, nas ruas ou calçadas. Ou fazem vítimas fatais, ou provocam sequelas irreversíveis em outras pessoas. 
Já é tempo de refletirmos em torno dessas questões que a todos nos interessam.
É tempo de mudar o comportamento equivocado de declarar guerra aos demais motoristas que, como nós, necessitam enfrentar o trânsito cada vez mais disputado. 
Se sabemos que o trânsito se faz lento em determinadas horas do dia, saiamos mais cedo. 
Calculemos melhor o tempo que levaremos para nos deslocar de um lugar a outro.
E, ainda, lembremos que é melhor perder um minuto na vida do que a vida num minuto.
Antes de xingar alguém no trânsito, pensemos que talvez a pessoa mereça nossas melhores vibrações por ser alguém visitado pela dor, pela enfermidade. Ou quiçá seja alguém que esteja a caminho do hospital, levando consigo um enfermo grave, uma criança em pranto ou outra dificuldade qualquer. 
Seja qual for a situação, jamais nos arrependeremos por mantermos a paciência e a tolerância no trânsito. 
* * * 
A ação precipitada, sem a necessária prudência, invariavelmente engendra desacertos e aflições sem nome, conduzindo o aturdido aos despenhadeiros do insucesso, em cuja rampa o remorso chega tardio. 
Redação do Momento Espírita com base no verbete Pensamento e no verbete Precipitação, do livro Repositório de sabedoria, v. 2, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal e em artigo publicado na revista Seleções Reader’s Digest, de nov/1993. 
Em 25.02.2009.

sábado, 20 de novembro de 2021

GUERRA E PAZ

RAUL TEIXEIRA
Todos os esforços deverão ser empreendidos pelos seres humanos, para extinguir, em definitivo, a guerra. 
Poderá ser pela diplomacia, que abençoa os entendimentos por meio do diálogo, ou através da educação popular.
Pela educação, as criaturas poderão ver todos os inconvenientes das atrocidades da guerra, seja em razão do que for. 
Vivemos a fase em que a Humanidade deve exercitar a razão com todos os seus componentes, trabalhando na esfera da paz. 
As escolas, os templos religiosos, os lares, as empresas trabalharão para a paz.
Para isso, todas as baterias de providências estarão voltadas para a educação do indivíduo, de cuja intimidade provêm os delitos, se ele está enfermo, ou todas as luzes, se avança para maior equilíbrio. 
Ao se refletir na guerra, pensa-se que tudo estará concluído e solucionados todos os problemas, quando sejam assinados os tratados de paz. 
Poucos se dão conta dos desdobramentos da trágica experiência, durante e depois dela. 
Nas guerras, não morrem somente os que tombam nos campos de batalha ou são devorados por explosões de quaisquer tipos. 
Também morre, no abismo da dor, um número ilimitado de pais e de mães, que recebem objetos de uso pessoal e condecorações póstumas dos seus filhos.
Morrem esposas vencidas pela saudade e pela solidão, após receberem as documentações que honram os seus companheiros desencarnados. 
Morrem na revolta, na mágoa, no desejo de vingança contra a sociedade, multidões de filhos levados à orfandade, tendo os nomes dos seus pais glorificados no altar frio dos mausoléus dos heróis, que as pátrias lhes constroem, como se isso fosse resolver o drama das dores morais dos seres marcados pela guerra.
E o saldo dos mutilados físicos? 
Dos mutilados mentais, assinalados por neuroses e psicoses que retornam para os seus lares e para as ruas, muitos deles se envolvendo na violência, no crime, nos vícios e no infortúnio?
* * * 
DIVALDO PEREIRA FRANCO
Ao pensarmos sobre a monstruosidade da guerra, apareça onde aparecer, apoiada no motivo que for, reflitamos nas consequências dessa tragédia para a Humanidade inteira e refreemos nosso entusiasmo. Jesus, o herói da sepultura vazia, nos conclamou para a paz. 
Ele afirmou que os mansos herdariam a Terra e os pacíficos seriam chamados filhos de Deus. 
Envolvidos em nossos afazeres, estudando, trabalhando, falando ou realizando qualquer atividade, sejamos instrumentos da paz, permitindo que o suave ensino do mestre Galileu ilumine a nossa intimidade, iluminando os que vivem e convivem conosco. 
 * * *
O homem que possui a paz, não é apenas o homem de face serena. 
Antes é o homem de bem, o que trabalha incessantemente no dever. 
Assim, adquirir paz não é somente estar com a consciência tranquila, porém, mais do que isso, é trabalhar pela edificação da paz alheia, permanecendo em tranquilidade. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 16, do livro Vozes do Infinito, por Espíritos diversos, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter e nos versos do item 23, mês de setembro, do livro Poemas de paz, pelo Espírito Simbá, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. 
Em 17.5.2013.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

GUARDADOS

Dia desses, conversando com um amigo, ele nos confidenciou a sua mania de guardar caixinhas. Ao lhe perguntarmos o porquê, ele não soube nos dizer. Simplesmente afirmou que as guarda. Caixas grandes, pequenas, médias, de todos os tamanhos. Sóbrias, coloridas. Nacionais, internacionais. 
Ouvindo-o falar, recordamos de como guardamos coisas sem utilidade. 
São vestimentas e utensílios que nos lembram alguma ocasião especial e que nunca serão utilizados. Quinquilharias que entulham gavetas, como se portas adentro do lar erigíssemos um museu. 
Colecionamos joias caras, que usamos esporadicamente, quando o fazemos, pois que tememos o roubo e o furto. Guardamo-las em cofres hermeticamente fechados. 
Nossos valores. 
Heranças. 
Mimos exclusivos. 
E contudo, todos sabemos que tais valores passam, não são imperecíveis. 
Para nós, terão a exata durabilidade de uma vida, pois que em partindo para a pátria espiritual, não os poderemos levar conosco.
Assim sendo, seria muito mais produtivo para nós que começássemos uma campanha para angariar e guardar legítimos valores. 
Conquistas pessoais, virtudes. 
E os nossos guardados materiais os poderíamos utilizar a benefício dos sofredores, dos carentes. 
Tantas vezes lemos e relemos os ditos do Senhor que nos falam dos tesouros perecíveis do mundo, que a traça corrói e os ladrões roubam. 
Valores que poderão ser consumidos, furtados, corroídos. 
Mas, mesmo assim, continuamos a manter os nossos guardados inúteis, na mesma medida em que afirmamos não dispor de recursos para atender a miséria que campeia no mundo. 
Armazenemos alegrias para distribuí-las com os desalentados. 
Colecionemos sorrisos para espalhá-los pelos caminhos, como respingos de bondade. 
Guardemos ternura, ofertando-a aos que convivem ao nosso redor, nesses dias de tanta indiferença e frieza. 
Guardemos as palavras libertadoras do Evangelho de Jesus na mente e no coração, a fim de que nos libertemos, iluminando-nos. 
Fazendo amigos com os recursos que movimentarmos no mundo, promoveremos alegrias e alevantaremos muitas vidas. 
Guardados no amor de Deus, que nos sustenta a existência, guardemo-nos nós mesmos na fé e no trabalho, dando em cada hora o melhor dos nossos empenhos, em nome do amor ao próximo. 
Ao final da jornada, verificaremos que os cofres de nossa alma estarão plenificados de bênçãos, pela oportunidade inigualável que tivemos de praticar o bem, enquanto no caminho dos homens.
* * * 
CAMILO CASTELO BRANCO
E
JOSÉ RAUL TEIXEIRA

Os bens que transitam no mundo não constituem verdadeira posse, mas somente empréstimo temporário. 
O bem que se faz sempre é triunfo para o próprio coração. 
Redação do Momento Espírita, com base no verbete Bem, do livro Repositório de sabedoria, v. 1, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal e no cap. 41 do livro Nossas riquezas maiores, pelo Espírito Camilo, psicografia de José Raul Teixeira, ed. Fráter. 
Em 6.2.2012.

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

A VIDA QUE NOS É DADA

Um dia, graças à adesão de nossos pais ao convite da vida, chegamos a este mundo. 
Alguns fomos intensamente aguardados e efusivamente recebidos. Meses de confecção do enxoval, preparação do berço, até um quarto especial, todo decorado, para nos receber. 
Outros não tivemos tudo isso. 
No entanto, o essencial é termos em mente que nos foi permitido vir ao mundo, que fomos acalentados, alimentados e aqui estamos. 
Pais conscientes e amorosos se multiplicam. 
Aguardam, ansiosos, o passar dos meses da gestação e vão aos mínimos detalhes para bem receber o filho amado. Alguns, mais dedicados, ao aconchegar nos braços, pela primeira vez, o ser tão pequenino, se unem em oração: 
-Deus nosso Pai, sê bendito pelo Espírito que reencarnou como nosso filho.
Somos gratos pela confiança que depositou em nós. 
Sabemos da imensa responsabilidade que temos no cuidado e educação deste Espírito. 
Sabemos, também, que teremos que lhe prestar contas desta incumbência que nos foi concedida. 
Somos gratos por esta graça!
Se é uma alma imperfeita que nos chega, ajuda-nos a conduzi-la na seara do bem, através de nossos conselhos e nosso exemplo. 
Que possamos ser os auxiliares da sua jornada, nesta Terra, a fim de que ela possa bem aproveitá-la. 
Se é um Espírito, que vem ao nosso lar, suplicando amparo e proteção, concede-nos a força e a vontade para lhe podermos ofertar o de que necessita para o seu crescimento individual. 
Ilumina a nossa inteligência para podermos tomar as melhores decisões na sua orientação. 
Que nunca esqueçamos que o devemos educar, amparar, proteger. 
Jamais sufocar os seus anseios e os seus ideais. 
Inspira-nos a viver o amor para que o possamos ensinar a amar a si mesmo, ao próximo, à natureza. 
Ilumina-nos para que possamos despertar neste Espírito o conhecimento e o amor a Ti, Deus, nosso Pai. 
Por fim, bom Deus, permite que germinem nesta criança as boas sementes, até o dia em que ela possa, por suas próprias aspirações, elevar-se sozinha para Ti.
* * * 
Ao reencarnarmos, neste mundo, todos temos o objetivo de nos aprimorar e os nossos pais têm um papel essencial, especialmente, em nossos primeiros anos.
São eles que nos conduzem pela jornada do progresso. 
São eles que nos levam à escola, que nos exemplificam as boas ações, o bem viver. 
São nossos pais que nos observam, dedicam-se ao exame das nossas tendências e nos estimulam na preservação das virtudes que trazemos. 
Da mesma forma, insistem para que abandonemos os maus pendores, que ainda residem em nós. 
Deus, realmente sábio, nos faz nascer com a docilidade e a delicadeza dos pequenos, para facilitar esse grande trabalho dos nossos pais. 
Todos os que aproveitamos esses primeiros anos, atendendo aos bons conselhos, aprimorando-nos na instrução e na educação, somente temos a ganhar. 
E, em essência, agradecer a Deus a vida que temos, da forma que a temos, onde estejamos. 
Agradecer, sobretudo, pelos pais que nos permitiram abrir os olhos, neste imenso mundo de Deus, no qual o progresso nos aguarda, simplesmente, a vontade de agir. 
Aproveitemos a vida que nos é dada, em mais este dia! 
Redação do Momento Espírita, com base nos itens 53 e 54, do cap. XXVIII, de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. FEB.
Em 18.11.2021.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

SÓ POR HOJE

Há algum tempo, os Alcoólicos Anônimos distribuíam um folheto para aqueles que buscavam a instituição, com o desejo de vencer a luta contra o álcool. 
O folheto trazia uma mensagem intitulada Só por hoje, e pode servir de roteiro para muitos de nós: 
-Só por hoje, procurarei viver o dia que passa, sem tentar resolver todos os problemas da minha vida inteira. Por doze horas, apenas, poderei executar qualquer coisa que me encheria de pavor se tivesse de realizá-la pelo resto da minha vida. 
-Só por hoje, me sentirei feliz. Farei verdadeira aquela frase de Abraham Lincoln: "Muita gente se sente feliz só porque se convence de que o é." 
-Só por hoje, procurarei fortalecer minha inteligência. Aprenderei qualquer coisa de útil. Lerei qualquer coisa que exija esforço, pensamento e concentração. 
-Só por hoje, procurarei me ajustar aos fatos, em vez de tentar ajustar tudo que existe aos meus próprios desejos. 
Só por hoje, exercitarei minha alma de três maneiras: fazer um benefício a alguém, sem contá-lo a quem quer que seja. Farei pelo menos duas coisas que não desejava fazer, só por exercício. E hoje, se alguma coisa me magoar, não revelarei a ninguém. 
-Só por hoje, procurarei mostrar a melhor aparência possível, vestir-me bem, falar baixo e agir delicadamente. Não farei críticas ou tentarei corrigir, nem dar ordens a ninguém, a não ser a mim mesmo. 
Só por hoje, estabelecerei um programa de ação. É possível que eu não o siga à risca, mas tentarei. Vou me livrar de duas pragas: a pressa e a indecisão. 
-Só por hoje, dedicarei uma meia hora, a mim próprio, para fazer silêncio e repouso. Durante essa meia hora procurarei divisar uma perspectiva mais clara de minha vida. 
-Só por hoje, não hei de ter medo. Especialmente, não hei de ter medo de apreciar a beleza e de acreditar que aquilo que eu der ao mundo, o mundo me devolverá.
 * * * 
Sem dúvida a mensagem traz diretrizes que podem ajudar a todos os que pretendemos corrigir o passo e não sabemos por onde começar. 
Ainda que essas atitudes sejam tomadas apenas por um dia, é um bom começo.
E o importante é começar. 
É dar o primeiro passo. 
Se acreditarmos difícil realizar todas as metas estabelecidas, num só dia, escolhamos uma delas para cada dia e procuremos cumpri-la. 
Se julgarmos que devemos estabelecer outras metas diferentes, façamos isso.
Mas comecemos hoje. 
E se nos vier à mente a ideia de que falta tempo, estabeleçamos, como primeira meta, disciplinar o nosso tempo. 
Consideremos que tempo é questão de escolha. 
Verifiquemos o que temos feito das horas e perceberemos que podemos ajustar uns minutos para a construção de nossa paz íntima. 
Merecemos nos dar essa chance. 
Tentemos! 
Ainda que seja... só por hoje. 
* * *
Todas as grandes conquistas realizadas na vida dependeram de um primeiro passo, de uma ideia inicial. 
Os grandes e nobres vultos da Humanidade, antes de serem percebidos no topo da montanha, precisaram dar o seu primeiro passo. 
Dessa forma, se desejamos construir uma realidade melhor para nossa vida, tracemos metas, elaboremos um programa de ação e comecemos ainda hoje.
Redação do Momento Espírita, com base em artigo de Seleções Reader's Digest, de fevereiro de 1954. Disponível no livro Momento Espírita, v. 2, ed. FEP. 
Em 17.11.2021.

terça-feira, 16 de novembro de 2021

A CIÊNCIA E DEUS

Ele era um enamorado das estrelas. Por isso, chegou a ser denominado, por um historiador, o Poeta dos céus. Desde os onze anos, sua paixão foi a astronomia. Seu espírito sensível parecia dotado de uma imensa saudade de algum mundo feliz, de onde ele viera e que parecia querer reencontrar nos mapas dos céus. Antes de completar vinte anos, Camille Flammarion publicou o livro Pluralidade dos mundos habitados. A edição se esgotou em pouco tempo. Foi reeditado e traduzido para treze idiomas. Virou moda na corte de Napoleão III. Esse sábio, que recebeu prêmio da Academia de França e a Comenda da Legião de Honra, por seu livro Astronomia popular, lamentava a divergência entre a Ciência e a religião. Ele dizia que duas verdades não podiam ser opostas uma da outra. Dizia ele: 
-Deus é a força inteligente, universal e invisível, que constrói, sem cessar, a obra da natureza. Sombras noturnas que flutuais pela encosta das montanhas, perfumes que baixais das florestas; flores pendidas que cerrais os lábios, surdos rumores oceânicos que nunca vos calais; calmarias profundas das noites estreladas, tendes-me falado de Deus, com eloquência mais íntima e mais empolgante que todos os livros humanos! 
A natureza é um ser vivo e animado. 
Mais ainda, um ser amigo.
Deus nos fala pelas suas cores, pelos seus sons e pelos seus movimentos. 
Tem sorrisos para as nossas alegrias, gemidos para as nossas tristezas, simpatia para todas as nossas aspirações. 
É nas leis da natureza que se revela uma inteligência ordenadora. 
São leis constantes, concordantes e inteligíveis. 
E completa o sábio astrônomo: 
-A ignorância havia humanizado Deus. A Ciência O diviniza. Longe de destruir a velha ideia da existência de Deus, a desenvolve e a torna gradualmente menos indigna da Sua majestade. 
Dilatando a esfera de nossa contemplação e espalhando uma luz mais instrutiva sobre a composição geral do Universo, a Ciência nos aclara o senso íntimo da Divindade. 
Deus nos aparece sob a ideia de um Espírito permanente e residente no âmago das coisas. 
Não habita um paraíso povoado de anjos e de eleitos. 
Habita a amplidão infinita, repleta da Sua presença, em cada ponto do espaço, em cada instante do tempo. 
A ordem universal reinante na natureza, a inteligência revelada na construção dos seres, a sabedoria espalhada em todo o conjunto; sobretudo, a universidade do plano geral, nos apresenta a Onipotência Divina como sustentáculo invisível da natureza. 
Lei organizadora, força essencial. 
Deus é um pensamento, residente na essência mesma das coisas, sustentando, organizando, Ele mesmo, desde as mais humildes criaturas aos mais vastos sistemas solares. 
Deus é o pensamento do qual as leis diretivas do mundo representam uma forma de atividade. 
Então, unamo-nos ao pensamento do sábio astrônomo e reconheçamos essa Força que nos criou, nos mantém a vida e tudo governa.
Deus, bom Deus. 
Tu que dás a beleza e o perfume à flor, que dás voz ao oceano, recebe a gratidão de um filho reconhecido da Tua grandeza e do Teu amor. 
Redação do Momento Espírita, com base em dados biográficos de Camille Flammarion e no tomo V do livro Deus na natureza, de Camille Flammarion, ed. FEB.
Em 16.11.2021.

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

O GUARDA-CHUVA AMARELO

Amélie está de mau humor. Isso é raro. Raro como quatro dias de sol seguidos em minha cidade. Amélie é sempre sol, mas hoje enxergo uma pequena nuvem, dessas de desenho animado, sobre sua cabeça. Amélie está indo para a escola. Chove. Chuva fina e gelada. Paro o carro. Agora vem a hora mais difícil. Acho que a despedida não vai ser fácil dessa vez – na maioria das vezes é. Fico torcendo para que venha alguém bem sorridente para buscá-la. As professoras e assistentes que vêm apanhá-la são sempre muito simpáticas. Lá vem uma. E, além do sorriso, ela carrega em sua mão direita algo que vai mudar nossas vidas, minha e de Amélie, para sempre: um guarda-chuva amarelo. Sim, é isso mesmo, um simples guarda-chuva de cor amarela. Não é um amarelo qualquer, apagado. Não é amarelo-ouro. Não é amarelo-canário. Não é amarelo-limão. Não sei descrever. Procuro palavras, adjetivos, dicionário. Quem sabe: amarelo-sol. Inventei. Olho Amélie pelo espelho e a mudança de semblante é espantosa. Emocionou-me. Ela se apaixonou por ele. Tudo ao redor parece ter perdido significado, apagando-se. O centro das atenções agora é o guarda-chuva amarelo. Enquanto a moça se aproxima com aquele objeto amarelo reluzente maravilhoso, Amélie abre um sorriso lindo, sorriso de quem vai ganhar algo que sempre quis e nunca soube que quisesse. Sorriso de realização!
-A moça está me oferecendo esta coisa linda e amarela! – Deve ter pensado ela.
Preciso dizer que Amélie esqueceu que tinha pai naquele instante? Pois é... Lá foi ela no colo da professora, radiante, sorriso aberto, segurando com firmeza a haste prateada, desfilando, encantada, entre todas as pessoas e crianças com seu guarda-chuva amarelo-sol. Seu dia não foi o mesmo depois daquele encontro. Ela soube curtir o momento de forma intensa, deixando de lado o mau humor, o sono, e seja lá o que fosse que a estivesse chateando. Foi como se o presente a tivesse lembrado de algo bom, algo que ela houvesse, momentaneamente, esquecido. Contudo, ainda vi algo mais, que me fez pensar que talvez aquele não fosse um guarda-chuva qualquer, fosse, quem sabe, uma sombrinha com poderes mágicos. A claridade do dia - que era pouca, mas resistia – passava pela transparência da cúpula do guarda-chuva e iluminava minha filha com uma luz dourada tão intensa que não pude deixar de notar e admirar. Confesso que não sei ao certo se foi Amélie que fez sol debaixo do guarda-chuva, ou se foi a luz que se fez amarela ao passar pelo tecido dessa cor. A verdade é que ali, onde ela estava, o sol brilhava. E lá foi ela, fazendo sol debaixo do guarda-chuva num dia feio de inverno... 
* * * 
Nossa vida não é apenas repleta de aflições, mas também cheia de guarda-chuvas amarelos. 
Há sempre um braço nos estendendo um por aí... 
Salvam nosso dia quase sem querer. 
Falta-nos, quem sabe, a sensibilidade para percebê-los. 
Para nós um guarda-chuva é apenas um guarda-chuva. 
A vida é tão cheia de imaginação!
É tão cheia de opções, de possibilidades... 
De pequenas felicidades certas! 
Enxergar beleza nessas pequenas coisas é uma arte... 
A arte de ser feliz. 
Sei que um dia vamos deixar de dizer que essas coisas são pequenas... 
Amélie é pequena. 
Tem dois anos. 
Amélie é um dos meus guarda-chuvas amarelos. 
Faça sol ou tempestade, não saio mais de casa sem ele. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 27, ed. FEP.
Em 30.3.2015.

domingo, 14 de novembro de 2021

O GRITO

Uma boa palavra auxilia sempre. 
É lamentável se observar como estamos nos esquecendo de cultivar a boa palavra. 
Nosso atual vocabulário empobreceu-se muito e, face aos dissabores que nos envolvem a vida, primamos por expressar, pela fala, o mau humor e o desânimo que nos assola. 
Basta permaneçamos alguns minutos em uma fila de mercado, de ônibus, de banco, para logo se perceber o início das lamentações, das queixas e o desfilar do rosário da infelicidade. 
 Quanta vez, em plena rua, alguém nos aborda, rosto transtornado a solicitar uma informação. 
-Onde fica o Hospital, a Delegacia, o Posto de Saúde? 
De forma mecânica, indicamos a direção correta ou por vezes, alegando pressa, nos escusamos de perder tempo e desviamos da criatura. 
E, no entanto, é um ser que sofre e talvez bastasse uma palavra amiga, a gentileza de explicar em pormenores, de seguir com ele um trecho do caminho, para lhe amenizar a dor. 
Recordamos que, certa vez, um homem ouvia em um templo religioso as advertências do orador: 
-Falar é dom de Deus. Se abrimos a boca para dizer algo, saibamos dizer o melhor. É preciso aproveitar todas as oportunidades porque, às vezes, desajudamos quando podíamos ajudar. 
O homem saiu dali e agasalhou a mensagem. Alguns dias depois, nas funções de pedreiro-chefe inspecionava um grande recinto, em fase final de construção, junto com o engenheiro. O enorme salão estava muito bonito. Acabamento esmerado e pintura, primorosa. 
-Vamos experimentar a acústica. - Sugeriu o engenheiro. 
E, virando-se para o pedreiro, lhe pediu: 
-Grite alguma coisa. 
Saulo, esse era o nome do pedreiro, recordou as lições de dias antes a respeito da palavra e enchendo os pulmões, bradou alto: 
-Confia em Jesus! 
O som estava muito bem distribuído e agradou a ambos. Passados alguns minutos, adentra a sala um homem de cabelos em desalinho, perturbado, revólver à mão. 
-Quem gritou? Pergunta.-Quem mandou confiar em Jesus? 
Saulo é apontado e o homem a ele se dirige. Percebe-se-lhe no olhar a angústia e o desespero. Joga-se nos braços do pedreiro e chora: 
-Obrigado, obrigado, amigo.
E porque ninguém conseguisse entender o que estava acontecendo, explica:
-Eu estava no terreno da construção. Queria morrer. Estava encostando o cano do revólver ao ouvido, quando escutei seu apelo. Sustei o gesto. Estou desempregado há muito tempo e sou pai de oito filhos. Confiar em Jesus. Sim. Eu confiarei. 
É sempre importante falarmos o bem. 
Mesmo quando pensemos que estamos sós, pois em verdade não estamos.
Feliz foi o poeta que disse que o homem tem na garganta uma flauta mágica que pode emitir as mais doces melodias.
É a voz, talento divino que nos foi dado para o nosso progresso e crescimento dos nossos irmãos.
 * * * 
A guerra nasce da linguagem dos interesses criminosos, insatisfeitos. 
A língua guarda a centelha divina do verbo através do qual o homem pode erguer o monumento da paz. 
Assim, podemos utilizar a palavra para consolar e edificar os nossos irmãos.
Redação do Momento Espírita. 
Em 9.12.2013.

sábado, 13 de novembro de 2021

A GRAVE PROBLEMÁTICA DA CORRUPÇÃO

Conforme o dicionário, corrupção é adulteração, deturpação, alteração, desvirtuamento, entre outros significados. 
Nos dias em que vivemos, muito se tem falado a respeito dela. 
E pensamos que corrupção esteja intimamente ligada aos que exercem o poder público. 
Ledo engano. 
Está de tal forma disseminada entre nós, que, com certeza, somos poucos os que nela não estejamos envolvidos, de alguma forma. 
Vejamos alguns exemplos. 
Quando fabricamos um produto com qualificação inferior, para alcançar maiores lucros, e o vendemos como de qualidade superior, estamos sendo corruptos.
Quando adquirimos uma propriedade e, ao procedermos a escrituração, adulteramos o valor, a fim de pagar menos impostos, estamos disseminando corrupção. 
Ao burlarmos o fisco, não pedindo ou não emitindo nota fiscal, estamos nos permitindo a corrupção. É como se houvesse, entre todos, um contrato secretamente assinado no sentido de Eu faço, todos fazem e ninguém conta para ninguém. 
Com a desculpa de protegermos pessoas que poderão vir a perder seus empregos, não denunciamos seus atos lesivos. Atos como o do funcionário que se oferece para fazer, em seus dias de folga, o mesmo serviço, a preço menor do que aquele que a empresa a que está vinculado estabelece. Ou daquele que orienta o cliente, no próprio balcão, entregando cartões de visita, a buscar produto de melhor qualidade e melhor preço, segundo ele, em loja de seu parente ou conhecido. Esquece que ele tem seu salário pago pelos donos da empresa para quem deveria estar trabalhando, de verdade. Desviando clientes, está desviando a finalidade da sua atividade, configurando corrupção. 
Corrupção é sermos pagos para trabalharmos oito horas e chegarmos atrasados, ou sairmos antes, pedindo que colegas passem o nosso cartão pelo relógio eletrônico. 
É conseguirmos atestados falsos, de profissionais que a isso se prestam, para justificarmos nossa ausência do local de trabalho, em dias que antecedem feriados ou outras datas de nossa conveniência.
É promovermos a quebra ou avaria de algum equipamento na empresa, a fim de termos algumas horas de folga. 
Corrupção é aplaudirmos nosso filho que nos apresenta notas altas nas matérias, mesmo sabendo que ele as adquiriu à custa de cola. 
E que dizer dos que nos oferecemos para fazer prova no lugar do outro? 
Ou realizar toda a pesquisa que a ele caberia fazer?
Examinemos com mais vagar tudo que fazemos. 
Mesmo porque nossos filhos têm os olhos postos sobre nós e nossos exemplos sempre falarão mais alto do que nossas palavras. 
Desejamos, acaso, que a situação que vivemos em nosso país tenha prosseguimento? 
Ou almejamos uma nação forte, unida pelo bem, disposta a trabalhar para progredir, crescer em intelecto e moralidade?
Em nossas mãos, repousa a decisão. 
Se desejarmos, podemos iniciar a poda da corrupção, hoje mesmo, agora. 
E se acreditamos que somente um de nós fazendo, tudo continuará igual, não é verdade. 
Os exemplos arrastam. 
Se começarmos a campanha da honestidade, da integridade, logo mais os corruptos sentirão vergonha dos seus atos. 
Receberão admoestações e punições, em vez de aplausos e se perceberão desonestos em vez de espertos. 
E, convenhamos, se não houver quem aceite a corrupção, aqueles que a propõem acabarão por si mesmos. 
Pensemos nisso. 
E não percamos tempo. 
O mundo, para ser melhor, aguarda isso de nós todos. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 16.6.2017.