quinta-feira, 19 de novembro de 2020

PALAVRA QUE SALVA

O professor estava no portão da Universidade quando foi abordado por um dos seus alunos do último ano da Faculdade de Medicina. De forma repentina, o jovem lhe disse: 
-Professor, minha formatura será no dia 18 de dezembro. Quero que o senhor saiba de uma coisa. Sempre gostei da forma como conduz com humanidade o seu ensino. Por isso, eu quero lhe confidenciar um projeto que acalento desde algum tempo. Sabe, quando eu nasci, fui abandonado pelos meus pais. Fui criado pelos meus tios. Nunca perdoei minha mãe e meu pai por me rejeitarem. Então, no dia da minha formatura, pretendo dar um presente para eles: vou me matar. Vou deixar um bilhete muito bem escrito, culpando-os pelo meu gesto. Quero que eles sofram, que sintam remorso pelo que fizeram. 
O professor tremeu. 
Esqueceu o compromisso que tinha, esqueceu de quem o esperava em algum lugar para o almoço. 
Ali estava um jovem que iria destruir a sua vida, pensando em uma vingança. 
Dr. Laércio o chamou para um lugar mais reservado. E a primeira pergunta que lhe dirigiu foi: 
-Meu filho, você diz que planejou se matar no dia da sua formatura, para castigar os seus pais porque eles o abandonaram. Mas, você pensou nos seus tios? Pensou em como despedaçará os seus corações, eles que o acolheram desde o nascimento, que lhe deram carinho, que lhe ofereceram o regaço de pai e mãe? Imaginou, por um minuto que seja, a dor que estraçalhará as suas vidas? Eles investiram amor em você, eles se sacrificaram para que você pudesse cursar a Faculdade. Pensou em como eles devem estar aguardando, ansiosos, para assistirem a sua colação de grau? E você pensa em lhes oferecer o seu cadáver? 
À medida que o professor falava, o rapaz foi se encostando na parede da sala e, devagarinho, foi arqueando as pernas, até se sentar no chão. Lágrimas lhe corriam pela face. Soluços lhe sacudiam o corpo. A conversa se estendeu e, quando foi concluída, o formando desistira da ideia suicida.
 * * * 
Assim acontece, muitas vezes, com algumas almas infelizes. 
Arquitetam a própria morte por vingança, porque desejam ferir alguém. 
De outras vezes, porque sentem tanta dor que pensam que destruindo a vida, acabarão com a dor. 
Enfim, muitos motivos existem para a fuga enganosa pelo suicídio. 
Porém, de modo geral, aquele que isso planeja não pensa no coração de mãe que se despedaçará ao ter o corpo do filho morto nos braços. 
No coração do pai que sonhou tanta felicidade para aquele filho e agora lhe acompanha o corpo ao cemitério. 
Irmãos, primos, tios, avós, amigos, colegas, todos são envolvidos na tragédia. 
E, para alguns deles, o abalo será tão grande que demorará muito para se restabelecerem psiquicamente. 
 * * * 
Bom, graças a um professor que se dispôs a ouvir e a conversar, passados dez anos, o reencontro de ambos foi emocionante. 
Um era o velho mestre, à beira da aposentadoria, o outro um cirurgião cheio de planos, vigor e alegria de viver. 
O abraço de ambos foi longo e, com a voz embargada, o ainda jovem segredou ao ouvido do seu salvador: 
-Obrigado, professor, pela minha vida. Obrigado, por me recordar da gratidão que eu devia e deverei sempre aos que me acolheram como filho.
Redação do Momento Espírita, com base em fato. 
Em 17.11.2020.

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