Conta-se que, certo dia, um monge entrou em uma vila montado em um boi. Sua figura atraiu a curiosidade dos que cruzavam as mesmas ruas em que ele transitava.
Alguns se aproximaram e perguntaram para onde ele se dirigia, o que fazia naquela localidade. Sem se perturbar, respondia sempre:
-Estou à procura de um boi.
As pessoas se entreolhavam e não entendiam.
-Estaria o monge, pela idade que apresentava, com algum problema mental?
No dia seguinte, a cena se repetiu. Ele adentrou a aldeia, as perguntas se repetiram e a resposta foi a mesma: ele estava à procura de um boi.
Ao se reprisar tudo, no terceiro dia, alguns passantes não aguentaram mais tamanha tolice, e disseram:
-Por que o senhor entra em nossa vila, diz que está procurando um boi? Não percebe que está montando exatamente o animal que diz procurar?
Com serenidade, o monge, demonstrando sua sabedoria e seu senso psicológico, parou e fez a seguinte observação:
-Interessante. Vocês repararam na minha incoerência. No entanto, estou apenas agindo da mesma forma que vocês o fazem.
Procuram, todos os dias, a felicidade. Deixam suas casas, suas famílias, sua cidade natal procurando a felicidade em outras paragens.
Não se dão conta de que a felicidade está em sua intimidade, está dentro de cada um, bastando ser descoberta.
* * *
Quase sempre, agimos exatamente dessa forma. Almejamos a felicidade, a depositamos em coisas que ainda temos que conquistar: uma casa maior, um carro novo, a promoção e maior salário, uma viagem extraordinária, um grande amor...
Nesse afã, nos esquecemos de viver. E de olhar nosso entorno, de aproveitar o que temos e que é tão precioso.
Esquecemos de conviver com a família, de usufruir daquele tempo que estamos no lar.
Deixamos de nos extasiar com o sorriso do bebê, suas primeiras palavras, os primeiros passos.
Esquecemos de apreciar os dias de chuva e a bênção do sol.
Não nos damos conta da felicidade que é poder andar com os próprios pés, correr, ou simplesmente caminhar, na claridade das manhãs, respirando a plenos pulmões o ar perfumado que se oferece gratuito.
Não nos apercebemos da felicidade que é a possibilidade de nos alimentarmos, identificando, graças ao paladar, cada sabor específico.
Por tudo isso, por vivermos sem atentar para a fortuna que possuímos, é que comumente, quando a perda de qualquer dessas preciosidades se apresenta, dizemos:
-Eu era feliz e não sabia.
Poderíamos dizer:
-Eu era feliz e não me dera conta, não usufruí das tantas coisas maravilhosas que estavam ao meu alcance.
Por isso, antes que as joias raras se vão, que nossos amores partam, que nossa saúde se deteriore, que quaisquer possibilidades físicas e intelectuais se enfraqueçam, descubramos a felicidade de que somos portadores.
Não a coloquemos num futuro que não sabemos se alcançaremos.
Vivamos o hoje, intensamente, com o que temos, com o que somos, com quem nos encontremos.
A chuva caiu? O sol apareceu? O jardim floriu? O cão nos recebeu com alegria? Alguém nos abraçou?
Descubramos a felicidade em cada bênção divina, em cada minuto das nossas vidas.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita,
com lenda de autoria ignorada.
Em 21.3.2016.
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