segunda-feira, 31 de agosto de 2020

FALAR COM MODERAÇÃO

Wallace Leal Rodrigues
Você conseguiria distinguir se uma carroça está rodando cheia ou vazia, mesmo sem poder vê-la? 
Essa foi a lição que o pai deu ao filho, numa tarde quente de verão, na tranquilidade da pequena fazenda. Ele convidou o pequeno para ir ao bosque a fim de escutarem juntos o canto dos pássaros, no silêncio da mata. Após ouvirem por longo tempo a sinfonia dos pássaros, dirigiram-se para uma clareira e o pai perguntou ao filho: 
-Você está ouvindo alguma coisa além do canto dos pássaros? 
O filho apurou os ouvidos e depois de alguns segundos respondeu:
-Estou ouvindo o barulho de uma carroça que deve estar descendo pela estrada. 
Isso mesmo, disse o pai. 
-É uma carroça vazia. 
-Mas como é que o senhor sabe que está vazia se não a podemos ver? 
Perguntou o garoto intrigado. 
-Ora, filho, é muito fácil saber que uma carroça está vazia, e sabe por quê? 
-Não, respondeu o filho. 
O pai apoiou a mão no ombro do menino, olhou bem nos seus olhos e disse: 
-Podemos identificar que uma carroça está vazia pelo barulho que ela faz. Quanto mais vazia, mais barulhenta é. 
O garoto, que certamente falava demais e sem pensar muito, logo entendeu a lição e jamais esqueceu que, quanto mais vazia, mais barulho faz a carroça. 
* * * 
A lição daquele pai, certamente, serve para muitos adultos que costumam falar e falar, sem se dar conta que suas palavras são vazias tanto quanto sua própria intimidade. 
Há pessoas que são barulhentas, falam alto, gesticulam muito, não deixam ninguém falar e acabam ficando sozinhas. Na ânsia de disfarçar o vazio da alma, fazem muito barulho exterior, infelicitando-se e infelicitando os que as cercam. 
A arte de bem falar ainda é pouco conhecida de muitos de nós. E falar bem nunca significou falar muito, pelo contrário, o poder de síntese é qualidade dos sábios. Falar pouco e dizer muito é coisa que poucos sabem fazer. Mas, falar muito e dizer pouco, é um fato comum. Quem fala demais e diz o que não deve, acaba escravizado pelas próprias palavras que, uma vez ditas, não podem mais ser apagadas. Mas, enquanto nós não as dizemos, são nossas prisioneiras e temos sobre elas total domínio. Dessa forma, antes de proferirmos palavras ao vento, lembremo-nos de que podemos ser identificados pelo nosso modo de falar e pela quantidade e a qualidade das nossas palavras. 
Vale a pena lembrar, ainda, que a faculdade da fala nos foi dada por Deus para construir e edificar, evoluir e promover o crescimento dos outros. 
* * * 
Uma palavra gentil é como uma flor, que exala perfume e balsamiza quem a ouve. Uma palavra fraternal é como um raio de sol, que ilumina e aquece quem dela necessita. Uma palavra cordial é como suave brisa capaz de pacificar corações e aquietar almas em convulsões. E as palavras do Cristo são rotas luminosas, pão de sustento, água refrescante, bálsamo bendito para incontáveis corações... 
Redação do Momento Espírita com base no cap. A carroça, do livro E, para o resto da vida..., de Wallace Leal Rodrigues, ed. O clarim. 
Em 24.05.2010.

domingo, 30 de agosto de 2020

FALANDO SOBRE O AMOR

Você já sonhou em viver um grande amor? 
Daqueles que recheiam as histórias românticas e enchem o coração de suspiros? 
Já se imaginou vivendo um relacionamento que se assemelhasse a um mar de tranquilidade, sem desavenças, sem desentendimentos? 
É natural alimentarmos esses desejos e anelar apenas alegrias na relação a dois. Escolhemos com quem compartilhar a vida, e planos de venturas e sonhos de felicidade se fazem em nosso coração. Porém, quando nos envolvemos nas relações com o outro, não são poucas as dificuldades que surgem. Logo, as diferenças começam a se fazer aqui ou ali, começando a nos exigir virtudes que, quase sempre, não temos. Em algum momento precisaríamos mais paciência, mas não encontramos o suficiente em nós. Em outras situações, é um tanto mais de compreensão que seria necessária, e é justamente o que nos falta. Doutras vezes, seria preciso esquecer um pouco de nós, a fim de se dar ao outro. E nem nos apercebemos disso. Isso acontece porque trazemos muitas dificuldades em nosso mundo íntimo, sendo natural que elas influenciem nossos relacionamentos. Muitas vezes, mesmo havendo amor, ele ainda se faz limitado, com dificuldades em ser vivenciado de maneira mais tranquila e doce. Como trazemos nosso mundo íntimo deveras turbulento, turvado por outros tantos sentimentos, a vivência do amor se faz difícil. No entanto, nada disso deve ser motivo para desistirmos ou desanimarmos nesse desafio do relacionamento humano. As virtudes, que hoje não possuímos, virão na medida em que investirmos no seu exercício. As dificuldades do hoje se farão menores se insistirmos na conjugação de aprender a amar. O amor se consolida e se alicerça no relacionamento humano, enfrentando desafios e quando nos permitimos a oportunidade de vivê-los e superá-los. Muitos de nós, nas primeiras dificuldades, nos primeiros embates, concluímos que o amor acabou, que não adianta continuar a investir no relacionamento. Se a cada dificuldade que surgir, fizermos um movimento de abandoná-lo, não amadureceremos. Estaremos sempre na mesma medida, na mesma envergadura emocional. Não conquistaremos virtudes sem esforços próprios. Não superaremos nossas limitações sem a coragem de enfrentá-las. Dessa forma, na medida em que nos propusermos a aprender com os naturais embates que o relacionamento oferece, iremos colecionando, aqui e ali, contas de virtudes. Ao colecionarmos pequenas pérolas de paciência, de compreensão, de gentileza, de generosidade, ou de amizade, elas irão preenchendo nosso coração com os valores que nos faltam. Assim, nada melhor do que investirmos nos relacionamentos. Enfrentar pequenas dificuldades, com coragem e naturalidade. Logo mais, aquilo que parecia tão difícil, se tornará lição conquistada, e estaremos prontos para novos embates. Abandonar a ilusão de que os sentimentos nascem prontos nos confere lucidez na grande ventura da vida, entendendo que aprender a amar é o maior desafio que ela pode nos oferecer. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 15.8.2018.

sábado, 29 de agosto de 2020

FALANDO DE VIOLÊNCIAS

Violência é o ato de constranger física ou moralmente. 
É o uso da força. 
Na atualidade, muitos somos os que afirmamos temer a violência. Por isso mesmo, erguemos altos muros ao redor de nossas residências, tentando evitar que ela nos atinja. Contratamos seguranças para proteger nossas empresas e nossos lares. Instalamos equipamentos sofisticados que nos alertem da chegada de eventuais usurpadores dos nossos bens. Tememos o roubo, o furto, o constrangimento físico, a agressão. Resguardamo-nos da violência que vem de fora e pode nos atingir. 
No entanto, existe outro tipo de violência para a qual não atentamos. 
É a que reside em nós. 
É a violência da indiferença. 
Aquela que nos permite observar diariamente, pelos noticiários, as paisagens da fome, da miséria e prosseguirmos de braços cruzados. Sim, alguns de nós nos sensibilizamos, chegando às lágrimas, mas as manchetes seguintes nos desviam a atenção e tudo cai no esquecimento, quais notas apagadas e sem valor. Violência que nos faculta assistir, extremamente interessados, as notícias acerca da agressão sofrida por personalidade importante, ansiosos por detalhes e mais detalhes. Desejamos saber tudo e quanto maior for a violência para com a criatura, mais nos interessamos, pois afinal, depois, logo mais, iremos reprisar tudo para o colega, o vizinho, o amigo. E não nos recordamos de nos recolher à intimidade do coração para orar pelo agredido, pelos seus. 
À parte a fama, são gente como toda gente. 
Sofrem como todos, desde que a dor tem caráter universal e imparcial. Participamos ativamente ou assistimos impassíveis a programas em que o ser humano é exposto em toda sua nudez moral. Onde a problemática física ou de ordem íntima é levada a público como contos para diversão e lazer. Contudo, os envolvidos são seres humanos que sentem, sofrem, se angustiam. Violência de dentro, que alimentamos todos os dias, permitindo que ela se torne hidra voraz. 
Violência é a atitude com que destinamos velhos e enfermos difíceis a instituições, sem jamais nos interessarmos pelo seu bem-estar. Costumamos aliviar a consciência dizendo que não dispomos de tempo para os cuidados, pois trabalhamos em demasia. Pagamos para que os atendam, à distância, a fim de não lhes ouvir os queixumes e lamentações. 
E poderiam estar conosco! 
Se podemos dispor de recursos amoedados para os manter longe, por que não direcionar esses mesmos recursos a quem os possa cuidar, zelar, próximos de nós, sob nossos olhos vigilantes? 
Violência é o ato de mudez que elegemos para agredir o outro, no relacionamento doméstico, estabelecendo silêncios gélidos às interrogações afetuosas. 
É o filho que se fecha em si mesmo, não respondendo aos questionamentos do amor materno e paterno, como forma de agressão por não lhe concederem o que anseia. 
São os esposos que, entre si, contratam a mudez como símbolo do desconforto de viverem um ao lado do outro, como acorrentados sem remissão. 
Violência é a indiferença pelo bem-estar alheio, que nos faculta chegar ao lar, sermos servidos em tudo e sequer erguer os olhos para ver as rugas de preocupação, as lágrimas de dor no rosto macerado de quem nos serve. 
É levantar-se, comer, usufruir dos bens, deitar-se, sem contribuir em nada para a paz do lar. 
E bastaria sorrir, agradecer, quem sabe, abraçar quem padece a carência da nossa ternura. 
A violência de fora pode nos ferir e magoar. 
A violência de dentro, silenciosa, que aplicamos todos os dias, em nossos relacionamentos é igualmente perniciosa e destruidora.
Muitas enfermidades se aninham e evoluem gradualmente ou abruptamente, como resultado da própria violência íntima ou da de outrem, normalmente, afetos bem próximos. 
Mudez, indiferença, frieza. 
Violências que se reprisam, armas cruéis. 
Principiemos por alijar de nós a violência, exercitando o diálogo, o perdão, os bons sentimentos. E veremos, exatamente como no solo crestado pela invernia, rebentar em flores e verdura a primavera da paz, em nossos corações. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 12 e no livro Momento Espírita, v. 6, ed. FEP. 
Em 14.1.2014

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

FALANDO DE SEMENTES

Leonardo da Vinci
Conta-se que, certa vez, um corvo pegou uma noz e levou-a para o topo de um alto campanário, uma torre de sinos. Segurando-a com as patas, começou a bicá-la para abri-la. Porém, subitamente, a noz rolou para baixo e desapareceu numa fresta do muro. Percebendo que estava livre do bico do corvo, ela suplicou: 
-Muro, meu bom muro, pelo amor de Deus, que foi tão bom para você, fazendo-o alto e forte, e enriquecendo-o com esses belos sinos de tão belo som, salve-me, tenha pena de mim! Meu destino era cair entre os velhos ramos de meu pai, permanecer no rico solo coberto de folhas amarelas. Por favor, não me abandone! Quando eu estava sendo atacada pelo terrível bico daquele corvo feroz, fiz um voto. Prometi que se Deus me permitisse escapar, eu passaria o resto de minha vida dentro de uma frestinha... 
Os sinos, num doce murmúrio, avisaram o campanário que tomasse cuidado porque a noz podia ser perigosa. Afinal, era um corpo estranho em sua intimidade. Entretanto, o muro decidiu abrigá-la, deixando-a ficar onde havia caído. O tempo passou e a noz começou a abrir, depois estendeu suas raízes nas frestas da pedra. Não passou muito tempo, as raízes forçaram caminho por entre os blocos de pedra e surgiram galhos que saíam pela fresta. Os galhos cresceram, tornaram-se mais fortes e estenderam-se para o alto, acima do topo da torre. As raízes, grossas e enroscadas, começaram a fazer buracos nos muros, empurrando para fora todas as velhas pedras. O muro percebeu, tarde demais, que a humildade da noz e seu voto de ficar escondida numa fresta não eram sinceros. E arrependeu-se de não ter dado ouvido aos sinos. A nogueira continuou a crescer e o muro, o pobre muro, desmoronou e ruiu. 
* * * 
Em nossa vida, por vezes, aparecem algumas sementes que agem exatamente como a noz.
Parecem pequenas e inofensivas. No entanto, produzem grandes estragos. 
Falamos da semente da fofoca, que instala a discórdia e pode provocar o desmoronamento de uma amizade. 
Se for a semente do mau humor, vai estender as raízes da raiva e os galhos da irritação, que anda de braços dados com a violência. 
O ciúme é uma pequena semente que, se alimentada pela desconfiança, irrigada pela insegurança e aquecida pelo orgulho impulsivo, faz desmoronar uma família inteira. 
Entretanto, se aceitarmos na intimidade de nossos corações a semente da tolerância, veremos crescer a árvore da harmonia, que fará ruir os muros das separações afetivas. 
Se acolhermos a semente do espírito de cooperação com o próximo, esta vai dar vida à frondosa árvore da fraternidade, podendo abrigar em sua sombra, os que caminham sob o sol das necessidades variadas. 
Se permitirmos que a seleta semente do amor entre em nosso coração, por uma pequena fresta de boa vontade que seja, ela vai gerar tronco tão forte e galhos tão altos, que tocarão o céu, permitindo que os anjos da concórdia, da união fraterna, da paz, possam descer por seus galhos e, através de cada um de nós, possam servir ao próximo, em nome de Deus. 
Há sementes e sementes. 
Nosso coração é um só. 
Cabe a cada um de nós selecionar a semente que deseja permitir se torne árvore frondosa. 
Pensemos nisso e façamos a correta opção. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. A noz e o campanário, do livro Fábulas, de Leonardo da Vinci, ed. Melhoramentos. 
Em 12.2.2016.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

NOSSAS MURALHAS

Data dos anos 220 e 206 a.C. a construção da mais famosa muralha, pelo primeiro Imperador da China. 
No século VII a.C. outras tantas foram sendo construídas. 
Mais tarde, unidas e tornadas maiores e mais fortes, se tornaram a Grande Muralha da China, cujo objetivo era proteger os Estados e Impérios chineses das invasões dos nômades, principalmente os mongóis. 
Uma pesquisa arqueológica informa que a muralha completa, com todos os seus ramos, mede vinte e um mil quilômetros. É uma série de fortificações, feitas de pedra, tijolo, terra compactada, madeira e outros materiais. 
O muro da cidade de Jericó, que data de oito mil anos a.C., era igualmente um muro de defesa. 
No período medieval, multiplicaram-se as cidades protegidas por altos muros. Serviam como proteção contra ataques inimigos. Soldados permaneciam atentos, nas torres de vigia, para descobrir eventuais invasores, a longa distância. 
Dessa forma, nos acreditávamo-nos protegidos. Quanto mais fortes e altas as muralhas, mais segurança pensávamos ter. 
No entanto, o tempo e a História nos demonstraram como estávamos equivocados. 
A extensa Muralha da China, a partir do Século XVII, perdeu sua utilidade, com a expansão do território pelos manchus. Deixou de ser reconstruída, reformada. 
O livro bíblico de Josué, que substituiu o legislador Moisés, na liderança do povo hebreu, nos relata a queda dos muros de Jericó. E a consequente conquista da cidade. As muralhas de Jerusalém foram destruídas pelo menos três vezes. 
Todas as muralhas, originalmente construídas para proteger as cidades, perderam sua capacidade defensiva. Hoje se tornaram atrações turísticas. 
Aprendemos que era preciso abrir portões para as relações entre as nações. 
Aprendemos a importância da visitação pública, de gente de todos os recantos porque elas nos enriquecem, de várias formas.
O interessante nisso tudo é que abrimos portões nos muros fortificados para possibilitar a visitação, para o apreciar da paisagem, mas esquecemos de baixar nossos muros íntimos. Com isso, nos isolamos do mundo, das pessoas que consideramos indesejáveis, das que nos poderiam perturbar. Contudo, nos descobrimos sozinhos, mesmo andando em populosa cidade. É de nos indagarmos até quando continuaremos a erguer torres de vigia e estações de guarnição dentro de nós. Essa nossa postura se reflete em nossos atos. Como profissionais ou como voluntários, guardamos reservas com respeito aos colegas ou colaboradores. Isso nos dificulta trabalharmos em equipe, confiarmos no outro, unirmos forças para sermos mais fortes e eficazes, no que fazemos. Sobretudo nos dificulta abraçarmos a norma do Cristo de nos amarmos uns aos outros. Como faremos isso se nos fechamos em nós mesmos, olhamos o outro como inimigo, um eventual usurpador de algo que acreditamos possuir? 
Reflitamos se já não se faz presente a hora de estendermos as mãos, de nos tornarmos solidários, de acolhermos o outro. 
Hora de abrir as muralhas para o livre trânsito da amizade, da fraternidade, exercícios iniciais do amor. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 27.8.2020.

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

ILUMINAÇÃO DE CONSCIÊNCIAS

AMÉLIA RODRIGUES
E
DIVALDO PEREIRA FRANCO
Natanael Ben Elias, o paralítico de Cafarnaum, acabara de ser completamente curado por Jesus, voltando a andar. Todos estavam em festa, exceto o Mestre, que meditava seriamente. Simão, buscando romper o silêncio de Jesus, então pergunta: 
-Por que dizes que não te compreendemos, Rabi? Estamos todos tão felizes! 
-Simão, neste momento, enquanto consideras o reino de Deus pelo que viste, Natanael, com alegria infantil, comenta o acontecimento entre amigos embriagados e mulheres infelizes. Outros que recobraram o ânimo ou recuperaram a voz, entre exclamações de contentamento, precipitam-se nos despenhadeiros da insensatez, acarretando novos desequilíbrios, desta vez, irreversíveis. Não creias que a Boa Nova traga alegrias superficiais, dessas que o desencanto e o sofrimento facilmente apagam. O Filho do homem, por isso mesmo, não é um remendão irresponsável, que sobre tecidos velhos e gastos costura pedaços novos, danificando mais a parte rasgada com um dilaceramento maior. A mensagem do reino, mais do que uma promessa para o futuro, é uma realidade para o presente. Penetra o íntimo e dignifica, desvelando os painéis da vida em deslumbrantes cores... Eu sei, porém, que me não podeis entender, tu e eles, por enquanto. E assim será por algum tempo. Mais tarde, quando a dor produzir amadurecimento maior nos Espíritos, eu enviarei alguém em meu nome para dar prosseguimento ao serviço de iluminação de consciências. As sepulturas quebrarão o silêncio que guardam e vozes, em toda parte, clamarão, lecionando esperanças sob os auspícios de mil consolações. 
* * * 
Séculos se passaram depois destes dizeres preciosos. A dor amadureceu muitos corações desnorteados, e novamente a Humanidade suplicou a Jesus pela cura de suas mazelas. Os sepulcros foram rompidos. O silêncio dos aparentemente mortos foi quebrado, e os descobrimos vivos, imortais e reluzentes. Sim, as estrelas caíram dos céus. Estrelas de primeira grandeza espiritual se uniram em uma constelação admirável, e voltaram seu feixe de luz poderoso para a Terra. Os Espíritos falaram, ensinaram, provaram que a vida futura prometida por Jesus é real. A iluminação de consciências, proposta por Jesus, ganhou uma dimensão nova e maior. A mensagem do Cristo se faz novamente presente como uma proposta para o presente, para a renovação imediata, urgente. Na grande transição que o planeta atravessa, são eles, os missionários do Mestre, que semeiam a verdade em todos os povos. O amor volta a tomar seu lugar de evidência, nas propostas elevadas que são apresentadas aqui e acolá. Atiramos as roupas velhas no tempo, e vestimos a roupagem nova do espiritualismo, entendendo que a vida do Espírito, esta sim, é a verdadeira. O Consolador já está entre nós... 
Escutemo-lo! 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O paralítico de Cafarnaum, do livro As primícias do Reino, pelo Espírito Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 26.8.2020.

terça-feira, 25 de agosto de 2020

NEM SÓ DE PÃO...

RAUL TEIXEIRA
As palavras foram registradas pelo Evangelista Lucas e foram pronunciadas pelo Mestre de Nazaré. 
Em verdade, repetindo o que se encontra no livro bíblico do Antigo Testamento, Deuteronômio: 
-Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra de Deus. 
Nos dias que atravessamos, em que o isolamento social se impôs, voltamo-nos, quase todos, para a internet e buscamos as mais diversas plataformas para nos comunicarmos. 
Atividades presenciais nos templos religiosos foram substituídas por registros virtuais, em dias e horas preestabelecidos. 
Companheiros habituados a reuniões para estudo da Doutrina que abraçam, para as preces em conjunto, passaram a se encontrar, virtualmente. 
O que registramos é que o número de lives, reuniões virtuais, encontros, treinamentos têm crescido de forma assustadora, desde o início da pandemia. 
É comum ouvirmos pessoas afirmarem que se encontram em atividade virtual intensa, com as horas muito mais ocupadas do que quando atuavam presencialmente, no templo religioso. 
Consideramos que as ofertas virtuais são inúmeras. E falamos daquelas de boa qualidade, que oferecem conteúdos de estudo, de reflexão. São, verdadeiramente, períodos em que pelo celular ou pelo computador, nos ligamos ao Superior. 
Ouvimos palestra aqui, outra ali. Logo mais, um treinamento. E nossas horas vão sendo preenchidas. 
Com certeza, louvável o esforço empreendido pelos religiosos, por conferencistas de renome para nos oferecerem produtos de alto valor. No entanto, é importante nos indagarmos se não estamos apenas ouvindo, ouvindo e ouvindo, sem tempo para aprofundamentos pessoais. Parafraseando Jesus, pensemos que nem só de atividades virtuais devemos nutrir os nossos pensamentos. 
É muitíssimo importante que saibamos valorizar o livro, esse recurso que a vida nos deu e que a inteligência humana conseguiu fazer aflorar, desenvolver-se, permitindo que hoje o tenhamos, no mundo inteiro. O livro, impresso ou digital, não deve ser abandonado. É importante viajarmos pelas asas da literatura, sejam romances, livros épicos de ciências, de filosofia, livros religiosos, livros de lazer. 
Quando ouvimos, acompanhamos o pensamento alheio. 
Quando lemos, temos a oportunidade de realizar o mergulho no conteúdo, no nosso ritmo, na nossa velocidade mental. 
Dessa forma, guardemos um tempo para essa busca nas letras, inebriando a alma com versos de luz. Permitamo-nos viajar no tempo, no espaço, enquanto percorremos com os olhos, as linhas dos escritos. Deixemos repousar os olhos sobre uma frase que nos chama a atenção. Deliciemo-nos com a poesia dos versos, a harmonia das frases encadeadas, numa narrativa sem par. Livro. Sempre tesouro precioso. Encantemo-nos com as descobertas das sílabas que formam o universo da escrita. Ouçamos, assistamos todas as lives e todos os bons conteúdos. 
Mas, lembremos, não somente isso. 
Permitamo-nos um tempo para ler e reflexionar. 
Para ler e anotar. 
Para apreciarmos uma boa e profunda leitura. 
Redação do Momento Espírita, com base no programa televisivo Vida e Valores, O livro e a leitura, de Raul Teixeira, ed. FEP e citação do Evangelho de Lucas, cap. 4, vers. 4. 
Em 25.8.2020.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

FALANDO DE INGRATIDÃO

DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANA DE ÂNGELIS
É comum se ouvir falar de ingratidão. 
Amigos que depois de terem privado da maior intimidade, se voltam violentos, desejando destruir. 
Basta uma pequena contrariedade, uma questão política, um diverso ponto de vista religioso. 
Eis formada a querela. O distanciamento. 
Esquece-se de todos os benefícios recebidos. Dos abraços, das promessas, das alegrias repartidas e vividas em conjunto. 
Esse tipo de comportamento demonstra como o homem, embora se diga humano, muito necessita crescer para se considerar como verdadeiro participante da Humanidade. 
Recordamos de uma antiga lenda judia que fala de um homem condenado à morte e que ia ser apedrejado. Os carrascos lhe jogaram grandes pedras. O réu suportou o terrível castigo em silêncio. Nenhum grito. Na sua condição, compreendia que a desgraça havia caído sobre ele e que seus gritos de nada serviriam. Passou por ali um homem que havia sido seu amigo. Pegou uma pequena pedra e atirou na direção do condenado. Somente para demonstrar que não era do seu partido. O pobre condenado, atingido pela diminuta pedra, deu um grito estridente. O rei, que a tudo assistia, ordenou que um de seus lacaios perguntasse ao réu porque ele gritara quando atingido pela pequena pedra, depois de haver suportado sem se perturbar as grandes. O condenado respondeu: 
-As pedras grandes foram atiradas por homens que não me conhecem, por isso me calei. Mas o pequeno seixo foi jogado por um homem que foi meu companheiro e amigo. Por isso gritei. Lembrei de sua amizade nos tempos de minha felicidade. E agora vi sua felicidade quando me encontro na desgraça. 
O rei compadeceu-se e ordenou que o pusessem em liberdade, dizendo que mais culpado do que ele era aquele que abandonava o amigo na desgraça. 
A lenda nos dá a nota de quanto dói a ingratidão de um amigo. Naturalmente, quanto mais estimamos e confiamos em alguém, mais nos atormentará a sua traição. 
A sua ingratidão. 
É importante pois que examinemos nossas próprias ações, observando se não somos ingratos. Em especial com aqueles que estenderam a preciosidade da sua amizade, por longos e longos anos. Não sejam as notas distantes de algumas rusgas que nos permitam agredir, de forma cruel, os que ontem nos sustentaram nas lutas. Soubemos, há poucos dias, de uma aluna que, depois de ter recebido do seu mestre todo o apoio, em forma de ensino, livros, oportunidades de estágio, decidiu estabelecer uma questão judicial. Esquecida dos tantos benefícios, das longas horas de dedicação do antigo mestre, depois de um desentendimento em que se sentiu lesada, resolveu requerer vultosa quantia como pagamento pelas horas de trabalho ao lado dele. Olvidou o aprendizado, do quanto lhe devia por sua própria formação profissional. E mais: de quantas portas, graças à fama dele e experiência, se haviam aberto para ela. 
Ingratidão. 
Sentimento que somente floresce nos corações enfermiços. 
Moléstia do caráter que requer o remédio da compaixão. 
* * * 
Se alguém te retribui com a ingratidão o bem que doaste, não te entristeças. É melhor receber a ingratidão do que exercê-la em relação ao próximo. E se teu problema for de ingratidão dos filhos, guarda piedade para com eles e dá-lhes mais amor... Porque a ingratidão dos filhos para com os pais é dos mais graves enganos que se pode permitir ao Espírito, em sua marcha evolutiva. 
Redação do Momento Espírita com base na lenda judia Os amigos, do livro Lendas, fábulas e apólogos, ColeçãoAntologia da literatura mundial, v. 4, ed. Logos e no verbete Ingratidão, do livro Repositório de sabedoria, v. II, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. 
Em 28.08.2009.

domingo, 23 de agosto de 2020

FALANDO DE FÉ

Na pequena assembleia de gestantes assistidas pela instituição, naquela tarde fria de inverno, uma se destacava. 
Apresentava a barriga enorme, denunciando que logo mais daria à luz. E, contudo, mostrava sinais de inquietação no rosto. 
Terminada a aula breve e fraterna, a atendente, que descobrira os traços de angústia naquela companheira, se aproximou, buscando saber das razões. Foi então que a gestante lhe falou que nos próximos dias deveria ter o seu bebê e que estava apavorada. Durante todo o período da gestação se preparara para ter um parto normal. Entretanto, há quinze dias, o médico lhe informara, depois de uma ecografia, que seu bebê estava sentado e que somente poderia nascer através de uma cesariana, marcando até a data. Ela estava com muito medo. Tinha um terrível medo de cirurgia e, depois, ela desejava o parto normal, para poder atender mais cedo e melhor seus outros filhos menores. 
A atendente a abraçou e conversou com ela longamente. Recordou-lhe as lições que já haviam tido, ali mesmo, naquela instituição. Lições que falavam da fé e do poder da oração. Que ela tentasse a oração, que falasse com seu bebezinho, pedindo que ele mudasse a posição. Que falasse com Jesus, o Médico Divino, suplicando auxílio. 
A gestante olhou meio desconcertada e perguntou: 
-Mas será mesmo que dará resultado? 
-Vamos orar juntas, desde agora? 
Convidou a assistente. 
Naquele dia, quando se despediu para ir para casa, a gestante acariciou a barriga com carinho especial e sorriu, dizendo: 
-Eu vou tentar. 
Uma semana depois, ela precisou ser levada às pressas para a maternidade. Na madrugada, a bolsa se rompeu e ela entrou em trabalho de parto, antes da hora assinalada pelo médico para a cesariana. Ela teve medo. 
-E agora? O que iria acontecer? 
Chegando ao hospital, atendida de imediato, foi conduzida à sala de parto. Para surpresa do médico e alívio da mãezinha, o bebê já mostrava a cabecinha despontando, prestes a nascer. Entre risos e lágrimas de surpresa, gratidão e alívio, a gestante deu à luz a um belo garoto, por parto normal, sem dificuldades. 
* * * 
Nunca desacredites do amparo de Deus. Haja o que houver, permanece confiando. Se tudo estiver contra ti, se o insucesso te ameaçar com o desespero, ainda aí espera a Divina ajuda. A lei de Deus é de amor. E o amor tudo pode, tudo faz. Quando pensares que o socorro não te chegará em tempo, se continuares esperando, descobrirás, alegre, que ele te alcançou minutos antes do desastre. Ora, confia e não deixes de lutar. Deus vela por ti e guarda a tua vida. 
Redação do Momento Espírita, com base em fato narrado por voluntária do grupo de gestantes do Centro Espírita Ildefonso Correia (Curitiba/PR), em reunião de avaliação ocorrida em 15.06.2000 e com pensamentos finais colhidos no cap. CXIII, do livro Vida feliz, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.

sábado, 22 de agosto de 2020

NÃO SOMOS DIGNOS

Maria Helena Marcon
Em Cafarnaum havia um centurião, ou seja, o chefe de uma companhia de cem homens. 
Historiadores sugerem que seu nome seria Marcus Lucius. Ele se alistara nas poderosas legiões romanas e fizera carreira. Correto, disciplinado, estava habituado a ser saudado pelos soldados, quando passava com suas insígnias romanas. Ele representava o poder do Imperador Tibério César. 
Quando seu escravo adoeceu, ele se preocupou e providenciou tudo o que havia à disposição: ervas, filtros medicamentosos, médicos. Mas o escravo não melhorava. Uma noite, Marcus se lembrou de que ouvira falar de um Rabi que realizava curas extraordinárias. Então, ele enviou uma embaixada de judeus para que rogassem a Jesus lhe curasse o servo. No entanto, em vez de simplesmente pedir a cura, eles rogaram que o Mestre fosse à casa do oficial romano. Jesus se pôs a caminho. Os emissários foram à frente, para dar a notícia ao centurião. Assim que ele soube da vinda do Homem de Nazaré, se sensibilizou e se apressou a ir ao encontro dEle, dizendo-lhe: 
-Senhor, não te incomodes, porque não sou digno que entres sob o meu teto. Mandei emissários ao Teu encontro, porque também não me julgava digno de ir ter Contigo. Não é preciso que estejas na presença do enfermo. Tu és o Senhor das leis orgânicas que regem o corpo humano. Basta que dês uma ordem e a moléstia abandonará o corpo do meu escravo. 
* * * 
Nessa narrativa, desejamos nos deter nas palavras iniciais do centurião: 
-Não sou digno que entres sob o meu teto. 
Quantas vezes nos sentimos assim? 
Dispomo-nos à oração, num convite ostensivo a que Jesus venha estar conosco e nos sentimos indignos. Indignos de pronunciar as palavras, indignos da presença radiosa do Mestre. 
Somos cristãos, mas ainda há pouco tornamos a nos impacientar por coisa nenhuma. E elevamos a voz, ao chamar a atenção de alguém que realizou uma tarefa, de forma diversa da que pedimos. 
Ainda há pouco, nos irritamos no trânsito e dissemos, intimamente ao nosso irmão que seguisse... 
Naturalmente, não com as bênçãos celestes. 
Foi hoje que pronunciamos palavras menos dignas; que desejamos, mesmo que por breves segundos, que nosso opositor não fosse tão feliz em suas empreitadas. 
Raiva, inveja, desânimo. 
Tudo isso vivenciamos nas poucas horas deste dia. 
Como então, desejar que adentres, Senhor, a nossa casa mental, nosso coração? 
Como o centurião, não nos acreditamos dignos. No entanto, apiada-te de nós. Perdoa-nos mais uma vez. Aceita a nossa oração, o nosso propósito de nos ajustarmos, de melhorarmos. Desejamos ser bons. Contudo, somos ainda tão frágeis, que tornamos a errar no momento seguinte. Fortalece a nossa vontade, cura a nossa alma de tantas mazelas, como curaste a enfermidade daquele escravo. Abençoa nossa vida com Tua presença e perfuma nosso lar com Teu amor.
Vem, Jesus. 
Temos muitas saudades da Tua presença em nossas vidas. 
Sê conosco, hoje e sempre, para que venhamos a nos tornar um dia os Teus autênticos seguidores. 
Vem, Jesus. 
Redação do Momento Espírita, com dados históricos colhidos no cap. O poder e a fé, do livro Personagens da Boa Nova, de Maria Helena Marcon, ed. FEP. 
Em 22.8.2020.

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

FALANDO AOS PÁSSAROS

SÃO FRANCISCO DE ASSIS
Em tempos em que se fala a respeito de meio ambiente, ecologia, mundo sustentável, pensamos em quantas criaturas já nos exemplificaram a importância de viver em harmonia sobre o planeta. Mesmo porque nós, criaturas humanas, fazemos parte desse meio ambiente. Lembramos de Francisco de Assis que, no século XIII tinha cuidados extremos com os animais. Animais selvagens, maltratados por outras pessoas, costumavam fugir para junto dele. Em sua presença, encontravam refúgio. Frequentemente libertava cordeiros da ameaça da morte porque sentia compaixão. Chegava a retirar minhocas da estrada para que não fossem esmagadas pelos passantes. Ele chamava a todos os animais de irmãos e irmãs. Narram seus biógrafos, com leves alterações de forma e conteúdo que, certa feita, regressando a Assis, parou na estrada a uns dez quilômetros da cidade. Estava aborrecido com a indiferença de muita gente. Anunciou que provavelmente seria ouvido com mais respeito pelos pássaros. Ele viu uma multidão de pássaros reunidos: pombos, corvos e gralhas. Foi em sua direção, deixando seus companheiros na estrada. Quando estava bem perto das aves, saudou-as: Que o Senhor vos dê a paz. Surpreendeu-se porque os pássaros não voaram. Mexeram e viraram seus pescoços e ficaram ali, esperando. Cheio de alegria, Francisco lhes pediu que ouvissem as suas palavras. E discursou: 
-Meus irmãos pássaros, vocês devem louvar seu Criador. E amá-lO sempre. Ele lhes dá penas para vestir, asas para voar e tudo de que necessitam. Deus lhes dá um lar na pureza do ar. E, embora vocês não plantem, nem realizem colheitas, Ele mesmo os protege e cuida. Os pássaros abriram as asas e os bicos e continuaram olhando para ele.
Francisco passou por entre eles, indo e vindo, tocando suas cabeças e corpos com sua túnica. Ao finalizar sua fala, os abençoou e lhes deu permissão para que voassem a outro lugar. Alguns dirão que isso é lenda. Mas é de conhecimento geral que certos homens e mulheres possuem um vínculo singular com animais. Pessoas sem qualquer treinamento especial, muito frequentemente, parecem saber os gestos ou tons de voz que são tranquilizadores. E os animais sentem a simpatia, a delicadeza, a boa vontade e reagem a isso de maneiras consideradas, por vezes, maravilhosas. O que ressalta do fato é que com sua atitude, Francisco ensinava que todas as criaturas na Terra merecem respeito. Lecionava o amor pela natureza e que podemos estabelecer laços com todos os seres viventes. 
Pensemos nisso pois já aprendemos que tudo em a natureza se encadeia por elos que ainda não podemos apreender. E apoiemos, quanto possível, os movimentos e as organizações de proteção aos animais, através de atos de generosidade cristã e humana compreensão.
Lembremos: a luz do bem deve fulgir em todos os planos. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Oito (1209-1210) do livro Francisco de Assis, o santo relutante, de Donald Spoto, ed. Objetiva; no item 604 de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. FEB e no cap. 33, do livro Conduta Espírita, pelo Espírito André Luiz, psicografia de Waldo Vieira, ed. FEB. 
Em 19.7.2016.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

A VENTURA DE VIVER

A vida nos é dada para grandes coisas. 
Mesmo aqueles que nos acreditamos pessoas sem muita importância, trazemos a alta missão de progredirmos e sermos felizes. Para isso, recebemos um corpo. E nossa deve ser a gratidão a Jesus, o Governador do nosso planeta, que aqui nos permitiu renascer. Não importa qual seja o país ou as condições em que isso se deu.
Renascemos. Estamos aqui. 
E esta é uma oportunidade sem igual. Nossa deve ser a gratidão a um homem e uma mulher que disseram sim à paternidade e à maternidade. Mesmo que, eventualmente, não sejam ou não tenham sido os pais ideais, aqueles que gostaríamos, eles nos deram um corpo. Uma mulher nos carregou no ventre, nos gestou, alimentando-nos durante meses, a fim de que viéssemos à luz. Por isso, devemos ser gratos. Pelo corpo físico. Nossos pais. Promotores da vida. Cocriadores com Deus. Ao programarmos a nossa existência, aqui na Terra, cada um de nós, enquanto Espírito imortal, estabelecemos, junto com os Espíritos do bem, um plano geral de atuação. Alguns renascemos para missões específicas. São os que nos tornamos cientistas, pesquisadores nas mais variadas áreas. Damos ao mundo contributos valiosos. Descobrimos vacinas, medicamentos, tecnologias avançadas para melhorar a comunicação entre todos. Ou nos tornamos artistas, criando harmonias, com notas, com letras, abrilhantando o mundo, alimentando almas com sons e versos. Ou nos esmeramos na criação de formas para acrescentar mais belezas ao mundo. Atuamos no campo das artes plásticas, na arquitetura, na engenharia. Arrojados, unimos fronteiras com pontes extensas, que conquistam distâncias. Ou construímos arranha-céus, como se desejássemos escalar o infinito, chegando mais próximos de Deus. Quem sabe seremos o professor idealista que retira as mentes da noite da ignorância, ilustrando-as com a conquista do alfabeto e das sílabas. Talvez sejamos aquele pai generoso que se entrega ao trabalho árduo para que os filhos tenham o alimento, a vestimenta, o abrigo, a instrução preciosa. Uma mãe que aninha no peito o filho portador de deficiência, que o carrega porque ele não pode andar por si mesmo. Uma mãe que ama. Não importa o que sejamos. Todos somos importantes sobre esta Terra. Tomos temos nossa contribuição a dar para o mundo físico ou moral. Aqueles que nos tornamos semeadores de estrelas, benfeitores de uma comunidade, promotores de benefícios a nossos irmãos, podemos ter dilatado nosso tempo no planeta. Porque é importante a nossa atuação se estender um pouco mais. Porque o que estamos fazendo precisa ser consolidado. Vejamos na História quantos avançaram nos anos, promovendo o bem, semeando venturas: Vicente de Paulo, Frei Damião, Irmã Dulce, Madre Teresa de Calcutá, Francisco Cândido Xavier. Viver nesta Terra é uma honra. Atravessar os anos, em semeadura de bênçãos, é uma glória. Trabalhemos nesse sentido. Honremos os dias que nos são dados para grandes coisas. 
Podemos. 
Todos somos filhos do Pai Celeste, com talento de pomicultores, agricultores, benfeitores.
Indaguemo-nos: 
-Que podemos fazer de bom, hoje? 
 Redação do Momento Espírita. 
Em 20.8.2020.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

FALANDO AO OCEANO...

Algumas folhas de papel, caídas sobre a areia de uma praia pouco visitada, traziam as seguintes linhas: 
-Quando abraço o oceano com o olhar, volto a questionar milhões de coisas, tantas quanto as ondas que ganham a areia. 
Volto a questionar: 
-Como alguém pode sentir-se só na presença do mar? Na presença desta brisa incessante? Na companhia deste perfume raro?! Como ainda posso me sentir só, sabendo que os braços do invisível me abraçam, que aqueles que partiram continuam existindo, e que todos nós, sem exceção, somos amados por alguém!? Como ainda posso me sentir só? Talvez seja porque eu me isole do mundo, e seja exigente demais com as pessoas. Pode ser isso. Talvez seja porque eu não permita que os outros conheçam minha vida, meus sonhos, minhas dificuldades. Acho que há um pouco de orgulho nisso. Quem sabe seja porque eu procure a solidão, e não ela que me persiga, como eu imaginava. É... Talvez eu precise conversar mais com as pessoas, me interessar mais por suas vidas, ouvir. Há tempos que não ouço alguém; um desconhecido relatando os acontecimentos corriqueiros do dia a dia; um colega de trabalho falando das peripécias de seus filhos. Meus irmãos: há tempos não converso com eles sobre assuntos profundos, como planos para o futuro, lembranças boas do passado. É curioso, pois lembro-me de que há algumas semanas ouvi uma mensagem de cinco minutos, num programa de rádio, que falava sobre isso, sobre como as pessoas se isolam umas das outras, e do quanto isto é prejudicial para a saúde mental e física, já que uma é consequência da outra. O locutor dizia que quem ama não se sente só, pois está sempre se doando, se envolvendo com os corações mais próximos, na intenção de ajudar. Dizia ainda que, quando nos sentimos úteis, e concluímos que muitos dependem de nossa dedicação, de nosso amor, também esquecemos da solidão. Acredito que ele tenha razão, pois lembro que naquele dia fui visitar uns tios que não via há muito tempo, e aquela visita fez-me tão bem! Falamos de assuntos comuns, como notícias de televisão, notícias da família, mas ao final saí de lá menos tenso, menos preocupado com a solidão. Abracei minha tia, e a ouvi dizer, por entre lágrimas discretas: 
-Gostamos muito de você, viu? Venha mais vezes! Não é sempre que recebemos visitas! 
-Ela está certa. Não é sempre que recebemos visitas, pois não é sempre que visitamos os outros, creio eu. Naquela tarde, vi que poderia ser útil em pequenas coisas, e que aquilo me afastava um pouco da solidão. Dentro do carro, voltando para casa, observando o movimento intenso nas ruas, lembro de fazer estas mesmas perguntas: como pode alguém sentir-se só na presença de tanta gente, de tanta vida!? Quantos desses corações esperam apenas por uma visita? E quantos deles estão dispostos a fazer uma? E aqui está você, amigo oceano, à minha frente, ouvindo todas estas minhas divagações. Acho que foi sua presença, rei das águas, que me ajudou a entender melhor o que se passa em meu íntimo. Agradeço profundamente por sua companhia, por conseguir me ouvir, e por me dizer, mesmo sem falar, que o que preciso fazer é visitar mais o coração de meu próximo. Muito obrigado. 
Redação do Momento Espírita, com base em narrativa de autor ignorado pela equipe. 
Em 25.7.2019.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

AS FLORES VOLTARÃO

DIVALDO PEREIRA FRANCO
Uma suave melancolia canta uma balada. 
E essa música sinfônica da nostalgia, da saudade, nos alegra. Apesar da pandemia nos ter roubado a primavera, nossos corações estão florescendo, porque a nossa estação das flores está no mundo íntimo, independendo dos fatores do lado de fora. Aprendemos com Jesus Cristo que a alegria real é aquela que diz respeito à plenitude do mundo espiritual. Essa primavera nada, ninguém nos pode roubar. A pandemia passa e as flores voltarão a perfumar os bosques, voltarão a cantar as aves, a murmurar os córregos. E a vida em abundância irá repetir a inolvidável canção da gratidão. 
* * * 
Divaldo Pereira Franco, médium e orador espírita, finalizou com estas belas palavras o seu Roteiro Europa de palestras, edição 2020. Pela primeira vez, sem estar presente fisicamente nas atividades doutrinárias, essa alma de luz cumpriu sua missão no formato on-line. 
Alessandro Frezza
Divaldo utilizou todas as oportunidades para usar seu verbo seguro para acalmar os corações do mundo, tão ansiosos nos dias atuais. O orador fez menção a um trecho da obra Il capitano e il mozzo, do escritor italiano Alessandro Frezza, que descreve o diálogo entre um jovem e o capitão de um navio. Toda tripulação está retida no navio, devido à quarentena, e o jovem reclama da situação pela qual estão passando, em tom de desânimo. Diz que a pandemia estava fazendo com que ele perdesse muitas coisas. O capitão, com toda sua experiência de outras quarentenas, lembrando de uma outra ocasião em que fora obrigado a permanecer na embarcação, o esclarece: 
-Sim, naquele ano me privaram da primavera, e de muitas coisas mais, porém eu, mesmo assim, floresci. Levei a primavera dentro de mim, e ninguém, nunca mais, pôde tirá-la. 
* * * 
Estamos sendo privados de primaveras lá fora. Muitos ficamos privados da liberdade de ir e vir. Muitos não pudemos nos despedir de nossos amores, que partiram de forma repentina. São, realmente, duras provações. No entanto, tais experiências, quando enfrentadas com consciência, nos fortalecem muito. Fazem o trabalho de anos e anos de dias comuns. Que possamos entender que este é o mundo que habitamos, mundo das provas, das batalhas diárias, dos sacrifícios constantes. Ninguém nos prometeu o paraíso na Terra. Ninguém nos disse que seria fácil, porém, nos garantiram sim, que teríamos condições de superar, de vencer. A primavera interior é uma analogia perfeita. A vida nos ensinou que as estações devem ser cultivadas na alma e não do lado de fora. Voltamos os pensamentos para nós mesmos. Fomos convidados a refletir sobre questões graves, muito mais importantes do que as distrações que consumiam todas as nossas energias. Não nos assustemos diante do flagelo que nos alcança. Não estamos desamparados. Nunca estivemos. E, quando tudo tiver passado, olharemos para trás e nos haveremos de surpreender com tudo o que enfrentamos, com tudo que superamos. Confiemos, as flores voltarão.
Redação do Momento Espírita, com base em trecho de conferência proferida por Divaldo Franco, no encerramento do Roteiro Europa 2020, em 7.6.2020 e citação de frase da crônica O Moço e o Capitão, de Alessandro Frezza. 
Em 18.8.2020.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

CERTEZAS DA VIDA

Possivelmente já tenhamos ouvido a expressão: 
A única certeza que temos na vida é que vamos morrer. 
Esta frase nos fala da naturalidade do fenômeno da desencarnação, que acontecerá com todos, cedo ou tarde. Ela carrega um sentido de inevitabilidade pessimista, isto é, de que a única certeza que teríamos na existência terrestre seria de algo terrível. 
Precisamos rever esses conceitos. 
Primeiramente retirar da morte do corpo esse peso tão grande, esse fardo de fim definitivo que ela carrega.
Não há fim de tudo. 
Somente fim de uma etapa, de um capítulo do grande livro da existência de cada Espírito. 
Em segundo lugar, o que também é preocupante na expressão, é essa visão de que não temos certezas na vida. Essa mentalidade gera insegurança, medo, causadores de muitos dos transtornos psicológicos que jorram aos borbotões pelos consultórios especializados. 
Não, essa não é a única certeza que temos. 
Quando passamos a enxergar a existência e a nós mesmos, sob o ponto de vista espiritual, além da casca material, ganhamos muitas outras certezas. 
A certeza de que a encarnação é uma oportunidade sem igual de crescer, de aprender, de amadurecer a alma. 
A certeza de que o amor que cultivamos será colhido em algum momento, seja no hoje ou no amanhã. 
A certeza de que os laços de amor que criamos ou fortificamos permanecem conosco para sempre. Nada se perde. 
A certeza de que não há injustiçados nesse mundo, embora ainda haja tanta injustiça. 
A certeza de que há uma inteligência maior no leme, no comando de tudo e que não precisamos nos desesperar quando as coisas saem do nosso controle. 
A certeza da vida, antes da certeza da morte. 
A certeza de que cada minuto importa, de que cada dia é um tesouro inestimável.
* * * 
Ante a fragilidade da vida material, da vida do corpo, percebamos a resistência e a exuberância da vida da alma. Um vírus imperceptível pode nos fazer adoecer e pode nos levar a passar pelo umbral da morte a qualquer instante. No entanto, que isso não revele nossa fraqueza e sim nossa grandiosidade. 
Somos Espíritos e temos um corpo, lembrando de que esse que temos não traduz posse, pois não há propriedade absoluta no campo da materialidade. 
Somos Espíritos e essa essência só avança, não retrograda e não tem fim. Estamos aqui de passagem. A Terra é escola, é hospital, é campo de semeadura. Que possamos usar o tempo que temos para nos educar, para nos curar e para trabalhar sempre pelo bem. 
Não nos deixemos desanimar perante as crises, perante os momentos de sofrimento. São as provas escolares apenas, que se realizam a cada término de período letivo. Passemos bem pelas avaliações, sejamos alunos aplicados neste mundo de provas e expiações e logo poderemos merecer fazer parte de uma escola melhor, da escola da regeneração.
Esta é mais uma certeza que temos: de que a dor não dura para sempre e de que podemos ser hoje melhores do que fomos ontem. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 17.8.2020.

domingo, 16 de agosto de 2020

FALA-NOS DA DÁDIVA

Gibran Khalil Gibran
Tratando sobre o ato de dar, assim escreveu Gibran Khalil Gibran: 
-Então, um homem rico disse ao profeta: 
-“Fala-nos da dádiva!” 
E ele respondeu: 
-“Vós pouco dais quando dais de vossas posses. É quando dais de vós próprios que realmente dais. Pois, o que são vossas posses senão coisas que guardais por medo de precisardes delas amanhã? E amanhã, que trará o amanhã ao cão ultraprudente que enterra ossos na areia movediça enquanto segue os peregrinos para a cidade santa? Há os que dão pouco do muito que possuem, e fazem-no para serem elogiados, e seu desejo secreto desvaloriza suas dádivas. E há os que têm pouco e dão-no inteiramente. Esses confiam na vida e na generosidade da vida, e seus cofres nunca se esvaziam. E há os que dão com alegria, e essa alegria é sua recompensa. E há os que dão sem sentir pena nem buscar alegria e sem pensar na virtude. Dão como, no vale, a flor espalha sua fragrância no espaço. Pelas mãos de tais pessoas, Deus fala; e através de seus olhos, Ele sorri para o mundo. É belo dar quando solicitado; é mais belo, porém, dar sem ser solicitado, por haver apenas compreendido. E para os generosos, procurar quem recebe é uma alegria maior ainda que a de dar. E existe alguma coisa que possais guardar? Tudo que possuís será um dia dado. Dai agora, portanto, para que a época da dádiva seja vossa e não de vossos herdeiros. E vós que recebeis – e vós todos recebeis – não assumais nenhum encargo de gratidão a fim de não pordes um jugo sobre vós e vossos benfeitores. Antes, erguei-vos, junto com eles, sobre asas feitas de suas dádivas. Pois se ficardes demasiadamente preocupados com vossas dívidas, estareis duvidando da generosidade daquele que tem a terra liberal por mãe e Deus por pai. Dizeis muitas vezes: Eu daria, mas somente a quem merece. As árvores de vossos pomares não falam assim, nem os rebanhos de vossos pastos. Dão para continuar a viver, pois reter é perecer. Certamente, quem é digno de receber seus dias e suas noites é digno de receber de vós tudo o mais. E quem mereceu beber do oceano da vida, merece encher sua taça em vosso pequeno córrego. E que mérito maior haverá do que aquele que reside na coragem e na confiança, mais ainda, na caridade de receber? E quem sois vós para que os homens devam expor seu íntimo e desnudar seu orgulho a fim de que possais ver seu mérito despido e seu amor-próprio rebaixado? Procurai ver, primeiro, se mereceis ser doadores e instrumentos do dom. Pois, na verdade, é a vida que dá a vida, enquanto vós, que vos julgais doadores, sois simples testemunhas.” 
Redação do Momento Espírita com base no cap. A dádiva, do livro O profeta, de Gibran Khalil Gibran, ed. ACIGI. 
Em 5.6.2014.

sábado, 15 de agosto de 2020

MÃE SANTÍSSIMA

É sabido que as religiões cristãs reverenciam, com profunda gratidão, a figura ímpar de Maria de Nazaré. 
Sua elevação espiritual sempre foi tida como parâmetro maior, por ter recebido de Deus a missão de ser Mãe do Messias. Intimamente, trazia o compromisso de colaborar para que o Divino se fizesse Homem entre os homens. Aceitou a tarefa e cumpriu-a de maneira extraordinária. Quando a dor maior invadiu seu coração, na hora do martírio, exclamou: 
-Meu filho! Meu amado filho! 
E ouviu a resposta significativa, enquanto Jesus indicava o Apóstolo João: 
-Mãe, eis aí teu filho! Ela compreendeu que era o momento da renúncia maior da sua alma. Era a lição da família universal colocada em prática pelo filho amado que se fazia substituir pelo amigo querido. 
Maria! Alma santificada pela dor, pelo silêncio, pela renúncia, mas essencialmente pelo amor. 
 * * * 
Chico Xavier e Humberto Campos
A Doutrina Espírita, através da mediunidade responsável, tem permitido que nos cheguem relatos biográficos de Maria de Nazaré. Os autores espirituais buscam os dados originais nos arquivos fieis do mundo espiritual. Foi assim que o Espírito Humberto de Campos nos trouxe, através de Chico Xavier, informações mais detalhadas, além das contidas nos Evangelhos. Atendendo à promessa que fizera ao Mestre, aos pés da cruz, tão logo pôde, o Apóstolo João foi buscar Maria e a levou a Éfeso, onde residia. Ali, durante o dia, ele saía para cuidar de seus afazeres e da divulgação da Boa Nova, enquanto Maria passou a atender os caminhantes necessitados. Com o passar do tempo, aquela casa se tornou um ponto de referência para quem quisesse ouvir falar a respeito de Jesus. O Apóstolo Lucas, por orientação de Paulo de Tarso, foi até Éfeso. Seu objetivo era entrevistar a Mãe de Jesus, a fim de poder escrever a biografia do Mestre, segundo as suas lembranças. Idosos, doentes, mães infortunadas a buscavam para serem por ela abençoados. Sentia-se um pouco mãe daquelas criaturas sofridas, e lhes falava de Jesus e de Seus ensinamentos como uma mãe fala aos seus amores. Acalmava os corações sofridos com palavras amigas, onde se destacava um quase refrão: Isso também passa. Certa feita, um doente, sentindo alívio em suas chagas, ao beijar-lhe as mãos, murmurou:
-Senhora, sois a Mãe de nosso Mestre e a nossa Mãe Santíssima.
Desde então, a sua casa passou a ser conhecida como a casa da Mãe Santíssima. Um dia, em que a saudade do filho era muito grande, ela atendeu a um peregrino. Com mais intenso sentimento, ela falou daquele Jesus, que se fora da Terra, há alguns anos. E disse da sua imensa saudade. Então, o peregrino retirou o capuz, e com a voz que ela conhecia muito bem, disse: 
-Minha mãe! 
Ela se emocionou. O coração começou a bater mais forte. E ele completou: 
-Vim te buscar porque meu Pai quer que sejas, no meu reino, a rainha dos anjos! 
Naquela noite, João, retornando das atividades, lhe assistiu aos últimos momentos. Ela partiu, mansamente. E como uma estrela, de intenso brilho, adentrou a Espiritualidade. 
Redação do Momento Espírita, com base nos caps. 2 e 30, do livroBoa Nova, pelo Espírito Humberto de Campos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. 
Em 17.11.2018.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

CASCATA DO BEM

Comenta-se que gentileza gera gentileza e que os exemplos, mais do que as palavras, arrastam, convencem outros a reproduzi-los. Assim nos ensinou o Mestre Jesus, que exemplificou a sublimidade do amor. Aquela jovem recebeu um livro de presente, e de tudo o que leu, o que a marcou foram, especialmente, as considerações a respeito da gentileza. O autor, entre outras coisas, indagava em certo capítulo: 
-Você já pensou, alguma vez, em fazer algo diferente? Que tal pagar o pedágio para o carro que está atrás do seu? 
As semanas se sucederam e, fazendo uma viagem, enquanto aguardava, na fila do pedágio, ela se recordou daquele desafio. Resolveu experimentar. Atrás do seu carro, estava uma caminhonete e um senhor ao volante. Ela se dirigiu a ele e lhe disse: 
-Olhe, seu pedágio está pago. Já providenciei. Boa viagem. 
O motorista ficou parado, sem reação. Pouco depois, na estrada, ela foi alcançada por aquele veículo, que acabou emparelhando com o seu. O sexagenário lhe pediu para fornecer o número de seu telefone e sinalizou que havia anotado na memória. Meses se passaram. Ela recebeu uma ligação. Era aquele motorista, Mário. Disse que resolvera lhe telefonar para narrar algo surpreendente. Contou que, estando no pedágio, resolvera reprisar o gesto dela. Olhou e viu que atrás do seu carro, havia uma Kombi, com um casal. Foi até eles, disse o que fizera e desejou seguissem viagem, em paz. Para seu espanto, marido e mulher começaram a chorar. Disseram que estavam a caminho de São Paulo, para tentar conseguir um emprego. Haviam deixado na Bahia seus cinco filhos. Durante toda a viagem, vinham rogando a Deus que permitisse que eles conseguissem algo que lhes permitisse manter a família, e uni-los de novo. Então, o senhor Mário abriu um sorriso e falou: 
-Amigo, eu sou mestre de obras. Considere-se empregado. 
E, ali mesmo, ajustaram detalhes. Uma vida transformada. Sete bocas que passaram a ter uma alimentação, sete corpos que passaram a ter um teto para abrigá-los. Tudo por causa de um simples ato de gentileza.
* * * 
O que você está pensando agora? Que tudo não passa de uma grande coincidência? Será mesmo? O que fez que, justamente naquele dia, naquele momento, se lembrasse Mário de repetir o gesto recebido tanto tempo antes? 
Em verdade, Deus é um grande promotor de coincidências. Dessas que salvam vidas, que espalham esperança. Ele se serve de pessoas que têm o coração aberto a fazer um gesto, pequeno que seja, em favor do outro. E gentileza não somente gera gentileza. Ela transforma panoramas de tristeza em esperança, lágrimas em sorrisos. 
Gandhi afirmava que se um único homem atingisse a plenitude do amor, neutralizaria o ódio de milhões. 
Tudo começa com algo simples. Uma gentileza. Um favor. Uma delicadeza. E o bem jorra como uma cascata, dessas que se lançam de grandes alturas, em beleza sem par, criando aquela névoa fina, embelezando a paisagem ao redor. Antes mesmo de alcançar o seu destino, lá embaixo, ela já beneficiou outros pelo caminho. 
Cascata do bem. 
Sejamos as gotas que a compõem, pequenas, generosas, importantes.
Redação do Momento Espírita, com base em depoimento colhido na internet. 
Em 14.8.2020.

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

A FAIXA PRETA

Alexandre Rangel
Depois de incansáveis anos de treinamento, um disciplinado aluno de artes marciais viu-se diante do mestre para receber a faixa preta.
-“Antes que lhe dê a faixa você terá de passar por um outro teste”, avisou o mestre. 
-“Estou pronto.” Respondeu o aluno. 
-“Você precisa responder a uma pergunta essencial. Qual é o verdadeiro significado da faixa preta?” 
O jovem respirou fundo e disse: 
-“Ela representa o fim de minha jornada. Será uma recompensa merecida por meu bom trabalho.” 
O mestre esperou um pouco. O jovem percebeu que o professor não estava satisfeito. O silêncio que constrangia o jovem foi quebrado por novas palavras do mestre: 
-“Você não está pronto para receber a faixa preta. Volte daqui um ano.” 
Desapontado o aluno partiu. Um ano depois, ajoelhou-se novamente na frente do mestre. 
-“Qual é o verdadeiro significado da faixa preta?” – repetiu a pergunta o professor. 
-“É o símbolo da excelência e o nível mais alto que se pode atingir em nossa arte”, respondeu o jovem. 
O mestre permaneceu em silêncio. O aluno percebeu que outra vez sua resposta não fora satisfatória. Por fim, disse o professor:
-“Você ainda não está pronto para a faixa preta. Volte daqui a um ano.” 
Resignado o aluno partiu. Um ano depois voltou a ajoelhar-se diante do mestre. Mais uma vez foi-lhe feita a pergunta: 
“Qual é o verdadeiro significado da faixa preta?” 
O aluno respirou fundo e respondeu: 
-“A faixa preta representa o começo. É o início de uma jornada sem fim de disciplina, trabalho e busca por um padrão cada vez mais alto.” 
O mestre sorriu e disse: 
-“Agora você está pronto para receber a faixa preta e iniciar o seu trabalho.” 
Estamos a caminho. Muito já percorremos. Muito já foi vencido. Quando olhamos para trás vemos os vales extensos. Os rios de correnteza inclemente. Os desfiladeiros traiçoeiros. Pântanos sombrios. São paisagens passadas. Situações superadas. Também havia na jornada campos floridos. Praias de areia alva. Árvores frondosas a oferecer-nos sombra e abrigo. São paisagens passadas. Momentos que nos enchem de saudade. Estamos a caminho. Quando olhamos para frente vemos cenários novos. Grandes surpresas nos aguardam nas curvas das estradas. Grandes dores também esperam por nós. São tantas as trilhas que se apresentam. Cada qual com uma característica especial. Algumas prometem facilidades e alegrias fugazes. Escondem armadilhas em recantos com aparência inofensiva. Outras mostram-se árduas desde o início, mas compensam os viajantes persistentes com vastos oásis de consolo e amparo. Cada estrada apresenta riscos e prêmios. Todas, porém, levam a um destino único. O tempo de viagem depende da disposição de cada peregrino. Há muito a percorrer. Estamos, ainda, a caminho. 
Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no livro As mais belas parábolas de todos os tempos, vol. II, pp. 262/263, Editora Leitura, 4ª edição, organizado por Alexandre Rangel.

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

HÁ FLORES NO OUTONO

A primavera é a estação das flores, do renascimento, da renovação. Tudo volta a desabrochar após o frio inverno. 
Certamente já ouvimos alguma dessas expressões. 
Também ouvimos que o outono é a estação das folhas que caem, deixando as árvores quase desnudas, preparando-se para a temporada invernal que logo chegará. As verdes folhas como que desaparecem. Em muitos casos mudam de cor antes de pousarem no chão. O frio dá os primeiros sinais, como que nos preparando para uma experiência difícil que virá adiante. Outono é sinônimo de nostalgia, de recolhimento, de vento que despedaça ou desfolha. 
No entanto, talvez essas sejam impressões apressadas, dos que olhamos apenas a superfície ou aceitamos facilmente os rótulos limitadores. 
Olhemos com atenção para o outono e veremos que a estação é repleta de cores, de júbilos. Também de flores. Sim, há flores no outono, flores que persistem ou mesmo que nascem apenas nessa época. O tempo seco, os dias de sol resplandecente, permitem que encontremos na natureza diversas cores pintando a tela fria dos dias. Dizer que no outono, ou mesmo no inverno, não há flores, é julgamento precipitado, de quem não tem olhos de ver. 
Percebamos as flores das estações frias. 
Notemos, mesmo nos dias penosos, o desabrochar de tantas oportunidades, de tantas florescências que insistem em resistir aos ventos gelados das estações. Deus nunca nos deixa sem jardins, nunca nos deixa sem cores. Se algumas árvores se despedaçam, se desfolham à nossa frente, logo ali adiante, outras se pintam de mil tons para nos encantar. 
 * * * 
Próximo a uma situação dolorosa podemos encontrar oportunidades de crescimento. Por vezes, no mesmo jardim das flores despetaladas pelas rajadas frias da vida, encontramos outras que insistem, que estão preparadas para as ventanias, e que sabem florir mesmo assim. 
Não aceitemos a dor como castigo, desprendamo-nos desse conceito arcaico que tanto tem nos assustado e imobilizado diante das provas da existência. A dor é lição, é aprendizado, é remédio para esta ou aquela área da alma que ainda precisa de atenção, precisa ser curada. Notemos, no entanto, que junto do remédio amargo, sempre há um afago, um consolo, um gesto de carinho do médico que nos cuidou. 
É assim que funciona no reino de amor de nosso Criador. Um Pai cuidadoso, que através de Sua Providência não nos deixa sós, não nos deixa sem flores nas estações congelantes. Confiemos, porfiemos, e não deixemos de notar as florescências tão belas que a natureza tem a oferecer todos os dias. Se tivermos olhos de ver, perceberemos que, ao lado de uma árvore que perde as folhas, há uma outra sorrindo em flores para nós. 
* * * 
As flores do outono nasceram para resistir ao vento que as castigam. 
As flores do outono suportam a estiagem e a falta de atenção. 
As flores do outono nos ensinam a viver, a suportar, e apesar de tudo, florescer. 
Redação do Momento Espírita 
Em 12.8.2020