sábado, 18 de janeiro de 2020

A ESSÊNCIA DA COMPAIXÃO

RUBEN ALVES
Numa mesa de almoço, um avô percebe que a neta de onze anos está calada. Subitamente, ela desaba a chorar e se dirige para outro aposento da casa. O avô, intrigado, segue a neta querida, que já se sentava sobre o sofá da sala com a cabeça baixa. 
-O que foi, minha querida? O que aconteceu? 
-Vovô, quando vejo uma pessoa sofrendo eu sofro também. O meu coração fica junto ao coração dela... 
O avô compreendeu que ela chorava porque se lembrava de alguém que estava sofrendo. A menina, de pouco mais de uma década de vida, descobria ali a essência da compaixão. 
FERNANDO PESSOA
Fernando Pessoa, através de Ricardo Reais, diz assim: 
- Aquele arbusto fenece, e vai com ele parte da minha vida. Em tudo quanto olhei fiquei em parte. Nem distingue a memória do que vi, do que fui. Aqui se encontra uma das marcas da nossa humanidade. 
Proclama Ruben Alves. 
-Vejo algo fora de mim. Mas os meus olhos trazem o que está fora para dentro de mim. Aquele arbusto - ora, aquele arbusto... Vegetal, nada tem a ver com o poeta. Mas os meus olhos o veem e percebem que ele está fenecendo. Sou movido por uma imensa e irracional compaixão. Recolho o arbusto que fenece dentro de mim. E eu feneço também. 
 * * * 
A compaixão tem tal poder, e por isso é agente supremo do amor na Terra. É através dela, inicialmente, que a caridade poderá se manifestar. Precisamos estar no lugar do outro, sentir o que ele sente, e esse sentimento provocar em nós a urgência da ação. A compaixão é diferente da pena. A pena é estática, distante, não exige envolvimento com o outro. A compaixão, por sua vez, é dinâmica, proativa, e implica no envolvimento profundo com a vida alheia. Em tudo quanto olha, ela fica em parte, sim. Em tudo quanto olha, ela se identifica, pois não consegue se ver sozinha neste mundo. Ela enxerga muito mais o nós do que o eu. É ela que está salvando este mundo. É ela que está acelerando a mudança para o bem que vem se operando na Humanidade nos últimos tempos. É a agente da regeneração. Irmã bendita da caridade. Sem ela a insensibilidade toma conta, congela, paralisa. Sem ela somos apenas instinto de sobrevivência, sem sentimento algum. Sem ela, estagnamos a evolução individual, pois sem envolvimento com o ser coletivo, o crescimento pessoal é limitado. Compaixão... Tenhamos hoje esta virtude como meta. Como anda o desenvolvimento dela em seu coração? O que você pode fazer para colocá-la em prática hoje? As oportunidades virão. Precisamos estar prontos para ela. Sejamos agentes de transformação do mundo, de braços dados com a compaixão, sempre.
Redação do Momento Espírita com trecho do cap. 33, do livro O sapo que queria ser príncipe, de Ruben Alves, ed. Planeta. 
Em 14.07.2009.

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