RUBEN ALVES |
Numa mesa de almoço, um avô percebe que a neta de onze anos está calada.
Subitamente, ela desaba a chorar e se dirige para outro aposento da casa.
O avô, intrigado, segue a neta querida, que já se sentava sobre o sofá da sala com a cabeça baixa.
-O que foi, minha querida? O que aconteceu?
-Vovô, quando vejo uma pessoa sofrendo eu sofro também. O meu coração fica junto ao coração dela...
O avô compreendeu que ela chorava porque se lembrava de alguém que estava sofrendo.
A menina, de pouco mais de uma década de vida, descobria ali a essência da compaixão.
FERNANDO PESSOA |
Fernando Pessoa, através de Ricardo Reais, diz assim:
- Aquele arbusto fenece, e vai com ele parte da minha vida. Em tudo quanto olhei fiquei em parte. Nem distingue a memória do que vi, do que fui.
Aqui se encontra uma das marcas da nossa humanidade.
Proclama Ruben Alves.
-Vejo algo fora de mim. Mas os meus olhos trazem o que está fora para dentro de mim. Aquele arbusto - ora, aquele arbusto... Vegetal, nada tem a ver com o poeta. Mas os meus olhos o veem e percebem que ele está fenecendo.
Sou movido por uma imensa e irracional compaixão. Recolho o arbusto que fenece dentro de mim. E eu feneço também.
* * *
A compaixão tem tal poder, e por isso é agente supremo do amor na Terra. É através dela, inicialmente, que a caridade poderá se manifestar.
Precisamos estar no lugar do outro, sentir o que ele sente, e esse sentimento provocar em nós a urgência da ação.
A compaixão é diferente da pena. A pena é estática, distante, não exige envolvimento com o outro.
A compaixão, por sua vez, é dinâmica, proativa, e implica no envolvimento profundo com a vida alheia.
Em tudo quanto olha, ela fica em parte, sim.
Em tudo quanto olha, ela se identifica, pois não consegue se ver sozinha neste mundo. Ela enxerga muito mais o nós do que o eu.
É ela que está salvando este mundo. É ela que está acelerando a mudança para o bem que vem se operando na Humanidade nos últimos tempos.
É a agente da regeneração. Irmã bendita da caridade.
Sem ela a insensibilidade toma conta, congela, paralisa.
Sem ela somos apenas instinto de sobrevivência, sem sentimento algum.
Sem ela, estagnamos a evolução individual, pois sem envolvimento com o ser coletivo, o crescimento pessoal é limitado.
Compaixão... Tenhamos hoje esta virtude como meta.
Como anda o desenvolvimento dela em seu coração?
O que você pode fazer para colocá-la em prática hoje?
As oportunidades virão. Precisamos estar prontos para ela.
Sejamos agentes de transformação do mundo, de braços dados com a compaixão, sempre.
Redação do Momento Espírita com trecho do cap. 33, do livro
O sapo que queria ser príncipe, de Ruben Alves, ed. Planeta.
Em 14.07.2009.
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