quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

ESQUECER PARA APRENDER

Fernando Pessoa, o brilhante poeta português, escreveu certa feita:  
-Procuro despir-me do que aprendi. Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desencaixotar minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me, e ser eu. 
O poeta, na ânsia de entender os porquês da vida, percebia que muito do que nos falam, ensinam, mostram, funciona, aos poucos, como camadas de tintas, a nos encobrir, a nos moldar. Quantas vezes ouvimos nos dizerem: emprego bom é emprego que paga bem, tentando nos convencer que o valor do salário deva ser a preocupação número um na nossa vida profissional. Outras tantas pessoas insistem em afirmar que importante é ter, possuir, gozar a vida naquilo que brilha aos olhos. Há ainda, os que vivem pautados no egoísmo e auto-centrismo, cuidando para que tudo, a princípio, seja deles para, em segundo momento, ser para eles, e em um terceiro momento, para os seus, jamais pensando no próximo ou na sociedade. Frente a tantas camadas de tintas que insistem em nos pintar, há que se perguntar: 
-Por quais valores devo me pautar? Como viver? Qual a melhor bússola para me guiar? 
Inevitável, para responder a essas perguntas, lembrarmo-nos de quem somos, de onde viemos e para onde vamos. É inevitável esquecer que somos apenas um corpo material, que vivemos apenas essa existência, e que todas as nossas experiências estão restritas entre o berço e o túmulo de uma única vida. Há que se aprender que somos Espíritos eternos. E para aprender de um lado, há que se esquecer do outro.
Como nos ensina o educador Rubem Alves, toda aprendizagem produz esquecimento. Assim, esqueça que lhe ensinaram que você está aqui a passeio. Esqueça que lhe fazem crer que esta é sua única experiência. Esqueça que insistem em lhe convencer que as coisas acontecem por mero acaso, sem uma ordem Divina.
* * * 
É necessário esquecer essas ilusões que vivemos, para aprender que somos Espíritos imortais, rumando à perfeição, construindo passo a passo nossa estrada redentora de auto-iluminação. É necessário esquecer as ilusões que os sentidos e a memória nos provocam, achando que nada houve antes do nosso nascimento. É necessário aprender que trazemos na nossa bagagem emocional e intelectual todas nossas conquistas, felizes e infelizes, frutos de nossas próprias opções, sendo, cada um de nós, herdeiro de si mesmo. Nesse exercício de esquecimento dessas ilusões, iremos aos poucos raspando a tinta com que nos pintaram os sentidos, iremos desencaixotando nossas emoções verdadeiras, desembrulhando-nos para, efetivamente, vivermos como Espíritos imortais. Viveremos como quem não pertence à Terra, muito embora aqui estagie por um período, entendendo que aqui estamos para aprender as coisas de Deus. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 07.10.2009.

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