sábado, 31 de agosto de 2019

ESCOLAS OU PRESÍDIOS?

A história daquele jovem de 18 anos, não é diferente das histórias de muitos jovens pobres dessa idade, em nosso país e nos demais países subdesenvolvidos. Ele estava ali, contra o muro, ao lado do carro roubado, em frente às câmeras e ao repórter que fazia a matéria para levar ao ar num desses programas de TV que exploram as misérias humanas. O jovem estava vestido com visível pobreza. Camiseta, bermuda e “chinelo de dedo”. Em pé, com as costas no muro, ele apertava as pálpebras para evitar que as lágrimas caíssem, mas elas brotavam, teimosas, e rolavam pelo seu rosto amedrontado, apavorado, indefeso. Ele não havia roubado o carro, era apenas o entregador. Perseguido pela polícia, na curva de um viaduto ele perdeu a direção do veículo e se chocou contra a murada. Agora estava ali, com as mãos algemadas e rodeado por policiais e pelos repórteres. O outro garoto que estava com ele no carro no momento do acidente não era focalizado, já que era menor de idade. O repórter, que sabia parte da história, perguntou ao jovem, desejando saber mais sobre o assunto: 
-“Sabemos que você não roubou esse veículo, mas poderia dizer para onde iria levá-lo?” 
E a resposta do jovem: 
-“Nóis não sabe. Nóis tava levando o carro e alguém ia informá pra nóis o que era pra fazê.” 
Não havia dúvida... Estava ali a prova da nossa falência, como sociedade, dita civilizada. Todos nós, brasileiros, somos responsáveis pelo que aconteceu com aquele jovem e com os demais jovens e crianças do nosso país. Sim, ele, como os demais, é um dos filhos da nossa pátria, e, portanto, responsabilidade nossa. Quando não se constroem escolas, é preciso construir presídios para segregar os delinquentes, que não tiveram acesso às letras. Sem dúvida que o acesso à escola não é garantia de honestidade, e disso temos provas diariamente. No entanto, a falta de escola tem sido a grande responsável pela delinquência de nossas crianças, adolescentes e jovens. E esse era o caso daquele garoto, que ainda trazia no rosto o semblante da inocência, da fragilidade, da insegurança, do abandono social. Não havia dúvida de que era fruto da miséria, filho de pais que também não tiveram acesso à escola, ou talvez nem tivesse pais. Pelas necessidades que portava, foi usado por alguma quadrilha de ladrões de carros. Para ganhar alguns trocados e sobreviver, arriscava a própria vida. Talvez você esteja se perguntando:
-“E o que eu tenho a ver com isso? Isso é problema dos governantes.” 
Mas a própria consciência lhe pergunta:
-“E se fosse seu filho, seu irmão, seu neto, seu sobrinho?” 
É preciso, não há dúvida, socorrer a infância, construir escolas, criar condições de acesso das crianças ao estudo, à alimentação, à moradia, à segurança. Ou, então, não restará outra opção a não ser construir presídios e mais presídios... E vale considerar que os custos de manutenção de um detento, em nosso país, é muito, mas muito maior do que os custos de um aluno na escola. Além disso, o cárcere tem outros tantos prejuízos para o indivíduo e para a sociedade, que não deixa dúvida que a escola é a melhor e mais barata das alternativas. E a decisão, como sempre, é nossa. 
Pensemos nisso! 
TC 08/09/2006 Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita com base em fatos reais.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

PARA ALÉM DAS APARÊNCIAS

Rachel Naomi Remen
Quando a médica entrou no avião, percebeu que aquela não seria uma viagem tranquila. Ele estava praticamente tomado por pais e filhos que voltavam de um torneio de beisebol para crianças de sete anos. Os meninos estavam eufóricos, gritando, gesticulando, porque tinham conquistado o segundo lugar. Rachel imaginou como seriam incômodas as horas de voo, em meio a tanto barulho. Ler ou escrever, tentar se concentrar era mesmo algo impensável. Ao seu lado se sentou uma senhora, com um garotinho de uns dois anos, que estava profundamente irritado. E fazia questão que todos soubessem do seu protesto, através dos seus gritos. A médica tentou trocar de lugar, mas o avião estava lotado. Sem chance. Teria que se conformar com a algazarra e aguentar aquele pequeno, ao seu lado. Afinal, depois de algum tempo, ele foi se sentar com outro menino, participando das brincadeiras barulhentas. Então, Rachel resolveu entabular conversa com a senhora, indagando a respeito da liga de beisebol. Ela lhe falou das inúmeras horas em que trabalhava encorajando as crianças, o esforço para conseguir fundos para as viagens para as competições e compra de material. Estava ali com dois dos seus quatro filhos, um deles participando dos jogos. Dizia que, no seu bairro, muitos meninos tinham sido mortos ou presos, vítimas das drogas e da violência. Acreditava que mantê-los ligados ao beisebol era o seguro de vida que ela queria para os seus e os filhos alheios. Afirmava que não bastava ter filhos, era preciso zelar por eles. Um sentimento de respeito começou a invadir a médica. Contudo, chegou a sua vez de dizer o que fazia da própria vida. Quando informou que era oncologista, trabalhando com pacientes terminais de câncer, o rosto daquela mãe foi tomado por uma nuvem de tristeza. Contou que sua vizinha, sem marido e com quatro filhos pequenos, tinha sido diagnosticada com câncer, há seis meses. Narrou como o tratamento com a quimioterapia a deixava debilitada, ao ponto de não poder sair da cama, em muitos dias. E foi dando detalhes e mais detalhes de como a sua vizinha passava mal, com enjoos, não conseguindo se alimentar. Discorreu a respeito dos medos e dos pesadelos que atormentavam aquele coração. Rachel ficou curiosa. Como ela sabia de tantos pormenores da vida da sua vizinha? Eram detalhes, alguns até muito íntimos. A resposta que ouviu a deixou perplexa. Quando a tragédia visitou a casa ao lado da sua, aquela mulher simplesmente levou a vizinha e seus quatro filhos para o seu próprio lar. Estavam lá há cinco meses. Entretanto, e o que mais impressionou a médica foi olhar para aquele rosto, que não traduzia martírio, nem orgulho. Falava de forma simples, como se o que estivesse fazendo fosse a coisa mais natural do mundo: assumir a vida de cinco pessoas, além dos seus tantos compromissos como mãe. Seu rosto transparecia serenidade. Então Rachel tomou de um pequeno caderno e anotou, entre a emoção e o respeito: 
-O ato de enxergar pode transformar a pessoa que vê. Também a nossa visão para o resto da vida.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Enxergando a semente de Buda, do livro As bênçãos do meu avô, de Rachel Naomi Remen, ed. Sextante. 
Em 30.8.2019.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

O MAIS DIFÍCIL

 Mutsuhiro Watanabe e Louis Zamperini 
O Terceiro Milênio, que nos chegou com tantas cores de alegria, avança. Os meses se transformaram em anos e o que o mundo nos oferece, de um modo geral, é ainda um quadro de quase desolação. As reportagens nos mostram vinganças que resultam em mortes ou agressões violentas. Muitos filmes nos apresentam o homem presumidamente bom, que se transforma, de um momento para o outro, em um perseguidor assassino dos agressores dos seus amores. É de nos perguntarmos para onde caminhamos, nós, essa Humanidade que aguarda o mundo de paz. Adotamos facilmente a retribuição do mal pelo mal. A lição ensinada pelo Mestre de Nazaré permanece esquecida. No entanto, homens de valor dão testemunho inconteste de que temos a capacidade de perdoar. E que o perdão beneficia a quem o dá e a quem o recebe. Recordamos do atleta olímpico e capitão da Força Aérea Americana, que lutou na Segunda Guerra Mundial. Louis Zamperini, em maio de 1943, foi convocado para uma missão de busca de um avião desaparecido. Seu próprio avião sofreu problema nos dois motores e caiu no mar. Da equipe de dez homens, somente três sobreviveram e ficaram à deriva em dois botes salva-vidas. Por fim, restaram somente Louis e Russen Allen Phil. Foram quarenta e sete dias no mar para serem, finalmente, resgatados pelos japoneses e levados para a Ilha da Execução. Foi submetido a experimentos médicos, torturas e mostrado como se fosse um animal raro em uma jaula. A fome era uma constante. Mais tarde, foi transferido para o campo de prisioneiros de guerra Omori, onde conheceu seu mais terrível torturador, conhecido como O Pássaro. Esse comandante sentia prazer na tortura. Tinha a capacidade de bater num prisioneiro por horas. E Louis parecia ser a sua obsessão para os espancamentos. Ele chegou a perder a audição do ouvido esquerdo, temporariamente, por ter sido agredido violentamente, com um cinto. No final da guerra, Louis estava no campo de prisioneiros considerado o mais infernal do Japão, o Naoetsu, ainda sob o comando do mesmo sargento japonês. Louis voltou para casa, atormentado pelo ódio e o desejo de vingança. Tornou-se alcoólatra e quase acabou com seu casamento. No entanto, enquanto no mar, ele orara e prometera que se sobrevivesse, dedicaria sua vida a Deus. Demorou para isso acontecer. Então, sua esposa o convenceu a ir a um culto evangélico e ele começou a sua transformação. Tornou-se um pregador e seu tema recorrente era o perdão. Confessou que quando substituiu o amor pelo ódio, perdoando os seus inimigos e orando por eles, deixou de ser assombrado por pesadelos. Visitou muitos companheiros do campo de prisioneiros para lhes dizer que deviam perdoar aos seus malfeitores. E não pensemos que lhe foi fácil a decisão. Ele afirmava que o mais difícil era perdoar. Mas o ódio é autodestrutivo. Quem odeia, não machuca ao outro mas a si mesmo. O perdão, dizia, é uma cura, uma autocura. 
* * *
Se estamos padecendo as agruras do ódio, pensemos a respeito e proponhamos nos libertar. Tentemos o perdão e nos libertemos. Afinal, todos merecemos ser felizes.
Redação do Momento Espírita, com dados biográficos de Louis Zamperini. 
Em 29.8.2019.
http://momento.com.br

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

ESCOLA DA VIDA

ALLAN KARDEC
O pedagogo francês Allan Kardec afirmava que educar é a arte de formar caracteres. O conceito, embora sintético, traduz toda a complexidade da atividade de educar. A ação de educar, no sentido amplo da palavra, que vai muito além do instruir, exige o esforço e a dedicação aplicados ao longo do tempo, em um processo contínuo e perseverante. Será na observação e nos pequenos detalhes que a educação, que a formação do caráter se construirá. E o bom educador estará sempre atento aos passos do seu tutelado. Porém, não é só na escola que nos educamos. E não são somente as crianças que precisam aprender algo. Com cada um de nós se passa da mesma forma. Estamos todos no processo educativo, de aprendizado, para conhecer e entender as coisas de Deus, por toda a nossa vida. Reencarnamos para, a cada experiência terrena, aprender um tanto mais, insculpindo em nossa intimidade o bem e a felicidade. Mas, para isso, é necessário que passemos pelo processo do aprender, do educar-se. Afinal, ninguém saberá ler sem o esforço inicial de conhecer o alfabeto, assim como ninguém será versado na matemática, sem o exercício contínuo de manipular os números. Desta forma, as experiências na Terra sempre trazem consigo o convite ao aprendizado. E para que esse aprendizado aconteça é necessário que entendamos o que a vida nos propõe. Algumas vezes, a doença desafiadora é o convite da vida para aprendermos a fé e a coragem. Em outro momento, será a dificuldade financeira a nos ensinar a perseverança, a honestidade, a honradez. Haverá momentos onde o parente difícil, o cônjuge exigente serão os caminhos que a vida oferecerá para o aprendizado da paciência, da humildade, da compreensão. As discrepâncias sociais, o desequilíbrio econômico, que geram a miséria e a penúria, serão para nós o aprendizado da solidariedade e da generosidade. A morte do ente querido, que retorna ao mundo espiritual apartando-se momentaneamente de nós, nos oferece a chance de aprendermos a resignação e a obediência frente aos desígnios da vida. E as querelas e relacionamentos difíceis no trabalho e no ambiente familiar sempre oportunizarão o aprendizado da benevolência e do perdão. Por isso, percebamos que a vida será sempre rica em oportunidades, qual uma escola a funcionar todos os dias, com os mais variados professores a nos oferecerem as lições necessárias. E é Deus, como Pai amoroso, quem cuida do processo de aprendizado de cada um de nós, oferecendo-nos aquilo que melhor nos cabe, no momento mais adequado. Assim, se as lições da vida baterem à nossa porta, algumas vezes desafiadoras, não temamos nem nos desesperemos. Confiemos em Deus, o educador maior de todos nós, e apoiemo-nos Nele, através da oração, para que possamos melhor nos conduzir frente às lições. Assim procedendo, os aprendizados se farão mais efetivos, e mais breves serão as estradas que nos levarão à felicidade e à paz daqueles que já conhecem e agem de acordo com as Leis de Deus. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 18.02.2011.

terça-feira, 27 de agosto de 2019

COLUNAS DE HÉRCULES

Andrea Boccelli
A mitologia grega conta que Hércules, para realizar um de seus doze trabalhos, precisou transpor um estreito marítimo. Não dispondo de muito tempo, resolveu abrir o caminho com seus ombros, ligando assim o mar Mediterrâneo ao oceano Atlântico. De um lado ficou o rochedo de Gibraltar, na África e do outro, o monte Musa, na Europa. Esses dois montes, assim separados, passaram a ser conhecidos como Colunas de Hércules. Colunas lembram sustentação, fortaleza. E se pensarmos em nossas vidas, com certeza verificaremos que todos temos dessas colunas. Colunas que são, verdadeiramente, o nosso sustentáculo, nesse mundo de provas e expiações. São pais dedicados que nos conduzem à escola, que se esmeram em nos auxiliar nas dificuldades que as primeiras letras e cálculo nos trazem. São eles que leem conosco, que nos ensinam uma vez, e outra, e outra. São eles que nos levam pela mão, para vencer o medo do desconhecido da escola, do mundo. São professores que nos abrem o entendimento para o alfabeto, os números. Que nos indicam o valor de cada símbolo, seu significado específico em cada circunstância. São amigos que nos ajudam, em determinados momentos, acolhendo-nos, ou que nos sugerem alternativas para nossa caminhada. Recordamos que Andrea Bocelli, o tenor consagrado mundialmente, teve várias dessas colunas em sua vida. Criança, parcialmente cego, teve o apoio incondicional de sua mãe e de seu pai. Aos seis anos, começou a aprender a tocar vários instrumentos musicais. Na adolescência, formou uma amizade com um jovem com quem manteve parceria musical. Amigo que o estimulou a cantar e a se apresentar. Seu tio, Giovanni, lhe foi outra grande coluna. Ele o inscreveu em concursos de canto, e o incentivava, mesmo quando outros afirmavam o contrário. Até mesmo um afinador de pianos, acostumado a ter contato com celebridades, foi-lhe uma voz indicadora para encontrar quem lhe foi o maior mestre. Esse rapaz lhe falou de um excelente professor de canto, o maestro Luciano Bettarini, e para ele o encaminhou. Foi graças ao treinamento vocal desse maestro que Andrea aprendeu técnicas de respiração, de preparo pessoal para se tornar o grande tenor de óperas. Sonho, diga-se, que Andrea tinha desde que, criança, enquanto numa clínica, em recuperação de uma cirurgia ocular, ouvira um trecho de ópera, no quarto ao lado. Sua mãe dizia que a música era o que lhe acalmava o desespero, depois de ter perdido totalmente a visão, aos doze anos de idade. 
 * * * 
Colunas de sustentação. Todos as temos. Algumas bem próximas de nós, convivem conosco e de contínuo nos incentivam, estimulam. São elas que nos levam a dar mais um passo. E outro ainda. Outras, simplesmente passam pela nossa vida para nos indicar um caminho, para nos apontar um roteiro, acender uma luz. Importante que estejamos atentos a essas pessoas que nos transmitem a voz de Deus, orientando-nos o melhor percurso. Nossas colunas de sustentação. Pais, amigos, conhecidos. Quantas teremos? Prestemos atenção. E prossigamos nas lutas que nos competem. 
Redação do Momento Espírita, com Informações biográficas de Andrea Boccelli. 
Em 27.8.2019.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

A MORTE NÃO É NADA.....

Henry Scott Holland
A morte não é nada. Eu apenas passei para o outro lado: É como se estivesse escondido no quarto ao lado. Eu sou sempre eu, e tu és sempre tu. O que éramos antes um para o outro ainda somos. Liga-me com o nome que você sempre me deu, que te é familiar. Fala-me da mesma forma carinhosa que tens usado sempre. Não mude teu tom de voz, não assuma um ar solene ou triste. Continua a rir daquilo que nos fazia rir, Daquelas pequenas coisas que tanto gostávamos, quando estávamos juntos. Reza, sorri, pensa em mim! Que o meu nome seja sempre uma palavra familiar... Diga-o sem o mínimo traço de sombra ou de tristeza. A nossa vida conserva todo o significado que sempre teve: É a mesma de antes, há uma continuidade que não se quebra. Por que eu deveria estar fora dos teus pensamentos e da tua mente, apenas porque estou fora da tua vista? Não estou longe, estou do outro lado, na mesma esquina. Fica tranquilo, está tudo bem. Vou levar o meu coração, daí acharás a ternura purificada. Seca as tuas lágrimas e se me amas, não chores mais, o teu sorriso é a minha paz" 
(Henry Scott Holland)

domingo, 25 de agosto de 2019

A ESCOLA ADEQUADA

Consoante os ensinamentos dos Espíritos, a Terra passa por um período muito significativo. Trata-se do ápice de um estado evolutivo e do princípio de outro. Cuida-se, na conformidade dos ditos populares, do fim dos tempos. Mas é apenas do fim dos tempos de angústia que se fala. A vida no planeta não vai cessar e nem a Humanidade se extinguirá. Vive-se a transição da fase de provas e expiações para a de regeneração e paz. Em decorrência dessa transição, muitos fenômenos angustiantes chamam a atenção. São terremotos, tsunamis, enchentes, desmoronamentos e tragédias as mais diversas. Mas, de outro lado, dão-se ocorrências não menos interessantes. São os espetáculos da solidariedade, quando incontáveis mãos se movimentam para socorrer quem sofre. Regimes totalitários são postos em xeque por ideais e movimentos democráticos. A evolução informática e a troca de dados tornam mais difícil a criminalidade anônima e impune. São tempos novos esses. Neles, os valores são colocados em teste. É necessário definir-se. Ou se decide viver de forma digna e fraterna ou se busca levar vantagem com a instabilidade temporária. Ocorre que nessa definição de rumos cada um está a traçar o seu destino. Porque na Terra em breve devem cessar os espetáculos da dor mais atroz. O ambiente planetário se tornará regenerador e pacífico. Os mundos funcionam como escolas nas quais os Espíritos são matriculados pela Divindade. Eles oscilam grandemente em suas características. Alguns se assemelham a hospitais e a penitenciárias. Neles encarnam os doentes da alma, portadores de incontáveis vícios. Orgulhosos, cruéis, preguiçosos e espertos compõem a maioria dos habitantes. Evidentemente, há os que têm sucesso em suas lutas íntimas e não se acomodam a esse quadro. Embora com dificuldade, seu viver é digno. Também há os missionários do amor Divino, que ali estão na qualidade de professores do bem infinito. Mas existem os mundos destinados à tranquila maturação das virtudes. Ser eleito para a paz ou para os duros embates depende da própria realidade íntima. Neste momento, cada homem define o seu futuro. Na Terra, só devem continuar a renascer os dispostos ao trabalho e à vivência do bem. Quem gosta de levar vantagem e fica indiferente ante a dor alheia nela não encontrará mais recursos evolutivos. Pois sensibilidades embotadas necessitam ser trabalhadas por grandes dores. O ser endurecido precisará renascer em mundos mais primitivos, para ter as lições adequadas ao seu caráter. Convém refletir sobre essa transformação do planeta e definir o próprio futuro. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 16.08.2011

sábado, 24 de agosto de 2019

RECADOS DE DEUS

Uma rua de uma única quadra. Entre casas bem pintadas, jardins com flores, aquela chama a atenção. Destoa de todas as demais. Maltratada, suja. No que fora um dia um jardim, o mato cresce alto e se balança ao sabor do vento. Na calçada exterior, o canteiro também foi tomado pelo mato, que se desenvolve exuberante, sem que alguém o venha retirar. É a residência de um idoso. Não sabemos exatamente a sua idade mas, seu aspecto desleixado, a barba e os cabelos crescidos lhe conferem um quadro de envelhecimento. Tudo nele combina com a desolação, ao seu redor. Ou será que ele mesmo assim tudo compôs, para combinar com a sua tristeza? Ficamos a pensar o que deve ter levado essa criatura a tudo abandonar, dessa forma. Se por fora a casa está assim, como estará lá dentro? Poeira, roupas largadas pelos móveis, louça por lavar... Não sabemos. Do que temos certeza é de que esse coração deve ter sido atingido por muita dor. Quem terá ele entregue aos braços da morte: a esposa, filhos, os pais? Por que se permite abraçar pela melancolia, pelos dias cinzentos de saudade sem consolo, chegando ao abismo da depressão? No entanto, em seu jardim há uma mensagem. É um manacá que explode em flores de variadas tonalidades lilás. Algumas pétalas enfeitam o chão. Entendemos. Para aquele coração amargurado e infeliz, deus ordenou ao manacá que lhe sorrisse todos os dias. E lá está ele, dizendo: 
-Olhe para mim. Em meio à desolação, faça como eu. Sorria. Volte a viver. O mundo ainda lhe reserva encantos. Não desista da vida, que é sagrado dom de Deus.
 * * * 
Como esse homem solitário, somos alguns de nós. Encolhemo-nos em nossa infelicidade e nada mais percebemos. Não vemos o sol que brilha, acalentando-nos; o pássaro que voeja em nossa varanda e larga seus trinados sem errar nenhuma nota, nem desafinar. Não damos atenção ao cão que nos vem lamber as mãos, erguendo as patas, como num abraço. Não respondemos ao cumprimento do vizinho, que deseja rompamos nosso silêncio. Durante muito tempo, imaginamos que deus se manifestasse aos homens, surgindo das nuvens, entre toques de trombeta e visões espetaculares. Entretanto, ele não opera senão na intimidade da nossa consciência, e se serve do que nos rodeia para atestar da sua providência para conosco. A natureza em festa, o vizinho que ensaia um diálogo, um filme que evoca os milagres do cotidiano. Sim, Deus não nos abandona jamais. De forma constante, nos envia seus recados. Se olharmos, agora, pela janela de nossa casa, do carro ou do ônibus, o que veremos? As árvores que balançam e deixam cair as folhas, delicadamente, como numa alegre chuva de verão. Um pássaro pousado num ramo, vibrando a flauta mágica da sua garganta. Uma criança que corre, feliz, fugindo à babá que a tenta enlaçar. Alguém que caminha, uma mochila às costas, assoviando uma canção... Recados de deus para alegrar a nossa alma e abrilhantar o nosso dia. Pensemos nisso e exercitemos olhos e ouvidos porque somente enxerga quem tem olhos de ver. E somente ouve quem tem ouvidos de ouvir. 
Redação do Momento Espírita 
Em 24.8.2019

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

A ESCOLA

RAUL TEIXEIRA
Quando as férias acabam, é comum se ouvir, na porta das escolas, da boca dos pais ou de funcionários que recebem as crianças, frases bem desmotivadoras. 
-Acabou a moleza, hein?
-Aproveitou bem as férias? 
-Melhor para você, porque agora vai ter que dar um duro danado. 
São comentários inocentes e brincalhões, feitos de forma esparsa. Por vezes, é mais com o objetivo de puxar conversa. Mas têm um efeito desastroso sobre as crianças. Os adultos falam brincando mas os garotos não têm condições para entender a sutileza da brincadeira. Para quem já está abalado com medo das novidades e o choque das mudanças do novo ano letivo, tais frases soam como ameaças de algo terrível. Isso, sem se falar dos comentários ruins que os pequenos ouvem dos pais a respeito da escola. São críticas a professores, ao currículo escolar, aos bilhetes que vêm com pedidos de material, normas e decisões da instituição, valores das mensalidades. Para os adultos é fácil aceitar, mesmo sabendo que não é o ideal. Contudo, para as crianças fica um tanto difícil. Elas não podem entender porque os pais insistem para que elas frequentem aquela escola que traz tantos problemas para a família. E a escola acaba sendo entendida como uma coisa ruim. Acrescente-se ainda que, em casa, a mãe fala: Vamos dormir, porque amanhã você tem aula. A mensagem que é passada é de que o estudo é um grande estraga prazer. Por causa dele é preciso acabar a diversão, deixar de assistir TV, ir para a cama. E para finalizar, ainda vem a outra célebre frase: 
-Vamos logo. Está pensando que ainda está de férias? 
É outra dica de que férias são um paraíso e o aprendizado é uma escravidão. Com tais mensagens, mais cedo ou mais tarde, as vítimas dessas circunstâncias vão demonstrar o seu desprezo pelos estudos, apresentando baixa produtividade escolar, distração e má vontade. Naturalmente a escola não é um lugar de prazeres, pois exige esforço e disciplina. Pode ser até que ela tenha altos e baixos de qualidade. Mas esse é e será sempre um assunto para os pais com professores e diretores, não para discutir e falar para as crianças. Os pais podem e devem se esmerar para transformar a escola em um local de felicidade para os seus filhos na busca do conhecimento.
 * * * 
A escola é abençoado local de aprendizagem. Lembre-se de que a sua criança é a canção com que o tempo embala os ouvidos do futuro. É a semente que, lançada na terra fértil da orientação nobre, produzirá flores e frutos de esperança para o amanhã. Oferte-lhe, assim, a escola, permitindo que ela receba os estímulos generosos da instrução. Estímulos luminosos que anularão as trevas da ignorância e lhe abrirão portais de crescimento. Entretanto, ajude-a a enfrentar as dificuldades que surjam. Aponte e mostre o que é positivo. E se a escola apresenta deficiências, critique. Mas faça algo para melhorar. Apresente os erros. Mas igualmente apresente soluções, a fim de que a escola se torne melhor para os seus e para os filhos de todos os pais. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Chavões que trancam a escola, de David Pontes, em parceria com Ivan Capelatto e Ângela Minatti, publicado no jornal Gazeta do Povo, de 06.02.2000 e no cap. 10 do livro Vereda familiar, pelo Espírito Thereza de Brito, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter.
Em 01.08.2011.

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

DE ONDE SURGE O AMOR

Será possível saber quem inventou o amor? 
Será que alguém inventou o amor? 
Que ele existe, não podemos duvidar. Seja o amor de mãe ou de pai, o amor de filho ou de amigo, o amor tem inúmeras maneiras de se expressar. E todos nós, de alguma forma, o sentimos, o damos e recebemos. 
Mas de onde vem esse sentimento? 
Onde nasce essa ventura chamada amor? 
Será que nos foi dado, como se fosse um dom? 
Ou será que surge como por acaso, espontaneamente? 
Se acreditarmos que o amor apenas surge, espontâneo e sem esforço, ou que é obra do acaso, que diríamos do desamor, do mal querer? 
Será que também por obra do acaso, passamos a não querer bem a alguém? 
Não há sentimento que habite nossa alma que não seja fruto de nosso esforço e aprendizado pessoal. Podemos dizer que o amor está em nós como a árvore está na semente. A semente, sem ser provocada, estimulada, sem ambiente propício, será apenas semente. No entanto, ser semente não tira dela a capacidade de se tornar arbusto ou árvore. Está lá seu potencial, esperando ser despertado pelo solo fértil, o sol, a rega, o adubo. O amor é assim também. Temos em nós, na nossa natureza, uma imensa capacidade de amar. Ao vermos uma simples bolota do carvalho, difícil entender que dali surgirá a árvore frondosa, sólida, de profundas raízes. De igual forma, não imaginamos sermos capazes de amar além daqueles que já amamos. Mas, trazemos em nossa intimidade esse extraordinário potencial de amar. Para que cresça, é necessário estímulo, vontade, querer. É necessário que tenhamos o propósito de aprender a amar aquilo que ainda não amamos no outro, em nosso semelhante. Para tanto, temos que ter claro que amar se faz aos poucos. Todas as vezes que nos controlamos frente a alguém que nos irrita, estamos nos propondo a amar: será o amor paciência. Quando fazemos silêncio perante alguém em profunda irritação, também estaremos amando: é o amor compreensão. Se perante alguém em dificuldade, somos capazes de parar nossos afazeres para estender a mão, estaremos exercitando o amor solidariedade. A proposta de Jesus de amarmos aos nossos inimigos, fazer o bem a quem nos odeia e orar por quem nos persegue, é exatamente isso. É o desafio de aprender a amar mais, de estender nosso sentimento em campos ainda não caminhados, de aprofundar as raízes da semente que recém desabrochou. Como o amor é a essência de nossa natureza, quanto mais o expressarmos, quanto mais o oferecermos, maiores serão nossa felicidade, alegria e bem-estar. Por isso, nada melhor que aceitarmos o convite de Jesus: aprender a amar aqueles que ainda não amamos, mas principalmente, aqueles que ainda não nos amam. Sempre será prazeroso sentir-se amado e benquisto. Entretanto, será conquista que jamais se perderá a de amar e querer bem àqueles que cruzam os caminhos de nossa existência. 
Amemos, então, hoje, amanhã e depois. 
Amemos os que nos amam, amemos a quem ainda não nos ama. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 21.8.2019.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

ESCÂNDALOS

Em determinada passagem do Evangelho, Jesus afirma serem os escândalos necessários no mundo, mas Ai de quem os provoca. No sentido vulgar do termo, escândalo significa evento ruidoso, que causa alvoroço ou estrépito. Nessa linha, o problema residiria não no conteúdo da conduta, mas na sua repercussão. Desde que uma ação má não gerasse alarde, não haveria maiores problemas. Ocorre que esse sentido valoriza as aparências e a hipocrisia, em franco desacordo com as lições do Cristo. Jesus afirmou, ao tratar do adultério, por exemplo, que o mero pensar com impureza já era condenável. Que se dirá então de ações francamente nefastas, apenas cometidas na surdina? Parece possível interpretar a palavra escândalo, na acepção evangélica, como tudo o que causa tropeço ou embaraço nos caminhos próprio ou alheio. Tudo o que resulta dos vícios e imperfeições humanas, tudo o que viola os deveres de pureza e fraternidade, isso é um escândalo perante as Leis Divinas. Mas qual a razão para os escândalos serem necessários? O cerne da questão reside na evolução ainda incipiente dos habitantes da Terra, mormente no que diz respeito à moral. O planeta, ainda por um tempo, será morada de Espíritos rebeldes às Leis Divinas. Mais do que em decorrência das condições materiais da Terra, a vida aqui é difícil por conta dos nossos inúmeros vícios. Violência, corrupção, promiscuidade, tudo isso gera infelicidade e transtornos. Muitos são os escândalos produzidos diariamente pelos homens, em sua imperfeição. Salvo o caso das almas missionárias, os Espíritos radicados na Terra têm afinidade de sentimentos e valores, em maior e menor grau. O contato recíproco de criaturas viciosas tem variados efeitos. Ele provoca inevitável sofrimento pelo contínuo entrechoque de interesses. É cansativo defender-se cotidianamente da maldade alheia e conviver com esperteza e deslealdade. Esse contato também propicia o acertamento de dívidas cósmicas. No longo processo de aprendizado da vida, o Espírito comete equívocos que precisa reparar. Ele necessita acertar-se com sua consciência, a fim de habilitar-se para estágios superiores da vida imortal. Também precisa adquirir paciência e generosidade e isso apenas se consegue perante criaturas falhas. Afinal, os anjos não desafiam a paciência de ninguém e nem necessitam de favores ou clemência. Finalmente, o contato com o vício faz com que os homens lentamente se desgostem dele. O espetáculo das baixezas humanas é triste. Com o transcorrer do tempo faz surgir o ideal de vivências diferentes, plenas de pureza e compaixão. Assim, nos estágios ainda inferiores da vida moral, o escândalo é infelizmente necessário. Mas ai do escandaloso, pois responde por todo o mal que causa, ainda que deste surja indiretamente o bem. Quando os homens se depurarem, o escândalo se tornará desnecessário e desaparecerá. Eventuais acertos com a justiça cósmica se processarão na forma de efetivo trabalho no bem, a consubstanciar o amor que cobre a multidão de pecados, no dizer evangélico. Assim, para alcançar a libertação de injunções dolorosas, cuide para não causar escândalo. Se alguém lhe fizer o mal, saiba que o verdadeiro prejudicado é o escandaloso. Ele desafia as Leis Divinas e desencadeia graves consequências na própria vida. Quanto a você, perdoe e siga adiante.
Redação do Momento Espírita. 
Em 3.2.2018.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

A MULHER PERFEITA

PAULO COELHO
Conta-se que um mestre, chamado Nasrudin, conversava com um amigo, que lhe fez a seguinte pergunta: 
-E então, mestre, nunca pensaste em casamento? 
-Já pensei, respondeu Nasrudin. Em minha juventude, resolvi conhecer a mulher perfeita. Atravessei o deserto, cheguei a Damasco e conheci uma mulher espiritualizada e linda. Mas ela não sabia nada das coisas do mundo. Continuei a viagem e fui à cidade de Isfahan. Lá encontrei uma mulher que conhecia o reino da matéria e do Espírito, mas não era bonita. Então, resolvi ir até o Cairo, onde jantei na casa de uma moça bonita, religiosa e conhecedora da realidade material. 
Intrigado, o amigo indagou: 
-E por que não casaste com ela?
- Ah! Meu companheiro! Suspirou Nasrudin. Infelizmente ela também procurava um homem perfeito. 
 * * * 
O ensinamento do sábio aplica-se perfeitamente aos dias de hoje. É comum ouvirmos as exigências das pessoas, no que diz respeito à amizade, ao namoro e casamento. Os jovens e as jovens trazem em suas mentes sonhadoras a idealização de como deverá ser aquele, ou aquela, que conquistará seu coração. Ingenuamente, procuramos a perfeição no outro, desde que não podemos encontrá-la em nós mesmos. Não há mal, de forma alguma, em ser exigente na escolha de nossas amizades ou de um futuro esposo ou esposa. Isso é saudável, desde que não cheguemos ao exagero, é claro. O problema está em sempre querer que o outro seja especial, que tenha diversas virtudes, esquecendo de que ele, ou ela, também tem suas exigências, suas idealizações. Assim, poderíamos questionar: 
-Será que eu tenho essas características, essas virtudes que procuro no outro? 
-Será que ele não tem uma lista de exigências como a minha? 
-Eu preencho os meus próprios requisitos? 
Exemplificando: sonhamos com alguém que seja companheiro, que seja sincero, e em quem possamos confiar. Agora, já paramos para analisar se estamos dispostos a ser assim para com o outro? Se a virtude da sinceridade está em nosso coração, ou se somos dignos de inspirar confiança? Vejamos como a racionalidade nos ajuda a entender melhor as coisas da vida. Ela nos ensina a perceber que, antes de exigir qualquer virtude dos outros, é preciso verificar se nós a temos. Assim, é importante o esforço para nos melhorarmos, para agradar os outros, buscando a perfeição em nós primeiramente. Ainda estamos longe da sublimidade, é certo, mas é preciso caminhar rumo a ela todos os dias.
 * * *
É belo sonhar. É necessário almejar a felicidade. Mas, enquanto procuramos por ela apenas no quintal vizinho, continuaremos a viver decepções e frustrações em nossos dias. Vamos habituar nossa mente a pensar em como poderemos fazer felizes aqueles que estão à nossa volta, ao invés de apenas exigir atitudes e sentimentos dos outros. É belo sonhar. É necessário almejar a felicidade. Mas atentemos sempre para o fato de que, para sermos felizes em nosso lar, precisamos levar a felicidade ao quintal de alguém. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. A mulher perfeita, do livro Histórias para pais, filhos e netos, de Paulo Coelho, ed. Globo. 
Em 20.8.2019.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

CASA EM RUÍNAS

Maria de Magdala ouvira as pregações do Evangelho do Reino, não longe da vila principesca onde vivia entregue a prazeres, em companhia de patrícios romanos. Tomara-se de admiração profunda pelo Messias. Que novo amor era aquele apregoado aos pescadores singelos por lábios tão divinos? Até ali, caminhara ela sobre as rosas rubras do desejo, embriagando-se com o vinho de condenáveis alegrias. No entanto, seu coração estava sequioso e em desalento. Seu Espírito tinha fome de amor. O Profeta Nazareno havia plantado em sua alma novos pensamentos, depois que lhe ouvira a palavra. Observou que as facilidades da vida lhe traziam agora um tédio mortal ao Espírito sensível. Maria chorou longamente, embora não compreendesse ainda o que pleiteava o Profeta desconhecido. Entretanto, Seu convite amoroso parecia ressoar-lhe nas fibras mais sensíveis de mulher. Jesus chamava os homens para uma vida nova. Antes do famoso banquete em Naim, onde ela ungiria publicamente os pés de Jesus com os bálsamos perfumados de seu afeto, notou-se que uma barca tranquila conduzia a pecadora a Cafarnaum. Dispusera-se a procurar o Messias, após muitas hesitações. A recém-chegada sentou-se, com indefinível emoção a estrangular-lhe o peito. Vencendo, porém, as suas mais fortes impressões, assim falou, em voz súplice: 
-Senhor, ouvi a vossa palavra consoladora e venho ao vosso encontro!... Tendes a clarividência do céu e podeis adivinhar como tenho vivido! Sou uma filha do pecado. Todos me condenam. Entretanto, Mestre, observai como tenho sede do verdadeiro amor!... Minha existência, como todos os prazeres, tem sido estéril e amargurada... 
As primeiras lágrimas lhe borbulharam dos olhos, enquanto Jesus a contemplava, com bondade infinita. Ela, porém, continuou: 
-Ouvi o vosso amoroso convite ao Evangelho! Desejava ser das vossas ovelhas. Mas, será que Deus me aceitaria? 
O Profeta Nazareno fitou-a, enternecido, sondando as profundezas de seu pensamento, e respondeu, bondoso: 
-Maria, levanta os olhos para o céu e regozija-te no caminho, porque escutaste a Boa Nova do Reino, e Deus te abençoa as alegrias! Acaso, poderias pensar que alguém no mundo estivesse condenado ao pecado eterno? Onde, então, o amor de nosso Pai? Nunca viste a primavera dar flores sobre uma casa em ruínas? As ruínas são as criaturas humanas. Porém, as flores são as esperanças em Deus. Sobre todas as falências e desventuras próprias do homem, as bênçãos paternais de Deus descem e chamam. Sentes hoje esse novo sol a iluminar-te o destino! Caminha agora, sob a sua luz, porque o amor cobre a multidão dos pecados.
 * * * 
Muitas vezes nos sentimos como essa casa em ruínas. De nada temos vontade, e tudo parece querer desmoronar sobre nossa cabeça confusa. Mas, que maravilha saber que a primavera é capaz de dar flores em nós! Que maravilha saber que a vida nos dá sempre novas chances, assim como deu a Maria. Chances de trilhar novos caminhos, de recomeçar. Lembremos sempre da figura da casa em ruínas na lição de Jesus. Lembremos sempre da primavera. Lembremos que Maria de Magdala encontrou o verdadeiro amor, e recomeçou... 
Redação do Momento Espírita com base no cap. 20, do livro Boa Nova, pelo Espírito Humberto de Campos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. 
Em 19.8.2019.

domingo, 18 de agosto de 2019

ESCALANDO O CÉU

Era uma viagem de férias, mas o pai a desejara transformar em uma viagem de cultura. Por isso, os países que seriam visitados e os locais foram devidamente selecionados. Levava a esposa e os filhos a museus, salas de arte, bibliotecas, universidades a fim de que vissem, ao vivo, a História do homem em pinturas, livros, arquitetura. Velhos castelos foram visitados, conservados uns, somente ruínas outros. E o pai se esmerava em apontar detalhes, que assinalavam o esforço do homem para defender a sua casa, as suas terras de outros homens. Ali, o castelo feudal fora erguido em ponto estratégico, permitindo que das torres de vigia se pudesse ver muito ao longe o eventual inimigo que desejasse chegar por via fluvial. Em outra instância, a imponente construção de pedras fora erguida exatamente em local próximo a uma imensa pedreira, facilitando a aquisição da matéria prima. Entre as ruínas do que fora um castelo imenso, erguido bem no alto, dominando a paisagem, o destaque para a pequenina porta de madeira, quase oculta entre as folhagens: a porta da traição. Ela fora deixada aberta para que os inimigos adentrassem e tomassem o que era considerado local inacessível. E assim transcorria a viagem, cheia de cores, de vivacidade, História e apontamentos. Mas depois de terem visitado antigas igrejas de extraordinária arquitetura e riqueza sem par, um dos meninos voltou-se para o pai e fez a pergunta: 
-Pai, por que as igrejas têm torres tão altas? 
O pai parou um momento. Ele lera muito para ser o guia cultural naquelas férias. Esmerara-se em aprender sobre arquitetura, pintura, História. Mas não se lembrava de nada ter lido a respeito. Recordou-se com rapidez da visita à igreja de Saint-Michel, no monte de mesmo nome, na Normandia. Ali, a estátua do arcanjo São Miguel culmina na torre de trinta e dois metros. Rapidamente ainda rememorou outras igrejas visitadas, algumas erguidas em locais altos, privilegiados e com suas torres escalando o céu. E estava pronto para abrir a boca e falar da arquitetura, da influência dos estilos, quando o filho menor, falou: 
-Ora, é simples: as igrejas têm torres pontudas para levar mais depressa as orações das pessoas até Deus. É como torre de transmissão de rádio. 
* * * 
Resposta simples de alguém que lembrou que os templos visitados, muito antes da riqueza arquitetônica, dos arabescos, dos estilos dessa ou daquela época, são locais de oração. Templos que o homem ergueu, através dos tempos, em todas as épocas, no intuito de ter um local para falar com Deus. Um abrigo, um refúgio para dialogar com a Divindade. E se Jesus ensinou que o templo devia ser o do coração e o altar o da consciência de cada um para o diálogo com o Pai de todos nós, justo é perceber que o homem sempre buscou esse contato com o Criador. Assim, utilizemos nossa mente e coração para erguer torres que atravessem os céus pelos poemas da oração. Essas torres, com certeza, serão inigualáveis em altura porque os versos viajarão pelas antenas do pensamento até o Pai amoroso e bom de toda a Humanidade. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 28, ed. FEP. 
Em 9.9.2015.

sábado, 17 de agosto de 2019

A TÉCNICA DO GRITO

CHICO XAVIER
E
ANDRÉ LUIZ
Conta-se que nas Ilhas Salomão, no Pacífico Sul, os nativos descobriram um jeito inteiramente diferente de derrubar árvores. Se algum tronco é grosso demais para ser abatido com os seus machados, eles o derrubam no grito. Isso mesmo, no grito. Lenhadores sobem na árvore toda manhã bem cedinho e se põem a gritar. Repetem o ritual durante trinta dias. A árvore morre e cai por terra. Segundo eles, o método nunca falha e a explicação, também segundo os nativos, é que, gritando, eles matam o espírito da árvore. Os civilizados logo pensam que se eles dispusessem de tecnologia moderna, poderiam simplesmente derrubar a árvore com máquinas poderosas, rapidamente e de forma mais eficiente. Entretanto, a técnica desses nativos nos leva a pensar em como nós ainda utilizamos o grito em nossas vidas. Gritamos no trânsito, quando um motorista desatento executa alguma manobra infeliz, dificultando a nossa livre circulação. Gritamos no jogo de futebol, com o juiz, o bandeirinha, o jogador, e até mesmo com a bola que parece desviar do gol só para nos provocar. Falamos alto com o segurança do banco porque a porta giratória nos impede a entrada. Xingamos o caixa do supermercado porque é muito lento, porque não empacota a mercadoria, porque nos fornece o troco errado. Brigamos com os aparelhos eletrodomésticos porque não funcionam direito. Em casa, muitas vezes, ao chamarmos a atenção para o que está errado, esquecemos de controlar o volume da voz e falamos alto demais com nossos filhos, com a esposa, com nossos irmãos. Quase sempre gritamos com as crianças quando estão fazendo alguma traquinagem. Contudo, o grito, além de não educar, assusta. Podemos imaginar os distúrbios provocados no organismo frágil dos pequenos, com um grande susto? Com os colegas de trabalho, é comum exagerarmos no tom da voz apenas para dizer que determinada tarefa deve ser refeita. Em locais públicos, como restaurantes, lanchonetes, quando em grupos, nos esquecemos do respeito que devemos às pessoas, e nos permitimos gargalhar, falar alto demais. E nem nos damos conta do quanto a nossa algazarra perturba os ouvidos alheios. Tudo isso nos faz reflexionar. Se os nativos das Ilhas Salomão descobriram que as árvores são sensíveis aos gritos, que dizer dos seres humanos! Pensemos: com gritos e gargalhadas, perturbamos ambientes e pessoas. Com palavras grosseiras, ditadas pela nossa impaciência, podemos partir corações que nos amam ou criar inseguranças em filhos pequenos, que passam a nos temer, em vez de respeitar.
 * * *
RAUL TEIXEIRA
No trato pessoal, a fala desempenha papel importante. A magia da voz é daquelas que não deve ser esquecida por todos os que se acham envolvidos nas lides humanas, escutando os diversos corações. Por isso, utilizemos a palavra para construir, edificar, com o objetivo de fazer a vida brilhar. Falemos com valor, falemos com amor, para que sejamos felizes e façamos os demais também felizes. Não nos esqueçamos de que a gentileza e o respeito no trato pessoal também significam caridade. 
Redação do Momento Espírita com base em artigo de Robert Fulghum, da Revista Presença Espírita, nº 222, ed. LEAL; pensamentos do cap. 28, do livro Sinal verde, pelo Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. CEC e pensamentos do cap. 22, do livro Vozes do infinito, por Espíritos diversos, psicografia de Raul Teixeira, ed. FRÁTER. 
Em 17.8.2019.

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

ERROS PEDEM ACERTOS

A contabilidade divina não erra e não precisa de auditoria externa. Diante de um erro, por vezes, pensamos que, pelo simples fato de sentirmos remorso ou nos arrependermos, está tudo resolvido. No entanto, não se dá dessa forma. O remorso é a inquietação da consciência por culpa ou crime que cometemos. É o primeiro passo, e a esse deve seguir o arrependimento. Arrependimento é o pesar pelo que fizemos ou pensamos. É o prenúncio de mudança de opinião. Após o arrependimento, portanto, deverá vir a disposição para a reparação do equívoco. Remorso, arrependimento e reparação. Ou seja, a consciência pesa e desejamos uma nova postura. Isso pede esforço pessoal e continuada busca pela reparação. É a trajetória positiva modificando o passado negativo. Todos fomos criados para aprender e evoluir. Os erros fazem parte do aprendizado. E, como bons alunos, reconhecendo uma lição mal feita, devemos refazê-la. De nada nos vale ficar olhando para a lição mal feita, apenas lamentando. Assim não haverá progresso no aprendizado. Uma vez reconhecido o equívoco, devemos repará-lo, efetivamente. Então teremos aprendido. Lições aprendidas são lições superadas. Estaremos aptos para novas lições a fim de galgar outros degraus na escola da vida. Dessa forma, não há castigo nem perdão previstos nas soberanas leis divinas, no sentido comum desses termos. Há, sim, equívoco pedindo reparação. Erro pedindo acerto. Problema pedindo solução. E a oportunidade de reparação, de refazimento, vem do amor de Deus que nos dá esse ensejo para buscar o acerto, a correção. As leis divinas, nas quais todos estamos mergulhados e sujeitos, levam em conta nossa intenção e não somente o ato ou o fato em si. Se, por exemplo, dois homens se jogam na água: um, para acabar com a própria vida. Outro, para tentar salvar a vida de alguém que está se afogando e ambos morrem, como serão julgados pelas leis divinas? O que se suicidou responderá diante das leis pelo seu ato infeliz. Na tentativa de fugir da vida, acarretou mais problemas para si mesmo. Terá que recomeçar as lições interrompidas pelo ato infeliz e reparar suas faltas em uma nova existência. Quanto ao outro, será visto pelas leis divinas como um herói, desde que sua intenção era a de salvar a vida do seu semelhante. As leis divinas tudo veem, tudo sabem e delas ninguém está apartado. Não há castigo, nem perdão. Há equívoco e oportunidade de reparação. As leis de Deus consideram atenuantes e agravantes, de conformidade com a condição evolutiva e o grau de consciência de cada indivíduo e sua real intenção. Não nos iludamos pensando que poderemos burlar as leis que regem o universo moral. Isso é absolutamente impossível. As leis divinas estão inscritas na nossa própria consciência, portanto, nenhum de nós poderá alegar ignorância. 
 * * * 
No momento da morte lembramos de tudo o que se passou conosco desde o nascimento até o fim da existência. É como se fosse uma fita de vídeo na qual tudo foi gravado e que se assiste em instantes. Essa é a maneira pela qual Deus nos lembra de todos os atos da existência que termina, de forma que não possamos sequer dizer que os esquecemos. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 31.8.2016.

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

A VISÃO DE CADA UM

Dois homens muito doentes ocupavam uma mesma enfermaria em um grande hospital. Sua única comunicação com o mundo de fora era uma janela. Um deles tinha a sua cama perto da janela e, todos os dias, tinha permissão para se sentar em sua cama, por algumas horas. Tudo como parte do tratamento dos pulmões. O outro, cuja cama ficava no lado oposto do pequeno cômodo, ficava o dia todo deitado de barriga para cima. Todas as tardes, quando o homem, cuja cama ficava perto da janela, era colocado sentado, ele passava a descrever para o companheiro de quarto o que havia lá fora. Falava do grande parque, cheio de grama verde, de árvores frondosas e flores mais além, em canteiros bem cuidados. Descrevia o lago, onde havia patos e cisnes. Falava das crianças que jogavam migalhas de pão para as aves e dos barcos de brinquedo que coloriam as tardes de verão. Falava dos casais de namorados que passeavam de mãos dadas entre as árvores, dos jogos de bola muito disputados entre a criançada. Dizia que, bem além da linha das árvores, ele podia ver um pouco da cidade, o contorno dos altos prédios contra o azul do céu. O homem deitado somente escutava e escutava. Houve um dia em que ouviu, preocupado, o caso de uma criança que quase caiu no lago, sendo salva a tempo por sua mãe. Num outro dia, a descrição minuciosa foi a respeito dos lindos vestidos das moças que saudavam a primavera em flor. O homem deitado quase podia ver o que o outro descrevia, tantos eram os detalhes e a emoção do companheiro sentado. E, aos poucos, foi se tomando de inveja. Por que somente o outro, que ficava perto da janela, podia ter aquele prazer? Por que ele também não podia ter aquela mesma oportunidade? Enquanto assim pensava, mais se envergonhava e, no entanto, não conseguia evitar que tais pensamentos o atormentassem. Certa noite, enquanto estava ali olhando para o teto, como sempre, percebeu que o outro começou a passar mal. Acordou tossindo, parecendo sufocar. Com desespero, o botão de emergência foi acionado. As enfermeiras correram. O médico veio. Nova aparelhagem respiratória foi providenciada. Mas, tudo em vão. O homem morreu. Pela manhã, seu corpo sem vida foi retirado dali. Então, o homem que permanecia sempre deitado, pediu para que o colocassem na cama do outro, próximo da janela. Logo que assim foi feito e a enfermeira saiu do quarto, ele fez um grande esforço, apoiou-se sobre o cotovelo, na tentativa de se erguer no leito. A dor era intensa mas ele insistiu. Com muita dificuldade, ele olhou pela janela e viu... apenas um enorme, alto e feio muro de pedras nuas.  
* * *
A vida tem o colorido que a pessoa lhe dá. A paisagem se torna cinzenta ou plena de luz de acordo com as lentes de que se serve a pessoa para olhá-la. Sofrer a enfermidade e se fechar na dor ou enfeitar de vivas cores o quadro que vive, é opção individual. Há os que sofrem pouco e se desesperam, aumentando sua carga de dissabores, com as lentes escuras e sombrias de que se servem para contemplar tudo e todos. Há os que sofrem muito e se dizem tranquilos, padecendo serenos. 
Redação do Momento Espírita, com base no texto A visão de cada um, de autoria desconhecida. Disponível no livro Momento Espírita, v. 1, ed. FEP.
Em 15.8.2019.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

A VIDA É CURTA!

Um simples adesivo, fixado num vidro de carro, revela uma filosofia de vida muito perigosa. Diz assim: A vida é curta. Quebre algumas regras. Precisamos analisar essa cultura do Aproveite a vida, pois ela é curta, com bastante cuidado. Percebemos que esse tipo de entendimento circula pelo mundo fazendo muitos adeptos que, por vezes, caem em armadilhas terríveis, sem perceber. Parece haver em muitas pessoas uma aversão a regras, a leis, mesmo quando essas servem apenas para regular a vida em sociedade. Por isso, tão necessárias. É a repulsa à responsabilidade que ainda encontra forças em tantas mentes que teimam em não crescer. Quebrar regras simplesmente por diversão ou por achar que a vida está muito certinha – como se fala – é atitude infantil, imatura e perigosa. Basta, por exemplo, uma única vez, extrapolar na velocidade na condução de um automóvel para se comprometer uma vida toda. Uma brincadeira, um simples pega, pelas vias de uma cidade, para se colocar em risco um grande número de vidas, inclusive a própria. Assim, não é um tipo de regra que pode ser quebrada de quando em vez. Por que quebrar regras para se aproveitar a vida? Quem disse que para se curtir cada momento da existência com alegria, precisamos infringir leis? Aproveitar a vida não significa fazer o que se quer, quando e onde se queira. Esta é a visão materialista, pobre e imediatista do existir. Aproveitar a vida consiste em fazer o que se deve fazer, determinado pela consciência do ser espiritual, que sabe que está no mundo por uma razão muito especial. O ser maduro, consciente, encontra no caminho do bem, da família, do amor, sua curtição, sem precisar sair por aí quebrando regras e infringindo leis. 
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A vida é curta ou longa. A escolha está em quem vive. Ela é curta para os que desperdiçam tempo na ociosidade. Longa para os que se dedicam a uma causa nobre. A vida é curta para os que acompanham os filhos crescerem de longe. Longa para os que aproveitam cada instante, cada beijo de bom dia, cada beijo de boa noite. A vida é curta para os que acham que os vícios não fazem mal. Longa para os que desenvolvem hábitos sadios para seus dias. A vida é curta para os que acham que a vida é uma só. Longa para os que já descobriram que o Espírito é imortal, já existia antes desta vida e continuará existindo depois. A vida é curta para quem não perdoa. A mágoa mata mais cedo. É longa para os que buscam a reconciliação, evitando a vingança destruidora. A vida é curta para quem não sorri. A depressão mata mais cedo. É longa para quem cultiva o bom humor perante as situações difíceis da existência. A vida é curta para os vilões. Longa para os heróis. A vida pode ser curta ou longa. Cabe a você escolher.
Redação do Momento Espírita. 
Disponível no livro Momento Espírita, v. 11, ed. FEP. 
Em 14.8.2019.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

A PRIMEIRA RÚPIA (Moeda do Paquistão)

Nas terras distantes do Paquistão, há muitos anos, vivia um honrado mercador, chamado Krivá. Viúvo, tinha apenas um filho de nome Samuya. Krivá gozava de prestígio na comunidade, enquanto seu filho era preguiçoso e de péssimo comportamento. Rara era a semana em que ele não praticava uma desordem, desgostando o coração de seu pai. Certo dia, Krivá chamou o filho para uma conversa e lhe disse ter conhecimento de seus vícios e equívocos. Por essa razão, decidira deserdá-lo, uma vez que a fortuna seria dilapidada em festas e orgias quando chegasse em suas mãos. Diante do espanto que invadiu o filho, Krivá acrescentou que lhe oferecia uma última oportunidade para continuar sendo seu herdeiro. Ele teria que conseguir, com o seu próprio trabalho, no prazo de três dias, uma rúpia, a moeda corrente. Se assim agisse, seria o único herdeiro de tudo. No entanto, se falhasse, depois da morte do pai, seria atirado à miséria e à indigência. Samuya ficou apreensivo. Conhecendo seu pai como um homem de palavra, teve certeza de que ele cumpriria a promessa. Seus amigos, tão equivocados quanto ele mesmo, sugeriram que ele mentisse. Eles lhe emprestariam uma rúpia, que poderia apresentar ao pai como a tendo conquistado pelo seu esforço. No dia seguinte, assim fez Samuya. Após segurar a moeda, por alguns instantes, Krivá disse que ela não havia sido ganha com trabalho. E a lançou ao fogo. Esmagado pela verdade, o filho se retirou em silêncio. No dia seguinte, novamente orientado pelos companheiros de vícios, Samuya apresentou-se sujo e mal vestido, fingindo ter trabalhado e entregou ao pai uma rúpia, emprestada por eles. Outra vez Krivá disse que aquela moeda não havia sido fruto do trabalho e a atirou ao fogo. Samuya não protestou. Humilhado, retirou-se. Na manhã seguinte, consciente de que havia errado por duas vezes, fugiu da companhia dos amigos e decidiu procurar trabalho. No período da manhã, amassou barro para um oleiro. À tarde conseguiu ocupação no mercado, vendendo ervas aromáticas e, depois, junto ao rio, auxiliou no transporte de pessoas, remando por várias horas. Ao final do dia, muito cansado, levou ao pai a primeira rúpia que conseguira trabalhando duramente. Mais importante, porém, do que a moeda era o bem-estar que sentia no íntimo, satisfeito com seu próprio esforço e com a mudança de conduta que percebia em si mesmo. Porém, ouviu de novo que não era fruto de seu trabalho. Então, Samuya protestou em altas vozes. O velho pai sorriu e disse que isso era a prova de que a moeda era fruto do seu trabalho porque, nas vezes anteriores, ele nada havia dito. Agora, ele protestara, porque aprendera que o dinheiro ganho com o próprio trabalho não deve ser atirado, como palha sem valor, ao fogo do desperdício. 
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O trabalho honrado enobrece a criatura humana. Graças ao trabalho, o homem pode servir à família, aos amigos e à sociedade. 
Redação do Momento Espírita, com base em conto do livro Novas lendas orientais, de Malba Tahan, ed. Record. 
Em 13.8.2019.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

AFETIVIDADE E EDUCAÇÃO

Joannis Amos Comenius
Grandes pensadores, estudiosos e formadores de opinião deixaram contribuições notáveis na área da educação. Discutiram seu conceito, métodos de aprendizagem e diversas outras nuances da temática educacional. Alguns elementos, no entanto, são comuns nas teses e doutrinas desses missionários da Terra. Um deles diz respeito ao afeto. Comenius, conhecido como criador da Pedagogia Moderna, afirmava no início do século dezessete: 
-Os mestres conquistarão com tanta facilidade o coração das crianças que elas terão mais vontade de passar o tempo na escola do que em casa, se forem afáveis e doces, se não as assustarem de modo algum com a austeridade, mas, ao contrário, as atraírem com afeto, gestos e palavras paternais; se exaltarem os estudos que estejam fazendo, por sua importância, por sua facilidade e pelo prazer que proporcionam... Numa palavra, se os tratarem com amabilidade. 
Jean Jacques Rousseau propôs uma educação inovadora em meados do século dezoito. Era uma proposta de incentivo à expressão das tendências naturais da criança, em vez de reprimi-las ou discipliná-las, como era o mais comum naquele tempo. Dizia que a educação na infância deveria ser feita com amor e carinho, não com punições e castigos, através de exemplos práticos, despertando na criança a naturalidade, sobretudo os bons sentimentos, deixando em segundo plano o aspecto teórico e racional. Depois dele, como um dos principais sucessores, surgiu Johann Heinrich Pestalozzi, pedagogo suíço que defendeu que a escola deveria ser não só uma extensão do lar, mas também precisava se inspirar nele para oferecer uma atmosfera de segurança e afeto. Seguiram-se outros: Steiner, Montessori, Piaget... A lista se alonga. Todos eles trouxeram como bandeira a afetividade, pois perceberam que só aprendemos quando o componente dos sentimentos está envolvido. No que diz respeito à aprendizagem moral isso se amplia ainda mais, uma vez que a arte de formar os caracteres, como conceituou Kardec, é uma arte que precisa ser exercida com observação, tato e experiência, e se não houver o afeto, o vínculo amoroso permeando tudo isso, teremos apenas condicionamentos e não hábitos adquiridos.
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Afetividade não pode ser confundida com permissividade. Ser amoroso com os filhos não significa fazer todas as suas vontades, enchê-los de mimos e agrados simplesmente. O afeto está no vínculo, na presença constante, na aproximação dos sentimentos, no diálogo tranquilo para resolver os problemas. Ser afetivo é ser enérgico com respeito, deixando claras as razões das atitudes tomadas pelo educador, e também concedendo espaço para ouvir. Querer agradar sempre não significa amar, se esses agrados estiverem deseducando nossos pequenos e jovens. Que vivamos uma afetividade profunda em nossas relações, porém, que ela esteja alicerçada pelo bom senso e pela razão, pensando no que é melhor para o educando e não apenas para o educador. 
Redação do Momento Espírita, com citações do livro Didátida Magna, de Joannis Amos Comenius, ed. Martins Fontes. Em 12.8.2019

domingo, 11 de agosto de 2019

HOJE SOU SEU PAI

Andrey Cechelero
-Meu filho. A manhã está linda lá fora. O sol vigoroso, que parecia ter esquecido de brilhar nas últimas horas, em verdade nunca nos deixou. Viramos o rosto, giramos a Terra, para que a noite embalasse nossos sonhos e nos restituísse a vitalidade. Tanto o dia como a noite são nossos mestres. Enquanto a alvorada nos convida ao recomeço, à nova chance, o breu é pedido de recolhimento e reflexão. Enquanto o astro rei ilumina nosso caminho, prevenindo perigos, a lua nova comanda a prova e nos faz criar lucidez própria. No entanto, você poderá perguntar: 
-Mas, e quando as nuvens cobrirem o sol? Quando chegarem os dias molhados de escuridão? Como poderei prever as ameaças do caminho? Como terei de volta o vigor da alma encharcada de chuva?
-Nesses dias então, filho, eu serei o seu guia. Serei uma espécie de candeia, de luz acanhada, por certo - pois ainda estou aprendendo a ser sol - mas que será suficiente para suportar a breve caminhada pelas trevas. Breve. Toda caminhada pela escuridão pode ser breve, se fizermos pequenos esforços. A nebulosidade não dura mais do que o necessário e logo haverá um novo raiar. Temos muitas certezas na vida, ao contrário do que você pode ouvir por aí. Certeza de poder aprender, certeza de poder sorrir, certeza de poder amar e ainda, a certeza de que não há fim para nenhum amor. Hoje sou seu pai. Recebi essa missão com muita honra. Espero poder ser parte desse solo fecundo que lhe cerca e estrutura o ser. O crescimento é seu, a árvore, as flores e os frutos serão seus. Não vim para colher ou me saciar com saborosos alimentos de arvoredos. Vim para ser adubo, para ser base. Entendo que quanto mais você crescer em direção ao azul, mais longe do meu chão parecerá. Porém, sempre estaremos conectados de alguma forma. Um laço de amor verdadeiro é como uma raiz debaixo da terra, escondida, discreta, entretanto, vigorosa, necessária e pulsante. Meu filho, a manhã está linda lá fora, e sempre bela dentro de mim, pois hoje posso ser seu pai. 
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DIVALDO PEREIRA FRANCO
Os deveres dos pais em relação aos filhos estão inscritos na consciência. Evidentemente as técnicas psicológicas e a metodologia da educação tornam-se fatores nobres para o êxito desse cometimento. Entretanto, o amor – que tem escasseado nos processos modernos da educação com lamentáveis resultados – possui os elementos essenciais para o feliz propósito. Não deixemos de lado os deveres nobres que nos permitem amar como nunca antes amamos. Somos almas infantis ainda, aprendendo sobre esse sentimento solar. Cada instante, cada manhã e cada dia ao lado dos nossos filhos são tesouros da alma, que jamais iremos deixar de ter. Estejamos sempre ao lado deles, nas experiências de sol e de chuva. A paternidade e a maternidade são escolas magníficas ao nosso dispor. Abracemos essa oportunidade com todas as nossas forças. Não poupemos esforços na educação dos tesouros chamados filhos. 
Redação do Momento Espírita, com citação do poema Ao meu filho, de Andrey Cechelero e do cap. 14, do livro S.O.S. Família, por Espíritos Diversos, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 9.8.2019.

sábado, 10 de agosto de 2019

MEU PAI

Todos os que fomos acalentados pelo amor paterno, com certeza, recordamos nosso velho com saudade. Particularmente, quando nós mesmos nos tornamos pais, as lembranças acodem aos atropelos. Na acústica da alma, ainda ouvimos os passos firmes nas noites de trovoadas, a conferir em sua ronda, janelas, trancas, cortinas, o sono da criançada. Se fechamos os olhos, podemos sentir o deslizar da sua mão levemente pelo nosso rosto e o puxar cuidadoso do cobertor. Vemos sua silhueta se perdendo na penumbra e ouvimos o último abrir e fechar da geladeira. Recordamos da criança que fomos e que ficava à espera da sua volta do trabalho. Aqueles que tivemos pais cujo trabalho exigia muitos dias fora do lar, podemos sentir outra vez o coração aos atropelos, lembrando o som do carro dele, chegando, na madrugada. Será que lembrou de trazer um presente? Será que a sua barba está por fazer e vai espetar o nosso rosto? Recordamos o passeio dos fins de semana, do presente de aniversário, da ceia de Natal. Até das broncas após as nossas malandragens. Igualmente lembramos dos carinhos à chegada de nosso boletim, a alegria após passar de ano. A comemoração em família pelas nossas vitórias: Fundamental, Ensino Médio, Vestibular, Faculdade. E quando chegamos à adolescência? Quantos cuidados! 
-Quem são os seus companheiros? 
-Com quem você vai sair? 
-Aonde vai? 
-Não fume. 
-Não beba. 
-Não exceda a velocidade. 
-Respeite os sinais de trânsito. 
-É hora de chegar? 
-Não falei para chegar antes da meia-noite? -
-Filho, respeite os mais velhos. 
-Faça um carinho nos seus avós. 
-Quando, afinal, vai se decidir a trabalhar? 
-Garoto, vou lhe cortar a mesada. 
Olhando as rugas estampadas no rosto de nosso pai, somos tomados de carinho e nos curvamos diante dele. Quantos anos vividos no calor do lar paterno. Quantas lições! Lições que hoje repassamos para os nossos próprios filhos e, sem nos darmos conta, vamos repetindo os mesmos gestos dele. Daquele que há sessenta, setenta anos renasceu e um dia se tornou nosso pai. Olhamos nossos filhos e lembrando de como a generosidade de nosso pai, os seus cuidados nos fizeram bem ao caráter, nos esmeramos no atendimento aos nossos próprios rebentos. Por tudo isso, outra vez, é que a nossa gratidão cresce no peito e explode em uma grande manifestação de afeto. E, como se nosso pai fosse uma criança pequena, abraçamos o velho e o embalamos em nossos braços, com a mesma canção de ninar que um dia ele embalou a nossa infância. 
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As mensagens repassadas às crianças calam profundamente em suas almas. Embora o tempo, a distância, as circunstâncias mais adversas, tudo o que as aninhou e animou nos anos infantis repercute pela vida afora. Eis porque a infância tem um caráter de primordial importância ao ser humano. É nesse período de repouso para o Espírito, que se prepara para as lutas do mundo, que o ser se abastece de energias, vigor, valores reais que são, em verdade, as únicas heranças autênticas que os pais legam aos filhos. 
Redação do Momento Espírita, a partir do texto Pai, que circula pela Internet, sem menção a autor. Disponível no CD Momento Espírita, v.19, ed. FEP. 
Em 10.8.2019.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

ERRO FEMININO

Eram quatro mulheres. Conversavam, de forma distraída, enquanto aguardavam a consulta médica. Em certo momento, detalhando episódios de suas vidas, passaram a falar, cada qual, do maior erro cometido. Surgiram situações diversas e antagônicas e cada uma delas acreditava ter sido o que estava apresentando o seu maior erro. Contudo, o maior erro de suas vidas elas estavam realizando ali, naquele momento, em pleno consultório médico: todas fumavam. Tragavam com volúpia e pareciam se deliciar ao formar arabescos com a fumaça, em pleno ar. De uns tempos para cá, a mulher tem se exposto a doenças que, anteriormente, com menos frequência a alcançavam. Tal, por exemplo, a morte por enfarte e vários tipos de câncer. Quando a mulher está grávida, aumenta a dimensão do erro desde que, quando a gestante fuma, o feto também fuma, passando a receber substâncias tóxicas que, através da circulação materna, atravessam a placenta. Com o uso do cigarro, ocorre aumento do risco de abortamento, sangramentos e outras complicações. Com mais frequência, o parto da mulher fumante complica, sofrendo ainda risco de apresentar descolamento prematuro da placenta e ruptura da bolsa. O risco de morte súbita infantil também aumenta de acordo com o número de cigarros consumidos na gravidez. Em geral, em maior proporção se dá o nascimento de crianças com menor peso e menos comprimento, nas mães fumantes, bem como o risco de o bebê nascer com defeitos congênitos. Além de a si mesmas agredirem, destruindo a maquinaria física, agridem e muito o bebê, com repercussão para a sua vida. Fumar durante a gravidez compromete a inteligência da criança, sendo menor o rendimento intelectual dos filhos de mães fumantes. Erro grave ainda comete a mulher que amamenta e fuma, pois a nicotina passa pelo leite e é absorvida pela criança. E o que dizer do risco de crianças pequenas contraírem infecções respiratórias, como bronquite, pneumonia e complicações de asma, quando elas são obrigadas a viver em ambientes poluídos pela fumaça do cigarro? Com certeza, é grave o erro feminino de se entregar ao vício do tabaco, destruindo-se, e complicando, muitas vezes, a vida daqueles pelos quais é responsável.
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O fumo é causa de redução da vida de um fumante de 5 a 8 anos. Isto, perante as Leis Divinas, pode ser considerado suicídio indireto. O tabagismo é um dos maiores problemas da saúde pública. A mulher fumante que engravida e abandona o vício, para preservar a integridade física do bebê em formação, afirma com sua atitude sua capacidade de amar. 
Redação do Momento Espírita, com base em informações do volante e Mãe, não fume durante a gravidez, impresso e distribuído pelo Ministério da Saúde. 
Em 24.11.2009.