Maria de Magdala ouvira as pregações do Evangelho do Reino, não longe da vila principesca onde vivia entregue a prazeres, em companhia de patrícios romanos.
Tomara-se de admiração profunda pelo Messias.
Que novo amor era aquele apregoado aos pescadores singelos por lábios tão divinos?
Até ali, caminhara ela sobre as rosas rubras do desejo, embriagando-se com o vinho de condenáveis alegrias.
No entanto, seu coração estava sequioso e em desalento.
Seu Espírito tinha fome de amor. O Profeta Nazareno havia plantado em sua alma novos pensamentos, depois que lhe ouvira a palavra.
Observou que as facilidades da vida lhe traziam agora um tédio mortal ao Espírito sensível.
Maria chorou longamente, embora não compreendesse ainda o que pleiteava o Profeta desconhecido.
Entretanto, Seu convite amoroso parecia ressoar-lhe nas fibras mais sensíveis de mulher. Jesus chamava os homens para uma vida nova.
Antes do famoso banquete em Naim, onde ela ungiria publicamente os pés de Jesus com os bálsamos perfumados de seu afeto, notou-se que uma barca tranquila conduzia a pecadora a Cafarnaum.
Dispusera-se a procurar o Messias, após muitas hesitações.
A recém-chegada sentou-se, com indefinível emoção a estrangular-lhe o peito.
Vencendo, porém, as suas mais fortes impressões, assim falou, em voz súplice:
-Senhor, ouvi a vossa palavra consoladora e venho ao vosso encontro!... Tendes a clarividência do céu e podeis adivinhar como tenho vivido!
Sou uma filha do pecado. Todos me condenam. Entretanto, Mestre, observai como tenho sede do verdadeiro amor!...
Minha existência, como todos os prazeres, tem sido estéril e amargurada...
As primeiras lágrimas lhe borbulharam dos olhos, enquanto Jesus a contemplava, com bondade infinita.
Ela, porém, continuou:
-Ouvi o vosso amoroso convite ao Evangelho! Desejava ser das vossas ovelhas. Mas, será que Deus me aceitaria?
O Profeta Nazareno fitou-a, enternecido, sondando as profundezas de seu pensamento, e respondeu, bondoso:
-Maria, levanta os olhos para o céu e regozija-te no caminho, porque escutaste a Boa Nova do Reino, e Deus te abençoa as alegrias!
Acaso, poderias pensar que alguém no mundo estivesse condenado ao pecado eterno? Onde, então, o amor de nosso Pai?
Nunca viste a primavera dar flores sobre uma casa em ruínas? As ruínas são as criaturas humanas. Porém, as flores são as esperanças em Deus.
Sobre todas as falências e desventuras próprias do homem, as bênçãos paternais de Deus descem e chamam. Sentes hoje esse novo sol a iluminar-te o destino!
Caminha agora, sob a sua luz, porque o amor cobre a multidão dos pecados.
* * *
Muitas vezes nos sentimos como essa casa em ruínas. De nada temos vontade, e tudo parece querer desmoronar sobre nossa cabeça confusa.
Mas, que maravilha saber que a primavera é capaz de dar flores em nós!
Que maravilha saber que a vida nos dá sempre novas chances, assim como deu a Maria. Chances de trilhar novos caminhos, de recomeçar.
Lembremos sempre da figura da casa em ruínas na lição de Jesus. Lembremos sempre da primavera. Lembremos que Maria de Magdala encontrou o verdadeiro amor, e recomeçou...
Redação do Momento Espírita com base no cap. 20,
do livro Boa Nova, pelo Espírito Humberto de Campos,
psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB.
Em 19.8.2019.
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