terça-feira, 31 de dezembro de 2019

ANO NOVO ESPERANÇOSO

Percebemos um passar tão rápido do tempo que, por vezes, quase nos assustamos. Ainda ontem, adentramos um ano novo. Mas, estamos novamente prestes a vivenciar o mesmo fato. Olhamos para aquele bebezinho que veio alegrar nosso lar, e o pequerrucho já está a correr por todos os cantos, nos exigindo mais cuidados. Nossa adolescente cheia de vontades e ciosa de suas coisas, passou no vestibular, e terá que residir longe de nossos olhos cuidadosos. Olhamo-nos no espelho e notamos novas rugas que se juntam às existentes, nos fazendo sentir o passar dos dias, no mapa da nossa face. A semana mal começa e estamos caminhando para o sábado e domingo, preocupados com o novo período de trabalho ou de estudo. Nessa corrida que parecemos empreender, é muito bom guardarmos a esperança de alguns dias mais tranquilos na rotina acelerada. Esperança de ver nosso bebê crescer, nossa adolescente se formar, nossa família permanecer unida, embora cada qual tenha que seguir seu rumo. Esperança de um Ano Novo repleto de experiências novas, realizações desejadas, cumprimento de deveres. Esperança de realizações gerais em nível social, onde possamos respirar a paz, a fraternidade, a concórdia. 
 * * * 
Esperar é uma virtude essencial que necessitamos cultivar em nossos corações, em nossas mentes, em nossas vidas. Não simplesmente aguardar. Também agir, realizando nossa parte, por mais singela que seja, em benefício geral. Uma gota d’água pode parecer uma quantidade irrisória aos nossos olhos, mas poderá ser aquela que transborde o copo e irrigue ao seu redor. Um aperto de mão pode ser um gesto simples, no entanto, desde que seja um aperto firme e sincero, pode transmitir aquela energia que encoraja e levanta um coração titubeante e inseguro. Um abraço pode nada significar para quem o vê acontecer de longe. Porém, para quem sente o bater de outro coração junto ao seu, pode representar o impulso do recomeço. Um sorriso pode ser interpretado e sentido de mil e uma formas. No entanto, pode representar a injeção de confiança a alguém desalentado. Alimentar a esperança é dever de todos nós, filhos de Deus, que sempre nos permite o melhor, assinalando a Sua Providência e a Sua Misericórdia. O ditado popular assinala que a esperança é a última que morre. Contudo, basta querermos alimentá-la para que seja também, a primeira a renascer. Não desistamos dela em circunstância alguma porque ela facilita o nosso entendimento sobre as possíveis dificuldades que enfrentamos. Ela nos permite olhar para o futuro, considerando-o portador de condições melhores das que desfrutamos no presente. A esperança responde pela aspiração de felicidade e de realização de nossos corações, mantendo o desânimo à distância. Que seja sempre mais e mais esperançoso o nosso Ano Novo, com fortes impulsos de solidariedade, fraternidade e caridade. Que sejam trezentos e sessenta e cinco dias de trabalho, de realizações, de paz, de alegria contagiante. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 30.12.2019.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

UM ANO NOVO! UMA NOVA CHANCE!

Está chegando o Novo Ano. 
Alguns o aguardamos com ansiedade porque assinalará uma etapa diferente em nossa vida. 
Será o ano do nosso ingresso na Universidade. 
Será o ano em que a viagem que planejamos se deverá concretizar. 
Será o ano em que nos casaremos, em que teremos um filho, em que finalizaremos o livro que estamos escrevendo e o publicaremos. 
Será o ano... De muitas realizações, é o que idealizamos. 
Normalmente, se reveste de muitas festividades. Fogos de artifício, música ruidosa, diversas programações. Deveríamos mesmo, todos, nos empenharmos em comemorar intensamente o Novo Ano. É uma etapa nova. O relógio da Terra assinala que trezentos e sessenta e cinco dias foram vencidos e que outros tantos deverão se reprisar. É momento de alegria, de confraternização, de lembrarmos de amigos, de afetos talvez distantes e de honrá-los com nossa presença, ou com nosso abraço, nossa conversa virtual. Momentos em que desfrutamos da alegria do sol, da generosidade do mar, neste imenso continente que habitamos, chamado Brasil. No entanto, seria interessante, entre tantos abraços e comemorações, nos recordarmos daqueles que entram o Novo Ano sem tantas oportunidades. Lembrarmos dos que se encontram nos hospitais, padecendo dores, num processo de recuperação da saúde. Ou que aguardam, simplesmente, que a morte os venha abraçar, a fim de que cessem as dores já enfrentadas e vencidas. 
Lembrarmos dos que não têm um lar para chamar de seu e perambulam pelas ruas, pelas estradas, sem ter um porto seguro para chegar.
Lembrarmos dos que choram a ausência física de tantos amados que partiram, deixando uma imensa lacuna na alma. E, nesse dia, a saudade se torna mais intensa.  
Lembrarmos das mães que têm seus filhos nas prisões, filhos que enveredaram por caminhos estranhos, diferentes do que elas haviam idealizado. 
Lembrarmos de quem recolhe, nas estradas, hoje, o corpo de um ser amado, colhido pela infelicidade de um acidente. 
Lembrarmos de quem se encontra só e se pergunta se um dia encontrará uma alma querida que o ampare, o aconchegue, lhe dê carinho. 
Lembrarmos dos que vivem na inconsciência de si mesmos, sem terem noção do dia que chega, do dia que passa. 
Lembrarmos das mães que conduzem filhos deficientes, que desejariam intensamente que eles lhes pudessem sorrir, uma vez que fosse, ou tomar da mão e andar com elas, ao menos alguns passos. 
Lembrarmos de tantos que padecem fome de pão. Também fome e sede de justiça e amparo. 
E então, entre tantos festejos, dedicarmos alguns minutos para rogar aos céus por eles, para que o Novo Ano lhes traga conforto ao coração, ânimo para a continuidade das lutas, esperança de que algo se haverá de modificar. Que para eles também haverá sorrisos, e bênçãos, e flores, logo mais. Porque Deus, o Pai de todos, não esquece nenhum de Seus filhos. E, embora as dores que precisemos suportar para nosso próprio burilamento, Ele propicia sorrisos de uma alma amiga, mão generosa de um anônimo que socorre, a fala tranquila de alguém que acalma. 
Novo Ano. Ano Novo. 
Seja a esperança a chama constante que jamais deixemos apagar. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 26.12.2019.

domingo, 29 de dezembro de 2019

ÉS PROFESSOR!

Professas, ensinas, ministras aulas, és professor! 
Teu coração chegou à Terra preparado para a missão que desejas desempenhar. A tua mente se ilumina cada vez mais para corresponder, com sabedoria, aos chamados das mentes que te buscam. Dividindo teu saber, espalhas a chama do conhecimento que retira da ignorância as almas que em ti confiam, na esperança de brilhar. Dividindo o saber, multiplicas os sábios. Equação curiosa: quanto mais divides, mais multiplicas. Teu comportamento está sempre sob a auto-vigilância, pois sabes que teus exemplos serão sempre imitados e os trazes recheados de esperança. Servindo de espelho constróis um mundo novo. Tua alegria está em ver tuas lições serem aprendidas com sentimento de felicidade. Teu sorriso clareia faces e mentes. Teus passos são firmes no propósito abraçado de cumprir teu desiderato. O caminho que traças é rota para os que te admiram. Teu olhar perspicaz enxerga muito além do olhar comum, porque olha firme nos olhos, atravessando as janelas da alma. Tua voz ganha tonalidades variadas de acordo com a precisão e importância do ensinamento que transmites. Esses tons repercutirão na lembrança dos que te ouvem. Tuas mãos alertas acodem, amparam, acarinham, indicam, com segurança, a direção a seguir. A sinalização dada por elas é rota de conhecimento e de sabedoria. Teu pensamento está sempre envolvido com a lição a ser repassada, e com aqueles que a deverão assimilar. Vários conceitos e ideias serão despertados conforme o ensinamento ofertado. Tua responsabilidade ecoa para além da vida. Teu exemplo é lição que espalhas ao redor. 
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No mundo, temos professores que contribuem para nossa ilustração, para nossa instrução. Mas, temos algumas almas especiais que conseguem nos deixar marcas profundas para a vida inteira. Aqueles que vivenciam a tarefa com paixão, não são apenas professores. Para os olhos dos alunos se transformam em heróis, exemplos, companheiros de jornada, amigos... O verdadeiro professor é aquele que inspira seus alunos a pensarem por si mesmos, a superarem a si mesmos, a vencerem os desafios, a crescerem continuamente. 
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Jesus, o Mestre dos mestres é, e sempre será, o Modelo a ser copiado, o Guia a ser seguido em todas as áreas. O amor sempre foi Sua inspiração, onde e com quem estivesse. Sua paciência, o combustível a mover a máquina do saber e desvendar capacidades adormecidas. Sua dedicação era bem orientar e conduzir Seus pupilos. O respeito com que tratava sábios e ignorantes das verdades que defendia, fazia-os respeitadores e fiéis. Usando de exemplos cotidianos e naturais com os Seus aprendizes, até hoje desperta indagações sobre a verdadeira meta a alcançar. Seu olhar, penetrando o olhar do aprendiz, desvendava os recônditos da alma. Seu toque gentil restaurava a vontade de vencer obstáculos e desvendar novos caminhos. Jesus, o Mestre que se fez exemplo, aguarda que nós, aprendizes da arte de ensinar, nos tornemos inspiração para nossos alunos e seguidores. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 11.11.2017.

sábado, 28 de dezembro de 2019

ESPORTES

EMMANUEL
ANDRÉ LUIZ
CHICO XAVIER
Na atualidade, prima-se pelo culto ao corpo. Esmeram-se os jovens em exercícios por horas, a fim de adquirirem o que chamam de corpo perfeito. Para esculturarem as formas físicas, dedicam-se a exaustivas horas de exercícios em aparelhos apropriados. Por vezes, cometem descuidos graves, a fim de atingirem mais rapidamente seus objetivos, quais sejam a ingestão de determinados produtos, agressivos à saúde. Para que possam exibir uma cor invejável no verão, utilizam-se de bronzeadores e horas certas de exposição ao sol. De outras, se submetem a longos períodos sob luzes artificiais, esquecidos de que tudo deve acontecer de forma gradual, prudente. Alguns têm como objetivo alcançar prêmios em disputas que vão desde o jogo amistoso àquele de caráter internacional, onde circulam milhões de reais, além da fama mundial. Pais preocupados com seus filhos, cedo os matriculam em aulas de natação, judô, ballet, futebol, desejando que se tornem exímios desportistas, lutadores, bailarinos. Quiçá, até, possam um dia, honrar as cores da bandeira pátria, em solo estrangeiro, trazendo o peito coberto das medalhas alcançadas em olimpíada ou outros eventos de semelhante retumbância. Louvável que se cuide do corpo e que se dedique a ele o tempo devido, preocupando-se com a alimentação, praticando esportes e atentando para a higiene. Importante, contudo, não esquecermos de que, tanto quanto o corpo físico, a alma igualmente necessita de cuidados.
Desta forma, enquanto o corpo se exercita em longas caminhadas, a alma pode encetar a marcha do dever retamente cumprido. Ante o exercício dos remos para o físico, pode a alma estabelecer a regata de suor no trabalho digno. Assim também o exercício do devotamento ao estudo, o salto do esforço pela melhoria interior, vencendo obstáculos, em verdadeira corrida, em que o prêmio final é a perfeição. Para as boas obras, a maratona da boa vontade e o torneio da gentileza, no trato com o semelhante. Nas piscinas largas do mundo, onde a injúria impera e a calúnia estende tentáculos, o mergulho nas águas do silêncio. Em todos os momentos, a ginástica da tolerância perante as agressões gratuitas e as ofensas sem par. Enfim, nas provas de cada dia, a demonstração da resistência moral, de quem segue Jesus. Todos esses esportes do Espírito podem ser praticados em qualquer idade e sob quaisquer condições, mesmo as que possam parecer as mais adversas. E, acreditemos, nesses campeonatos, o prêmio será luz em nossos corações, a brilhar para sempre.
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WALDO VIEIRA E CHICO XAVIER
Exercícios diários de reflexão e contenção dos impulsos da nossa personalidade inferior plasmará em nós condicionamentos íntimos, que nos concederão calma e equilíbrio, gerando harmonia interior e paciência. 
Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Desportos, do livro Estude e viva, pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, ed. Feb e no verbete Exercício do livro Repositório de sabedoria, v.1, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.
Em 15.05.2009.
http://momento.com.br/pt/index.php

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

O ESPORTE E A GUERRA

Cerca de cinquenta homens de cada lado. Homens preparados para lutar, para matar. Vindos de lugares diferentes. O que eles têm em comum é que são loucos por futebol. O clima deveria ser natalino, mas as circunstâncias os colocaram em campos opostos. O lugar onde se encontram é terra de ninguém. O apito soa em algum lugar. O que eles fazem? Eles se divertem com a bola improvisada. Chutam e brincam de marcar gols, de dar passes e de driblar. Eles são soldados alemães, de um lado, e soldados ingleses, do outro. Ninguém perde, todos ganham. Depois de meia hora de brincadeira são convocados a voltar para as trincheiras. Era 25 de dezembro de 1915 e a Primeira Guerra Mundial mataria a maioria deles. Mas, naquela improvável confraternização de Natal, eles foram felizes. Quem deu a ordem para a brincadeira acabar foi o major britânico, que ordenou o retorno da tropa para a trincheira lembrando, aos gritos, que estavam lá para matar os alemães, não para fazer amizade com eles. Não há registros oficiais dessa partida, mas houve alguns relatos dos participantes. A “Trégua de 1915” está nos livros de História, não é um conto de Natal. Um dos soldados acabou conhecido por ter vivido muito. Viveu para contar e fez um relato singelo daquele Natal. Afirmou que, na noite de 24 de dezembro, ele e seus colegas ouviram canções de Natal, vindas do lado alemão e responderam cantando. Naquele Natal de 1915, houve diversas tréguas improvisadas e informais, ao longo das frentes de batalha. Porém, aquela breve partida de futebol, um futebol alegre, sem resquícios de batalha, foi inesquecível. 
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Marleth Silva
Nestes tempos em que as arenas de futebol parecem verdadeiros campos de batalha, campos de ódio e violência, vale a pena refletir sobre algumas questões: Será que estamos entendendo a verdadeira função dos esportes em nossa sociedade? Será que perdemos o espírito esportivo, quando transformamos essas atividades em simples negócios, onde não há mais espaço para diversão e confraternização? Será que estamos voltando às arenas para assistir massacres? Depois de tanto tempo? Será que ainda temos na alma esse prazer doentio? No que nos tornamos quando vestimos a camisa desse ou daquele time? Será que uniformes têm o poder de nos transformar em primitivos novamente? Não podemos permitir isso. Não mais. Fomos tão cruéis durante tanto tempo e agora, que temos a chance de viver a Nova Era, a era de amor, de amizade, insistimos nesses vícios destruidores? Esporte é vida. Esporte é saúde do corpo e da alma. Esporte é superação íntima. Esporte não é destruição ou um simples instrumento para colocarmos para fora nossos animais internos. O prazer de reunir um grande grupo para torcer por essa ou aquela equipe, nessa ou naquela modalidade, deve estar na confraternização. O esporte perde seu sentido quando abandona a diversão, o lúdico. E mais, quando abandona a paz. Ele deve ser instrumento da paz, e não da guerra. Reflitamos sobre isso tudo. Eduquemos nossas crianças. Alteremos os costumes bárbaros ainda tão presentes nos esportes da Terra. Esporte é vida. Esporte é saúde, confraternização e veículo da paz. 
Redação do Momento Espírita, com base em reportagem de Marleth Silva, do jornal Gazeta do Povo, de 15.12.2013. 
Em 10.3.2014

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

LEMBRANÇAS DE UM NASCIMENTO

O relógio da eternidade mal iniciara a movimentar-se, marcando o tempo do novo planeta. Era um local primitivo. Parecia um imenso laboratório de experiências, em que se apresentavam plantas e animais. Nesse imenso jardim de delícias e de surpresas, onde quase tudo ainda estava por ser descoberto pelo habitante mais ilustre, o ser humano, os ventos varriam a atmosfera, como num pré-ensaio de sinfonia. Nas proximidades da crosta terrestre, o Governador Planetário recebeu milhares de almas, que deveriam encarnar e reencarnar, através dos tempos. Vinham no intuito de aprimorarem suas próprias deficiências morais, quanto auxiliar no progresso do planeta que se ensaiava para um destino maior. Alguns se mostravam entristecidos, preocupados outros, ante o que lhes caberia realizar, nesse novo lar. Então, Jesus, o Suave Pastor, lhes falou do amor e da justiça do Pai, que a nenhum dos Seus filhos abandona. Acenou-lhes com o trabalho imenso que teriam, exatamente como imigrantes em uma terra nova e inculta. Disse-lhes dos méritos e dos louros que lhes seriam concedidos. No entanto, mais do que tudo, confortou-lhes as almas, afirmando que um dia viria estar com eles. Por isso, na História das civilizações mais antigas são encontradas profecias, lendas, augúrios que falam de um Rei, que abandonaria as estrelas, e habitaria entre os homens. Apontam um Ser especial, luminoso, que viria de um lugar distante, para amá-los. O povo de Israel falou de um Messias, cantado e apontado pelos antigos profetas em versículos recheados de esperança. Passados os séculos, Ele veio. Anunciado por uma estrela, atraiu a atenção dos estudiosos magos que viviam em várias partes do Oriente. Eles, que compulsavam os mapas zodiacais, que se esmeravam no entendimento das anotações de antepassados, aguardavam. Quando viram a estrela, prepararam as caravanas e convergiram para o local. Encontraram um menino, uma mãe, um pai. Levaram-lhe presentes e, como diz o Evangelho de Mateus, entraram na casa e O adoraram. O Rei dos reis, nosso Senhor Jesus Cristo teve a anunciá-lO muitos Espíritos que se juntaram, formaram aquele brilho extraordinário, semelhante a um astro estelar, somente perceptível para os que tivessem olhos de ver. Nos campos de Belém, pastores foram visitados por um mensageiro que lhes disse vir trazer uma notícia de grande alegria. O Rei solar viera estar com os Seus. Tomara um corpo de carne e, pequenino, envolto em panos, numa gruta, se encontrava protegido pela ternura de uma mulher e a fortaleza de um homem. Seus pais. Um coro celestial se fez ouvir. Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade para com os homens. O Pastor viera para as Suas ovelhas. A noite era especial. Nunca mais a Terra voltaria a ser habitada por Alguém tão grande, Seu próprio Governador. A noite de Belém, da estrela, dos pastores, do cântico celeste se reprisa a cada ano. É Natal. Abramos os olhos e os ouvidos. Permitamo-nos ver a estrela do amor, ouvir o canto da esperança. Rememoremos o Excelso Evento. Oremos. Amemos. 
Redação do Momento Espírita, com citação do cap. 2, versículo 11 do Evangelho de Mateus. 
Em 25.12.2019.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

COMEMORAÇÃO DE NATAL

Excelso Amigo! 
Neste dia de Natal, desejamos honrar-te a Celeste figura. Na nossa humana pequenez, idealizamos festejos profanos que, em vez de Te louvar, por vezes ultrajam a mensagem de que és portador. Celeste menino! Fizeste-te tão pequeno, para servir aos homens e nós nos cremos tão portadores de grandeza e sabedoria. Deixaste as estrelas e vieste viver entre nós. Nós vivemos na Terra e nos acreditamos detentores de todo poder. Chegamos a este Teu Natal um tanto cansados. Os dias que o antecederam foram demasiadamente exaustivos. Precisamos consultar preços, fazer contas e empréstimos, selecionar os amigos que nos receberão os mimos. E, relegamos, naturalmente, ao esquecimento aqueles que não se constituem benévolos aos nossos corações. Deixamos de lado os que não apreciamos, os que nos desapontaram e os que desejamos desagradar. Ah, Celeste menino! Como estamos longe de comemorar-te o Natalício como devido. Esquecemos de Te convidar para os festejos e de preparar-te a festa. Preparamo-la para nós somente. Os manjares serão aqueles que mais nos agradam. Também nos requisitaram tempo a escolha do melhor cardápio, a procura pelo melhor bufê. Até passamos algumas horas na cozinha. As bebidas foram selecionadas com todo esmero. É possível que algumas delas nos levem à inconsciência dos atos ou a cometer tolices. Os presentes serão para locupletar as nossas paixões... Endividamo-nos por muitos meses para que hoje os presentes fossem muitos. E tudo, tudo será para nós. Doce menino! Quando aprenderemos que a festa deve ser Tua, e os Teus desejos é que deveriam ser satisfeitos? Por isso, Jesus, neste Natal, permite que despertemos. Permite que seja este Natal, o Natal da nossa consciência desperta. Então, Jesus, no próximo Natal, Tu serás o Excelso homenageado, o Celeste convidado que honraremos na intimidade do próprio coração. As luzes que verás, então, estarão palidamente representando a luminosidade das nossas mentes e corações, plenos de amor. Teremos a mesa farta, mas não somente a nossa. Teremos pensado na dos nossos irmãos. Teremos sorrisos, trocas de presentes, mas sobretudo muitos abraços e reconciliações. Recordaremos da mensagem do perdão, da humildade, da caridade. Ouvirás a música festiva do nosso lar acolhedor, onde estará a nossa família te aguardando a honrosa visita. Jesus, como aguardaremos este Natal! 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita Especial de Natal, v. 15, ed. FEP. 
Em 21.12.2019.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

AQUELE NASCIMENTO

Aquele Nascimento insculpiu na memória dos tempos a grandeza do amor, então desconhecido ou ignorado. Mediante os ensinamentos de Jesus, ocorreram significativas alterações em favor do mais rápido desenvolvimento espiritual dos seres humanos. A misericórdia, que era desconsiderada, passou a assinalar as consciências, ensejando visão diferente a respeito dos párias e dos deserdados. Ele próprio entregou-se ao ministério de exemplificar, tornando-se a sua vida um Evangelho de realizações. O seu inefável amor renovou a face do planeta com a palavra libertadora, musical, severa e nobre. Não amado, persistiu amando. Não compreendido, manteve-se compreensível. Não aceito, perseverou nos ensinamentos sublimes. Jesus entre as criaturas humanas é o momento culminante no processo histórico da evolução. Não mais se repetirão Aquele Nascimento, aqueles dias, aquelas bênçãos. Nem serão necessários, porquanto os acontecimentos permanecem indeléveis na consciência dos tempos idos, assinalando os que virão. 
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Lembrarmos de Jesus, do amor maior que nos ensinou, é retornar de imediato àqueles dias felizes. Aproveitemos o ensejo do Natal, para relembrar, para refletir, para repensar. Em espírito de fraternidade e colaboração – que era o que reinava entre Jesus e os Seus – partilhemos as lições, as passagens, trazendo de volta aquele sentimento, trazendo de volta aquela luz que inundou a Terra de forma tão única. À mesa, recordemos as inúmeras vezes em que Ele exemplificou o espírito de comunhão, onde todos tinham voz, onde todos olhavam para todos com alegria e gratidão. Na prece, recordemos o respeito do Mestre para com o Pai, o contato constante, a ligação que fortalecia Aquela Chama encarnada na Terra. 
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Estes são dias muito difíceis. Durante a larga transição que se opera na Terra, atingimos, neste momento, o ponto culminante das provações e dores profundas, convidando à reflexão e à mudança de atitude comportamental para melhor. Não nos desesperemos em vão, se nos sentirmos exauridos por problemas e dores. Recordemos Jesus e deixemo-nos por Ele conduzir. Confiemos no bem, confiemos no amor, confiemos nas leis maiores que regem o Universo com maestria, mesmo em meio ao aparente caos reinante. Na data evocativa do Seu Nascimento, façamos uma reflexão mais profunda e verifiquemos se Ele já nasceu em nosso coração. Após a constatação da Sua presença ou não em nós, saiamos do desconforto moral ou da comodidade, da indiferença ou do erro e permitamos que este seja um Sublime Natal em nossas vidas. E vivamos felizes e dedicados ao bem que Ele exemplificou e nos recomendou. Todo momento é chance de renovação. Todo dia é oportunidade de renascer. Nada está perdido. Ninguém está condenado. Bem-aventurados os que choram, pois que serão consolados. Bem-aventurados os famintos e os sequiosos de justiça, pois que serão saciados. 
Redação do Momento Espírita, com base na mensagem Sublime Natal, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, na reunião mediúnica de 21 de setembro de 2005, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia. 
Em 23.12.2019.

domingo, 22 de dezembro de 2019

OS ESPÍRITOS QUE NOS PROTEGEM

No livro bíblico intitulado Livro de Tobias, conta-se que um pai procurava um acompanhante para seu filho, de nome Tobias, jovem e inexperiente, que deveria realizar longa e perigosa viagem. Um moço se apresentou e foi selecionado por aquele pai, iniciando-se a viagem. Em certo momento da jornada, um peixe muito grande foi pescado por Tobias e seu acompanhante o orientou para que tivesse o cuidado de extrair o fígado do animal e guardá-lo, cuidadosamente. No percurso, mais de uma vez, os conselhos e cuidados do moço foram especialmente importantes para o êxito da viagem. Os dois chegaram ao seu destino, Tobias concretizou a tarefa que lhe incumbira seu pai e retornaram, sãos e salvos. Grande foi o júbilo daquele pai em ter de retorno seu filho, ileso, com saúde. Ao agradecer, de forma efusiva, ao dedicado acompanhante, é surpreendido com uma atitude dele. O jovem orienta Tobias para que prepare, de forma peculiar, o fígado do peixe que havia sido pescado na viagem. Depois, lhe diz para que coloque a pasta que fizera sobre os olhos do seu pai, que era cego. Para surpresa de todos, esse logo teve restaurada a sua visão. Ainda mais reconhecido, o pai deseja recompensar regiamente aquele homem. Contudo, ele desaparece ante seus olhos, dando-se conta todos de que se tratava de um anjo do Senhor. Este relato nos diz da dimensão do atendimento espiritual. Um mensageiro celeste se faz visível e cuida, com desvelo, de uma família. Acompanha o jovem filho na longa viagem. Auxilia-o a cumprir a missão de que lhe incumbira o pai. Orienta-o, ademais, no preparo de medicação que propiciará a cura da cegueira do patriarca da família. Quantas bênçãos dispensadas! Assim também é na nossa vida, embora com maior sutileza. Todos os dias, através de intuições, de ideias felizes, nos chegam orientações de procedimentos a serem adotados, em situações específicas. Quase sempre, levamos à conta de nossas próprias ideias, sem agradecermos aos mensageiros de Deus por isso. Vezes incontáveis somos salvos de perigos iminentes, desviados de situações embaraçosas por esses abnegados seres espirituais, que por nós velam, a mando do Pai de todos nós. Eles se mostram sempre atentos, desincumbindo-se de forma especial de suas missões. Se prestarmos atenção, poderemos lhes perceber as presenças amigas, inúmeras vezes, socorrendo-nos, auxiliando-nos. Busquemos lhes seguir as vozes para sermos mais felizes e exitosos em todos os nossos empreendimentos. 
Redação do Momento Espírita, com base no livro bíblico O livro de Tobias.
Em 6.1.2017.

sábado, 21 de dezembro de 2019

O ESPÍRITO

LÉON DENIS
Um dia, um médico materialista resolveu questionar um de seus pacientes, que sabia ser espírita. Quando ele chegou para a consulta, foi logo perguntando, durante o exame: 
-Você tenta ajudar os Espíritos com a sua doutrina? 
-Sim! Foi a resposta. 
-Você já viu um Espírito? 
-Não! 
Disse o paciente. 
-Você já ouviu um Espírito falando? 
-Não! 
Falou o espírita. 
-Você já sentiu algum Espírito? 
-Não! 
-Pois bem, completou triunfante o médico, temos aí três argumentos contra e um a favor da existência do Espírito ou da alma. Logo se conclui que, segundo a lógica, não existe nem um, nem outra. 
O paciente espírita perguntou então ao médico:  
-Você, como médico, já viu uma dor? 
-Claro que não! 
Respondeu rápido. 
-Você já provou uma dor? 
-Não! 
-Você já cheirou uma dor? 
-Não! 
-Você já sentiu uma dor? 
-Sim! 
Disse, finalmente, o médico. 
-Pois bem, concluiu o paciente, temos aí três argumentos contra e um a favor da existência da dor. Apesar disso, você sabe que existe a dor. E eu sei que existem Espíritos! 
* * * 
Somos feitos de sombra e luz. Somos seres materiais, sujeitos a todas as mudanças da matéria e Espíritos, com as suas riquezas latentes, as suas esperanças radiosas. Cada alma humana é uma projeção do grande foco eterno. Temos em nós os instintos dos animais mais ou menos comprimidos pelo trabalho longo e pelas provas das existências passadas. Temos também em nós a crisálida do anjo, do ser radioso e puro, que podemos vir a ser pelas aspirações do coração e pelo sacrifício constante do eu. Somos seres que tocamos as profundezas sombrias do abismo com os pés, e com a fronte, as alturas fulgurantes do céu. Quanto mais se eleva o Espírito, se purifica, tanto mais se torna acessível às vozes do Alto. Tudo o que vem da matéria é instável. Tudo passa. Tudo foge. Os montes a pouco e pouco vão sendo abatidos pela ação dos elementos. As maiores cidades se convertem em ruínas. Os astros se acendem, resplandecem. Depois apagam-se e morrem. Só a alma é imperecível, imortal. Acima das civilizações extintas, sobrevivem as almas. Através dos tempos, a alma caminha, adquirindo conhecimento. Vê sempre se abrirem novos campos de estudos e descobertas. Paulatinamente, vai descobrindo que por toda a parte reinam a ordem, a sabedoria, a Providência e seu entusiasmo e sua confiança aumentam cada vez mais. Seu destino é a perfeição. À medida que vai adquirindo virtudes, ela saboreia de maneira mais intensa as felicidades da vida espiritual. 
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Deus conhece todas as almas, que formou com o Seu pensamento e o Seu amor. Ele as deixa percorrer vagarosamente as vias sinuosas, subir os sombrios desfiladeiros das vidas terrestres, acumular pouco a pouco em si os tesouros de paciência, de virtude, de saber, que se adquirem, na escola do sofrimento. Mais tarde, amadurecidas pelos raios do sol Divino, saem da sombra dos tempos e suas faculdades desabrocham em feixes deslumbrantes. Daí em diante são luz que irradia e se revela em obras que são como o reflexo do próprio Criador. 
Redação do Momento Espírita, com base em texto de autoria ignorada e no cap. IX, do livro O problema do ser, do destino e da dor, de Léon Denis, ed. FEB. 
Em 16.1.2015.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

VOZES DOS IMORTAIS

AMÉLIA RODRIGUES
O Espírito Amélia Rodrigues, em seu Poema da gratidão, diz que quem ouve a voz dos imortais não esquece nunca mais. Reflexionando sobre a preciosa afirmativa, ficamos a cogitar como será ouvir a voz dos celestes mensageiros. Narra-nos o Evangelista Lucas que, em certa noite, havia, na região da Judeia, alguns pastores que pernoitavam no campo, realizando a vigília noturna do seu rebanho. E deles se aproximou um anjo, a glória do Senhor iluminou ao redor deles, enchendo-os de grande temor. E o anjo assim lhes falou: 
-Não tenhais medo! Eis que vos trago boas-novas de grande alegria, que será para todo o povo. Nasceu para vós, hoje, um Salvador, que é o Cristo Senhor, na cidade de Davi. Este é o sinal para vós: encontrareis um recém-nascido enfaixado e deitado numa manjedoura. 
Logo, juntou-se ao anjo uma multidão do exército do céu, louvando a Deus e dizendo: 
-Glória a Deus nas alturas, paz sobre a Terra, boa vontade para com os homens. 
Que momento extraordinário! O Senhor das estrelas nasce entre os homens e o Pai Celestial envia um coro celeste para lhe anunciar a chegada. 
 * * *
Ao longo dos séculos, os homens, debruçando-se sobre este belo texto que nos fala daquele anúncio jamais igualado, imaginaram como terá sido o cântico celeste. E o tentaram reproduzir. De todas as versões, possivelmente a que melhor traduza a emoção e a grandeza da excelsa notícia, nos campos da Judeia, seja o Adeste Fideles. Os versos dizem mais ou menos assim: 
Venham todos, ó fiéis. 
Alegres, triunfantes. 
Vinde, vinde a Belém. 
Vejam o recém-nascido, o Rei dos anjos. 
Vinde, adoremos o Senhor. 
Cante agora o coro dos anjos. 
Cante agora a assembleia dos coros celestiais. 
Glória, glória a Deus, no alto dos céus. 
Vinde, adoremos o Senhor. 
Portanto, aquele que nasceu no dia de hoje: 
Jesus, a ti seja a glória do Pai eterno. 
A palavra se fez carne. 
Vinde, adoremos o Senhor. 
Alguns consideram que essa versão seria da autoria do rei português D. João IV, mecenas das artes, pelos idos de 1640. O que se sabe é que a música foi executada, em 1797, na embaixada portuguesa, em Londres. O que importa é que, produto de homens inspirados pelos mensageiros espirituais, interpretada pelas vozes privilegiadas de variadas épocas, sempre conduz à profunda emoção. É como se reprisássemos aqueles momentos extraordinários em que o Celeste Amigo veio estar conosco e os coros celestiais lhe anunciaram a chegada. E, se nos emocionamos tanto com as vozes humanas, ficamos a pensar como serão as vozes espirituais, os coros dos anjos. Sim, tem razão Amélia Rodrigues: quem os escutar, não os poderá jamais esquecer. Ficarão indelevelmente registrados na acústica da alma, elevando-a a planos superiores. E isso tudo nos remete a dizer: Jesus, como temos saudades de ti. Como desejamos reprisar momentos evangélicos, como sentimos Tua falta. E oramos: 
-Vem, Jesus, vem amenizar nossa saudade. Permite-nos ouvir de novo as vozes imortais, embala-nos na Tua paz. Desejamos estar Contigo e nos sentimos tão distantes. Vem, Jesus, vem até nós. Como os discípulos, na entrada da cidade de Emaús, observamos o entardecer das nossas vidas e dizemos: 
-“Permanece conosco, porque está para anoitecer e o dia já declinou.” Dá-nos a alegria da Tua presença em nossas vidas. 
Redação do Momento Espírita, com citações do Evangelho de Lucas, cap. 2, versículos 8 a 14 e cap. 24, versículo 29. Disponível no CD Momento Espírita, v. 25, ed. FEP. 
Em 20.12.2019

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

O ESPÍRITA

Certa vez, adentrou um Centro Espírita, um senhor bastante interessado no Espiritismo. Era uma noite de palestra que versava sobre o problema do alcoolismo e as influências espirituais que atingem as vítimas desse vício. O expositor abordava o tema de uma forma bastante contundente, a fim de que a plateia se desse conta da gravidade do hábito de beber, ante a visão espiritual da existência. Desse modo, havia nas colocações do referido estudioso, uma austeridade necessária. O homem, que pegou a palestra pela metade, a certa altura se levantou, pediu a palavra e disse que estava decepcionado com os espíritas, pois viera ali em busca de paz e serenidade e encontrara apenas palavras de reprovação, que lhe pareciam pesadas e radicais. Buscara alegria e se deparara com o desencanto. Dito isto pediu licença e se retirou. 
* * * 
Existem pessoas que, à semelhança do citado cidadão, taxam o Espiritismo como uma doutrina muito severa e que exige demais dos seus adeptos. Isso, porém, não é verdade. Existe, por certo, uma preocupação com os aspectos morais, justamente por representarem a essência dos ensinos dos Espíritos. Allan Kardec caracterizou os verdadeiros espíritas, a que chamou espíritas-cristãos, dizendo que seriam aqueles que apreendessem as consequências morais da Doutrina. Essa classificação acompanha o raciocínio de que, corrigindo-se o homem, corrigir-se-á o mundo. Os verdadeiros espíritas têm, portanto, muito mais do que a preocupação, o desejo de viver bem, de acordo com os valores imperecíveis da vida. Mas isso não impede que sejam alegres e expansivos, sabendo, ademais, que a alegria verdadeira procede da paz de Espírito e nada tem a ver com estímulos falsos e exteriores. O Espiritismo é uma religião que inspira o otimismo, pois seus esclarecimentos objetivos e transparentes não deixam espaços para a revolta da ignorância. Mais do que ninguém, quem conhece e vivencia a mensagem da vida imortal tem todos os motivos para sorrir. Por isso aproveitamos o ensejo para esclarecer a quem apenas pode captar o lado austero do Espiritismo, que essa é a religião da consciência desperta e que, nem sempre, euforia nos lábios significa paz no coração. Pense nisso, pense agora! 
 * * * 
Talvez não haja no mundo alegria mais pura que a do sorriso de uma criança e mais verdadeira que aquela que é fruto do dever cumprido. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 25.07.2012.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

ESPETÁCULO DIVINO

A madrugada despede a noite e se instala. Mas, a escuridão ainda predomina. Os homens usam a luz artificial para espancar as trevas. São faróis de carros, para os que se deslocam a distâncias. Nas casas, são lâmpadas, velas, lampiões. Lâmpadas nos postes auxiliam a mostrar o caminho que a cara redonda da lua, com sua luz prateada, não se mostra suficiente. Faróis em pontos estratégicos apontam o rumo aos que navegam nas águas mansas ou agitadas dos mares. Logo mais, os braços da madrugada se espreguiçam e pequenos raios de luminosidade tocam a manhã, para que desperte. Finalmente, é manhã plena e, enquanto os homens correm, de um lado para outro, em função de seus estudos, de seus negócios, de suas vidas, Deus instala Seu extraordinário aparelho multimídia para a projeção do novo dia. Em trabalho sem igual, que a cada dia não se repete da mesma forma, o Arquiteto sem par projeta na tela do Universo, os Seus slides. Há luz, som, animação. Os braços do salgueiro balançam, agitados pelo vento que se veste de brisa ligeira. Jardins, montanhas, campinas. Áreas verdejantes, rios cantantes, fontes generosas se multiplicam. A projeção é tão magnífica que o espetáculo permite se sentir o perfume da terra, das flores, dos veios da madeira aberta em sulcos. Os raios do sol aqui lançam sombra, além se estendem, espancando nuvens. As pequenas elevações parecem ondular na paisagem. As folhas multicoloridas do outono se misturam em um quadro, enquanto noutro as delícias da primavera explodem em botões. Paisagens desérticas, quase intermináveis em um ponto. Dunas, oásis, palmeiras. Paredes altas, montanhosas, de outro. Gelo aqui, calor acolá. Pássaros cantam, ovos são chocados, a vida se multiplica em toda parte. E assim, durante as horas do dia, os slides irão se sucedendo um a um. O homem passa apressado, poucos se dando conta dos quadros que se alternam, sucedem, de contínuo. Quando morre a tarde e a noite retorna, como hábil artista, Deus estende um negro manto, a fim de que os astros, que percorrem o Infinito, possam melhor ser percebidos. Assim é, a cada dia, a cada noite. Se o homem contemplasse mais a natureza, estudasse melhor as suas leis, compreendesse a harmonia que ela leciona, viveria melhor. Quando o cansaço o tomasse, nas horas de trabalho, pararia um pouco e olharia o jardim. Se estivesse cercado por paredes de concreto de vários edifícios, poderia olhar o céu, acompanhar o passeio das nuvens e permitir-se despentear pelo vento. Bastaria colocar a cabeça para fora de uma das janelas em que esteja. Tudo isso o revigoraria. E o faria lembrar de Quem o criou por amor e por amor o sustenta. Dar-se-ia conta de que acima das leis humanas, uma maior, imutável e justa vigora. Lembraria que é filho de Deus, que a vida é um tesouro muito precioso para ser desperdiçado. E, então, aprenderia que o dia foi feito para o homem e não o homem para o dia. O que quer dizer que dosaria trabalho, lazer, meditação. Horário para alimentar o corpo. Horário para alimentar a alma. Sobretudo amaria intensamente aos que com ele convivem neste lar abençoado que se chama planeta Terra. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 14, ed. FEP. 
Em 8.6.2017.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

AJUDA-ME A OLHAR

Santiago Kovadloff
Diego não conhecia o mar. 
O pai, Santiago Kovadloff, resolveu levá-lo para que conhecesse o mar gigantesco. Viajaram para o sul. O oceano estava do outro lado dos bancos de areia, esperando. Quando o menino e o pai alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar apareceu na frente de seus olhos. Foi tanta a imensidão do mar, tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo com tamanha beleza. E, quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: 
“Pai, me ajuda a olhar?” 
* * * 
Nós, pais, estamos no mundo para ajudar nossos filhos a olhar. Por trás desse me ajuda a olhar, de menino inocente e admirado, estão as grandes questões da educação no lar. A pergunta do filho poderia ser entendida como:
-Pai, me ajuda a perceber todas as belezas, as nuances, tudo que ainda não consigo perceber? Ajuda-me a saber admirar as coisas importantes da vida, você que já viveu tanto e tem tanta bagagem de mundo, tanta experiência? Ajuda-me a compreender a existência, seus desafios, seus objetivos maiores? Ajuda-me a não temer os problemas, a aprender com eles, toda vez que resolverem aparecer? Ajuda-me a caminhar? Sem precisar caminhar por mim, pois tenho que descobrir meus próprios passos, mas, nos primeiros, principalmente, você fica ao meu lado? E quando eu cair, você vai estar lá? Pois muitas coisas neste mundo me assustam, e preciso de uma segurança, de um lar para onde eu possa voltar. Ajuda-me a olhar para dentro de mim, pai? Preciso me conhecer para me amar, para me perdoar e não deixar que a culpa me faça menor. Ajuda-me a olhar para dentro de mim? A descobrir minhas potencialidades, minhas habilidades, o que tenho de bom? Pois se você, pai, disser: “Você pode, meu filho. Você tem capacidade você é inteligente...” aí sim, vou acreditar. E, se nessa busca eu encontrar algo que não goste, não suporte, você me ajuda a eu não desistir de mim mesmo? Por isso preciso de você aqui, ao meu lado, me ensinando a olhar o mundo e a mim com olhos de quem quer a paz e não mais a discórdia, a violência. Por isso preciso que me ensine a olhar, que me ensine a escolher para que, um dia, quando meus olhos estiverem vendo o oceano, da altura dos seus... eu então possa dizer ao meu filho: “Vou lhe ensinar a olhar, meu filho, não se preocupe. Segure firme em minhas mãos e vamos olhar o mundo juntos... Sempre juntos.”
* * * 
Allan Kardec, Codificador da Doutrina Espírita, em O livro dos Espíritos assevera: Os espíritos apenas entram na vida corporal para se aperfeiçoar e melhorar. A fraqueza da idade infantil os torna flexíveis, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devem fazê-los progredir. É então que podem reformar seu caráter e reprimir suas más tendências. Este é o dever que Deus confiou a seus pais, missão sagrada pela qual terão de responder. 
Redação do Momento Espírita com base em trecho de O livro dos abraços, de Eduardo Galeano, ed. Porto e no item 385 de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. FEB.
Em 17.12.2019.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

ESPERANDO A RESPOSTA DE DEUS

ALICE GRAY
Aquela pequena comunidade de fazendeiros estava em dúvida sobre o que fazer. A seca arrastava-se há meses e parecia não ter fim. Sofriam os animais, a plantação, os homens. A chuva, tão necessária, não chegava nunca. Todos os dias, os habitantes do local olhavam o céu, à procura de nuvens que anunciassem a tão esperada visitante. Nada. Os dias passavam e o sol brilhava soberano, no céu azul. Quando o problema se tornou mais urgente, o pastor da localidade achou que era tempo de se envolver um tanto mais e programou uma reunião de oração para pedir chuva. Marcada a data e a hora, o povo começou a chegar, a pouco e pouco. Em breve, o pastor também chegou. Foi passando lentamente de grupo em grupo, cumprimentando a cada um. Todas as pessoas que ele encontrou estavam conversando, apreciando a oportunidade de rever os amigos. Quando, finalmente, o pastor se postou à frente da comunidade, o silêncio se fez. A reunião iria começar. Neste exato momento, os olhos dele se dirigiram à primeira fila de bancos. Ali estava sentada uma garota de seus onze anos. O rosto brilhava de alegria, traduzindo a feliz expectativa. Seus olhos pareciam antever as gotas de chuva que desceriam dos céus, escorrendo pela terra, encharcando-a. Ao seu lado, havia um lindo guarda-chuva vermelho, pronto para ser usado. A beleza da cena comoveu o pastor que sorriu, ao se dar conta da fé daquela menina. Uma fé que o restante das pessoas não manifestava. Todos estavam ali porque ele os convidara a orar a fim de pedir chuva. Mas somente ela comparecera para presenciar a resposta de Deus. 
 * * * 
Em certas pessoas, a fé parece de algum modo inata. Essa facilidade na certeza da existência de Deus, da Sua providência é sinal evidente de um progresso realizado. Algo que a criatura traz de vidas anteriores, nas quais cultivou essa certeza. A fé sincera é empolgante e contagiosa. Comunica-se aos demais. Encontra palavras e gestos persuasivos que falam à alma. A fé é humana ou Divina, conforme o homem aplica suas faculdades à satisfação das suas necessidades terrenas ou às aspirações celestiais e futuras. Quando o homem de gênio se lança na realização de algum grande empreendimento, porque sente que pode chegar ao fim desejado, demonstra que tem fé em si mesmo. A certeza que tem lhe faculta imensa força e ele triunfa. É a fé humana. Quando o homem de bem deseja encher de nobres ações a sua existência, busca na sua fé, na certeza da felicidade que o espera, a força necessária. É a fé Divina. Esta é a fé que encaminha o homem para o bem. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus, a fé forma uma trindade com a esperança e a caridade. A fé promove a esperança no amparo de Deus. A fé dá o amor, que é o reconhecimento por todas as bênçãos. 
 * * * 
A fé sincera e verdadeira é sempre calma. Faculta a paciência que sabe esperar. A calma na luta é sempre um sinal de força e de confiança. A fé robusta dá a perseverança, a energia e os recursos que fazem se vençam os obstáculos, assim nas pequenas coisas como nas grandes. Em resumo, entende-se como fé a confiança que se tem na realização de uma coisa, a certeza de atingir determinado fim. Quem a possui, caminha com absoluta segurança no mundo. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O guarda-chuva vermelho, recontada por Tânia Gray, do livro Histórias para o coração, de Alice Gray, ed. United Press e no cap. XIX, de O Evangelho segundo o Espiritismo, ed. FEB. 
Em 4.2.2015.

domingo, 15 de dezembro de 2019

A ESPERANÇA VIVA

ALLAN KARDEC
Meu nome é esperança... 
Sorrio para você desde a sua entrada na vida... 
Sigo-lhe os passos e não o deixo senão nos mundos onde se realizam as promessas de felicidade, incessantemente murmuradas aos seus ouvidos. 
Sou sua fiel amiga. Não repila minhas inspirações... 
Eu sou a esperança. 
Sou eu que canto através do rouxinol e que solto aos ecos das florestas essas notas lamentosas e cadenciadas que o fazem sonhar com o céu... 
Sou eu que inspiro à andorinha o desejo de aquecer seus amores no abrigo seguro da sua morada... 
Brinco na brisa ligeira que acaricia os seus cabelos e espalho aos seus pés o suave perfume das flores dos canteiros... ...e você quase não pensa nessa amiga tão devotada! 
Não me despreze: sou a esperança! Tomo todas as formas para me aproximar de você... 
Sou a estrela que brilha no azul e o quente raio de sol que o vivifica... 
Embalo as suas noites com sonhos ridentes e expulso, para longe, as negras preocupações e os pensamentos sombrios. Guio seus passos para o caminho da virtude e o acompanho nas visitas aos pobres, aos aflitos, aos moribundos e lhe inspiro palavras afetuosas e consoladoras. Não me esqueça...  
Eu sou a esperança! 
Sou eu que, no inverno, faço crescer, na casca dos carvalhos, o musgo espesso com que os passarinhos fazem seus ninhos. 
Sou eu que, na primavera, coroo a macieira e a amendoeira de flores rosas e brancas e as espalho sobre a terra como um sopro celeste, que o faz aspirar a mundos mais felizes. Estou com você, principalmente quando é pobre e sofredor, e minha voz ressoa incessantemente aos seus ouvidos. Não me despreze... 
Eu sou a esperança. 
Não me repila, porque o anjo do desespero faz guerra encarniçada e se esforça para, junto de você, tomar o meu lugar. Nem sempre sou a mais forte. E quando o desespero consegue me afastar, envolve-o com suas asas fúnebres, desvia os seus pensamentos de Deus e o conduz ao suicídio. Una-se a mim para afastar sua desastrosa influência e deixe-se embalar docemente em meus braços... 
Porque eu sou a esperança...
 * * * 
Um dia, um Espírito Sublime abandonou um jardim de estrelas para nascer na Terra e depositar nas almas as gemas preciosas da esperança... E, nestes dias de inquietação e desassossego, Jesus continua sendo a esperança que reergue os Espíritos e a paz que penetra os corações. Ainda hoje, o Mestre de Nazaré é a grande esperança que Se tornou realidade. 
Redação do Momento Espírita com base no artigo A esperança, da Revista Espírita de fevereiro de 1862, de Allan Kardec. 
Em 07.12.2009.

sábado, 14 de dezembro de 2019

ESPERANÇA SEM FRONTEIRAS

Reuven Feuerstein era filho de um rabino da cidade romena de Botoani. Quando tinha oito anos, um cocheiro analfabeto lhe pediu para que o ensinasse a ler a Torá, o livro sagrado dos judeus, em troca de seu relógio de bolso. O cocheiro aprendeu a ler, mas o garoto não ganhou o relógio. 
Esta é a história da vida do psicólogo Feuerstein que, no seu Centro Internacional de Desenvolvimento do Potencial de Aprendizagem, em Jerusalém, faz questão de não cobrar de seus pacientes. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele estudava Psicologia em Bucareste. Participou do movimento de resistência judeu, ajudando a enviar clandestinamente para a Palestina crianças, cujos pais tinham sido mandados para campos de concentração pelos nazistas. Após a guerra, montou dois acampamentos para jovens traumatizados, sobreviventes do Holocausto, que não iam bem na escola. Na Suíça, em 1948, estudou com Jean Piaget, o pai da Psicologia do Desenvolvimento. De volta a Israel, prosseguiu a trabalhar no seu método para ajudar deficientes mentais ou jovens de baixo rendimento. Seu método ainda é visto com desconfiança em alguns círculos acadêmicos. Mas, o que é certo é que ele contribuiu, de maneira notável, para a compreensão das habilidades e sua capacidade de modificação. 
Enquanto muitos educadores acham que as crianças deficientes devem receber tarefas que não exijam muito, quase sempre manuais, Feuerstein desafia seus alunos com problemas intelectuais complexos. Em dezembro de 1988, ele entrou em uma sala de aula da Universidade Barillan, próxima a Tellaviv. Podem me dar os parabéns, falou. Tenho o orgulho de anunciar que acabei de me tornar avô. Meu neto tem Síndrome de Down. Hoje, Feuerstein afirma: 
-Eu sempre disse aos pais que o nascimento de uma criança com Síndrome de Down era motivo de alegria, e não de tristeza. Quando meu neto nasceu, aconteceu comigo. Muitas vezes eu havia me perguntado qual seria minha reação. Mas passei no teste. O menino é uma fonte de alegria para mim. Aos treze anos, ele está matriculado em uma escola comum. 
Diz o avô: 
-Ele vai crescer, casar-se e ter um emprego normal, como qualquer outra pessoa. 
E quando lhe perguntam: 
-Que tipo de emprego?
Responde depressa o sábio Feuerstein: 
-O de professor, talvez. 
 * * * 
Todos somos irmãos, filhos do mesmo Pai, conforme ensinou o Mestre Jesus. O psicólogo Feuerstein, em seu Instituto, dá provas desta verdade. Por suas mãos, passaram meninos novaiorquinos, como o pequeno Daniel, de onze anos; o pequeno autista da Costa Rica; o inglês Alex que, aos oito anos, teve removido o hemisfério esquerdo do cérebro e aos dezenove anos, aprendera a ler e a fazer as operações matemáticas básicas. Mais do que isso: o rabino permitiu que seu método, que visa melhorar a inteligência e a capacidade de aprendizado, fosse traduzido para dezessete idiomas. Hoje, é ensinado em mais de cinquenta países, inclusive no Brasil. Isso se chama fraternidade. Isso se chama esperança sem fronteiras.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Os milagres do Dr. Feuerstein, de Christopher Matthews, de Seleções Reader´s Digest, de abril de 2002. 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

A ESPERANÇA NUNCA MORRE

O asilo de idosos recebeu naquela manhã mais uma senhora. Chegou calada, sentou-se em uma cadeira de rodas e mergulhou em lágrimas. O semblante traduzia a desesperança e a mágoa pelo abandono. Notava-se que o seu único intuito era aguardar a morte. Parecia que a sua volta tudo já morrera, igualmente. Foi então que um jovem, que costumava visitar os idosos com regularidade, se aproximou. Tentou conversar. Mas ela se mantinha calada, num protesto mudo de rejeição aos homens que a haviam deixado ali. Longos suspiros escapavam do seu peito e as lágrimas rolavam, silenciosas. O rapaz brincou, perguntou e insistiu. Ela não conseguiu resistir. Sorriu e acabou por contar a triste história de sua vida. Fora uma mulher muito rica. Com o marido, administrava sete fazendas. Com a morte dele, ela assumira os compromissos, ao tempo que cuidava da única filha. Quando a filha se casou, estranhamente foi se acercando da mãe. Começou a se interessar pelos negócios. Depois, foi a vez do genro. Tarefas divididas. Esforços somados. Ela pensava em como tudo, um dia, deveria ficar para a filha e os netos. Talvez ela, em sua velhice, pudesse realizar algumas viagens que nunca se permitira. Aos setenta e dois anos, por insistência da filha, passou-lhe uma procuração, concedendo-lhe amplos poderes. Fora seu erro. Em plena posse de tudo o que um dia seria seu por direito, a filha aliou-se ao marido e, em doloroso processo, conseguiu que a mãe fosse declarada incapaz. Por fim, a colocaram naquele asilo, sem recursos. 
-Não era para morrer de desgosto? - Concluiu a senhora. 
O jovem, reconhecendo nela os valores da liderança, da capacidade de trabalho, lhe falou do quanto ela poderia enriquecer outras vidas. Ela era uma pessoa com experiência administrativa. Por que não se dispor ao trabalho naquela instituição, auxiliando o serviço de voluntários e funcionários? Por que não reunir aqueles idosos todos, sem esperança, e lhes falar da terra, de grãos, produção, gado, semeaduras? Afinal, muitos deles vinham do campo e, com certeza, gostariam de ouvir sobre o que fora a tônica das suas vidas, por um largo tempo. Ela ouviu, ouviu e aceitou a ideia. Levantou-se da cadeira de rodas onde se jogara e começou a agir. Sua filha e seu genro lhe haviam usurpado os bens, arrancando-lhe as possibilidades de viver como desejasse. Mas não podiam lhe destruir as conquistas interiores. Ela tinha valor e esse valor podia ser usado em prol de outros desesperançados. Ergueu-se, sacudiu a poeira da mágoa e começou a fazer sol em outras vidas, inundando-se de luz. 
 * * * 
Se você está triste porque foi abandonado, lembre-se dos que nunca tiveram família, lar e afetos. Se você está magoado porque lhe feriram, não permita que isso destrua o restante da sua vida. Ninguém lhe pode tirar as conquistas realizadas, os talentos conseguidos e a imensa capacidade de amar que temos todos nós, Espíritos imortais, filhos de Deus. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 24.01.2012.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

ALTRUÍSMO

Luiz Moreau Gottschalk, um célebre pianista e compositor, visitando certa vez a cidade de Kingston, na Jamaica, entrou em um templo exatamente no momento em que se realizava um culto. O pastor falava a respeito da caridade. Pintava com imagens fortes o estado a que tinham ficado reduzidas algumas famílias de uns pobres náufragos perdidos, naqueles dias, durante uma grande tempestade no mar. O ministro usava toda a sua eloquência para comover o auditório, pedindo contribuições para remediar tanta desgraça. Eram crianças órfãs, sem alimento. Eram viúvas, sem abrigo. Eram mães idosas, sem ninguém mais que olhasse por elas. Comovido, o compositor acercou-se de um órgão, num dos ângulos do templo, sentou-se e deixou correr as mãos sobre o teclado. Uma melodia de sabor religioso, tênue, triste, apaixonada, que parecia um coro sublime, começou a envolver a assembleia. A suavidade da composição era tal que não impedia que todos continuassem a ouvir a voz do pregador que, dominado pela inspiração da música, ardorosamente foi tecendo imagens, evocando Jesus e a necessidade de amar o próximo. Finalmente, ele concluiu a sua fala, fascinado, como todos os circunstantes, pelas deliciosas harmonias que saíam do órgão. A música foi se perdendo em notas divinas e terminou. Então, o próprio pianista tomou seu chapéu, nele depositou algumas moedas, percorreu todos os bancos, recebendo dos presentes valiosos donativos. Quando chegou ao último banco, no fundo do templo, viu uma senhora muito idosa, alquebrada pelos anos, que trazia o rosto sulcado por lágrimas. Seria mãe de um dos náufragos? Uma viúva? Sem pestanejar, ele esvaziou o chapéu no colo da senhora e desapareceu, porta afora. 
 * * *
Onde anda a miséria?
Por vezes, empreendemos campanhas a favor de necessitados a respeito dos quais ouvimos falar e que se encontram distantes de nós. Muito justo e meritório. No entanto é importante dar uma olhada ao nosso redor. Existem pessoas muito necessitadas, mas que sofrem caladas, constrangidas de expor as suas dificuldades. Por isso mesmo, ensina o Evangelho que o verdadeiro homem de bem é aquele que vai ao encontro da necessidade, sem esperar que a miséria lhe bata à porta. Para isso, é preciso ter sensibilidade e voltar os olhos para os palcos do sofrimento. Mesmo porque existem criaturas que, por sua própria condição, sequer podem estender mãos para pedir, pois os braços estão paralisados. Há os que não podem erguer a voz para suplicar, porque a tem afogada na garganta, pelas lágrimas da dor que nunca cessa. Há os que desejariam alcançar alguém que os auxiliasse, entretanto, as pernas lhes impedem andar. 
 * * * 
A obra do bem em favor de todos precisa de muitos braços e não exige títulos universitários ou recursos financeiros. Aguarda, simplesmente, a vontade em ação, um coração que sente, uma mente que idealiza, braços fortes que ajam, desde agora, antes que a fome se transforme em enfermidade e a carência em miséria extrema.
Redação do Momento Espírita com base no artigo Altruísmo de um grande músico, publicado no Boletim semanal Luz do Evangelho, de 10.3.2001. 
Em 12.12.2019.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

ESPERANÇA E FÉ

Quando os reveses se sucedem, costumamos permitir que o desânimo nos abrace. Afinal de contas, dizemos, quem consegue aguentar tanta coisa ao mesmo tempo? No entanto, a própria vida já nos ensinou, a todos os que temos alguns anos de experiência física, que tudo passa. As nuvens negras que toldam o céu pela manhã, poderão, logo mais serem espancadas pelos ventos que sopram forte, nas primeiras horas da tarde. A perda do emprego que, num primeiro momento, parece nos tirar o chão dos pés, se revela oportunidade de crescimento e realização profissional ante perspectivas novas que se apresentam. Assim é a vida na Terra. Impermanente. Hoje o panorama parece nos destroçar. Amanhã ressurge a esperança com os verdes tons de uma primavera risonha. Entretanto, quando a enfermidade adentra o lar e envolve seres amados, quase soçobramos. A fé, que dizíamos possuir, desaparece entre as lágrimas da desesperança. O futuro nos parece negro, aterrador. Antes mesmo de aguardar os resultados da medicação, da cirurgia, dos procedimentos clínicos, nos aventuramos em desespero. Como faz falta a esperança em nossas vidas! 
 * * * 
A esperança tem sido cantada em prosa e verso no curso do tempo. Ter esperança é esperar uma dádiva, no hoje ou no amanhã. Nesta vida, ou depois dela. É aguardar um resultado positivo para algo muito esperado e almejado. Qual é a mãe que não deseja a realização de uma vida feliz para seu filho? Quando esse filho parte para a outra vida antes dela, não guarda ela a esperança de que ele esteja bem? As pessoas que buscam fazer o melhor durante suas vidas, mantendo a consciência em paz, não têm a esperança de ser felizes? Percebe-se que a esperança fica muito próxima do sentimento de fé. Quem guarda a esperança no coração é porque confia na possibilidade almejada. Confiar, ter firme convicção é ter fé. Dessa forma é que esperamos e acreditamos em um futuro melhor. O que não podemos esquecer é que muito do que esperamos e pretendemos alcançar é determinado pelas nossas próprias atitudes, nossa maneira de agir, de pensar. A perseverança no bem, os pensamentos otimistas nos auxiliam na alimentação da esperança. Sustentados por ela, seremos vitoriosos em nossos empreendimentos. Que a esperança esteja sempre presente em nosso íntimo, onde quer que estejamos. Que sejamos capazes de combater em nós o que nos impede de brilhar, e façamos da esperança e da fé, o caminho que nos levará a doces recantos de paz. A alegria interior é renovada sempre que a esperança se alia às boas obras. A fé se fortifica toda vez que nos detemos em momentos de reflexão, que dirigimos nosso pensamento ao Alto e nos dispomos à oração. Essa oração simples que nem precisa brotar dos lábios, somente basta extravasar do coração. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 25.6.2016.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

AMIZADE PRECIOSA

JOSÉ RAUL TEIXEIRA
Amizade é excelente presença de Deus no relacionamento das almas. As referências à amizade se encontram desde o antigo testamento. É dito que quem encontrou um amigo possui um tesouro. É Jesus que nos dá o exemplo da preciosa amizade. Compulsando os evangelhos, nós o vemos rodeado pela multidão. Servindo. Curando. Amparando. Ensinando. Mas, nas noites estreladas, é na casa de Simão Pedro, em Cafarnaum, que ele distribui as lições mais íntimas. Para o seu colegiado, para aqueles homens que haviam deixado suas famílias, suas vidas, para viver uma nova vida, ele oferece a sua amizade. Compartilha sua vida com eles. Não prescinde dos amigos. Quando ia a Jerusalém, por lhe ser hostil a cidade, buscava refúgio na casa dos amigos de Betânia: Lázaro, Marta e Maria. Dedica-se aos amigos. Quando Lázaro adoece, as irmãs o mandam chamar nas distâncias da Pereia. Dois dias de viagem até Betânia. E o amigo vem. Retira Lázaro das sombras do túmulo, pois que não estava morto. Somente em estado letárgico. Devolve-o à convivência da família pela qual ele nutre amizade. Quando adentra a cidade de Jericó e avista Zaqueu, o publicano, sobre a árvore, ele o olha e diz: desce depressa. Porque hoje tenho de hospedar-me em tua casa. Poderia dar a lição do reino dos céus ali mesmo. Afinal, o homem estava à espera dele. Contudo, o mestre faz questão de demonstrar a importância da amizade. Tenho de hospedar-me em tua casa. Zaqueu prepara um banquete. O melhor, para o amigo que o acabara de conquistar. Na ceia derradeira, ele diz aos apóstolos reunidos: vós sois meus amigos... Já não vos chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Mas chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo aquilo que ouvi de meu pai. Após a sua morte, é um amigo, José de Arimateia, que vai ter com Pilatos e requer o corpo de Jesus. Receava que o lançassem a alguma vala comum. Como restassem apenas poucas horas antes do pôr do sol, ele oferece o seu próprio sepulcro novo para jazigo do corpo de Jesus. Outro amigo de Jesus, Nicodemus, quis prestar ao mestre um derradeiro serviço. Providenciou que se comprassem cem libras de essências odoríferas e um grande lençol de linho precioso para embalsamar-lhe o corpo. 
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Ter amizade é ter coração que ama e esclarece, que compreende e perdoa, nas horas mais amargas da vida. O amigo verdadeiro é, sempre, o emissário da ventura e da paz. O amigo verdadeiro ampara nas horas tristes. Alegra-se com as alegrias do outro. Nada exige. Não impõe condições. Aceita o outro como ele se apresenta. Se algo descobre de mau, desagradável, no outro, sugere, aconselha, sem imposição. A amizade verdadeira não é cega, mas se enxerga defeitos nos corações amigos, sabe amá-los e entendê-los mesmo assim. Nos trâmites da terra, a amizade leal é a mais formosa modalidade de amor fraterno, que santifica os impulsos do coração nas lutas mais dolorosas e inquietantes da existência. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Juventude e amizades, do livro Cântico da juventude, pelo Espírito Ivan de Albuquerque, psicografia de José Raul Teixeira, ed. Fráter; no item 174, do livro O Consolador, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB e no cap. 12, do livro Sinal verde, pelo Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. CEC. Malena,
Em 8.10.1995.