sexta-feira, 30 de novembro de 2018

NUANÇAS DO AMOR

SANTA MADRE TERESA DE CALCUTÁ
E
BEATA IRMÃ DULCE
O amor é o sentimento superior em que se fundem todas as qualidades do coração humano. É a manifestação de uma força que nos eleva acima das coisas terrenas até alturas divinas, unindo todos os seres e despertando felicidade íntima em nós. O amor é o olhar de Deus por sobre todas as criaturas. É a expressão das virtudes máximas da doçura, da bondade, da caridade. Se desejamos saber o que é amar, basta que consideremos alguns vultos da Humanidade, como Madre Teresa de Calcutá, na Índia ou Irmã Dulce, em nosso Brasil. De todos, Jesus foi a maior expressão do amor, oferecendo¬-se em sacrifício, até a morte, em benefício de todos nós, as ovelhas que o Pai lhe confiou. É Ele mesmo quem nos convida: Amai os vossos inimigos. Naturalmente, por essas palavras, não exige que tenhamos uma afeição impossível por aqueles que nos fazem mal. Mas nos pede que não alimentemos ódio por eles, nem desejo de vingança. Também que tenhamos a sincera disposição para ajudar, nos momentos precisos, aqueles que se erguem como provocadores de problemas e dores em nossas vidas. E, se somos convidados a amar os que não nos querem bem, quanto mais não deveremos amar aqueles que são bênçãos em nossos dias. Por exemplo, nossos pais, cuja solicitude manteve a nossa infância, que trabalharam para aplainar os obstáculos da nossa caminhada, que nos acalentaram e aqueceram em seu seio, que acompanharam nossos primeiros passos, nossas primeiras conquistas e pequenas derrotas. Que se alegraram com nossas alegrias, que choraram conosco e nos incentivaram ao progresso. Com muito amor lhes devemos cercar a madureza e a velhice, reconhecendo-lhes a ternura e os cuidados constantes. Amar a pátria, o solo generoso que nos acolhe os corpos, na presente jornada. A pátria que, como mãe amorosa, distribui seus tesouros a todos os seus filhos. Que nos possibilita o patrimônio sagrado das ciências e das artes, das leis, da ordem e da liberdade, todo esse acervo produzido pelo homem. Amar os que caminham conosco, na estrada evolutiva, cansados, tanto quanto nós mesmos, pelos sofrimentos e lutas que enfrentam, a cada dia. Somos todos filhos de Deus, membros da grande família dos Espíritos. Todos marcados com o sinal da imortalidade. Irmãos destinados a nos conhecermos e a nos unir na harmonia das leis e das coisas, longe das querelas ilusórias da Terra. Deus é o foco do amor e, como o sol, projeta seus raios a todos envolvendo, sem exclusões. Derrama-se sobre todas as coisas e aquece as almas. Criados por Deus por amor, fomos projetados para amar. Amemos e sintamos esta celeste atração das almas, que liga os mundos, os governa e fecunda. 
* * * 
LÉON DENIS
O amor tem sempre a função de unir, jamais a de criar divisões, separar. Quando ama, o homem sublima os seus sentimentos. O Apóstolo João, desde a sua juventude, arrebatado pelo amor de Jesus, serviu infatigável até à velhice. E não se cansava de repetir: Filhinhos, amai-vos... Amai-vos. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. XLIX, pt. 5, do livro Depois da morte, de Léon Denis, ed. FEB, e no verbete Amor, do livro Repositório de sabedoria – v. 1, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. Em 30.11.2018.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

EDUCAÇÃO: A ARTE DE FORMAR CARACTERES!

A prática e as pesquisas realizadas por psicólogos demonstram a necessidade de se repensar a questão da educação dos filhos. Depois que as experiências provaram que o método do autoritarismo, aplicado por nossos pais, estava ultrapassado e de certa forma foi ineficiente, optou-se por outro método menos eficaz e até danoso: o da liberdade sem responsabilidade. Considerada por alguns psicólogos como prejudicial ao desenvolvimento sadio da criança, a palavra não foi banida do vocabulário de muitos pais, que hoje amargam profundamente a total falta de controle sobre a prole. Sem examinar a questão com mais cuidado, os pais modernos aceitaram a filosofia do tudo pode, não levando em conta a necessidade de se estabelecer limites para que haja harmonia dentro do lar. Depois de perder o controle da situação, muitos apelaram para outro método desastroso: o da barganha. Impotentes diante da teimosia dos filhos, criados sem as normas básicas de disciplina, os pais se perdem nos labirintos das compensações, em que tudo é negociado. Se é hora de ir para a cama e o filho não obedece, a mãe logo lança mão de algum motivo para a negociata: Se for dormir a mamãe deixa você jogar aquela fita de "game" violenta, de que tanto gosta. Nesse caso, bastaria que a mãe, consciente da sua missão de educadora, tomasse seu filho pela mão e o conduzisse com carinho e firmeza para a cama. Ou, ainda, se é hora do banho e o anjinho faz corpo mole, a mãe logo faz outro trato, esquecendo-se de que quanto mais se negocia com a criança, mais ela exigirá para cumprir sua obrigação. Alguns psicólogos defendem a volta do autoritarismo na educação dos filhos, mas isso já ficou provado que não dá bons resultados. Seria domesticação ao invés de educação. Considerando-se que a educação é a arte de formar caracteres, temos de convir que a barganha somente servirá para deformar os caracteres dos nossos educandos. Ademais, se levarmos em conta que nossos filhos são Espíritos encarnados que vêm do espaço para progredir, trazendo em si mesmos as experiências de outras existências, boas ou não, entenderemos que a grande missão dos pais é conhecer-lhes a intimidade e ajudá-los a caminhar para Deus. Nossos filhos são seres inteligentes, que não aceitam somente um não como resposta. Eles merecem e precisam de uma explicação coerente. Não falamos de justificativas, mas de diálogo. Se existe um horário para dormir, se é preciso tomar banho, se não podemos comprar este ou aquele brinquedo, a criança tem o direito de saber porquê. Dizendo, por exemplo, que não compramos o brinquedo que ela tanto queria porque o orçamento não comporta, ela entenderá, ao passo que se dissermos um não somente, ela ficará revoltada, pensando que não compramos por má vontade. Tudo isso requer muito investimento, que não quer dizer perda de tempo, como muitos pais afirmam. Investimento de tempo, paciência, afeto e carinho. A tarefa não é tão difícil e certamente é mais eficaz. 
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Santo Agostinho fez a seguinte advertência em O Evangelho segundo o Espiritismo:
- Lembrai-vos de que a cada pai e a cada mãe perguntará Deus: que fizestes do filho confiado à vossa guarda? Se por culpa vossa ele se conservou atrasado, tereis como castigo vê-lo entre os Espíritos sofredores, quando de vós dependia que fosse ditoso.
Redação do Momento Espírita, com base no item 9, do cap. XIV de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. Feb. Disponível no livro Momento Espírita, v. 1, ed. Fep. 
Em 17.08.2009.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

AS PENAS

Wallace Leal V. Rodrigues
Quando pequenas, minha irmã e eu éramos muito sonhadoras. O sonho e a imaginação se conjugavam muito bem. E, de quando em vez, inventávamos histórias sobre nossas companheiras. Essas histórias se transformavam em boatos que, em uma cidade pequena, terminavam por provocar dissabores. Na verdade, não fazíamos aquilo por mal, mas, naturalmente, enquanto dávamos rédeas soltas à nossa fantasia, os desagradáveis incidentes se multiplicavam. Lembro-me muito bem de certa manhã, antes do inverno chegar. Ventava muito e nós brincávamos no galpão. Entretanto mamãe estava sentada em um tamborete, ao aberto, bem no meio do quintal. Aquilo nos intrigou um pouco, porém logo nos distraímos. Nossa atenção voltou a ser despertada quando ela nos chamou, solicitando que levássemos até ela uma almofada e uma tesoura, que se encontravam perto de nós. Quando colocamos os dois objetos junto dela, ela nos pediu que cortássemos a almofada ao meio. Obedecemos. A almofada estava cheia de penas e, logo em seguida, levadas pelo vento, elas enchiam o quintal num espetáculo tão lindo como uma tempestade de neve. Eu e minha irmã pulávamos encantadas com o espetáculo. Todavia, mamãe tornou a nos chamar. Junto dela estava a sua cesta de costura, que nem tínhamos visto. Foi lá de dentro que ela tirou uma capa de almofada nova e vazia. Ela solicitou que enchêssemos de novo a almofada. Ficamos admiradas com o pedido, julgando impossível que fosse atendido, pois as penas haviam voado por toda parte. Enquanto observava as penas dançando ao vento, ela fez um comentário que eu e minha irmã não pudemos esquecer por toda a vida. Ela comparou as penas com os boatos que certas pessoas propagam: uma vez espalhados, não há meios de fazê-los voltar ao ponto de partida. 
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Esta singela história nos leva a refletir o quanto é importante cuidarmos de qualquer comentário que possamos vir a fazer a respeito de outras pessoas. Vigiemos sempre as nossas palavras, não nos entregando à maledicência. Poucos de nós cultivam a indulgência, um sentimento fraternal que nos move a não enxergar as falhas e os defeitos dos outros. Quando notarmos as fraquezas alheias, evitemos divulgá-las ou tenhamos o cuidado de atenuá-las tanto quanto possível. Julguemos com severidade somente as nossas próprias ações, pois todos nós temos defeitos a corrigir e hábitos a modificar, e muitas vezes, cometemos graves faltas. Ser indulgente com as fraquezas do outro é uma forma de praticar a caridade. O verdadeiro caráter da caridade é a modéstia e a humildade, que consistem em ver cada um apenas superficialmente os defeitos de outrem e esforçar-se por fazer que prevaleça o que há nele de bom e de virtuoso.
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Reflitamos sempre se o que nos chega ao ouvido é absolutamente verdadeiro para ser passado adiante. Pensemos se o que vamos comentar, também gostaríamos que as pessoas dissessem a nosso respeito. Analisemos se é mesmo necessário falar sobre este ou aquele fato, se trará algum benefício ou se não prejudicará alguém. Antes de cedermos ao impulso de passar adiante qualquer comentário, lembremos sempre das penas soltas ao vento, como se fossem as nossas palavras que, de nenhuma forma, podemos tornar a recolher. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. As penas, do livro E, para o resto da vida, de Wallace Leal V. Rodrigues, ed. O Clarim e no item 18, cap. X, do livro O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. FEB. 
Em 28.11.2018. 

terça-feira, 27 de novembro de 2018

DORES DA ALMA

Ela ultrapassara as oito décadas de existência. Embora nascida no Brasil, mantinha um sotaque bem característico de sua origem italiana. Foi durante uma das nossas visitas que ela nos falou da sua infância e da tristeza que trazia na alma, desde aqueles dias. Ela nascera e crescera no ambiente rural. Menina, alimentava sonhos. Na pobreza em que vivia sonhava que, um dia, poderia ganhar um brinquedo. E o que ela mais desejava era uma boneca. Mas os Natais se sucediam, os aniversários também, sem que nada lhe chegasse. No entanto, ela continuava aguardando. Finalmente, no seu aniversário de seis anos, recebeu um pacote. E ela imaginou que seria a boneca tão esperada. O embrulho era simples mas o que importava era o que estava dentro. Ela desenrolou, quase rasgando o papel, e as lágrimas jorraram abundantes. O que ela estava recebendo era uma enxada. Uma enxada para ela trabalhar a terra. Foi um choque brutal. E porque chorasse muito, foi repreendida. Afinal, disseram os pais, aquele instrumento não fora barato e ela precisava dele para ajudá-los. Para sua alegria, ela foi matriculada na escola. Quatro quilômetros de distância. Quatro para ir, quatro para voltar. Mas ela não se importava. Fazia o trajeto feliz da vida. Conhecer as letras, aprender a juntá-las, descobrir o segredo das palavras. Uma alegria sem fim. Aluna aplicada, as suas eram sempre notas boas, com tarefas caprichadas, escritas à luz de um pequeno lampião. E se ela ficava à tarde trabalhando na lavoura, de enxada na mão, as manhãs eram gloriosas. Era como entrar num conto de fadas com letras, histórias, relevos, desenhos. Foram três anos de felicidade. As agruras dos dias quentes, as mãos pequenas calejadas pela enxada tinham a compensação no manejo do lápis. E ela já se imaginava cursando outra escola, maior, na cidade. E, quem sabe, se tivesse algum lugar onde ela pudesse ficar o dia inteiro estudando. Entretanto, no início do quarto ano, a escola mandou pedir aos pais que comprassem alguns materiais: um caderno, um lápis. Ela repetiu várias vezes: 
- Era só um caderno e um lápis. Mas, meu pai se negou a gastar qualquer valor. 
-Para quê? – disse ele. Mulher não precisa disso. 
Já era muito ter ficado tantos anos estudando. E isso assinalou a sua retirada da escola. Nunca mais conseguiu voltar. Ao longo do tempo, as dificuldades foram se fazendo maiores e maiores. Ela continuou a ler tudo que lhe caía nas mãos: jornais, propagandas impressas, anúncios, bulas de remédios. E escrevia e escrevia. Uma letra bonita, quase desenhada, de quem realmente ama o que faz. Os anos se passaram. Ela casou, teve filhos, mudou para a cidade onde o acesso a livros se fez mais fácil. Livros que ela devorava, alimentando a alma. Mas, a sua grande tristeza nunca a deixou. Ficou-lhe na alma, como marcada a ferro. 
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Se desfrutamos das bênçãos da escola, agradeçamos a Deus! Se gozamos da ventura de aprender a ler, escrever, contar, sejamos gratos à vida. Sobretudo agradeçamos aos pais que nos permitiram o acesso aos bancos escolares, iluminando nossas mentes, alimentando nossa inteligência. E, por fim, utilizemos muito bem todas essas benesses, escrevendo somente o bem, divulgando o útil e lendo o que nos possa propiciar progresso. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 27.11.2018.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

A EDUCAÇÃO

LÉON DENIS
É pela educação que as gerações se transformam e aperfeiçoam. Para uma sociedade nova são necessários homens novos. Por isso, a educação desde a infância é de importância capital. Não basta providenciar a instrução da criança. Ela deve aprender a se conduzir como ser consciente e racional. Isto é tão necessário como saber ler, escrever e contar. É entrar na vida, armado, não só para a luta material, mas, principalmente, para a luta moral. Para despertar na criança as primeiras aspirações ao bem, para corrigir um caráter difícil, são precisas, por vezes, a perseverança, a firmeza, uma ternura de que somente o coração de um pai ou de uma mãe pode ser capaz. Essa tarefa, no entanto, não é tão difícil quanto se pensa, pois não exige uma ciência profunda. Grandes e pequenos a podem realizar, desde que se compenetrem do alvo elevado e das consequências da educação. Bonita lição foi a ocorrida em um supermercado. A jovem mãe tinha cerca de 27 anos e o menino, uns 2. Ele se mostrava birrento, teimoso e violento. Ela, forte, serena e irredutível. O local era uma prateleira recheada de chocolates. O menino parecia uma fera. Queria, porque queria, cinco. Ela, firme, dizia que ele poderia levar apenas um. Foi uma aula de maternidade. O menino gritava, chorava tão forte e doído que parecia estar apanhando. Batia os pés, rolava no chão, ameaçava derrubar a prateleira toda. Tudo inútil. Sem usar de violência física ou erguer a voz, a mãe o obrigava a escolher. Ou leva um só ou não leva nenhum. Vai ter de escolher. A voz não era de quem tem raiva. Era de quem guarda certeza do que está fazendo. Mais ou menos quinze espectadores observavam o acontecimento, aglomerando-se no corredor do supermercado. Foram dez minutos dolorosos, no final dos quais o pequeno aceitou sua derrota. Os gritos e os pontapés foram diminuindo. Por fim, ele parou com a manha, aceitou a mão da mãe e saiu do supermercado com sua única barra de chocolate. O resto ficou lá, na prateleira. Perdeu o supermercado. Venceu a mãe. Venceu a educação. Desde que o mundo é mundo, crianças querem porque querem certas coisas. Muitos pais cedem, ou para não enfrentar o incômodo da birra, ou porque temem os olhares de eventual desaprovação de quem os observa. Os que não educam os seus filhos os verão sofrer na vida, fazer sofrer a outros e perder a chance de progresso. São fabulosos os pais que proíbem, sem raiva, e dão o necessário, sem dar demais. A nossa sociedade tem mentalidade de supermercado. Oferece mil prateleiras com tentações e incita os imaturos a consumir mais do que precisam. Por isso mesmo, são dignos de aplauso os casais que educam seus filhos para não consumir demais, a fazer escolhas, a crescer, a amadurecer. 
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Os Espíritos que são nossos filhos vêm coabitar conosco para que os ajudemos a vencer os seus defeitos e os preparemos para os deveres da vida. Estudemos, desde o berço, as tendências que a criança trouxe das suas existências anteriores. Apliquemo-nos a desenvolver as virtudes e aniquilar os vícios. Que não nos detenham a fadiga, nem o excesso de trabalho. Auxiliemos a transformação social. Transformemos a face do mundo, pelo caminho da educação.
Redação do Momento Espírita com base em texto de autoria ignorada e no cap. 54 do livro Depois da morte, de Léon Denis, ed. Feb.
Em 07.06.2010.

domingo, 25 de novembro de 2018

É DIFÍCIL DEFINIR AMIGO!

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
CHICO XAVIER
Amigo é quem lhe dá um pedacinho do chão, quando é de terra firme que você precisa, ou um pedacinho do céu, se é o sonho que lhe faz falta. Amigo é mais que ombro amigo, é mão estendida, mente aberta, coração pulsante, costas largas. É quem tentou e fez e não é egoísta para não querer compartilhar o que aprendeu. É aquele que ajuda e não espera retorno, porque sabe que o ato de compartilhar um instante qualquer já o realimenta e satisfaz. Amigo é quem entende seu sentimento porque já sentiu ou um dia vai sentir o mesmo que você. Um amigo é compreensão para o seu cansaço e complemento para as suas reticências. É aquele que entende seu desejo de voar, de sumir de vez em quando, sua sede de inovar sempre. É, ao mesmo tempo, espelho que o reflete e óleo derramado sobre suas águas agitadas. O amigo se compadece pelos seus erros e vibra com o seu sucesso. É o sol que seca suas lágrimas, é a polpa que adocica ainda mais o seu sorriso. Amigo é aquele que toca suas feridas com mãos de veludo; acompanha suas vitórias com euforia e faz piada para amenizar seus problemas. Amigo é aquele que sente medo, dor, náusea, cólica e chora com você. E, se pudesse, sofreria no seu lugar. Um amigo sabe que viver é ter história para contar. É quem sorri para você sem motivo aparente, sofre com seu sofrimento e é o padrinho natural dos seus filhos. É aquele que encontra para você aquilo que nem você sabia que buscava. Amigo é quem lhe envia cartas, esperadas ou não, pequenos bilhetes em sala de aula, mensagens eletrônicas emocionadas. É aquele que o ouve ao telefone mesmo quando a ligação parece caótica, com o mesmo prazer e atenção que teria se estivesse olhando em seus olhos. Amigo é aquele que entende o que seus olhos dizem, sem precisar de palavras. É aquele que adivinha seus desejos, seus disfarces, suas alegrias e percebe seus medos. Amigo é quem aguarda pacientemente que surja aquele brilho no seu olhar e se entusiasma quando o vê surgir. É quem tem sempre uma palavra sob medida quando seus olhos se cobrem de lágrimas. E é também aquele que sabe quando você está lutando para sufocá-las na garganta. Amigo é como lua nova, é como a estrela mais brilhante, é luz que se renova a cada instante, com múltiplas e inesperadas cores, que cabem todas na sua íris. Amigo é verdade e razão, sonho e sentimento... Amigo é aquele que lhe diz: 
-Eu amo você, sem qualquer medo de má interpretação. 
Enfim, amigo é quem ama você e ponto final.
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As doações de amizade pura enriquecem os companheiros de jornada. Quando outras emoções se enfraquecem no vaivém dos choques, a amizade perdura, companheira devotada das pessoas que se estimam. Ter amizade é ter coração que ama e esclarece, que compreende e perdoa, nas horas mais amargas da vida. Por tudo isso, estendamos os benditos recursos da amizade real onde a discórdia tenta espalhar o escuro domínio que lhe é próprio. 
Redação do Momento Espírita, com base em texto de Marcelo Batalha, intitulado Amigo, um ensaio, disponível no site :
www.velhosamigos.com.br/datasespeciais/diaamizade.html
e no verbete Amizade, do livro Dicionário da alma, por Espíritos diversos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. Disponível no livro Momento Espírita, v. 5, ed. Fep. 
Em 25.06.2012.

sábado, 24 de novembro de 2018

É DEUS!

Conta-se que um louco chegou à praça e gritou: 
-Deus morreu. Agora, as catedrais serão os seus mausoléus. 
Alguns se admiraram do que ele dizia. Era mesmo um louco. Outros, de imediato, concordaram, acenando afirmativamente com a cabeça. Outros, ainda, ousaram se manifestar: 
-E onde está a novidade? 
Uma criança, que passava pela praça, no entanto, se mostrou extremamente preocupada.
-Deus morreu? E agora, quem vai alimentar os peixes e os pássaros? Quem vai acender as estrelas? 
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Edward Larson
Um estudo realizado em 2013 indicou que muitos cientistas acreditavam em Deus, conforme o conceito mais comum e usual. Repetindo, com exatidão, uma famosa pesquisa realizada em 1916, Edward Larson, da Universidade da Geórgia, constatou que a profundidade da fé religiosa entre os cientistas não diminuiu, apesar dos avanços científicos e tecnológicos. Tanto no século XX quanto no XXI, em torno de quarenta por cento dos biólogos, físicos e matemáticos, que participaram da pesquisa, disseram que acreditavam em um Deus que, segundo a estrita definição do questionário, se comunica com a Humanidade e a quem se pode orar na expectativa de receber uma resposta. Albert Einstein dizia que sem Deus, o Universo não é explicável satisfatoriamente. Para ele, Deus era a Lei e o Legislador do Universo. E afirmou: 
-Quando abro a porta de uma nova descoberta encontro Deus lá dentro. 
O cientista francês André-Marie Ampère, fundador da eletrodinâmica, escreveu uma obra intitulada Provas históricas da Divindade do cristianismo. O inglês Isaac Newton, mais reconhecido como físico e matemático, e que também foi astrônomo, alquimista, filósofo natural e teólogo, foi considerado o cientista que maior impacto causou na História da ciência. Para ele, a função da ciência era descobrir leis universais e enunciá-las de forma precisa e racional. Essa sumidade científica acreditava que a maravilhosa disposição e harmonia do Universo só pode ter tido origem segundo o plano de um Ser que tudo sabe e tudo pode. E afirmava: 
-Isso fica sendo a minha última e mais elevada descoberta. Posso pegar meu telescópio e ver milhões de quilômetros de distância no espaço. Mas, também posso pôr meu telescópio de lado, ir para o meu quarto, fechar a porta e, em oração fervorosa, ver mais do céu e me aproximar mais de Deus do que quando estou equipado com todos os telescópios e instrumentos do mundo. 
Para as grandes inteligências, a existência de Deus é palpável. Atestada pelos Seus efeitos, conforme aprendemos: Todo efeito tem uma causa. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. Bem tinha razão a criança em indagar quem tomaria conta dos peixes e dos pássaros se não houvesse Deus. E diríamos mais: 
-Quem comandaria o concerto dos mundos, que viajam pelo espaço infinito, a grande velocidade? Quem colocaria plumagem nas aves e providenciaria o orvalho das manhãs? Quem faria brilhar o sol, a lua e as estrelas? Quem estabeleceria a rota precisa dos cometas? Quem pintaria o arco-íris e colocaria veludo nas pétalas das flores? 
E a toda questão, poderíamos ouvir o coro dos ventos e dos ramos dos salgueiros: 
- é Deus... é Deus... é Deus. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 30.3.2015.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

E DEPOIS?

SÃO PAULO. APÓSTOLO
O ser humano é o único dotado de razão, por isso é chamado de racional. Ser racional é raciocinar com sabedoria, é saber discernir, é pensar, utilizando o bom senso e a lógica antes de qualquer atitude. Todavia, boa parte de nós não agimos com a sabedoria necessária para evitar problemas e dissabores perfeitamente evitáveis. Costumeiramente, agimos antes e pensamos depois, tardiamente, quando percebemos que os resultados da nossa ação nos infelicitam. Paulo, o Apóstolo, que tinha a lucidez da razão, adverte com sabedoria:
- Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém. 
Quis dizer com isso que tudo nos é permitido, mas que a razão nos deve orientar de que nem tudo nos convém. Do ponto de vista físico, quando comemos ou bebemos algo que nos faz mal, não pensamos no depois, mas o depois é fatal. Se nosso organismo é frágil a certos tipos de alimento, devemos pensar nas consequências antes de ingeri-los, mesmo que a nossa vontade diga o contrário. Perguntemo-nos: 
- E depois? Como será depois? 
Lembremos da gaseificação, do mal estar e de outros distúrbios que advirão. Se temos vontade de fazer uso de drogas, sejam elas socialmente aceitas ou não, pensemos antes no depois. Será que suportarei corajosamente as enfermidades decorrentes desses vícios? Ou será um preço muito alto por alguns momentos de satisfação? Quando sentimos vontade de usar o cartão de crédito, pela facilidade que ele oferece, costumamos pensar no depois? Pensar em como vamos pagar a conta? Quando recebemos o convite das propagandas para o consumo desenfreado, ponderamos racionalmente sobre a necessidade da aquisição, ou compramos antes para constatar, logo mais, que não necessitamos daquele objeto? No campo da moral não é diferente. Quando surgir a vontade de gozar alguns momentos de prazer, pensemos: 
- E depois? Quais serão as conseqüências desse ato que desejo realizar? Será que as suportarei corajosamente, sem reclamar de Deus, nem jogar a responsabilidade sobre os outros? 
Certo dia, conversando com um fiscal aposentado, ouvimo-lo falar a respeito do vazio que sentia na intimidade e da consciência marcada pelos atos inconsequentes que praticara durante a vida. Buscou, na atividade profissional, tirar proveito de todas as situações. Arranjava tudo com algum jeitinho e muita propina, mas nunca havia pensado no depois. E o depois chegou. A velhice o alcançou como alcança as pessoas honestas, mas a sua consciência trazia um peso descomunal, e uma sensação desconfortável lhe invadia a alma. Não conseguia olhar nos olhos dos filhos e netos, sem pensar no quanto havia sido inescrupuloso. Sem pensar no tipo de sociedade que havia construído para legar aos seus afetos. Dessa forma, antes de tomar qualquer atitude, questionemos a nós mesmos: 
- E depois? 
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É melhor que resistamos por um momento e tenhamos paz interior, do que gozar um minuto e ter o resto da vida para se arrepender. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 09.02.2009.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

UM BRASIL DE ESPERANÇAS

ARTHUR MOREIRA LIMA
Um Brasil de esperanças É assim. Muitos simplesmente apontam o caos. E não fazem nada. Outros, arregaçam as mangas e se lançam por este imenso país a realizar maravilhas. Pelo povo. Para o povo. Um desses se chama Arthur Moreira Lima, uma das mais importantes personalidades da cultura brasileira. Projetou-se internacionalmente no concurso Chopin, de Varsóvia. Também nos Concursos de Leeds, na Inglaterra e Tchaicovsky, em Moscou. Em suas turnês por todos os continentes, lota sempre as principais salas de concertos. A crítica mundial o considera extraordinário intérprete do grande repertório romântico. E não tem poupado elogios à beleza da sua sonoridade e ao seu virtuosismo. Pois esse brasileiro tem uma iniciativa inédita no Brasil. Ele é o criador, produtor e empresário do programa Um piano pela estrada. O pianista transporta, literalmente, o concerto todo, dentro de um caminhão-baú. Inclusive seus sofisticados pianos de cauda. O próprio palco é o resultado da conversão do baú do veículo, a cada concerto, em área de cena. E tem som amplificado independente, iluminação, telão, camarim com ar condicionado. Arthur Moreira Lima viaja pelo Brasil. Já foram mais de quinhentos concertos, desde 2003, para cerca de um milhão de pessoas. Pessoas que nunca tinham presenciado um concerto de piano, que é oferecido em lugares públicos, de forma gratuita. Música para o povo. Música erudita e popular. Para um povo cuja esperança parece ir se diluindo a cada dia, ante tantas notícias tristes que tomam as mídias, é um momento de quase êxtase. Durante cerca de hora e meia, o pianista mescla música clássica universal a clássicos da nossa música popular. Ele interpreta Bach, Beethoven, Chopin, Mozart e Villa-Lobos, intercalando com nossas músicas populares, que se tornaram clássicas. Em setembro, ele esteve na capital paranaense e seu espetáculo foi aberto por crianças integrantes do Musicar, projeto de música desenvolvido pela Fundação Cultural de Curitiba. Esses meninos e meninas, estudantes de escolas municipais, estudaram músicas eruditas e populares, buscando fazer uma ponte com o programa que seria apresentado pelo pianista. Para muitos deles, foi a primeira vez que assistiram a um concerto de piano. Mais do que isso, participaram ao lado do grande virtuose. 
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Brasil, quantos filhos especiais tens em teu solo. Enquanto tantas dificuldades alcançam nossa gente, é alentador saber de pessoas que dividem o pão da sua cultura com seus irmãos. Enquanto muitos apenas falam de crise, há quem alimente a nossa gente com o êxtase da boa música. Artistas que, com seu exemplo, arrebatam mentes infantis e juvenis para a arte, para o belo, para o bom. Crianças e jovens que desejarão ser tão bons nas artes quanto eles. E por isso dedicarão horas dos seus dias à música, aos ensaios, inebriando a própria alma. Enquanto houver pessoas assim, o Brasil tem esperança. Esperança de dias melhores. Esperança de dias em que nossos filhos não temerão frequentar as escolas ou sair às ruas. Esperança de que os sons das armas de fogo serão substituídos pelas notas do piano, do violino, de toda uma orquestra. Esperança de que gritos de dor serão substituídos pelo canto alegre das vozes infantis e juvenis, em uníssono coro. Vibremos por isso. Trabalhemos por isso. 
Redação do Momento Espírita, a partir de notícia veiculada no Jornal Bem Paraná, edição de 5 de setembro de 2018. 
Em 22.11.2018.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

AULAS DE GENTILEZA

Leila Ferreira
Falar baixo é uma das lições ensinadas nas aulas de gentileza, que os alunos da quinta série de uma escola da Alemanha são obrigados a assistir. A escola fica na cidade de Bremem e a disciplina “trato, modos e conduta” foi implantada depois que a direção tentou que os alunos aprendessem a conviver com mais respeito - entre eles mesmos e com os professores. Na sala de aula, eles são apresentados às regras básicas de comportamento, e treinam o uso de expressões como “Com licença” e “Obrigado”. Quando a matéria foi implantada no currículo escolar, gerou controvérsias e virou assunto na imprensa. A necessidade surgiu diante da constatação de uma realidade que as empresas vinham enfrentando há muito tempo. Verificaram que os jovens recém-saídos das escolas desconheciam as regras elementares de convívio social. O então presidente da Confederação dos Empresários da Alemanha disse, numa entrevista, que os jovens chegavam com excelente capacitação técnica, mas não conseguiam interagir de forma civilizada. 
 * * * 
Essa situação nos leva à reflexão sobre a formação das crianças e jovens de hoje. De nada adianta as pessoas terem um excelente currículo e não conseguirem tratar o outro com civilidade. Educação é tarefa primordial dos pais. Temos a obrigação de ensinar aos filhos as regras básicas de convivência social. Se a criança não aprende desde cedo, dentro de casa, a tratar com bons modos os próprios pais e irmãos, não virá a se comportar como um indivíduo civilizado. Cuidemos para não deixar lacunas na formação de nossos filhos. Devemos nos preocupar em demonstrar, através do exemplo, respeito por todos aqueles com os quais nos relacionamos, a começar dentro do próprio lar. Coloquemo-nos no lugar dos outros, inclusive de nossos servidores e não nos esqueçamos de que todos gostamos de receber gentilezas. É comum justificarmos que as preocupações em excesso, a ansiedade dos tempos modernos e a falta de tempo são responsáveis por comportamentos grosseiros. Convenhamos que a delicadeza e a educação não têm a ver com essas circunstâncias. Comportamentos injustificáveis nos mostram que está faltando controle sobre as próprias ações e, acima de tudo, respeito para com o próximo. Não podemos achar natural agir com falta de cortesia. Pode parecer difícil agir com amabilidade no mundo competitivo e individualista em que vivemos, mas não devemos abrir mão de nossas convicções. É lamentável que as expressões: Com licença, Por favor e Obrigado estejam sendo usadas com menor frequência. Muitas vezes vivenciamos situações em que as pessoas agem com esperteza e driblam regras de educação com o objetivo de obter alguma vantagem ou conseguir algo mais rápido. Caso venhamos a sofrer indelicadezas, não nos deixemos envolver por essas atitudes e sigamos em frente dando bom exemplo, mesmo que seja através do nosso silêncio. Formalidades em excesso muitas vezes são dispensáveis, mas respeito mútuo, consideração e boas maneiras são essenciais aos relacionamentos. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Gentileza, do livro A arte de ser leve, de Leila Ferreira, ed. Globo. 
Em 21.11.2018.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

UM DIA ESPERADO

De forma habitual, nas grandes cidades, andamos apressados, como se desejando recuperar momentos perdidos. Os compromissos são muitos, o trânsito nos retém aqui e acolá, roubando-nos segundos que nos farão falta, logo mais. Ao lado do tempo, que parece disputar conosco a corrida das horas, a preocupação com nosso entorno, é constante. Nesses tempos de tanta violência, qualquer pessoa estranha que se nos aproxime, nos faz acelerar o coração e o passo. Por isso, quando aquele homem de quase um metro e noventa, forte, veio na direção do jovem Marcelo, que acabara de sair da empresa, àquela hora da noite, era de se esperar que algo acontecesse. Chovia, a rua estava quase deserta. E lá veio o homem forte. Aproximou-se e pediu dinheiro para um lanche. Marcelo não se fez de rogado. Foi com ele para baixo do recuo de um dos prédios e fechou o guarda-chuva. Pediu ao estranho que segurasse sua pasta de documentos e a sacola com agasalhos, enquanto procurava a carteira. Inesperado. Totalmente inesperado. Marcelo apanhou uma nota e deu para ele. Quem estava mais surpreso nisso tudo era o pedinte. Ficou agradecido e comovido. Ficou tão feliz que se dispôs a acompanhá-lo, ajudando a carregar seus pertences até o local do ônibus. Na hora de atravessar a rua, pegou o jovem pelo braço, no intuito de auxiliar. O rapaz não tinha mais do que vinte anos e ele deveria passar dos quarenta. A chuva continuava e, então, Marcelo resolveu entrar com ele em uma casa de lanche. O homem ficou encantado. Aquele jovem o estava tratando como um igual, com simpatia, com calor humano. Durante a conversa, ele disse se chamar Jorge. Contou que pertencia à equipe de faxina, encarregada de deixar brilhando um daqueles prédios comerciais. Deveria trabalhar toda aquela noite. Como o pagamento ainda não saíra, e precisava lanchar, fora pedir ajuda. Achou que seria difícil pelo fato das ruas estarem quase desertas, por ele ser muito alto, forte. Algumas pessoas haviam se afastado dele apressadamente ou dado negativas meio tortas. E Jorge falou sobre a esposa, filhos, futebol. Conversaram durante um bom tempo. Ele estava muito agradecido a Marcelo por não ter demonstrado medo, e até confiado nele, pedindo que segurasse os seus pertences enquanto procurava a carteira. Aquilo era incrível, dizia. Quando o jovem disse que precisava apanhar o ônibus para casa, Jorge o acompanhou. E, se abraçaram. Jorge agradeceu novamente, elogiou a sua atitude. Marcelo nunca mais o encontrou. Mas aquela noite ficou marcada na sua vida. Ele jamais esqueceu a alegria e a emoção daquele homem. Ele estava feliz da vida. Para ele, com certeza, fora algo especial. Para Marcelo, também. Em verdade, no trajeto para casa, o rapaz sentiu uma alegria indescritível, não tinha como traduzir. Ele fizera o que qualquer ser humano deveria fazer. Fora um simples e despretensioso gesto, mas a gratidão daquele homem ultrapassara qualquer expectativa. 
* * * 
Tão bom seria se pudéssemos viver sem precisar temer o outro. Oxalá não esteja longe esse dia, que precisamos construir. Oxalá chegue logo o dia em que possamos conviver sob este céu de anil, de forma fraternal. Uma convivência tranquila, sem medo, sem preconceito, sem desconfianças... 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo O dia em que fui ao céu, de Marcelo Teixeira, da Revista Internacional de Espiritismo, de agosto de 2018, ed. O CLARIM. 
Em 20.11.2018. 

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

É DANDO QUE SE RECEBE!

A visão filosófica de Francisco de Assis é profundamente importante, permitindo-nos a compreensão maior do modo como ele viveu pelos caminhos do mundo. O missionário incomparável lançou mão de instrumentos de vida muito especiais, como as coisas simples de seu tempo. A percepção íntima de que, em última análise, ninguém é possuidor de coisa alguma no mundo das formas físicas, levou-o a continuadas renúncias e a uma viagem fundamental para dentro de si. No íntimo de seu ser, encontrava a orientação segura de Jesus a propor que procurasse conquistar a si mesmo, pois aí estaria a riqueza verdadeira, a que não pode ser usurpada por nenhum gatuno, que nenhuma traça pode corroer e que não é consumida pela oxidação. Entendia isso e percebia como são fugazes os haveres materiais. Como são perecíveis. Como são temporais. Tudo é extremamente vulnerável à ação indomável do tempo. O pobrezinho de Assis nos clareia os caminhos, mostrando que devemos buscar sempre, em primeiro lugar, valores que pulsem no meio dessa atemporalidade. O que pertence à alma é aquilo que essa alma pode conduzir consigo, onde quer que vá, onde quer que esteja. Os únicos valores passíveis de impregnar a alma, tornando-se sua parte constitutiva, como brilho, cor, realidade, decorrem da frequência intensa, desenvolvida através do comportamento individual. Na conclusão filosófica do jovem de Assis, é dando que se recebe, não registramos nenhuma referência a qualquer coisa material, mas às doações da alma. É assim que, pelas leis da sintonia, da reciprocidade, ou de causa e efeito, concluiu que o que parte de nós é, de fato, o que a nós retorna. A sementeira é sempre livre, mas a colheita é obrigatória. Na figura apresentada por Jesus, o que se oferece ao solo, o solo devolve, ampliado, renovado, sejam aromas de flores, sejam espinhos. 
 * * * 
Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco
Espírito
Semeemos simpatia, e a teremos de volta. Espalhemos farpas e as veremos de retorno. Distribuamos esperança e nos veremos esperançados. Semeemos agonia, e poderemos contar com a ação do desespero, logo mais. Ofertemos nosso tempo precioso para atender ao próximo, e veremos que as preocupações do nosso próprio coração também estarão sendo atendidas. Doemos nosso sorriso ao mundo e o mundo, dentro de nós, sorrirá satisfeito. Perdoemos aquele familiar que falhou conosco mais uma vez, e perceberemos que, quando nós errarmos, encontraremos mais facilmente o auto-perdão. Semeemos a paz, o otimismo, em meio ao negativismo viciante dos dias atuais, e colheremos tranquilidade em meio ao caos, silêncio em meio à balbúrdia ensurdecedora. É dando que se recebe. É dando-nos, doando-nos que receberemos a recompensa da consciência pacificada, cumpridora de todos os deveres para com Deus, o próximo e a nós mesmos. Amemos e nos estaremos amando. Perdoemos e estaremos nos perdoando. Doemos e já estaremos recebendo. Experimentemos a doce exortação de Francisco de Assis e nos sintamos em paz, desde agora. 
Raul Teixeira
Redação do Momento Espírita, com base no cap.20 do livro A carta magna da paz, pelo Espírito Camilo, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter. 
Em 1.10.2013.

domingo, 18 de novembro de 2018

ECCE HOMO

Quem reconheceria naquele Homem as grandezas da Sua alma? O mundo estava, e ainda está, acostumado a avaliar as coisas pelos olhos, não entendendo as ponderações do coração. Por isso, muitos sábios, ricos e doutores O desprezaram, enquanto outros, maltrapilhos, andrajosos, doentes, entenderam a música que Ele cantava. Quem diria que o Rei Celeste viria para servir? Os sonhos infantis da Humanidade O esperavam como um mandatário, a exigir que, sob o peso de Sua espada, todos se prostrassem aos Seus pés. Ele, porém, foi capaz de se fazer servo, lavando os pés dos apóstolos, ensinando as lições ainda incompreendidas da humildade e da simplicidade. Como seria possível perceber naquela figura um homem santo? Uma vez que andava com os leprosos, conversava com as meretrizes, ceiava com publicanos, como não haveria Ele de se contaminar com os impuros? Porém, impoluto, mostrou que a pureza é capaz de limpar todas as máculas, a ponto de um dos Seus asseverar que o amor é capaz de cobrir uma multidão de pecados. Chamou-nos de ovelhas, a fim de que entendêssemos ser Ele o Bom Pastor. E convidou-nos a segui-lO, tomando apenas do Seu fardo leve e de Seu jugo suave. Em nome de um amor nunca visto antes, e até hoje pouco vivido, foi capaz de curar cegos, limpar carnes apodrecidas, converter os iludidos da vida e revolucionar o mundo. Curou no sábado, travou conversa com a mulher samaritana, convidou o cobrador de impostos a segui-lO. Mostrou que a pobre viúva doava mais do que o rico fariseu. Serviu-se da figura da figueira seca, sem frutos, para falar da necessidade de sempre se produzir boas obras. E, curando a tantos, alertava que não adiantaria deitar vinho bom em odre velho, convidando, portanto, à renovação dos pensamentos, das atitudes, do proceder. Como irmão mais velho e experiente, explicou-nos que Deus é Pai, Pai bondoso e generoso, provedor de todas as nossas necessidades. Aquietou nossas aflições no relicário da fé. E amou incondicionalmente. De tal maneira e com tanta intensidade, que o Seu cantar, desde a primeira hora, embriagou heróis e heroínas, que se imolaram em nome de viver a Sua mensagem: queimados nas fogueiras, estraçalhados pelas feras. Depois foram os primeiros pensadores, modificando-se, reformando-se moralmente, no entendimento da Sua mensagem. Não tardou, vieram os mais santos, a fim de retomar a simplicidade da Sua mensagem, já perdida no lamaçal das paixões humanas. E, mais recentemente, não faltaram aqueles a se destacarem na multidão, por se permitirem amar, tal qual Ele veio propor. Afinal, quem é esse Homem, quem é Ele em nossa vida? Pilatos, ao apresentá-lO à multidão, a fim de satisfazer a turba, apenas se referiu a Ele dizendo: 
-Ecce Homo. Eis o Homem.
Extraordinária síntese. Ali estava o homem integral, pleno. Mas, para aqueles que se deixam sensibilizar pela Sua proposta, Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. O Bom Pastor, a Luz do mundo, a plenitude. Neste Natal, reflitamos o que Ele, o bom Jesus, tem representado em nossa vida. Lembremos que soa a hora em que, finalmente, haja guarida para Ele na morada do nosso coração, para que, em definitivo, se faça Natal perene em nós. 
Redação do Momento Espirita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 26, ed. FEP. 
Em 9.9.2014.

sábado, 17 de novembro de 2018

E A VIDA PROSSEGUE

Quem de nós já não experimentou a súbita ausência de um ente querido? Quem de nós já não sentiu profunda saudade de um afeto que, não estando mais no mundo corpóreo, deixa uma aparente lacuna em nossa vida? Mesmo expressando fé em palavras ou em muitas de nossas atitudes, a tristeza da falta do contato, da ausência do sorriso, da impossibilidade de um abraço acaba por nos fazer agir com imensa tristeza diante da morte. Não é fácil se despedir de um ente querido, mesmo idoso ou longamente doente, quando já nos era sabido que a ausência física ocorreria em breve. Com certeza, a ausência aparentemente definitiva daquele a quem demos apenas um até logo é muito mais difícil de entender ou aceitar. A mãe que recebe a notícia da morte de um filho que deveria, em algumas horas, estar de retorno ao lar deverá encontrar forças imensas para ir adiante. O esposo que descobre que a amada esposa não chegará daquela viagem, possivelmente tem a sensação de que o chão lhe treme. Mas, por que será que a morte não é por nós vista como um adeus temporário? Por que a certeza da sobrevivência da alma ou Espírito, tão comum entre diversas religiões, não nos dá consolo imediato? Sabemos que o que chamamos de morte é apenas a morte do corpo físico, pois o Espírito ou alma é eterno, e esta crença é verdade para grande parte da Humanidade. Acostumados a valorizar a vida material acabamos por dar um grande valor à morte física, nos esquecendo frequentemente de que ela é só do corpo, jamais do Espírito. Se realmente temos fé, se realmente nossa crença está alicerçada no coração e na mente, o consolo virá e será mais facilmente aceito. Deus, em sua infinita bondade e justiça, não interromperia a vida física de um jovem sem um motivo; não afastaria, de modo aparentemente irremediável, um ente da família sem uma razão. O que ocorre é que, vivendo em um corpo físico, nosso Espírito não lembra dos momentos em que, com alegria e determinação, participou de sua programação de vida, incluindo o tempo que esta duraria. Lembramos, então, da necessidade de uma fé sólida e inabalável, que pode e deve ser questionada, para que possa ser vivenciada de maneira consciente, mas jamais esquecida. Francisco Cândido Xavier, o grande médium reconhecido e respeitado mundo afora, nos trouxe, através da sua mediunidade psicográfica, inúmeras notícias do outro lado, nos dando provas de que a vida prossegue, e que os sentimentos continuam. Muitas famílias tiveram a felicidade de saber que seus amores continuavam vivos, em outro plano, e que o sentimento de amor sobrevivera à separação física. Não foram poucas as mensagens pedindo que não houvesse tristeza, pois esta podia ser sentida por quem morrera e, frequentemente, lhe dificultava o caminhar. Os sentimentos, sejam alegres ou tristes, são percebidos por nossos amores em outro plano e eles sentir-se-ão tristes ou felizes, tal qual nós, deste lado, sentimos. A tristeza é normal no primeiro momento, a saudade perfeitamente aceitável mas, jamais o desespero, a revolta, a procura infindável de um responsável. A oração, instrumento acessível a qualquer pessoa, independentemente de sua crença, é valioso meio de buscarmos forças e de enviarmos nossos sentimentos de amor a quem já partiu deste plano físico. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 17, ed. Fep. 
Em 03.11.2010.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

REPÓRTERES DO BEM

Cássio Leonardo Carrara
Durante um mês inteiro povos de todo o mundo se reuniram na Rússia para torcer por suas respectivas representações nacionais. Nesse intercâmbio cultural, alguns fatos não muito positivos, envolvendo brasileiros, ocuparam a mídia. No entanto, importante se comente a respeito de outros fatos, envolvendo nossos conterrâneos, e dos quais, talvez, poucos tenhamos tomado conhecimento. Em Samara, local onde nossos jogadores enfrentaram a equipe mexicana, brasileiros, na véspera da partida, visitaram um hospital público. Os doutores da alegria, de verde e amarelo, levaram presentes às crianças, que recebiam medicamentos e passavam por sessões de quimioterapia. Eram óculos de palhaços, balões e bandeiras do Brasil. Interagindo com elas, gritaram em coro os seus nomes, como se estivessem escalando um time de futebol, prática comum das torcidas nos estádios. Algumas delas até arriscaram uma partida de futebol com os brasileiros, chutando bolas infláveis. E, em Rostov-on-Don, onde o Brasil, no gramado, enfrentou a Suíça, os rostos entristecidos do russo Gleb Obodovsky e sua esposa chamaram a atenção de dois brasileiros. Eles se aproximaram e o russo pensou que quisessem perguntar alguma coisa. Engano seu. Um deles tirou pedaços de papel do bolso. 
-Panfletos – pensou Gleb. 
Outro engano seu. O brasileiro esticou os braços e lhe entregou os papéis, enquanto explicava: Estes são ingressos de amigos que não puderam vir à Rússia. O jovem esposo, de apenas vinte e sete anos, ficou estático. A esposa não conseguia entender a conversa, porque tem limitações com o idioma inglês. No entanto, logo ela descobriu que estavam sendo presenteados com ingressos, dada a expressão de surpresa e alegria do marido. Para registrar o fato de tanto contentamento, eles tiraram uma foto com seus benfeitores. E prometeram torcer pelo sucesso do Brasil no torneio. Fatos acontecem aqui e ali. Pessoas que promovem o bem, sem outra intenção senão beneficiar outras. Como disse um dos doutores da alegria ao repórter da BBC Brasil: 
-Fizemos de coração. Fizemos com amor. Não se trata de marketing.
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Se os maus ficam tão em evidência é porque temos noticiado muito mais os seus atos maldosos do que os tantos felizes e benéficos realizados pelos bons. Uma nota que envergonha o país viraliza na internet, em minutos. É preciso que aprendamos a exaltar o bem, divulgar o bem, falar a respeito do bem que tantos anônimos realizam neste imenso mundo de Deus. Sobretudo nestes tempos em que tantas coisas ruins têm sido mostradas pelas mídias, proponhamo-nos a mostrar o que é bom, edificante, nobre. Aproveitemos para enviar mensagens de otimismo, para comentar o sucesso dos jovens que são aprovados em concursos nacionais e internacionais. Comentemos o filme que traz uma lição altruísta, de superação. Destoemos do comum. Sejamos promotores das boas notícias. Não permitamos que sejam abafadas pelas manchetes sensacionalistas que trazem as cores da violência, da corrupção, da maldade. Tornemo-nos repórteres de tudo que é positivo, honesto, honrado. O nosso país precisa disso. O mundo inteiro precisa dessa ação. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Exemplos brasileiros, de Cássio Leonardo Carrara, da Revista Internacional de Espiritismo, de agosto 2018, ed. O CLARIM. 
Em 16.11.2018.
http://momento.com.br

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

AS LINHAS DE UMA FLOR

José Sobral de Almada Negreiros
Pede-se a uma criança: 
-Desenha uma flor! 
Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém. Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direção, outras noutras. Umas mais carregadas, outras mais leves. Umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança colocou tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais. Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: uma flor! As pessoas não acham parecidas essas linhas com as de uma flor! Contudo a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor. E a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!
 * * * 
ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY
O belo texto de Almada Negreiros, poeta e artista plástico português, pode nos levar a várias reflexões. A primeira nos leva pelos caminhos de Antoine de Saint-Exupéry e seu principezinho encantador, quando nos mostra a dificuldade que a alma adulta tem para compreender o mundo infantil (como se nunca tivesse transitado pela infância). O aviador de Saint-Exupéry, quando criança, não conseguia ser compreendido em seus desenhos mirabolantes. Eram complexos demais para os adultos... Outra nuance do poeminha nos leva a pensar sobre as potências de nossa alma e de como temos, dentro de nós, todas as linhas para desenhar o que bem desejarmos. Os gérmens da perfeição, das virtudes da alma, estão todos conosco desde que fomos criados, buscando o tempo de serem desenvolvidos. Assim como as linhas desenhadas pela criança, nos primeiros momentos nos parecem ininteligíveis, são os primeiros movimentos do ser humano rumo à felicidade. Os traços vão se organizando com o tempo, com as encarnações, com os aprendizados, e nossa flor no papel vai ficando cada vez mais bela e mais próxima à figura original criada por Deus. A perfeição da flor desenhada nunca chegará a ser a da florescência divina, pois o Espírito alcança apenas uma perfeição relativa. Porém, será igualmente bela a flor desenhada pelo homem após as sucessivas experiências na carne. 
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Vivemos para organizar os traços de nossa intimidade, buscando dar-lhes aspectos harmônicos, inspirados e guiados pelas Leis Divinas. A educação nunca foi um ato de colocar algo para dentro de nós, e sim de colocar para fora, desenvolvendo potencialidades. A etimologia da palavra educação nos mostra os termos: ex, que significa para fora, seguido da expressão ducere, que se entende por guiar, conduzir, liderar. Assim, educar é conduzir, guiar, retirar de dentro de nós algo que está lá, embrionário. Olhemos para dentro, cuidemos de nós, invistamos nosso tempo na evolução espiritual e veremos esses traços bailando pelas telas do mundo produzindo grandes belezas. Temos conosco os gérmens de todas as virtudes, de todas as flores de nossa alma. 
Redação do Momento Espírita, com citação do texto A flor, do livro A invenção do dia claro, de José Sobral de Almada Negreiros, ed. Assirio & Alvim. 
Em 15.11.2018.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

E A VIDA CONTINUA

-Vi meu pai morrendo na minha frente e não entendi porque Deus o matou... E desse dia em diante não mais acredito em Deus. 
Frases como esta são uma constante. Quando não conseguimos entender o fenômeno da vida e da morte, revoltamo-nos contra Deus, como a criança se revolta contra a mãe quando esta a obriga a beber um remédio amargo. A ideia falsa de um Deus perverso e caprichoso, que mata uns antes dos outros, que castiga alguns e privilegia outros, que dá a riqueza a poucos enquanto muitos vivem na miséria, é a responsável pela revolta de muitos. Concebendo um Deus temível, possuidor de todos os vícios humanos, pensamos que esse ser invisível está sempre à espreita para nos pregar uma peça. A nossa visão, ainda míope, no que diz respeito às leis que regem a vida, nos faz sofrer, como filhos ingratos que não compreendem as atitudes dos pais amorosos que têm como único objetivo a felicidades dos seus. Enclausurados na concha do egoísmo, não percebemos que nossos bem-amados não são os únicos que saem de cena na vida física e só nos incomodamos com Deus quando Ele mata um dos nossos. Indiferentes às leis que regem a matéria, não vemos que tudo o que nasce, um dia tem que morrer, ou melhor, se transformar. E o nosso corpo físico também é matéria, e como tal tem que se dissolver um dia. Mas, quando isso acontece, esquecemos de que somos Espíritos imortais e não apenas um corpo que desaparece na poeira do chão. Fomos feitos à imagem e semelhança de Deus e, por isso mesmo, viveremos por toda a eternidade. O que nos tem causado insegurança é pensar que Deus é a nossa imagem e semelhança e que, portanto, é portador de todos os vícios humanos. Somos Espíritos. E como tal somos imortais. Mas, para que atinjamos a perfeição, é preciso mergulhar na carne através da reencarnação. Ao homem é dado morrer uma só vez, assegura o Evangelho. Ao Espírito não é possível a morte. Um dia, num futuro ainda distante, não precisaremos mais entrar nem sair da carne, porque já teremos desenvolvido em nós a imagem e semelhança do Pai. Jesus, após a morte do corpo, surge com toda vitalidade, em Espírito, para legar à Humanidade a certeza da Imortalidade. Dessa forma, não nos iludamos. O túmulo não é o fim da vida. É apenas o começo de uma nova fase de aprendizado para o Espírito imperecível. Compreendendo a sabedoria e a perfeição das Leis Divinas, mudaremos a nossa reação diante da partida de um ser querido. E diremos com segurança: 
- Vi meu amado deixando o corpo físico, na minha frente, e entendi porque Deus o levou... É que Deus o ama mais do que eu e o quer, por algum tempo, no mundo dos Espíritos. Desse dia em diante, espero ansioso a oportunidade de um reencontro feliz. E por esse motivo, mais acredito e confio em Deus... 
 * * * 
O que chamamos morte, nada mais é do que um fenômeno biológico natural. Seja pelo desgaste normal dos órgãos físicos ou de outra forma qualquer, todos deixaremos o corpo e voltaremos à pátria espiritual de onde partimos um dia. Assim, tenhamos a certeza de que a separação é apenas temporária. E que, mais cedo ou mais tarde, tornaremos a reencontrar nossos amores dos quais sentimos saudades. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 29.03.2010.

terça-feira, 13 de novembro de 2018

E A TORMENTA CESSOU

Em uma passagem do Evangelho, narra-se que os Apóstolos se encontravam em um barco, em plena tempestade. No meio do mar, a embarcação era açoitada pelas ondas e por fortes ventos. Em dado momento, Jesus, que estava orando em um monte, dirigiu-se para junto dos Apóstolos, andando sobre as águas. Os Apóstolos se assustaram muito, até que o Cristo os tranquilizou. Pedro pediu que Jesus o fizesse ir até Ele, por sobre as águas. O Mestre assentiu e o chamou. Pedro começou a andar sobre o mar, mas teve medo e principiou a afundar. Jesus estendeu a mão e o socorreu, lamentando a pequenez da fé do pescador. Quando o Messias subiu no barco, o vento acalmou. Essa passagem evangélica possui extrema beleza e profunda significação. À parte o inegável poder de Jesus sobre os elementos, pode-se fazer uma leitura focada no poder transformador de Sua mensagem. No mundo, as criaturas padecem vergastadas pelo vendaval das suas paixões. Muitas contraem variadas enfermidades pelo descontrole no comer e no beber. Outras sucumbem aos tóxicos de variadas nomenclaturas. Há quem perca a dignidade no desregramento sexual. São incontáveis os vícios e grandes os prejuízos que causam. Gula, vaidade, egoísmo, crueldade, desonestidade e destemperanças as mais diversas ensejam funestas consequências. Muitas das criaturas que se infelicitam, realmente gostariam de viver com dignidade e todas desejam ser felizes. Embora alguns desatinos pareçam sedutores, cedo ou tarde mostram seu lado amargo. O problema é que muitos se afirmam frágeis em excesso para vencer suas más tendências. Não é possível ser ingênuo e imaginar que a renovação moral se dê por um passe de mágica. Maus hábitos cristalizados por longo tempo não somem apenas porque a criatura decidiu mudar. Entretanto, a renovação é sempre possível e corre por conta da perseverança de quem a deseja. Nessa luta contra as trevas internas, surge a importância da fé. Pedro afundou por duvidar, conforme assentou o Cristo. Então, importa acreditar firmemente que a retificação da própria realidade espiritual é possível. Talvez hajam algumas quedas, mas a crença no sucesso necessita estar sempre presente. Essa crença será tão mais efetiva quanto mais se baseie nas propostas do Cristo. A vivência da fraternidade, da esperança e da pureza constitui o maior antídoto contra as ilusões do mundo. Quando Jesus realmente adentra o barco da vida de alguém, cessam as tormentas das paixões. Surge a paz, não como um privilégio, mas como consequência natural de uma vida digna. 
Pense nisso. 
DIVALDO PEREIRA FRANCO
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 3, do livro A mensagem do Amor Imortal, pelo Espírito Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.
Em 24.12.2009.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

PRUDÊNCIA

JOANA DE ÂNGELIS
E
DIVALDO PEREIRA FRANCO
Prudência é atitude de sabedoria. Prudência no falar; prudência no agir; prudência no pensar. Eis uma importante virtude da alma. O falar com prudência nos conduz a uma atitude refletida, pois muitas vezes perdemos o domínio das palavras que, desatreladas, produzem incêndios, promovem conflitos e muitos outros desastres. A palavra não pronunciada é patrimônio precioso de que o ser humano se pode utilizar no momento justo. A palavra liberada pode se converter, quando dita sob ofensas, em castigo que volta a punir o irresponsável que a libera. A ação precipitada, sem a necessária prudência, invariavelmente causa desacertos e aflições sem nome, conduzindo as vítimas ao despenhadeiro do insucesso, em cuja rampa o remorso sempre chega tarde. Antes de agir o homem é depositário de todos os valores que pode investir. Após a ação colhe os resultados do ato. Salutar, dessa forma, agir, através da ponderação a fim de que a atitude não se converta em algoz, que escravize quem a praticou. Pensar prudentemente. Uma ofensa que nos chega aos ouvidos, nos ferindo, pode nos conduzir a uma posição exaltada, impedindo, em consequência, a perfeita ordenação mental. Observamos o ocorrido através de ângulos falsos, distorcidos, numa apreciação perturbada, e os resultados são quase sempre danosos. Pensar refletindo, aí está a prudência. Ouvir, criando o hábito de ponderar, para então chegar às legítimas conclusões em torno dos verdadeiros problemas da vida. Precipitado, Napoleão conquistou a Europa e, refletindo, meditou tardiamente nos erros cometidos, na ilha de Santa Helena. Conduzido pela supremacia da força, Alexandre Magno dominou o mundo e febres estranhas tomaram conta de seu corpo jovem, antes das reflexões de que muito necessitava. Com prudência Jesus pensou, falou e agiu, em todas as oportunidades. 
* * * .
Toda ação prudente é cautelosa. Porém, ao contrário do que pensa o senso comum, prudência não é morosidade. A virtude da prudência, aliás, é o justo meio entre dois extremos, como tão bem colocou Aristóteles: De um lado a inação ou a lentidão; no outro extremo a precipitação, a pressa. Ela estará no equilíbrio, no ponto central. Prudência não admite perda de tempo. É rápida e certeira, pois o tempo é inerente a ela. Sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas foi o conselho de Jesus, na preparação de Seus discípulos para o trabalho que teriam pela frente. Seriam lançados como ovelhas no meio de lobos. A serpente representa a prudência, que nos permite reconhecer o mal com antecedência e assim fazer as melhores escolhas em todas as situações. A prudência é considerada por muitos como a virtude por excelência, porque através de seu exercício é que os seres humanos podem refletir e decidir com sabedoria. Por isso, sejamos prudentes. Nem apressados, nem lentos demais: prudentes... 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 43, do livro Convites da Vida, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 12.11.2018.