Ele era um detetive muito conceituado. Era tido como uma pessoa extremamente meticulosa, observadora, chegando sempre aos resultados aguardados.
Ele mesmo tinha absoluta confiança em si próprio, graças aos resultados excelentes de suas empreitadas.
Era, portanto, alguém muito seguro de si.
Foi com essa disposição que, a pedido de um cliente, passou a seguir os passos da esposa. Mulher jovem, bonita, costumava sair quase todas as tardes.
Dizia o marido que, casados há poucos anos, haviam tentado ter filhos. Da primeira vez, a esposa perdera o bebê, no terceiro mês de gravidez.
Na segunda, chegara ao quarto mês, quando a gestação sofrera uma interrupção espontânea. A terceira tentativa também não fora exitosa.
Se isso tornara o marido amargurado, levara a jovem esposa para a melancolia.
Na tentativa de sair desse caminho perigoso, ela passou a ter aulas de música, o que, verdadeiramente, lhe fez muito bem.
Aquelas horas que ela ficava com a mestra e as posteriores, em que se exercitava ao instrumento, passaram a lhe deixar contornos de harmonia e até um pequeno toque de alegria.
Contudo, quando ela começou a falar com seus bebês mortos, o marido achou que a influência da mestra e da música lhe estavam fazendo mal.
De imediato, proibiu as aulas e a continuidade dos estudos musicais.
Ela ficou privada do que lhe dava tanto conforto à alma.
E quando suplicou que fossem feitas pequenas lápides de mármore com o nome dos seus bebês, para que tivesse um lugar para falar com eles, também lhe foi negado.
O detetive descobriria que ela simplesmente se sentava em um jardim, para ouvir a música vinda de um conservatório.
Aproximou-se, porque a vira adquirir certa dose de substância letal e temeu que ela se matasse.
Ela se desfez da droga, depois da insistência dele. Imaginou ele que estava tudo resolvido.
Entretanto, no dia seguinte, o jornal trazia a notícia da jovem esposa que se matara, andando ao encontro do trem.
Aquilo o abalou de forma inusitada. Sentiu-se culpado. Sim, ela lhe contara seu drama: como o marido lhe proibira a alegria da música, como a acreditava louca por falar com seus bebês, como rejeitara a ideia de conseguir um local para ela prantear as crianças...
E o que ele fizera? Dissera que voltasse para o marido, dizendo que deveria tentar superar tudo isso.
Simplesmente assim...
* * *
As estatísticas apontam que, de cada dez suicídios, nove poderiam ter sido evitados.
Será que temos estado atentos aos que nos cercam: familiares, amigos, colegas, conhecidos?
Tenhamos sempre abertos nossos ouvidos e nosso coração para os que nos desejam fazer partícipes das suas agruras.
Tenhamos nosso coração aberto para acolher as almas sofridas que nos pedem auxílio com palavras, com olhares, com gestos.
Estejamos sempre prontos para ouvir, para acolher.
Há muita fome no mundo. E a maior de todas as fomes é a de afeto, de acolhimento, de compreensão.
Abramos nosso coração. Tantos esperam por nós!
Redação do Momento Espírita, com base em
cenas do filme Mr. Holmes, de Bill Condon.
Em 6.11.2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário