quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

LIÇÃO DE VIDA

Os veículos de comunicação se esmeram em apresentar informações dos ídolos atuais. Suas vidas são vasculhadas e seus passos seguidos, fotografados, filmados. Informam aos fãs, com detalhes, os seus gostos alimentares, desejos mais secretos, intimidades. É de estranhar, no entanto, que quando algumas das chamadas desgraças terrenas os abatem, eles desaparecem do cenário e nada mais é comentado. Todavia, quantos deles manifestam sua força, seu valor verdadeiro em meio às dores e enfermidades terríveis que os acometem. Certa vez, lemos a respeito da batalha ferrenha que empreendeu um jornalista brasileiro que durante trinta anos manteve uma coluna diária em jornal. A doença foi diagnosticada e os médicos informaram que ele entraria em depressão. 
-É o comportamento padrão, disseram. 
Convicto, ele afirmou: 
-Não me deixarei deprimir, nem um minuto. E também não cederei à revolta. Vou à luta. 
Amante da vida, viajara pelo mundo e conhecera da selva do Nepal às cidades mais belas e sofisticadas. Agora, a sua peregrinação ao hospital era pela cura. Aos cinquenta e seis anos e com a cabeça cheia de sonhos, ele imaginava que venceria. Queria ainda escrever a respeito da sua luta para vencer o fumo e o álcool. Poderia auxiliar pessoas. O tempo haveria de lhe estabelecer regras rígidas e lhe dizer que seu destino próximo era a morte.
-Não tenho medo nenhum, comentou um dia. Pode parecer estranho, mas é assim. Deus tem sido generoso comigo e só me resta agradecer. Gostaria muito de conhecer o meu anjo de guarda. Afinal, ele tem sido um amigão. 
Os seus últimos dias foram um calvário. Entubado, por várias vezes, não podia falar. Bastava que lhe retirassem o tubo e ele falava, sereno. Brincava muito. Por diversas vezes foi desenganado. Mas ressurgia com energia e vigor, surpreendendo médicos e enfermeiras. Jamais reclamou de coisa alguma. Nele sobrou coragem e dignidade. Quando uma amiga lhe disse que não conseguia acreditar que ele estivesse tão doente, pois o vira há pouco tempo tão bem, ele sorriu e disse: 
-Pois é, por fora belo, por dentro como pão bolorento. 
Nas horas finais, não podia quase falar. Somente escutava as frases de amor que sua esposa lhe dizia: 
-Estamos juntos há muitos anos. Vamos continuar outros tantos. Vá agora, amor, liberte-se. Busque a luz. Vá em paz. Você não desejava conhecer seu anjo de guarda? Chegou a hora. 
Ele partiu serenamente. Com esforço, balbuciou: 
-Amorzinho. 
Foi sua última palavra. 
* * * 
A vida nos é dada para grandes coisas e a morte nos surpreende, por vezes, em meio à execução ou planejamento de ousados projetos. Ela não olha idade, sexo, cor da pele, crença religiosa. Aborda a todos e na hora estabelecida. Vivermos com sabedoria é nos prepararmos cada dia para viver a eternidade na carne, tanto quanto nos conscientizarmos de que a eternidade poderá ser vivida em outra dimensão, além da esfera física. Afinal, ninguém morre. Somente troca de roupagem. Enfrentar a enfermidade, o anúncio da morte, requer coragem, muita fibra que somente a fé em Deus pode fornecer. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo O amorzinho... Merry XMas, da revista Seleções Reader´s Digest, dezembro de 1998. Em 31.1.2018.
http://momento.com.br/

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