domingo, 30 de novembro de 2025

A MORTE INFANTIL

Lembra-me a história de um outro menino, 
JOÃO PEDRO LUSTOSA FERNANDES, 10 anos, 
que desencarnou em 
29 de setembro passado!
Os pais passaram por drama idêntico! 
Vejam neste vídeo, já doente, o desejo realizado do menino JOÃO PEDRO!
A morte sempre dilacera corações. 
Quando se trata de crianças em tenra idade, parece ainda pior.
À dor dos pais, une-se a dos amigos e conhecidos e ela vai crescendo como uma bola de neve. 
Normalmente termina com gritos de revolta contra a Divindade e Sua sabedoria. 
Ou então as criaturas clamam a Deus, crendo-se por Ele esquecidas. 
Foi exatamente por esse quadro quase rotineiro que nos surpreendeu a história narrada por uma americana. 
Casada, mãe de dois belos garotos, uma boa provisão de contas, problemas, amor e felicidade. 
Mas Beth sentia que, no Mundo Espiritual, havia mais um menino esperando para nascer. 
Ela o sentia como dela. 
Apenas não o havia concebido. 
Conseguir o garoto não foi fácil. 
Foram sete anos de médicos, orações, desapontamentos e dois abortos espontâneos. 
Finalmente, nasceu o menino. 
Ela não conseguia encontrar o nome que significasse presente direto de Deus, por isso o chamou Marcos.
Reconhecia o filho como algo muito especial. 
E era mesmo. 
À medida que foi crescendo, foi mexendo com a família toda.
Como acontece muitas vezes com o filho temporão, ele reabriu os olhos e os corações de pais e irmãos para novos e ricos sentimentos de amor e de felicidade. 
Os irmãos mais velhos logo assumiram o papel de jovens pais. 
E do Camaradinha, como o chamavam, foram recebendo lições de paciência, compreensão, tolerância. 
Sim, porque quando ele estava acordado conseguia manter a família toda, na maior parte do tempo, um pouco maluca.
Quando acordava, alguém dava o alarme: 
-Alerta! Tufão à vista! 
Subia no piano, no armário, na mesa. 
Era um Espírito tão cheio de vida que Beth acreditava que nunca o mundo o conseguiria domar. 
Ele parecia livre como uma brisa fresca. 
Por vezes, ela se detinha a contemplá-lo. 
Narizinho arrebitado, boca sorridente, vivos olhos azuis, cabelo louro. 
E pensava: 
-Lembrarei sempre de você como é agora. 
Mas, pouco antes de fazer cinco anos, Marcos adoeceu. Leucemia. 
Disseram que ele iria morrer. 
Naquele dia do diagnóstico, o pai montou o carro que havia escondido para o Natal e deixou que o filho corresse alegremente com ele pelo jardim, antes de partir para o hospital. 
Foram três semanas de injeções, dores, transfusões, pílulas.
Voltaram para casa. 
Começaram os intermináveis exames de sangue e as tentativas para manter o menino vivo. 
Sempre havia esperança... 
Olhar para os olhos brilhantes e confiantes de uma criança amada, assistir a dor dos tratamentos, ver aquela criança morrer lentamente...era insuportável. 
Mas Marcos morreu durante um ano inteiro. 
O grande amor de toda a família não o protegeu contra coisa alguma. 
Quando o corpo inchava, Beth lhe dava amor. 
Quando ficou cego, ela lhe contava histórias para aliviar-lhe a dor. 
Quando foi acometido por hemorragia, atormentado por convulsões, ela lhe disse adeus.
Ele morreu. 
Ela lhe fechou os olhos.
Abraçada ao marido e aos outros dois garotos, falou: 
-De novo sabemos que há um menino no Mundo Espiritual que é parte de nós. 
Deus nos permitiu conhecê-lo e vivê-lo. 
A luz de Marcos brilhará pelo resto das nossas vidas. 
Muito obrigada, meu Deus! 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Uma pequena estatística (condensado de Câncer News). 
Em 11.02.2009.

sábado, 29 de novembro de 2025

MORTE INEXISTENTE

Afirmam que a morte não existe. 
Que não se trata senão de uma passagem de um estágio para outro. 
Será que para um coração de mãe que vê seu filho demandar a aduana do túmulo, tais afirmativas valem como consolo?
Para um pai que acompanha, em lágrimas, o esquife que abriga o corpo do filho morto, isto será suficiente? 
Como aplacar a saudade sem limites e a dor superlativa?
Haverá algo que possa amenizar o sofrimento da ausência?
Aconteceu na vida de uma mãe que viu partir a sua pequena de sete anos. 
Tudo transcorreu como muito rápido. 
À tarde, ela brincava no parque, travessa e afoita como sempre. 
Ao entardecer, voltou ao lar mais cedo do que o habitual, queixando-se de dores de cabeça. 
Parecia um pouco febril. 
Tudo foi levado à conta de um resfriado leve. 
A medicação suave se fez no próprio lar. 
A criança se recolheu ao leito. 
A febre e a dor aumentaram de intensidade nas horas que se seguiram. 
No dia seguinte, resolveu-se levar a criança ao médico.
Internamento às pressas, exames, diagnóstico terrível. 
Em poucas horas o quadro agravou-se. 
Depois, foi a longa espera do lado de fora do centro de terapia intensiva, para as visitas com hora certa e rápidas.
Finalmente, a morte. 
O corpo gélido. 
A dor da separação. 
Os lábios que sorriam, cantavam, emudeceram. 
As mãos que faziam carícias enrijeceram. 
O corpo que realizava acrobacias nas árvores, no parque de diversões tornou-se imóvel. 
Os dias que se seguiram foram de silêncio. 
O tilintar do telefone, a conversa das pessoas, incomodavam.
Se sua filha morrera, tudo deveria vestir-se de luto, como seu coração de mãe. 
O jardim em primavera de cores parecia ofendê-la porque seus olhos somente viam a escuridão, desde que o raio de sol de sua vida fora arrebatado. 
Certa noite, sonhou. 
Viu sua pequena filha vestida de azul, cor que lhe caía tão bem e realçava sua pele, seus cabelos, seu sorriso. 
A pequena sorria, estendendo os braços:
-"Mãe, por que tanta amargura e revolta?" 
A voz era doce e terna, falando-lhe enquanto a acariciava com suas mãozinhas mimosas. 
- Findou meu tempo na terra, mãezinha. Foi tão bom. Mas era somente o tempo que me faltava para completar. Deus permitiu-me a volta ao mundo espiritual, desde que cumpri o que estava estabelecido. 
- Por que chora, mãezinha, a liberdade de sua filha? Não vê como estou bem e feliz? Estou com você e desejo vê-la sorrir novamente. 
- Permita-se o retorno à alegria. Dedique-se a crianças sem lar, doe meus brinquedos, faça outros pequenos felizes em meu nome. E Deus, que tudo vê, nos abençoará a ambas.
Quando despertou, na manhã seguinte, a jovem mãe trazia a nítida lembrança das carícias e dos afagos da filha. 
Ergueu-se, abriu a janela, aspirou o ar perfumado da manhã de luz, observou as tintas da madrugada que se despediam, sorriu e decidiu-se por voltar a viver com alegria e esperança.
Você sabia? 
Você sabia que a morte pode ser comparada a uma breve despedida?
Os que nos deixam na terra, verdadeiramente não nos abandonam, já que para os verdadeiros amores jamais se apaga a chama do afeto. 
Dessa forma, não existem adeuses, mas sim um "até breve", pois logo mais tornaremos a nos ver, a nos reencontrar, no mundo dos espíritos ou no mundo corporal. 
Nossos amores, se não estão conosco, ao nosso lado, permanecem em algum lugar, porque jamais se perde a ponte entre o céu e o coração.

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

A ÁGUIA E O CORVO

Diz uma narrativa popular que há uma única ave que ousa atacar a águia. 
É o corvo. 
Ele pousa em suas costas e, persistente, começa a lhe bicar o pescoço. Implacável. 
Irritante. 
A águia, no entanto, não revida. 
Não bate as asas com fúria, não gasta energia em represálias.
Não tenta, de alguma forma, contra-atacar. 
Serena, ela toma uma atitude: voa para mais alto. 
Eleva-se e eleva-se. 
Quanto mais alto ela voa, mais rarefeito se torna o ar. 
O corvo, incapaz de suportar a altitude, perde forças e cai.
Simplesmente cai, não porque a águia o atacou, mas porque ela se elevou. 
* * * 
Esse conto nos convida a refletir sobre como lidamos com os corvos da nossa vida: as críticas injustas, as palavras duras, as atitudes maldosas. 
Quantas vezes desperdiçamos energia em discussões sem sentido, em disputas pequenas, em conflitos que só nos roubam a paz? 
O sábio Mestre de Nazaré já estabelecera como regra que não devíamos resistir ao mal. 
Se alguém nos bater na face direita, cabe-nos oferecer também a outra. 
Isso nos diz que a verdadeira força está em não revidar, mas em elevar-se moralmente, acima das agressões. 
Não resistir ao mal significa vencê-lo com nobreza. 
Da mesma forma que a águia sobe a patamares mais elevados, para se livrar do incômodo inimigo, nós também podemos escolher os degraus mais altos da paciência, da serenidade e do amor. 
Deixar que o outro fale, critique, zombe, até ataque. 
E, em vez de responder no mesmo tom, simplesmente elevar-nos. 
Nosso crescimento espiritual se tornará a resposta mais eloquente, sufocando o barulho das incompreensões. 
Não se trata de passividade, mas de sabedoria. 
Revidar é fácil. 
Elevar-se é trabalho da alma. 
Responder com agressividade é instinto. 
Silenciar e seguir em paz é conquista do Espírito. 
Quantas vezes Jesus foi insultado, injuriado, caluniado? 
No entanto, em nenhum momento devolveu o mal que recebia. 
Elevou-se sempre, em palavras e atitudes, até o ponto mais alto que o amor pode alcançar. 
Com certeza, é desafiador seguirmos esse exemplo. 
O orgulho ferido grita, a vontade de replicar surge, mas é nesse momento que o ensinamento crístico se torna valioso.
Cada vez que renunciamos à resposta impulsiva, abrimos espaço para uma paz que não pode ser roubada. 
Quando escolhemos o caminho da elevação, não apenas superamos os adversários, pretensos inimigos, mas inspiramos outros a nos imitarem. 
Nossos gestos de compreensão, de perdão e de silêncio geram ondas que alcançam corações. 
Nesse movimento, nossa alma se fortalece e nossa luz interior brilha com mais intensidade. 
Dessa maneira, não desperdicemos energias preciosas com os que nos agridem, de qualquer forma. 
Direcionemos nossas forças para ascender a planos mais elevados. 
Os que não nos acompanharem a caminhada ascendente, ficarão na retaguarda. 
Não porque os enfrentamos, os atacamos, mas por causa da grandeza da nossa subida. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, a partir de fábula popular. 
Em 24.11.2025

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

TUDO É PARA O BEM

Ele era um homem que trazia a fé em seu coração. Chamavam-no Mahum, que significa também. 
O apelido lhe fora dado pelos que o conheciam porque para tudo o que lhe acontecesse, por pior que fosse, ele afirmava:
-Isto também é para o bem! 
Se a chuva lhe destroçasse o jardim ou a enxurrada lhe destruísse a horta, repetia: 
-Isto também é para o bem. 
E colocava-se no trabalho de reconstrução do jardim e da horta, sem reclamações. 
Se a enfermidade o alcançasse, falava: 
-Isto também é para o bem. 
Medicava-se e aguardava a recomposição das forças físicas, retornando ao trabalho. 
Certa noite, Mahum precisou realizar uma viagem até à cidade vizinha. 
Preparou seu burrico para transportá-lo, o galo que funcionaria como seu relógio e despertador, e uma lamparina para iluminar o caminho. 
Ela deveria servir, inclusive, para que antes dele repousar, no seio da floresta que deveria atravessar, pudesse se deter na leitura das escrituras. 
Noite alta e ele no coração da floresta. 
De repente, o óleo da lamparina derramou e ela se apagou. Ele ficou às escuras. 
Inesperadamente, o galo começou a passar mal e morreu.
Não demorou muito e foi o burrico. 
Incrível, não é mesmo? 
O pobre homem ficou sozinho, na escuridão, em meio a ruídos estranhos e assustadores. 
Mesmo assim, afirmou: 
-Tudo o que Deus faz é para o bem. 
Acomodou-se como pôde e dormiu. 
No dia seguinte, o sol o veio despertar, vencendo a fechada copa das árvores. 
Ele prosseguiu a viagem a pé. 
Quando, horas depois, chegou à cidade, seus conhecidos o olharam com espanto. 
Pareciam estar vendo um fantasma. 
Por fim, lhe perguntaram: 
-Como você pode estar vivo? Soubemos que, ontem à noite, foram despachados soldados romanos à floresta, com o intuito de matá-lo! 
Foi então que o viajante explicou tudo que lhe havia acontecido, concluindo: 
-Se minha lamparina não tivesse apagado, o galo e o burrico morrido, com certeza estaria morto. 
O clarão da lamparina, o zurrar do burrico e o cocoricó do galo denunciariam o local onde me encontrava. 
-Bem posso continuar a dizer: 
"Tudo o que Deus faz é para o bem." 
* * * 
Quando a tormenta se faz mais violenta e as dores se tornam mais acerbas, é o momento de se ponderar porque elas nos atingem. 
O bom senso nos dirá sempre que razões poderosas existem, assentadas no ontem remoto ou no passado recente, porque a Divina Providência tudo estabelece no momento próprio e na medida exata. 
Deus é sempre a Sabedoria Suprema e a Justiça Perfeita, atendendo às mínimas necessidades dos Seus filhos, no objetivo maior do progresso e da redenção. 
Nem sempre conseguimos aquilatar, no momento em que tudo sucede, o seu real valor. 
Contudo, no transcorrer do tempo, descobrimos quanto Deus estava certo em permitir que a dor chegasse, que o problema se avolumasse, que a dificuldade nos abraçasse. 
Percalços, sofrimentos e dissabores são desafios que nos levam a raciocinar, a buscar soluções, a reformular atitudes.
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita com base em texto do jornal Correio Fraterno do ABC, de maio/1998. 
Em 27.11.2025

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

MORTE FELIZ

Divaldo Pereira Franco(✝︎)
e Vianna de Carvalho(espírito)
Na capa de um periódico de grande circulação, encontramos a seguinte indagação: 
Nós temos o direito de escolher como e quando nossa vida vai acabar? 
A questão anunciava uma reportagem sobre a eutanásia, a morte feliz, ou morte assistida. 
Os argumentos foram muitos, abordando desde o extremo sofrimento do paciente, passando pelos casos em que não se tem mais o que fazer para salvar uma vida, chegando às discussões sobre o elevado custo de se manter um familiar sob o sustento de aparelhos. 
A posição da Doutrina Espírita é clara: nós não temos esse direito. 
A vida na Terra, esse período que cada um de nós passa aqui, exige análise mais profunda, que leve sempre em conta a existência do Espírito, esse ser imortal que vem se aperfeiçoando ao longo do tempo, mergulhado na lei perfeita da reencarnação. 
O Espiritismo também nos mostra que o sofrimento, em todas suas nuances, sempre tem o objetivo de nos fazer melhores.
Assim, é importante entender que as dores das enfermidades, principalmente quando antecedem a morte, têm o objetivo de nos purificar, ou talvez, segundo cada caso, fazer-nos cumprir a lei de causa e efeito, resgatando ali, naqueles instantes finais, dívidas do passado distante ou recente. 
A desencarnação é um processo delicado que, diversas vezes, se inicia muito antes da morte, e se finda algum tempo depois dela. 
Desse modo, aqueles momentos em que o paciente passa inconsciente, ou em estado vegetativo, são de grande valia para o Espírito imortal. 
Nossa visão limitada, por vezes, não consegue alcançar esses detalhes sutis, e é por essa razão que, nessas situações, pensamos somente nas dores físicas, nas limitações da ciência, e nas complicações financeiras. 
É preciso abrir nossas mentes para compreender essas verdades, as realidades que estão além do que nossos sentidos podem provar, que estão além dos poucos anos que vivemos nesta vida. 
Cada um de nós é um Espírito indestrutível, criado para a perfeição, que vem, ao longo de muitos séculos, passando por diversas experiências, tendo como objetivo maior o progresso intelectual e moral. 
Em vista de tudo isso, seja qual for a razão pela qual se pretenda interromper uma vida humana, justificativa alguma será aceitável. 
A existência física é uma imensa oportunidade que temos para crescer, e qualquer segundo a mais que pudermos ter aqui, deverá ser considerado como um tesouro de valor inestimável.
* * * 
Amar e atender os pacientes com carinho, envolvendo-os em vibrações de paz, orando por eles, são atitudes corretas que a consciência cristã deve aplicar em quaisquer situações em que se encontrem, na condição de familiar ou facultativo, de amigo ou de companheiro, na enfermagem ou no serviço social. 
Eutanásia, nunca! 
Redação do Momento Espírita, com base em artigo da revista Superinteressante, de março de 2001; no cap. 26, do livro Reflexões espíritas, pelo Espírito Vianna de Carvalho, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL e no cap. Solução infeliz, do livro Quem tem medo da morte?, de Richard Simonetti, ed. CAC. 
Em 21.09.2013.

terça-feira, 25 de novembro de 2025

CANSAÇO DO BEM

Conta-se que Santa Teresa d'Ávila, em uma de suas viagens pela Espanha, cujo objetivo era abrir novas casas da Ordem das Carmelitas Descalças, foi surpreendida por uma tempestade. 
Os ventos e a chuva se fizeram insistentes, no momento em que ela atravessava uma ponte bastante frágil. 
Percebendo como a ponte sacudia e também o volume das águas do rio que crescia, ela se apavorou e suplicou a Jesus que a protegesse. 
O vendaval continuou. 
Com imenso esforço, ela conseguiu alcançar a outra margem.
Molhada, cansada e nervosa, constatando que a chuva prosseguia torrencial, reclamou:
-É assim que o Senhor trata aqueles que O amam? 
Em seguida, reflexionando um pouquinho, murmurou: 
-É por isso que são bem poucos aqueles que O amam.
Provavelmente, as palavras da monja sejam verdadeiras. 
Ela conhecia o quanto de esforço se exige daqueles que desejam semear luzes nas consciências e espalhar consolo.
Para ela, naquela época medieval, bem mais difícil, tendo que lutar com a ignorância e o fanatismo dos homens. 
Contudo, jamais desanimou, não desistiu nem se frustrou.
Mesmo quando o corpo doente se dobrava de cansaço, pelos sacrifícios que se impunha, prosseguia decidida. 
DIVALDO PEREIRA FRANCO
O exemplo dela bem nos serve. 
Quando nos encontramos atendendo necessitados, habitualmente reclamamos das condições e da aspereza das tarefas. 
Reclamamos que aqueles a quem estamos servindo, doando do nosso tempo e das nossas horas de lazer, de descanso, se mostram mal-agradecidos, sempre exigindo mais. 
Reclamamos das crianças pobres que se mostram mal-educadas e agressivas. 
Reclamamos dos doentes que, mesmo usufruindo da nossa presença e dos pequenos mimos que lhes levamos, continuam depressivos e desanimados.
Apontamos as falhas dos serviços da creche, do velhanato, do albergue ou do hospital em que servimos, de forma voluntária, dizendo como a administração não colabora para a realização daquilo que nos propomos. 
Reclamamos e nos desanimamos, chegando a abandonar a tarefa. 
 * * * 
As tarefas do mundo, quando interrompidas, podem ser recomeçadas. 
No entanto, aquelas que têm por objetivo iluminar vidas, quando abandonadas, deixam marcas nas almas. 
Importante, pois, seguir no propósito de fazer o bem, recordando Jesus. 
Por maior fosse a multidão que O seguisse, Ele se preocupava com as suas necessidades e jamais deixou de atender alguém. 
Compadecido dos que O buscavam, porque os via como crianças espirituais mais preocupados com a saúde do corpo do que com as questões da alma, Ele os atendia. 
Usava a palavra de esclarecimento e auxiliava os caídos a se reerguerem. 
Tudo fazia com amor, sem jamais reclamar... 
* * * 
O bem que se faz não pode fazer mal a quem o pratica. 
Seria irracional. 
O bem possui uma dinâmica própria que renova as forças e estimula a coragem para a luta. 
O que pode ocorrer é o cansaço do corpo, que logo se recupera pelo repouso. 
Mas o desinteresse, o tédio e a fadiga contínua, quando no exercício do bem, são sintomas de enfermidade da alma. 
O bem, pelo prazer de servir, é fonte constante de bom ânimo e esperança. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 17, do livro Sendas luminosas, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 25.11.2025

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

MORTE E VIDA

Drauzio Varella
Quando a enfermidade chega, inexorável, e dá o recado de que a recuperação não se dará no corpo físico, ocorrem diferentes reações por parte dos doentes. 
Há os que se revoltam e passam a brigar com a situação.
Exasperam-se, acreditam-se injustiçados. 
E se perguntam: 
-Por que comigo? 
Outros costumam iniciar uma barganha com a Divindade.
Assim, fazem promessas de realizar boas obras, atender a criaturas, se alcançarem a cura da enfermidade. 
Há os que negam a doença, ao ponto de não aceitarem o atendimento médico, não se submetendo a tratamentos. 
É como se não fosse com eles a questão. 
Existem, enfim, aqueles que aceitam o fato. 
Esses buscam usufruir o melhor da vida que ainda lhes resta e se preparam para realizar o retorno ao mundo de onde todos viemos. 
Um professor de agronomia, que recebeu o diagnóstico de tumor no esôfago, era um desses exemplares. 
Nos últimos dias, até a água que bebia, ele regurgitava.
Naquela manhã, em que o médico chegou para vê-lo, ele estava meio embriagado pela quinta dose de morfina. 
A noite havia sido muito longa e dolorosa. 
Somente em torno das cinco da manhã, ele conseguira dormir um pouco. 
O médico chegou para examiná-lo, em sua casa. 
E recordou-se que toda vez que vinha para vê-lo, o velho professor não cansava de elogiar as virtudes da mangueira frondosa que ele plantara em seu quintal. 
Nada mais, nada menos do que quarenta anos antes. 
Mas, nessa manhã, o encontrou dormindo, no quarto em penumbra. 
Estava enrolado em dois cobertores. 
Abriu os olhos e tentou sorrir. 
A dor era evidente. 
O médico o examinou e lhe disse que seria melhor levá-lo ao hospital. 
-Pela última vez, doutor? Perguntou ele. 
-Honestamente, não sei. Respondeu o médico. 
E tomou do telefone para chamar a ambulância. 
Foi interrompido com delicadeza: 
-Doutor, não chame a ambulância. Minha mulher me leva de carro. Fechado na ambulância, não enxergo nada. Tem sol, quero ver as árvores, as pessoas bonitas na rua, as flores. 
Era um amante da natureza, da vida, do mundo. 
Mesmo as dores que o martirizavam não o deixavam esquecer das maravilhas que se habituara a contemplar. 
* * * 
Há muitas coisas que encantam o olhar: montanhas ao longe, a curva serpenteante da serra, o verde renovado da paisagem que se veste de primavera. 
Há belezas na água que corre pela fresta da rocha, na abundância das correntezas e nas vertentes que se lançam das alturas.
Deus é tão maravilhoso que coloca beleza até na destruição.
E o fogo dança e crepita na lareira, cheio de cores e de formas. 
Em tudo há poesia, encantamento e beleza, para quem tem olhos de ver. 
Para esses, um raio de sol é um veio de ouro, a chuva que cai é prata líquida. 
A brisa, é uma sinfonia. 
E o arco-íris? 
Esse é a obra prima resultante do matrimônio da chuva com a luz, sob o olhar complacente de Deus. 
Pense nisso e torne-se um grande admirador da obra da Criação que todo dia se oferece a você, em luz, cor e movimento. 
Redação do Momento Espírita, com base na Introdução do livro Por um fio, de Drauzio Varella, ed. Companhia das Letras.
Em 17.11.2008.

domingo, 23 de novembro de 2025

MORTE EM TENRA IDADE

O casal se consorciara e, desde os tempos do noivado, haviam estabelecido em seus planos, o número de filhos. 
É como se pudessem ver, através da tela mental, as crianças a correr e encher a casa que juntos idealizaram. 
Esmeraram-se no jardim a fim de que, ao chegarem os pequenos, logo tivessem contato com a natureza, o perfume e as cores das flores miúdas. 
Deixaram uma pequena área para que, em tempo oportuno, pudessem colocar aparelhos próprios para as crianças brincarem. 
Olhando aquele espaço, de mãos dadas, já se imaginavam ensinando os pequenos subirem pela escada e descerem pelo escorregador, caindo no meio da areia. 
Podiam quase se ver a segurá-los, enquanto tentavam escalar os degraus e engatinharem, através da casinha que seria um labirinto bem montado, a abrir portas e janelas, sorrindo felizes.
A gravidez não tardou e tudo se passou num clima de ansiedade e sonhos. 
O dia em que puderam ouvir pela primeira vez o coraçãozinho do filho a bater, foi-lhes de pura emoção. 
Cada mês era uma descoberta. 
Filmaram as diversas ecografias para que, um dia, pudessem mostrar ao pequeno como ele começara a sua vida na Terra, no carinho e aconchego do ventre materno. 
Prepararam berço, quarto, rendas e roupinhas. 
Tudo traduzia o imenso amor que dedicavam ao pequeno. 
O nascimento foi uma festa, os primeiros dias uma descoberta contínua, os meses que se seguiram de aprendizado para os pais, tentando traduzir o choro infantil, os primeiros balbucios, o código especial daquele palavreado todo especial. 
Os primeiros passos foram filmados e, a cada toque das mãozinhas tenras, era uma emoção diferente. 
Nos corações dos pais, a gratidão brotava espontânea e, todas as noites, agradeciam a Deus pela dádiva preciosa que lhes havia mandado. 
Orando ao pé do berço, em rogativa singela a Jesus pelo pequeno que dormia, sentiam-se sempre mais felizes. 
Então, um dia, aconteceu a tragédia. 
Uma febre inexplicável tomou conta do garoto que, até a pouco, brincava feliz na caixa de areia, em plena tarde de verão. 
Ele adentrara a cozinha, queixando-se de dor de cabeça. 
A mãe o acarinhou, sentiu-lhe a temperatura anormal e chamou o marido. 
Logo vieram os exames, o internamento. 
Em poucas horas, a morte cruel. 
O casal sentiu os corações estraçalhados. 
Como era possível que uma criança tão cheia de vida, pudesse morrer em poucas horas? 
E nos dias de hoje, com tantos recursos? 
Nada lhe faltara. 
O pai desesperou-se, agarrou-se ao corpinho ainda quente e começou a gritar: 
-Volte, volte. Não vá embora. Não nos deixe. 
Então, a mãe, vencendo a dor que lhe esmagava o coração, qual uma mão de ferro, aproximou-se do marido, abraçou-o ternamente e lhe falou ao ouvido: 
-Amado, deixa-o partir. Ele veio e somente nos deu alegrias. Cumpriu o seu tempo. Deixa-o retornar em paz ao mundo de onde veio. Não o retenhas... 
* * * 
A morte em tenra idade é, dentre os tipos de morte, possivelmente, a que mais indagações provoca nos corações aflitos. 
Contudo, elas ocorrem porque há Espíritos que vêm à Terra e tomam as vestes humanas, na qualidade de filhos, para fazerem felizes aos que amam. 
Deixam a sua mensagem de alegria e de paz e retornam ao mundo espiritual, desde que a tarefa foi cumprida. 
Outros Espíritos necessitam de algum tempo apenas, como complementação de vidas anteriores, não vividas em plenitude. 
É sempre provação para os pais que sofrem a dor da separação. 
Mas, uma certeza deve permanecer: a morte não existe e, os que se amam, prosseguem a se amar na Espiritualidade. 
Um dia, haveremos todos de nos reencontrar no mundo espiritual ou em vidas futuras, em algum lugar... 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 17, ed. Fep. 
Em 01.11.2010.

sábado, 22 de novembro de 2025

MORTE E MÉRITO

RAUL TEIXEIRA
Um dos sentimentos mais difíceis de ser suportado é o da dor da separação dos entes queridos, provocada pela morte. 
Por certo enchemo-nos de amargura, ao recordar os nossos amores que seguiram para o além pelas portas da desencarnação, no momento do impacto emocional que nos marcou o ser... 
Nada mais compreensível e natural, quando não estamos familiarizados com a certeza de que morte é vida que se exprime em nova dimensão, recebendo em seu seio os que concluíram seu estágio nos campos do mundo material. 
No entanto, salvo os casos em que a criatura, atormentada por múltiplos e infortunados motivos, provoca a morte do próprio corpo, os que mergulham nas águas do rio da morte o fazem em razão das leis do mérito que os beneficiaram com a necessária e merecida libertação do corpo carnal. 
Assim, será sempre de bom senso que não nos enredemos na angustiosa ansiedade por partirmos também. 
Não nos rebelemos contra as Leis Divinas que nos mantêm ainda no chão da Terra. 
Quando pensarmos nos entes amados que já partiram, amemo-los com a nossa oração. 
Recordemo-los com as mais vívidas, ternas e nobres memórias, com as quais conseguiremos levar-lhes o buquê da nossa ternura, com o perfume da nossa saudade iluminada pela fé nos desígnios do Criador. 
É válido que agora, quando o tempo avança, mostrando-nos os diversos setores de serviços que podemos executar no bem, que os executemos, dedicando a eles, nossos mortos que vivem, o melhor dos nossos empenhos fraternais.
Fazendo-nos amigo de alguém, sem nada exigirmos em troca; tornando-nos responsáveis pelo pão diário de uma criança, com alegria, em nome dos afetos que vivem no além-túmulo.
Atendendo a um enfermo com singela fruta ou com a refrescante presença da oração, sem temores desnecessários. 
Visitando um hospital qualquer, num dia ou hora em que possamos, fazendo a alegria dos que jazem sem ninguém, em sofrimento, dia após dia. 
Levando um sorriso fraterno e sincero a um presidiário, para que ele sinta o perdão de Deus por meio da nossa ação.
Comprando um medicamento para alguém que não o possa adquirir, embora dele careça. 
Agasalhando um corpo tiritante de frio com a veste ou a coberta que repousa sem utilidade em nossas gavetas.
Façamos estas coisas em louvor deles, os nossos mortos queridos. 
Distribuindo tantas bênçãos com o coração puro, em nome dos nossos amores, com toda certeza nos prepararemos muito bem para que os embates do Mundo não nos infelicitem, nem nos destruam na amargura. 
Tampouco nos deixem desanimar diante das mais diversas ou conflitantes situações. 
Assim, então, veremos o tempo passar sem nos apartarmos do trabalho do bem, vivendo em abundância, valendo-nos das oportunidades valiosas da existência corporal, até que adquiramos, igualmente, ao longo dos dias, o mérito para retornarmos ao convívio dos amores que partiram, com paz e alegria pelo dever cumprido, nas regiões do mais além. 
* * * 
Que sucede à alma no instante da morte? Que prova podemos ter da individualidade da alma depois da morte? 
A resposta para estas duas perguntas você encontrará em O livro dos espíritos, de Allan Kardec.
O livro dos espíritos foi editado há 151 anos.
Se você deseja conhecer a Doutrina Espírita, leia O livro dos espíritos. 
Redação do Momento Espírita com base no cap. 10 do livro Nossas riquezas maiores, por Espíritos diversos, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter, e nos itens 149 e 152 de O livro dos espíritos, de Allan Kardec, ed. Feb. 
Em 13.11.2008.

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

O PÃO DA NOSSA ALEGRIA


Marcelo Castro Anátocles
da Silva Ferreira
Ele é feito daqueles momentos em que usufruímos da viagem dos nossos sonhos e estamos nos encantando com as paisagens. 
Aquelas mesmas que vimos, muitas vezes, em livros, ou na internet. 
Tudo é deslumbramento. 
A catedral Notre Dame de Paris, restaurada, após o incêndio que a devastou, há poucos anos.
Posamos ao lado das gárgulas que ficam nas extremidades das calhas, no exterior do edifício. Alongamos a vista, descobrindo as belezas da cidade, lá do alto das torres. 
A Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, os barcos no rio Sena. 
Os olhos não cansam de olhar, querendo, mais do que a câmara digital, registrar cada ângulo na memória e no coração. 
Captando as imagens, de forma rápida, é comum que postemos em nossas redes sociais detalhe a detalhe. Comentamos nossas experiências, enfatizamos a riqueza histórica do Museu do Louvre: os quadros, as esculturas, os documentos. 
Nos grupos de whatsApp, enviamos fotos e mais fotos à medida que descobrimos esse ou aquele monumento.
Compartilhamos imagens das acomodações do hotel, das refeições.
O que não lembramos é que, por vezes, isso que fazemos no intuito de compartilhar a nossa alegria, alcança corações distantes, presos a problemas graves e dificuldades sem conta. 
Um benfeitor escreveu certa vez: 
"Não amasses o pão de tua alegria nas lágrimas do semelhante."
É um alerta para o cuidado de não ferirmos ninguém na fruição desses momentos. 
Uma mensagem importante que nos alerta que devemos usufruir desses momentos felizes sem perder de vista os cuidados com o próximo. 
Quando exibimos as fotos dos hotéis luxuosos, dos pratos exóticos, de alto valor, deveríamos nos perguntar se a maioria dos que as verão tem condições de frequentar qualquer um desses lugares. 
Ou saborear alguma dessas iguarias. 
Somos responsáveis pelo que fazemos, logo, pelo que publicamos. 
O que estamos depositando em corações alheios? 
É evidente que podemos partilhar nossos momentos felizes e nossas conquistas. 
Mas isso pode ser feito de maneira semelhante ao que fazíamos antigamente quando as fotos eram reveladas e copiadas em papel. 
Podemos enviar essas imagens individualmente e apenas para amigos queridos ou pequenos grupos que sabemos que vibram com a nossa felicidade. 
Em geral, são poucos esses amigos sinceros e bons, essas almas queridas de nossas vidas que nos querem bem e nas quais podemos confiar para expor nossa intimidade sem ferir nem ofender, recebendo de volta apenas bons pensamentos e vibrações. 
Fica a reflexão para todos nós, usuários das novas tecnologias, nestes tempos em que, com uma tecla, podemos alcançar em segundos a mente de centenas ou mesmo milhares de pessoas. 
Sejamos cuidadosos e generosos ao comermos o pão da nossa alegria, conquistado com nossos esforços e méritos.
Dividamos a alegria com nossos amores sem permitir que desses momentos ricos, íntimos e bons, lágrimas sejam produzidas no próximo, ainda que virtualmente. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Cuidados na fruição do pão da alegria, de Marcelo Anátocles Ferreira, publicado no Jornal Mundo Espírita, outubro 2025, ed. FEP.
Em 21.11.2025

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

NOSSAS HISTÓRIAS FAMILIARES...

Houve tempos em que se convidavam as crianças a mergulharem no passado da família. 
Avós, pais buscavam caixas bem acondicionadas, recheadas de fotos. 
Os pequenos descobriam o bisavô imigrante chegando ao porto, alguns pertences em uma mala que parecia ter resistido a um campo de batalha, de tão maltratada. 
Falava-se das lutas, da casa velha de madeira. 
Desfilava, perante os olhos encantados dos pequenos, a carroça com que o tio vendia o leite, acondicionado em garrafas de vidro, de casa em casa. 
Mostrava-se o ônibus antigo no qual trabalhara o avô como motorista, a conquista do seu primeiro Ford, o caminhão a diesel. 
Havia muitos risos, observando as vestimentas do início do século vinte, aquelas fotos em que todos posavam sérios como se fosse um ato religioso. 
As fotos eram caras, raras e guardadas como preciosidades.
Tudo isso parece que se diluiu de forma rápida com a evolução da fotografia, da sua forma física para a digital. 
Foi um processo marcado por inovações químicas, mecânicas e eletrônicas. 
E marchamos para um tempo em que, por falta de uma foto impressa e tátil, perde-se a formação da memória familiar.
Uma foto impressa é um objeto de memória. 
Ela pode ser manuseada, passada de mão em mão, emoldurada, guardada em álbuns físicos e, o mais importante, descoberta por acaso em uma gaveta. 
Esse processo de descoberta e interação física atua como um poderoso gatilho de memória. 
Quando as crianças folheiam um álbum ou uma caixa com fotos, estão participando de uma atividade social de construção de narrativas. 
No digital, a visualização geralmente é uma atividade individualizada na tela de um dispositivo, reduzindo a chance de ela ouvir, do adulto, a história por trás da imagem. 
A materialidade do papel fotográfico, o amassado do tempo, a caligrafia na parte de trás ajudam a ancorar a memória no tempo e no espaço. 
O digital é abstrato e torna a foto menos especial. 
Antes, tirar uma foto era um ato deliberado. 
Cada foto era selecionada com cuidado, carregando um peso maior. 
Hoje, a maioria das fotos é descartável. 
A sobrecarga de imagens dificulta para as crianças discernir quais momentos são verdadeiramente significativos ou merecem ser lembrados. 
Elas crescem sem um álbum de família no sentido tradicional.
Em vez de cem fotos impressas, que contam a história ponto a ponto, elas têm dez mil imagens desorganizadas em uma pasta. 
Isso torna mais difícil construir e compreender a narrativa visual do passado. 
A fotografia digital garante o registro de todos os momentos, mas falha na preservação duradoura e acessível. 
Também na interação tátil que transforma a imagem em uma memória vívida e compartilhada. 
* * * 
Ante a fragilidade do esquecimento que a facilidade do armazenamento digital oferece, permitamo-nos momentos de resgate histórico. 
Não deixemos que a riqueza da nossa história familiar se dilua no mar de bytes. 
Assinalemos um tempo para esse retorno ao paciente relato do heroísmo dos que nos precederam, hoje, enquanto ainda peregrinamos por aqui. 
Redação do Momento Espírita 
Em 20.11.2025

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

CASAR-SE

CHICO XAVIER E EMMANUEL
Os bons Espíritos não cansam de nos repetir lições ou de nos alertar para novas reflexões, em torno de assuntos que, por vezes, nem cogitamos. 
Em pequeno livro lemos: 
"Não basta casar-se. Imperioso saber para quê."  
Talvez nunca tenhamos feito essa reflexão. 
A lógica primeira seria indagar: 
-Por que me casei? Por que nos casamos? 
No entanto, a indagação apresentada é para quê? 
Isso nos fala de finalidade. 
Quando pensamos no porquê, a resposta pode ser o clássico:
-Por amor, porque nos gostamos muito. 
A grande questão é que o amor não nasce pronto, se é que ainda não percebemos isso. 
Ele precisa ser cultivado. 
Assim, se respondemos: 
-Casei-me para amar e construir uma família, estamos mais próximos do entendimento da lição edificante. 
A felicidade na comunhão afetiva não é prato feito e sim construção do dia a dia. 
As leis humanas casam as pessoas para que as pessoas se unam segundo as leis divinas. 
Importante considerarmos esse curioso aspecto. 
Devido às crenças, aos rituais construídos pelos homens, temos a impressão de que a cerimônia do casamento na Terra é algum tipo de união segundo as leis divinas. 
Entretanto, trata-se de mero cerimonial que celebra uma união terrestre. 
A outra parte, a que vem em seguida, de fazer com que nos unamos segundo as leis divinas, é responsabilidade apenas nossa, do casal. 
Ninguém pode decretar isso. 
Dessa maneira, o casamento não nasce pronto. 
O que nasce pronto é uma disposição inicial, um movimento de compromisso, de vamos construir. 
Naturalmente, a construção se faz aos poucos, de maneira contínua. 
Então, casamento não é a cerimônia, não é a assinatura de papéis nem anéis nos dedos. 
Casamento é cultivo de anos. 
Anos de doação ao outro, anos de trabalho, autoconhecimento e autossuperação. 
Erguemos o lar por amor e é o amor que irá conservá-lo no dia a dia. 
Finalizando as reflexões, encontramos na mesma lição de início:
"Unicamente doando a ti mesmo em apoio da esposa ou do esposo é que assegurarás a estabilidade da união em que investiste os melhores sentimentos. Se sabes que a tolerância e a bondade resolvem os problemas em pauta, a ti cabe o primeiro passo a fim de patenteá-las na vivência comum, garantindo a harmonia doméstica."
O primeiro passo é de cada um de nós, não do outro. 
É na doação que sustentamos um lar. 
É no cultivo dessa forma tão elevada de amor ao próximo que conseguimos um ambiente de harmonia. 
Amor é também sacrifício. 
Sacrificar nossas horas, sacrificar, por vezes, o que nos é importante individualmente pelo bem da união. 
Casar-se é tarefa para todos os dias. 
Família é tarefa para todos os dias. 
O amor não nasce pronto. 
A paixão pode nos inebriar nos primeiros momentos, acendendo um fogo que impressiona, mas se ela não for alimentada pelo combustível do amor, nos meses e anos seguintes, ela se apaga e desaparece. 
Lembremos disso: não nos cansemos de investir no amor.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 11, do livro Na Era do Espírito, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. GEEM. 
Em 19.11.2025

terça-feira, 18 de novembro de 2025

O HOMEM DE BOA VONTADE

Billy-o menino bombeiro
A jovem mãe se aproximou do leito do filhinho. 
Ela queria tanto que o filho crescesse e concretizasse os seus sonhos. 
Entretanto, a leucemia o estava matando. 
Lembrou-se de que, um dia, o filho lhe dissera que queria ser bombeiro, quando crescesse. 
Ela foi ao Corpo de Bombeiros local, na cidade de Phoenix, Arizona, explicou a situação do filho a um bombeiro de enorme coração, chamado Bob. 
-Seria possível, perguntou, meu filho de seis anos dar uma volta no carro de bombeiros, em torno do quarteirão? 
-Nós podemos fazer muito mais, respondeu Bob. Se estiver com seu filho pronto às sete horas da manhã, na próxima quarta-feira, nós faremos dele um bombeiro honorário por todo o dia. Ele poderá vir ao quartel, comer conosco, sair para atender as chamadas de incêndio. Se você nos der as medidas dele, conseguiremos um uniforme verdadeiro, com chapéu, com o emblema do nosso batalhão, um casaco amarelo igual ao que vestimos e botas. 
Três dias depois, o bombeiro Bob pegou o garoto Billy. 
Vestiu-o com o uniforme de bombeiro e o escoltou do leito do hospital até o caminhão dos bombeiros. 
Billy ficou sentado na parte de trás do caminhão e foi levado ao quartel central. 
Ele estava muito, muito feliz. 
Acompanhou os três chamados que aconteceram naquele dia e saiu no caminhão tanque, na van dos paramédicos e no carro especial do chefe do Corpo de Bombeiros. 
Até foi filmado pelo programa de televisão local. 
Com o seu sonho realizado, Billy ficou tão contente que viveu três meses além da previsão dos médicos. 
Uma noite, a enfermeira chefe começou a chamar toda a família ao hospital. 
Billy estava morrendo. 
Ela se lembrou do passeio com os bombeiros. 
Por isso, ligou para o quartel e perguntou se um bombeiro poderia fazer uma visita rápida ao garoto. 
Com certeza, ele ficaria feliz. 
O chefe dos bombeiros respondeu: 
-Nós podemos fazer muito mais do que isso. Estaremos aí em cinco minutos. Quando você ouvir as sirenes e ver as luzes de nossos carros, avise no sistema de som que não se trata de um incêndio. É apenas o Corpo de Bombeiros vindo visitar, mais uma vez, um de seus mais distintos integrantes. E, por favor, abra a janela do quarto dele. 
Cinco minutos depois, uma van e um caminhão com escada Magirus chegaram ao hospital, estenderam a escada até o andar onde estava o garoto. 
Dezesseis bombeiros subiram pela escada e, com a permissão da mãe, abraçaram e saudaram o melhor bombeiro de todo o quartel. 
Billy deu um sorriso tímido e perguntou: 
-Sou mesmo um bombeiro? 
E, ante a afirmativa sorridente do chefe dos bombeiros, Billy fechou seus olhos pela última vez. 
* * * 
O Mestre de Nazaré ensinou: 
-Se alguém te obrigar a dar mil passos, vai com ele mais outros dois mil. Ao que te tirar a capa, não impeças de levar também a túnica. 
Reflitamos a respeito e nos perguntemos como temos respondido aos pedidos de nossos amigos, filhos, parentes e da comunidade em geral. 
Que tal começarmos a colocar em prática, em nossa vida, a frase: 
-Eu posso fazer mais do que você me pede? 
Redação do Momento Espírita, a partir do artigo O homem de boa vontade sempre faz mais, de Ary Brasil Marques, publicado no Jornal Correio Fraterno do ABC, de dezembro de 2000.
Em 18.11.2025

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

A MORTE CHEGA PARA TODOS

ALBERT E MAJA EINSTEIN
Você já percebeu que, sempre que o noticiário nos mostra as tragédias do mundo, acreditamos que nada semelhante jamais nos atingirá? 
Já se deu conta de que, normalmente, partilhamos a ideia de que o mal somente chegará à casa do vizinho? 
Com esses conceitos, vivemos despreocupados. 
Nem sempre utilizamos a prudência que nos seria devida para nos furtarmos de certos acontecimentos inconvenientes.
Quando a morte ronda os lares, continuamos a acreditar que o nosso está protegido dessa megera terrível. 
Por isso, quando ela chega, é sempre uma surpresa para nós.
Mas, ninguém foge à morte. 
E seria importante que, a respeito dela, meditássemos um pouco a cada dia. 
Recordamos que, depois do término da Segunda Guerra Mundial, morreu a amada irmã de Albert Einstein. 
Ele havia estado com ela, dias antes de sua morte. 
Ambos estavam abatidos e doentes. 
Albert tinha recebido o diagnóstico de um aneurisma abdominal da aorta. 
Tivera uma crise e, com fortes dores abdominais, ficara internado no hospital para longo tratamento. 
Brincando, ele havia dito à irmã: 
-Creio que enfrentarei a grande jornada para o espaço, antes de você, querida Maja. Por isso, estou aqui para as despedidas. 
E Maja respondeu: 
-Não, meu querido irmão, partirei antes. Em sonho recente, vi nossos pais. Entendi, por sinais feitos pelas mãos de nossa mãe, que a partida seria logo. 
Albert a abraçara, falando ao seu ouvido: 
-Seja como for, sinto que em breve nos encontraremos.
Recebendo, agora, a notícia da morte da irmã, olha o Infinito e fala baixinho: 
-Que Deus a abençoe! Como disse a você, em breve nos encontraremos. 
Nem raiva, nem desespero.
Atitude de quem tinha a certeza da Imortalidade. 
Continuou a trabalhar. 
Mesmo com suas dores, ele não se deixava vencer. 
Recebia amigos, viajava, proferindo palestras sobre suas teorias e respondia a todas as perguntas que os jornalistas lhe faziam. 
Com o rompimento do aneurisma abdominal, agrava-se seu quadro anêmico. 
Em 18 de abril de 1955, a uma hora e quinze minutos da madrugada, Albert Einstein morre, em Princeton, Nova Jersey.
Ele providenciara seu testamento, legando seus inventos e documentos científicos, já provados ou não, à Universidade de Jerusalém. 
Sabia que a morte o rondava. 
Preparou-se para recebê-la, mantendo-se ativo e sereno. 
Ele tinha a certeza da Imortalidade. 
* * * 
Conforme seu pedido, o corpo de Albert Einstein foi cremado e suas cinzas espalhadas em local ignorado. 
Ele doou seu cérebro a Thomas Harvey, patologista do Hospital Princeton. 
Esse fato causou profundo abalo no meio dos físicos e intelectuais filosóficos. 
Mas era preciso respeitar o desejo do maior conhecedor em cálculos matemáticos e das teorias sobre Física. 
Redação do Momento Espírita, com base em dados biográficos de Albert Einstein. Disponível no livro Momento Espírita, v. 8, ed. FEP. 
Em 09.01.2014.

domingo, 16 de novembro de 2025

MORTE, TEMIDA MORTE!

Se a um jovem perguntarmos o que lhe representa a morte, ele responderá: 
-A morte é a ceifeira dos sonhos. É uma megera que se compraz em destruir o que de mais idealista se projeta. Teima em não obedecer regras pois arrebata filhos antes dos seus pais, crianças antes dos idosos. Abraça os que apenas desabrocham para a vida; envolve em seu manto negro adolescentes apaixonados, jovens estudantes. Destrói a ventura de um casal, atingindo um dos cônjuges, deixando o outro mergulhado em sombras de saudade e dor. Agrada-lhe a semeadura da desgraça e cascatas de lágrimas. A um dia de sol, em que a criançada grita e brinca, entre os jardins, o bosque e o lago, oferece a sua presença e transforma risos em pranto, cantos em lamentos. Aproveita-se de qualquer descuido para roubar o ente querido. Basta uma leve distração e a criança é arrebatada. Um senão qualquer e a vida amada se vai. No entanto, se indagarmos a alguém que padece sobre um leito, dia após dia; alguém que já não encontra remédios que lhe amenizem as dores; alguém a quem o bendito repouso do sono não chega porque a enfermidade dolorosa não o permite; se questionarmos alguém a quem os meses se multiplicaram em acentuados anos, secando-lhe o viço e a mobilidade; alguém que viu seus amores partirem um a um, seguidos pelos colegas e amigos; alguém que vive só, sem ter quem o visite, amenizando-lhe a carência afetiva e depende de mãos alheias para o asseio, o alimento, os mínimos movimentos, esse alguém nos dará uma visão diversa da morte. Ele dirá que ela é a libertadora, que o corpo lhe pesa em demasia, que não suporta mais as dores físicas ou a solidão, que deseja o reencontro com os que se foram. Então, para esse, a morte vem com outras vestes. Não é a lúgubre presença destruidora, mas aquela que ele aguarda o abrace suavemente e o conduza ao outro mundo. 
 * * * 
De um modo geral, consideramos a morte sempre como indesejada. 
Os que temos nossos amores envoltos em enfermidades, não nos cansamos de estabelecer novas trincheiras de combate, a fim de lhes devolver a saúde.
Todos os que amamos se fazem preciosas presenças e, por isso, não desejamos que partam. 
Os pais esperam seguir antes dos filhos, que não almejam morram seus amigos, conhecidos, colegas. 
No entanto, a morte é inexorável para todos. 
E, como disse Jesus, ninguém sabe o dia, nem a hora, senão o Pai que está nos céus. 
Importante, dessa forma, que nos conscientizemos que estamos no mundo de passagem. 
Por mais se alonguem os anos, por mais a ciência progrida e estabeleça parâmetros mais dilatados de longevidade humana, um dia, a morte chegará. 
Por isso, guardemos a sabedoria de viver intensamente cada dia, de saborear cada momento com os pais, os filhos, o cônjuge. 
Dediquemos tempo aos nossos amigos, permitamo-nos parar para ouvir o colega, o vizinho. 
Tudo para que, quando a morte nos arrebate, os que ficarem possam ter doces lembranças da nossa presença a lhes luarizar a saudade dos dias. 
E, se nossos amores antes forem, possamos guardar a certeza de que não desperdiçamos nenhum momento ao seu lado. 
Depois, é só aguardar o reencontro, um dia, na Espiritualidade. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 01.11.2012.

sábado, 15 de novembro de 2025

A ALMA DO PÃO

Todos os dias, naquele mercado, forma-se uma fila próximo às cinco horas da tarde. 
É o horário em que sai a fornada de pão. 
Num mundo que preza pela velocidade e resultados instantâneos, todos esperam pacientemente, ninguém reclama. 
Alguns conversam, falam de como apreciam o pão quentinho.
E isso nos leva a pensar na extraordinária virtude chamada paciência. 
Damo-nos conta de como o pão nos leciona paciência. 
Longa é a jornada do grão do trigo até a entrega do produto final. 
Ele passa por plantio, floração, colheita, armazenamento, transformação em farinha. 
E o processo de um pão saboroso começa antes de a massa ser formada: na escolha da farinha. 
Depois, a mistura dos ingredientes — água, fermento e sal. É o ato de dar vida. 
O fermento é o grande mestre da paciência. 
Ele não age instantaneamente. 
Seu trabalho é silencioso, invisível e lento. 
Sem tempo para o fermento acordar e desenvolver o sabor, o pão ficará pesado. 
Na vida, equivale ao período em que as ideias se fundem, as habilidades se consolidam e os relacionamentos se aprofundam. 
É o momento de confiar no processo invisível de não forçar a evolução, mas de permitir que ela aconteça a seu tempo.
Tentar apressar o crescimento é como assar um pão que ainda não levedou: o resultado será decepcionante. 
O ato de sovar a massa é, talvez, a metáfora mais clara para a paciência ativa. 
É um trabalho repetitivo, que exige esforço e que, inicialmente, parece não levar a lugar nenhum. 
A paciência na sova é o compromisso de continuar o trabalho mesmo quando o progresso é lento. 
É o reconhecimento de que a força e a elasticidade da massa só se desenvolvem através da fricção e da persistência. 
Na vida, são as horas dedicadas a um treino, à revisão de um texto, ou à repetição de um hábito até que ele se torne natural.
Finalmente, o pão vai para o forno. 
O padeiro não pode simplesmente colocar o pão na temperatura máxima para acabar logo. 
É preciso um calor constante e na temperatura certa. 
Nem tão baixo que o pão seque, nem tão alto que ele queime por fora e fique cru por dentro. 
A paciência aqui é a disciplina e o controle. 
É a capacidade de manter o foco e a calma sob pressão, garantindo que as condições para o resultado sejam ideais.
Na vida, é saber que cada etapa tem a sua temperatura. 
O sucesso sustentável não vem de explosões de energia, mas da manutenção de um esforço calibrado e constante, que cozinha o nosso caráter sem o queimar. 
Quando o pão é retirado do forno — dourado, crocante por fora e macio por dentro — ele é mais que um alimento. 
É a prova material de que a espera valeu a pena. 
A fragrância que inunda o ambiente é o aroma do resultado conquistado. 
A paciência é a ação no tempo certo. 
É a sabedoria de esperar pelo desenvolvimento necessário, de sovar o esforço, de manter a temperatura da disciplina e de confiar que a combinação de bons ingredientes e tempo dedicado nos trará o nosso próprio pão perfeito.
A alma do pão se chama paciência. 
Em nossa vida, uma virtude que nos mantém o bom ânimo e o vigor. 
Redação do Momento Espírita 
Em 15.11.2025

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

MORRER LENTAMENTE

MARTHA MEDEIROS
Morre lentamente quem não sorri para uma nova manhã, quem esqueceu de olhar as estrelas na noite anterior e quem não se encanta com a grandiosidade da natureza à sua volta.
Morre lentamente quem não encontra graça em si mesmo, quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor, ou não conversa com quem não conhece. 
Morre lentamente quem faz da televisão seu guru, ou sua única companhia. 
Morre lentamente quem não toma iniciativa alguma quando está infeliz com seu trabalho, quem não arrisca nem um pouco que seja, para ir atrás de um sonho. 
Morre lentamente quem passa os dias se queixando de sua má sorte ou da chuva incessante ou do sol intenso. 
Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, quem não pergunta sobre um assunto que desconhece, ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Morre lentamente quem não mais agradece a Deus pelos filhos que lhe deu, ou pelos pais que o receberam neste mundo. 
Morre lentamente quem não retribui o sorriso de um bebezinho, e quem não acha fascinante a forma pela qual chegamos todos a este mundo. 
Morre lentamente quem não abraça, quem não beija, quem não expressa carinho de alguma forma – mesmo que através de um olhar. 
Morre lentamente quem é adepto de expressões como este mundo não tem jeito mesmo, ou a coisa está cada dia pior.
Morre lentamente quem se desespera com a perda de um amor, e não consegue perceber que há muitos que podem ser amados por nós, e muitos que podem nos amar profundamente. 
Morre, sem perceber, dia após dia, quem não se dedica à felicidade de alguém, quem não se doa, quem não divide o que tem - material e espiritualmente – com outras pessoas. 
* * * 
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar. 
Estar vivo pressupõe agir, e não apenas reagir. 
Toda reação é perigosa, pois comumente não passa pelo processamento seguro da razão. 
Estar vivo implica em fazer avaliações constantes, não avaliações dos outros, mas de nós mesmos e de nosso viver.
Quem não se avalia perde grandes chances de se aprimorar, de poder mudar de rumo quando percebe que a direção poderia ser outra. 
Estar vivo significa: entusiasmo - carregar Deus em nossa alma, levar a certeza de Sua presença em nossas vidas e a vontade de conquistar os altos páramos da felicidade. 
* * * 
Vivo para que o sol tenha sentido, e é minha luminescência que ele espelha e devolve ao orbe, agradecido. 
Vivo para que a chuva lave o ar, e leve volte ao éter com meu perfume elegante, de árvore vigorosa de seiva sã. 
Vivo para que o amor tenha vazão, e não deseje razão – pois de condição o amar não precisa. 
Vivo para florescer outros jardins, e sem perceber o meu se abarrota de lírios, ciclames, girassóis... 
Vivo cada dia como se fosse cada dia. 
Nem o último nem o primeiro - o único. 
Redação do Momento Espírita, com base no texto Quem morre, de Martha Medeiros. 
Em 27.10.2017.