sexta-feira, 20 de setembro de 2024

MAL DO SÉCULO

DIVALDO PEREIRA FRANCO
Ouve-se, por vezes, a afirmativa de que a mediunidade é, hoje, a doença do século. 
E aponta-se como causa da loucura, do desequilíbrio mental, o seu exercício. 
Ora, a mediunidade é uma faculdade psicofísica, que é normal em quase todas as criaturas. 
O eminente professor Charles Richet a denominou sexto sentido. 
Portanto, não é algo novo. 
A mediunidade esteve presente em Francisco de Assis, que se extasiava ante o espetáculo da natureza e compunha poemas delicados, extravasando o que sua alma percebia da Espiritualidade Superior. 
Igualmente nos êxtases de Teresa d'Ávila ou nos colóquios de Rita de Cássia, que chegou a reproduzir em seu corpo as chagas do Cristo. 
A mediunidade, hoje tão conhecida e pouco compreendida, se encontra descrita na Primeira Epístola aos Coríntios, pelo Apóstolo Paulo, quando fala dos dons e dos carismas. 
Uns veem, outros ouvem, outros falam, outros profetizam, outros curam. 
Os dons e os carismas apresentados por Paulo de Tarso são a mediunidade. 
Por ser apanágio dos homens, a possuem bons e maus.
Assim a possuía também Adolf Hitler, que chegou a exercê­-la em Berlim, no período de 1914 a 1918, no grupo Tullis. 
Ele acreditava ser a chibata com a qual Deus puniria a Humanidade. 
Como se percebe, a mediunidade em si não é boa nem má. 
O seu uso depende das condições morais e intelectuais do seu portador. 
Dessa forma, é oportuno corrigir a afirmativa inicial, dizendo que o mal do século é a obsessão e não a mediunidade. 
A obsessão é a influência exercida por um espírito mau sobre o ser encarnado. 
Esse mal sim, hoje dizima milhões de criaturas, com desequilíbrios da personalidade e da própria vida mental. 
A terapêutica é a educação da mediunidade. 
A direção moral que o homem lhe dá, elevando-se na ordem psíquica, moral e emocional, passando a sintonizar com os Espíritos elevados. 
Desses, só receberá sensações agradáveis, bem­-estar e realizações no bem. 
Cabe-nos estudar um pouco mais a mediunidade a fim de melhor compreender essa faculdade que Deus nos empresta para que possamos evoluir. 
* * * 
Cyrano de Bergerac, no século XVIII, descreveu em sua obra Viagem à lua, um foguete de vários corpos e etapas que se queimavam sucessivamente, até situar a cápsula tripulada em órbita. 
Ele também descreveu, na sua obra, o rádio e o gravador. 
Von Braun, o idealizador dos foguetes norteamericanos afirmava que, durante seus anos de juventude em Berlim, via Cyrano. 
Dois exemplos de mediunidade: premonição e vidência de duas personalidades da área literária e científica. 
Redação do Momento Espírita, com base na pergunta nº 8 de Entrevista com Divaldo Pereira Franco, inserida na Revista Informação, de março de 1997 e no artigo A viagem à lua de Cyrano de Bergerac, da Revista O espírita, de outubro/dezembro 1996. 
Em 28.11.2011

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

A GENIALIDADE QUE APLAUDIMOS

Guido Santana
Quando alguém é convidado para uma palestra, coordenação de atividade ou treinamento, em cima da hora e diz que precisa se preparar, é comum ouvir: 
-Você não precisa disso. Você tira de letra. 
Esquecem os que assim se manifestam que ninguém nasce pronto. 
Nem aqueles a quem chamamos gênios. 
Eles são movidos pela paixão, um fogo interior pelo campo de seu interesse: arte, ciência ou qualquer outra área do conhecimento humano. 
Trazem a vocação latente, o pendor, mas se dedicam de corpo e alma àquilo que amam. 
Investem tempo, energia e recursos incessantes, o que os leva a superar desafios e alcançar feitos extraordinários. 
O seu caminho nem sempre é fácil. 
Por vezes, precisam enfrentar obstáculos e até fracassos. 
No entanto, não se intimidam e tudo enfrentam como oportunidade de crescimento. 
É isso que lhes garante o sucesso, o aplauso do mundo. 
Em concerto recente, tivemos a oportunidade de assistir à performance impecável de um violinista. 
Duas mil pessoas em pé não se cansavam de aplaudir e reprisar aplausos. 
Apenas dezenove anos tem o jovem. 
E as exclamações eram constantes: 
-Um gênio. 
Sim, um gênio que começou a estudar violino aos cinco anos de idade e aos sete tocava na orquestra. 
E estuda até hoje, sob tutela de mestra consagrada.
Ganhador de inúmeros prêmios, ele está na lista dos trinta antes dos trinta anos, da mais conceituada revista de negócios e economia, a Forbes Brasil. 
Um exímio artista com lugar reservado em seleta Academia de Artes nacional. 
Sua grande lição: persistência, estudo, dedicação.
Persistência é a capacidade de continuar nos esforçando para alcançarmos uma meta pretendida. 
Assim, o escritor alimenta a sua mente, o seu intelecto de contínuo. 
Com isso, a sua criatividade encontra farto material para se expandir. 
O estudo exercita o cérebro, fortalece a memória, a capacidade de concentração e o raciocínio. 
Amplia a nossa visão de mundo, nos levando a explorar diferentes culturas, épocas e áreas do conhecimento. 
E nos estimula a irmos sempre mais longe, a desejarmos saber mais, investigar além. 
A dedicação é essa força de vontade atuante, a crença em nossa capacidade de superar obstáculos, de conquistarmos o que idealizamos. 
Bem afirmou Thomas Edison que gênio é um por cento de genialidade e noventa e nove por cento de transpiração. 
O famoso inventor americano demonstrou sua incrível produtividade e capacidade de trabalho, registrando mais de mil contribuições revolucionárias, entre elas a lâmpada incandescente e o fonógrafo. 
Dessa maneira, quando nos extasiarmos pela oratória de alguém, pensemos quantas horas foram dedicadas ao estudo, à reflexão. 
Quanto terá se esmerado em aulas para melhorar a sua dicção, a inflexão de sua voz. 
Quando aplaudirmos um bailarino, lembremos quantos anos precisou para alcançar o virtuosismo que demonstra, a leveza dos gestos e a elasticidade do corpo. 
O domínio técnico impecável com precisão dos movimentos, execução dos passos e expressividade na coreografia.
Gênios. Virtuoses. Seres dedicados, perseverantes.
Aplaudamos seus esforços. 
Aprendamos com eles. 
Redação do Momento Espírita, com detalhes da vida do violinista Guido Santana. 
Em 19.09.2024

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

MUITOS ESTÃO SURDOS

Alguns andam se perguntando, assustados com o mal que abala o planeta em todas as áreas: 
-Até quando veremos tudo isso? 
Outros, observando os grandes flagelos que alcançam a Humanidade, trazendo a face implacável da dor aos dias, pensam: 
-Por que tanta dor? Por que tanto sofrimento? 
Sem uma análise histórico-sociocultural, a visão pequena e também sem uma percepção espiritual, pode nos posicionar todos como vítimas ou mesmo nos fazer chegar a lugar nenhum. 
Vítimas dos flagelos da natureza, vítimas dos maus, vítimas da violência, num mundo totalmente injusto. 
Quando nos dispomos a perceber outros aspectos, alargar a visão pelo conhecimento, percebemos que estamos vivendo exatamente do jeito que queremos e no mundo que construímos. 
E, se quisermos algo diferente, logicamente, basta fazer o que fizemos sempre que estivemos insatisfeitos com algo: mudar.
Os caminhos para sairmos deste estágio no qual ainda reina a lei do mais forte, onde reinam os interesses materiais e todos os vícios morais, nos foram traçados claramente. 
Podemos dizer, inclusive, que nos foram mostrados de diferentes formas, e ainda nos são indicados diariamente. 
A grande questão é: 
-Queremos mudar? Queremos ouvir? 
Compositores de nosso país, em tempos de grande criatividade artística, produziram uma canção intitulada: Todos estão surdos. 
A obra traz uma reflexão rica evocando a figura do Mestre Jesus de forma bastante perspicaz. 
Dizem os versos: 
Toda gente se esqueceu 
que a verdade não mudou.
Quando a paz foi ensinada 
pouca gente escutou. 
A paz é ensinada desde antes de Jesus, é certo, mas foi Ele que trouxe a mensagem do amor e da paz num formato nunca antes visto. 
Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. 
Ou Eu sou o Caminho da verdadeira vida. 
Que verdade é essa que não mudou? 
A verdade do amor, do perdão, da caridade. 
Não há outro caminho senão esse. 
Verdade que continua sendo proclamada aos quatro ventos, com outras roupagens, com outros nomes. 
Porém, na essência, sempre a mesma. 
A questão está justamente no que aponta o nome da canção: Todos estão surdos. 
Ou, numa pequena adaptação para não sermos injustos com os que já despertaram: Muitos estão surdos. 
A mensagem da canção é tão inspiradora que prossegue proclamando:
Mas, meu Amigo, volte logo, 
venha ensinar meu povo 
que o amor é importante. 
Vem dizer tudo de novo. 
É a saudade de Jesus que bate forte... 
Mas não nos inquietemos, pois Ele continua conosco. 
Ele é o Governador do orbe terrestre. 
Sabe tudo que ocorre e administra nossa História, nossas vidas, utilizando-se de muitos meios. 
Há um plano maior para a implantação do amor na face da Terra. 
Começou há muito tempo, passou pela vinda do próprio Mestre até nós, estendeu-se pela chegada do Consolador prometido por Ele e segue adiante. 
É tempo de ouvir. 
É tempo dos que sabem escutar despertarem os que ainda estão surdos. 
Muitos estão surdos, sim, mas, felizmente, muitos já ouvem a música dos novos tempos. 
Redação do Momento Espírita 
Em 18.09.2024

terça-feira, 17 de setembro de 2024

CASAS MORTAS, CASAS VIVAS!

Sua casa é viva ou morta? 
A pergunta soa estranha, com certeza. 
E você logo responderá que casa é algo inanimado. 
A casa é feita de pedras, tijolos, madeira, portanto, não tem vida. 
Entretanto, casas existem que são mortas. 
Você as adentra e sente em todos os cômodos a inexistência de vida. 
Sim, dentro delas habitam pessoas, famílias inteiras. 
Mas são aquelas casas em que quase tudo é proibido. 
Tudo tem que estar tão arrumado, ajeitado, sempre, que não se pode sentar no sofá porque se está arriscando sujar o revestimento novo e caro. 
Casas em que o quarto das crianças é impecável. 
Todos os bichinhos de pelúcia, por ordem de cor e tamanho repousam nas prateleiras. 
Essas casas são frias. 
Pequenas ou imensas, carecem do calor da descontração, da luz da liberdade e da iluminada possibilidade de dentro delas se respirar, cantar, viver. 
Por isso mesmo parecem mortas. 
As casas vivas já demonstram desde o jardim que nelas existe vibração e alegria. 
No gramado, a bola quieta fala da existência de muitos folguedos. 
A bicicleta, meio deitada, perto da garagem diz que pernas infantis até a pouco a movimentaram com vigor. 
Em todos os cômodos se reflete a vida. 
No sofá, um ursinho de pelúcia denuncia a presença de um pequenino irrequieto que carrega a sua preciosidade por todos os cantos. 
Na saleta, livros, cadernos e lápis dizem dos estudos que se repetem durante horas. 
O dicionário aberto, um marcador de páginas assinalando uma mensagem preciosa falam de pesquisa e leitura atenciosa. 
A cozinha exala a mensagem de que ali, a qualquer momento, pode chegar alguém e se servir de um copo d’água, um café, um pedaço de pão. 
Os quartos traduzem a presença dos moradores. 
Cores alegres nas cortinas, janelas abertas para que o sol entre em abundância. 
Os travesseiros um pouco desajeitados deixam notar que as crianças os jogam, vez ou outra, umas contra as outras, em alegres brincadeiras. 
Enfim, as casas vivas são aquelas em que as pessoas podem viver com liberdade. 
O que não quer dizer com desordem. 
As casas vivas são aquelas nas quais os seus moradores já descobriram que elas foram feitas para morar, mas sobretudo para se viver. 
* * * 
O desapego às coisas terrenas inicia nas pequeninas coisas.
Se estabelecemos, em nosso lar, rígidas regras de comportamento para que tudo esteja sempre impecável, como se pessoas ali não vivessem, estamos demonstrando que o mais importante são as coisas, não as pessoas. 
Manter o asseio, a ordem é correto. 
Escravizar-se a detalhes, temer por estragos significa exagerado apego a coisas que, em última análise, somente existem em função das pessoas. 
Transforme sua casa, pequena, de madeira, uma mansão num lugar agradável de se retornar, de se viver, de se conviver com a família, os amigos, os amores. 
Coloque sinais de vida em todos os aposentos. 
Disponha flores nas janelas para que quem passe, possa dizer: 
-Esta é uma casa viva. É um lar. 
Redação do Momento Espírita Disponível no CD Momento Espírita v. 12 e no livro Momento Espírita, v. 6, ed. FEP. 
Em 17.9.2024

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

MALDADE PERPÉTUA

EMMANUEL E CHICO XAVIER
Há quem acredite na existência de demônios. 
Segundo a concepção mais comum, são seres voltados eternamente ao mal. 
Teriam até sido anjos, no pretérito remoto. 
Entretanto, por conta de uma rebelião contra Deus, foram expulsos do céu. 
Trata-se de uma crença respeitável e talvez até necessária, em certo período da História humana. 
Mas não resiste ao crivo da razão. 
A Criação Divina é perfectível e está em contínuo avanço.
Gradualmente, os costumes se renovam, os pensamentos se aperfeiçoam e os sentimentos se purificam. 
O retrocesso é estranho às leis divinas. 
Nenhum ser genuinamente bom cansa da bondade e passa a cometer atos cruéis. 
O contrário é que se dá. 
A maldade, sim, cansa, inclusive pela cota de sofrimentos e desgostos que necessariamente causa. 
O mal perpétuo, como destino de uma criatura, desmentiria a inteligência e a bondade do Criador. 
Assim, todos cometem erros no processo de aprendizado.
Mas todos se recompõem, mais cedo ou mais tarde. 
Os gênios perversos das tradições religiosas são apenas Espíritos, iguais aos que animam os homens de hoje. 
Basta que alguém adote conscientemente a crueldade por trilha de ação para assemelhar-se a eles. 
Observe as lágrimas dos órfãos e das viúvas, ao desamparo. Há quem as faça correr. 
Repare nos apetrechos de guerra, estruturados para assaltar populações indefesas. 
Há quem os organize. 
Medite nas indústrias do abortamento. 
Há quem as garanta. 
Reflita nos mercados de entorpecentes. 
Há quem os explore. 
Essas verdades acusam a Humanidade toda. 
A condição moral da Terra é o reflexo coletivo dos que nela habitam. 
Todos têm acertos e desacertos. Todos possuem sombra e luz. 
Consciências encarnadas em desvario fazem os desvarios da esfera humana. 
Consciências desencarnadas em desequilíbrio geram os desequilíbrios da esfera espiritual. 
Justamente por isso, o Evangelho assevera: 
Ninguém entrará no reino de Deus sem nascer de novo. 
Já o Espiritismo acentua: 
Nascer, morrer, renascer de novo e progredir continuamente, tal é a lei. 
Isso quer dizer que ninguém consegue desertar da luta evolutiva. 
É preciso seguir vigilante no serviço do próprio burilamento e no auxílio ao progresso do próximo. 
Certamente um dia o amor puro liquidará os infernos de dor e incompreensão. 
Mas tal só se dará quando todas as inteligências transviadas estiverem sublimadas pela força da educação. 
Educar-se e ao semelhante é tarefa de cada homem que sonha com um amanhã melhor. 
Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. XXXIII, do livro Justiça Divina, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. 
Em 29.04.2023.

domingo, 15 de setembro de 2024

O MALABARISTA

Conta-se que, em tempos idos, havia, na França, um malabarista chamado Barnabé. 
Ele viajava de aldeia em aldeia mostrando sua arte. 
Abria seu tapete no meio da praça e quando algumas pessoas se aglomeravam, começava suas piruetas balançando uma bandeja na ponta do nariz. 
Quando virava de cabeça para baixo, apoiado nas mãos e jogava para o alto seis bolas, voltando a pegá-las com os pés, ou quando se atirava para trás até tocar a nuca com os calcanhares, ouvia-se um murmúrio de admiração e choviam moedas no tapete. 
No inverno, no entanto, ele ficava como uma árvore sem folhas. 
A estação trazia-lhe frio e fome. 
De temperamento afável, Barnabé aguentava tudo pacientemente. 
Acreditava que dias melhores viriam. 
Confiava em Deus e, com sua mãe, aprendera a seguir os ensinamentos de Jesus. 
Numa tarde chuvosa, caminhava pela estrada, triste e desanimado, carregando seus objetos de trabalho enrolados num tapete velho, à procura de um lugar seco onde pudesse dormir. 
Seguia no mesmo rumo um frade que o cumprimentou e lhe perguntou: 
-Por que você se veste desse jeito? 
-Sou um malabarista. E esta seria a ocupação mais prazerosa se pudesse me garantir o pão de cada dia. 
-Amigo, replicou o frade, não há nada mais prazeroso que a vida religiosa. Nós nos ocupamos com preces ao bom Deus e a Nossa Senhora. 
Barnabé respondeu: 
-Confesso que falei como um ignorante. Sua missão não pode ser comparada à minha. Apesar disso, acho que deve haver algum mérito em fazer as pessoas sorrirem, esquecendo-se, ainda que por minutos, dos sofrimentos. Contudo, para servir ao Senhor, abandonaria a arte pela qual sou conhecido. 
O frade ficou tocado pela simplicidade do malabarista, e o convidou a ingressar no mosteiro. 
Um dia, os religiosos combinaram um ofício em louvor a Jesus. 
Cada um mostraria o que sabia fazer de melhor. 
Uns pintaram a imagem de Jesus, outros compuseram hinos em latim. 
Havia ainda esculturas e poesias. 
Barnabé via tudo aquilo e lamentava sua ignorância. 
Gostaria de ter habilidade como os demais. 
Ficou desanimado, até que uma manhã acordou cheio de alegria. 
Foi para a capela e recolheu-se, por horas. 
Passou a fazer isso todos os dias e sua nova disposição foi notada. 
Os irmãos se perguntavam a razão de tal mudança. 
Um dos frades passou a observá-lo. 
Um dia, vendo-o sem o hábito, resolveu, junto com dois outros frades, descobrir o que se passava. 
Olhando pela porta entreaberta viram Barnabé diante do altar, fazendo seus malabarismos. 
Entraram à capela, exclamando que aquilo era um sacrilégio.
Estavam a ponto de tirá-lo dali, quando viram Jesus descer do altar e, com Sua túnica, enxugar o suor do rosto do malabarista. 
O silêncio encheu a capela... 
Uma lágrima rolou dos olhos de Barnabé e todos, de joelhos, contemplaram a figura do Nazareno. 
* * * 
Todos somos bons em alguma coisa, mas de nada adiantará se não usarmos esse talento para tornar melhor a vida do nosso próximo. 
Ofereçamos o melhor de nós, ainda que seja apenas um sorriso, um abraço, um olhar de carinho, um malabarismo qualquer, capaz de despertar um sorriso no rosto triste de alguém. 
Redação do Momento Espírita, com base em história de autoria desconhecida. 
Em 7.6.2018.

sábado, 14 de setembro de 2024

A MAIS VENERADA MULHER

Uma das mais belas descrições da interferência dos Mensageiros Celestes talvez seja a conhecida como da Anunciação. 
Segundo o Evangelista Lucas, entrando o anjo onde estava a jovem Maria, disse: 
-Salve, cheia de graça. O Senhor seja contigo. 
E lhe diz que ela conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Jesus. 
Prediz que Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo e que Seu reino não terá fim. 
Maria estabelece com ele um diálogo, elucidando suas dúvidas a respeito de como tudo isso haveria de suceder.
Afinal, ela era conhecedora das profecias a respeito do Messias. 
Dentre os quatro Evangelistas somente Lucas, o redator do terceiro Evangelho, desce a detalhes, não encontrados nos demais. 
Isso porque, seguindo as orientações e os desejos de Paulo de Tarso, o seu Evangelho foi escrito a partir de muitas entrevistas com quem vivera e convivera com Jesus.
Naturalmente, Maria, Sua mãe, foi a primeira entrevistada.
Justamente por essa razão, é que somente ele assinala seu canto de gratidão e louvor ao Senhor da Vida, o Magnificat:
Minha alma glorifica ao Senhor. 
Meu Espírito exulta de alegria em Deus,
 meu Salvador, 
porque olhou para Sua pobre serva. 
E entendendo exatamente o alcance da missão que lhe competia, e do Ser a quem ela ofereceria um corpo, completa:
Por isto, desde agora, me proclamarão 
bem-aventurada, todas as gerações. 
Que extraordinário alcance de visão dessa mulher. 
Estava absolutamente correta. 
Desde os tempos apostólicos, após a morte do filho, residindo com João, o Evangelista, em Éfeso, ela passaria a ser procurada por muitos. 
Eram pessoas que desejavam arrefecer a saudade daquele que se fora, ouvindo os relatos de quem com Ele convivera tantos anos, O acalentara, alimentara, sustentara. 
Outros apenas desejavam lhe beijar as mãos, chamando-a de Mãe Santíssima. 
De todas as grandes mulheres, com certeza, nenhuma foi e é tão exaltada em seu papel de mãe, quanto Maria de Nazaré.
As canções se multiplicam no mundo chamando-a de Bem-aventurada, Santa Mãe. 
Quantos louvores se erguem a essa mulher, que se apequenou na grandeza da sua missão. 
Quantas milhares de vozes já não se uniram para louvá-la como a bendita entre todas as mulheres, ano após ano, em celebrações nos grandes teatros, em templos ou em espetáculos ao ar livre! 
São tenores, sopranos, corais, vozes infantis, juvenis.
Quantos poetas lhe dedicaram versos, tecendo-lhe poemas!
Quantos pintores a retrataram, idealizando a gruta em que buscou abrigo, em Belém; sua viagem ao Egito; as celestes alegrias de ter o Filho em seus braços, vendo-O crescer no aconchego doméstico. 
Sua própria dor, ao receber o Filho morto, retirado da cruz, foi imortalizada em gravuras, quadros. 
E no mármore, na mais perfeita ideação de Michelângelo. 
Os séculos se somam mas a Mãe de Jesus, que se tornou mãe de toda a Humanidade, prossegue a ser enaltecida. 
A Bem-aventurada. 
A mais extraordinária das mães. 
Mãe de todas as mães. 
Nossa mãe, Maria de Nazaré. 
Redação do Momento Espírita, com transcrições do Evangelho de Lucas, cap. 1, versículos 46 a 48. Disponível na Agenda Momento Espírita 2020, ed. FEP. 
Em 25.03.2019.

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

QUANDO DEIXEI DE VER A LUA

Num final de noite frio, de noite estrelada, um homem dirige seu carro pelas ruas da cidade. 
No banco de trás ele carrega um tesouro: seu filhinho de dois anos de idade. 
Parados no semáforo, ele observa que o filho está com o olhar fixado no alto, longe, para fora da janela. 
Uma luz azul suave adentra o veículo, iluminando o rosto da criança, proporcionando uma beleza sem igual para o pai apaixonado. 
Então, com aquela voz tenra, a voz pequena da descoberta das primeiras palavras, o filho diz: 
-Lua. Sim, é mesmo! – Diz o pai.- É a lua! Que linda é a lua, não é, meu filho? 
A criança nada responde, e continua observando, encantada, o satélite natural da Terra. 
As crianças sabem que o belo precisa ser contemplado, e que qualquer palavra é pequena e insuficiente para descrevê-lo.
Após isto, o pai torna o olhar para fora também, e consegue observar a maravilha de uma noite enluarada de outono.
Consigo então pensa: 
-Quando deixei de ver a lua?... 
Lembrou-se que fazia muito tempo, desde a última vez que pôde contemplar o fulgurante brilho lunar. 
-Será que me esqueci da lua?... Ela certamente não esqueceu de mim, pois há pouco conversava com meu filho, em pensamento... 
* * * 
Os dias tumultuosos, os muitos afazeres, as preocupações. Tudo isso pode nos fazer perder um pouco o contato com a natureza, e com as coisas simples da vida. 
Começa o ano, quando vemos já é março, já é junho... 
E nesse tempo todo – pois é muito tempo – não pudemos ver o céu estrelado, um pôr do sol, ouvir um pássaro cantar...
Faltou tempo, alegamos, quando na verdade faltou oportunidade. 
E quem é capaz de criar tais oportunidades? 
Somos nós apenas, ninguém mais. 
O contato com a natureza nos renova as forças, nos proporciona momentos de reflexão, de pensamentos mais leves, despretensiosos até... 
Tudo isso faz bem à alma e ao corpo.
O ser humano precisa recarregar suas energias, constantemente, e Deus nos deu diversas fontes inesgotáveis de tais recursos. 
Uma volta na quadra a passos lentos. 
Um piquenique sem hora para começar ou terminar. 
Alguns minutos de brincadeira com os filhos... 
Um jantar surpresa, a dois. 
Uma visita a alguém querido. 
Um final de semana sem TV ou Internet... 
Não podemos nos deixar ser simplesmente consumidos, pelo mundo moderno e suas neuroses atuais. 
A vida é muito mais que acordar, trabalhar, alimentar-se, usufruir de pequenos prazeres, dormir... 
* * * 
Estamos aqui, na Terra, com objetivos muito claros e nobres.
Estamos aqui para crescer, para nos transformar em pessoas de bem através do amor. 
Se nos esquecemos disso passamos a ser espécies de zumbis sociáveis, afogados em mil afazeres, sempre fazendo algo – sem tempo para nada – mas, vazios, tristes, depressivos. 
Assim, não deixe de ver a lua, de notar as estrelas, e de se maravilhar com elas. 
Não deixe de estar de corpo e alma com quem você ama; não deixe de observar a natureza, e escutar o que ela sempre tem a lhe dizer. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 16 e no livro Momento Espírita, v. 9, ed. FEP. 
Em 13.09.2024

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

O MAIS VALIOSO DOS TESOUROS

Em uma das suas parábolas, Jesus compara o reino dos céus a um tesouro escondido em um campo. 
Um homem o encontra e, desejando-o para si, vende tudo o que tem e compra aquele campo. 
A parábola nos convida a realizarmos uma reflexão acerca do que consideramos tesouro. 
Para alguns de nós, os tesouros são as coisas materiais: a casa bonita, os móveis novos, o carro último tipo, uma conta corrente expressiva, roupas caras, perfumes raros. 
A possibilidade de comparecer a restaurantes sofisticados e solicitar pratos requintados. 
A chance de percorrer o mundo, conhecendo as obras raras do ontem e do hoje. 
Para outros, tesouros são livros. 
E não nos cansamos de buscá-los, em especial as edições esgotadas, mais valiosas. 
Outros colecionamos obras de arte e as exibimos aos amigos com alegria. 
Cada obra adquirida, mais um ponto para o nosso tesouro.
Recordamos de certo filme que apresentava uma família excessivamente rica. 
Tão rica que, para guardar seus maiores tesouros, mandou cavar um cofre no seio de uma alta montanha, onde até foram esculpidas as faces da mãe, do pai e do filho. 
Certo dia, ladrões audaciosos adentraram aquele lar, amarraram os pais e sob ameaças de lhes ferir o filho, os fizeram dizer qual o segredo para adentrar na fortaleza. 
Os ladrões desejavam as riquezas que ali se encontravam.
Qual não foi sua surpresa ao descobrirem que os tesouros tão propalados não passavam de coisinhas tolas, como o bercinho onde dormira o bebê pela primeira vez, o primeiro brinquedo, o primeiro troféu, o primeiro sapatinho. 
Para aqueles pais, tão ricos, o que consideravam como de maior valor era tudo aquilo que se referia ao filho. 
Ele lhes era o maior tesouro. 
* * * 
E o nosso tesouro? Qual será? 
Recordamos Jesus que se referia aos tesouros da intimidade, que o ladrão não rouba, nem a traça corrói. 
É isso mesmo. 
O maior tesouro é aquele que podemos amealhar dentro de nós: nossa riqueza interior. 
O que possamos crescer em intelecto, em moral, isso ninguém nos haverá de furtar. 
E mesmo após a morte do corpo físico, são aqueles que seguirão conosco. 
Nosso conhecimento, nossas virtudes, nossas qualidades morais. Tesouros que utilizaremos na vida espiritual e nas próximas reencarnações, seja na Terra ou em qualquer outro mundo, qualquer outra morada de nosso Pai. 
Você sabia? ...que para os Apóstolos Paulo de Tarso e Barnabé o maior tesouro eram os escritos de Levi, depois chamado Evangelista Mateus? 
E você sabia que, por falarem muito a respeito do grande tesouro que possuíam, certa noite, ambos foram assaltados a fim de terem furtada aquela preciosidade? 
E que, após o assalto, deram graças a Deus, considerando que aqueles escritos, nas mãos dos ladrões, com certeza os haveriam de transformar para o bem? 
Redação do Momento Espírita. Disponível no livro Momento Espírita, v. 9, ed. FEP. 
Em 3.8.2018.

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

COMPROMISSO DE GRATIDÃO

Stephanie Shirley
Algumas pessoas têm uma infância traumática e se tornam amarguradas. 
Não cansam de lembrar os problemas vividos e remoerem as dores sofridas. 
Outras se servem justamente de um grande trauma como força motriz para seu melhor desempenho na vida. 
Uma dessas pessoas se chama Stephanie Shirley e, aos noventa anos, glorifica a vida em toda sua plenitude. 
Ela nasceu de pai judeu, juiz em Dortmund, Alemanha. 
Ele perdeu seu posto para o regime nazista. 
Aos seis anos de idade, com sua irmã de nove anos, ela chegou à Grã-Bretanha como uma refugiada, reconhecendo como tinha sorte em ter sua vida salva. 
Por isso, ela a transformou em um mar de bênçãos. 
Com uma visão inovadora, desafiou o preconceito e trabalhou para que fosse abraçada a sua ideia: vender programas para computadores. 
O mercado era dos homens, as máquinas eram consideradas importantes e os programas sem valor. 
Shirley tinha quase tudo contra si: era mulher, não tinha um escritório além da sala de sua casa e somente dez dólares.
Para ser ouvida, precisou se apresentar, nas centenas de cartas que escreveu, com nome masculino: Steve Shirley
E tudo foi revolucionário. 
Ela fundou uma empresa em que só empregava mulheres.
Dos seus trezentos funcionários, três eram do sexo masculino. 
Dava prioridade às mães com filhos, considerando que tinham mais dificuldades para encontrar trabalho. 
E, em plenos anos 1960, inovou criando o trabalho remoto.
Permitiu que suas funcionárias trabalhassem em casa para se adaptarem à rotina com a criança. 
Em 1986, a Fundação Shirley, criada por ela, no Reino Unido, com uma doação substancial, estabeleceu um fundo fiduciário de caridade. 
Seu objetivo era facilitar e apoiar projetos pioneiros com impacto estratégico na área das perturbações do espectro do autismo, com particular ênfase na investigação médica. 
Mãe de um autista, ela o viu morrer aos trinta e cinco anos, depois de um ataque epilético. 
Outra dor que a fez se esmerar para auxiliar seu próximo. 
Ao longo de sua vida, Shirley recebeu inúmeras homenagens e títulos pelos serviços prestados à indústria, à tecnologia da informação e à filantropia. 
Em 2003, recebeu um prêmio por sua contribuição à pesquisa do autismo e por seu trabalho pioneiro no aproveitamento da tecnologia da informação para o bem público. 
Próximo aos seus oitenta anos, doou toda sua coleção de arte para duas instituições beneficentes. 
Em suas memórias, escreveu: 
"Faço isso por causa 
da minha história pessoal. 
Preciso justificar o fato 
de que minha vida foi salva."
 * * * 
Que expressão de gratidão. 
Uma grande lição a cada um de nós que tivemos a oportunidade de nascer, viver, trabalhar e nos expressarmos neste mundo. 
É de nos perguntarmos: 
-Que fazemos em gratidão ao mundo? 
Diremos que nada temos a oferecer porque somos somente uma alma em resgate e provação. 
Que não temos patrimônio, nem ideias revolucionárias, nem criatividade suficiente para algo inédito e apaixonante.
Vivamos então, cada dia, sorrindo e amando, transformando nossa vida em um hino de bênçãos a todos que nos encontrem, pelas veredas do mundo. 
Redação do Momento Espírita, com base em dados biográficos de Stephanie Shirley. 
Em 11.9.2024

terça-feira, 10 de setembro de 2024

A IMPORTÂNCIA DO ADVERSÁRIO

CHICO XAVIER E EMMANUEL
O amigo é uma bênção em nossas vidas. 
O inimigo, ou adversário, é também um auxílio, desde que saibamos aproveitar suas observações, até mesmo aquelas que nos soam como maldosas. 
O amigo enxerga os nossos acertos e nos estimula na construção do melhor de que sejamos capazes. 
O adversário identifica os nossos erros. 
Apontando-os nos permite suprimir a parte menos desejável de nossa vida. 
O amigo se alegra conosco, diante de pequeninos trechos de tarefa executada. 
Por sua vez, o inimigo aponta o não feito, o não realizado, o que ainda nos compete concretizar. 
O amigo nos dá força. 
O adversário nos mede a resistência. 
Ele nos combate. 
Isso nos assegura que ele reconhece a nossa presença em ação. 
Na fase deficitária da evolução que ainda nos caracteriza, precisamos do amigo que nos encoraja e do inimigo que nos observa. 
Sem o amigo, estamos sem apoio. 
Sem o adversário, corremos o risco de nos desequilibrarmos, seja por excesso de entusiasmo ou por descuido. 
 Isso porque a crítica dele nos ajuda na solução dos problemas de reajuste, que nos compete realizar em nós ou naquilo em que nos empenhamos em executar. 
O amigo sempre traz a cooperação e o inimigo forma o teste.
Compete-nos nos alegrarmos com o amparo do amigo.
Também não desconsiderar a crítica de quem se elege como nosso adversário.
* * * 
Uma das maiores revoluções trazidas nas lições de Jesus foi, sem dúvida, a prescrição do "Amai os vossos inimigos". 
Ensino que traz nuances inigualáveis de beleza e que atende a cada um, no momento evolutivo em que se encontra. 
Não se trata de ter para com eles a mesma afeição, a mesma afinidade que temos com aqueles que chamamos de entes queridos, que chamamos de família. 
Não ainda. 
Quem sabe um dia. 
No entanto, o germe desse amor pode estar no entendimento de que aqueles que hoje nos querem mal, que nos criticam acidamente, que nos despejam a dor que lhes invade a própria alma, são instrumentos de nosso crescimento. 
Eles são nossas provas. 
Eles são nossa escola. 
São nosso freio que, muitas vezes, impede que disparemos pelas altas velocidades da vaidade e de tantos outros vícios.
Quase sempre, apenas eles identificam nossas faltas com clareza. 
São nossos espelhos. 
O que os amigos amiúde não conseguem dizer, por falta de tato, por falta de jeito, os adversários anunciam em alto e bom som. 
É certo que machucam, porque não medem palavras, nem expressões para nos atingir. 
Mas o serviço está realizado. 
O que precisou ser dito está dito. 
Dessa maneira, concedamos aos adversários a oportunidade de existirem, dando-lhes o direito à palavra, à crítica e façamos, depois, nossa própria avaliação. 
Retiremos os ruídos, a contaminação da raiva, dos conteúdos exagerados e extraiamos o que nos pode ser útil. 
Esse o comportamento do sábio. 
Iniciar uma guerra com eles é perdê-la desde o seu início.
Não temamos os adversários. 
Não tenhamos medo dos que somente têm críticas a nosso respeito. 
Aprendamos a conviver com eles. 
Hoje são adversários. 
Quem sabe muito em breve farão parte dos que chamamos amigos. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 13, do livro Passos da vida, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. IDE. 
Em 10.09.2024

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

NOSSA VACINA

COLÉGIO SÃO JOSÉ DE EREXIM-RS
Enquanto a manhã se espreguiçava, a cidade acordou assustada. 
Labaredas lambiam os prédios do tradicional Colégio São José. 
Tão altas que pareciam escalar os céus. 
Coloridas, ameaçadoras, disputando espaço com a fumaça.
Não havia corpo de bombeiros e a população, munida de baldes e apetrechos afins, ajudou como podia.
Comparecemos minha irmã e eu ao local. 
O trabalho era incrível. 
Casas próximas abriram suas portas para que livros, documentos, quadros, o que pudesse ser salvo, graças à rapidez e esforço de alunos e professores, pudesse ser abrigado. 
Crianças ainda, ficamos paradas, junto à cerca de arame que se erguia, a alguns metros dos prédios em chamas. 
Aquilo nos parecia inacreditável. 
Conhecíamos aquelas salas, sobretudo as mais antigas, em madeira, que abrigavam as classes do ensino fundamental.
Lembramos da biblioteca, cujas obras preciosas da literatura infantojuvenil, dicionários, enciclopédias e livros didáticos tanto havíamos folheado. 
A destruição foi total. 
E pensamos: 
-Onde iremos estudar, agora? 
A solidariedade não se fez esperar. 
Outros educandários cederam salas de aula para que os estudantes não tivessem seu ano letivo prejudicado.
Lembramos que nós, das últimas séries do fundamental, fomos estudar em colégio em construção, em bairro distante.
Era setembro. 
Nem todas as janelas tinham vidro instalado, nem todas as salas tinham portas. 
Os ventos sulinos eram nossos companheiros, quase todos os dias, trazendo-nos ares de uma primavera europeia. 
As chuvas eram constantes. 
Andávamos muito para alcançar a escola, em ruas alagadas e lamacentas. 
Divertíamo-nos com a água corrente da rua. 
Ríamos a valer quando afundávamos os pés na lama e eles retornavam sem as botas, que haviam resolvido ficar escondidas. 
O mais impressionante é que nenhum de nós desistiu das aulas. 
Comemorávamos, sim, os dias de sol, sem aguaceiro. 
Íamos e voltávamos em grupos. 
Os mais afortunados tinham os pais que os levavam e buscavam de carro. 
Um luxo. 
Às vezes, um deles nos oferecia carona até onde havia calçadas, asfalto e tudo era mais fácil. 
Inacreditável que não tivemos resfriados, gripes ou quaisquer outros problemas graves de saúde. 
Pensando hoje, damo-nos conta de que a vontade de estudar, de concluir o ano, a alegria com que enfrentamos todas as adversidades, nos manteve assim. 
A alegria foi nossa vacina. 
Enquanto trabalhamos montando bazares e vendendo quinquilharias, artesanato, bolos, doces e salgados para angariar fundos para a reconstrução do nosso Colégio, estudamos e vencemos. 
E nossa amizade se fortaleceu. 
Ainda lembramos dos rostos dos colegas, das risadas espontâneas, até das quedas que, vez ou outra, um de nós levava, escorregando na rua lavada pela chuva. 
Um verdadeiro escorrega. 
Bons tempos. 
Velhos tempos. 
Vividos. Superados. 
Fizeram-nos crescer. 
Boas lições para os dias atuais, quando os anos fazem pressão em nossos corpos, a mente estabelece estágios na preguiça. 
Bom recordar que podemos vencer, hoje, ainda e sempre, o que quer que nos alcance. 
Coragem, determinação, vontade ativa. 
E Deus conosco. 
Redação do Momento Espírita, com base em fatos ocorridos na cidade de Erechim, Rio Grande do Sul, em 1963. 
Em 09.09.2024

domingo, 8 de setembro de 2024

MAIS UMA DAS CORES DA CARIDADE

A caridade possui muitas cores. 
Semelhante a uma luz branca que passa por um prisma, ao passar pela polarização da vida na Terra, ela se decompõe numa infinidade de colorações belíssimas. 
Eis uma dessas cores. 
Uma autoestima elevada é capaz de nos fazer ganhar o céu, mesmo estando ainda sofrendo a gravidade da Terra. 
Certo escritor narra uma experiência singular que viveu numa agência dos correios: 
Estava na fila, esperando para registrar uma carta.
Observava o funcionário de registro trabalhando, e o percebia fatigado com sua atividade intensa: pesando envelopes, entregando selos, dando troco, preenchendo recibos... 
Assim, disse para mim mesmo: 
-“Vou tentar fazer este rapaz gostar de mim.” 
Obviamente, para conseguir, teria que dizer alguma coisa bonita, não sobre mim, mas sobre ele. 
Perguntei-me novamente: 
-“O que há sobre ele que eu possa admirar com sinceridade?”
Eis uma pergunta difícil de responder, principalmente quando se trata de estranhos. 
Mas, neste caso, foi fácil. Instantaneamente, vi algo que admirei. 
Enquanto pesava meu envelope, observei com entusiasmo:
-“Certamente eu desejaria ter a sua cabeleira!” 
Ele levantou a vista meio assustado. 
Sua fisionomia irradiou sorrisos. 
-“Bem, ela não está tão bem como já foi”, disse modestamente. 
Assegurei-lhe que, embora pudesse ter perdido certa quantidade de cabelos, mesmo assim continuava magnífica.
Ficou imensamente satisfeito. 
Demoramo-nos numa pequena e agradável conversa, e a última coisa que ele me disse foi: 
-“Muitas pessoas têm admirado meus cabelos!” 
Aposto que aquele rapaz saiu para almoçar andando à vontade. 
Aposto que, quando foi para casa, à noite, contou tudo à esposa. 
Aposto como se olhou no espelho e disse: 
-“É uma bela cabeleira!” 
Certa vez, ao narrar este caso em público, ouvi de uma pessoa: 
“ O que o senhor queria conseguir dele?” 
Ora, o que eu estava procurando conseguir dele!!! 
Será que somos tão desprezivelmente egoístas, que não podemos irradiar uma pequena felicidade e ensejar uma parcela de apreciação sincera, sem procurar obter alguma coisa de outra pessoa como recompensa? 
O autor termina dizendo: 
-Sim, eu queria alguma coisa daquele rapaz. Queria alguma coisa que não tinha preço. E consegui. Consegui a satisfação de fazer alguma coisa por ele, sem que ele necessitasse fazer alguma coisa por mim como retribuição. Isso significa um sentimento que crescerá e ecoará na memória dele, mesmo muito tempo depois de passado o incidente. 
* * * 
Quantas formas de desenvolver o amor, de praticar a caridade... 
Quando começarmos a perceber, a sentir o prazer intenso, a gratificação suprema de fazer os outros felizes, começaremos a perseguir ardentemente a caridade. 
Começaremos a buscá-la incessantemente, em suas mais diferentes cores e tons. 
Cada nova descoberta, cada nova cor da caridade vislumbrada, então será motivo de festa, de celebração ao amor, e a Deus. 
Redação do Momento Espírita, com base em trecho do cap. 6, do livro Como fazer amigos e influenciar pessoas, de Dale Carnegie, livro 2, ed. Companhia Editora Nacional. 
Em 02.01.2019.

sábado, 7 de setembro de 2024

MEU BRASIL BRASILEIRO

Dia da Independência. 
Feriado nacional. 
Nas grandes cidades, ao som de marchas militares, desfilam os integrantes das forças armadas: Exército, Marinha, Aeronáutica. 
Os que acorremos para assistir, nos encantamos com o alinhamento perfeito das fileiras, as evoluções, a impecabilidade dos uniformes e do passo cadenciado. 
O tremular da bandeira nacional, com suas cores vibrantes, permitindo-se dobrar, estender, espreguiçar, pelo vento que a balança, enquanto os acordes do hino pátrio se elevam em muitas vozes, nos falam ao coração. 
E há chuva nos olhos, que descem, silentes, pelas faces, ao ritmo do coração em quase disparada. 
Sentimos vibrar um sentimento diferente em nosso âmago.
Algo que nos fala que pertencemos a esta terra generosa, na qual, conforme escreveu Pero Vaz de Caminha, em nela se plantando, tudo dá. 
Um sentimento de filho desta nação, em que se mesclam o índio, o negro, o imigrante de tantos países, nos fala ao mais íntimo de nós mesmos. 
São emoções de momentos que se sucedem, ganhando algumas horas. 
No entanto, quando tudo cessa, quando o desfile acaba, a banda silencia, as vozes se calam, o que nos resta como atestado de ser brasileiro? 
Cabe-nos pensar que nossa cidadania deve ser exercida trezentos e sessenta e cinco dias no ano e se reprisar a cada doze meses, sem cessar. 
Ser brasileiro é ser cidadão que contribua com o bem. 
Que se preocupe em educar os filhos, legando-lhes valores morais de honra, dignidade, honestidade. 
Colocar-lhes a mente nos livros, o coração no próximo e as mãos no trabalho. 
Trabalho que produza o bom, o útil, o belo. Ser brasileiro é honrar a pátria, conhecendo os próprios deveres e direitos, a fim de bem cumprir suas obrigações. 
É exercer o direito do voto, com a consciência plena da melhor escolha, não porque o candidato é simpático, amigo ou conhecido. 
Ou porque nos conseguirá um cargo que nos haverá de garantir um bom salário, se eleito for. 
Ou porque colaborou, em algum momento, com a instituição benemérita, na qual somos voluntário. 
Exercer o direito dessa escolha tão importante, com a certeza de nossa contribuição para a administração pública, em qualquer dos seus escalões. 
Ser brasileiro é conhecer o idioma pátrio, em todas as suas delicadas e belas nuances. 
Se importante se faz falar outras línguas, imprescindível falar bem o nosso idioma, essa flor inculta e bela, conforme a denominou o poeta Olavo Bilac. 
Esse idioma no qual Camões chorou, no exílio amargo, o gênio sem ventura e o amor sem brilho! 
Ser brasileiro é zelar pelas tradições, conhecendo-as a fim de melhor as cultivar. 
Ser brasileiro é preservar a memória de tantas lutas, conquistas, batalhas e heróis. 
É, enfim, honrar os heróis anônimos de todos os dias que, com seu trabalho, seu intelecto, sua força e sua bravura tornam este imenso país um lugar melhor para vivermos e educarmos nossos filhos. 
Pensemos nisso, hoje, enquanto morrem na garganta os últimos versos do hino nacional. 
Redação do Momento Espírita, com citação de alguns versos do poema Língua portuguesa, de Olavo Bilac. Disponível no CD Momento Espírita, v. 31, ed. FEP. 
Em 07.09.2024.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

O MAIS SUBLIME AMOR

Na época do final de ano, a figura de Jesus costuma ser muito lembrada. 
Fala-se em Sua vida, em Seus exemplos e em Suas lições.
Ele geralmente é apontado como o exemplo de amor mais consumado de que se tem notícia. 
Afinal, dispôs-se a morrer em holocausto de amor à Humanidade. 
Estar disposto a morrer por alguém ou por uma causa é sinal de grande dedicação e desprendimento. 
Entretanto, os mártires não são raros nos registros da História. 
Muitos são os que morreram inocentes, no contexto humano.
Mas nenhum deles sequer se aproximou da excelsa magnitude do Messias Divino. 
Por grande que seja uma figura histórica, perante Jesus ela se apequena e desvanece. 
Bem se vê que a grandeza do Cristo não reside apenas em Sua morte, mas primordialmente em Sua vida, em um contexto muito amplo. 
A sublimidade do amor que Ele dedica à Humanidade transcende tudo o mais que já foi vivido na Terra. 
A fim de valorizá-lo devidamente, convém raciocinar sobre esse maravilhoso afeto que a todos ampara. 
Conforme ensina a Espiritualidade maior, a perfeição de Jesus se perde na noite dos tempos. 
Muito antes de o planeta Terra existir, Ele já havia completado todos os processos e se tornado perfeito. 
Na plenitude de todos os dons, recebeu do Criador a tarefa de presidir à criação do orbe terreno. 
Amorosamente se desincumbiu da tarefa, providenciando um lar para Espíritos necessitados de experiências materiais. 
Mas foi além disso e se tornou Pastor dos bilhões de almas internadas na nova escola sideral em que se converteu o planeta. 
Seres primitivos aqui ensaiaram seus primeiros passos em destinação à vida moral. 
Entidades antigas e rebeldes às leis divinas também aportaram no orbe terreno, em sua necessidade de ajuste e aprendizado. 
Jesus desde sempre preside os processos de aprendizado e redenção que se desenrolam no planeta. 
Periodicamente, envia professores, na figura de Espíritos mais avançados, que exemplificam virtudes e impulsionam as artes e as ciências. 
Além dessa dedicação incansável e milenar, também desejou partilhar das dores da Humanidade encarnada. 
Habituado a conviver com seres angélicos, em esferas sublimes, tomou um corpo de carne e habitou entre rústicos e ignorantes. 
Em Sua perfeição, era consciente de Sua natureza e da esfera de que provinha. 
Isso certamente lhe permitia diariamente medir a fraqueza e a ignorância existente nos que O rodeavam. 
Mas não se agastou, não condenou, a ninguém desprezou.
Em Sua grandeza, demonstrou que o verdadeiro amor desconhece barreiras, por colossais que se afigurem. 
O exemplo desse Sublime Amor persiste até hoje como um convite a que lhe sigamos os passos. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita Especial de Natal, v. 15 e no livro Momento Espírita, v. 8, ed. FEP. 
Em 21.12.2017.

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

O MAIS RICO DO MUNDO

É comum ouvirmos histórias envolvendo pessoas ilustres da nossa atualidade. 
Nem sempre verídicas. 
Algumas muito positivas mas que, após uma pesquisa, se revelam totalmente sem fundamento. 
Optamos então por narrar o fato, de excelente lição, sem apontar o eventual envolvido. 
Conta-se que um dos homens mais ricos da atualidade, ao ser indagado a respeito de alguém que lhe sobrepujasse em fortuna, teria respondido com a seguinte narrativa. 
-"Quando eu ainda não era famoso, certa feita, no aeroporto de Nova York, vi um vendedor de jornais. Desejei comprar um exemplar, mas descobri que não tinha moedas suficientes. Devolvi o exemplar ao jornaleiro, agradeci, dizendo que me faltava dinheiro para pagar. O vendedor insistiu para que eu levasse o jornal mesmo assim. -“Estou lhe dando”, -falou, firme.-Passados uns dois ou três meses, no mesmo aeroporto, o fato tornou a acontecer. De igual forma, o rapaz me ofereceu o jornal, sem que eu tivesse o suficiente em moedas para lhe pagar. Recusei, mas ele disse: -“Pode levar. Compartilho isso dos meus ganhos. Não estarei perdendo”.-  E lá fui eu com meu exemplar outra vez. O tempo passou. Quase vinte anos depois, famoso e conhecido no mundo, lembrei daquele vendedor. Estaria ainda no aeroporto, na mesma função? Procurei-o e afinal o encontrei. Perguntei se ele sabia quem eu era. -“Claro que sim”, disse logo. “Quem não sabe?”- E disse meu nome. Perguntei em seguida: -“Você lembra que me deu o jornal gratuitamente?” -“Sim, lembro, e foram duas vezes.” -“Pois então”, eu lhe falei, “quero pagar a ajuda que me deu naquela época. O que você gostaria de ter? O que quiser, eu lhe dou. -“Bem”, falou o homem, “o senhor realmente acredita que pode igualar a minha ajuda? Veja bem: quando eu lhe dei os jornais, era um pobre vendedor. O senhor agora, muito rico, deseja me dar algo. Acha que a sua doação pode se igualar com a minha?”-E concluiu o entrevistado: Nesse dia, eu percebi que o vendedor de jornais era mais rico do que eu porque ele não esperou se tornar rico para ajudar alguém."
* * * 
Se pensarmos, de forma apressada, poderemos qualificar o vendedor de jornais como alguém orgulhoso. 
No entanto, precisamos extrair a lição, exatamente como no-la ensina o Evangelho. 
Observando as doações, no templo, Jesus diz que as duas pequenas moedas depositadas pela viúva eram uma doação muito mais significativa do que as inúmeras moedas deixadas pelos ricos fariseus. 
A questão é a criatura se privar de algo para ofertar ao outro, que atravessa uma necessidade. 
Em essência, essa pessoa é a potencialmente rica porque rico é o seu coração, que pensa no semelhante, antes que em si mesma. 
Afinal, quando damos daquilo que nos sobra, daquilo que não nos faz falta, naturalmente tem seu mérito, porque denota nosso desprendimento, nossa vontade de auxiliar. 
Contudo, mais excelente doação é daquela criatura que dá do que lhe poderá fazer falta. 
Reparte o pão que tem para saciar a própria fome. 
Oferece a água para aplacar a sede de alguém embora também se ache sedento. 
Essa é a verdadeiramente rica. 
Redação do Momento Espírita, a partir de nota que circula pelas redes sociais. 
Em 28.11.2019.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

POR UM MUNDO MAIS ANALÓGICO

Não constitui novidade dizermos que vivemos em um mundo digital. 
Segundo alguns estudiosos, o volume de informações a que temos acesso em um dia é maior do que um cidadão do século XVIII teria ao longo de toda sua vida. 
Desenvolvemos e multiplicamos tecnologias que geram e difundem textos, sons e imagens de maneira intensa e constante. 
As redes sociais alimentam essa difusão, exigindo que estejamos sempre em conexão e interação. 
Como consequência, a presteza na troca de informações e o apelo por novidades se acelera ano a ano. 
As novidades do minuto anterior rapidamente envelhecem, demandando outras que estão por vir. 
E vamos tentando nos inserir nesse tempo digital, em que tudo é muito rápido, fugaz e inconstante. 
Para isso, estimulamos e provocamos nosso cérebro a todo instante. 
Não temos tempo para o silêncio, a tranquilidade. 
Quando eles ameaçam nos visitar, rapidamente recorremos a um novo clique, uma nova página, uma outra novidade postada por alguém. 
E assim nosso mundo vai se tornando cada vez mais digital.
Digitalizamos nossa vida quando, durante a refeição, ficamos com o celular sobre a mesa para saber o que está acontecendo. 
Também quando estamos com amigos e entrecortamos a convivência para postar ou trocar mensagens digitais. 
As experiências de um restaurante diferente, uma viagem agradável, um reencontro com amigos, passam do analógico ao digital em segundos, quando saímos do mundo real para as redes sociais. 
Ao digitalizarmos nossas experiências, ao acelerarmos nossa vida, abrimos mão de vivermos momentos unicamente analógicos. 
Desses momentos que têm o tempo do corpo e das emoções. Momentos que precisam ser processados, sentidos, elaborados. 
Viver experiências unicamente analógicas, sem a influência ou interferência do mundo digital, é viver as experiências do nosso processamento cerebral e emocional. 
Ao digitalizarmos excessivamente nossa vida, vamos acelerando nosso mundo interno, que perde a capacidade da espera, da pausa. 
Até mesmo do aborrecimento. 
Assim, na expectativa da novidade, vamos nos tornando ansiosos e aflitos. 
Estamos sempre no próximo minuto, no futuro, perdendo o presente. 
Aí está nossa ansiedade: nesse excesso de futuro que inserimos em nossa vida. 
Dessa forma, busquemos tornar nossos dias mais analógicos.
Vivamos nossas emoções no tempo e na velocidade apropriados. 
A emoção de uma boa conversa precisa ser vivenciada no seu tempo, sem interrupções digitais. 
Igualmente processos mais longos como uma decepção amorosa ou um luto. 
Eles também precisam do tempo analógico para serem compreendidos em nossa intimidade, sem fugas para o mundo digital. 
Nessa busca de equilíbrio, a meditação e a oração são ferramentas incomparáveis para nosso bem-estar. 
Na meditação, vamos ao encontro de nós mesmos, permitindo-nos viver com intensidade cada emoção, cada sentimento. 
Na oração, vamos ao encontro da Divindade, buscando nossa harmonia com o Universo e o amor divino. 
Trabalhemo-nos para isso. 
Redação do Momento Espírita 
Em 04.09.2024.

terça-feira, 3 de setembro de 2024

AINDA CABE JESUS?

MARCEL MARIANO
Em trânsito pelos caminhos terrestres, a cada dia tua capacidade de observação se aprimora, oferecendo aos teus raciocínios largo material de observação. 
Parece, ao teu olhar, que a Humanidade desandou, apesar de tanta cultura. 
A agressividade campeia desenfreada, como incontrolável animal em campina sem fim. 
Escasseia a paz, fazendo com que os homens se armem, uns contra os outros. 
O discurso parece distante da prática. 
Diante de alguns dias de sol abundante, seguem-se horas intermináveis de nuvens escuras, despejando sobre os lares aguaceiro devastador. 
Imaginas que a segurança para teu lar pode ser uma grade forte, fios eletrificados e monitoramento dos passos alheios.
Dessa maneira, deixas entender que todo mundo é suspeito, até prova em contrário. 
Tens a impressão de que a cultura avançou sobre as rodas de um veículo ligeiro, enquanto a ética anda muito longe, caminhando lentamente ao lado de uma montaria cansada.
Tantos livros, bibliotecas e incontáveis analfabetos! 
Campos fartos e fome nas metrópoles. 
Lojas abarrotadas de artigos de vestuário e cada dia tens notado mais corpos desnudos. 
A medicina proclama seus avanços admiráveis e milhares tombam sob o contágio de enfermidades cruéis. 
Tantos templos religiosos e a descrença reinando solta nas consciências. 
Discursos espiritualistas e condutas materialistas. 
Cartas e leis admiráveis em torno dos direitos humanos e, por toda parte, a indiferença, o abuso e a invasão desses direitos, fazendo do outro simples estatística. 
Homens e mulheres andando na praça com seus animais de estimação, enquanto seus genitores estão em abrigos da terceira idade, mergulhados na dolorosa saudade dos afetos.
Fala-se em luz, em claridade abundante, em ruas iluminadas pelos néons e leds de alta tecnologia. 
No entanto, muitos transeuntes estão em densas sombras íntimas. 
O riso no palco e o choro convulsivo na coxia. 
A gargalhada estridente no cinema ou no show da celebridade. 
Logo após, a agonia íntima, arrastando o ser para o paroxismo das emoções em desgoverno. 
Ou muito agito ou muita paralisia. 
Som muito alto. 
A conversa ao celular é quase aos gritos. 
* * * 
Quem realmente és tu? 
E te perguntas: Ainda cabe Jesus no coração da criatura humana? 
Qual o resultado de dois mil anos de Cristianismo? Buscas, então, refúgio numa pequena porção de natureza, um lugar à parte desse burburinho quase enlouquecedor e tentas obter alguns momentos de silêncio, refazendo teu inquieto mundo interior. 
Ora. Silencia. Medita. 
Recorda o Divino Amigo, em ouvindo novamente a severa advertência: 
-No mundo, tereis aflições! 
Ele também atravessou um tempo parecido com esse, em proporção numérica menor. 
Contudo, as agonias eram as mesmas, as buscas, as ilusões... 
Adestra tua paciência. 
Acalma teus raciocínios. 
Testa tua resiliência. 
Se chegaste até aqui, com Jesus podes ir um pouco mais adiante. 
Confia. 
Trabalha, ama e segue. 
Redação do Momento Espírita, com base em mensagem do Espírito Marta, psicografia de Marcel Mariano, em Salvador, Bahia, em 19.5.2024. 
Em 03.09.2024