Mary Haskell e Khalil Gibran |
O termo solstício tem sua origem no latim solstitius que significa ponto onde a trajetória do sol aparenta não se deslocar.
Consiste em sol mais a palavra sistere que significa parado.
No solstício de inverno ocorre o dia mais curto do ano e, consequentemente, a noite mais longa, em termos de iluminação por parte do sol.
Para muitos o inverno é sinônimo de tristeza, de escuridão na alma.
Mas o Criador não pensa assim.
É preciso ver além.
A natureza se transforma por completo.
As árvores já se despediram das folhas e o solo as transformou em adubo.
Como somos parte dela, para nós também é hora de limpar, transformar em adubo aquilo que serviu, mas não serve mais...
Abrir espaços, deixar galhos à mostra...
Aguardar.
É tempo de abrir nossos armários e nosso coração, retirar tudo que é velho, que descobrimos que não faz mais parte de nós.
Com isso abrimos espaços para guardar o novo da próxima estação.
Renovar, reciclar, doar e aguardar...
Inverno é também tempo de espera, de tolerância, de observação, de cultuar o silêncio com sabedoria.
É tempo de recolhimento, de planejamento, de avaliação.
Pode ser tempo de solitude, mas nunca de solidão.
Inverno é tempo de autodescobrimento.
Tempo de interrogar a consciência, passando uma revista em tudo que fizemos nos últimos tempos, questionando se não faltamos com algum dever, se ninguém tem do que se queixar de nós.
Tempo de descobrir o que precisa ser reformado em nós.
A cada noite, lembrar de nossas ações do dia e perguntar:
-O que fiz de bom e de ruim hoje?
Pedir a Deus e ao nosso Espírito protetor que nos assistam.
E eles assim o farão.
E se o inverno congela tudo lá fora, o coração que se descobre e se supera é capaz de manter a temperatura sempre amena e confortável dentro de nós.
* * *
Sinto-me como uma semente no meio do inverno, sabendo que a primavera se aproxima.
O broto romperá a casca e a vida que ainda dorme em mim haverá de subir para a superfície, quando for chamada.
O silêncio é doloroso, mas é no silêncio que as coisas tomam forma, e existem momentos em nossas vidas que tudo que devemos fazer é esperar.
Dentro de cada um, no mais profundo no ser, está uma força que vê e escuta aquilo que não podemos ainda perceber.
Tudo o que somos hoje nasceu daquele silêncio de ontem.
Somos muito mais capazes do que pensamos.
Há momentos em que a única maneira de aprender é não tomar qualquer iniciativa, não fazer nada.
Porque, mesmo nos momentos de total inação, esta nossa parte secreta está trabalhando e aprendendo.
Quando o conhecimento oculto na alma se manifesta, ficamos surpresos conosco mesmos, e nossos pensamentos de inverno se transformam em flores, que cantam canções nunca antes sonhadas.
A vida sempre nos dará mais do que achamos que merecemos.
Redação do Momento Espírita, com base em carta de 1º de março de 1916,
de Khalil Gibran para Mary Haskell, do livro Cartas de amor do profeta,
de Paulo Coelho, ed. Ediouro.
Em 17.8.2016.
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