sexta-feira, 30 de setembro de 2022

OUTRAS MORADAS

Divaldo Pereira Franco
e

Espírito Manoel Philomeno de Miranda
Em um poema recheado de estrelas, acenou o mestre: 
-Há muitas moradas na casa de meu Pai. 
E nos abriu o Universo, com todos seus planetas, astros, sistemas solares.
Tantos ainda não descobertos pela nossa tecnologia. 
Giordano Bruno, filósofo italiano, morreu queimado na fogueira por afirmar a infinitude do Universo e a existência de outros mundos habitados.
Contudo, não poderia ser de outra forma. 
Para que o Pai Celeste conceberia tantos esplendores senão para abrigar os seres que continua a criar? 
A fala de Jesus é concisa, própria dos grandes sábios. 
Como excelente pedagogo, Ele lança a ideia e deixa à Humanidade terrena, no transcorrer dos séculos, a investigação do macrocosmo. 
Há muitas moradas na casa de meu Pai. 
Moradas físicas, nas quais as humanidades se agitam, no processo da evolução. 
Também moradas espirituais, para as almas, enquanto não estagiam nos planetas. 
E nós pensamos para onde iremos ao sair do corpo de carne. 
Séculos nos acenaram com céus de delícias. 
Um local de descanso, um fazer nada, depois das lutas da Terra.
Assinalamos isso nas lápides dos túmulos quando esculpimos Descanse em paz. 
No entanto, a pouco e pouco, vamos recebendo as informações daqueles que partiram e vivem nesse outro mundo. 
E descobrimos que é um mundo ativo, com organização e disciplina.
Repouso absoluto seria algo terrível para a nossa Imortalidade. 
Tarefas nos aguardam, nessa morada do Pai. 
Possibilidades de estudo, aprimoramento de nossas faculdades intelectivas, preparando-nos para o retorno a uma morada física, em algum tempo. 
Conferências de conteúdos profundos, apresentadas por expositores de esferas superiores, que encantam e iluminam a inteligência. 
Entre estudo, trabalho, também áreas ajardinadas, com vegetação desconhecida para os que somos da Terra. 
Brisa aromatizada com a explosão de flores de matizes múltiplos. 
Música sublime como que vibra na atmosfera, executada por virtuoses em delicados instrumentos. 
Música que penetra os ouvintes deslumbrados. 
A música dos imortais, que se ouve uma vez e não se esquece nunca mais, como canta o Poema da Gratidão. 
Teatro e dança elevados, que os temos reproduzidos na Terra, pelos que consideramos gênios da beleza, das artes, nos oferecendo espetáculos de cores, sons e movimentos. 
Contatos e diálogos com mensageiros da luz, reencontros com os nossos amores, de muitas vidas. 
Oportunidade de rememorar fatos vividos em épocas distintas, que nos engrandeceram o Espírito. 
Convívio doméstico, porque ali nos reunimos por afinidades e constituímos comunidades que interagem umas com as outras. 
Moradas do Pai. 
Quantas haverá nem podemos imaginar, desde que Ele cria sem cessar.
Isso nos estimula ao progresso, ao bem, nesta vida, a fim de que possamos subir alguns degraus na evolução e um dia, quiçá, não muito distante, usufruir de um desses ninhos de amor, no Além. 
Extasiar a alma, enchê-la de luz e entusiasmo e depois retornar para esta mesma morada terrena ou para qualquer outra que nos assinale a Divindade. 
Há muitas moradas na casa de meu Pai. 
E nós, os Seus filhos, somos herdeiros de todas elas. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 15, do livro Reencontro com a vida, pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 30.9.2022.

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

FLORES

 Ali Sadi Hoca
Naquela comunidade local, o paciente líder espiritual sufista(indiano), sempre estava à disposição. 
Ele ouvia as dores da alma dos que nele confiavam, entre as horas que dedicava ao cultivo das flores. 
Eram tantas que ele até mantinha uma pequena tenda onde as oferecia à venda. 
Seu nome era Ali Sadi Hoca, mas o chamavam simplesmente Hodja. 
Entre muitos, a jovem Meryem o buscava sempre. 
Tanto que se tornara dele dependente para quase tudo que precisava decidir ou resolver, fossem questões familiares ou de caráter particular.
No entanto, o sábio homem, de forma perseverante, orientava para que ela olhasse um pouco além do simplesmente seu entorno. 
Desejava que ela pensasse e agisse por si mesma, andando com os próprios pés. 
Certo dia, em que a questão da jovem era um conflito familiar que envolvia seu irmão, a cunhada, os dois sobrinhos, ele a levou a uma sala e lhe mostrou um vaso com flores artificiais. 
-Pegue uma, disse ele. 
Ele pediu que ela admirasse aquela tulipa vermelha com um longo caule. 
-Perfeita, não é mesmo?Até tem uma brilhante gota de chuva, que parece recém-caída das nuvens. Tire uma pétala, ordenou. 
Ela disse que não era possível. 
Estavam como que todas coladas. 
Também, ao comando dele, verificou que, embora toda a beleza, não tinha perfume. 
Então, o sábio homem a conduziu ao seu jardim, colheu um lindo ramo de crisântemos e o depositou na outra mão de Meryem, orientando-a para os mesmos procedimentos. 
Ela retirou, com facilidade, uma das pétalas e falou do perfume que podia sentir. 
Nesse momento, Ali lhe disse: 
-A obra do homem é bonita, mas a de Deus é perfeita, inigualável. Entre a flor artificial e a natural, a segunda supera a primeira. As criaturas são como as flores. Somos flores do Pai Criador, dispostas no jardim do planeta. Como as flores, precisamos de terra para poder germinar, crescer, florescer. Nossa terra é a dos corações que nos estão próximos: familiares, amigos, amores mais amados. Também precisamos do adubo: adubo da ternura, da atenção a fim de podermos florescer verdadeiramente. Não dispensamos a água das boas palavras, dos estímulos. O sol do amor, sobretudo, para nos aquecer nos dias frios, para nos dispensar benéficas ondas de calor, animando-nos a crescer e estender nossos ramos, abrir nossos botões. Por isso, Meryem, vá para casa e cuide dos seus familiares como se fossem flores do seu jardim. Verifique o que cada um mais necessita: de terra, adubo, água ou sol. Ou, quem sabe, um pouco de cada, todos os dias. 
* * * 
Flores de Deus no jardim da vida. 
Que bela imagem! 
E que bons conselhos para nós mesmos. 
Nossos pais são as flores já desabrochadas. 
Alguns quase desejando murchar. 
Necessitam de nossa redobrada atenção para que não feneçam antes do tempo. 
Protegê-los da canícula da solidão. 
Nosso cônjuge, filhos, irmãos, são aqueles que nos requerem o adubo do afeto, a água preciosa dos nossos beijos, dos nossos abraços, a carícia delicada do sol despertando pelas manhãs. 
Flores da vida. 
Flores no jardim dos nossos corações. 
Redação do Momento Espírita, com base em episódio da série turca Oito em Istambul, da Netflix. 
Em 29.9.2022.

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

SILÊNCIO PRECIOSO

Afirma a sabedoria popular que todo aquele que cala consente. 
Porém, nem sempre essa é a verdade. 
O silêncio pode significar muito mais do que simples concordância a algum comportamento ou afirmativa. 
Muitas pessoas se calam porque o medo as toma de assalto. 
Temem atrair para si ou para os seus familiares ações de vingança ou retaliação. 
E existem os silêncios que se fazem para evitar contendas inúteis, discussões áridas ou comprometer a harmonia de certos ambientes, que objetivam exatamente o bem, o consolo, a paz. 
O silêncio representa sabedoria, em momentos em que todos gritam, e ninguém se entende. 
Aguarda-se o momento certo para falar. 
Silêncios também se fazem quando as pessoas não desejam absolutamente ouvir, querendo simplesmente gerar discussões e fomentar desentendimentos. 
Recordamos que Jesus, perante a autoridade que representava o imperador romano na Judeia, o procurador Pôncio Pilatos, respondeu a algumas questões, de forma direta e simples. 
Mas, quando lhe foi indagado Que é a verdade, se manteve silente.
Exatamente porque aquela personalidade, naquele momento, não tinha a mente nem o coração abertos para receber o conceito correto. 
Pilatos é praticamente obrigado ao julgamento de um homem, no qual ele não descobria culpa alguma. 
Julga porque deseja preservar seu cargo, sua posição. 
Demonstra querer se libertar de uma situação incômoda, julgando de forma apressada e ao sabor da vontade popular, manifestada na praça.
Não está preocupado com a justiça. 
Então, recordemos que há o momento preciso da manifestação lúcida.
Também o do silêncio que, ainda segundo ditado popular, vale ouro. 
É o silêncio que impede revelações que poderão ocasionar maior soma de dores, de problemas ou de desavenças. 
Valioso é o silêncio que evita a discussão vazia, o debate infrutífero, em meio às explosões da insensatez. 
A exortação de Jesus é para que ouçam os que têm ouvidos de ouvir.
Isso nos dá a exata tônica de que existem momentos próprios para as explicações. 
Quando as pessoas desejam ouvir. 
E momentos outros em que o silêncio é a melhor atitude para evitar batalhas sem propósito. 
Um mensageiro do bem, certa vez, afirmou que o verdadeiro cristão não tem tempo para se defender das acusações que lhe fazem, empenhado que se encontra no serviço do bem. 
Eis aí mais um silêncio oportuno. 
Enquanto acusadores se exaltam e procuram evidenciar mais e mais a sua maldade, encharcando redes sociais com calúnias, aquele que se encontra a serviço de Jesus, simplesmente prossegue na sua atividade.
Por fim, existem momentos em que precisamos nos calar para ouvir. 
Ouvir o outro, ouvir a voz da razão. 
Pensar para responder de forma adequada. 
Momentos de falar. 
Momentos de calar. 
O silêncio somente não é bom quando objetiva ferir o outro com a indiferença ou o desprezo. 
Reflitamos a respeito. 
E pensemos em quantas almas são beneficiadas com cinco minutos de um programa radiofônico. 
E quantas outras serão quando ouvindo e tornando a ouvir, se recolherão para meditar a respeito e, quiçá, modificar algumas disposições íntimas.
Redação do Momento Espírita. 
Em 27.9.2022.

terça-feira, 27 de setembro de 2022

INDIFERENÇA MORAL

No livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, encontramos sábios conselhos, alertas, chamamentos de atenção por parte de Espíritos nobres, que seguramente trabalham em prol do bem e da nossa felicidade.
Um deles escreveu o seguinte:
-Cada época é marcada com o cunho da virtude ou do vício que a tem de salvar ou perder. A virtude da vossa geração é a atividade intelectual; seu vicio é a indiferença moral. 
Muitos poderão dizer que não acreditam nos Espíritos, e simplesmente ignorar essas palavras. 
Mas uma coisa é certa: trata-se de uma grande verdade. 
A nossa época é notável pelas conquistas intelectuais, mas lamentavelmente marcada pela indiferença moral. 
Quando vemos, nas mídias, de maneira escancarada, a mentira, a corrupção, a hipocrisia, temos que dar razão aos Sábios do espaço, que nos observam atentos. 
Pessoas que estão no poder se chafurdam na corrupção e zombam do povo diante das câmeras, numa demonstração vergonhosa de indiferença e desrespeito por aqueles que os colocaram na posição de mando. 
Pais observam, passivos, o mau-caráter de filhos tiranos, violentos, que pisam nos sentimentos alheios como quem esmaga um verme infeliz.
Jovens, filhos de pais que fazem as leis ou que deveriam exigir o seu cumprimento, são os primeiros a desdenhá-las, desrespeitá-las, com visível cinismo, como se estivessem acima do bem e do mal. 
Mães que maltratam filhos indefesos ou os jogam no lixo, como se fossem dejetos fétidos dos quais desejam se livrar. Hordas de pessoas que se dizem injustiçadas invadem propriedades alheias com armas em punho, com violência, e com a certeza de contar com a impunidade e a indiferença das autoridades... 
Povos inteiros são massacrados, subjugados, quase exterminados, por nada... Apenas para que o mundo veja quem tem mais poder... 
São realmente tempos de grande indiferença moral, não há dúvida...
Parece, mesmo, que o mundo vai acabar em corrupção, em conluios, conchavos, interesses mesquinhos de toda ordem... 
E isso tudo acontece diante das vistas dos intelectuais do terceiro milênio, daqueles que deveriam e poderiam usar os veículos de comunicação para conter essa “tsuname” moral que tudo arrasta, poderosa... 
Diante de uma geração que assiste a tudo em tempo real, graças aos avanços tecnológicos... 
E as pessoas de bem se perguntam, desoladas:
-“Que mundo é esse? Que tipo de pessoas está com as rédeas do planeta nas mãos?” 
Não se pode negar, todavia, que muitas estão indignadas, mas, lamentavelmente, a nossa indignação não sai do conforto do sofá, na sala aconchegante, de dentro da segurança de nossos lares. 
São tempos de indiferença moral, de passividade, de insensibilidade generalizada, certamente. 
No entanto, devemos convir que se todos quiséssemos, poderíamos “emparedar” e retirar de cena os malfeitores, em pouco tempo. 
Isso sim valeria a pena.
Mas a maioria prefere pagar para opinar nos shows de faz-de-conta, como se isso lhes garantisse alguma vantagem real. ...
E assim vamos vivendo, de ilusão em ilusão... 
E a indiferença vai se alastrando, destruindo, entorpecendo, infelicitando, aniquilando a esperança... 
Se você é uma dessas pessoas que está indignada com a situação, faça alguma coisa. 
Aja de alguma forma. 
Escreva. 
Fale. 
Manifeste-se. 
Cobre atitudes dos governantes. 
Mas faça isso com serenidade e bom senso, sem violência. 
Considere que toda atitude violenta não faz sentido, quando o que se pretende é justamente o contrário. 
Pense nisso, e não fique só na indignação. 
Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no cap.IX, item 8, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, ed. FEB.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

A INDIFERENÇA

É comum associar-se o ódio como o antagonismo do amor. 
Quando falta o amor, gera-se o ódio, afirmam alguns. 
Vincula-se um com o outro como se um fosse o oposto do outro. 
Na verdade, o ódio é apenas o sentimento do amor que adoeceu, o amor que foi envenenado pelo ciúme, pela inveja, ou pelo orgulho... 
Porém, jamais será o oposto ou o antônimo do amor. 
Sente-se ódio por alguém que se identifica com a traição, a mentira, o engodo... 
Mas esse ódio nasceu de um sentimento mais nobre, do amor que antes havia, e que agora adoeceu. 
Porém, o oposto do sentimento do amor mostra-se de maneira mais vil, mais intensa e muitas vezes vive em nossa intimidade sem nos darmos conta: é a indiferença. 
Se amamos ou odiamos, sempre estaremos preocupados com aquele que é o objeto do nosso sentimento. 
Se nos vinculamos pelo amor, estaremos vibrando pelo melhor para o ser amado. 
E se nos vinculamos pelo ódio, estaremos, da mesma forma, preocupados com o outro, mesmo que seja para prejudicá-lo. Contudo, não estaremos indiferentes. 
A indiferença nasce do desamor que alimentamos pelo ser humano, pela despreocupação ou pela incapacidade de entender as dores e dificuldades da alma alheia. 
Enquanto o amor tem a capacidade de nos aquecer a alma, a indiferença a torna fria, incapaz de sensibilizar-se ou entender as agruras do próximo.
E quantas vezes não permanecemos indiferentes, despreocupamo-nos com as coisas do outro, suas dificuldades, seus momentos de dor e pesar, mesmo tudo isso se passando ao nosso lado? 
Justificamos que não damos importância para a dificuldade do outro por falta de tempo, pelos compromissos, pela agenda cheia. 
Muitos motivos para muitas justificativas. 
Mas, no fundo, apenas não nos preocupamos porque temos uma boa parte da alma ainda fria, gelada mesmo, tomada pelo sentimento da indiferença. 
Somos indiferentes quando alguém em dificuldade nos pede para tomar nosso lugar na fila, e justificamos que chegamos antes e temos direito de ali estar. 
A indiferença se apresenta quando, no transporte coletivo, nos auditórios, nos locais públicos, fingimos não ver alguém idoso, uma senhora grávida, alguém mais frágil, para não lhe oferecer o lugar para sentar. 
A indiferença nasce da nossa incapacidade de amar o ser humano, sem nenhum outro motivo que o da fraternidade, da solidariedade. 
E é o sentimento da solidariedade o maior remédio para a indiferença. Será ele o condutor dos primeiros passos para deixarmos de ser indiferentes. 
Quando começarmos a cultivar a solidariedade, obrigatoriamente nos preocuparemos com o outro, com o próximo. Será a solidariedade que nos irá aquecer a alma, descongelando sentimentos e abrindo novos horizontes. 
Será ela que nos permitirá a conquista da compaixão, da gentileza, do carinho, para então entrarmos no campo superior da caridade ao próximo.
Assim, não nos permitamos ficar indiferentes às dificuldades familiares, aos desafios do trabalho, às querelas dos amigos. 
Ofereçamos sempre nosso quinhão de solidariedade, de presteza, o que tenhamos de melhor, esperando que o outro aceite, na medida que queira ou necessite. 
Será a solidariedade o sentimento a nos unir, reconhecendo-nos uns aos outros como irmãos, que, em última instância, somos todos nós, filhos do Criador, do Senhor da vida. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 01.04.2011.

domingo, 25 de setembro de 2022

A INDESEJADA DAS GENTES

Oliver Sacks
Já nos perguntamos, alguma vez, o que faríamos, se, repentinamente, uma doença cruel nos abraçasse e fosse decretada nossa sentença de morte? 
Ou, se em plena atividade, a morte chegasse e nos arrebatasse? 
A proximidade da morte já levou muitas mentes privilegiadas a refletir sobre a vida. 
Alguns transformaram essa reflexão em palavras. 
O neurologista e escritor inglês Oliver Sacks, com câncer de fígado, aos oitenta e um anos, escreveu, em fevereiro de 2015, no jornal americano The New York Times: 
-Sinto-me intensamente vivo, e quero e espero, no tempo que resta, aprofundar minhas amizades, dizer adeus aos que amo, escrever mais, viajar. Se eu tiver forças, alcançar novos níveis de compreensão e entendimento. 
Professor de neurologia e psiquiatria, estudioso de temas como percepção e consciência, escreveu ainda: 
-Acima de tudo, fui um ser consciente, neste belo planeta, e só isso já foi um enorme privilégio e uma aventura. 
Em sua carta-despedida confessou: 
-Não posso fingir que não tenho medo, mas meu sentimento predominante é a gratidão. Amei e fui amado, recebi muito e dei algo em troca, li, viajei, pensei, escrevi. 
Pouco mais de seis meses depois, em agosto daquele ano, ele desencarnou. 
Por sua vez, o escritor, educador, teólogo e psicanalista Rubem Alves, que morreu no ano de 2014, deixou uma carta para ser lida, em sua cerimônia fúnebre. Escrita nove anos antes, além de reflexões sobre a terminalidade da vida, havia instruções para quando sua hora chegasse, como a declamação de poemas de autores que cantavam a morte. Escreveu ele:
-Não tenho medo da morte, embora tenha medo de morrer. O morrer pode ser doloroso e humilhante, mas para a morte tenho uma pergunta: Voltarei para o lugar onde estive sempre, antes de nascer, antes do Big Bang? Durante esses bilhões de anos, não sofri e não fiquei aflito para que o tempo passasse. Voltarei para lá até nascer de novo. 
* * * 
Serenidade ante a morte. Gratidão pela vida. 
Não foi outro o ensino ofertado e vivido por nosso Mestre Jesus. 
Na chamada última ceia, em Jerusalém, antes de Sua prisão, julgamento arbitrário e a crucificação, Ele dá orientações aos apóstolos. 
Detém-se em pormenores, prediz sofrimentos que lhes viriam, e finaliza com uma sentida oração, em que traduz a grandeza de Seu Espírito, preocupando-se com os que ficariam:
-Pai, é chegada a hora. Glorifica a Teu filho, para que também o Teu filho Te glorifique. Glorifiquei-Te na Terra. Consumei a obra que me deste a fazer. Manifestei Teu nome aos homens. Eu rogo por eles. Já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo. Eu vou para Ti. Pai, guarda em Teu nome aqueles que me deste. Não rogo somente por estes. Mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim. Pai, agora vou para Ti. E não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal.
Depois disso, saiu com os Apóstolos para o Horto das Oliveiras, onde se manteve em oração, comungando com o Pai, até que O viessem prender.
Jesus, o exemplo. 
Tantos outros, na Terra, O imitaram. Imitemo-lO, também. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Adeus à vida sob o sentimento de gratidão, da revista Iátrico, nº 36, de agosto de 2017, ed. do Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná, e com transcrição do Evangelho de João, cap. 17, versículo 1ss. 
Em 13.3.2017

sábado, 24 de setembro de 2022

INDEPENDÊNCIA PARA NOSSOS FILHOS

Xinran é uma chinesa, nascida em Pequim.
É escritora e jornalista, mas foi como apresentadora de um programa de rádio, na China, que colheu histórias muito interessantes do seu povo. 
Em 1997 ela se mudou para Londres. 
A partir de então, todos os outonos ela recebe ligações telefônicas de seu país. 
São pais cujos filhos vêm estudar nas Universidades do Reino Unido e da Europa e que lhe pedem para que ela os cuide. 
Xinran responde a todas as questões e se propõe a ajudá-los, na nova vida que enfrentarão. 
Contudo, ela precisa impor limites. 
Porque algumas mães lhe pedem que vá cozinhar para seu filho todos os dias. 
Que ela o cuide da mesma forma que a mãe o faria. 
Os exageros são muitos, diz a jornalista. 
E conta o caso do jovem que veio a Londres para estudar em uma Universidade. 
Logo depois que ele chegou à capital inglesa, a escritora recebeu um telefonema da mãe do rapaz: 
-Não me importa o que você acha que é bom para seu filho. Mas, neste momento, meu filho precisa de sua ajuda para desfazer as malas. 
E lá se foi Xinran ajudar o rapaz. 
Quando ele abriu uma das duas malas gigantescas que trouxera, tirou páginas de instruções sobre como pendurar roupas, como fazer a cama, o que pôr na gaveta das roupas íntimas. 
Olhando aquilo, Xinran perguntou ao jovem: 
Como você se virou quando estava na Universidade na China? 
A resposta dele a desconcertou: 
-Minha mãe vinha ao meu dormitório todas as semanas.
* * * 
Se queremos que nossos filhos cresçam e desfrutem de suas próprias vidas, temos de liberá-los um pouco. 
O melhor a fazer é ajudá-los a ser independentes, o mais cedo possível.
Eles não podem viver embaixo das asas da mãe a vida inteira. 
Por isso, pequenas tarefas no lar, desde a tenra idade são importantes: dobrar a roupa, guardá-la no armário, pendurá-la nos cabides. Retirar a louça da mesa, passar a vassoura, limpar a calçada. 
Nas compras, permitir ao filho algumas escolhas, a fim de que ele aprenda o que significa decidir-se. 
Permitir-lhe realizar pagamentos em supermercados, lojas, shoppings, planejar o que fará com a sua mesada, escolher a roupa que usará para ir ao cinema, sair com os amigos, ir ao templo. 
Torná-lo responsável e participativo nas questões familiares, delegando-lhe o cuidado de irmãos menores, no auxílio a atravessar uma rua, conduzir à escola. 
Pensemos que nosso filho vai viver no mundo e que o precisamos preparar para isso. 
Se viermos a faltar ao seu lado, se ele for viver longe de nós, necessitará estar pronto. 
Exercitemo-lo, portanto, a cada dia, enquanto estamos com ele. 
Ele, como nós, nasceu para progredir, para crescer. 
Se lhe fizermos todas as tarefas e o superprotegermos, ele se tornará um incapaz, um inútil. 
Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita com base no cap. Meus amigos na China..., do livro O que os chineses não comem, de Xinran, ed. Companhia das Letras. 
Em 16.1.2020.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

Sete de setembro. 
Feriado nacional. 
Dia da Independência do Brasil. 
Por todo o país se fazem presentes as comemorações. 
São desfiles militares, escolares, civis. 
Discursos, bandas, orquestras. 
Evoca-se 1822, em verso e prosa. 
Enaltece-se Dom Pedro I como o Libertador. 
Desde a sua audaciosa desobediência às determinações da metrópole portuguesa, não regressando a Portugal, estava proclamada a Independência do Brasil. 
O príncipe tinha suas noites povoadas de sonhos de amor à liberdade.
Desenvolvia no Espírito as noções da solidariedade humana. 
Não representava o tipo ideal necessário à realização dos projetos espirituais, mas era voluntarioso. 
E ele era a autoridade. 
Os patriotas já não pensavam noutra coisa que não fosse a organização política do Brasil. 
A imprensa da época concentrava as energias nacionais para a suprema afirmação da liberdade da pátria. 
As pessoas viviam a expectativa. 
Todos os corações aguardavam. 
Então, no retorno da sua viagem a São Paulo, um correio leva ao conhecimento de Dom Pedro as novas imposições das cortes de Lisboa.
Ali mesmo, nas margens do Ipiranga, ele deixa escapar o grito:
-Independência ou Morte! 
Sem suspeitar, Dom Pedro era dócil instrumento de um emissário divino, que velava pela grandeza da pátria. 
Consumou-se o fato e, logo, os versos do Hino da Independência eram cantados: 
Já podeis da pátria filhos, 
ver contente a mãe gentil. 
Já raiou a liberdade, 
no horizonte do Brasil. 
A Independência do Brasil foi fruto do intenso trabalho das hostes espirituais junto aos homens. 
Muitos homens deram a vida por este ideal. 
São passados mais de duzentos anos da nossa Independência. 
Olhamos o nosso imenso país, um gigante geográfico e nos indagamos:
-Somos realmente livres? 
A verdadeira independência é moral. 
Enquanto prosseguem vigentes o jeitinho brasileiro e a Lei de Gerson não seremos livres. 
Quando assumirmos nosso papel de homens dignos, corretos, fiéis aos nobres ideais, seremos livres. 
Quando o estandarte da solidariedade e da tolerância se implantar em nossos corações, a nossa bandeira verde e amarela tremulará mais bela. Quando estendermos os braços para o bem da comunidade, as estrelas do pano pátrio brilharão com maior intensidade. 
Quando a ordem e a disciplina se instalarem nas ações de todos nós, o branco do pavilhão nacional terá alcançado o verdadeiro sentido: a paz.
Para que o progresso real se instale, é necessário que as individualidades cresçam. 
A soma das conquistas pessoais resultará no crescimento coletivo. 
Hoje é um excelente dia para se propor a trabalhar pelo nosso gigante.
Dizem que está adormecido, mas só porque os seus filhos dormem. 
A mãe gentil que nos recebe nesta etapa da vida no planeta merece-nos o esforço. 
Se quisermos, e só se quisermos, poderemos tornar verdadeira, desde agora a assertiva espiritual: 
Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho
Coração que pulsa, que ama, que não relega ao abandono os seus filhos.
E tanto quanto pode, recebe e ampara os filhos de outros solos. 
Pátria do Evangelho que irradia o bem, que serve de modelo, que luta pela justiça, pela verdade. 
Independência moral. 
Crescimento real. 
Vamos todos começar neste dia a lutar por tais objetivos?
 * * * 
Você sabia que Tiradentes, morto em 1792, continuou após a sua morte, a trabalhar pela Independência do Brasil? 
Ele estava com o Príncipe Regente Dom Pedro no grito do Ipiranga. 
Isso demonstra que os Espíritos, mesmo abandonando a carne, prosseguem nos ideais abraçados. 
Os Espíritos, como os homens, amam o torrão que lhes serviu de berço, se interessam pelas coletividades, trabalham pelo bem geral. 
Redação do Momento Espírita, com base nos cap. 18 e 19, do livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, pelo Espírito Humberto de Campos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. Disponível no livro Momento Espírita, v. 6 e CD Momento Espírita, v. 33, ed. FEP. 
Em 29.8.2018.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

BEM SUCEDIDOS

Jane Pratt
Nos anos 90, uma entrevista com a maior pop star daquela década, trouxe uma revelação impactante. Jane Pratt, a entrevistadora, indagou sobre o álbum mais recente, relacionamentos amorosos, vínculo com fãs, imprensa, até chegar na pergunta: 
-Por mais de dez anos, você acumulou uma incrível fama, dinheiro e se tornou uma das mulheres mais reconhecidas e bem-sucedidas no mundo. Existe algo pelo qual você trocaria tudo isso? 
A artista, sem pensar muito, e com uma visível expressão corporal de fragilidade, respondeu: 
-Sim, por uma mãe. 
Em outros momentos ela já havia revelado o vazio interno causado pela morte prematura da mãe, quando tinha apenas cinco anos. 
Dizia que, muitas vezes, em meio a todo o burburinho da vida de superstar, tinha vontade de apenas poder telefonar para a mãe, de desabafar. 
Sentia a falta daquele colo maternal tão importante. 
Estou constantemente em situações em que me sinto completamente frustrada ou perdida, e ninguém pode me ajudar a me sentir melhor.
E sempre me pego dizendo: 
-“Deus, como gostaria de ter uma mãe para quem poder telefonar e apenas falar e falar...” 
 * * * 
Num mundo onde muitos ainda acreditamos que o paraíso está na fama, na riqueza, no poder, os que possuem tudo isso nos alertam seriamente, dizendo que existem coisas muito maiores, muito mais importantes. 
Se observarmos os índices de famosos que abandonaram a vida pelas portas do suicídio direto, ou aqueles que o fizeram, pelas vias das fugas indiretas, ficaríamos alarmados. 
Infelizes, na grande maioria, pois se alimentam de fontes volúveis, impermanentes e frágeis. Infelizes, pois todo dinheiro e fama do mundo não são capazes de lhes comprar a paz de espírito, a paz nas relações próximas. 
Não lhes compra o equilíbrio emocional. 
Curiosamente, vivem insatisfeitos, mesmo conseguindo satisfazer a grande maioria dos prazeres que constituem os sonhos de muitos. 
Por que será? 
O que será que ainda não entendemos, depois de tantos séculos buscando esses caminhos? 
Vivemos os tempos das curtidas, dos likes, da visibilidade nas redes sociais, onde parece que qualquer um pode ter sua pequena fama, qualquer um pode aparecer um pouco e ganhar alguns elogios... 
Novo engano, novas frustrações, nova causa de ansiedade... 
Enquanto não buscarmos ser bem-sucedidos dentro de nós, e não lá fora, permaneceremos assim, frustrados e infelizes. 
Enquanto não investirmos na descoberta do eu, na importância das relações, da valorização da família, seguiremos sem rumo certo. 
Em meio a toda essa neblina de valores relativos e passageiros da sociedade, sempre raia o sol do amor proposto por Jesus. 
Prestemos atenção em como é simples e belo. 
Ame-se – conhecendo-se, cuidando-se, respeitando-se. 
Você é um Espírito vestindo um corpo passageiro. 
Ame a quem está ao seu lado. 
Não espere ser amado, não crie expectativas em demasia. 
Não venda seus princípios para ser agradado. 
Ame a Deus. 
Procure o seu Criador. 
Sinta-se parte da Criação. 
Busque a sua essência no Universo. 
Ligue-se a Deus pelas criaturas, pela oração e pelas ações no bem.
Redação do Momento Espírita 
Em 22.9.2022.

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

INDELÉVEL

Andrey Cechelero
Por ser indelével, toda lembrança constrói universos n´alma... 
São mundos inexplicáveis, inextinguíveis, invioláveis. 
Mundos dentro de mundos, dentro de mundos, dentro de nós. Cosmos imateriais, intocáveis, inexplorados, intactos. 
Por ser indelével, cada encontro com o amor planta jardins n´alma... 
E incontáveis espécimes de florescências perpetuam-se pelo infinito de dentro. 
Nunca se perdem, nunca murcham, nunca morrem... 
De valor inestimável, de tons inatingíveis, de fé inabalável. 
Por ser indelével, a saudade é a alegria do desejo de rever... 
Espera do ainda inatingível. 
Por ser indelével, o amor é a certeza do sempre vislumbrar...
Uma verdade sempre irrefutável. 
* * * 
Vivemos interessantíssima realidade de sentidos e sentimentos como seres humanos. 
De um lado o mundo dos sentidos, tangível, material. 
De outro uma esfera imaterial, dos sentimentos, da alma, das virtudes e imperfeições. 
Embora sejamos, em essência, Espíritos, isto é, nosso eu verdadeiro pertence à esfera intangível, vestimos um corpo material na Terra. 
E isso traz muitas consequências importantes. 
Vestir-se de matéria, necessitando dela diariamente, sem deixar-se controlar por ela, é talvez o maior desafio para os seres que buscam nas vidas sucessivas a felicidade sonhada. 
Entender que os bens da matéria são um meio e não um fim, é ainda complicado para a maioria no planeta. 
Falar em bens da alma, nas conquistas verdadeiras, as que se levam realmente deste mundo, parece ainda um pouco distante para a grande massa. 
Em função disso, ainda temos nos perdido como Humanidade, nas teias das necessidades materiais, das seduções do ter, do parecer e do enriquecer. 
Porém, não há mais tempo. 
Já tivemos muitas chances de entender e o momento atual nos coloca em plenas condições de poder escolher melhor os caminhos a serem trilhados de agora em diante. 
Sábios, mestres, estudiosos - muitos já nos apontaram a trilha mais segura. 
Muitos já entregaram suas vidas para nos fazer compreender, de uma vez por todas, o que nos traz aqui, encarnação após encarnação. 
Não estamos a passeio. 
Não estamos por mero acaso. 
Aqui voltamos, mais uma vez, para aprender a amar. 
Sim, o dom supremo é o nosso maior objetivo. 
Tudo mais é acessório, é instrumento, é meio. 
Uma vez conquistado, todo amor se torna parte de nossa alma para sempre. 
Não se apaga. 
É indelével. 
Não perdemos as pessoas, não perdemos o amor que construímos com elas - nada que seja conquista verdadeira da alma se perde. 
* * * 
Os jardins do amor, cultivados na alma com desvelo, florescem cada vez mais belos através das eras. 
Nós, os que já amamos profundamente, convocamos vocês, irmãos da alma, para aceitarem por fim o convite maior da caridade. 
Quem se doa se preenche de júbilo. 
Quem perdoa se liberta do ódio e faz-se leve. Irmãos da alma! 
É tempo de amar. 
Do Momento Espírita com base no poema Indelével, de Andrey Cechelero, do CD Indelével, de Andrey Cechelero, produção Immortality Arts, sob licença da Azul Music Multimídia Ltda. 
Em 18.03.2011.

terça-feira, 20 de setembro de 2022

A HORA CERTA DAS DECISÕES

DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANNA DE ÂNGELIS
Tomamos decisões a todo instante. 
Escolhas, palavras, ações, multiplicam-se em nosso dia a dia. Curioso como a grande maioria delas precisamos tomar assim, no calor do momento, sem pensar muito, deixando, muitas vezes, que a força das circunstâncias decida por nós. 
Aqui vai um grande alerta, um conselho dos que viveram mais do que nós, dos que estiveram nas mesmas estradas que agora trilhamos: 
-Não tomes decisões quando estejas emocionalmente alterado, sem o discernimento próprio para esse desiderato, porque o resultado será sempre perturbador. A precipitação é companheira do desastre. Primeiro, acalma-te, para depois assumires o comportamento compatível com a ocorrência em pauta. 
Dessa forma, busquemos em nossa alma todo o conhecimento que já detenhamos, toda orientação moral que recebemos até este momento.
Busquemos, em nós mesmos, os conselhos da consciência, da voz das leis divinas. 
Procuremos os mais sábios. 
Aqueles em quem confiamos. 
Todos os temos em nossas vidas. 
Sempre haverá quem nos ofereça uma boa palavra, apresentará uma visão mais ampla de uma situação que, por vezes, enxergamos apenas por um ângulo muito pessoal. 
A hora certa das decisões é a hora da ponderação, a hora do pensamento que refletiu com seriedade, e não o momento do impulso, da agitação, das emoções à flor da pele. 
Percebamos no mundo quantas decisões imprudentes, tomadas em segundos, levaram a dores de séculos. 
Sofrimentos desnecessários, que poderiam ter sido evitados se houvesse um pouco mais de autocontrole no espírito humano. 
Palavras que foram pronunciadas na hora indevida, com vibração incorreta. 
Gestos que feriram, que ocasionaram inimizades, conflitos que dificilmente serão esquecidos. 
Ações que nos colocam em ciclos de ódio e de vingança por tempos indeterminados. 
Não culpemos os instintos. 
Não culpemos o outro. 
Não culpemos nem a nós mesmos. 
Culpa apenas prende. 
Culpa apenas cristaliza sentimento nocivo. 
Tomemos conta de quem somos. 
Sejamos senhores de nossas emoções. 
Assumamos as rédeas de uma vez por todas. 
A hora certa das decisões é a hora da oração, do humilde pedido de auxílio a Deus, que sempre nos envia resposta e socorro no momento preciso. 
A hora certa das decisões é a hora da cabeça boa, nem quente nem fria, mas entendedora da vida e de seus mecanismos. 
Esta é uma vida de lutas, de provações, de aprendizados. 
Evitemos criar as expectativas ingênuas de uma vida sem embates, sem desafios e contrariedades. 
As situações hodiernas sempre irão nos testar, sempre irão nos apresentar cenários, situações-problema, como se estivéssemos em constante prova.
Este é o panorama do planeta terra de hoje. A escola das provas e das expiações. 
Saber decidir com sabedoria é uma arte – poderíamos muito bem afirmar.
A hora certa das decisões é a hora do coração em paz e da mente lúcida.
Aguardemos, ponderemos, sempre que possível. 
Acostumemo-nos a agir e deixemos de reagir. 
A hora certa é aquela que nos aproxima do bem. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 3, do livro Vida Plena, de Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis, ed. LEAL. 
Em 20.09.2022.

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

INDAGAÇÕES

ESPÍRITO ANDRÉ LUIZ
E
CHICO XAVIER
Você acredita na vitória do bem, sem que nos disponhamos a trabalhar para isso? 
Admite você a sua capacidade de errar a fim de aprender ou, acaso, se julga infalível? 
Se estamos positivamente ao lado do bem, que estamos aguardando para cooperar em benefício dos outros? 
Nas horas de crise você se coloca no lugar da pessoa em dificuldade? 
E se a criatura enganada pela sombra fosse um de nós? 
Se você diz que não perdoa a quem lhe ofende, porventura crê que amanhã não precisará do perdão de alguém? 
Você está ajudando a extinguir os males do caminho ou está agravando esses males com atitudes ou palavras inoportunas? 
Irritação ou amargura, algum dia, terão rendido paz ou felicidade para você? 
Que mais lhe atrai na convivência com o próximo: a carranca negativa ou o sorriso de animação? 
Que importa o julgamento menos feliz dos outros a seu respeito, se você traz a consciência tranquila?
É possível que determinados companheiros nos incomodem presentemente, no entanto, será que temos vivido, até agora, sem incomodar a ninguém? 
Você acredita que alguém pode achar a felicidade admitindo-se infeliz? 
* * * 
Por vezes, as distrações do mundo material e as tendências ancestrais que trazemos, ainda nos fazem esquecer das razões que nos trouxeram para a Terra mais uma vez. 
Sim, mais uma vez... 
É bom se acostumar com esta ideia, uma vez que a reencarnação é uma das Leis Divinas, acreditemos nela ou não. 
A Lei que nos dá diversas chances, que divide o aprendizado em fases, que apresenta a evolução como uma grande escalada rumo ao Alto. 
O materialismo ainda tão presente nos faz esquecer as questões da vida espiritual, a vida verdadeira, por isso que indagações que nos façam pensar sobre questões graves da vida, são sempre muito oportunas. 
É necessário refletir diariamente sobre o que queremos para nossa vida realmente. 
É necessário pensar diariamente sobre o Universo e suas leis perfeitas, colocando-nos no lugar certo, na hora certa, ao lado das pessoas que precisam de nós. Olhemos ao nosso redor: tudo está onde deveria estar. 
E nós? 
Como estamos? 
Conseguimos perceber isso? 
Conseguimos extrair disso forças para enfrentar os desafios?
Conseguimos entender que tudo é um grande processo de aprendizado?
Não somos um acidente de percurso, como pode até nos ter sido dito, mencionando uma possível gravidez inesperada. 
Somos um Espírito encarnado, que vem num processo de diversos retornos à carne, sendo cada um deles devidamente planejado, devidamente acompanhado, e que tem como objetivo final a nossa perfeição e a felicidade que a segue. 
Assim, não gastemos nosso tempo com futilidades. 
Não nos afastemos dos caminhos que nos levam adiante. 
Não abdiquemos das oportunidades que a vida nos dá para entender melhor as questões importantes para nosso desenvolvimento. 
Pensemos antes de agir. 
Repensemos antes de reagir. 
Peçamos ajuda antes de tomar decisões importantes. Indaguemo-nos.
Autoconheçamo-nos. 
Não aceitemos verdades sem antes uma análise minuciosa. 
As respostas sempre virão para os que realmente estamos interessados em nos melhorarmos; para os que não pensamos apenas em nós mesmos, egoisticamente; para aqueles que vivemos o amor e queremos aprender mais sobre ele. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 35, do livro Sinal verde, pelo Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Comunhão Espírita Cristã. 
Em 23.3.2015.

domingo, 18 de setembro de 2022

UMA INCRÍVEL HISTÓRIA DE AMOR

Quando a madrugada se entrega aos braços do dia, e toda a grandiosidade de um nascer do sol torna a acontecer, recebemos, outra vez, a mensagem de que Deus nos ama. 
Ele borda caprichosamente as campinas de flores miúdas e planta floreiras exuberantes nas encostas dos morros para que, em nossas andanças, possamos descansar os olhos, extasiando-nos de prazer. 
Ele trança, com delicadeza, os ramos da parasita na galharia abundante da árvore envelhecida, e escolhe lugares seguros, entre os galhos, para que os pássaros possam construir seus ninhos. 
O Evangelista afirmou que Ele é Amor. 
E porque o amor não se satisfaz senão amando intensamente, Deus criou para os Seus filhos um lugar de intensas belezas, a fim de que pudessem debelar o cansaço das lutas, na sua contemplação. 
Por isso, idealizou para as noites um extraordinário sistema de iluminação, sofisticado e único, onde abundam sóis de variadas grandezas, de brilhos e cores diversificadas, dispersos no espaço, a distâncias fabulosas uns dos outros. 
Brilhando todos. 
Para o encanto dos ouvidos humanos, concedeu vozes às cachoeiras, a fim de que se unissem ao cantarolar dos riachos e das fontes, criando harmonias. 
Na garganta dos pássaros dispôs instrumentos sonoros para que abrindo os bicos, fizessem vibrar suas gargantas, compondo sinfonias em pleno palco da natureza. 
Para atender a fome dos homens, Ele criou um mercado inigualável, abundante, diferente em cada recanto do globo. 
Para os homens altos, colocou frutos saborosos pendentes de ramos e para as crianças, esparramou-os em plantas rasteiras, estimulando a uns e outras se servirem de ambos, no compasso da ajuda mútua e da fraternidade. 
Em Sua perfeição, Deus estabeleceu a noite e o dia, as alternâncias de frio e calor, as alegrias do sol e as lágrimas das chuvas. 
Deu ao homem as mais amplas possibilidades de engenhosidade, a fim de que ele vencesse a gravidade e se lançasse ao espaço, descobrindo a grandeza do Universo e a pequenez do seu próprio lar. 
Também condições para que descesse às profundezas dos oceanos, das grutas e cavernas para descobrir a infinidade das formas de vida. 
Analista dos sistemas mais complexos, Deus teve o cuidado de criar a maquinaria humana de tal forma aprimorada que pode realizar coisas inimagináveis. 
Da mesma forma que se agiganta na expressão da arte, da dança, tem a capacidade de se adaptar às situações mais adversas e sobreviver. 
Enfim, Deus ama de tal forma as Suas criaturas que, sem lhes cobrar nada, lhes fornece o mais extraordinário plano de saúde. 
Um plano de saúde sem carência, sem restrições, sem cotas específicas de utilização. 
Um plano de saúde que lhes garante vida inesgotável, pelos séculos dos séculos. Um extraordinário legado que se chama Imortalidade. 
* * * 
Deus te ama e tu percebes. 
Seu hálito te vitaliza e sua voz silenciosa chega aos teus ouvidos, com bênçãos, com esperanças e com orientações. 
Deus vive, manifesta e dilata o Seu amor através de ti. 
Tu o sabes. 
E onde tu estiveres, Ele estará sempre contigo. 
Redação do Momento Espírita, com pensamentos finais do cap. Deus te ama, do livro Filho de Deus, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. Disponível no CD Momento Espírita, v. 22, ed. FEP. 
Em 18.12.2020.

sábado, 17 de setembro de 2022

INCONSTÂNCIA HUMANA

Com tantas ferramentas ágeis de comunicação, têm se tornado comum denúncias de profissionais. 
São relatos de mau atendimento, em que se misturam a desconsideração, o descaso, a grosseria, até o que é considerado arrogância e incompetência. 
Qualquer pequeno descuido merece muitas e muitas críticas, a que se somam seguidores e pessoas azedas, que acreditam que todos têm má intenção para com elas. 
Interessante que um mesmo profissional é apresentado por uns como um semideus, enquanto outros o classificam como um monstro. 
Soubemos de um médico que salvara a vida do pai de um jovem. 
O narrador relatou como verdadeiro milagre o que tinha ocorrido com seu pai, desenganado num primeiro momento. O médico oferecera esperança mínima à família, dada a complexidade do procedimento diante da enfermidade. Nada mais do que um por cento de chance de sobrevivência. Mas, a cirurgia tivera sucesso. E bons anos rolaram. Anos nos quais o paciente gozou de saúde satisfatória. Surgindo uma complicação, a família procurou o mesmo médico, desde que, anteriormente, se revelara tão eficiente. Consultado, disse que tudo seria muito simples, algo como tirar um cisco do olho. Que todos ficassem tranquilos. Contudo, o paciente morreu. Então, a família, que tanto elogiara e indicara aquele facultativo, revoltou-se. E o declarou incompetente, negligente. Acusou-o de ser o responsável por encurtar a sobrevida do seu familiar. Que paradoxo. Num momento, um herói, um santo. Em outro, não alcançado o objetivo, um vilão, um usurpador da vida. 
* * * 
Interessante analisarmos como somos volúveis. 
Passamos de um sentimento a outro em segundos. 
Se compulsarmos a História, veremos que, de um modo geral, assim temos nos comportado. 
O povo que gritou Hosanas ao Senhor Jesus, ao adentrar Jerusalém, foi o mesmo que, poucos dias depois, pediu a Sua crucificação, ante a indagação do procurador Pôncio Pilatos. 
Os que haviam recebido tantas bênçãos de Suas mãos, os que haviam sido curados, os que haviam readquirido a visão, a audição, a mobilidade, onde estavam? 
Em tão pouco tempo, haviam esquecido os benefícios recebidos? 
Ainda somos as pessoas que enterramos, facilmente, o sentimento de gratidão. 
Os que ontem nos beneficiaram, os que nos estenderam as mãos, nos sustentaram na adversidade, transcorrido um tempo, por nos desagradarem, por não atenderem a nossas vontades, são os mesmos que apontamos como intolerantes, maus, grosseiros. 
Onde a nobreza do gesto de reverência por quem nos serviu ontem?
Onde o agradecimento despojado de interesses, que deveria ser nossa marca registrada? 
Juízos apressados não poupam ninguém. 
E, normalmente, são causa de muita injustiça. 
Sejamos mais ponderados e cuidadosos em nosso proceder. 
Aprendamos a ser cordatos, a pensar antes de agir, a mensurar o que falamos, o que postamos, o que expomos. 
Vidas podem ser destruídas em segundos. 
Carreiras sólidas, construídas com esforço e dedicação, também. Guardemos o ensino de Jesus: com a medida com que medirmos os outros, seremos medidos. 
E com o critério que julgarmos os outros, igualmente seremos julgados.
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo A linha tênue entre herói e vilão, da revista Iátrico, nº 36, de agosto de 2017, ed. do Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná e no Evangelho de Mateus, cap. 7, versículo 2. 
Em 5.3.2018.

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

VOCÊ ACREDITARIA?

Você acreditaria se eu lhe dissesse que há corações capazes de bater a mais de mil pulsações por minuto? 
Acreditaria se eu lhe contasse que, a cada segundo, seu corpo produz quatro milhões de células novas sem você precisar sequer pedir?
Acreditaria que, nesta noite, sua cama irá viajar quilômetros e quilômetros ao redor do sol, e milhões de quilômetros pela Via Láctea? 
E que, ao acordar pela manhã, pensará que não saiu do lugar?
Inacreditável, não é mesmo? 
No entanto, são fenômenos que nos envolvem sem que percebamos, e que trazem consequências significativas em nossas vidas. 
Podemos dizer que, muitas vezes, o impossível é apenas aquilo que nosso conhecer ainda não alcança. 
Vejamos como os grandes cientistas encontraram barreiras com suas descobertas revolucionárias. 
Dizer que a Terra não era o centro do Universo. 
Que absurdo! 
Assim, as sociedades terrenas condenaram, torturaram e até assassinaram aqueles que ousaram pensar diferente, que descobriram, pelos seus méritos, pelos seus estudos, que a verdade não era como, até então, estávamos aceitando. 
Galileu Galilei foi processado por defender a tese de Copérnico de que a Terra não era o centro do Universo e sim o Sol. 
Pelos idos de 1600, colocamos Giordano Bruno na fogueira. 
O crime desse filósofo, matemático e pensador italiano foi projetar a ideia de que, diante de tudo que havia compreendido do Universo, nada mais natural do que considerar a possibilidade de existirem outros mundos habitados. 
Sempre faltou humildade ao homem para pelo menos dizer: 
-Não sei tudo. Vamos, ao menos considerar esta nova hipótese. Vamos pensar mais, pensar além. 
Curioso é que muitos de nós mantemos essa mentalidade de simplesmente negar aquilo que não compreendemos. 
Quando nos apresentam a ideia de uma vida depois da vida, achamos absurda, fantasiosa. 
Quando nos falam de Espíritos, de almas que sobrevivem à morte do corpo, fazemos brincadeiras, levando para o lado das crendices, sem nunca ter sequer lido a respeito dessa realidade. 
Quando ouvimos a ideia da reencarnação, desconversamos. 
Nascer de novo? 
Como? 
Isso é invenção de mentes desequilibradas. 
Será que não estamos sendo os mesmos que condenamos o pensamento de Galileu sobre as manchas solares? 
Ou aqueles que rimos de Aristóteles, quando, antes da era cristã, já considerava a forma esférica do planeta Terra? 
Será que não estamos silenciando Kepler, Descartes, Voltaire, uma vez mais? 
Que tal nos propormos a analisar, pensar, refletir sobre as ideias espiritualistas que rasgam o véu do materialismo dominante e escolher o que queremos para nossas vidas? 
Usemos a razão. 
O que faz mais sentido? 
Façamos perguntas sem medo. 
A filosofia nos ensinou a questionar, a penetrar na essência de tudo. Sigamos nessa busca por uma vida melhor. 
Lembrando que o impossível, pode ser simplesmente aquilo que nosso conhecimento ainda não alcança. 
Redação do Momento Espírita 
Em 16.9.2022.

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

SEM DETER O GESTO

O Mestre dos mestres, em discurso aos Apóstolos, se declara: 
-Eu, porém, entre vós sou como aquele que serve. 
Assim se identificou. 
Assim viveu. 
É sempre no atendimento ao outro que encontramos Jesus. 
Às margens do mar da Galileia, em casa de Pedro, convidado a banquetes em casa de Simão, o ex-leproso, de Levi, ou de Zaqueu, 
Ele sempre é aquele que serve. 
Serve aos convivas, com Seu verbo esclarecedor, não perdendo oportunidade de elucidar as mentes privilegiadas da época. 
Ou o povo simples das estradas, dos montes e das planícies da Pereia, da Galileia, da Judeia. 
De Suas mãos se projetavam fluidos curadores, beneficiando a enfermos, liberando-os de suas mazelas físicas. 
Orientando-os, no entanto, para que alterassem a sua forma de viver para que nada pior lhes viesse a acontecer. 
Com a Voz de Pastor do imenso rebanho terreno, Ele consola aqui, esclarece ali, ilumina adiante. 
Enquanto todos seguem o ritual da ceia, Ele é aquele que se dispõe a lavar os pés dos Seus Apóstolos, ensinando que nenhuma tarefa é indigna da mais nobre personagem. 
E O vemos desfilar, sereno, acima das calúnias que O desejam atingir. 
Ele prossegue, tranquilo, pleno de luz. 
Com Ele aprendemos que o bem proporciona paz de Espírito, alegria de viver. 
Aprendemos que o bem, em primeira instância, faz muito bem a quem o pratica. 
É a sabedoria do Mestre nos lecionando não somente o amor ao outro, mas sobretudo a nós mesmos. 
Fala-se que, quando se realiza um ato benévolo, temos liberação de ocitocina, hormônio que causa bem-estar, um neurotransmissor da felicidade. 
Podemos reconhecer quanto isso é verdadeiro, quando fazemos algo, sem intenção alguma de agradecimento ou qualquer retorno do beneficiado.
Sentimo-nos quase eufóricos. Alegria de fazer algo útil, de produzir o bem.
Ouvimos, certa feita, o relato de um rapaz que estava em uma cafeteria. Ali, no balcão, ele saboreava, lentamente, o seu café. Uma grande tristeza lhe ia na alma, misturada com uma saudade indescritível. Nesse dia, se completavam exatos dez anos da partida de sua mãe para a Espiritualidade. Ele sentia uma vontade imensa de poder tornar a abraçá-la. Nisso, teve a sua atenção atraída para três senhoras que entraram e ocuparam uma das mesas da cafeteria. Ele as olhou e pareceu-lhe ver sua própria mãe em uma delas. Sua postura, sua fisionomia lhe lembrava a mãe querida. De imediato, teve vontade de pagar café para as três senhoras. Levantou-se, dirigiu-se à mesa e, com delicadeza se apresentou, dizendo que pedia licença para lhes oferecer um café. Explicou do decênio sem sua mãe e que uma delas, mais especialmente, a lembrava. A senhora se levantou e, para sua surpresa, confidenciou:
-Rapaz, você parece meu filho, que morreu há uma semana. Permita-me abraçá-lo. 
Enlaçados, misturaram suas lágrimas e sua emoção, dividindo saudades.
Por vezes, detemos algum gesto desse tipo, temerosos de sermos mal interpretados. 
Permitamo-nos distribuir o bem, delicados, atenciosos... 
Redação do Momento Espírita, com transcrição do Evangelho de Lucas, cap. 22, vers. 27. 
Em 14.9.2022.

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

INCONDICIONAL

Elizabeth Kübler-Ross
Só podemos encontrar paz e felicidade no amor quando abrimos mão das condições que colocamos no nosso amor pelos outros. 
Assim inicia um dos capítulos da obra Os segredos da vida, a doutora Elizabeth Kübler-Ross, célebre estudiosa suíça, pioneira devotada ao trabalho com pacientes terminais. 
Continua ela dizendo que geralmente impomos as condições mais duras àqueles que mais amamos. 
O processo de abandonar condições e expectativas é extremamente difícil, porque, desde que nascemos, nos ensinaram o amor condicional.
Seríamos amados se fôssemos dóceis, obedientes, estudiosos, bem-comportados e por aí adiante. 
Havia sempre um “se”. 
A escritora ainda afirma que uma das poucas ocasiões em que recebemos amor incondicional é quando nossos filhos são bem pequenos. 
Eles não se importam com nosso status, o nosso dinheiro ou as nossas realizações. 
Eles simplesmente nos amam. 
Somos nós que acabamos lhes ensinando a colocar condições no amor quando os recompensamos ao sorrir, tirar boas notas e ser o que queremos que eles sejam. 
Se amássemos nossos filhos apenas um pouco mais incondicionalmente, por um pouco mais de tempo, talvez pudéssemos criar um mundo muito melhor para se viver. 
* * * 
A proposição de Kübler-Ross pode parecer um clamor utópico, é certo.
Uma realidade ainda muito distante, tendo em vista o nível de nossos relacionamentos atuais no mundo. 
Mas que isso não nos impeça de começar a trabalhar em prol dessa conquista. 
Talvez a primeira tentativa esbarre no sentimento do medo, do medo de não ser correspondido, de não ser reconhecido. 
Mas, ao compreender que a alegria, a gratificação que procuramos, está sobretudo no dar e não no receber, perceberemos que mesmo o gesto de amor que parece não ter sido identificado, quem dera retribuído, nos preenche, nos faz um bem muito grande. 
O maior beneficiado do amor incondicional é sempre seu doador. 
Quando se acende uma lâmpada – disseram um dia – a primeira superfície que se ilumina é ela mesma. Está aí a recompensa do amor. 
O criador, quando na intimidade de seu universo infindo, deu vida ao amor, fê-lo autossustentável. 
Em sua essência ele não apresenta condições. 
Lembremos de uma situação em que pudemos fazer um bem a alguém.
Uma felicidade que tenhamos proporcionado, ou um pequeno favor que seja. 
Recordemos do prazer sentido, do sentimento talvez indescritível de tranquilidade, de uma certa paz. 
Pois é esse sentimento que a natureza plantou em nosso íntimo, para que procurássemos o bem, para que procurássemos o amor. 
É a lei de amor se manifestando em uma de suas milhares de formas.
Busquemos, assim, o amor sem exigências, sem cláusulas, e nos deleitemos com a felicidade de amar. 
* * *
Nossos filhos merecem nosso amor, independentemente se são bons filhos, se vão bem na escola, se são obedientes. 
Na função de cocriadores, missão divina recebida, nosso compromisso maior está em amar. 
Grande parte dos distúrbios, dos desequilíbrios trazidos pelos Espíritos em suas novas empreitadas terrenas, consegue suavização apenas através do amor. 
Precisamos mostrar aos nossos rebentos que são amados. 
Para isso, cabe a cada pai, a cada mãe, a busca pelo aprimoramento na arte de formar caracteres, a busca pelo estudo que lhes orientará sobre a melhor forma de colocar seu amor em prática. 
Redação do Momento Espírita, com base no livro Os segredos da vida, de Elizabeth Kübler-Ross e David Kessler, ed. Sextante. 
Em 23.5.2014.