segunda-feira, 31 de maio de 2021

FRUTOS DA GENTILEZA

Você já experimentou os frutos da gentileza? 
No mundo em que vivemos, em que as pessoas parecem armadas umas contra as outras, em que saem às ruas medrosas, nem sempre os gestos de gentileza se fazem presentes, embora estejam se multiplicando. 
Conta-se que um empregado de um frigorífico, na Noruega, certo dia, ao término do trabalho, foi inspecionar a câmara frigorífica. Inexplicavelmente, a porta se fechou e ele ficou preso dentro dela. Bastaram alguns segundos para sentir a temperatura com seu peso absoluto. Situação indescritível. Congelamento rápido. Chocante. A temperatura em torno de dez graus abaixo de zero foi mais do que sentida em graus. Ela tinha um peso físico e comprimia fisicamente. O funcionário bateu na porta com força, gritou por socorro mas ninguém o ouviu. Todos já haviam saído para suas casas. Impossível que alguém o pudesse escutar. O tempo foi passando. Debilitado com o frio insuportável, ele já se preparava para morrer. 
-Que morte tola! - Pensava ele. 
Prisioneiro em uma câmara frigorífica. Imagens da família, dos amigos passaram-lhe pela memória. O que podia ter feito e não fez. O que não deveria ter feito e agora se arrependia. Depois de gritar, de recordar, ele se rendeu. Nada mais a esperar senão a morte. Terrível, por congelamento. O frio parecia lhe quebrar os ossos, congelar o sangue nas veias. Dolorido. Penoso. Então, de repente, a porta se abriu. O vigia da empresa entrou na câmara e o resgatou, ainda com vida. Depois de salvar a vida do homem, houve quem tivesse a curiosidade de saber por que ele fora abrir a porta da câmara frigorífica, desde que isso não fazia parte da sua rotina de trabalho. Ele explicou, de forma simples: 
-Trabalho nesta empresa há trinta e cinco anos. Centenas de empregados entram e saem daqui todos os dias. Ele é o único que me cumprimenta ao chegar pela manhã. E se despede de mim ao sair. Hoje pela manhã, ele disse quando chegou: "Bom dia". Entretanto, não se despediu de mim, na hora da saída. Aguardei um tempo pois pensei que ele tivesse se detido em fazer algum trabalho extra. Contudo, como os minutos fossem se somando, de forma rápida, deduzi que algo estava errado. Fui procurar por ele. A câmara frigorífica foi um local que me acudiu à mente pudesse ele estar. Foi assim que o encontrei. 
* * * 
Como se vê, a gentileza deixa marcas especiais nas criaturas. Um gesto repetido todo dia, simples e que, ao demais, deveria ser nossa marca registrada de boas maneiras, salvou a vida de um homem. 
Aquele homem era diferente de todos os demais. Ele fazia a diferença na vida do vigia que ficava ali, horas e horas, em seu posto de guarda. 
Isso nos diz que o bem sempre faz bem a quem o pratica. 
Pode ter um retorno rápido, como no fato narrado. 
Pode ser algo que somente o tempo demonstrará. 
O importante a se registrar é que a pessoa gentil cria ao seu redor um halo de tal simpatia, que contagia os demais. 
Não esqueçamos disso e promovamos a gentileza em nossa vida. 
Existem pequenos, simples gestos que dizem muito da nossa formação moral e interferem, positivamente, em muitas vidas. 
Por isso, cumprimentemos as pessoas e incorporemos ao nosso vocabulário frases importantes, como: 
-Desculpe-me. Olá, como vai? Obrigado. Por favor. 
Palavras simples. 
Palavras mágicas para criar ambiente de harmonia, nos locais mais diversos. 
Experimentemos! 
Redação do Momento Espírita, com base em notícia internacional. 
Em 07.02.2012.

domingo, 30 de maio de 2021

FRUTOS DA CRUELDADE

Quando se observa a enorme diversidade dos animais existentes na Terra, descobre-se como o Pai Celeste foi pródigo em tudo providenciar ao homem. 
Os animais o vestem com suas peles, o alimentam com seus ovos, seu leite, sua carne. Aquecem-no com suas penas e lã. Com alegria, lhe deliciam os ouvidos compondo sinfonias nos ramos das árvores ou aprisionados em gaiolas douradas. Retribuem as carícias com fidelidade extremada, até o sacrifício da própria vida. Em uma palavra, servem o homem. 
E o que tem feito o homem pelos animais? 
Retira de seu habitat as aves, especialmente periquitos e papagaios, corta-lhes as asas para que não alcem vôo. 
E para quê? 
Para servir de brinquedo ao filho? 
Por quanto tempo? 
Para servir de adorno? 
Logo, o bichinho está relegado a um canto, triste. Morre cedo, na maioria das vezes, porque longe da liberdade da sua mata, quando não por doenças que contrai pela alimentação inadequada que recebe. 
Por vezes, descobre-se nos centros urbanos, junto a piscinas improvisadas ou nos jardins, tartarugas e cágados. Também retirados pequenos do seu local de origem, fazem a alegria da criançada... 
Por algum tempo. 
Até crescerem tanto que deixam de ser engraçadinhos. 
Alimentados de forma incorreta, têm os seus cascos amolecidos e acabam sendo entregues, quando o são, a zoológicos da cidade. 
Para que tirá-los da condição de liberdade? 
E os sagüis, os macaquinhos, então!? 
Quanta maldade! 
Para se conseguir retirar o filhote, normalmente sacrificam-se os pais. O filhote passa a viver dentro de estreitos espaços, preso a correntes. Morre de tristeza ou por descuidos. Porque, de um modo geral, as pessoas não se esmeram em saber verdadeiramente como deve o bichinho ser tratado.
Ao lado da maldade de se separar o animal da sua família, do seu habitat, de lhe cercear a liberdade, a maldade maior de acabar paulatinamente com sua espécie. 
Pensemos: os pais são mortos, o filhote não tem com quem cruzar. 
A espécie somente pode perecer, com o tempo. 
Tudo isto demonstra a crueldade do ser humano. 
Crueldade que é fruto do seu egoísmo e do pouco valor que dá à vida.
Onde o respeito à vida, à natureza, ao ser inferior? 
Conscientizemo-nos de que somente alcançaremos a felicidade, quando não venhamos a distribuir o mal, seja para a Terra que nos agasalha, seja para os seres que a habitam. Porque em síntese, toda agressão à natureza redunda em prejuízo para quem a pratica. 
 * * * 
Carl Sagan, astrônomo americano, disse que se fôssemos visitados por um viajante espacial que examinasse nosso planeta, ele possivelmente concluiria que não há vida inteligente na Terra. É que o hipotético viajante iria logo descobrir que os organismos dominantes da Terra estão destruindo suas fontes de vida. A camada de ozônio, as florestas tropicais, o solo fértil, tudo sofrendo constantes ataques. 
Redação do Momento Espírita com base em artigo da Revista Veja, de 27.03.1996 (pág. 85). 
Em 25.01.2008.

sábado, 29 de maio de 2021

AS FRUSTRAÇÕES DO HOMEM MODERNO

Grande parte das pessoas, na sociedade atual, é infeliz, é frustrada. 
Você já se perguntou por que isso acontece? 
Muitos são os estudos feitos para se descobrir as possíveis causas da infelicidade do homem moderno e todos apontam para um único e grande causador de tudo isso: o próprio homem. O ser humano traz em sua bagagem, ao nascer, um plano de felicidade. Ele traz consigo basicamente três motivações que o levarão a uma satisfação pessoal, se as conseguir manter ao longo da existência. 
Uma delas é ter um relacionamento pessoal satisfatório. 
Outra, é poder ser útil na comunidade em que vive e, por fim, crescer como indivíduo, alcançando sua auto-realização. 
Se todas as pessoas conseguissem atender a esses apelos do seu interior jamais se sentiriam frustradas ou infelizes. No entanto, há outros apelos muito fortes que vêm do exterior, que a sociedade impõe como sendo indispensáveis: ter muito dinheiro, ter fama e ser fisicamente atraente. E é quando o ser humano entra na luta pela conquista de posses materiais, de fama e de uma aparência física atraente, que muitas vezes se infelicita e se frustra. 
E por que isso ocorre? 
Porque, em sua maioria, as criaturas se esquecem das suas aspirações íntimas e passam a lutar com todas as suas forças para conquistar o que a sociedade convencionou chamar de homem bem sucedido. E, para "subir na vida", tantas vezes não se importa em passar por cima de seus semelhantes, e mata uma de suas motivações íntimas: a de ter um bom relacionamento pessoal. Deixa de ouvir a voz da consciência que o chama à utilidade, junto à comunidade, e passa a lutar por uma profissão que lhe dê status e fama. 
Se aspirar, por exemplo, a ser um médico útil à sociedade, passa a ver na profissão um meio de ganhar dinheiro e fazer fama, tornando-se um comerciante da medicina, que só atende se for bem pago. 
E para poder se manter fisicamente atraente, muitos indivíduos vivem à custa de drogas e regimes cruéis, e passam a depender disso para manter as aparências. 
E quando o corpo físico cobra seus tributos, em função da idade, passam a esticar a pele por todos os lados, como se fosse possível enganar as leis que regem a matéria. 
O que o indivíduo não se dá conta, é que quanto mais luta para ter, mais se esquece de ser e mais se infelicita. 
Os que conseguem conquistar posses materiais, fama, e uma boa aparência, passam a empregar seu tempo e sua saúde para mantê-los. E os que não logram realizar esses sonhos estabelecidos pela sociedade, se tornam infelizes e frustrados por se julgarem incapazes para tal. 
Jesus, o excelente psicólogo da Humanidade, recomendou que envidássemos esforços para conquistar bens que nem a traça nem a ferrugem consomem. E esses bens são as virtudes do Espírito, que nos seguem pela eternidade afora. Assim, quando o ser humano entender que o dinheiro é meio e não fim para ser conquistado a qualquer custo, colocará esse bendito recurso a serviço do progresso próprio e dos seus semelhantes em todos os sentidos. 
-“Não vos inquieteis pela posse do ouro”, recomenda Jesus. 
E na parábola do rico fazendeiro que só se importava em encher os celeiros de forma egoísta Ele adverte: 
-“Insensato que sois! Ainda esta noite lhe exigirão a alma.” 
Jesus, portanto, não disse que temos que desprezar os bens terrenos, nem o dinheiro, mas ensinou que os bens terrenos aqui ficam quando daqui partimos e que não vale a pena ganhar a vida e perder-se a si mesmo. 
* * * 
Você vale pelo que é, e não pelo que tem ou pela sua aparência física. 
As virtudes são os tesouros mais preciosos que você pode conquistar.
Lembre-se sempre de que nada vale a pena se tivermos que abrir mão da nossa dignidade, da nossa honradez, ou dos nossos valores nobres. 
Texto da Redação do Momento Espírita, com base em texto do livro Porque fazemos o que fazemos, de Edward Deci, ed. Negócio.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

FRONTEIRAS SEM FIM DA AMIZADE

Nick Morgan
Até onde vai a amizade? 
Diz-se que, por vezes, temos amigos que são mais do que irmãos. São eles que nos sustentam nas crises, nos auxiliam na enfermidade, nos oferecem o ombro para chorar, a qualquer dia, a qualquer horário. Pessoas há que, decepcionadas com pretensos amigos, afirmam que é muito difícil existir, hoje, amizade desinteressada. 
No entanto, todos os dias, se ouvem histórias de pessoas que devem sua vida a algum amigo. 
As gêmeas Rita e Ruth nasceram, em 1988, numa cabana de barro na África Central. Seus pais eram agricultores da tribo Tutsi e temiam pela vida das filhas, porque os rebeldes Hútus, da oposição ao governo, atacavam constantemente os Tutsis. Por isso, o casal decidiu ir para Uganda, 240 quilômetros ao norte. Cada um com uma filha às costas, alguns poucos pertences e a tia das meninas, de apenas 11 anos, começaram a grande viagem. O pai foi o primeiro a ser assassinado, na tentativa de conseguir alimentos em uma aldeia. A mãe, quando ia à frente, tentando verificar se era seguro prosseguir a jornada, desapareceu para sempre. Durante dois meses, Katie, na floresta com as duas crianças, esperou a volta da mãe das meninas. Então, amarrou as gêmeas ao seu corpo e saiu andando. Depois de dez meses, chegaram a Uganda. Estavam sozinhas, dormindo ao relento e vivendo de restos de alimentos. Um dia, Jane, uma agricultora, as encontrou e as levou para sua casa, condoída de sua triste situação. Jane tinha somente uma filha de 4 anos e, por três vezes, enfrentou os rebeldes Hútus, escondendo as crianças. Quando as gêmeas estavam com 11 anos, Katie ganhou uma passagem para longe da África, para o asilo no estrangeiro. Naquela noite, Rita e Ruth ficaram abraçadas a Katie, chorando. Ela fora o centro de suas vidas desde sempre. Mas, ao partir, Katie prometeu que mandaria alguém para buscá-las. Para uma moça de 21 anos, como Katie, se adaptar à vida aonde quer que fosse, levaria tempo. E mais tempo ainda levaria para conseguir alguém que buscasse as gêmeas. Os meses se sucederam, sem qualquer notícia. Os Hútus matavam e sequestravam dezenas de Tutsis. As meninas pensavam: 
-Será que ela nos esqueceu? 
Três anos se passaram. Com 15 anos, Rita e Ruth já tinham se resignado à vida de medo e incerteza em Uganda. Então, elas foram apanhadas em casa por um agente estrangeiro e levadas ao aeroporto. Quatorze horas depois, estavam em Londres, abraçando Katie. Ela explicou como tinha sido difícil conseguir que elas fossem levadas para a Grã-Bretanha antes de milhares de outros refugiados. 
Mas disse: 
-Espero que saibam que eu nunca as abandonaria. 
As gêmeas passaram o restante da sua adolescência morando com Katie. Para elas, Katie é a grande amiga a quem agradecem por terem o privilégio de viverem num país de oportunidades. 
Diz Rita: 
Apesar de tudo o que passei, sinto como se tivesse ganhado na loteria. Amigos... 
Preciosidades que Deus coloca em nossas vidas para nos atapetar a estrada de ternura, a fim de nos tornar menos áspera a jornada. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Cuidem de mim, de Rita Komunda, conforme contado a Nick Morgan, publicado na Revista Seleções Reader’s Digest, de março de 2009. 
Em 10.07.2009.

quinta-feira, 27 de maio de 2021

SOU EU, JESUS!

Um local árido, e dos mais ásperos. Justamente ali, uma voz se ergue, ecoando no deserto. Tendo Ele se levantado muito antes da luz do dia, retirara-se para o solitário lugar para orar. De Seu amoroso verbo, brota a água que faz correr rios de luz. De Sua presença luminosa, o silêncio se faz verdadeira orquestra, perfeitamente afinada com a celeste música do Criador, o Pai de todos nós, com o qual Ele estabelece um estreito diálogo. É nesse colóquio com o Senhor da Vida, que o Cristo se revela Um com Ele. E cumpre Sua missão para conosco: nos direciona, nos encoraja, nos fortalece. 
* * * 
Os desafios da vida são tão grandes. Não há mais distâncias. A globalização, o advento da Internet fazem com que o mundo nos esteja disponível na rapidez de um clique. Nunca estivemos tão conectados... e tão solitários. Por vezes, nossos corações se tornam ressequidos, ao contemplarem as injustiças do mundo, a desigualdade social, a fome, a dor, as atrocidades cometidas e os atentados contra a vida. Não raro, nos apresentamos desesperançados. Também cansados. Parece-nos andar pela aridez de um deserto. A voz do silêncio ecoa em nosso ser. 
Todavia, lembremo-nos do Cristo. 
Fechemos, por um instante, nossos olhos. 
Permitamo-nos sentir Sua doce presença. 
Permitamos que Ele, que conhece cada uma de nossas angústias, que compreende amorosamente nossa tão frágil e vacilante fé, adentre o deserto das nossas dores, das dores do próximo, das dores do mundo.
Agucemos nossos ouvidos para lhe ouvir a voz: 
-Sou Eu, Jesus. Sou Aquele que caminha ao teu lado e que te conduz os passos, mesmo quando, para ti, eles pareçam tortuosos. Sou Aquele cujas mãos repousam em tuas mãos, ainda que sintas o gosto amargo da solidão e, por isso, não as perceba. Todavia, são as Minhas mãos que se juntam às tuas em prece e, quando tu não consegues orar, oro por ti ao Pai que está em Mim e que está também em ti. Sou Eu, que me felicito com tuas alegrias, seco as tuas lágrimas, conheço o mais profundo de tua alma e que, em meio às lutas diárias, lembro-te de teu destino: a paz e a felicidade. Então, mesmo que por um breve instante, tu sorris. E Meu sorriso é contigo. Sou Eu, que conheço tão bem o peso da cruz, que te auxilio a carregar a tua, na certeza de que não há dores que sejam eternas e de que cada dia, por mais dolorosa seja a tua via crucis, é valiosa lição que te ilumina mais e mais. Sou Eu, Jesus, que te amo profundamente e que sei de tuas lutas, confiante e certo de tuas vitórias. Lembra-te de Mim. Nas amarguras, lembra-te de mim. Nas alegrias, lembra-te de mim. Nas incertezas, lembra-te de mim. Lembra-te de mim, pois meus olhos estão sempre voltados para ti. Quando mais necessitares, mais refrescantes serão as bênçãos do céu que derramarei sobre ti. Abraça a certeza de que não és um deserto. Antes, uma florida campina cujo perfume espalha harmonia. Confia. Sou eu, o teu Amigo Jesus.
Redação do Momento Espírita. 
Em 27.5.2021.

quarta-feira, 26 de maio de 2021

A LENDA DOS ÍNDIOS CHEROKEES

Na História dos Cherokees, índios da América do Norte, existe uma lenda que fala sobre o rito de passagem da juventude para a maturidade. Ao final de uma tarde, o pai leva seu filho para a floresta, no alto de uma montanha, venda-lhe os olhos e deixa-o sozinho. O jovem fica lá, sentado, sozinho, toda a noite, e não poderá remover a venda dos olhos até os raios do sol brilharem no dia seguinte. Ele não poderá gritar por socorro para ninguém. Se ele conseguir passar a noite toda lá, será considerado um homem. Ele não deverá contar a experiência aos outros meninos, porque cada um deve tornar-se homem do seu próprio modo. O menino ficará naturalmente amedrontado. É possível que ouça barulhos de toda espécie. Os animais selvagens poderão estar ao redor dele. Talvez possa ser ameaçado por outro humano. Insetos e cobras poderão feri-lo. É provável que sinta frio, fome e sede. O vento soprará a grama, as árvores balançarão e ele se manterá sentado estoicamente, nunca removendo a venda. Segundo os Cherokees, esse é o único modo de se tornar homem. Finalmente, após a noite de provações, o sol aparece e a venda é removida. Ele então descobre seu pai sentado na montanha, próximo a ele. Estava ali, a noite inteira, protegendo seu filho do perigo. 
* * * 
Essa lenda nos remete aos momentos de dificuldades que atravessamos na vida e nos quais nos julgamos estar sozinhos. 
Lembremos que Deus, Pai amoroso, está presente em nossas vidas em todos os momentos, nas alegrias e nas tristezas, pois jamais abandona um filho Seu. 
Assim como o pai do jovem índio, Deus, através dos benfeitores espirituais, está sempre olhando por nós. 
Por descuido da fé, muitas vezes, não confiamos na Sua presença.
Evitemos tirar a venda dos olhos antes do amanhecer. 
Carreguemos a certeza em nossos corações de que estamos constantemente amparados pela Espiritualidade Maior. 
Nossos caminhos não estarão livres de percalços nem das dores. Entendamos que as dificuldades que a vida nos impõe são instrumentos de crescimento e fortalecimento para o futuro. 
 * * * 
Nunca estás sozinho. 
No lugar onde estejas, Deus está contigo: no lar, no trabalho, no espairecimento, no repouso, na doença, na saúde, nEle haurindo consolo e forças para prosseguires nos misteres a que te vinculas. 
Somente te sentirás a sós, se deixares de preservar o vínculo consciente com o Seu amor. 
Mesmo assim, Ele permanecerá contigo. 
Lembra-te: Deus é sempre o teu constante companheiro. 
Redação do Momento Espírita, com base em lenda cherokee e pensamentos finais do cap. 13, do livro Filho de Deus, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 26.5.2021.

terça-feira, 25 de maio de 2021

O MELHOR PARA MIM

Durante o almoço em família, a mãe deixou sobre a mesa quatro taças de sobremesa, com belos pedaços de morango cobertos com chantilly. As taças eram transparentes, permitindo ver as frutas misturadas à cobertura, e observá-las de vários ângulos. O filho mais velho, que vivia a adolescência, passou a analisar cuidadosamente uma a uma, erguendo e trazendo para mais perto dos olhos. 
-O que você está fazendo, meu filho? – Perguntou o pai, curioso. 
-Estou contando os morangos, para poder ficar com a taça que tiver mais.
O pai se surpreendeu com aquela atitude. 
-E, você acha isso certo? – Perguntou, serenamente. 
Foi o menino agora o surpreendido com a questão. Por sua expressão facial, realmente não tinha parado para pensar em certo ou errado, naquela situação. Parecia algo tão simples que não precisava cogitar de nenhuma filosofia profunda ou conflito ético. Tanto que demorou para responder. Após alguns segundos de silêncio, dando com os ombros e buscando simplificar sua atitude, disse: 
-Eu tenho que pensar no que é melhor para mim, não acha? 
* * * 
Temos aqui um caso muito interessante, que nos coloca frente a duas questões fundamentais da vida íntima e da vida de relação. 
Na educação de nossos filhos insistimos que devem fazer as melhores escolhas, que precisam pensar no que é melhor para seu desenvolvimento, que devem construir autorrespeito, evitando serem conduzidos por caminhos infelizes. Por isso, devem escolher as amizades, ter contato com boas leituras, conteúdos instrutivos. Também devem ter uma vida saudável, praticar exercícios para que corpo e mente tenham sempre o melhor. 
No entanto, haverá momentos em que não devemos escolher o melhor para nós, deixando o melhor para o outro? 
Curiosa a vida, curiosas as Leis Divinas. 
Voltando ao caso em análise, poderíamos dizer que é exatamente essa mentalidade individualista que levou a sociedade atual ao estado de decadência moral em que nos encontramos. 
Na raiz de todos os nossos males está, exatamente, esse individualismo louco que deseja o bem somente para si. 
É aqui que precisamos projetar luz para entender melhor como conjugarmos, ao mesmo tempo, os dois pensamentos. 
Primeiro ponto: não há mal nenhum em querermos o bem para nós mesmos, em fazermos boas escolhas. O caminho do autoamor nos conduz nessa direção. O egoísmo se apresenta quando pensamos apenas no nosso bem, quando o nosso usufruir significa a escassez do outro. Quando o nosso excesso priva o próximo de ter o mínimo necessário. Quando uma taça de sobremesa tem dez morangos e a outra não tem nenhum. 
Segundo ponto: a Lei de sociedade, uma das grandiosas Leis de Deus, nos mostra também que somos mais felizes quando compartilhamos, que somos mais realizados quando trazemos outros conosco. A Lei de sociedade respeita sua irmã, a Lei de justiça, de amor e de caridade, que nos recompensa com a felicidade quando dividimos, quando doamos, quando pensamos mais no coletivo e menos no individual. 
Em resumo: podemos pensar no que é melhor para nós, mas ao mesmo tempo, no que é melhor para todos. 
Redação do Momento Espírita 
Em 25.5.2021.

segunda-feira, 24 de maio de 2021

NOSSO REENCONTRO

Você partiu. 
O terrível vírus o levou. 
Para mim, ficou a saudade que, a cada hora, me recorda sua ausência física. Tínhamos tantos sonhos: uma viagem à França, um filho. Tudo esquematizado, planificado. Desejávamos rever paisagens que, em nossa lua de mel, nos haviam enchido os olhos de beleza e enriquecido a mente de cultura: o Monte Saint-Michel, as praias da Normandia, a Torre Eiffel, a Catedral de Notre Dame... 
-Cada coisa a seu tempo, é o que dizíamos. 
E esperamos. 
Mobiliar o apartamento, melhorar o orçamento doméstico, guardar algum dinheiro. 
Mas, então, de forma inesperada, a pandemia chegou e destroçou todos os sonhos. 
Nem pudemos nos despedir. 
E um grande vazio pareceu se instalar em minha alma. 
No entanto, abençoados que fomos com o esclarecimento espírita, recordei das lições do sono e dos sonhos. 
Do sono que nos é dado para o repouso físico, enquanto a alma, parcialmente liberta, transita pelo mundo espiritual, sua verdadeira pátria.
Passei a rogar a Deus que me permitisse reencontrá-la, poucos minutos que fossem.
Minhas noites sempre foram povoadas de sonhos. 
E, foi assim, que numa madrugada dessas, você veio ao meu encontro.
Mal adormecera e senti a sua presença. 
Você parecia mais jovem. 
Disse-me que estava bem e ali ficamos, de mãos dadas, por tempo que não sei dimensionar, a conversar, a amenizar a dor da ausência de tantos meses. 
Sei que conversamos muito, disse-lhe como ocupo os meus dias, contou-me de suas experiências na vida espiritual. 
Não recordo tudo que dissemos, nem o que fizemos. 
Porém, quando a manhã me despertou, acordei com a sensação de um grato presente. 
Senti-me leve, feliz como há muito não me sentia. 
Agradeci a Deus o ter despertado mais uma vez, para a vida que ainda me resta a viver, e o desejo fazer com muita dignidade, aproveitando cada precioso dia. 
Agradeci a Deus essa maravilha com que nos presenteou. 
As horas intensas de trabalho, de estudo, de construção e aquelas para o refazimento das energias físicas, enquanto dorme nosso corpo. 
Ao mesmo tempo, essa possibilidade de adentrarmos o mundo espiritual, de onde viemos todos, e ir ao encontro de quem precisou partir. 
Como se pode descrever a alegria de um reencontro de almas? 
Como se pode descrever os sentimentos que nos tomam por inteiro, quando reencontramos um amor tão amado? 
Nosso desejo é que se eternizem aqueles momentos. 
Mas, toda alegria é justamente inédita, especial, porque não é perene. 
A vida nos ensina isso. 
São momentos que passam. 
Momentos que podemos bem aproveitar ou somente lamentar. 
A escolha nos pertence. 
Agradeço a Deus por ter estado com você, pelo aconchego, pelo reviver do seu carinho. 
Agradeço a Deus o despertar no corpo, mais um dia, onde ainda me aguardam tarefas a realizar e pessoas a servir. 
Oro e aguardo. 
Quem sabe, em algum outro momento, em que minha alma esteja leve, a saudade intensa, 
Deus nos permita um novo reencontro. 
Viveremos assim: você lá e eu cá, atendendo os próprios deveres. 
Até breve, meu amor! 
Redação do Momento Espírita. 
Em 24.5.2021.

domingo, 23 de maio de 2021

O FRIO QUE VEM DE DENTRO

Conta-se que seis homens ficaram presos numa caverna por causa de uma avalanche de neve. Teriam que esperar até o amanhecer, para receber socorro. Cada um deles trazia um pouco de lenha e havia uma pequena fogueira, ao redor da qual eles se aqueciam. Eles sabiam que, se o fogo apagasse, todos morreriam de frio, antes que o dia clareasse. Chegou a hora de cada um colocar sua lenha na fogueira. Era a única maneira de poderem sobreviver. 
O primeiro homem era racista. 
Ele olhou demoradamente para os outros cinco e descobriu que um deles tinha a pele escura. Então raciocinou consigo mesmo: 
-Aquele negro! - Jamais darei minha lenha para aquecer um negro. 
E guardou-a, protegendo-a dos olhares dos demais. 
O segundo homem era um rico avarento. 
Ele estava ali porque esperava receber os juros de uma dívida. Olhou ao redor e viu um homem da montanha que trazia sua pobreza no aspecto rude do semblante e nas roupas velhas e remendadas. Ele calculava o valor da sua lenha e, enquanto sonhava com o seu lucro, pensou: 
-Eu, dar a minha lenha para aquecer um preguiçoso? Nem pensar. 
O terceiro homem era negro. 
Seus olhos faiscavam de ira e ressentimento. Não havia qualquer sinal de perdão ou de resignação que o sofrimento ensina. Seu pensamento era muito prático: 
-É bem provável que eu precise desta lenha para me defender. Além disso, eu jamais daria da minha lenha para salvar aqueles que me oprimem. 
E guardou suas lenhas com cuidado. 
O quarto homem era um pobre da montanha.
Ele conhecia mais do que os outros os caminhos, os perigos e os segredos da neve. Esse pensou: 
-Esta nevasca pode durar vários dias. Vou guardar minha lenha. 
O quinto homem parecia alheio a tudo. 
Era um sonhador. Olhando fixamente para as brasas, nem lhe passou pela cabeça oferecer a lenha que carregava. Ele estava preocupado demais com suas próprias visões (ou alucinações?) para pensar em ser útil. 
O último homem trazia nos vincos da testa e nas palmas calosas das mãos os sinais de uma vida de trabalho. Seu raciocínio era curto e rápido.
-Esta lenha é minha. Custou o meu trabalho. Não darei a ninguém, nem mesmo o menor dos gravetos. 
Com estes pensamentos, os seis homens permaneceram imóveis. A última brasa da fogueira se cobriu de cinzas e, finalmente apagou. No alvorecer do dia, quando os homens do socorro chegaram à caverna encontraram seis cadáveres congelados, cada qual segurando um feixe de lenha. Olhando para aquele triste quadro, o chefe da equipe de socorro disse: 
-O frio que os matou não foi o frio de fora, mas o frio de dentro. 
 * * * 
Não deixe que a friagem que vem de dentro mate você. 
Abra o seu coração e ajude a aquecer aqueles que o rodeiam. 
Não permita que as brasas da esperança se apaguem nem que a fogueira do otimismo vire cinzas. 
Contribua com seu graveto de amor e aumente a chama da vida onde quer que você esteja. 
Redação do Momento Espírita, com base em texto de autoria desconhecida. 
Em 5.1.2017.

sábado, 22 de maio de 2021

FRIO DIFERENTE

Conta-se que, certa noite, a borboleta azul passou pelo jardim e viu uma margarida a tremer de frio. Zelosa, foi ao quarto de Ana Maria e lhe disse o que estava acontecendo. A menina levantou da cama, calçou seus chinelos, agasalhou-se e foi buscar o vaso onde estava plantada a margarida. Colocou o vaso sobre a mesinha de cabeceira, olhou para a flor e lhe desejou boa noite. 
-Aqui você não deverá sentir frio. Meu quarto é bem quentinho, durma bem. 
Mal se deitara, ouviu um barulhinho estranho. Abriu os olhos e ficou quieta, escutando. O que seria? Logo, deu-se conta: era o vaso balançando porque a margarida continuava tremendo. A solução era aquecê-la. Ana Maria tirou o casaquinho da sua boneca e, com cuidado, vestiu a flor. 
- Durma e sonhe com os anjos. 
Desejou a menina, deitando a cabeça no travesseiro e acomodando-se debaixo das cobertas. Mas, quem sonhou com os anjos foi ela mesma. A margarida continuou a tremer. Não demorou muito para que, com o barulhinho, Ana Maria despertasse outra vez. 
-Ainda tremendo? Acho que você precisa de uma casa. 
Pensou a garota. Olhou ao redor e viu a caixa de papelão onde guardava seus brinquedos. Retirou todos eles, colocou a caixa em pé e acomodou a margarida dentro dela. Quando estava quase adormecendo, ouviu outro barulhinho. Era a margarida tremendo. Ana Maria se levantou e ficou olhando para a flor. De repente, lhe acudiu um pensamento. Ela estalou os dedinhos e falou: 
-Já sei o que é! 
Então, encostou suas mãozinhas no caule da margarida e beijou com muito carinho as suas pétalas. De imediato, a flor parou de tremer. E ambas dormiram muito bem a noite toda.
 * * * 
A história é para crianças mas encerra grande ensinamento. 
Quantas criaturas andam pelo mundo sentindo o frio do desamor. 
O amor é a alma da vida e ninguém consegue viver sem amor. 
Da mesma forma que as flores perecem sem os beijos do sol, as carícias do orvalho e o envolvimento das gotas de chuva, as vidas sem amor igualmente murcham. 
Por isso, encontramos, pelas estradas do mundo, pessoas tristes, pessoas amargas, pessoas que perderam o viço e a alegria de viver. 
Basta, no entanto, que demonstrações de afeto as envolvam, para que lhes retorne o sorriso e o brilho no olhar, exatamente como a planta que recebe a bênção da chuva, após período de seca. 
São comuns as notícias de bebês de saúde frágil vencerem a luta pela vida, graças ao amor de que são objeto. 
Amor de pais, de irmãos, de médicos e enfermeiras. Idosos que são abandonados pelos familiares, mergulham em tristeza, perdendo o gosto por quase tudo. 
E a terapia mais genial se chama amor. Amor que se traduz em atenção, em um aperto de mão, um sorriso, um abraço, que os faz como que reviver. 
Tudo isso é muito natural se considerarmos que fomos gerados por amor, e dele necessitamos para nossa vitalidade. 
E, esse mesmo Pai que nos criou, dispôs em cada filho Seu essa possibilidade de amar, essa força que se renova sem cessar e enriquece, ao mesmo tempo, aquele que dá e aquele que recebe. 
Experimentemos o amor. 
Redação do Momento Espírita, com base no livro A margarida friorenta, de Fernanda Lopes de Almeida, ed. Ática. 
Em 13.8.2014.

sexta-feira, 21 de maio de 2021

CONSOLANDO SEMPRE

Vivemos na Terra dias de graves dificuldades, especialmente agravadas pela pandemia que se abateu sobre o planeta, desde o primeiro semestre de 2020. 
Mudanças de toda ordem aconteceram. 
Pessoas adoeceram. 
Pessoas morreram. 
Pessoas em luto choram a partida de seus entes queridos. 
Pessoas conseguiram driblar o vírus cruel, mas sobrevivem com sequelas, que lhes atormentam as horas. 
Pessoas perderam seus empregos e não encontram solução para os problemas que se avolumam. 
São dias de muita dor para as almas, que se encontram sobre a Terra, nesta conjuntura histórica. 
Mas, ao mesmo tempo, há muitas pessoas fazendo o bem e procurando levar consolo àqueles que sofrem. 
* * * 
O vocábulo consolo tem sua origem na língua latina, da junção de duas palavras: com, que significa junto, e solari, que significa suavizar, e também deriva da ideia de solo, chão. Isso quer dizer que consolar é buscar amenizar a dor do outro ou, dar-lhe um chão. 
É comum, na linguagem popular, quando alguém recebe uma notícia impactante, dizermos que a pessoa está sem chão. 
Consolar é oferecer esse chão. 
Levar aos nossos irmãos uma base sólida construída a partir dos ensinos cristãos. 
Pavimentar esse solo com os valores da bondade, da esperança e do amor. 
É levar o acolhimento àquele que sofre, com palavras, ideias, sentimentos.
Com a nossa presença, mesmo que seja virtualmente. 
A situação pandêmica que vivemos não nos permite, muitas vezes, estarmos fisicamente presentes com aqueles que queremos ajudar, aqueles pelos quais nutrimos afeição. Mas, podemos estar juntos de forma virtual, graças aos abençoados meios tecnológicos. 
Jesus, nosso Modelo e Guia, consolou muitas pessoas enquanto esteve entre nós. Acalentou aque les que sofriam dores morais. Levou alívio àqueles que padeciam ante doenças físicas. Através de suas palavras, semeou esperança e reconforto a muitos desalentados. Acolheu, com Seu olhar e com Seus braços, os que se encontravam caídos. Foi Ele quem nos legou o ensino precioso: 
-Bem-aventurados os aflitos, porque eles serão consolados. 
E nos acenou com seu acolhimento amoroso: 
-Vinde a mim, vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei. 
É a promessa de que todos seremos consolados. 
Consolar não é tirar a dor que o outro está sentindo. 
Consolar é buscar o entendimento das razões do sofrimento. É partilhar da fé no amor de Deus. 
É possibilitar a compreensão sobre a vida futura. 
É propiciar o saber de que as Leis Divinas são perfeitas. 
Consolar é semear o chão do outro com estímulos para a resignação, a fé, a calma e a coragem. 
É possibilitar a certeza de que tudo passa, nesta vida. 
Nada é para sempre. 
Todos podemos nos tornar esses consoladores que transmitem a renovação do bom ânimo. 
Todos temos o poder de pronunciar a palavra que conforta, anima, a quem já está quase desistindo da vida. 
Pensemos nisso e não deixemos de oferecer consolo, hoje, agora, enquanto a necessidade se faz presente. 
Redação do Momento Espírita, com transcrição do Evangelho de Mateus, cap. 5, vers. 4 e cap. 11, vers.28. 
Em 21.5.2021.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

O PALÁCIO MARAVILHOSO

Conta-se que, certa vez, um rei desejou realizar uma viagem a uma região longínqua, pobre e triste, árida e sem conforto. A um dos seus ministros determinou que fosse à frente e construísse um magnífico palácio, com largas varandas de marfim e pátios floridos, para que nele se pudesse hospedar, com luxo e muito conforto. Partiu o ministro, dias depois, em uma caravana, com numerosos camelos carregados de peças de ouro. Ao chegar à cidade, ficou desolado com o estado de abandono em que se achava o povo. Havia crianças famintas e centenas de infelizes, morrendo de inanição. Os quadros de miséria e sofrimento se desenrolavam, a cada passo, torturando o coração do poderoso ministro. Levado por um impulso irresistível, em vez de executar a ordem do rei, resolveu investir a riqueza que trazia, beneficiando a infeliz população. Mandou construir abrigos para os desamparados. Distribuiu mantimentos entre os mais necessitados. Determinou que todos os enfermos fossem, sem demora, medicados e forneceu pão aos que padeciam fome. Ao fim de alguns meses, notava-se uma transformação total na localidade. Os homens haviam voltado ao trabalho e por toda a parte reinava a alegria. As crianças brincavam nos pátios e as mulheres cantavam nas portas das tendas. Quando o rei chegou para sua visita, foi recebido por uma grande manifestação de júbilo da população. Flores eram jogadas à sua passagem, aplausos se sucediam por onde passava. 
-Sinto-me feliz – confessou ele – por saber que sou sinceramente estimado pelos meus súditos. 
No entanto, ao desejar se acomodar no palácio que encomendara, ouviu do ministro que não havia palácio algum. Mesmo sabendo que, por ter desobedecido a uma ordem direta do rei, seria condenado à morte, não ocultou a menor parcela da verdade. Principiou, quase entre lágrimas, a descrever a miséria em que encontrara o povo. Confessou, de joelhos, que, penalizado diante de tanto sofrimento, resolvera dispor dos recursos que lhe haviam sido confiados para mudar o triste panorama. Reconhecia que o que fizera caracterizava um abuso de confiança. E concluiu que aguardava o castigo de que se acreditava merecedor, pela transgressão cometida. Para sua surpresa, o rei, que o ouvira atentamente, ordenou:
-Levante-se, meu amigo. Vejo que seu trabalho é responsável pela edificação do mais belo dos palácios que já conheci. Vejo as torres cintilantes nas fisionomias alegres das crianças; admiro as largas varandas de marfim no sorriso radiante dos meus súditos; reconheço os pátios floridos no olhar de gratidão das mães felizes. Como é majestoso e belo o palácio que a sua bondade ergueu nestas terras. 
* * * 
Somos responsáveis pela riqueza que circula em nossas mãos, pela que nos é confiada, seja representada por recursos materiais ou por aptidões profissionais. 
Podemos, pelo uso dos nossos talentos, alterar facetas do mundo, distribuindo benefícios e alegrias. 
Pensemos nisso e realizemos o nosso melhor investimento. 
Redação do Momento Espírita, com base em conto, do livro Os melhores contos, de Malba Tahan, ed. Record. 
Em 20.5.2021.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

A FRIA NOITE DA SAUDADE

Eles cresceram habituados aos holofotes, à acirrada vigilância de fotógrafos e repórteres, sempre a postos para captar uma cena inusitada. E tudo virava notícia: um deles, criança, demonstrando cansaço em determinada cerimônia ou um pequeno gesto de enfado, até os abraços carinhosos da mãe. Da mãe, eles recordam com especial carinho. Lembram-se de sua ternura para com eles, de como se tornava criança para desfrutar das suas brincadeiras e da sua risada espontânea. 
Uma mulher que parecia ter surgido de um conto de fadas. 
Uma mulher que o mundo postou com uma auréola. 
Uma mulher que se serviu de sua posição, de sua condição real para ajudar a muitas pessoas. 
Falamos dos príncipes William e Harry, e da princesa de Gales, Diana, que desencarnou em 1997. 
Adultos, eles recordam dos dias felizes passados com ela, também da tristeza que os abateu, quando da separação dos pais. 
Lembram de como passaram a ir de um lado a outro, ora desfrutando da companhia do pai, ora da companhia da mãe. 
A mãe que, embora distante, não deixava de lhes telefonar, de lhes mandar cartões, sempre descontraídos, alegres. 
Recordam, especialmente, que estavam em férias em Balmoral, num dia alegre de convívio com os primos, quando foram chamados para atender a um telefonema. 
Era Diana a lhes dizer das suas saudades, a lhes indagar de como estavam, o que faziam. 
Coisas próprias de mãe. 
Ambos, no entanto, estavam ansiosos por retornarem às brincadeiras e atenderam ao telefonema com certa indiferença. 
Mal sabiam eles que seria a última vez que ouviriam a voz de sua mãe.
Sim, porque naquele 31 de agosto, ela morreu, em Paris, de forma trágica.
William tinha quinze anos e Harry doze. 
Ficaram estarrecidos ao observarem aquele verdadeiro mar de flores, deixados na residência londrina da princesa, o palácio de Kensington.
Harry se perguntava: 
-Como essas pessoas, que não conheceram minha mãe, podem chorar e estarem mais tristes do que eu? 
Somente o tempo o faria se dar conta do que acontecera: não teria mais os abraços dela, nem seus beijos, nem sua ternura para confortar e alegrar a sua vida. 
Ela se fora para um outro mundo, para outra realidade. 
E o que ficou foi somente saudade. 
Uma imensa e dolorida saudade. 
Ambos, relembrando aquele telefonema derradeiro, lamentam: 
-Se soubéssemos que aquela seria a última vez, teríamos alongado muito a conversa... 
* * * 
De um modo geral, somos assim. 
Enquanto estamos ao lado dos que amamos, enquanto lhes desfrutamos da companhia, do riso, da palavra, todos os dias, tudo nos parece natural, normal, eterno. 
Esquecemos de que tudo nesta vida é transitório. 
Inclusive a presença dos nossos amores. 
De repente, eles podem dizer adeus e embarcar para a viagem de retorno ao lar verdadeiro, a Espiritualidade. 
Por isso, vivamos intensamente ao lado deles. 
Desfrutemos de cada momento. 
Não percamos oportunidade de lhes dizer que os amamos. 
E os abracemos, beijemos, aconcheguemos junto ao peito. 
Então, quando eles se forem, teremos muitas e ternas lembranças para aquecer a fria noite da nossa saudade. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 4.12.2017.

terça-feira, 18 de maio de 2021

MILAGRES EM TODO LUGAR

Não há palavra capaz de dizer quanto eu me sinto em paz perante Deus e a morte. Escuto e vejo Deus em todos os objetos, embora de Deus mesmo eu não entenda nem um pouquinho... 
Ora, quem acha que um milagre é alguma coisa demais? 
Por mim, de nada sei que não sejam milagres... 
Cada momento de luz ou de treva é para mim um milagre, milagre cada polegada cúbica de espaço. 
Cada metro quadrado de superfície da Terra está cheio de milagres, e cada pedaço do seu interior está apinhado deles. 
O mar é para mim um milagre sem fim: os peixes nadando, as pedras, o movimento das ondas, os navios que vão com homens dentro. 
* * * 
Walt Whitman, autor destes versos, confessa que não entende Deus, mas O sente profundamente nas coisas da vida. 
Neste poema, intitulado Milagres, ele vai descrevendo detalhada e apaixonadamente, tudo que lhe mostra com clareza a presença desses milagres. Por vezes são coisas tão simples, como sentar à mesa e fazer uma refeição com sua mãe, ou sentar debaixo de uma árvore com alguém que ama, ou ainda observar os animais se alimentando no campo. O poema é uma descrição de dezenas de imagens, situações e fatos, que ele considera como milagres. 
Uma narração arrebatadora de alguém que consegue, simplesmente, perceber as belezas da vida. 
Um encontro de uma alma com a riqueza do singelo. 
Contemplação enlevada do que para muitos já passa despercebido, sem ser notado... 
Onde foi parar nossa sensibilidade para essas coisas? 
Onde foi parar nosso encantamento com a vida? 
Por que não enxergamos mais os milagres que cintilam no véu da noite, e que são cores sob o astro rei do dia? 
Uma série de anúncios de televisão mostrou algo muito interessante. 
Em um deles, mostrava muitas pessoas fechadas num escritório, trabalhando. 
Uma delas então, começava ir, de sala em sala, dizendo algo como: 
-Venham ver! É incrível! 
A notícia se espalhou e todos começaram a sair correndo de seus postos de trabalho para irem em direção a uma grande janela que havia no prédio. Quando finalmente todos chegaram lá, estavam anestesiados encantados com a imagem: era um pôr do sol. 
E diziam: 
-Nossa, um pôr do sol, que lindo! Inacreditável! 
Possivelmente, há tanto tempo não viam o sol se pôr, que haviam esquecido quanto era belo. 
Acostumamos com muitas coisas e deixamos de perceber o quanto são grandiosas. 
Acostumamo-nos com as pessoas, e esquecemos de dizer o quanto são importantes para nós. 
Acostumamos com tudo que temos, e nem temos mais tempo de agradecer... 
Precisamos voltar a nos surpreender com a vida, com as pessoas, conosco mesmo. 
Quantos milagres acontecendo neste exato instante? 
Quanto mais pudermos identificá-los e senti-los, mais próximos poderemos estar deste estado d´alma que pode afirmar: 
-Não há palavra capaz de dizer quanto eu me sinto em paz perante Deus e a morte. 
Ora, quem acha que um milagre é alguma coisa demais? 
Por mim, de nada sei que não sejam milagres... 
Redação do Momento Espírita, com base no poema Milagres, de Walt Whitman, do livro Folhas de Relva, ed. Brasiliense. 
Em 18.5.2021.

segunda-feira, 17 de maio de 2021

FREI KOLBE

MAXIMILIAN KOLBE
O horror da guerra se espalhava por sobre a Europa... No início do outono de 1939, os nazistas tomaram a Polônia. Num vilarejo perto de Varsóvia viviam setecentos e sessenta e dois padres e irmãos leigos, no maior mosteiro do mundo. Dentre os padres, um se destacou pela grandeza de sua alma e pelo amor ao Cristo. Seu nome: Maximilian Kolbe. 
Os soldados de Hitler logo chegaram ao mosteiro. Frei Kolbe e os demais padres foram levados, mas logo retornaram ao mosteiro com uma condição: teriam que pregar somente o que Hitler ordenasse. Deveriam manter os poloneses calados, ignorantes e embrutecidos. 
Mas Maximiliam Kolbe era um padre diferente. 
Continuou pregando o que sempre pregara: as lições de Jesus. 
Não demorou muito e recebeu, secretamente, a informação de que seu nome constava na lista da Gestapo: estava para ser preso. 
Kolbe não tentou fugir. 
Temia o que poderia acontecer com os seus irmãos, caso não estivesse ali, quando os soldados o buscassem. 
Às nove horas da manhã do dia 17 de fevereiro de 1941, Frei Kolbe foi preso. 
Após passar vários meses detido nas prisões nazistas, foi considerado culpado pelo crime de haver publicado materiais impróprios e recebeu a condenação: remanejamento para Auschwitz. 
Logo que chegou ao campo de concentração, em maio de 1941, um oficial da SS informou-lhe que a expectativa de vida dos padres ali era cerca de um mês. Frei Kolbe teve que se submeter ao trabalho forçado, aos maus tratos, à má alimentação, e a todo tipo de humilhações. 
Numa manhã, um dos prisioneiros do Quartel 14 não estava presente à hora da chamada matinal. 
Havia fugido e não fora encontrado. 
Como era costume naquele campo, para cada um que fugisse, dez morriam, em represália. 
O comandante responsável dispensou os demais e ordenou que os prisioneiros do Quartel 14 se perfilassem. 
Era onde o padre Kolbe estava. 
E, examinando um a um pelos dentes, como se fossem cavalos, mandava que os velhos e doentes dessem um passo à frente. 
Um dos escolhidos não se conteve e gritou: 
-Minha mulher e meus filhos, que irão fazer? 
-Tirem os calçados, gritou o comandante, ignorando o desespero daquele homem. 
Deveriam marchar para a morte descalços. 
Frei Kolbe, desafiando o oficial, saiu de forma e adiantou-se até ele. 
-Alto! Gritou irado. O que quer este polonês comigo? 
-Eu gostaria de morrer no lugar de um condenado, respondeu Kolbe. 
-Por quê? - Indagou o comandante. 
-Porque estou velho e fraco, já não sirvo mais para coisa alguma. 
-Em lugar de quem você quer morrer? 
-No lugar daquele ali. 
Respondeu o padre, apontando para o homem que, aos prantos, temia pela mulher e os filhos. Pela primeira vez, o comandante olhou Kolbe nos olhos: 
-Quem é você? 
Perguntou. 
O prisioneiro, com brilho no olhar, fitou-o e respondeu: 
-Sou um padre. 
-Um padre! 
Riu, satisfeito. Olhou para o assistente e consentiu. Este riscou o número do pai de família e o substituiu pelo de Frei Kolbe. 
-Tirem as roupas. 
Gritou o oficial. 
-Cristo morreu despido na cruz, - pensou Frei Kolbe, enquanto tirava a roupa. É justo que eu sofra como ele sofreu. 
Do lado de fora do cubículo em que foram jogados para morrer de fome, se ouvia um cantarolar baixinho. Era o pastor generoso que conduzia os demais através das sombras do vale da morte. 
Para que os prisioneiros não morressem, e outros condenados fossem ocupar o local, um médico foi chamado para aplicar-lhes injeção letal. 
Frei Kolbe, qual esqueleto vivo recostado na parede, portava nos lábios um sorriso e, com os olhos fixos nalguma visão distante, estendeu o braço.
* * *
Deus, que é todo poder e bondade, jamais abandona Seus filhos. 
Mesmo sob os céus cinzentos da guerra cruel, uma estrela luzia para iluminar a escuridão da ignorância e alentar os corações macerados pela brutalidade. 
Seu nome: Maximiliam Kolbe. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 17.4.2017.

domingo, 16 de maio de 2021

FRATERNIDADE

Desde que o Cristianismo espalhou-se pelo mundo, o grande desafio foi demonstrar nossa condição de discípulos de Jesus. 
Organizamos diversos concílios para estabelecer dogmas e pontos fundamentais de uma doutrina que desejávamos estruturar, esquecidos de que o Mestre fez da natureza Seu templo e dos amigos a Sua igreja. Promovemos guerras e conquistas, arrasando e impondo medo naqueles que não se dobravam à nossa fé, embora Ele nos tenha prescrito o amor aos inimigos. Disputamos Seu sepulcro, como se fora troféu a ser conquistado. 
No entanto, Ele nos ensinara que Seu reino não é deste mundo. 
Criamos hierarquias, distinções, cargos religiosos, cerimônias e celebrações, em nome dEle, muito embora Suas ações tenham se pautado na simplicidade. 
Construímos belíssimas e imensas edificações em Seu nome, sem lembrar de que Ele afirmara não ter uma pedra para repousar a cabeça.
Inventamos suplícios, impusemos a tortura, acendemos fogueiras para que uma fé fosse imposta, mesmo que de aparência. 
Não obstante, Ele nos alertara para não sermos sepulcros caiados por fora, guardando podridão por dentro. 
Exemplificou, em palavras e atos, que viera para servir. 
E aquele que desejasse ser o maior, no reino que Ele anunciava, deveria ser o servo de todos. 
* * * 
Prosseguimos, na atualidade, alimentando cismas, divisões, segmentando e segregando aqueles que fogem de nossos padrões, referências ou entendimento, quando falamos de fé, comportamento e religião. Porém, o ensinamento de Jesus é claro: os Seus discípulos seriam conhecidos por muito se amarem. 
Nenhuma outra condição. Simplesmente amor. 
Nenhuma religião será capaz de nos conduzir à felicidade se abrirmos mão desse preceito ensinado por Jesus. 
Nenhuma doutrina poderá nos plenificar, se esquecermos daquele que está ao nosso lado, de quem caminha conosco. 
O Cristianismo é doutrina de ação e de relação, nos ensinando a agir em favor do outro, sem esperar que o mesmo suceda de retorno. 
É o desafio de amar o semelhante, mesmo sendo considerado inimigo e mantendo-se nessa postura sem desejar mudar. 
É doutrina que nos convida a orar por quem nos persegue, sabendo que esses se darão conta da postura equivocada em que ora estagiam, para algum dia, se proporem também a amar. 
Cristianismo é proposta de vida que nos convida a amar e compreender, mesmo aqueles que ainda não possuem condições ou disposição de nos compreenderem. 
É necessário nos exercitarmos no amor ao próximo. 
Compreensão, empatia, abnegação são exercícios que nos marcarão como cristãos. 
Em dias de disputa, de antagonismos ideológicos, políticos ou religiosos, a proposta do Mestre é a mesma. 
Se nos entendemos ou pretendemos nos dizer cristãos, o primeiro e indispensável movimento a ser feito é em direção ao próximo, a fim de aprender a amá-lo. 
Construir em nós o sentimento de fraternidade pura e simples, no amparo de uns pelos outros, sensibilizando-nos pela dificuldade ou carência do outro, de ordem material, emocional ou afetiva. 
Sem isso, nada mais fará sentido. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 14.9.2020.

sábado, 15 de maio de 2021

FRATERNIDADE SEMPRE

CHICO XAVIER
Algumas pessoas se questionam por que os espíritas se dedicam à Assistência e Promoção Social, já que sabem que as pessoas que nascem na pobreza, em tese, estão resgatando débitos do passado. 
A resposta nos parece simples. 
Como cristãos, todos devemos atender aos ensinamentos do Cristo de fazer aos outros o que gostaríamos que os outros nos fizessem. Se é verdade que as pessoas devem resgatar seus débitos junto às Leis Divinas, também o é que devemos ajudar-nos mutuamente. 
Jesus afirmou que são os doentes que necessitam de médicos e não os sãos. 
Assim, quem mais necessita de apoio e fraternidade são aqueles que mais sofrem. 
Jesus ensinou que somos todos irmãos. 
Analisando sob esse ponto de vista, quem de nós, mesmo sabendo que um irmão infringiu as leis, não busca todos os meios de ajudá-lo?
Ademais, quem garante que, pela lei da reencarnação, o sofredor de hoje não é um familiar ou um afeto do ontem? 
O Evangelho de Jesus ensina que devemos amar uns aos outros, como Ele mesmo nos amou. 
Não disse que era para amarmos somente os que são felizes e de nada necessitam. 
Jesus ensina ainda, que tudo o que fizermos aos necessitados, é a Ele mesmo que estamos fazendo. 
Portanto, dar água a quem tem sede, alimento a quem tem fome, agasalho a quem tirita de frio, é obrigação de todo cristão verdadeiro. 
Visitar quem está no cárcere, quem sofre num leito de hospital, nos asilos, manicômios, orfanatos e outros tantos locais de sofrimento, é nosso dever de fraternidade. 
Se pensássemos de maneira diversa, ninguém de nós visitaria um presídio, por exemplo. Pois, em tese, todos os que estão detidos são devedores das leis e estão cumprindo pena. 
Como Deus não quer a morte do pecador, mas o seu soerguimento, que sejamos nós a ajudá-lo a se levantar e prosseguir adiante, em nome do Cristo, a quem dizemos seguir. 
Jesus sempre exemplificou o amor, mesmo que alguns dos Seus seguidores não entendessem o fato de Ele estar com gente de má vida e entre os enfermos de toda ordem. 
Assim, se é verdade que a cada um será dado segundo as suas obras, todos estamos recebendo o que merecemos, mas em nenhum lugar está escrito que não devemos nos ajudar uns aos outros. 
É esse, portanto, o motivo pelo qual devemos envidar esforços para tornar menos áspera a caminhada daqueles que sofrem mais que nós. 
* * * 
”Desprezar a fraternidade de uns para com os outros, mantendo a flama do conhecimento superior, será o mesmo que encarcerar a lâmpada acesa numa torre admirável relegando à sombra os que padecem, desesperados, ou que se imobilizam, inermes, em derredor”. 
Redação do Momento Espírita, com pensamento extraído do verbete Fraternidade do livro Dicionário da alma, de Espíritos diversos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb.

sexta-feira, 14 de maio de 2021

A PARTIDA DE UM AMIGO

Carlos Seris Giese
Fui despertado aos dois minutos da madrugada. Uma amiga noticiava a desencarnação de um amigo, residente em outra cidade. Ele lutava, há meses, contra um câncer terrível, que parecia lhe devorar a intimidade física. Largo tempo permanecera internado para um agressivo tratamento quimioterápico. Retornara para casa. Escrevia-nos dizendo do quanto persistia no fortalecimento moral, graças às preces e ao carinho da esposa, que o assistia, de forma desvelada. Muitas mensagens trocamos nesses meses. Falávamos de tudo e de nada. Buscávamos direcionar o pensamento para o que lhe propiciasse um pouco de alegria, em meio a tanto sofrimento. Ele jamais reclamou. Dizia que razões profundas, tinha certeza, de um pretérito que não lembrava, eram a origem de tudo que o alcançava agora. 
Alguns dias, envolvido pelo trabalho, esqueci do drama do amigo distante. Mas, hoje, pela madrugada, quando soube de sua partida, foi muito interessante. Durante mais de hora, fiquei a recordar todos os momentos em que desfrutei de sua companhia. Eu lhe conheci os filhos pequenos, a esposa. Privei do aconchego do seu lar. Mais de uma vez encontrei seu sorriso e os braços abertos, me aguardando no aeroporto, quando seguia para as atividades doutrinárias, que nos irmanavam. Mesmo quando falava, ele sorria. Um companheiro de trabalho especial. Esposo, pai. Recordei de tantos momentos preciosos. Interessante como funciona a nossa mente. Quando soube de sua partida, agradeci, é verdade, de imediato, a sua libertação, considerando que sofria há dias, pela falência do pulmão, respirando a duras penas. Mas, depois, como numa catadupa de lembranças, tudo foi aflorando. E um filme colorido, maravilhoso foi sendo projetado na mente. Recordei do passeio maravilhoso pelas Cataratas do Iguaçu, das brincadeiras. Lembrei de que, de helicóptero, sua esposa, um dos filhos e eu, sobrevoamos as Cataratas. Poucos minutos. Porém, quando retornamos, lá estava ele a nos aguardar, no local do pouso, acenando e abraçando cada um de nós, como se tivéssemos estado separados por muito tempo. Ele se chamava Carlos. Partiu. Temos a certeza de que foi muito bem recebido na Espiritualidade, por sua postura amorosa, sua fidelidade ao lar, sua dedicação ao trabalho voluntário. Uma pessoa especial. Ele se foi. Depois de todas as lembranças que nos fizeram sorrir, remetemos a ele nossa saudade, nossa ternura e oramos profundamente. 
Ou será que enquanto lembrávamos tantas vivências já não estávamos a ele endereçando nossas melhores vibrações e agradecendo a Deus por termos privado de uma amizade assim generosa? 
Não é estranho que, enquanto nos encontramos a caminho, esquecemos de alguns amigos por horas e até dias? 
Não é estranho que não consigamos recordar os milhares de momentos de convivência? 
No entanto, quando ele parte, tudo vem à tona, nos emocionando, nos levando a sorrir e a chorar. 
Talvez seja essa a forma de o homenagearmos e, mentalmente, acompanhar-lhe a caminhada nos passos iniciais para a Espiritualidade que ele agora respira. 
Amigo Carlos, onde estejas, Jesus seja contigo. 
Redação do Momento Espírita, em homenagem a Carlos Seris Giese, desencarnado na madrugada de 12 de fevereiro de 2021. 
Em 14.5.2021.

quinta-feira, 13 de maio de 2021

NOSSO CHECK-LIST

Um check-list é uma lista de verificação que podemos usar para facilitar a realização de uma atividade. 
Também pode ser usado como uma ferramenta de controle para padronizar processos e alcançar maior eficiência. 
Enfim, ele pode ser utilizado em muitas situações. 
Podemos fazer um check-list de itens necessários para uma viagem ou para verificar o que se faz necessário adquirir, quando formos às compras, no supermercado. 
Pode, igualmente, nos servir quando temos muitas tarefas a serem cumpridas por nós mesmos e pela equipe que nos assessora. 
As empresas se servem de check-list para entregar um serviço em sua completude, enquanto as indústrias o utilizam para checagem de todos os componentes que devem ser incorporados na produção. 
* * *
Particularmente, nós, por vezes, criamos check-list em nossas mentes. É uma lista imaginária das qualidades que gostaríamos de ver nas pessoas que convivem conosco. 
Por exemplo, um check-list das virtudes que sonhamos que tivesse o nosso cônjuge. Listamos, imaginariamente, qualidades como a delicadeza, a gentileza, a brandura, o perdão, o respeito, a responsabilidade e assim por diante. 
Também fazemos um check-list imaginário das virtudes que desejaríamos que nossos filhos fossem portadores: paciência, solicitude, gratidão, organização. 
Fazemos igualmente o dos nossos demais familiares, dos nossos amigos, dos colegas de trabalho. 
Criada a lista fictícia em nossas mentes, passamos a checar o comportamento de cada um a partir dela. 
Verificamos que nosso marido não foi gentil, descumprindo um item importante da lista. 
Nossa esposa não foi paciente, e marcamos o descumprimento de um tópico relevante, que estava listado. 
Nosso filho não organizou seu quarto, e assinalamos a violação de um item da lista que imaginamos. 
Dessa forma, vamos conferindo o comportamento das pessoas que amamos, com as quais convivemos, a partir do nosso check-list mental.
Essa maneira de comparar, de conferir, pode, muitas vezes, nos gerar decepção e mágoas porque o outro não age conforme a lista que elaboramos em nosso íntimo. 
Cada ser é único e devemos respeitar as particularidades de cada um.
Devemos amar o cônjuge, o filho, o amigo como são e não como gostaríamos que eles fossem. Afinal, com certeza, cada um deles tem muitas qualidades que não estão em nossa lista. Jesus nos ensinou a não julgar o nosso próximo. 
Será que, em vez de fazermos o check-list das qualidades que esperamos que o outro tenha, não deveríamos fazer a relação das virtudes que pretendemos desenvolver? 
Podemos elaborar um check-list das virtudes a conquistar para nos tornarmos a pessoa que gostaríamos de ser. Podemos listar todas as qualidades que ainda precisamos aprimorar e inserir outras que desejamos desenvolver. 
Desse modo, após construirmos esse check-list, cabe-nos iniciar os esforços verificando se nossos comportamentos, nossos pensamentos, nossos sentimentos estão de acordo com ele. 
Assim procedendo, estaremos atendendo a proposta de reforma íntima, de renovação individual. 
Isso sim é saudável, louvável e enriquecedor para as nossas vidas.
Redação do Momento Espírita. 
Em 13.5.2021
http://momento.com.br/pt/index.php

quarta-feira, 12 de maio de 2021

FRASES INFELIZES

Você seria capaz de recordar as frases que lhe foram ditas na infância e o influenciaram negativamente? 
Isto é, aquelas frases que fizeram com que você se sentisse mal, quase um zero à esquerda? 
É possível que alguns de nós recordemos de uma ou outra que fizeram a nossa infelicidade infantil. E se as recordamos, ainda hoje, passada a infância e adolescência, é porque verdadeiramente nos marcaram. 
Pois bem. 
Quantas vezes, como pais, dizemos aos filhos aquelas coisas mesmas que tanto mal nos fizeram. 
A frase: 
-Como é que você pode ser tão burro! é uma delas. 
De consequências desastrosas para o autoconceito da criança, põe em dúvida, de forma muito clara, a sua capacidade. Afinal burro está associado ao incapaz, ao que não consegue fazer as coisas direito. Ao duvidar da habilidade do filho, os pais lhe passam a sensação de incompetência, que pode acompanhá-lo para a vida toda. Além do que, se abraçar o conceito, a criança poderá passar a se comportar como tal. Tornar-se, de forma proposital, ainda que inconsciente, o incapaz que sugerem que ela seja. 
A frase é pronunciada nos momentos mais nevrálgicos do relacionamento entre pais e filhos. 
A mãe entra na sala e descobre o pequeno pendurado na janela. Ela já lhe falou, pelas suas contas, mais de mil vezes, para não subir. Assustada, com medo, ela corre, puxa o pequeno para dentro e larga a frase, acrescentando: 
-Já não lhe falei? Você não consegue aprender? 
Melhor do que tal explosão, seria tornar a explicar à criança o perigo que ela corre repetindo aquele gesto. 
Se contarmos até dez, dominarmos o nosso medo, com habilidade poderemos tirar a criança do perigo e lhe dizer: 
-Janela não foi feita para subir. 
Colocamos os limites, sem agredir. Falamos da realidade da janela e dos perigos que ela representa, sem descer à questão da capacidade do pequeno em julgar se pode ou não subir ali sem problema. 
É interessante considerar que todos almejamos que nossos filhos progridam e somos nós mesmos os que lhes colocamos obstáculos, criando-lhes situações plenamente dispensáveis. 
 * * * 
Educar é tarefa que requer esforço desde que nós mesmos ainda estamos um pouco longe de sermos educados. 
Comecemos por nos educar a fim de que a educação dos nossos filhos se dê em clima de segurança, amor e respeito. 
Lembremos que a missão de pais é um dever muito grande, que implica, mais do que pensamos, nossa responsabilidade para o futuro. 
E verifiquemos que Deus deu à criança uma organização débil e delicada, para facilitar a tarefa dos pais, tornando-a mais acessível a todas as impressões. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 04.06.2010.