terça-feira, 13 de abril de 2021

NOSSAS RECORDAÇÕES

DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
RABINDRANATH TAGORE
Em determinadas datas decidimos organizar aqueles papéis que guardamos há muito tempo. Fazemos isso no final do ano, ou durante nossas férias. Ou quando temos necessidade de encontrar algum documento. 
Num desses momentos, Ana decidiu organizar a sua caixa de guardados antigos. Começou por separar uma enorme pilha de documentos. A medida em que cada um deles foi lhe passando pelas mãos, ela acionou o baú das memórias. Ao olhar os papéis de uma internação hospitalar, lembrou do acidente de trânsito que tinha sofrido. Recordou do tumulto na rua, do socorro médico, das dores. Também do atendimento que recebeu, do cuidado dos profissionais no hospital, do carinho da sua família. Aquelas lembranças a fizeram agradecer a Deus pela sua total recuperação, sem nenhuma sequela. Ao separar certidões de nascimento, de casamento e de óbito de familiares, foi reconstruindo em sua mente a vida e os ensinamentos que cada um daqueles entes queridos havia deixado. Lembrou da vida difícil, mas feliz de seus avós. Lembrou do trabalho árduo e dedicado do seu pai. De todas as lições de honestidade e integridade que ele lhe transmitira ao longo da vida. Sentiu uma imensa saudade... Ao mesmo tempo, profunda gratidão por ter convivido e aprendido tanto com esses familiares e se dar conta do quanto eles foram importantes para a formação do seu caráter. Quando apanhou papéis de lugares onde havia morado, a memória lhe falou dos bons momentos vividos em cada localidade. Recordou sua infância, suas amigas, as brincadeiras que faziam, o cheiro das plantas, a sensação de liberdade e alegria. Depois, foram as lembranças da adolescência, dos colegas de escola, das músicas que ouvia, das noites olhando o céu estrelado. E foram se sucedendo as recordações felizes que fizeram com que Ana agradecesse a Deus por todas as experiências vivenciadas. As horas da tarde foram consumidas na leitura, separação de papéis e lembranças e mais lembranças. Percebeu quantas coisas boas e outras, que tinham parecido ruins, mas que, ao recordar, após tantos anos, verificou terem lhe ensinado lições importantes. 
* * * 
Somos o resultado da somatória de todas as experiências que vivemos. Importante saber olhar ao nosso redor e verificar quantas pessoas contribuíram para nossa formação e valorizar essa rede, que tecemos pelos vínculos que criamos em nosso caminhar. 
Tem razão o poeta ao escrever que a vida do homem é feita de etapas, como as do ano são divididas em estações. Há beleza especial em cada fase e tem finalidade própria cada ocasião. Mudam as cores, passam os perfumes, vão-se os ritmos e ficam as lições. Sucedem-se rápidas com as suas canções e flores, as suas tristezas e cores cinzas, os seus crepúsculos e amanheceres, todos os instantes que abrem e fecham as portas dos acontecimentos. 
Essa dádiva dos deuses, que é viver, torna-se a semente da abundância do tempo, sem limite de tempo, que se conquista ao morrer, quando bem se passou cada etapa na condição de sábio aprendiz da verdade.
Aprendamos com o poeta... 
Redação do Momento Espírita, com transcrição de versos do Poema XXXVII, do livro Estesia, pelo Espírito Rabindranath Tagore, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 13.4.2021.

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