Maurice Druon |
- Você sabe: há semente por toda parte não só no chão, mas nos telhados das casas, no parapeito das janelas, nas calçadas das ruas, nas cercas e nos muros.
Milhares e milhares de sementes estão ali esperando que um vento as carregue para um jardim ou para um campo. Muitas vezes elas morrem entre duas pedras, sem ter podido transformar-se em flor.
Mas, se um polegar verde encosta numa delas, esteja onde estiver, ela brota no mesmo instante.
Então, um dia, Tistu, em seus oito anos, foi conhecer a cadeia da cidade. Viu uma enorme parede cinzenta sem uma única janela.
Depois, outras paredes com janelas cheias de grades pretas. Alguém lhe explicou que os pedreiros haviam colocado horríveis pontas de ferro por toda parte para que os prisioneiros não fugissem.
Explicaram também que os prisioneiros eram homens maus e que os colocavam naquele lugar para curar a sua maldade. Quer dizer, tentavam ensinar-lhes a viver sem matar e roubar.
Tistu viu, atrás das grades, prisioneiros caminhando em roda, de cabeça baixa e sem dizer uma palavra.
Pareciam infelizes, com a cabeça raspada, as roupas listradas e os sapatos grosseiros.
-O que estão fazendo? Perguntou.
E lhe responderam que eles estavam em recreio.
Imagine, pensou o menino, se o recreio deles é assim, o que não serão as horas de aula. Esta prisão é muito triste, por isso é que eles querem fugir.
Naquela noite, às escondidas, Tistu foi até a cadeia e colocou o seu polegar verde por toda a parede da prisão. Colocou no chão, no ponto em que a parede se encontrava com a calçada, nos buracos entre as pedras, ao pé de cada haste das grades.
No dia seguinte, quando os habitantes da cidade se levantaram, descobriram que a cadeia da cidade se transformara em um castelo de flores.
O muro estava coberto de rosas. As trepadeiras subiam pelas grades e caíam de novo. As pontas de ferro foram substituídas por cactos.
Os prisioneiros, como já não viam grades em suas celas, nem pontas de ferro nos muros, se esqueceram de fugir.
Os resmungões pararam de reclamar, entusiasmados com a beleza do lugar.
Os maus perderam o costume de brigar e todos tomaram gosto pela jardinagem. Logo, logo, a cadeia da cidade era apontada como modelo no mundo todo.
Nenhuma fuga. Trabalho e disciplina, ordem e educação era o que nela se via. Os habitantes da cidade descobriram, enfim, que as flores não deixam o mal ir adiante.
* * *
Os malfeitores, aqueles que nos roubam a paz, são credores do perdão e da misericórdia de Deus, tanto quanto nós mesmos.
São, também, nossos irmãos, como o melhor dos homens.
Suas almas, transviadas e revoltadas, foram criadas, como nós, para se aperfeiçoar.
A caridade prescreve que os devemos auxiliar a sair do lameiro e, se não podemos transformar as grades em trepadeiras e as pontas de ferro em roseirais, podemos lhes dirigir as nossas preces, a fim de que o arrependimento lhes chegue e eles desejem se melhorar.
Filhos de Deus, como nós, são credores da nossa compaixão e merecem tratamento humanitário e condições para que possam se reabilitar.
Afinal, poderiam ser nosso pai, nossos irmãos, nossos amigos, se esses tivessem, em algum momento, transgredido as leis.
Redação do Momento Espírita, com base nos caps. 6, 7 e 9 do livro O
menino do dedo verde, de Maurice Druon, ed. José Olympio e no item 14,
do cap. XI do livro O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. Feb.
Em 14.03.2012.
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