quinta-feira, 30 de abril de 2020

ADOÇÃO DE AMOR

JOANA DE ÂNGELIS
E
DIVALDO PEREIRA FRANCO
Ela tinha apenas quatro anos quando, atravessando uma rodovia, foi atropelada por um caminhão. O irmãozinho, que com ela estava, morreu. Ela ficou no hospital por dias, semanas, meses. Ninguém a veio reclamar. E Cota acabou ficando ali, no hospital. Ensinaram-lhe o que ela podia assimilar e, com o tempo, passou a auxiliar em alguns serviços. Passaram-se mais de sessenta anos. Sem família, sem lar. Nunca soube o que era chamar alguém de mãe, de irmão. Então, uma funcionária, recém contratada, em determinada entidade hospitalar, a conheceu e dela se compadeceu. As informações eram de que, naqueles dias, a administração hospitalar procurava um lar provisório para aquela senhora. A ideia seria, na sequência, encontrar lugar apropriado, que lhe pudesse oferecer amparo. Gláucia, a funcionária, se dispôs a levá-la para casa. Afinal, seria por pouco tempo. Mas, o pouco se transformou em meses, que foram se somando e somando... Afinal, Gláucia entendeu que aquela senhora não sairia de seu lar. Então, tomou certas providências. Primeiro, conseguir uma certidão de nascimento. Depois, entrar com um pedido de adoção. Estranhamente, descobriu que ela, com pouco mais de trinta anos, não poderia, de forma alguma, adotar uma idosa de setenta anos. Legalmente, o que conseguiu foi algo como uma autorização para que Cota resida com ela. Cota tem a mentalidade de uma criança. Uma criança que viveu em instituição muitas décadas e trazia hábitos ruins, exigindo esforço redobrado de Gláucia para reeducá-la. O que surpreende nessa senhora é que passou a utilizar a palavra mágica mãe, com toda alegria. Ante qualquer dificuldade, como qualquer criança, chama pela mãe, Gláucia. Mãe - quem a cercou de carinho e a protegeu. Quem lhe ofereceu um lar. Quem a ensinou que o amor existe, acima e além dos laços de sangue. Um anjo que chegou em sua vida. Que razões terá Deus para ter unido essas criaturas? Somente Ele o sabe. O que nós, os que as contemplamos, percebemos é que ali existe amor. Uma jovem se torna mãe de uma idosa. Algo inusitado realmente. Normalmente, nos tornamos mães e pais de crianças, desde o berço. Ou as acolhemos, depois de terem vivido alguns anos. Quem adota, sempre tem uma cota de amor, de abnegação. Mãe de adoção é uma alma que sustenta outra alma. Vida que ampara outra vida. Uma mulher extraordinária que dá tudo quanto o amor pode oferecer e diz, com todas as letras e com todos os gestos, que a maternidade do coração é muito mais vigorosa do que a do corpo. Deus abençoe a todos os corações que se abrem para acolher os filhos da carne alheia, de raças diferentes, de idades diversas. Se bem pensarmos podemos nos considerar todos filhos adotivos uns dos outros, pelo corpo ou sem ele. Isso porque a paternidade verdadeira é uma só. Procede de Deus, o Genitor Divino que nos criou para a glória eterna. Que extraordinária missão dos que nos acolhem, filhos da alma, filhos da carne. Deus abençoe os nossos pais, estejam conosco ou já tenham se transferido para a Espiritualidade. Gratidão por seu amor. 
Redação do Momento Espírita, com transcrição de frases do cap. Filhos adotivos, do livro S.O.S. Família, pelos Espíritos Joanna de Ângelis e outros Espíritos, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 30.4.2020.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

A EXATA CONJUGAÇÃO DO VERBO

Eles permaneceram casados por sessenta e dois anos. Um casamento complicado. Ele era alcoólatra. Gostava de cantar e sempre tinha uma brincadeira, na ponta da língua, que divertia os amigos e conhecidos. Era uma pessoa maravilhosa para todos, menos para a esposa. Batia nela, até a filha de oito anos começar a se impor e impedir as agressões. Um dia, ele vendeu a casa onde moravam. Sumiu por uns tempos e, quando retornou, sem nenhum centavo, avisou que a casa deveria ser desocupada em vinte e quatro horas porque o novo proprietário viria tomar posse. A esposa passou frio porque quase não tinha agasalho. Passou fome pois deixava de comer para que os filhos se alimentassem. Sofreu traições porque ele, homem bonito, se permitia aventuras. Ameaçava-a de morte e dormia com um punhal embaixo do travesseiro. Com tanto sofrimento, natural que, no transcorrer dos anos, o tempo a abraçasse com alguns problemas como insônia e depressão. Os que a conheciam a amavam porque ela ria, brincava, semeando ao seu redor a alegria, que ela mesma não podia fruir. Portadora de uma grande fé, espalhava o bem para as pessoas, fossem crianças ou adultos. Perante os doentes, ela ia passando a mão, com delicadeza, na cabeça, nas mãos, enquanto orava com fervor. Logo, eles afirmavam se sentir bem. Certa feita, indo a uma consulta e narrando seu drama conjugal, a médica indagou: 
- Qual seu sentimento para com seu marido? A senhora o ama? 
A filha, que a acompanhava, teve certeza de que ela responderia negativamente. A resposta que veio, depois de pensar uns segundos, foi surpreendente: 
- Como homem, não o amo. Como filho necessitado, sim! 
A filha chegou às lágrimas ao reconhecer, uma vez mais, a grandeza daquela mulher. Certo dia, aquele homem que gozara de tantos prazeres, teve um acidente vascular cerebral e foi hospitalizado. Os filhos se revezaram à sua cabeceira, no seu atendimento. Mas a senhora também foi ao hospital. Ele estava entubado, incomunicável. Somente os aparelhos bipando, de forma regular, atestavam a sua estabilidade orgânica. Ela chegou e tomou a mão dele entre as suas. E começou a falar. Os aparelhos, de imediato, registraram a alteração dos batimentos cardíacos, que dispararam para mais de cem por minuto, a respiração acelerou. Tudo isso dizia da consciência da presença dela ali. Ela falou das suas limitações como esposa, das suas dificuldades. E lhe pediu perdão por tudo e de tudo. Depois, disse que ele poderia partir em paz porque ela o perdoava. Interessante que ela não enumerou nenhuma das deficiências dele. Ao contrário, falou somente das próprias dificuldades. Naturalmente não enalteceu virtudes que ele não possuía, mas de nada o acusou. Depois, o convidou a orar com ela. Quando concluiu suas longas preces, deu-lhe um beijo na testa e desejou que ele ficasse com Deus. Ela saiu. Poucas horas depois, ele partiu. 
* * * 
Pessoas assim existem muitas, neste imenso mundo de Deus. Anônimas. Deixam lições inesquecíveis aos filhos, aos familiares, aos amigos, a quem goza a ventura de sua convivência. Pessoas assim sabem, com certeza absoluta, a exata conjugação do verbo amar. 
Redação do Momento Espírita, com base em fatos. 
Em 5.11.2014.

terça-feira, 28 de abril de 2020

O QUE VALORIZAMOS

Um adágio popular diz que somente se dá valor a alguma coisa quando a perdemos. Nesses dias, em que por questões de preservação da saúde, estamos confinados aos nossos lares, sentimos falta de tantas coisas que não podemos fazer. Coisas pequenas a que não prestávamos atenção e nos pareciam tão comuns, tão corriqueiras. Vejamos. Estamos sendo solicitados para evitar a saída dos nossos lares. Durante anos, saímos todos os dias, a horas certas e incertas. Saímos para o trabalho, para as reuniões sociais, para o templo religioso, para os compromissos de toda sorte. Tudo nos parecia tão natural que não dávamos importância. É possível que, por vezes, tenhamos reclamado de ter que sair tanto, todos os dias, tantas horas. Que tenhamos reclamado de ter que comparecer a determinado compromisso profissional, social ou religioso. Agora, no entanto, passados apenas alguns dias desse confinamento domiciliar a que todos somos convidados e responsavelmente o realizamos, como almejaríamos poder sair. Sair livremente, andar pelas ruas, encontrar pessoas, cumprimentar amigos, abraçar os companheiros do voluntariado com os quais nos habituamos a servir ao próximo. Este é o momento que passamos a valorizar cada passo, cada saída, cada encontro. Como nos fazem falta as reuniões no templo religioso em que trocávamos abraços, beijos, sorrisos. Em que recebíamos as pessoas à porta, com uma fala gentil e uma mensagem impressa. Como sentimos falta da reunião em conjunto para as orações. Orações que, talvez, vez ou outra, pela nossa ansiedade de retorno ao lar, eram ditas de forma mecânica, com o pensamento distante. Agora, que valorizamos tudo isso, nos reunimos virtualmente ou de forma individual e oramos com unção. Pensamos em cada palavra e dirigimos nossa súplica a Jesus, o Governador Planetário. Recordando as horas que antecederam a Sua prisão, no Horto das Oliveiras, O mentalizamos em prece e nos unimos a Ele, quando rogava por todos nós: 
-Afasta este cálice, Senhor. 
Sim, naquele momento Ele rogava por toda esta Terra, por todos os que a habitavam e habitariam, por todas as convulsões que nos caberiam suportar. Era a Sua súplica a Deus por todo o Seu rebanho. Entendemos agora. Demoramos a entender. Mas, nos unimos pedindo que o Celeste Pai se apiade de todos nós e, que esses dias de dor, de doença e morte, possam ser abreviados. E, também que aprendamos a lição. A lição de que é preciso parar, de vez em quando, para refletir, para cultivar os valores da alma. Parar para meditar, para unir-se ao Pai, exatamente como O fazia o Mestre Excelso de todos nós. Retirarmo-nos para a intimidade para orar em profundidade, conectando-nos à Inteligência Suprema do Universo. Oxalá aprendamos a lição. Por ora, a nossa súplica é para que tenhamos serenidade, paciência para tudo suportar. Que tenhamos suficiente bom senso para seguir as orientações dos que nos governam. Que sejamos verdadeiramente homens de bem, pensando em nós, em nossa família e na família universal a que pertencemos. 
Deus seja conosco! 
Redação do Momento Espírita. 
Em 28.4.2020.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

EXAME DE CONSCIÊNCIA

Quando chega o final do dia, depois das lutas, dos trabalhos exaustivos, você procura o seu lar. Não importa como ele seja, uma casa pequena, um apartamento modesto, uma enorme mansão. É seu lar. O lugar onde você se sente verdadeiramente à vontade, em casa. Você convive com os seus familiares, escuta as novidades da esposa e dos filhos. Brinca com os pequenos, dá uma olhada nas tarefas escolares dos maiores, dá um beijo de boa noite no caçula. Você assiste ao jornal da noite, dialoga com a esposa e estabelece planos para as atividades do dia seguinte. Finalmente, você se prepara para dormir. Banho tomado, relaxado, você busca o seu leito, ajeita as cobertas, o travesseiro e se deita. Espere um pouco. Não está faltando alguma coisa? Você teve um dia de muitas horas cheias de trabalho, entrevistas, decisões. Você alimentou o seu corpo, abraçou os seus amores, compartilhou decisões importantes com sua esposa. O dia está por findar. 
Que tal fazer um exame de consciência para avaliar como foi o seu dia? 
Faça para você mesmo as seguintes perguntas: 
Será que cumpri, neste dia, com todos os meus deveres? 
Pense: deveres profissionais, sociais, familiares.
Durante o dia não terei dado motivo para alguém se queixar de mim? 
Fui bom colega de trabalho, profissional correto, cidadão honrado, pai compreensivo, esposo amável?
Terei feito alguma coisa que se fosse feita por outra pessoa eu censuraria? 
Pratiquei alguma ação, que tenho vergonha de confessar a quem quer que seja?
Finalmente, se Deus me chamasse agora, estaria preparado para adentrar o mundo espiritual? 
As perguntas acima fazem parte da resposta de uma questão de O livro dos Espíritos, ditada pelo Espírito Santo Agostinho. Diz ele que era seu hábito fazer um exame de consciência, ao fim de cada dia, passando em revista o que havia feito. As respostas serão motivo de repouso para a consciência de quem as formula ou indicarão um mal que deve ser curado. Realizar tal tarefa todas as noites é como fazer um balanço da sua jornada moral, exatamente como o negociante, a cada dia, faz o balanço das suas perdas e lucros e traça diretrizes de ação para que o próximo balanço se apresente melhor. Aquele que puder dizer que a sua jornada foi boa, pode dormir em paz e esperar sem temor o despertar na outra vida, a qualquer momento. 
* * * 
Muitas faltas que cometemos nos passam despercebidas. Por isso, o conselho de Santo Agostinho se reveste de muita importância. Interrogando com mais frequência a nossa consciência, poderemos verificar quantas vezes falimos sem nos dar conta. Conforme as respostas, poderemos avaliar a soma do bem e do mal que existe em nós e, a cada dia, nos dispormos a melhorar naquele ponto do nosso caráter que descobrimos mais frágil. Se todos os dias trabalhamos para ajuntar o que nos dê segurança na velhice, não será igualmente vantajoso que trabalhemos para nos melhorar, com o objetivo de conquistar a felicidade eterna? 
Redação do Momento Espírita, com base no item 919a, de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. Feb.
Em 14.1.2013.

domingo, 26 de abril de 2020

EVOLUÇÃO

Yvonne do Amaral Pereira
No ano quarenta da Era Cristã, num recanto da Ásia, existiu um pequeno reino governado por um soberano déspota. Chamava-se Sakaran, o temível. Orgulhoso, rico e belo, senhor da vida e da morte de seus súditos, para eles criava leis férreas que a ninguém poupavam. Era um homem infeliz, um homem que jamais amara nem mesmo uma qualquer das suas quinze esposas, todas muito bonitas e desejosas de serem alvo do verdadeiro afeto do soberano. Chegada a época de seu quadragésimo quinto aniversário, Sakaran ofereceu uma grande festa, ocasião em que, como de costume, recebeu homenagens e presentes de seus súditos. Nessa oportunidade, Osman, seu servo mais fiel, informou-o que pretendia presenteá-lo com uma joia grega, da mais perfeita lapidação. No entanto, Osman não trazia em suas mãos nenhum estojo, por menor que fosse, mas com um discreto sinal seu, a orquestra de flautas e de alaúdes começou imediatamente a executar músicas gregas. Embalada por tais ritmos, lentamente surgiu no salão uma belíssima bailarina, trajada com flutuantes véus, movendo-se com graça e segurança. Era Lygia, uma jovem grega, a joia que o servo oferecia ao seu rei. Ousadamente, ela não se postou aos pés de Sakaran, como seria de se esperar. Dançava sem demonstrar qualquer preocupação, o que visivelmente irritou o soberano. Depois de um movimento mais brusco, mas nem por isso menos encantador, em meio à dança, ela aproximou-se de Sakaran e o saudou alegremente. Sem a mínima cerimônia sentou-se na cadeira colocada ao lado da dele, destinada a uma favorita que até então não existia. Encantado com o atrevimento e a coragem da jovem, Sakaran aproximou-se dela, indagando a respeito de sua origem e de suas pretensões. A moça, sorrindo, disse chamar-se Lygia, e confessou amá-lo à distância, desde há muito tempo. Dessa noite em diante iniciou-se uma singular transformação no caráter de Sakaran, que logo desposou a bela bailarina e fez dela sua favorita. Amaram-se profunda e sinceramente, conhecendo a felicidade. A ventura, porém, durou muito pouco. Durante um festim, Lygia foi envenenada e morreu subitamente. 
Quem praticara o crime? 
Por quais motivos? 
Jamais se soube. Afinal, o passado equivocado de Sakaran lhe deixara um saldo de incontáveis inimigos. O soberano, enlouquecido de dor, praticou as mais variadas e cruéis atrocidades contra todos aqueles que considerava suspeitos pela morte de sua amada. Desorientado e inconsolável, matou-se. Tempos depois, reencarnou no próprio reino que fora seu, não mais rodeado de glórias e de bajulações. Agora como escravo, mendigando pelas ruas, sozinho, padeceu a rudeza das leis que ele mesmo criara tempos antes para seus súditos, sendo vítima de sua própria tirania, sofrendo a ausência de Lygia que não o acompanhara nessa nova experiência. E o tempo passou... O antigo déspota viveu muitas existências, sofreu, regenerou-se e hoje é feliz. Tudo porque, um dia, acendeu nas trevas de seu rude coração a luz de um amor inesquecível. 
* * * 
Somos herdeiros de nós mesmos. O nosso momento presente será sempre ponto de referência de nosso futuro. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 5, do livro Sublimação, pelo Espírito Charles, psicografia de Yvonne do Amaral Pereira, ed. FEB. 
Em 7.1.2015.

sábado, 25 de abril de 2020

EVOCAÇÕES DO NATAL

Rachel Naomi Remen
É comum os hospitais, na semana que antecede o Natal, tentar mandar para casa o maior número possível de pacientes. No entanto, alguns sempre necessitam permanecer. Esses são atendidos pelos médicos que se oferecem como voluntários para trabalhar na véspera e dia de Natal ou que obedecem à escala pré-fixada pela instituição hospitalar. Naquele Natal, Rachel estava um tanto chateada. Por ser solteira, fora escalada para trabalhar naqueles dias, permitindo assim que seus colegas ficassem com seus cônjuges, filhos ou pais. No dia de Natal, vários grupos de pessoas apareceram nas enfermarias e distribuíram lembranças aos pacientes. Contudo, ao cair da noite, eles se encontravam em suas casas. O imenso hospital ficou em silêncio. Muitos leitos vazios. As poucas lâmpadas acesas nas mesas de cabeceira pareciam ilhas de luz na escuridão. Rachel ia de um paciente a outro verificando o soro, indagando sobre sintomas, oferecendo medicamentos para a dor ou para dormir. O Natal é uma época de muitas lembranças e vários dos pacientes desejavam falar sobre elas. Ela ouviu, naquela noite, muitas histórias. Tristes umas, emocionantes outras. Até que chegou ao leito de Petey. Era um homem velho, a respeito do qual ninguém tinha bem certeza da idade. Um andarilho, um desamparado. Nada mais trazia, quando chegara ao hospital, que a muda de roupa que o vestia. Portador de enfisema crônico, os médicos o mantinham hospitalizado, evitando que ele retornasse ao frio intenso das ruas. Era tímido e gentil. Alegrava-se por qualquer coisa e se mostrava agradecido pelos cuidados que recebia. Ele sorriu, ao vê-la. Estendeu a mão, abrindo a gaveta da velha mesa de cabeceira, onde estavam guardados seus tesouros: um canivete, uma escova de dentes, uma lâmina de barbear, um pente, algumas moedas e duas belas laranjas, que ganhara naquela tarde. Ele tomou de uma delas, estendeu para Rachel: 
-Dona doutora, Feliz Natal.
Seus olhos demonstravam o enorme prazer que ele estava sentindo em ofertar-lhe a fruta. E, de repente, muitas lembranças acudiram à memória da médica. Recordou de sua infância, dos Natais em que sentia essa mesma alegria em dar presentes. Algo seu. Especialmente preparado para a data, para alguém. Tudo parecia tão distante. E tão perto. Lembrava-se de que tinha aprendido muitas coisas desde então, mas que também esquecera outras tantas. Há muitos anos, seu avô lhe ensinara aquela mesma maneira de viver que Petey mostrava agora. Entretanto, ao longo dos seus anos de formação acadêmica, a voz de seu avô acabara sendo sufocada pelas vozes de seus familiares, de seus colegas, de seus professores. Ela estendeu os braços e recolheu o presente, extremamente agradecida. 
-Feliz Natal, Petey. – Disse, comovida, os olhos cheios de lágrimas. 
* * * 
É preciso muito tempo até que nos conscientizemos de que os bens preciosos que temos para dar não foram aprendidos nos livros. Também que a sabedoria de viver bem não é conferida aos alunos mais destacados nos estudos avançados. Os verdadeiros professores andam por toda parte. Basta saber colher as lições que sua sabedoria nos transmite, nos gestos desprendidos, simples, despojados. Um gesto simples como estender a mão, sorrir, desejar Feliz Natal. Repartir o presente recebido, num gesto espontâneo de profunda gratidão.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O sábio, do livro As bênçãos do meu avô, de Rachel Naomi Remen, ed. Sextante. 
Em 13.12.2017.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

TEMPO DE PLANTAR E DE ARRANCAR O QUE SE PLANTOU!

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer. Tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou. O trecho extraído do livro bíblico Eclesiastes nos faz lembrar dos ciclos da vida. Há um tempo para tudo. Recorda-nos igualmente que a existência, a vida, é como uma gleba, um terreno fértil que todos recebemos ao nascer. Cada um pode plantar o que quiser, quando e como quiser. No entanto, as leis universais nos falam que há também o tempo de colher, de arrancar o que se plantou. Tudo que se planta, se colhe. Um provérbio oriental já dizia que o plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória. Desde o momento que adquirimos consciência e responsabilidade pelos nossos atos, a semeadura se torna, igualmente, consciente e responsável. Quanto ao que plantamos, consideremos que algumas sementes florescem rapidamente, outras não: exigem anos, décadas, séculos. Ao plantar um pé de alface, por exemplo, poderemos colhê-lo em poucas semanas. O mesmo não acontece com o café. Um pé de café leva anos para nos ofertar os primeiros frutos. Assim são nossas semeaduras. Ao semear simpatia e gentileza no dia a dia, certamente verificamos os resultados em pouco tempo e em muitos corações. São as sementes que brotam rapidamente em forma de amorosidade que retorna a quem oferta. Quando semeamos alegria e otimismo onde estamos, podemos perceber, quase que de pronto, a modificação nos ares que nos cercam. Pensamentos elevados, construtivos, transformam a psicosfera, purificam a estrada por onde passamos. Existem, no entanto, os plantios de longo prazo. A semeadura de amor no coração endurecido de um filho exige cuidados permanentes, rega, poda, iluminação e húmus enriquecido. É semelhante ao cultivo do pé de café. Poderão transcorrer anos, por vezes, sem vermos qualquer resultado. Há mães e pais que não terão a oportunidade de colher os frutos nesta encarnação, pois sua missão primeira é a da semeadura e a da manutenção do plantio. São plantas que desabrocharão mais tarde, depois de muito trabalho e dedicação, até de outros jardineiros, quem sabe, pois tudo tem o seu tempo determinado: tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou. Mas sempre é tempo de plantar. Uma terra ociosa é uma terra inútil. Nela crescerá o joio indesejado que tomará o lugar dos belos jardins. Todos sonhamos com a felicidade, e quem sabe seja essa a melhor colheita de todas. Perguntemo-nos se temos feito o nosso plantio. Temos realizado os devidos cuidados no cultivo? Como sonhar com maçãs se só deixamos crescer ervas daninhas em nosso quintal? A vida é uma gleba, um terreno fértil que todos recebemos para utilizar como bem quisermos. A semeadura é livre, o cultivo é de responsabilidade só nossa. E a colheita é certa, no seu tempo determinado. Pensemos nisso, hoje, agora. 
Redação do Momento Espírita, com citação do livro bíblico Eclesiastes, cap. 3, versículos 1 e 2. 
Em 24.4.2020.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

DIFICULDADES SÃO OPORTUNIDADES

Stephen Hawking
Era o dia 8 de janeiro de 1942, dia em que o mundo lembrava os trezentos anos da morte de Galileu Galilei. Em uma maternidade da cidade de Oxford, Inglaterra, nasceu um menino que seria chamado Stephen. Em plena Segunda Guerra Mundial, a cidade de Oxford era segura devido a um acordo mútuo de não agressão às cidades com grandes Universidades, firmado entre a Inglaterra e a Alemanha. Criado em Londres, foi um garoto saudável, e de desempenho escolar regular, nunca ficando entre os primeiros da classe. Aos dezessete anos, contra a vontade do pai, que o queria médico, Stephen Hawking iniciou o curso de Física, seu grande sonho, em Oxford. Durante o curso universitário, começou a mostrar sintomas de uma estranha doença: lentidão nos movimentos, quedas, dificuldades de fala. Aos vinte e um anos, o diagnóstico sombrio: 
Esclerose Lateral Amiotrófica.
Essa doença destrói os neurônios que controlam os movimentos, e os músculos vão paralisando lentamente. É como uma sentença de morte sem data para acontecer, escreveu ele. O jovem, aturdido pelo diagnóstico, encontrou apoio em sua namorada, que o incentivou a fazer o doutorado e a procurar emprego, pois deveriam se casar. Em sua tese iniciou os estudos que comprovaram a teoria do Universo em expansão, a partir de um ponto conhecido como Big Bang. Casou-se e teve três filhos. A lentidão física, segundo ele, lhe dava tempo para pensar mais. Ganhou fama também com o estudo dos buracos negros, publicando trabalhos científicos e livros que o notabilizaram, enquanto seu corpo paralisava progressivamente. No início do livro Uma breve história do tempo, escreveu que, exceção feita à sua doença, era feliz em todos os aspectos de sua vida, até mesmo por ter escolhido uma profissão que só precisava do intelecto. Chegou a escrever que sua deficiência não lhe causara maiores problemas, tendo contado com auxílio da família, dos colegas e alunos. Após a perda da capacidade de falar, se comunicava por meio de um dispositivo gerador de fala, inicialmente através do uso de um interruptor de mão. Mais tarde, usando um único músculo da bochecha. Nunca parou de estudar. Desafiou a Medicina com sua longa sobrevida. Desencarnou aos setenta e seis anos de idade, depois de lutar contra sua doença por mais de cinquenta anos.
* * * 
Pensemos quantos de nós, frente ao mais leve sintoma de doença, cuidamos de nos afastar do trabalho ou dos estudos, com atestados médicos de longa duração. Quantos nos aposentamos, de forma prematura, por esse ou aquele motivo e não voltamos a estudar ou desenvolver algum trabalho dentro das novas condições físicas. A doença pode ser uma oportunidade de reflexão, uma oportunidade de superação, mas, nunca, uma desculpa para desistir. Que o exemplo desse notável homem, que ocupou a cadeira de professor lucasiano de matemática, na Universidade de Cambridge, anteriormente ocupada por Isaac Newton, nos sirva de reflexão e de exemplo. Pensemos na frase por ele proferida: 
-Quando temos de enfrentar a possibilidade de uma morte prematura, nos damos conta do quanto vale a pena viver! 
Redação do Momento Espírita. 
Em 22.4.2020.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

EVITE ATROPELAR-SE

RAUL TEIXEIRA
Você se considera uma pessoa tranquila, ou sente-se ansiosa com frequência?
É digna de observação a maneira como as pessoas, de modo geral, se conduzem nas lidas cotidianas, nos diferentes compromissos e atividades que tenham que atender. Tudo parece estar assinalado por temível fator de ansiedade, desde que bem poucas, pouquíssimas mesmo, são as almas que não se deixam minar pela ansiedade. Essa ansiedade imprime em alguns tal destrambelhamento nervoso que o indivíduo se põe estático; tenso e preocupado com o que tem à sua frente para fazer, para esperar, para encarar. Embora a tensão, não consegue tomar decisões; não consegue fazer nada. Como se estivesse em estado de choque. Outras pessoas, quando visitadas pela ansiedade, ficam superexcitadas, disparam numa tormenta mental, numa confusão de pensamentos e sentimentos que surgem na mente quase que a um só tempo. Essa ansiedade é responsável, na maioria das vezes, pela agitação ou excessiva pressa em que se ajustam. No dia-a-dia terreno, principalmente nos grandes centros urbanos, as pessoas correm daqui para ali, de um para outro lado, em tal nível de tensão do sistema nervoso que dão a impressão de que vão explodir ou implodir, de conformidade com o nível da ansiedade gerada. Encontramos a excitação e correria naqueles que dirigem veículos nas ruas; nos que esperam nas filas; nas atividades e tarefas domésticas; nos que caminham pelas vias públicas; nos que têm o dever de administração ou controle, em várias situações da vida. Se você se considera uma pessoa ansiosa e deseja deixar de ser, é preciso fazer pequenos esforços diariamente. Evite, assim, atropelar-se nas rotas do mundo, habituando-se aos exercícios mentais de harmonização íntima por meio da oração, da meditação séria, da reflexão útil. É de grande utilidade o esforço para a autodisciplina, a fim de que se alcance o nível desejado de integração com as Leis de Deus. Dessa maneira, aprenda a sair mais cedo para o trabalho, para os deveres sérios, evitando os excessos de adrenalina que impõem correr aqui, ali, em tudo e para tudo. Busque alimentar-se, alimentando-se, estudar, estudando com atenção, dirigir veículos automotores ou não, quaisquer que sejam, com a necessária tranquilidade e calma. Evite a tortura de querer fazer tudo ao mesmo tempo, aprendendo a fazer cada coisa por sua vez, desenvolvendo-se para melhor contribuir com o progresso geral. Evite criar o costume de atrasar-se em tudo, porque você aprenderá a justificar todas as vezes, fazendo do seu atraso marca de sua personalidade. Os atropelos humanos procedem, quase sempre, de mais ou menos grave estado de desorganização interior a refletir-se em tudo quanto o desorganizado faz. O trabalho de reorganização íntima, a ser iniciado pelos pensamentos, é algo trabalhoso e demorado, e ninguém precisará criar novos procedimentos ansiosos para ter acesso a tal estado. As ações atropeladas são características de pessoas imprudentes, agitadas, desastradas, indisciplinadas sempre. O tempo que você aprende a homenagear, utilizando-o com dignidade, respeitosamente, é o mesmo que deporá a seu favor perante a consciência superior da vida, mostrando o quanto você cresceu, o quanto avançou e amadureceu, sem causar prejuízos a nada e a ninguém. 
 * * * 
Exercite-se na paz diariamente. Quando vir que se desarmoniza, que se excita por nada e que está com os nervos à flor da pele, não demore em buscar o auxílio da prece; procure um ambiente que lhe inspire suavidade, para que leve adiante o seu feliz exercício da auto-harmonização. Busque a paz por dentro d'alma. Evite atropelar-se, porque você não resolverá nada assim, pois tudo será solucionado na hora certa, com as providências devidamente tomadas, sem atropelos.
Pense nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 17, do livro Para uso diário, pelo Espírito Joanes, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter. 
Em 07.06.2010.

terça-feira, 21 de abril de 2020

RABI(MESTRE) DA GALILEIA

A cidade de Jerusalém se estendia magnífica nas montanhas, entre o Mar Mediterrâneo e o norte do Mar Morto. Era primavera e os muros que a protegiam estavam tomados por flores multicoloridas. Nas ruas, o povo ocupava-se de seus afazeres. O burburinho incessante da população contrastava com o silêncio bucólico do deserto que a rodeava. Contudo, naquele dia, algo estava dissonante da rotina da cidade. Um aglomerado de pessoas reunia-se em torno de uma figura peculiar, que pregava nas escadarias do templo. Sua fala era grave. Logo se via que Ele tratava de assuntos de suma importância. Porém, Seus olhos eram ternos e transmitiam uma serenidade capaz de apaziguar os mais revoltos corações. Aqueles que O escutavam, facilmente nEle reconheciam uma admirável fortaleza: 
-Vinde a mim vós que estais cansados e eu vos aliviarei.  
NEle encontravam respostas para as questões profundas: 
-Eu sou o caminho, a verdade e a vida. 
E também esperanças de dias melhores: 
-Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados. 
Alguns o chamavam Rabi, palavra judaica cujo significado é professor, mestre. Outros o consideravam um agitador público, cujas ideias revolucionárias deveriam ser combatidas. A verdade era que esse galileu, filho de um carpinteiro e de uma dona de casa, era ciente, desde a mais tenra idade, de Sua missão para com o nosso planeta. Em torno dos trinta anos, conforme os relatos evangélicos, convocou doze companheiros para que, junto dEle, pudessem levar a mensagem consoladora de Seu Pai. Falou com simplicidade, levou esperança aos aflitos, curou os doentes. Estendeu a mão para os marginalizados, secou lágrimas, saciou a fome do corpo e, principalmente, da alma. Ensinou a orar de maneira a conjugarmos menos o verbo pedir e mais o agradecer: Pai nosso que estais no céu... Aconchegou as crianças em Seu colo e orientou a que tornássemos nossos corações semelhantes aos delas, pois que, se agíssemos com a pureza e a simplicidade das criancinhas, conheceríamos o Reino dos Céus. Ensinou a importância de não julgar. Antes, a de agir de acordo com a lei de caridade: 
-O que fizerdes ao menor dos meus irmãos, a mim o fazeis. 
Recomendou, ainda, a vigilância, para que não acabemos por sucumbir através das tentações oriundas dos vícios morais que ainda trazemos em nosso íntimo. Doou-se inteiramente à Humanidade. Entretanto, vítima inocente do orgulho e da mesquinhez humana, foi-Lhe destinado o madeiro da cruz, que aceitou resignadamente. Antes, todavia, deixou-nos a maior lição acerca do perdão, quando, num gesto de total doação, perdoou seus algozes: 
-Pai, perdoai-os. Eles não sabem o que fazem. 
Seu nome é Jesus Cristo. Filho de Maria e de José, filho de Deus Pai. Irmão de toda a Humanidade e de cada um em particular. É Ele o Mestre Divino, o melhor amigo, Aquele que permanece ao nosso lado, auxiliando-nos na caminhada que nos conduz a Deus, à luz, à eterna felicidade. Mais de dois mil anos depois, o convite se repete: 
-Eis que estou à porta e bato. 
Teremos coragem para abrir as portas de nossos corações e permitir que nele o Bondoso Amigo faça morada? 
Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita. 
Em 20.4.2020.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

EVITANDO AFLIÇÕES

-No mundo tereis aflições. 
A advertência do Cristo parece um tanto incômoda, pois ninguém deseja dificuldades ou dores para si. Planejamos nossa vida no intuito de que tudo transcorra tranquilamente, sem surpresas desagradáveis. No entanto, considerando o nível evolutivo em que nos encontramos, as dores são inevitáveis em nosso caminhar. E, foi por saber das imperfeições que ainda trazemos na alma, por conhecer os poucos valores nobres que nos animam, que Jesus nos alertou que aqui só teríamos aflições. Contrariamente ao que possamos pensar, as aflições não se impõem por castigo ou descuido da Divindade para conosco. Ou tampouco por querer a vida nos punir de forma deliberada e injusta. Elas nascem de nossas ações, refletem nossos valores, resultam de nossas escolhas muitas vezes equivocadas. E de nada nos adianta ignorá-las pela fuga infantil, imatura, evitando o necessário enfrentamento. Refugiar-nos no excesso de trabalho não trará solução aos problemas, mas apenas o adiamento da necessária tomada de decisão para os resolver. Tampouco a busca da alienação pelo álcool ou outra droga qualquer. Igualmente, será vã qualquer tentativa de evitar que nossos filhos sofram, porque a eles, na idade própria, caberá igualmente enfrentá-las. Não será a vida fácil que possamos lhes proporcionar, nem os objetos caros com que os cerquemos que haverão de os liberar de decepções ou desencantos que a jornada terrena, por necessidade, lhes reserva. É preciso forjar, desde pequenos, o seu caráter, para que encontrem sua maneira própria e adequada para resolver os desafios. É preciso fazê-los fortes diante da dor, para que, com maturidade, possam superá-la, mostrando à vida que aceitaram a prova, que estão dispostos ao aprendizado. Portanto, por nós ou por nossos filhos, atitudes de revolta ou fuga diante da dor somente contribuirão para formar adultos frágeis e imaturos, sem estrutura emocional para a existência terrena. Se as decepções são aprendizado; se as perdas nos oferecem lições e as dificuldades forjam as virtudes, todas as vezes que elas despontem em nosso caminho, tenhamos em mente que é a vida nos convidando a reflexões e mudança de atitudes. Enquanto isso não ocorre, as aflições que nos chegam vão sinalizando, ora aqui, ora ali, os ajustes necessários em nossa conduta, em nosso sentir e em nosso pensar. Reflitamos em como temos agido, perante os infortúnios e problemas. E perguntemos à vida o que pretende nos ensinar com tudo isso, esforçando-nos para que a lição se transforme em aprendizado. Tenhamos em mente que, se nos decidirmos pela revolta, a oportunidade será perdida e as mesmas necessidades ressurgirão, sob outra roupagem, até serem definitivamente aprendidas por nós. Assim é a lei do progresso. Dela jamais fugiremos. Por fim, lembremos de que se o Mestre nos alertou a respeito da existência das aflições neste mundo, também nos convidou a termos bom ânimo, afirmando que, se Ele venceu o mundo também nós o poderemos vencer. Busquemos, portanto, as lições de Jesus e superemos as aflições que nos chegarem, atribulando-nos ou aos que amamos.
Redação do Momento Espírita. 
Em 13.2.2018.

domingo, 19 de abril de 2020

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Abril é um mês muito especial para os espíritas. Além da comemoração do lançamento de O livro dos Espíritos, no dia 18, em 1857, outras efemérides são lembradas. Por exemplo, foi em abril do ano de 1864, que foi publicado O Evangelho segundo o Espiritismo. Essa obra constitui a explicação das máximas morais do Cristo, segundo as luzes espíritas e suas aplicações às diversas circunstâncias da vida. Esse livro é um hífen de luz entre a filosofia e a ciência espíritas. Nele se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo. Esse livro tem considerável influência, não somente para o mundo religioso, que nele encontra as máximas que lhe são necessárias, como também a vida prática das nações pode nele haurir instruções excelentes. Com vinte e oito capítulos da mais excelsa moral, podemos dizer que feliz é o homem que, diante das dificuldades e peripécias da existência, tenha nas mãos e sob os olhos os luminosos textos dessa obra consoladora. Dando especial ênfase aos ditos e aos feitos do Senhor Jesus, o que quer dizer ao ensino moral, erige-se como regra de conduta, que abraça todas as circunstâncias da vida, particular ou pública, o princípio de todas as relações sociais, baseadas na mais rigorosa justiça. Enfim, é a rota infalível da felicidade futura. Essa obra é para uso de todos. Cada um pode aí colher os meios de conformar sua conduta à moral do Cristo, nosso Modelo e Guia. Os espíritas aí encontram as aplicações que mais especialmente lhes concernem. As instruções dos Espíritos, as vozes do céu, que vêm esclarecer os homens e os convidar à imitação do Evangelho. Nele encontram as almas aflitas o consolo e a explicação para as suas dores, o sermão das bem-aventuranças ganha um novo e especial colorido, sob a meridiana luz do esclarecimento espírita. Parece-nos ouvir de novo a voz do Suave Pastor:
-Vinde a mim vós que estais sobrecarregados e aflitos, e eu vos aliviarei... 
Os versos de rara poesia das aves do céu, dos lírios do campo que não semeiam, nem fiam... Toda a beleza das palavras de Jesus numa linguagem acessível, inteligível. Explicado de forma racional porque fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade. É nele também que se encontram explicadas as promessas do Cristo, na célebre noite da derradeira ceia com os Apóstolos, acerca do Consolador que viria empós. O Consolador Prometido, que viria quando o mundo estivesse maduro para o compreender, Consolador que o Pai enviaria para ensinar todas as coisas e para relembrar o que o Cristo havia dito. E o Espiritismo vem, na época predita, cumprir a promessa do Cristo. Preside ao Seu advento o Espírito de Verdade. Ele chama os homens à observância da Lei: ensina todas as coisas, fazendo compreender o que Jesus só disse por parábolas. Vem abrir os olhos e os ouvidos, porquanto fala sem figuras, nem alegorias. Vem, enfim, trazer a consolação suprema aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, atribuindo causa justa e fim útil a todas as dores. Jesus, que nunca antes se apartara dos homens, aproxima-Se ainda mais e volta a falar como outrora, chamando e conduzindo. A Boa Nova é o roteiro e a mensagem espírita o consolo. O Evangelho segundo o Espiritismo corporifica no mundo a palavra imperecível de Jesus, o excelso enviado do Pai. É Ele mesmo de retorno, tomando os filhos e as filhas da dor nos Seus braços para os conduzir para a luz gloriosa da verdade. 
* * * 
CHICO XAVIER
E
DIVALDO PEREIRA FRANCO
O Evangelho não é um livro simplesmente. É um templo de ideias infinitas. Miraculosa escola das almas estabelecendo a nova Humanidade. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Imitação do Evangelho, do livro Obras póstumas, de Allan Kardec, ed. Feb; no cap.12 do livro Crestomatia da Imortalidade, por Espíritos diversos, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal, no verbete Evangelho, do livro Dicionário da alma, por Espíritos diversos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. 
Em 17.9.2012.

sábado, 18 de abril de 2020

EVANGELHO NO LAR

Em torno de cada um de nós existe uma psicosfera, formada por fluidos espirituais, que será boa ou má, de acordo com o nosso comportamento mental. Quem vive num clima interior de desequilíbrio cria em torno de si uma psicosfera negativa. Naturalmente, quem cultiva virtudes morais e intelectuais estará envolvido numa atmosfera agradável. Mas também os lugares possuem sua atmosfera espiritual peculiar. Esta será formada pelo conjunto de ideias, sentimentos e desejos nutridos pelos que ali vivem, trabalham e se movimentam. Para dar uma ideia de quanto os ambientes espirituais nos afetam façamos uma analogia. Imagine uma sala fechada, encharcada de fumaça de cigarro e uma outra, bem arejada, iluminada pelo sol e onde ninguém fume: você certamente se sentiria melhor no segundo ambiente do que no primeiro. O que acontece em nível espiritual é mais ou menos a mesma coisa. Mas, ao invés da fumaça de cigarro, o que contamina os fluidos espirituais são os pensamentos de ódio, de malícia, de ironia... E o que os purifica são os sentimentos nobres, como a tolerância, a compreensão, a paciência. Muitas pessoas reclamam dizendo que não se sentem bem dentro de casa, isso é muito grave, especialmente sabendo que o lar simboliza para o ser humano o seu abrigo, a sua proteção. Ali, mais do que em qualquer outro lugar, ele deve se sentir bem. Então, o que fazer? Não existem soluções milagrosas, mesmo porque a paz depende do nosso esforço por conquistar equilíbrio interior. Mas há um hábito absolutamente positivo e que serve de antídoto contra muitos dos males que nos atingem: é a oração em família. Sempre no mesmo dia e no mesmo horário os familiares se reúnem para ler uma página edificante e comentá-la. Aproveita-se a ocasião para conversar com o Criador através da oração, agradecendo pela existência, pedindo proteção... A oração em família é o alimento para a alma e, muitas vezes, as dores e angústias que se abatem sobre nós são fruto de uma espécie de subnutrição espiritual. Colabore com uma psicosfera mais amena em sua casa, evitando gritos, discussões vazias e brigas sem sentido. Mas faça mais, mande, através da oração, um convite ao Criador de todas as coisas para que Ele, com Sua presença luminosa, venha fazer parte da sua vida. A oração no lar, ante a sombra da indiferença e da maldade que teima em nos envolver nestes dias, é um farol de luz norteando uma Nova Era, a Era do amor. 
* * * 
Somos Espíritos imperfeitos. É difícil encontrar uma pessoa que nunca se zangue, que não se magoe de vez em quando ou que jamais pense no mal. Daí percebemos que as nossas distonias emocionais acabam por perturbar os nossos ambientes, sobretudo o nosso próprio lar. Por isso é tão importante a oração em família. É o momento em que paramos para meditar, pensar na vida, sob a proteção dos espíritos bons. Converse com seus familiares e experimente por algum tempo acender esta luz dentro da sua casa. Pense nisso, mas, pense agora! 
* * * 
Sábio é o homem que conduz a vida sabendo para onde a vida o está levando. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 22.10.2012.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

EU VOLTAREI

CORA CORALINA
De Cora Coralina, grande poetisa do Estado de Goiás, retiramos a seguinte peça literária:
Eu voltarei. 
Meu companheiro de vida será um homem corajoso de trabalho, servidor do próximo, honesto e simples, de pensamentos limpos. Seremos padeiros e teremos padarias. Muitos filhos à nossa volta. Cada nascer de um filho será marcado com o plantio de uma árvore simbólica. A árvore de Paulo, a árvore de Manoel, a árvore de Ruth, a árvore de Roseta. Seremos alegres e estaremos sempre a cantar. Nossas panificadoras terão feixes de trigo enfeitando suas portas, teremos uma fazenda e um horto florestal. Plantaremos o mogno, o jacarandá, o pau-ferro, o pau-brasil, a aroeira, o cedro. Plantarei árvores para as gerações futuras. Meus filhos plantarão o trigo e o milho, e serão padeiros. Terão moinhos e serrarias e panificadoras. Deixarei no mundo uma vasta descendência de homens e mulheres, ligados profundamente ao trabalho e à terra que os ensinarei a amar. E eu morrerei tranquilamente dentro de um campo de trigo ou milharal, ouvindo ao longe o cântico alegre dos ceifeiros. Eu voltarei... A pedra do meu túmulo será enfeitada de espigas de trigo e cereais quebrados. Minha oferta póstuma às formigas que têm suas casinhas subterra, e aos pássaros cantores que têm seus ninhos nas altas e floridas frondes. Eu voltarei... 
* * * 
Todos nós, certamente voltaremos a este chão, ou a outro qualquer deste Universo infinito... A reencarnação é Lei Divina, e todos estamos sujeitos a ela, querendo ou não, tendo consciência disso ou ainda não. O Criador nos dá a chance de continuar, em próxima existência, aquilo que nesta não pudemos lograr. O Criador abre sempre a porta do arrependimento, da oportunidade da reparação àqueles que desejam volver aos braços seguros do amor. Se porventura, na existência atual, teus sonhos maiores parecerem ser arrancados de teu coração, confia em Deus. Se vês teus planos de felicidade partirem para longe, embarcados nas caravelas da enfermidade, do sofrimento profundo, segue confiando em Deus. Se percebes que ainda não lograrás, nesta vida, a alegria que planejaste no imo de teu coração, para ti e para os teus, tem calma e confia em Deus. Vê a lida atual apenas como capítulo breve da grande obra do teu existir como Espírito imortal. Guarda teus sonhos e resiste à dor, sem amargura, sem revolta, compreendendo que é o abraço apertado do sofrer que nos faz mais fortes, e mais preparados para merecer e conquistar a ventura maior. Tem certeza que o sol volverá, o sorriso ressurgirá, e que tu também, viajor universal do tempo, voltarás! 
Redação do Momento Espírita, com citação do poema Eu voltarei, de Cora Coralina, retirado da Internet. Disponível no CD Momento Espírita, v. 16, ed. Fep. 
Em 22.11.2010.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

DEUS, ONDE ESTÁS?

CASTRO ALVES
Deus! Ó Deus! 
Onde estás que não respondes? 
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes 
embuçado nos céus? 
Há dois mil anos te mandei meu grito, 
que embalde desde então corre o infinito... 
Onde estás, Senhor Deus?... 
* * * 
Dessa forma, o poeta dos escravos lançava sua súplica, em nome da África sofrida, que tinha seus filhos arrancados do seu seio para serem vendidos pelo mundo. Como ele, em certos momentos de profunda dor, endereçamos nossos lamentos aos céus: 
-Onde está Deus que não salvou a vida do meu filho?
-Onde está o Deus de misericórdia que permite que os homens sejam lobos dos seus irmãos? 
-Onde está Deus que não impede as grandes catástrofes? 
-Por que não governa os mares, não cala os vulcões e não dá ordens às tormentas para que se aquietem?
-Onde está Deus que permite que alguns poucos homens se elejam como detentores da justiça e matem os seus semelhantes? 
-Onde está Deus que não detém o braço assassino, que não emudece as bocas da calúnia que destroem vidas, a maldade generalizada? 
-Onde está? 
E, embora o sofrimento nos fira com punhais em brasa, entre os nossos soluços, poderemos ouvir a voz dos imortais a sussurrar: 
-Deus está em ti, Seu filho. Onisciente, onipresente. Tudo sabe, tudo vê, a tudo preside. Reclamas das reações da natureza, esquecendo que este é um planeta em que se revezam e se reprisam provas e expiações. É uma escola e o aprendizado, por vezes, é duro. 
Exatamente como para quem deseja galgar os degraus da sabedoria, as horas de estudo se fazem árduas. As dores que te alcançam são aquelas que te provam a resistência, que te desafiam a inteligência, que te fazem crescer. Nada acontece por acaso e cada um está exatamente onde deve estar, no momento exato. As convulsões do planeta são os movimentos de reestruturação de um mundo em progresso. Progresso material. Modificam-se as paisagens, saneiam-se locais. As loucuras provocadas pelos homens são produto do livre-arbítrio com que Deus a todos dotou. Tu também o tens para crescer, aproveitando as lições que te maltratam. Verifica que todos os grandes homens alcançaram a glória na ciência, nas artes, nos feitos heroicos, por sua vontade férrea de vencer. Tu também o podes. Deus te deseja feliz, passada a tempestade que te vai na alma. O sofrimento que te alcança, passará. Tudo passa. Os que promovem o mal responderão por seus atos insanos, logo mais ou um pouco depois. Nada está errado neste imenso mundo de Deus. E Ele sabe das dores da tua alma, da fome de justiça de tantos, da incoerência e loucura de muitos. Não te desesperes. Permita-te ouvir a voz que fala: “Meu filho, tu me chamaste. Aqui estou. Não estás só. Estou contigo. Sê forte. O sol voltará a brilhar, o problema terá solução. Não chores a ausência dos amores. Eles estão contigo. Transferiram-se de uma para outra esfera. Os teus mortos estão de pé. 
* * * 
Se tudo examinares pela perspectiva da justiça, entenderás que tudo está certo, no plano da Divina Criação. Sossega tua alma. Permite-te sentir o afago divino na intimidade de ti mesmo. Tudo passa. Acredita.
Redação do Momento Espírita, com versos iniciais do poema Vozes da África, de Castro Alves. 
Em 16.4.2020.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

O CALOR ESCALDANTE DOS DESERTOS DA VIDA

Augusto Cury
O alimento e a bebida ingeridos por Cristo na última ceia foram importantes para sustentá-lO. Eles não lhe dariam pão nem água durante o Seu tormento. Sabia o que O aguardava, por isso nutriu-se calmamente para suportar o desfecho de Sua história. Após a oração, foi sem medo ao encontro de Seus opositores. Entregou-Se espontaneamente. Procurou um lugar tranquilo, sem o assédio da multidão, pois não desejava qualquer tipo de tumulto ou violência. Não queria que nenhum dos Seus mais próximos corresse perigo. Preocupou-Se até mesmo com a segurança dos homens encarregados de prendê-lO, pois censurou o ato agressivo de Pedro a um dos soldados. O Mestre era tão dócil que por onde Ele passava florescia a paz, nunca a violência. Os homens podiam ser agressivos com Ele, mas Ele não era agressivo com ninguém. Um odor de tranquilidade invadia os ambientes em que transitava. O amor que Jesus sentia pelo ser humano O protegia do calor escaldante dos desertos da vida. Chegou ao impensável, ao aparentemente absurdo, de amar Seus próprios inimigos... 
* * * 
E como estamos nós? Como nos protegemos das altas temperaturas dos desertos da existência? 
A tranquilidade de Jesus vinha de Sua moral elevada, sustentada por um amor incondicional por todos. A calma do Mestre vinha de Sua fé, em nível tão elevado, que O fazia ser Um com o Pai. Semeando amor, colhemos felicidade nos campos de Deus. Sem a pretensão de receber recompensas na Terra, pelos atos nobres que praticamos, perceberemos que a consciência em paz é fortaleza indestrutível. Amando, passaremos pelos suplícios da existência com mais equilíbrio. Tal amor dá à alma em aprendizado uma certeza íntima imperturbável, segura de estar no caminho certo, e de não estar sozinha nestas paragens. Amando, nunca estamos sós. A Terra poderá nos oferecer solidão temporária, mas o mundo real, o mundo maior, nos dará a companhia dos grandes. Se estamos em momento grave na existência, sofrendo ataque de inimigos do bem... lembremos de Jesus e de Seu exemplo precioso. Quem ama e está nas sendas do bem, não tem porque pensar em vingança, em responder violência com violência. Quem ama tem sempre um refrigério constante no íntimo, ao enfrentar o calor escaldante da crueldade alheia. Quem ama e trilha os caminhos do bem, não precisa temer, assim como Jesus não temeu, em momento algum, o que O aguardava. Sofreu, ao ver a fragilidade da alma humana tomando decisões ainda tão tolas, mas não teve medo, jamais, pois estava sempre acompanhado de um amor sem igual pela Humanidade inteira.
Ama e aguarda. Ama e confia. Ama e resiste. 
Redação do Momento Espírita com base no cap. 6, do livro O Mestre da sensibilidade, de Augusto Cury, ed. Academia de Inteligência. 
Em 15.4.2020.

terça-feira, 14 de abril de 2020

O QUE TEMOS PARA AGRADECER

O incêndio irrompera devastador. Em desespero, imaginando que sua família estaria dentro da casa, Daniel chegou correndo. Gritava pelo nome da esposa e dos filhos, enquanto os bombeiros o impediam de mergulhar nas chamas. Alguns instantes depois, descobriu que sua esposa e filhos não estavam na casa. Tinham saído para um lanche em pizzaria próxima. Abraçaram-se todos. Agora, o desespero era ver a casa ser consumida tão rapidamente pelas chamas. Ele nem acabara de pagar o financiamento e tudo estava destruído. Sentia-se impotente, desanimado. Seguiu com a família para a casa do seu pai, onde se acomodaram. Um ar pesado pairava pelos aposentos. Sua irmã, seu irmão, o avô, a sobrinha vieram para confortá-los. Chegou o momento do jantar. Daniel se dizia sem fome mas o pai insistiu para que viesse à mesa, estivesse ao lado da sua família. Ele se deixou ficar no quarto um tanto mais. Sentia como se lhe faltasse o chão. Que fazer, agora? Como começar tudo de novo, recompor todas as perdas? Como ninguém ousasse iniciar a refeição sem a sua presença, ele resolveu assentar-se com eles. Então, pediram-lhe que ele conduzisse os pensamentos na habitual prece de agradecimento, antes de iniciarem a refeição. 
-Hoje, não. 
Foi a resposta dele. 
-Não creio que eu tenha alguma coisa para agradecer. Nem temos mais um lar. 
A esposa, tomando-lhe a mão e a apertando forte, lhe disse: 
-Perdemos a casa, o lar ainda o temos porque o lar somos nós. 
E o pai, sábio, ponderou: 
-Filho, agradeçamos por estarmos todos juntos. Agradeçamos por ninguém se ter ferido. Agradeçamos pela família que somos. 
Entre lágrimas, Daniel iniciou a prece de gratidão. E, como soluços sentidos lhe impedissem a fala, a esposa continuou, os filhos se uniram e, por fim, juntos oraram em voz alta. 
* * * 
Possivelmente, em determinados dias, as dificuldades são tantas que o desânimo nos abraça. O acúmulo das dores é tão grande que nos parece uma montanha intransponível. Nosso desejo é que o mundo parasse, porque nos sentimos como alguém que perdeu todas as batalhas e nada mais tem a fazer. Nessas horas, talvez nos indaguemos se temos algo a agradecer. Talvez, até, não nos sintamos motivados à oração. 
Olhemos ao redor e verifiquemos: temos família? Agradeçamos pela sua existência. 
Temos amigos, um somente que seja? Agradeçamos por ele. 
Temos um emprego, um salário, uma ocupação? Agradeçamos por isso. 
Temos um lugar para repousar a cabeça? 
Agradeçamos, não importando seja pequeno, velho, necessitando reformas, pintura, reboco. E, se por acaso, não tivermos afetos, nem amigos, nada mais, agradeçamos a vida que pulsa em nós. 
Agradeçamos a lucidez de nossa mente, a capacidade de pensar. E busquemos apoio. Sempre haverá, em algum lugar, uma nova chance, um amigo que possamos fazer, alguém que nos possa auxiliar. Pode parecer difícil. Mas não é impossível. Verifiquemos quantos padeceram perdas terríveis e conseguiram se reerguer. Isso porque filhos de Deus nunca estaremos desamparados. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base em episódio da série Blue Bloods.
Em 14.4.2020.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

EU VIVO!

Andrey Cechelero
Eu vivo a despertar o que ainda dorme; a fazer dormir o que não mais faz parte. Vivo a vislumbrar o que agora é norte. Este é meu trabalho, esta é minha arte. Eu vivo como quem quer renovar um mergulho novo em novo mar. Vivo sempre, aqui ou acolá. Eu vivo mesmo sem estar na presença clara de um olhar. Vivo sempre, aqui ou acolá. 
Eu... vivo. 
* * *
Somos uma bela obra em desenvolvimento - cada um de nós. Imaginemos um bloco do mais nobre mármore da Terra. A pedra bruta possui em si toda riqueza, todas as características que farão dela um dia uma bela escultura. Mesmo no bloco disforme se veem os veios, as cores, as linhas e curvas que brincam, aparentemente, sem direção ou sentido, fazendo desenhos multiformes. Assim fomos criados. Todos temos a riqueza do mármore e a potencial estátua bela dentro de nós. O que as vidas fazem conosco e o que devemos fazer com nossas vidas? Apenas retirar a rocha excedente, esculpir, embelezar, aformosear. Despertar o que ainda dorme é apenas fazer aparecer a forma graciosa que está debaixo do bloco inerte. Livrar-nos de nossas imperfeições, é apenas deixar de lado os restos da pedra excedente, que não nos serve mais. E assim vamos nos modelando ao longo das eras, vamos nos conhecendo, uma vez que esse processo é também um mergulho para dentro de nossa essência imortal. Conforme vamos descobrindo as novas e belas formas interiores, sempre mais harmônicas, elas nos vão fazendo sentido, vamos enxergando algo compreensível e nos aproximando do belo. Nesse processo, vamos nos apreciando, vamos nos tornando mais próximos do que um dia será um amor imenso, que precisará ser compartilhado com outros. Por vezes o que nos talhará a alma será a dor. O procedimento nos parecerá duro, difícil de compreender, num primeiro instante, visto a olhos pequenos. Entretanto, ainda fará parte do mesmo mecanismo do cinzelar para extrair o belo interior. O desafio dos dias será, então, olharmos para a obra que se tornou melhor, ao invés de lamentarmos, incansavelmente, pelo cinzel que machuca. Assim, viver é despertar o que ainda dorme, o Davi de Michelângelo, a Vênus de Milo de Antioquia, o Pensador de Rodin, o David de bronze de Donatello. Somos todos arte em progresso, obras do grande autor, vivos sempre, vivos em qualquer lugar. Somos os seres inteligentes da Criação, que necessitamos utilizar a inteligência para desenvolver a moralidade; que necessitamos mergulhar para dentro de nós mesmos e realizarmos o melhor manejo da nossa vida. Vivemos ora aqui, no plano terrestre, ora acolá, no plano espiritual, e esses dois planos se misturam, se entrelaçam, se relacionam, pois tudo é um mundo só: o Universo. 
 * * * 
Eu vivo a despertar o que ainda dorme; a fazer dormir o que não mais faz parte. Vivo a vislumbrar o que agora é norte. Este é meu trabalho, esta é minha arte. 
Redação do Momento Espírita, com base no poema Eu vivo, de Andrey Cechelero. 
Em 11.12.2017

domingo, 12 de abril de 2020

PÁSCOA

Você já deve ter percebido, pelas prateleiras abarrotadas de ovos e coelhos de chocolate, que se aproximam os dias da Páscoa. Os meios de comunicação, em geral, não lhe deixariam esquecer tal data. 
Se, no entanto, alguém lhe perguntasse o que é a Páscoa, você saberia responder? 
Qual a relação com ovos, coelhos e chocolates? 
Tem-se notícias de que os israelitas, bem antes de Moisés, celebravam a Páscoa, sempre na primeira lua cheia da primavera, quando ofereciam à Divindade os primogênitos do seu rebanho. A palavra em aramaico pashã, em hebraico pesah (pessach), significa a passagem. Segundos uns, do sol pela constelação do carneiro ou da lua pelo seu ponto mais alto. Nas línguas saxônicas o nome indica uma associação com o mês de abril, quando se comemorava a morte do inverno e a recuperação da vida, a chegada da primavera. O sentido de passagem é relacionado no livro bíblico Êxodo. Foi na época da Páscoa que se deu a libertação do povo hebreu. Cerca de quinze séculos antes de Cristo, depois de ter vivido cerca de quatro séculos no Egito, duramente tratado pelos faraós, conseguiu o povo de Israel abandonar para sempre a terra da escravidão. Naquela noite, os hebreus se serviram da carne assada de um cordeiro, pães ázimos, isto é, sem sal e fermento e alfaces amargas. Em memória daquela noite, todo ano, pelo catorze de Nisan (o mês de abril), os chefes de família celebravam a Páscoa, comemorando agora a libertação do cativeiro egípcio. Os Evangelhos nos dão notícias da última ceia de Jesus com os Apóstolos justamente à época da Páscoa. A paixão, morte e ressurreição de Jesus coincidiram com essa festa. Para os cristãos, a data deve lembrar a ressurreição do Cristo. Após a Sua morte na cruz, Ele se mostra vivo para os Apóstolos, discípulos e amigos. Em corpo espiritual, Ele penetra em recintos fechados, aparece e desaparece, fala em tom breve. Seus discípulos sentem que já não é um homem. É, no entanto, o amigo que retorna para orientar, esclarecer. Jesus voltou, indicando que a morte não existe, provando todas as Suas palavras, dando testemunho da Imortalidade. 
Paulo de Tarso, o Apóstolo dos Gentios, afirmava que se o Cristo não ressuscitara, vã seria nossa fé. O costume de oferecer ovos como presente, nessa época, remonta aos antigos egípcios. Entre nós, o costume foi trazido por missionários que visitaram a China. Só que antigamente, eram ovos mesmo, de pata ou de galinha, coloridos e enfeitados, depois transformados em ovos de chocolates. Para alguns historiadores, o coelho, por ser o animal que mais se reproduz, traduz antigos ritos da fertilidade. Assim, a Páscoa para o cristão deve lhe trazer à memória o ensino vivo da Imortalidade, atestado pelo próprio Cristo. 
Recordar Jesus, pois, Seus ditos e Seus feitos: eis a verdadeira comemoração da Páscoa. Importante que nos libertemos de ritualismos, de cultos exteriores, que nos retardam o progresso. Só então o Reino de Deus fará morada em todos os corações, realizando-se a reforma íntima de todos os homens.
* * * 
Os ovos de chocolate foram introduzidos no Brasil entre os anos de 1913 e 1920, por imigrantes alemães. Foi a partir do século XVIII que se passou a incorporar o ovo de chocolate na comemoração da Páscoa. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 22.08.2011.

sábado, 11 de abril de 2020

CELEBRAÇÃO DO AMOR

Em alguns países, como Argentina, França, Portugal, Estados Unidos, 14 de fevereiro assinala a comemoração do Dia dos Namorados. A data homenageia São Valentim, um bispo que lutou contra as ordens romanas do imperador Cláudio II, que havia proibido o casamento. A norma se prendia ao fato de que, para Roma, os solteiros eram melhores combatentes. Valentim continuou celebrando casamentos, foi preso e decapitado no dia 14 de fevereiro do ano 270. Os enamorados o elegeram como seu protetor, seu padroeiro, o que motivou as comemorações que, em verdade, iniciaram em torno do século V. No intuito de substituir um festival romano que consistia na veneração da deusa da fertilidade, a igreja estabeleceu o dia 14 de fevereiro como o dedicado a São Valentim. Na Idade Média dizia-se que essa data assinalava o primeiro dia de acasalamento dos pássaros. Por isso, os enamorados usavam essa ocasião para deixar mensagens de amor na soleira da porta do ser eleito. De verdade, o que desejamos festejar é o amor. Nesse dia, em especial, o amor entre dois seres que se elegem como companheiros para compartilhar uma nova vida. Neste ano, uma declaração de amor muito especial tocou a muitas pessoas. Isso porque é natural presenciar o arroubo dos corações jovens, que tecem o ninho da primeira paixão. Amores da adolescência, da juventude. Amores de quem acabou de descobrir o que é se apaixonar. Maravilhoso é constatar aqueles casais em que o amor mais se acentua e burila a cada novo ano. O maestro e compositor André Rieu escreveu, nesse dia: 
-No dia de São Valentim, vou voltar para casa, para surpreender a minha mulher. E não é pela primeira vez. Há cerca de quarenta e cinco anos, eu era um jovem estudante de regresso do conservatório de Bruxelas para Maastricht, na Holanda, para visitar a minha jovem mulher. Antes de embarcar, gastei as minhas últimas moedas para comprar um buquê de rosas vermelhas para Marjorie. Quando cheguei à estação, dei-me conta de que não tinha dinheiro suficiente para o bilhete de trem. Eu estava em uma das plataformas, as rosas na mão, o desespero no rosto, quando uma desconhecida percebeu minha situação. Ela se aproximou e se ofereceu para pagar-me a passagem. Não sei quem era essa pessoa. Mas nunca me esqueci da sua gentileza. Quem quer que você seja, agradeço-lhe do fundo do meu coração e a Marjorie também agradece. 
 * * * 
Uma declaração de amor à esposa de mais de quatro décadas de convivência e dois filhos. Suave lembrança de agradecer, mesmo depois de tanto tempo, à gentileza de uma desconhecida. O amor que soma os anos na convivência, que aprende a compartilhar sonhos, conquistas e reveses, somente se fortalece. O amor que vê nascer os filhos e os filhos dos seus filhos é prova eloquente da longevidade desse sentimento. Amor que se traduz em gentileza, em respeito, em pensar em como surpreender quem já nos conhece tão bem. Desejamos um amor assim? Que tal começar hoje num saudável exercício? 
Redação do Momento Espírita com frases de André Rieu, colhidas em The Official Newsletter, de 14.2.2020. 
Em 10.4.2020.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

EU TENHO A FORÇA!

O homem, através dos tempos, reconhecendo sua própria fragilidade, concebeu a existência de seres especiais que o defendessem dos maus. Entre todos os povos, surgiram as lendas e abundaram as histórias de seres dotados de poderes mágicos, alguém com superpoderes. Ou guerreiros de extraordinária força. Para a imaginação infantil, foram concebidos heróis de todas as formas e espécies: aqueles que salvavam as donzelas dos dragões; os que derrotavam os maus em combates extraordinários; os que vinham em socorro do povo maltratado pela tirania. Transferidos para as histórias em quadrinhos, faziam a diversão dos pequenos e de muitos adultos que, semana a semana, aguardavam a continuidade dos episódios eletrizantes. Posteriormente, esses heróis tomaram conta das telas televisivas, com suas peripécias e conquistas. Foi assim que surgiu o príncipe Adam, do reino de Eternia. Possuidor de uma espada mágica, ele a levantava na direção do céu e proclamava: Pelos poderes de Grayskull... E se transformava em He-man. Uma vez completa a transformação, ele dizia: 
-Eu tenho a força! 
E partia, como um guerreiro mágico que era, a lutar contra o mal, utilizando de sua agilidade e superforça. 
* * * 
Possivelmente, alguns de nós, ante problemas graves, apreciaríamos ter em mãos essa espada mágica que nos conferisse poderes de solução rápida e segura. Embora não nos demos conta, somos todos dotados de um grande poder. Infelizmente, nos esquecemos de acioná-lo, devidamente. Esse poder se chama vontade. A vontade é a gerência esclarecida e vigilante, governando todos os setores da ação mental. É o leme de todos os tipos de força incorporados ao nosso conhecimento. A eletricidade é energia dinâmica. O magnetismo é energia estática. O pensamento é força eletromagnética. A vontade, contudo, é o impacto determinante. Nela dispomos do botão poderoso que decide o movimento ou a inércia da máquina. O cérebro é o dínamo que produz a energia mental, segundo a capacidade de reflexão que lhe é própria. Na vontade temos o controle que dirige essa energia mental nesse ou naquele rumo, estabelecendo causas que comandam os problemas do destino. Só a vontade é suficientemente forte para sustentar a harmonia do Espírito. Vontade. Vontade de acertar, de fazer, de crescer. Vontade de superar os óbices que se apresentam e seguir em frente. Importante que aprendamos a acionar essa força, mais vezes. Dizermos a nós mesmos que somos capazes e que alcançaremos o objetivo a que nos propomos. Que lutaremos contra a enfermidade que nos toma de assalto as energias e batalharemos para que ela não nos vença. Que equacionaremos os problemas que nos impedem o crescimento e seguiremos em frente, galgando degrau a degrau, mesmo devagar, mesmo precisando nos deter um pouco antes de prosseguir. Vontade, comandante de nossa energia mental. Pensemos nisso e não nos detenhamos tanto a examinar as nossas fraquezas e admitir as nossas dificuldades. Digamos a nós mesmos que somos capazes, que avançaremos mesmo que sejam milímetros, que iremos adiante. Digamos para nós mesmos: eu tenho a força. Ela se chama vontade. E nos transformemos nos conquistadores e heróis de nós mesmos. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 2, do livro Pensamento e vida, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. Em 23.3.2018.