terça-feira, 31 de março de 2020

O CÁLICE DAS PÉROLAS

Khaled Hosseini
Era uma vez... 
As histórias maravilhosas começam assim. Não importa o tamanho delas. Se começam por era uma vez, são sempre maravilhosas. Pois era uma vez um homem. Um homem pobre que de precioso só tinha um cálice. Nele, ele bebia a água do riacho que passava próximo à sua casa. Nele, bebia leite, quando o conseguia, em troca de algum trabalho. Era pobre, mas feliz. Feliz com sua esposa, que o amava. Feliz em sua pequena casa, que o sol abraçava nos dias quentes, tornando-a semelhante a um forno. Feliz com a árvore nos fundos do terreno, onde escapava da canícula. Saía pelas manhãs em busca de algum trabalho que lhe garantisse o alimento a ele e à esposa, a cada dia. Assim transcorria a vida, em calma e felicidade. Nas tardes mornas, quando retornava ao lar, era sempre recebido com muita alegria. Era um homem feliz. Trazia o coração em paz, sem maiores voos de ambição. 
Então, um dia... 
Sempre há um dia em que as coisas acontecem e mudam o rumo da história. Pois, nesse dia, nem ele mesmo sabendo o porquê, uma lágrima caiu de seus olhos, dentro do cálice. De imediato, o homem ouviu um pequeno ruído, como de algo sólido, que bateu no fundo do recipiente. Olhou e recolheu entre os dedos uma pérola. Sua lágrima se transformara em uma pérola. Então, o homem pensou que poderia ficar muito rico se chorasse bastante. Como não tinha motivos para chorar, ele começou a criá-los. Precisava se tornar uma pessoa triste, chorosa, para enriquecer. Com o dinheiro da venda das pérolas pensava comprar lindas roupas para sua esposa, uma casa mais confortável, propriedades, um carro. 
E assim foi. 
Ele começou a buscar motivos para ficar triste e para chorar muito. Conseguiu muitas riquezas. Ele poderia tornar a ser feliz. No entanto, desejava mais. As pequenas coisas que antes lhe ofertavam alegrias, agora, de nada valiam. 
Que lhe importava o raio de sol para se aquecer no inverno? Com dinheiro, ele mandou colocar calefação interna em toda sua residência. 
Por que aguardar os ventos generosos para arrefecer o calor nos dias de verão? Com dinheiro, ele pediu para ser instalado ar condicionado em toda a sua casa. 
E no carro, e no escritório que adquiriu para gerir os negócios que o dinheiro gerara. E a tristeza sempre precisava ser maior. Do tamanho da ambição que o dominava. Nunca era o bastante. Os afagos da esposa, no final do dia e nos amanheceres de luz deixaram de ser imprescindíveis. Ele não podia perder tempo. Precisava chorar. Precisava descobrir fórmulas de ficar mais triste e derramar mais lágrimas. Finalmente, quando o homem se deu conta, estava sem esposa, sem amigos. Só... com seu dinheiro, toda sua imensa fortuna. Chorando agora, estava tão desolado, que nem mais se importava em despejar o dique das lágrimas no cálice. A depressão tomara conta dele e nada mais tinha significado. 
* * * 
A história parece um conto de fadas. Mas nos leva a nos perguntarmos quantas vezes desprezamos os tesouros que temos, indo à cata de riquezas efêmeras. Pensemos nisso e não desperdicemos os valores verdadeiros de que dispomos. Nem pensemos em trocá-los por posses exageradas. A tudo confiramos o devido valor, jamais perdendo nossa alegria. Haveres conquistados à troca de infelicidade somente geram infelicidade. 
Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita a partir de pequeno conto do cap. 4 do livro O caçador de pipas, de Khaled Hosseini, ed. Nova Fronteira. 
Em 30.3.2020.

segunda-feira, 30 de março de 2020

EU OS AMEI O SUFICIENTE

Carlos Heckteuer
Psiquiatra
Meus filhos, um dia, quando vocês forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, eu hei de lhes dizer: 
-Eu os amei o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão. 
-Eu os amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia. 
-Eu os amei o suficiente para os fazer pagar as balas que tiraram da mercearia e os fazer dizer ao dono: “Nós roubamos isto ontem e queríamos pagar.” 
-Eu os amei o suficiente para ter ficado em pé junto de vocês por uma hora, enquanto limpavam o seu quarto; tarefa que eu teria realizado em quinze minutos. 
-Eu os amei o suficiente para os deixar ver, além do amor que eu sentia por vocês, o desapontamento e também as lágrimas nos meus olhos. 
-Eu os amei o suficiente para os deixar assumir a responsabilidade das suas ações, mesmo quando as consequências eram tão duras que me partiam o coração. 
-Mais do que tudo, eu os amei o suficiente para dizer-lhes não, quando eu sabia que vocês poderiam me odiar por isso. 
Essas eram as mais difíceis batalhas de todas. 
-Estou contente... Venci... porque no final vocês venceram também! 
-E, qualquer dia, quando meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, meus filhos vão lhes dizer quando eles lhes perguntarem se a sua mãe era má:
-”Sim... nossa mãe era má. Era a mãe mais má do mundo. 
-As outras crianças comiam doces no café da manhã e nós tínhamos de comer pão, queijo, leite. 
-As outras crianças bebiam refrigerante e comiam batatas fritas e sorvete no almoço e nós tínhamos de comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas. 
-Ela nos obrigava a jantar à mesa, bem diferente das outras mães, que deixavam os filhos comer vendo televisão. 
-Ela insistia em saber onde nós estávamos a toda hora. Era quase uma prisão. Mamãe tinha que saber quem eram os nossos amigos e o que nós fazíamos com eles. Insistia que lhe disséssemos quando íamos sair, mesmo que demorássemos só uma hora ou menos. 
-Nós tínhamos vergonha de admitir, mas ela violou as leis de trabalho infantil. Nós tínhamos de lavar a louça, fazer as camas, lavar a roupa, aprender a cozinhar, aspirar o pó do chão, esvaziar o lixo e todo o tipo de trabalhos cruéis. 
-Eu acho que ela nem dormia à noite, pensando em coisas para nos mandar fazer. 
-Ela insistia sempre conosco para lhe dizer a verdade, e apenas a verdade. E quando éramos adolescentes, ela até conseguia ler os nossos pensamentos. A nossa vida era mesmo chata. 
-Ela não deixava os nossos amigos tocarem a buzina para que nós saíssemos. Tinham de subir, bater na porta para ela os conhecer. Enquanto todos podiam sair à noite com doze, treze anos, nós tivemos de esperar pelos dezesseis. Nossos amigos dirigiam o carro dos pais, mesmo sem ter habilitação, mas nós tivemos que esperar os dezoito anos para aprender, como pede a lei. 
-Por causa da nossa mãe, nós perdemos muitas experiências da adolescência. Nenhum de nós esteve envolvido em roubos, atos de vandalismo, violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime. 
-Foi tudo por causa dela. 
-Agora já saímos de casa. Somos adultos, honestos e educados, e estamos fazendo o possível para ser, também, ‘pais maus’, tal como a nossa mãe. Achamos que este é um dos males do mundo de hoje: não há suficientes mães más como a nossa mãe o foi..”.
Redação do Momento Espírita, com base em mensagem de autoria de Carlos Heckteuer. Disponível no CD Momento Espírita, Coletânea v. 8 e 9 e no livro Momento Espírita, v. 4, ambos ed. FEP. 
Em 8.10.2018.

domingo, 29 de março de 2020

EU ME IMPORTO

Aconteceu em uma empresa. Nem muito grande, nem muito pequena. O gerente chegou pela manhã e encontrou, esquecido frente à porta de entrada, um balde. Não era um balde especial, não havia nele nenhuma marca. Um balde plástico, desses utilizados para limpeza. Era evidente que uma das responsáveis pela limpeza, o esquecera ali. Porque o balde dificultasse o acesso à entrada, o gerente o levou para dentro e colocou em um canto da sala de recepção. Chamou uma das serventes e perguntou: 
-Este balde é seu? 
A moça, desconfiada, olhou e disse com firmeza: 
-Não. É o que Maria utiliza na limpeza. 
-Obrigado, falou o gerente. 
E chamou outra servente, fazendo a mesma pergunta. E outra. A resposta de cada uma foi a mesma. Não era seu o balde. E por não ser seu, o balde continuou no mesmo local onde fora colocado pelo gerente. Finalmente, a quarta servente olhou o objeto, disse que não era seu, não fora ela que o esquecera ali. Mas, resoluta, sem esperar qualquer ordem, pegou o balde e o foi colocar no seu devido lugar. Um simples balde. Quanto tempo perdido! Muitas vezes, agimos assim. Encontramos coisas fora do lugar, mas porque não nos pertencem, as deixamos ali. Isso ocorre em casa, no ambiente de trabalho, na escola, na rua. E seria tão simples e rápido colocar no lugar. Desviar do objeto em vez de retirá-lo de onde se encontra indevidamente, ou procurar o “culpado”, requer muito mais esforço. Enquanto persistirmos nessa posição de não fui eu e portanto não tenho nada com isso, o mundo não se tornará melhor. Imaginemos o dia em que todos nos importarmos com as pequenas coisas. Não haverá mais roupas fora do lugar, em nossos lares. Cada um procurará guardar o que é seu. E se alguma coisa, por acaso, ficar esquecida, o primeiro que chegar a colocará em seu devido lugar. A pia não ficará tão cheia de pratos, copos e panelas porque quem primeiro chegar, providenciará a lavagem e a devolução às prateleiras e armários. Nosso ambiente de trabalho se tornará um lugar de mútua cooperação e todas as tarefas acontecerão de forma mais eficiente e rápida. Ninguém buscará saber quem esqueceu determinado material sobre a mesa ou o balcão. Simplesmente o apanhará e devolverá no local devido. Quem precisar, sempre saberá onde encontrar. Os computadores serão desligados ao final do dia. As luzes apagadas nas salas que não estão sendo utilizadas. Na rua, não haverá latas e papéis jogados. Tudo será colocado nas lixeiras. Mas, na hipótese do vento trazer lixo de algum lugar, quem passar primeiro, o recolherá e porá na lixeira. Todo motorista estacionará de forma correta seu veículo, ocupando o exato espaço que necessita. Dessa forma, haverá mais vagas disponíveis para quem precise estacionar. Assim, serão evitadas filas duplas indevidas, carros dificultando passagem de pedestres. As praças estarão sempre bonitas porque limpas. Se alguém esquecer um copo, uma garrafa, um papel, sempre haverá outro alguém que se importa e providenciará a imediata retirada. Esse mundo ideal que pensamos e desejamos não é o do futuro distante. Ele pode começar amanhã, bastando apenas que cada um de nós inicie a campanha do eu me importo com isso. 
E aja. 
Vamos todos começar hoje? 
Equipe de Redação do Momento Espírita. 
Em 6.6.2006.

sábado, 28 de março de 2020

NOTÍCIA BOA

Estranhamente, o ser humano ainda se alimenta de notícias ruins. Ele as procura, curioso. Busca detalhes, dá atenção a rumores, minúcias doentias desse ou daquele acontecimento. Como isso o seduz, os meios de comunicação o atendem prontamente, promovendo um desfile diário de desgraças diante de nossos olhos. Em nome de suposto serviço social, muitas vezes somos obrigados a tomar conhecimento de informações inúteis, que apenas nos deixam mais preocupados e mudam para pior o padrão de nossos pensamentos. 
Por que ficar sabendo de pormenores de investigações criminais, por exemplo? 
Questões que só dizem respeito aos autos de investigação, aos profissionais da área e talvez aos familiares envolvidos. 
Por que dar ênfase à criminalidade em detrimento de tantas coisas boas que acontecem, ao mesmo tempo, às vezes, naquela mesma região ou bairro? 
Sem perceber, vivemos aterrorizados porque queremos e procuramos esse caminho. A responsabilidade não é apenas dos meios de comunicação. É dos que lhes damos ouvidos, dos que lhes damos corda – como se fala popularmente. É certo que não vivemos numa sociedade de paz e alegria, onde tudo são flores. No entanto, podemos afirmar que no mundo só há desventura e sofrimento? De maneira alguma. Ao mesmo tempo que temos muitos tomando as trilhas da dor, temos outros tantos fazendo escolhas felizes, promovendo atos de solidariedade, criando beleza onde nunca imaginávamos poder existir. Algumas vozes novas se erguem na multidão. Perceberam esses excessos e relutam em se deixar vencer pelo pessimismo reinante nas mídias em geral. Foram obrigados a criar espaços, sites, momentos específicos apenas para notícias boas. Parece estranho, mas se faz necessário esse tipo de iniciativa, que traz um certo frescor aos pensamentos tão fixados em acontecimentos infelizes. E como se multiplicam as notícias felizes! Como é bom descobrir o bem em tantos lugares e de tantas maneiras diferentes! Revigora a alma e nos faz perceber que estamos num momento de transformação. O mal ainda predomina, sim, o que é natural em um mundo de provas e expiações. Mas já se anuncia uma transição, que vem se operando silenciosa nos corações humanos. Quando o bem aprender a fazer barulho, isto é, sobressair, anunciar-se, mostrar-se presente e seguro, perceberemos que o mal do mundo não é tão ameaçador como nos parece. 
* * * 
Você sabia que Evangelho quer dizer: 
Boa notícia? 
A palavra vem do grego e significa: 
Boa nova, boa mensagem. 
A proposta de Jesus foi trazer boas notícias. Trouxe um novo mandamento, deu certeza de uma vida futura e mostrou-nos um caminho seguro a percorrer. Sejamos nós, sempre que possível, divulgadores das notícias boas, assim como o Cristo o foi. Façamos melhores escolhas naquilo que assistimos, lemos ou estudamos. Propaguemos o amor nas nossas ações e palavras. Sejamos cada um, uma Boa Nova para o mundo. Esmeremo-nos em divulgar o positivo, o bom, o que promova o bem. Sejamos Embaixadores da Boa Nova, fazendo a diferença no mundo! 
Redação do Momento Espírita. 
Em 27.3.2020.

sexta-feira, 27 de março de 2020

DAR AMOR

Elisabeth Kübler-Ross
O panorama do mundo, neste início do Terceiro Milênio, não é maravilhoso. Há milhões de pessoas que estão passando fome. As guerras continuam devastadoras. Os homens disputam pedaços de terra, que chamam de territórios, como se fossem viver para sempre em cima deles. E cada pedacinho fica manchado com o sangue de muitas vítimas. Há milhões de pessoas sem um teto. Milhões que sofrem de AIDS. Milhões de crianças, adultos e velhos que sofreram e sofrem violência. Milhões de pessoas que padecem de invalidez, seja por terem nascido com a deficiência ou por terem sido vítimas de enfermidades, acidentes ou combates. Todos os dias, em todo o mundo, mais alguém está clamando por compreensão e compaixão. Este é o mundo que recebemos do milênio passado. O mundo que construímos. Agora nos compete construir o mundo renovado do Terceiro Milênio. Escutemos o som das vozes de todos os que padecem. Escutemos como se fosse uma cantiga, um mantra que suplica auxílio. Abramos os nossos corações para todos os que estão precisando e aprendamos que as maiores bênçãos vêm sempre do ajudar aos outros. Acima de pontos de vista econômicos, de crença religiosa, de cor da pele, aprendamos que todos somos filhos do mesmo Pai e nos encontramos na mesma escola: a Terra. Por isso o auxílio mútuo é dever de todos. Podemos não resolver os problemas do mundo, mas resolveremos o problema de alguém. Não podemos resolver o problema da AIDS, mas podemos colaborar valorosamente nas campanhas de esclarecimento às novas gerações. Não podemos diminuir as dores de todos os pacientes, mas podemos colaborar conseguindo a medicação precisa para um deles, ao menos. Com certeza, não podemos devolver mobilidade a membros paralisados. Mas podemos nos tornar mãos e pernas, auxiliando aqueles que precisam. Podemos não resolver o problema da fome no mundo, mas podemos muito bem providenciar para que quem esteja mais próximo de nós, não morra à míngua, providenciando-lhe o alimento ou o salário justo. É muito importante aprender a gostar de tudo o que fazemos. Podemos ser pobres e nos sentir sozinhos. Podemos morar em um local não muito agradável, mesmo assim, ainda poderemos colocar flores nos corações e nos alegrar com a vida. Tudo é suportável quando há amor, único sentimento que viverá para sempre. * * * O amor é a virtude por excelência, seja na Terra, seja em outras moradas do Senhor. O equilíbrio do amor desfaz toda discriminação, na marcha que realizamos para Deus. Exercitando o amor conjugal, filial, paternal ou fraternal busquemos refletir, mesmo que seja à distância, o amor do nosso Pai, que a todos busca pelos caminhos da evolução. Vivamos e amemos, de forma equilibrada, sentindo as excelsas vibrações que vertem de Deus sobre as necessidades do mundo. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 40, do livro A roda da vida, de Elisabeth Kübler-Ross, ed. Sextante e no cap. 2, do livro Vereda familiar, pelo Espírito Thereza de Brito, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter. 
Em 26.3.2020.

quinta-feira, 26 de março de 2020

PARA QUE NASCI?

Para que eu nasci? 
Quanto mais adentramos o conhecimento da vida de grandes homens, mais nos indagamos a respeito da nossa própria jornada na Terra. O pastor e ativista político Martin Luther King Jr, líder do Movimento dos Direitos Civis dos negros nos Estados Unidos e no mundo, com sua campanha de não violência e de amor ao próximo. A religiosa indiana, de origem albanesa, Prêmio Nobel da Paz de 1979, Madre Teresa, com sua proposta de atender aos pobres mais pobres do mundo. Mohandas Karamchand Gandhi, o advogado que empregou resistência não violenta para liderar a campanha bem sucedida da independência da Índia. Suas ações inspiraram movimentos pelos direitos civis e liberdade em todo o mundo. E que se dizer de tantos jornalistas que, no intuito de denunciar a crueldade, o terrorismo, a corrupção, pagam com a própria vida. Tantos grandes homens, tantas vidas excepcionais. Músicos que levam plateias ao quase êxtase com suas execuções instrumentais; bailarinos que traduzem as mais doces e as mais duras emoções em seus passos, nas suas expressões corporais; médicos, enfermeiros que salvam vidas em hospitais, em campos de refugiados, em zonas de miséria, onde abundam as enfermidades; professores que ilustram as mentes, poetas que escrevem poemas de extraordinária beleza e filosofia... Tantos exemplos preciosos. Tantas doações ao semelhante, tantas contribuições para a Humanidade. É então que olhamos para nós mesmos, sem nenhum desses grandes potenciais e nos indagamos: Para que eu nasci? Toda vida tem um propósito. E todo propósito obedece a um plano divino. Podemos não ser o escritor famoso, que derrama pelo mundo as suas obras. Nem o orador extraordinário que arrebata multidões com o seu verbo. Nem o grande líder que promoverá mudanças de porte em nosso país ou no mundo. Analisemos a nossa vida. Onde vivemos, qual o panorama que nos rodeia? Que profissão exercemos? E nos daremos conta de que a Divindade espera que cumpramos o nosso planejamento reencarnatório, que pode englobar a paternidade e a maternidade. Essas missões são de extraordinária importância. E se não somos pais da própria carne, talvez tenhamos vindo para apoiar e abraçar a adoção. Quiçá nos encontramos aqui para servir de amparo a alguém, a ser um simples voluntário numa obra de paz, de assistência à fome ou à deficiência. Não seremos o líder, mas aquele que engrossa as fileiras pelas causas do bem. Aquele que contribui, que adere, que coopera, anônimo, no tempo preciso. Talvez estejamos aqui para demonstrar pelo trabalho como se cumpre de forma honrada o dever. Ou tenhamos nascido para sermos o amparo dos pais, quando alcançarem a velhice. O braço forte quando lhes enfermarem os membros e se lhes tornar difícil o passo. Talvez tenhamos nascido simplesmente para plantar um jardim, construir uma casa, adornar um ambiente, providenciar a limpeza da rua por onde passarão os nossos irmãos. Tenhamos certeza. Cada um de nós nasceu para um propósito: ser colaborador de Deus no mundo. Crescer. Progredir. Conquistar as estrelas. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 25.3.2020.

quarta-feira, 25 de março de 2020

EU ME DEI CONTA!

Falando com alguns jovens, eu me dei conta dos tantos anos vividos. Eu lhes falei do disco de setenta e oito rotações, da maravilha que foi quando surgiu o compacto simples, depois o compacto duplo, o long-play. A maioria deles jamais ouvira falar dessas coisas. Olharam uns para os outros e perguntaram se eu era do século passado. Bem, eu lhes disse, na verdade não sou somente do século passado, mas do milênio passado. E usei o telefone, aquele preto, com disco onde era preciso colocar a ponta do dedo em cada pequeno círculo numérico e girar para fazer a ligação. Sou do tempo da máquina fotográfica que precisava de um rolo de filme dentro dela. Havia de doze, vinte e quatro e trinta e seis poses. E a foto só podia ser vista depois de revelada, o que era feito após todas as poses terem sido utilizadas. Tristeza era quando aquele momento especial não ficara registrado. A foto queimara por inabilidade do fotógrafo ou má exposição do filme. Tempos antigos. Tempos de fita cassete, de vídeo cassete. Tempos em que se aguardava, com ansiedade, o mais recente álbum do cantor ou banda favorita chegar na loja da cidade. Pesquisas escolares somente na biblioteca, nos volumes grossos da enciclopédia, que nem sempre trazia os últimos dados, porque fora impressa há algum tempo. Vivemos o tempo da Jovem Guarda, do Rock, da Bossa Nova. Vibramos com os artistas da época. Alguns, ainda fazendo sucesso, encarnados. E o cinema? Crianças, não podíamos perder a sessão da tarde, no domingo, que chamávamos, de forma equivocada, de matiné. Eram exibidos seriados a cada semana e não podíamos perder nenhum capítulo. Assistimos à chegada do cinemascope e nos encantamos com as cores. E ficamos anos ouvindo a apresentadora brasileira dizer no seu programa: 
-Ah, se a TV fosse a cores, enquanto descrevia os vestidos com os quais as modelos desfilavam.  
Damo-nos conta que tudo aconteceu muito rápido. Temos um pouco mais de meio século. Não diremos exatamente, quanto mais. Porém, em curto tempo, a tecnologia progrediu muito. Então, quando nos encantamos com os filmes da atualidade, com suas fantásticas produções, seus efeitos sonoros e visuais; quando de forma rápida fazemos nossas pesquisas na internet; quando falamos com nossos amigos e familiares onde quer que estejam; quando assistimos aos acontecimentos do mundo em tempo real, louvamos a Deus. Somos seres imortais, criados à Sua Imagem e Semelhança, por isso tão criativos, tão inventivos. Os anos passados foram bons como bons são os da atualidade, com tanto progresso e tecnologia. Importante mesmo é saber que, ser imortal, vou partir algum dia. Mas voltarei e tenho certeza de que encontrarei um mundo ainda mais pleno de tecnologia e igualmente, cheio de amor, porque teremos aprendido que somos uma enorme família, reunida em um único lar chamado Terra. Um planetinha, cada dia menor porque cada dia ficamos mais próximos uns dos outros. A tecnologia nos permite isso. E para ficarmos bem pertinho uns dos outros, basta abrir nossos corações.
Redação do Momento Espírita. 
Em 25.9.2019.

terça-feira, 24 de março de 2020

EU ESTOU CERTO!

Por que queremos sempre ser os donos da verdade?
Por que nossas ideias precisam sempre prevalecer?
Será que precisamos vencer todas as discussões que travamos? 
Dale Carnegie, escritor e orador americano, autor do best seller: Como fazer amigos e influenciar pessoas, narra uma experiência particular muito rica. Conta ele:
-Certa noite, estava num banquete dado em honra a um homem muito importante. Durante esse banquete, um outro homem que estava sentado ao meu lado contou um caso que girava em torno da seguinte afirmativa: 
-"Há uma Divindade que protege nossos objetivos, traçando-os como os desejamos." 
Ele mencionou que tal frase era da Bíblia. Enganara-se. Eu sabia disso. Sabia, e com toda a certeza. Não podia haver a menor dúvida a respeito. E assim, para conseguir um ar de importância e demonstrar minha superioridade, tornei-me um importuno e intrometido encarregando-me de corrigi-lo. Acionou suas baterias. 
-"Quê? De Shakespeare? Impossível! Absurdo! Essa frase era da Bíblia." 
E ele conhecia. O homem que narrava o caso estava sentado á minha direita, e o senhor Frank Gammond, meu velho amigo, à minha esquerda. O Sr. Gammond havia dedicado anos ao estudo de Shakespeare. Assim, o narrador e eu concordamos em submeter a questão ao Sr. Gammond. Este escutou, cutucou-me por baixo da mesa e disse: 
-"Dale, você está errado. O cavalheiro tem razão, a frase é da Bíblia." 
De volta para casa, disse ao Sr. Gammond: 
-"Frank, eu sei que a frase é de Shakespeare." 
-"Sim, naturalmente", respondeu. "Hamlet, ato V, cena 2. Mas nós éramos convidados numa ocasião festiva, meu caro Dale. Por que provar a um homem que ele estava errado? Isso iria fazer com que ele gostasse de você? Por que não evitar que ele ficasse envergonhado? Não pediu sua opinião. Não a queria. Por que discutir com ele? Evite sempre um ângulo agudo." 
O homem que me disse isso ensinou-me uma lição inesquecível. Eu não só tinha embaraçado aquele contador de estórias, como também o meu amigo. Teria sido muito melhor se eu não tivesse sido argumentativo.  
* * * 
A necessidade de sermos aceitos num grupo, de mostrar o que sabemos, muitas vezes nos coloca em situações desagradáveis. Somos descorteses e inconvenientes, querendo provar um ponto de vista com veemência, apenas para que todos percebam como eu estava certo. Será que o mais importante nessas conversas é estar certo ou ser polido, fraterno com a outra pessoa? Por que nossas ideias precisam sempre prevalecer? Eis o orgulho disfarçado de sapiência, de eloquência, esquecendo que o amor nos faz querer ajudar o outro, em toda oportunidade, e nunca desmerecê-lo. Pensemos sobre isso, e nas conversações lembremos de dar espaço ao outro, de procurar exaltar as qualidades do próximo, sendo polidos e amáveis em toda oportunidade. A caridade tem mais nuances do que se pode imaginar... 
Redação do Momento Espírita com base no cap. I, pt. III, do livro Como fazer amigos e influenciar pessoas, de Dale Carnegie, ed. Companhia Editora Nacional. 
Em 01.12.2009.

segunda-feira, 23 de março de 2020

EU ACHAVA QUE O CHORO ERA RUIM!

Gabriela Ruggiero Nor
A experiência de uma mãe e seu bebê nos traz reflexões muito profundas e importantes. Diz-nos ela: 
-É que eu achava que o choro era ruim. Eu achava que o choro tinha que parar. E acho que é isso que aprendi: não precisa. Existem, sim, motivos para o choro: desconforto de temperatura, fome, fralda, refluxo, doença, sono. Mas existe o choro que não cessa após checar tudo o que pode estar errado. E esse choro, que pode durar horas até, esse choro não é errado. E se hoje eu pudesse rever esses dias de maternagem, talvez me preocupasse menos em silenciar o choro de minha filha e mais em acolher suas lágrimas. Talvez eu me focasse menos em ficar dizendo “shhhh”, balançando Clarinha de um lado pro outro do quarto, tentando todas as táticas possíveis, me sentindo incapaz de consolá-la, e decidisse aceitar o seu choro, sua voz, como eu procuro aceitar a de qualquer amigo que me procura em prantos. Entender que não se pode resolver a dor do outro, mas sempre se pode acolhê-la. Entender que o choro às vezes não é dor, mas adaptação a esse mundo de sons, cheiros, luzes e pessoas, a que o bebê não está acostumado. Entender que, quando não se fala, não se balbucia e não se gesticula, só existe o choro como comunicação. E quantas vezes as minhas tentativas de cessar o choro me impediram a verdadeira conexão com a minha filha? O quanto o simples ato de abraçá-la e permitir que ela chorasse o que precisava, sabendo que eu estava ali com ela, presente, integralmente presente, sem procurar distraí-la, teria sido tão ou mais eficiente do que tentar táticas e truques para ela parar de chorar? O quanto aquele choro não era um pedido por mais presença com intenção e coração, uma necessidade de dar um basta nas incômodas visitas pós-parto, um desejo de proximidade e o luto pela separação de não estar mais dentro de mim, segura e protegida? Choro é emoção. Não quero ensinar a ela que o choro é errado. Que as emoções são erradas, que sentir é inadequado. O choro é normal. 
* * * 
Se percebermos bem, adquirimos este hábito de fazer tudo para que o choro cesse o quanto antes. Tanto o nosso chorar como o de alguém que nos é caro. O choro é incômodo, é constrangedor, em nossa cultura, e ele precisa ser represado com uma urgência e um desespero injustificáveis – se pensarmos bem. Não paramos para pensar que o choro tem seu momento. É algo que precisa sair e precisa de tempo para isso. Melhor para fora do que para dentro, disse alguém, um dia, consolando uma pessoa que se desculpava por não ter conseguido segurar as lágrimas. Sim, nós pedimos desculpas por nos emocionarmos... Muito estranho. Como se fosse sinal de fraqueza. Chorar é bom. Chorar é importante. Chorar é terapêutico. Aqueles que guardam anos e anos de lágrimas constroem doenças para si. É isso mesmo: ficamos doentes porque represamos emoções. E no que diz respeito à dor do outro, que muitas vezes não conseguimos resolver, que às vezes teríamos vontade de tirar com as mãos se pudéssemos – quando é de um filho, de um pai, de uma mãe – essas dores podemos acolher. Podemos compartilhar lágrimas e dizer: 
-Estou com você. 
Acolher o choro de alguém sempre será gesto profundo de amor. 
Redação do Momento Espírita, com base em texto de autoria de Gabriela Ruggiero Nor do site www.vilamamifera.com/cafemae, de 20 de julho de 2014. Em 9.9.2014.

domingo, 22 de março de 2020

EU,MELHOR!

-Qual foi a experiência de vida que transformou você em alguém melhor? 
Esta foi a pergunta feita pela redação de uma revista de circulação nacional, aos seus leitores. A questão gerou uma matéria muito inspirada, intitulada Eu, melhor, apresentando diversos relatos de pessoas e acontecimentos que as transformaram. Encontros, desencontros, doenças, surpresas. Diversos tipos de experiências foram narradas e, ao final de cada relato havia uma pessoa agradecida e melhor. Uma delas, ainda muito jovem, lembra o dia em que o pai recebeu o diagnóstico de câncer e veio contar à família. Pediu que não ficassem tristes pois, caso não conseguisse a cura, aproveitaria mesmo assim a oportunidade para se transformar em alguém melhor. O homem buscou perdão e reconciliação com familiares. Um dia, ao ouvir de alguém a expressão doença maldita, rebateu dizendo: 
-Para mim, ela é bendita! 
Dois meses depois ele morreu. A filha, emocionada, afirma que não só ele se transformou em alguém melhor, mas mudou para melhor a vida de todos ao seu redor. Seu exemplo é lembrado até hoje e sua conduta sempre será referência para aquele núcleo familiar.
* * * 
A vida tem costume de surpreender. De repente, aparece alguém que, com um gesto, abre nossos olhos. Ou um acidente no percurso, apontando para novas direções. Às vezes, é uma viagem ou um encontro programado que segue rumos inesperados e nos transforma. É a soma de eventos assim, belos e gratuitos, que nos faz melhores, mais fortes, mais maduros. Pode ser uma soneca no ônibus, um encontro com um desconhecido, um raio que clareia tudo ou a proximidade da morte. O que importa é olhar para essas experiências e reconhecer que elas nos ensinaram e, do seu jeito, nos fizeram mais felizes. Sem pedir nada em troca, são pequenas graças plantadas no cotidiano. Como se fossem sinais, apontando para lugares onde podemos ser mais leves e alegres. Então, quando olhamos para trás e enxergamos o caminho percorrido, só nos resta agradecer, do fundo do coração, à vida, que nos faz uma versão melhor de nós mesmos. 
* * * 
Todas as forças da natureza nos impulsionam para frente, rumo ao progresso inevitável. Progresso da alma, que vai se tornando mais sensível, mais amorosa, mais madura. Progresso também da mente, mais esclarecida, com capacidade de tomar decisões com mais segurança. Aproveite esses momentos de reflexão, onde você estiver, para lembrar que experiências fizeram de você alguém melhor, e se você soube ou está sabendo aprender com os acontecimentos da vida. Todos eles, julgados como bons ou maus por nós, trazem dentro de si o objetivo de depurar o Espírito aprendiz. 
- Qual foi a experiência de vida que transformou você em alguém melhor? 
Redação do Momento Espírita com base em matéria da revista Sorria nº 23, de dezembro/janeiro 2012, de autoria de Jaqueline Li, Jéssica Martineli, Karina Sérgio Gomes, Rafaela Dias, Rita Loiola, Tissiane Vicentin e Valéria Mendonça. 
Em 27.6.2012.

sábado, 21 de março de 2020

ÉTICA, URGENTEMENTE!

DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANNA DE ÂNGELIS
Ética é a parte da filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais de conduta humana. Enquanto a moral diz o que fazer, a ética ensina como viver, ambas tendo como objetivo maior a felicidade do indivíduo. Aristóteles entendia que todas as coisas tendem para o bem, isto é, o bem é a finalidade de todas as coisas. A ética, neste contexto, é o caminho para alcançar este bem maior. O bem leva cada indivíduo a ser capaz de viver com os outros. A ética, no campo individual, prepara terreno para a política, no campo coletivo. Para Aristóteles, a finalidade da política é a busca do bem de todos os homens. 
E qual é esse bem? 
A felicidade. 
Felicidade não como um sentimento passageiro, que se instala e vai embora, ao contrário, é obra de uma vida inteira. O homem é o único animal ético que existe. Essa consciência ética nele existe em potencial, aguardando que seja desenvolvida mediante e após o auto-descobrimento, a aquisição de valores e virtudes. Sem ética o homem apresenta conflitos que o atormentam, dificultando-lhe discernir entre o certo e o errado, o bem e o mal, o bom e o pernicioso. Ainda dominado pelo egocentrismo da infância, de que não se libertou, pensa que o mundo existe para que ele o desfrute, e as pessoas para que o sirvam, disputando e tomando à força, o que supõe lhe pertencer. Uma conduta ética, por sua vez, permite que ele busque sua felicidade jamais prejudicando a felicidade dos outros. Uma conduta ética permite que tenha a liberdade de não precisar esconder nada de ninguém, de fazer o certo mesmo que ninguém esteja olhando ou julgando. Aprendemos que as leis de Deus se encontram inscritas na consciência do homem. As leis são o código moral. A vida ética é aquela que lhe permite viver em paz com sua consciência. 
* * * 
Precisamos de ética, urgentemente. A vida feliz não está na busca dos prazeres materiais, mas na conquista das virtudes da alma, que nos permitem viver em harmonia conosco mesmos e com o próximo. Certo e errado são apenas direções que nos apontam para a felicidade ou para longe dela. Na vida de relação, o respeito à felicidade alheia promove, indiretamente, a obtenção da nossa própria. A vida ética é mais simples. A vida sem ética é complexa, repleta de segredos, de aflições, de expectativas e receios. Tudo se torna frágil. A mentira pode ser descoberta. Os segredos podem ser revelados. Podemos ser desmascarados a qualquer momento. Só vive em paz consigo mesmo e com o mundo quem é ético. Precisamos de ética, urgentemente. E ética se ensina e se aprende, essencialmente, através do exemplo e desde quando estamos no ventre materno. Assim, aqueles que somos pais, não nos preocupemos apenas com o mundo que estamos deixando para nossos filhos mas, principalmente, com os filhos que estamos deixando para o mundo. Se queremos representantes e administradores mais éticos, eduquemos aqueles que logo mais estarão nessas importantes posições. Se queremos uma sociedade, um país mais ético, comecemos por nós mesmos. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 12, do livro O homem integral, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 24.7.2017.

sexta-feira, 20 de março de 2020

ETERNO NAMORO

Uma das causas apontadas para as separações conjugais tem sido o tédio. Aos poucos, a relação que era cálida, doce, vai assumindo um caráter de mesmice, cansaço e rotina. Os dias do namoro parecem longínquos, quase apagados, surgindo na tela mental como lembranças ligeiras, vez que outra. São os filhos que surgem, exigindo cuidados e atenções. É o trabalho profissional que requisita redobrado empenho. São as tarefas domésticas, repetitivas e cansativas. Com tudo isto, cada cônjuge vai realizando o que lhe compete, qual se fosse um autômato, um robô. Nada que escape à rotina das horas e dos dias. Até o lazer do final de semana, as visitas aos pais de um e de outro seguem programação prévia, com dia e hora marcados. Não é de admirar que os anos tragam para o aconchego do casal o tédio. Com ele, o desinteresse pelo outro, o relaxamento nas relações e a frieza. Observando, no entanto, essas relações conjugais duradouras, que completam bodas de prata, de ouro, temos que convir que é possível manter acesa a chama do amor, no transcorrer dos anos. O amor pode ser comparado à delicada flor, necessitada de cuidados constantes a fim de não fenecer. O romantismo que caracteriza o período do namoro deve ser mantido. Importante não abandoná-lo à conta de conceitos como isto é para os jovens. Ou já passou o meu tempo. Existem atitudes mínimas que dão um especial sabor e um quê de novidade ao relacionamento. Um telefonema, em plena tarde, inesperado, somente para indagar: 
-Como passa minha amada? 
Uma flor colhida no jardim, no frescor da manhã e colocada à mesa do café. Um toque diferente. Levantar-se antes do outro, preparar uma bandeja com carinho e servir o café na cama. Quantas mulheres sonham com tal deferência! Um final de semana inédito. Por que não deixar as crianças com os avós ou com a babá e sair para um passeio a dois, redescobrindo a lua, contando estrelas, a ver se o bom Deus já não providenciou outras tantas, desde a época do namoro... Surpreender o afeto com uma declaração de amor, uma observação gentil ao cabelo, ao traje. Pequeninas coisas. Quase insignificantes. Mas que fazem a grande diferença entre a rotina e o delicado e perene tempero do amor que nunca fenece. 
* * * 
Aproveite as horas enquanto você segue lado a lado com seu amor e fale-lhe do que sente, de como ele é importante em sua vida. Não permita que o tempo transcorra sem um gesto de carinho, uma palavra de ternura. Decida-se por reviver os dias do namoro, sempre novos, uma descoberta constante do outro. Não deixe para amanhã, nem programe para o dia do aniversário. Execute hoje, agora, enquanto é tempo pois que ninguém sabe a hora da partida, quando ficarão somente muitas palavras não ditas, muitos abraços não dados e uma saudade de tudo que não se demonstrou para o outro em afetividade, amor e dedicação.
Redação do Momento Espírita. Disponível no livro Momento Espírita, v. 1, ed. Feb. 
Em 05.11.2009.

quinta-feira, 19 de março de 2020

OS TRAÇOS DO MESTRE

Sérgio Antônio Meneghetti
Aquela era uma das séries iniciais da instrução infantil. No quadro, a professora delineava letra por letra. Primeiramente as vogais. Mais tarde, as consoantes. Pouco a pouco, os pequenos assimilavam cada traço, cada floreio, cada detalhe que compõe o be-a-bá. Seguros no traçado dos caracteres, pacientemente a professora ensinou a turma a uni-los, formando as palavras. Depois, vencendo as dificuldades, as crianças avançaram em direção às primeiras frases. Primeiramente, a educadora as escrevia no quadro. Os alunos as copiavam. Depois, vieram os ditados. No final de cada sentença, a professora reiterava a prescrição: Crianças, não se esqueçam do ponto final! Esquecendo-o vez ou outra, é verdade, paulatinamente os alunos memorizaram a regra. O tempo passou. Os estudantes adiantaram-se nos níveis escolares. Descobriram que, para além do ponto final, há outros sinais de pontuação. Para separar orações, a vírgula; para perguntas, o ponto de interrogação; para surpresas, o ponto de exclamação; para frases que não se finalizam, as reticências. Dessa maneira, perceberam que, ao escrever, inúmeras são as possibilidades de expressão. Palavras, frases, sinais de pontuação. A escrita une pessoas que nunca se conheceram, vence distâncias, o tempo, a cor, a nacionalidade, as crenças e, quiçá, os preconceitos. A escrita registra a nossa História, as nossas conquistas, assinala o hoje para o futuro. 
 * * * 
A respeito do ato de escrever, compôs o poeta: 

  Da poesia sai o verso 
 Do verso a construção 
 Da pena sai a tinta 
 Que expressa o coração. 

 Os dedos correm rápidos
 O papel recebe o verso
 O coração é o lápis 
 Escrevendo neste universo.

 O poema exprime o sentimento
 A mente vaga na imensidão
 Os olhos escrevem no vento 
 Agradecendo a criação. 
 * * * 
Ao recebermos nova oportunidade reencarnatória, recebemos igualmente a chance de traçarmos novas linhas no infindável livro de nossas existências. Além disso, podemos também reescrevermos aquelas frases que, no passado, foram mal escritas. Dotados pelo Criador de livre-arbítrio, o lápis de que dispomos para bem escrevermos são as nossas ações. Cada escolha que fazemos, cada atitude que tomamos redige a nossa História, cujos capítulos podem ser mais ou menos ditosos. E, como a lei é de progresso, esperamos sempre uma História melhor. Jesus, Modelo e Guia da Humanidade, nos ensinou a bem escrever por meio da lei de amor que exemplificou. 
 * * *
Nas frases que escrevemos no livro que somos, nos é lícito questionarmos, exclamarmos, pontuarmos cada sentença, de maneira a criarmos a mais encantadora História diante da vida, precioso tesouro que o Senhor nos concedeu. Todavia, não nos esqueçamos jamais: na História que o Criador nos permite e nos convida a escrever, não há ponto final. Antes, se sucedem as reticências que assinalam que a vida nunca se encerra e que a morte, portanto, não passa de um até breve.
Redação do Momento Espírita, com citação do poema A Escrita, autoria de Sérgio Antônio Meneghetti. 
Em 19.3.2020.

quarta-feira, 18 de março de 2020

O ABRAÇO

Dr. Harold Voth
Estudos têm revelado que a necessidade de ser tocado é inata no homem. O contato nos deixa mais confortáveis e em paz. O Dr. Harold Voth, psiquiatra da universidade de Kansas, disse: 
-O abraço é o melhor tratamento para a depressão. Objetivamente, ele faz com que o sistema imunológico do organismo seja ativado. Abraçar traz nova vida para um corpo cansado e faz com que você se sinta mais jovem e mais vibrante. No lar, um abraço todos os dias reforçará os relacionamentos e reduzirá significativamente os atritos. 
Helen Colton reforça este pensamento: 
-Quando a pessoa é tocada, a quantidade de hemoglobina no sangue aumenta significativamente. Hemoglobina é a parte do sangue que leva o suprimento vital de oxigênio para todos os órgãos do corpo, incluindo coração e cérebro. O aumento da hemoglobina ativa todo o corpo, auxilia a prevenir doenças e acelera a recuperação do organismo, no caso de alguma enfermidade. É interessante notar que reservamos nossos abraços para ocasiões de grande alegria, tragédias ou catástrofes. Refugiamo-nos na segurança dos abraços alheios depois de terremotos, enchentes e acidentes. Homens, que jamais fariam isso em outras ocasiões, se abraçam e se acariciam com entusiasmado afeto, depois de vencerem um jogo ou de realizarem um importante feito atlético. 
Membros de uma família, reunidos em um enterro, encontram consolo e ternura uns nos braços dos outros, embora não tenham o hábito dessas demonstrações de afeição. O abraço é um ato de encontro de si mesmo e do outro. Para abraçar é necessário uma atitude aberta e um sincero desejo de receber o outro. Por isso, é fácil abraçar uma pessoa estimada e querida. Mas se torna difícil abraçar um estranho. Sentimos dificuldade em abraçar um mendigo ou um desconhecido. E cada pessoa acaba por descobrir, em sua capacidade de abraçar, seu nível de humanização, seu grau de evolução afetiva. É natural no ser humano o desejo de demonstrar afeição. Contudo, por alguma razão misteriosa, ligamos ternura com sentimentalidade, fraqueza e vulnerabilidade. Geralmente hesitamos tanto em abraçar quanto em deixar que nos abracem. O abraço é uma afirmação muito humana de ser querido e de ter valor. É bom. Não custa nada e exige pouco esforço. É saudável para quem dá e quem recebe. 
* * * 
Você tem abraçado ultimamente sua mulher, seu marido, seu pai, sua mãe, seu filho? Você costuma abraçar os seus afetos somente em datas especiais? Quando você encontra um amigo, costuma cumprimentá-lo simplesmente com um aperto de mão e um beijo formal? A emoção do abraço tem uma qualidade especial. Experimente abraçar mais. Vivemos em uma sociedade onde a grande queixa é de carência afetiva. Que tal experimentar a terapia do abraço?
Redação do Momento Espírita, a partir de adaptação do texto A importância do abraço, do Prof. Jorge Luiz Brand e Rolando Toro Araneda, Biodança, Coletânea de textos. Disponível no livro Momento Espírita, v. 2, ed. FEP.
Em 18.3.2020.
http://momento.com.br/pt/index.php

terça-feira, 17 de março de 2020

ESTRANGEIROS

MOISÉS
Quando nos detemos nos escritos bíblicos, surpreendemo-nos com alguns ensinamentos válidos para todos os tempos. E nos encantamos em perceber como os homens compreendiam as intuições e as registravam para a posteridade. Encontramos, nos escritos do legislador hebreu Moisés, as recomendações no sentido de não oprimir o estrangeiro, quando em nossas terras. Detalhava normas quanto a deixar no campo e na vinha espigas e bagos caídos para que o estrangeiro delas se pudesse servir. Prescreviam, ainda, o amor ao estrangeiro, dando-lhe roupa e pão. Numa palavra, acolhimento. Jesus não se fez ausente nessa questão. Estabeleceu quem herdaria o reino do Seu Pai, dizendo que quem acolhesse o estrangeiro a Ele mesmo estaria acolhendo. E, na parábola do bom samaritano, envolveu um homem de outras terras, ou seja, um estrangeiro para enaltecer quem é o nosso próximo. 
 * * * 
S.PAULO DE TARSO
Questões do ontem, questões do hoje, questões de todos os tempos que nos levam a refletir a respeito da forma como tratamos os que buscam abrigo em nosso país. Do mesmo modo que, no Antigo Testamento, o povo de Israel é convidado a lembrar de que fora estrangeiro nas terras do Egito, devemos nos recordar que, em verdade, os que nos encontramos na Terra, somos todos estrangeiros. Imortais, vimos de outras dimensões para este planeta que nos recebeu, por ordem do seu Governador, Jesus. Aqui tudo nos é oferecido: a possibilidade de crescer, de progredir, de termos nossa família, de abrigar nossos amores. Muito bem escreveu o Apóstolo de Tarso: 
-Somos todos um só corpo e temos todos o mesmo espírito. Fomos todos chamados para uma mesma esperança. Temos um só Deus, que é pai de todos nós, que está acima de todos e que vive em nós e através de nós. 
Eis aí a extraordinária síntese da nossa essência. Somos uma enorme família, espalhada pelo Universo, constituindo várias Humanidades. Pertencemos, por ora, à Humanidade terrena. Mas, de onde teremos vindo? Para aonde iremos depois daqui? É grandioso o nosso destino como seres imortais, peregrinando pelas várias moradas de nosso Pai, conforme nos disse o Mestre de Nazaré. Por isso, a imperiosa necessidade de nos amarmos, de nos auxiliarmos. Enquanto na Terra, nos separam fronteiras de países onde a cultura, o idioma, os costumes são diferentes. Contudo, na essência, todos fomos criados de igual forma e temos um único destino final: a perfeição, ou seja, a conquista do reino de Deus que está dentro de cada um de nós. Nesses termos, não é absolutamente coerente a lei de amor que nos trouxe Jesus? Amar a todos, amarmo-nos todos. Pensemos, por fim, que hoje vivemos em um país, no entanto, como peregrinos espirituais, que tivemos muitas experiências anteriores, na carne, nem podemos imaginar por onde já transitamos. Ou para aonde nos dirigiremos em próxima e salutar reencarnação. Isso, mais do que tudo, deve servir para construir em nós fraternidade, compreensão e auxílio mútuo. Pensemos a respeito. 
Redação do Momento Espírita, com base no Levítico, cap. 19, vers. 33 e 34; no Deuteronômio, cap. 10, vers. 18 e 19; no Evangelho de Mateus, cap. 25, vers. 35; no Evangelho de Lucas, cap. 10, vers. 33 a 37 e na Epístola aos Efésios, cap. 4, vers. 4 a 6. 
Em 17.3.2020.

segunda-feira, 16 de março de 2020

ETERNO CONVITE

Suely Caldas Schubert
Quando Jesus falava aos seus discípulos, ele falava para a Humanidade de todas as épocas e Suas palavras soam até hoje como uma voz de esperança em nossos corações. Há mais de dois mil anos, Ele fez um convite muito especial, que permanece ecoando através dos tempos. No Evangelho de Mateus está registrado o doce chamado que Ele nos faz: 
-Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de coração e achareis repouso para vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo.
Analisemos esse convite do Cristo. Quando Ele diz Vinde a mim, está convidando todos nós, todas as criaturas humanas e nos deixando a certeza de que podemos ir até Ele. Ao se referir aos aflitos e sobrecarregados, Ele se reporta a nós, os sofridos, os que choram, os preocupados dos dias atuais, os depressivos, os ansiosos e os que padecem tantas outras aflições. Na fala Eu vos aliviarei, Ele traz a promessa do alívio de nossas dores, que se dará a partir do momento em que nos sintonizarmos no padrão do Cristo. Ele oferta o alívio, mas não a cura, porque a cura real depende de cada um de nós. E ela se iniciará quando tivermos consciência das leis Divinas e passarmos a vivenciá-las. Essa vivência se dará quando, após análise e reflexão das tendências e tentações que existem dentro de nós, passarmos à ação renovadora. Quando Ele diz Tomai sobre vós o meu jugo, Cristo vem nos contar da Sua autoridade, baseada no suave poder do amor. Vem ensinar para a Humanidade sobre esse nobre sentimento, do qual Ele deu mostras durante toda Sua vida. Ao recomendar aos discípulos que se amassem como Ele os amou, falou para a Humanidade daquela época e dos tempos que viriam, sendo até hoje o nosso maior exemplo. E Ele se coloca como referencial quando diz Aprendei comigo que sou brando e humilde de coração. Mostra-nos virtudes que precisamos trabalhar em nosso mundo íntimo. 
* * * 
Todos nós temos fardos a carregar, mas Jesus não deixa dúvidas de que, ao Seu lado, eles se tornarão leves. E assim acharemos repouso para as nossas almas. Sabemos como o corpo repousa, mas como a alma pode repousar? Isso se dará quando tivermos zerado nossas dívidas perante a contabilidade Divina, saldando nossos compromissos. Nesse momento, nossa consciência estará tranquila e em paz e poderemos caminhar com mais liberdade porque os obstáculos do passado já estarão superados. Com esse convite especial, Jesus traz o porvir para nós, ofertando-nos o caminho para a felicidade. Não hesitemos em atender a esse glorioso chamado e busquemos estar cada dia mais conscientes das mudanças que precisamos promover em nós mesmos. Lembremos que o jugo do Cristo é a observância da lei Divina. O jugo é leve e a lei é suave, pois que apenas impõe, como dever, o amor e a caridade. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base na palestra A nova era e o ser consciencial, de Suely Caldas Schubert, em 9.3.2013, na XV Conferência Estadual Espírita, em Curitiba/PR e no item 2, do cap. VI do livro O evangelho segundo o espiritismo, de Allan Kardec, ed. Feb. 
Em 30.8.2013.

domingo, 15 de março de 2020

A ETERNA LUZ DO NATAL

Elas sempre emocionam. Quando dezembro vai chegando, é maravilhoso contemplar as cidades se enchendo de luz. Não poderia ser de outra forma, considerando que a comemoração gira em torno da Luz do Mundo que veio ter conosco, há dois milênios. As canções que se ouvem, nas repartições comerciais, nas escolas, nos clubes, nos lares também nos remetem à emoção daquele momento em que a Estrela Maior abandonou os céus para iluminar o mundo. Natal é isso. É luz. É música cantando nos corações. É confraternização, abraços, troca de pequenos mimos cujo valor reside na lembrança dada em nome de um grande Rei. Nessa alegria que nos envolve, quase sempre esquecemos que regiões existem, em nosso próprio país, em que o dia do Natal não difere de outros tantos dias. No sertão agreste, na secura do solo, nas casas pequenas, os grandes anúncios do comércio não chegam. Suspiro, um distrito do município de Betânia do Piauí, a quinhentos e dez quilômetros da capital, Teresina, foi surpreendida, certa feita, pela ação de uma empresa de renome, ao ensejo da proximidade do Natal. A localidade é desprovida de energia elétrica. Televisão? Computador? Só em sonho. Celular, somente os de poucas casas que contam com sistema de telefonia rural. Smartphone é um aparelho tão raro quanto chuvas em período de seca. Então, um caminhão cheio de luzes chegou. Logo se transformou em um palco, frente ao qual se reuniu a população inteira. E os olhos surpresos das crianças e adultos viram, pela primeira vez, a figura simpática de um Papai Noel vestido de vermelho e branco. Um Papai Noel de barbas e cabelo branco mas que ofereceu brinquedos, jogou bola em meio à poeira. Bola de verdade porque até então, as disputas de futebol eram com improvisadas bolas de panos enrolados. Naquele sertão, onde rara é a chuva, a magia até trouxe neve. A meninada quase ficou em êxtase e os mais idosos olhavam, espantados. Será que algum dia tinham visto algo assim? A noite foi de verdadeiro encanto. Enquanto as crianças vibravam, pulavam, gritavam, nos pusemos a pensar. Se um homem vestido como foi idealizado no Século XX, associado à marca de determinada empresa, provoca tantas emoções, o que não conseguiria o próprio Aniversariante? Algo muito importante para pensarmos toda vez que desejamos levar a magia do Natal a qualquer pessoa. Falar e apresentar o verdadeiro sentido do Natal. Falar do Senhor das Estrelas que veio à Terra, da Noite Santa em que cantaram os anjos nos campos de Belém. Em que magos do Oriente saíram de seus países para adorarem um menino, O Rei Solar. Que magia maior do que essa? Lembremos: a festa material das luzes, o encanto de um simpático velhinho que visita a comunidade uma vez no ano ou uma única vez, passará. Os brinquedos com o tempo se quebrarão, gastos pelo uso e pelo transcorrer dos anos. Mas o nascimento de um Rei é algo fenomenal, que jamais será esquecido. O Rei que veio ter conosco e está sempre conosco. Jesus! Como precisamos Te apresentar aos corações para que a alegria do Ano Novo se perpetue em todos os dias seguintes. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 1º.1.2020.

sábado, 14 de março de 2020

TREZE LÁGRIMAS, UM PRESSENTIMENTO?

Rachel Joy Scott
Ela tinha apenas onze anos quando sua mãe a mandou passar o verão na casa de sua tia, em Luisiana. Ali ela teve seu profundo contato com a religião. Ouvir falar de Deus, de Jesus, ouvir jovens como ela cantarem e orarem com fervor, lhe modificaram a vida. Ela desejou se devotar a fazer a grande diferença no mundo, queria mudar o mundo. E nisso se empenhou. Na escola, ela perdeu amizades, ao se declarar cristã, ao deixar de frequentar algumas festas, temerosa de sucumbir ao álcool. Foi zombada por vários de seus colegas. Em carta que enviou a um parente, Rachel escreveu: 
-Agora que comecei a dar andamento a minha conversão, estão zombando de mim. Eu nem mesmo sei o que fiz. Nem tenho que dizer nada, e estão me afastando. Não tenho mais amigos pessoais na escola. Quer saber? Tudo vale a pena. 
Aos dezessete anos, Rachel frequentava três igrejas, e coreografava danças para o serviço do domingo. Era membro ativo nos grupos de jovens. No grupo Breakthrough, demonstrou um grande interesse em evangelização e discipulado. Em seus diários escreveu que, por participar desse grupo, sua consciência espiritual se desenvolveu muito. Rachel Joy Scott, com seus apenas dezessete anos, no dia 20 de abril de 1999, sentada no gramado da escola, se tornou a primeira vítima dos colegas Eric David Harris e Dylan Bennet Klebold. Ela foi baleada quatro vezes e morreu instantaneamente. Os dois rapazes continuaram a sua insanidade, matando, naquele dia, treze pessoas e ferindo outras vinte e quatro. Na mochila de Rachel, foram encontrados dois dos seus seis diários. Impressionante o que constava na última página. Era um desenho com uma torrente de lágrimas jorrando de seus olhos e regando uma rosa. Eram exatamente treze lágrimas caindo de seus olhos antes de tocarem a rosa e se transformarem em algo que parecia gotas de sangue. Treze foram as vítimas assassinadas, naquele dia, na Columbine High School. Ela confidenciara, recentemente, que se sentia estranha, parecendo que algo iria acontecer, mas não sabia exatamente o que seria. A um amigo disse que não conseguia se imaginar no futuro, formando-se na Universidade, casando, tendo filhos. 
Seria um pressentimento? 
Teria sido um aviso do seu anjo de guarda? 
Ou talvez aquela jovem, que tinha sonhos de alcançar os não alcançados, que escrevia não pelo bem da glória, não pelo bem da fama, não pelo bem do sucesso, mas pelo bem da sua própria alma, soubesse que curta seria sua vida. Que ela findaria breve. Por isso, a sede de fazer tantas coisas, de alcançar tantas pessoas. Em verdade, todos temos uma certa programação de vida, na qual se inclui, necessariamente, nosso tempo na Terra. Para alguns, quando se aproxima o momento da partida, ocorrem pressentimentos. Esses tomam medidas para proteger a família, providenciando testamento, convênio funeral, escrevendo cartas para serem abertas após a sua morte. Pressentimentos, todos os temos. Talvez devêssemos prestar mais atenção a essa voz do instinto que nos fala no íntimo da alma. 
Redação do Momento Espírita, com base em fatos da vida de Rachel Joy Scott. 
Em 13.3.2020.

sexta-feira, 13 de março de 2020

DIAS PARA VIVER

A discussão chegara aos tribunais. A jovem, com dois filhos pequenos, desejava ardentemente que o seu pedido de transplante fosse aprovado pelo seu convênio médico. Ela descobrira, ao final da última gestação, um grave comprometimento no fígado, inicialmente tratado através de sofisticada técnica de radiação, cujo resultado fora ainda mais desastroso. Para sua infelicidade, algo acontecera durante os procedimentos e o nobre órgão acabara sendo lesado, não lhe permitindo viver senão poucos meses. Lutava pelo direito ao transplante. Mas, vários fatores estavam contra ela: a longa fila de espera, a disponibilidade de um fígado compatível, os altos valores envolvidos e, finalmente, a expectativa de vida estabelecida pelos médicos: no máximo, uns quatros anos. Valeria a pena investir tanto nela, em detrimento de outra pessoa que, por suas condições gerais, teria um adicional de vida maior? A questão era: de que valeriam mais quatro anos de vida? Seus filhos não teriam se tornado adultos, nem seriam independentes. Ainda seriam crianças. A resposta da senhora, entre a emoção e as lágrimas, surpreendeu: 
-Seriam quatro anos a mais que eu poderia estar com os meus filhos, vê-los crescer. Ensinaria ao meu filho atar os cadarços dos sapatos, a pentear seu cabelo, escolher a roupa apropriada à estação e se vestir, sozinho. Seriam mil quatrocentas e sessenta noites em que eu estaria com ele, na hora de escovar os dentes, de abraçá-lo, desejar boa noite, ler uma história e orar. Em quatro anos ele estaria na escola e eu o auxiliaria com as primeiras letras, descobrindo as palavras, as frases. Quanto à bebê, já a terei ensinado a andar, a falar, a amar as flores e as pessoas. Nem posso imaginar quantos sorrisos eu poderia oferecer aos meus filhos em quatro anos e quantos eles me retribuiriam. Um tempo precioso. Quatro períodos de férias em que eu, meu marido e as crianças desfrutaríamos da praia, da montanha, do lago. Seriam mais quatro Natais, quatro aniversários, quatro comemorações de Ano Novo. 
* * * 
Ouvindo tudo isso, com certeza, sentimos o coração apertar e cogitamos de quantas mães não puderam ver seus filhos crescerem, levadas pela morte acidental ou por enfermidade. Quantos filhos não tiveram o carinho delas por iguais motivos. E tudo nos leva a pensar na preciosidade da vida e do tempo. A pensar em quantas horas, quantos dias desperdiçamos, quando estamos ao lado dos nossos amores. Importante nos darmos conta de que as horas não voltam e, por isso, devemos usufruir, amplamente, a presença dos filhos, esposos, pais, irmãos, amigos. Vivermos intensamente ao lado deles porque quando um se for, ou nós mesmos nos tivermos que despedir, o que sobrará será somente uma doce saudade. Saudade de momentos de prazer, de alegria, de descontração. Mesmo de aprendizado. Haverá muito para recordar, muito mais do que fotos e vídeos: uma intensa relação vivida, sentida e arquivada na intimidade da alma. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base em episódio da série televisiva Bull. 
Em 12.3.2020.

quinta-feira, 12 de março de 2020

ETAPA ENCERRADA

Diariamente muitas pessoas se despedem da vida física e voltam para o mundo dos Espíritos. Alguns partem de forma brusca e violenta. Outros são levados por enfermidades prolongadas, depois de muita dor e sofrimento. Há os que voltam antes do tempo, pela porta falsa do suicídio, e os que encerram a sua etapa no corpo, de forma tranquila e serena. Essa foi a forma pela qual partiu uma senhora de noventa e oito anos de idade. As forças físicas foram se desvanecendo como uma chama que se apaga lentamente. Fora levada para o hospital, na tentativa de prolongar por mais algum tempo a sua existência. Todavia, antes de deixar o lar, aquela velhinha já sabia que a sua etapa estava por concluir-se. Separou uma muda de roupa com a qual gostaria que vestissem o corpo, após o desenlace. Chamou uma das tantas netas e recomendou como deveria construir o túmulo, que deveria ser simples e recoberto de azulejos para facilitar a limpeza depois. Expressou todos os seus desejos, serenamente. Não pensou em sobrecarregar os afetos que ficaram com exigências extravagantes ou custosas, mas pensou em lhes facilitar a vida. E foi assim que, após ter assistido a passagem do cometa Halley por duas vezes, e presenciado duas grandes guerras mundiais; após criar vários filhos, que lhe renderam muitos netos e bisnetos e cultivar muitas amizades; após carregar a sua cruz com coragem e dignidade e, acima de tudo, confiança em Deus, aquela senhora, quase centenária, deixou o corpo cansado, numa noite. Fechou seu livro da vida como quem cumpriu mais uma etapa na estrada evolutiva. Certamente levou consigo a consciência leve, como acontece com aqueles que partem para uma viagem longa e não se esquecem de providenciar a bagagem necessária. 
Nada de desespero de última hora... 
Nada de requisitar atenções descabidas... 
Nada de chantagens sentimentais... 
Assim partem as pessoas que não têm compromissos negativos consigo mesmas. 
Assim partem as almas leves que venceram as dificuldades da caminhada sem macular a consciência com as ilusões da Terra.
* * * 
A vida na Terra, por mais longa que seja, não passa de alguns segundos diante da eternidade. Por essa razão vale a pena viver com fidelidade à própria consciência. Considerar o corpo físico como uma habitação transitória em que vivemos, ao invés da habitação fixa que possuímos. Assim, a transição chamada morte será menos dolorosa e menos fúnebre, tanto para quem vai, quanto para quem fica. 
Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita 
Em 20.10.2011.

quarta-feira, 11 de março de 2020

O QUE LEMBRARÃO!

Era um jantar familiar, reunindo pais, avós, tios, sobrinhos, primos. Uma mistura de idades que ia do quase nonagenário à adolescente. Colocar as novidades em dia era a ordem do momento. Afinal, alguns não se viam há algum tempo e era preciso saber da saúde, do trabalho, dos planos para o casamento, da viagem ao Exterior. Tantas novidades para serem absorvidas. As perguntas eram rápidas. As respostas, às vezes, curtas, de outras, longas e explicativas. Divididos em mesas, por serem muitos, uma das tias sentou-se entre duas sobrinhas. A conversa fluía interessante. A tia, beirando os setenta anos, demonstrava jovialidade, participando da conversa, em que se misturavam redes sociais, término da faculdade, vestibular à vista, namorados. Então, uma das jovens serviu-se de sofisticado prato e, ao iniciar a saboreá-lo, disse: 
-Toda vez que como esse tipo de massa, lembro da minha avó. Ela gostava de cozinhar exatamente deste jeito. 
A tia sorriu, olhou para ela e perguntou: 
-Se eu morrer, um dia (e todos riram) como você lembrará de mim? 
O sorriso da sobrinha se abriu e disse: 
-Como aquela que estava sempre comigo, que me incentivava, que ria das minhas tolices e me mandava mensagens igualmente hilariantes. Vou lembrar como aquela que se perdia no shopping, que telefonava para mim perguntando onde ficava a livraria. Lembrarei de que um dia encontrei uma camiseta, pedi que você a experimentasse, fotografei e postei na minha página do facebook. A estampa dizia: Não me siga. Estou perdida. Vou lembrar muitas e muitas coisas: as sessões de cinema com pipoca e refri; as estreias de filme adentrando a madrugada. As comemorações de aniversários, da vitória no vestibular, as formaturas do ensino fundamental, médio e universitário, em que você sempre se fez presente. Vou lembrar... 
E a conversa se voltou a lembranças e mais lembranças. Foram momentos de descontração, de risos. E motivou aos demais a indagarem como eles seriam lembrados, depois que não mais estivessem no cenário da Terra. 
* * * 
Sempre importante considerarmos que nossa passagem pelo mundo, o convívio com os nossos amores, pode ser interrompido a qualquer momento. Nada mais certo do que a morte que chega, sempre, para todos. Embora, como disse o bom Jesus, somente o Pai saiba a hora. Por isso, aproveitemos os momentos em família. São preciosidades que alimentarão as mentes dos que ficarem e dos que partirem. Produzamos menos problemas e cultivemos mais amor. Reclamemos menos, relevemos pequenos senões e coloquemos mais descontração e alegria nos nossos encontros. Estejamos juntos. Não percamos a festa de aniversário, o café da tarde, o passeio no parque, a formatura. Comemoremos com nossos amores todas as vitórias. Semeemos alegria. Dessa forma, quando partirmos, deixaremos boas lembranças para serem acionadas quando a dor da saudade alcançar os corações dos que ficarem. Igualmente, partiremos felizes, certos de que, enquanto a caminho, demos o melhor de nós. 
Redação do Momento espírita. 
Em 11.3.2020.