ALICE GRAY |
Certa vez, uma mãe viu seu filhinho sentado em um canto da sala, recitando alto as letras do alfabeto:
-a, b, c, d, e, f, g...
Intrigada, ela se aproximou e lhe perguntou:
-Filho, o que você está fazendo?
-Mamãe, você me disse para eu orar sempre a Deus. Acontece que eu não sei como fazer. Então resolvi ir dizendo o alfabeto inteiro para Deus, pedindo que faça uma boa oração com essas letras.
O fato poderia ser tomado como uma dessas coisas de criança se não houvesse tanta fé na simplicidade do gesto. Simplicidade que esquecemos muitas vezes.
Quantas vezes dizemos que não sabemos orar ou como nos dirigir ao Criador. Chegamos a pedir a outros que orem por nós, pelas nossas necessidades, pelos nossos afetos, porque não sabemos como orar.
E é tão simples. Orar é dialogar com Quem é o maior responsável pela nossa vida, por tudo que somos, desde que nos originamos da Sua vontade: Deus.
Não há necessidade de palavras difíceis, rebuscadas ou decoradas. A oração deve ser espontânea, gerada pela necessidade do momento. Ou por um momento de intensa alegria, uma conquista concretizada, um objetivo alcançado.
Já nos ensinou o Mestre Galileu a Seu tempo: Não creiais que por muito falardes, sereis ouvidos. Não é pela multiplicidade das palavras que sereis atendidos.
E sabiamente ainda ensinou Jesus que se devia orar ao Pai em secreto. Portanto, existem muitas preces que nem chegam a ser proferidas. Explodem da alma para os céus sem que os lábios tomem parte, sem que as cordas vocais sejam acionadas.
Deus vê o que se passa no fundo dos corações. Lê o pensamento dos Seus filhos.
A oração pode se tornar incessante em nossas vidas sem que haja necessidade de tomarmos qualquer postura especial. A prece pode ser de todos os instantes, sem nenhuma interrupção dos nossos trabalhos.
Pode consistir no ato de reconhecimento a Deus quando escapamos de um acidente que poderia ser fatal. Pode ser um momento de êxtase pela beleza do oceano que joga suas ondas contra as rochas, desejando arrebatá-las para o seu seio.
Ou, ainda, ante o espetáculo de cores do arco-íris após a tormenta que despetalou as rosas.
Sem fórmulas prontas, sem palavras encomendadas ou de difícil pronúncia.
Rogar, agradecer. Exatamente como a criança que ganha um brinquedo, pula no colo do pai, e diz sorrindo:
-Obrigado, papai. Adorei.
Ou, quando, súplice, pede:
-Papai, compra um sorvete? Ah, por favor. Compra, papai.
Singeleza, simplicidade. É assim que devemos dialogar com Deus, nosso Pai.
* * *
Deus, em Sua infinita misericórdia, criou um canal especial de comunicação para que a qualquer hora, em qualquer lugar, todo ser pensante pudesse falar com Ele.
Este canal chama-se prece. Acessível ao pobre, ao abastado, ao letrado e ao desprovido de recursos intelectuais. À criança e ao adulto; a quem crê e até mesmo a quem não crê mas que um dia se dá conta que é muito confortador ter um Pai que escuta sempre, atende e socorre.
Não se esqueça de usar o seu canal especial de comunicação.
Redação do Momento Espírita, com relato do cap. A oração de uma criança,
do livro Histórias para o coração da mulher, de Alice Gray e com base no
cap. XXVII, item 22 de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec,
ed. FEB.
Em 10.10.2019.
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