sexta-feira, 30 de junho de 2017

QUANDO CHEGA O OUTONO

Quando chega o outono, as folhas das árvores mudam seus tons de verde para uma variedade de cores inigualável. Se a primavera é uma explosão de flores e perfumes, a estação outonal é a dos coloridos mais exuberantes. A impressão que se tem é de que algumas árvores disputam entre si qual se vestirá com a cor mais exótica. Olhamos para suas folhas e difícil nos é dizer qual a cor verdadeira, pois elas se mostram em tons que variam entre o laranja, amarelo e vermelho. Algumas apresentam uma mistura de cobre e cinza, levando-nos a um quase êxtase ao contemplá-las. E ficarão assim, trocando os tons, nos surpreendendo a cada dia, durante os meses em que se preparam para se vestir de inverno. Outras simplesmente vão, paulatinamente, se jogando ao chão, uma a uma, como num desmaio constante, despindo os galhos e formando arabescos e tapetes pelas calçadas, praças e ruas. Em nossas vidas, as estações também se apresentam. E no outono da idade alguns de nós optamos por desistir de viver. Olhamos o rosto que apresenta as linhas modeladas pelo tempo e dizemos que estamos no fim da vida. Passou a juventude. Passou o entusiasmo. Passou a alegria de viver. Os sonhos foram armazenados para sempre. Por vezes, um tanto dramáticos, até acrescentamos: Agora, é só esperar a morte. E se somos incentivados a aproveitar as horas de que dispomos, com leituras, estudo, algo que nos ilustre um tanto mais, invocamos os vacilos da memória, as dificuldades de guardar informações. Um verdadeiro declínio. No entanto, deveríamos aprender com a natureza. A primavera é a estação das flores, dos dias amenos, da profusão de frutos se esparramando pelos pomares. No verão, as cores quentes se apresentam com todo o vigor. Os arbustos com sua perenidade se vestem de um verde mais intenso. Nos canteiros, as flores se revezam em cores e perfumes. E, quando chega o inverno, ela se deixa despir pelos ventos gélidos, pelas chuvas insistentes, pela geada que se estende branca e fria. Parece adormecer. É uma espécie de reclusão para, logo mais, despertar gloriosa aos beijos da primavera que se permite reprisar em beleza e cores. E a quadra do outono é exatamente aquela dos dias lentos, do sol que se apresenta morno e preguiçoso, das folhas que caem. Poderíamos viver assim. Considerando a infância a primavera. Época de aproveitar todos os folguedos, os dias de despreocupação e abastança de horas. Depois, na maturidade do verão, mostrarmos as nossas produções, assinalando nossa passagem pelo mundo. E no outono, nos servirmos da oportunidade de demonstrarmos todas as nossas nuances, conquistadas ao longo das primeiras estações. Demonstrar nossa habilidade como profissional, que atravessou os anos, esmerando-se na qualificação; como ser humano que vivenciou dias conturbados, experimentou a alegria e a tristeza, presenciou o progresso chegar e precisou se adequar. Demonstrar nossa qualidade de amante das coisas belas, que se debruça nas horas para contemplar os dias de luz. Pensemos nisso e vivamos melhor essa quadra outonal que nos chega, às vezes, com algumas limitações, mas, com certeza, cheia de oportunidades de usufruir cada hora, em totalidade. Utilizemos de forma sábia o tempo que tenhamos, convivendo com a família mais estreitamente, compartilhando as conquistas realizadas. 
Redação do Momento Espírita. Em 30.6.2017

quinta-feira, 29 de junho de 2017

MODELOS

Que modelos temos apresentado aos nossos filhos para que eles possam seguir? Às vezes, buscamos modelos de longe, nomes expressivos que tenham realizado grandes benefícios para a Humanidade. Se são autênticos, naturalmente falam à alma do jovem, que é idealista por natureza. Contudo, existem, por vezes, criaturas bem próximas a nós, que não valorizamos devidamente. Avós, parentes, amigos que traduziram sua vida em legado de paz, que sacrificaram tudo por seus ideais, que exerceram suas atividades para além do dever. Lemos, certa feita, acerca de um prisioneiro político romeno que somente aos setenta e seis anos, graças à queda do regime, pôde visitar seus filhos e conhecer seus netos. Um homem de setenta e seis anos, de profundos olhos azuis que, apesar de toda a dureza e maus tratos sofridos na prisão, manteve seu entusiasmo pela vida, na certeza de que tudo valera a pena. Mesmo o sacrifício da família, do prestígio, do poder que gozava. Contemplando o mar, nas areias das praias americanas, comendo batatas fritas e aprendendo com os netos a atirar um disco de plástico, exclamava: 
-Que belo sonho. Que maravilha. A vida vale a pena ser vivida em toda sua plenitude. 
Um de seus netos, alguns dias depois, precisou escrever uma redação para a escola. Durante várias horas ele trabalhou duro, sobre as folhas de papel. Quando terminou, leu em voz alta, para sua mãe emocionada: 
- Conheci um verdadeiro herói. O pai de minha mãe foi parar na cadeia por falar abertamente contra o governo. Depois de seis anos de solitária prisão, ele foi libertado. Minha mãe, meu tio e minha avó saíram do país. Ele não foi autorizado a ir embora com eles. Sozinho, ficou em seu país amargando a dor da separação e o desrespeito de amigos e parentes que o consideravam um fracassado. Ouvir falar de meu avô fez com que eu entendesse que lutar por minhas crenças é muito importante para mim. Na quinta série escrevi à professora uma carta de protesto porque considerei que ela tomara uma decisão injusta em relação a um de meus amigos. Atualmente, sou o representante da turma no Conselho de alunos e estou lutando com firmeza para melhorar nossa escola. Tenho orgulho de meu avô romeno. Espero em Deus que possa vê-lo outra vez. 
O exemplo é nobre e, como percebemos, estabeleceu rumos dignos a outras vidas. Sua lição foi a de que não devemos silenciar nossa voz na defesa dos valores e da verdade. Ao contrário, devemos falar para sermos ouvidos. Senão, como já aprendemos a sentir, sempre haverá uma parte em nós que permanecerá insatisfeita. Lutar pelos ideais de enobrecimento é ensinamento que não devemos relegar a segundo plano, em se falando de nossos filhos, nossos tesouros e responsabilidade maior. 
 * * * 
Aproveitemos todas as lições com que a vida nos honra as horas. Estejamos atentos, tendo olhos de ver e ouvidos de ouvir. Os exemplos passam ao nosso lado e suas experiências são lições significativas que não podemos ignorar. 
Redação do Momento Espírita, com base no Artigo O que os heróis nos ensinam, da Revista Seleções Reader’s Digest, de fevereiro de 1998. Em 29.6.2017.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

BUSCANDO NOS CONHECER

Será que sabemos realmente quem somos? Nós nos preocupamos com essa questão ou acreditamos que ela seja apenas para os filósofos e para os livros de autoajuda? Essa é uma busca fundamental se desejamos ter uma vida mais feliz, se procuramos nos relacionar melhor, se queremos enfrentar a vida e seus desafios com mais coragem. É igualmente uma busca desafiadora, uma busca no sentido oposto de todas as que fizemos até hoje, uma vez que sempre fomos na direção do mundo exterior. Fomos exploradores, desbravadores, conquistadores. Descobrimos novas terras, novas tecnologias, até novos mundos além do nosso. Nossos pés pisaram na lua, o satélite natural da Terra. Dispomos de instrumentos que nos propiciam observar astros a milhões de anos-luz da Terra. Tornamo-nos extremamente hábeis em olhar para longe. E olhar para dentro? Será que lembramos de voltar nossa atenção para dentro de nós mesmos? Há um universo inexplorado na alma humana, universo que precisamos descobrir e conhecer. Se teremos que conviver conosco por toda a eternidade, uma vez que o Espírito é imortal, que tal convivermos bem? Que tal convivermos em paz, sabendo o que vai em nosso íntimo, nossas imperfeições e potencialidades, por exemplo? Comecemos pela essência de tudo: nossa criação. Somos obra de uma Inteligência Superior, da maior de todas as inteligências, que também é causa primária de todas as coisas. Assim, podemos afirmar que temos uma origem divina. Nossa origem é importante, é grandiosa. Carregamos em nós a assinatura de uma Inteligência que regula o Universo através de leis perfeitas. Não somos pouco, somos muito. Fazemos parte de uma engrenagem gigantesca que nossa compreensão ainda não alcança com profundidade, mas que nosso sentimento percebe e se rende, humildemente. Como consequência disso há um segundo ponto, tão importante quanto esse: nossa destinação certa à felicidade. Fomos todos criados simples e ignorantes, isto é, sem nenhum saber. A cada nova existência, Deus nos confere determinada missão, com o fim de nos esclarecer e de nos fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade. É na conquista dessa perfeição que vamos construindo naturalmente a pura e eterna felicidade. Tudo que existe no meio desse caminho são mecanismos, experiências, estradas, que nos levam a esse objetivo. Alguns o alcançamos facilmente, outros, rebeldes, relutamos e permanecemos tempo mais dilatado em sofrimento. Contudo, são sempre escolhas nossas. * * * Somos obras divinas criadas para a felicidade. Buscando nos conhecer vamos entendendo como funcionamos internamente, vamos entendendo nossas emoções, nossos sentimentos. Buscando nos conhecer vamos percebendo nossas tendências boas e más, reforçando as boas e combatendo as que não mais queremos em nossa vida. Refletindo diariamente sobre quem somos, vamos nos melhorando, tomando decisões sobre nós mesmos e resistindo à atração do mal. Assim conquistamos o auto-amor, construindo paralelamente o amor ao nosso próximo e, como consequência, entendendo mais do amor ao nosso Criador. É a reforma íntima o caminho que nos leva ao nosso destino certo. 
Redação do Momento Espírita. Em 28.6.2017.

terça-feira, 27 de junho de 2017

DECEPÇÕES

Você já teve alguma decepção na vida? Dificilmente alguém passa pela existência sem sofrer uma desilusão, ou ter alguma surpresa desagradável em algum momento da caminhada. Podemos dizer que o sabor de uma decepção é amargo e traz consigo um punhal invisível que dilacera as fibras mais sutis da alma. Isso acontece porque nós só nos decepcionamos com as pessoas em quem investimos nossos mais puros sentimentos de confiança e amor. Pode ser um amigo, a quem entregamos o coração e que, de um momento para outro, passa a ter um comportamento diferente, duvidando da nossa sinceridade, do nosso afeto, da nossa dedicação, da nossa lealdade... Também pode ser a alma que elegemos para compartilhar conosco a vida, e que um dia chega e nos diz que o amor acabou, que já não fazemos mais parte da sua história... que outra pessoa agora ocupa o nosso lugar. Ou alguém que escolhemos como modelo digno de ser seguido e que vemos escorregando nas valas da mentira ou da traição, desdita que nos infelicita e nos arranca lágrimas quentes e doloridas, como chama que queima sem consumir. Enfim, só os nossos amores são capazes de nos ferir com a espada da decepção, pois os estranhos não têm esse trágico poder, já que seus atos não nos causam nenhuma impressão. Assim, vale a pena algumas reflexões a esse respeito para que não nos deixemos atingir pela cruel espada da desilusão. Para tanto, podemos começar levando em conta que, assim como nós, nossos amores também não são perfeitos. E que, geralmente, não nos prometem santidade ou eterna fidelidade. Nunca nos disseram que seriam eternamente a mesma pessoa e que jamais nos causariam decepções. Nós é que queremos que sejam como os idealizamos. Assim nos iludimos. Mas só se desilude quem está iludido. Importante que pensemos bem a esse respeito, imunizando a nossa alma com o antídoto eficaz do entendimento. Importante que usemos sempre o escudo do perdão para impedir que os atos infelizes dos outros nos causem tanto sofrimento. Importante, ainda, que façamos uso dos óculos da lucidez, que nos permitem ver os fatos em sua real dimensão e importância, evitando dores exageradas. A ilusão é como uma névoa que nos embaraça a visão, distorcendo as imagens e os fatos que estão à nossa frente. E a decepção nada mais é do que perceber que se estava iludido, enganado sobre algo ou alguém. Assim, se você está amargando a dor de uma desilusão, agradeça a Deus por ter retirado dos seus olhos os empecilhos que lhe toldavam a visão. Passe a gostar das pessoas como elas são e não como você gostaria que elas fossem. Considere que você também já deve ter ferido alguém com o punhal da decepção, mesmo não tendo a intenção, e talvez sem se dar conta disso. Por todas essas razões, pense um pouco mais e espante essa tristeza do olhar... Enxugue as lágrimas e siga em frente... sem ilusões. 
 * * *
Aprenda a valorizar nas pessoas suas marcas positivas. Lembre-se de que cada um dá o que tem, o que pode oferecer. Uns oferecem o ácido da traição, o engodo da hipocrisia, o fel da ingratidão, pois é o que alimentam na alma. Mas, seja você a cultivar em seu jardim interior as flores da lealdade, do afeto, da compreensão, da honestidade, para ofertar a todos aqueles que cruzarem o seu caminho. Seja você alguém incapaz de ferir ou provocar sofrimentos nos seres que caminham ao seu lado. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, Coletânea v. 8/9 e no livro Momento Espírita, v. 3 ed. Fep. Em 13.06.2011.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

AS DECEPÇÕES E A BONDADE DIVINA

A felicidade não é deste mundo constitui uma citação bastante conhecida. Ela corresponde a uma realidade, pois raramente no mundo se conjuga tudo o que se acha necessário para alguém ser perfeitamente feliz. Saúde, mocidade, beleza e dinheiro entram nessa equação. Contudo, mesmo na presença de tais fatores objetivos, muitas vezes a criatura padece de tormentos íntimos. Veem-se com frequência seres aparentemente privilegiados a reclamar da vida. Consultórios de psicólogos e psiquiatras também são frequentados por aqueles a quem se imaginaria felizes e saciados. Mas a ampla maioria dos seres humanos debate-se com inúmeros problemas. Nos mais variados planos da existência, os dramas se sucedem. Dificuldades financeiras, de relacionamento ou de saúde clamam por atenção. Perante as naturais decepções do mundo, por vezes as criaturas se rebelam. Quando alcançadas por experiências dilacerantes, imaginam-se abandonadas por Deus. Esse modo de sentir revela uma compreensão muito restrita da vida. Ele até seria razoável, caso tudo se esgotasse em uma única existência material. Perante a vida que segue pujante além do túmulo, os problemas materiais diminuem de importância. Em face desse amplo contexto, dificuldades não são tragédias, mas simples desafios. Em cada homem reside um Anjo em perspectiva. Ele é brindado com as experiências necessárias para atingir o seu augusto potencial. As dores, por maiores que sejam, sempre passam. Mesmo uma enfermidade incurável tem o seu término. Após a morte do corpo físico, o Espírito prossegue sua jornada. Se conseguiu passar com dignidade pelo teste, ressurge mais forte e virtuoso. Caso tenha se permitido reclamações e revoltas, terá de refazer a lição. Convém ter isso em mente ao enfrentar as crises da vida. Deus é um Pai amoroso e bom. Ele não Se rejubila em torturar Suas criaturas. As dores do mundo têm finalidades transcendentes. A maioria é providenciada pelos próprios homens, com suas paixões e equívocos. Todas elas constituem desafios. Ninguém deve acalentar o masoquismo e se rejubilar em sofrer. É preciso lutar para sair de todas as dificuldades e recuperar o bem-estar. Mas em face de situações inelutáveis, quando nada se pode fazer, é necessário pensar na bondade Divina. Ela não se revela apenas quando tudo parece estar sob um céu azul, nas mesas fartas e nos sorrisos radiantes. A bondade de Deus também se manifesta no sofrimento que torna o homem mais apto a compreender a dor do semelhante. Ela está presente nas situações constrangedoras que minam o orgulho, a vaidade e a indiferença. A vida na Terra é passageira e se destina ao burilamento do ser. O viver terreno propicia resgate de equívocos do pretérito e preparação para etapas sublimes do existir imortal. Em um mundo material e ainda bastante inferior, os entrechoques e as decepções são inevitáveis. Apenas uma fé viva na bondade Divina permite que o homem preserve seu coração livre de amargura. Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita.

domingo, 25 de junho de 2017

DA VIDA, UMA PRECE!

Encontramos, no seio de praticamente todas as religiões, o exercício salutar da prece. Em algumas, tal prática apresenta-se na forma de mantras. Em outras, de cântico. Ou, ainda, de rogativa. Entretanto, independentemente da forma, a prece sempre tem como objetivo ligar a criatura ao Criador. A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar nEle; é aproximar-se dEle; é pôr-se em comunicação com Ele. A três coisas podemos propor-nos por meio da prece: louvar, pedir e agradecer. Louvar a Deus significa reconhecer nEle a fonte de toda vida, de toda a criação. É observarmos tudo o que nos cerca – as plantas, os animais, nosso próximo – e enxergarmos neles a assinatura Divina, o traço que Deus deixa em cada uma de Suas criaturas. Uma prece de louvor é feita mais do que com palavras. Pode ser expressa em atitudes. Quando louvamos, reconhecendo, em tudo o que nos cerca, a mão do Criador, torna-se impossível não expressarmos gratidão a Deus por todo amor que Ele nos oferece, em todas as circunstâncias do viver. Amor esse que se manifesta através das mais variadas expressões: o ar que respiramos, o alimento que temos em nossas mesas, a família que nos acolhe, a casa que nos abriga, os amigos que nos fortalecem. O companheiro ou companheira que divide a vida conosco, os filhos que nos são dados ao coração, as oportunidades diárias de progresso intelecto-moral, a conquista das virtudes que nos aproximam da paz e da felicidade. E, quando brota em nossas almas o sentimento que nos leva a louvar e a agradecer, o gesto de pedir modifica-se. Nossas rogativas já não são mais baseadas nas ilusões da matéria, nem tampouco no orgulho que confunde nossas escolhas. Nossas decisões tornam-se mais maduras, pois começamos a compreender as leis que regem toda a Criação. Já não mais rogamos a Deus que solucione nossos problemas, dificuldades e sofrimentos. Antes, pedimos ao Senhor da vida que nos conceda a sabedoria, a resignação e a humildade para que, além de poder superá-los, possamos aprender com as preciosas lições que acompanham cada momento. Entrarmos em comunicação com Deus significa fazermos, diariamente, de nossa vida uma prece. E a prece se faz em cada gesto de abnegação, de renúncia, de fé. A prece se faz quando olhamos para aquele que sofre, para aquele que passa fome, para aquele que não tem onde morar e, desinteressadamente, lhe estendemos a mão que ajuda, o ombro que consola, o abraço que afaga, a palavra que une. A prece se faz quando perdoamos quem nos fere e somos capazes de pedir perdão àquele que ferimos. A prece se faz quando nos reconhecemos parte integrante de toda a Criação, de todo o equilíbrio universal e, dessa forma, tomamos para nós a responsabilidade de contribuirmos para a construção de um mundo melhor. * * * Na oração a criatura suplica e se apresenta a Deus. Pela inspiração profunda e reconfortante responde o Senhor e se revela ao aprendiz. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com citação do item 659, de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. FEB e pensamento final do verbete Oração, do livro Repositório de sabedoria, v. 2, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. Disponível no CD Momento Espírita, v. 25, ed. FEP. Em 9.9.2013.

sábado, 24 de junho de 2017

DATAS IMPORTANTES

Viktor E. Frankl
É comum, entre pessoas excessivamente ocupadas, esquecer datas importantes de suas vidas. Quem elege como prioridade máxima o seu trabalho profissional, o voluntariado ou qualquer atividade a que se dedique, tende a esquecer o dia do aniversário do cônjuge, dos filhos, o aniversário de casamento etc. Para quem convive com tais criaturas, e aguarda, com ansiedade, cumprimentos, uma surpresa, quiçá um mimo, uma flor, é decepcionante. Por vezes, o dia, que deveria se revestir de alegrias e felicidade, se transforma em uma tragédia íntima, nem sempre exteriorizada. Com o tempo, isso vai corroendo a relação matrimonial, filial, de amizade porque parece descaso ou indiferença a datas importantes. Em se tratando de crianças, que esperam algo especial no seu dia de aniversário, dependendo de sua estrutura emocional, é difícil de se aquilatar os efeitos danosos. Alguns indagam: É tão importante assim comemorar? Se considerarmos que o fato de nos encontrarmos reencarnados neste planeta tem a ver com nosso crescimento espiritual, com nosso progresso, é extremamente importante se comemorar o dia em que abrimos os olhos na carne. Tão importante, em verdade, que os benfeitores espirituais nos informam que, em tais datas, eles próprios, os responsáveis pela nossa guarda, por determinação Divina, comemoram conosco. Foi, com emoção, que lemos a experiência de Viktor Frankl, em sua segunda noite no campo de concentração de Auschwitz. Ele foi despertado do seu profundo sono de esgotamento, por música. O chefe do bloco comemorava alguma coisa, em seu compartimento, ao lado da entrada do barracão em que se encontrava detido Doutor Frankl. Vozes embriagadas berravam canções populares. Era um alvoroço quase incômodo, ainda mais para quem era um prisioneiro, transferido para um dos piores campos de concentração ativos na Segunda Guerra Mundial. Repentinamente, no entanto, se fez silêncio. Então, um violino começou a chorar uma canção de tristeza infinita. Uma música raramente tocada e ainda não gasta de tanto ouvir... Chorava o violino e, dentro de si, chorava o psiquiatra prisioneiro. É que, naquele dia, alguém fazia vinte e quatro anos. E esse alguém estava deitado em algum barracão do campo de Auschwitz, distante apenas algumas centenas ou milhares de metros dali. De verdade, não importava a distância. Estava mesmo fora de alcance. Esse alguém era sua esposa. E ele não a podia abraçar, nem beijar, nem tê-la junto ao coração que a amava, ao menos por alguns segundos e lhe sussurrar ao ouvido: 
-Feliz Aniversário! 
Ele nunca voltou a vê-la. Ela morreu no campo de concentração. 
 * * * 
Se, um dia, a vida estabelecer distâncias entre nós e nossos amados, é possível que recordemos, entre amargas dores, os momentos que não foram usufruídos. Aqueles em que poderíamos ter abraçado mais, beijado mais, manifestado nosso amor... Por isso, aproveitemos as horas que nos são dadas junto aos afetos. São insubstituíveis. E lembremos de comemorar todos os dias a ventura de gozar das suas presenças. Pensemos nisso: comemoração de amor, em verdade, não tem dia. 
Redação do Momento Espírita, com fato extraído do cap. Humor no campo de concentração, do livro Em busca de sentido, de Viktor E. Frankl, ed. Vozes. Em 11.11.2013.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

PESSOAS E POTES DE GELÉIA

Leon Tolstoi
Transformamos as pessoas em potes de geleia. Sim, toda vez que julgamos precipitadamente, que criamos rótulos, estamos comparando as pessoas a objetos. Objetos podem, muitas vezes, ser facilmente explicados, descritos, compreendidos. Basta um desenho, um esquema, ou algumas palavras e está tudo resolvido. São conhecidos os jogos de mímica, nos quais os oponentes precisam adivinhar uma palavra, uma frase, através da compreensão dos gestos do outro. O problema está quando desejamos usar essa nossa habilidade de descrever rapidamente alguma coisa, no convívio com as pessoas. Pessoas são Espíritos, almas complexas, de realidades múltiplas e possibilidades infinitas. Avaliá-las com superficialidade é desrespeitá-las em sua essência divina. O grande escritor russo Léon Tolstoi afirma que um dos nossos preconceitos mais comuns e disseminados, é o de que cada pessoa tem uma característica fixa. Segundo ele, tal preconceito faz com que existam apenas pessoas boas ou pessoas más; pessoas inteligentes ou pessoas estúpidas; pessoas frias ou pessoas quentes. Muitas vezes, com o objetivo de simplificar, nós empobrecemos e menosprezamos as pessoas. Nossos próprios hábitos de linguagem precisam ser revistos, pois muitos deles nos acostumam ao rótulo fácil.
-Você lembra de Fulano de tal? 
– Não, não lembro. – Responde o outro. 
-Aquele magrinho com nariz pontudo, lembra? 
-Ah, sim, claro, agora lembrei! 
Aí se encontra o embrião do vício dos rótulos. Pode ser uma observação sem maldade, que apenas ajude a lembrar mais facilmente das pessoas, mas, por vezes, desenvolve em nós essa prática desagradável. Logo mais, estaremos nos servindo, habitualmente, de expressões como: Beltrano é falso mesmo. Cuidado com o que ele diz! Obviamente que podemos identificar as dificuldades das pessoas. É algo comum na vida de relacionamento. Mas, avaliar toda uma personalidade, todo o universo de um Espírito reencarnado, e resumi-lo em uma frase, em um rótulo, é pequeno e simplista demais. Aplicando um rótulo a alguém, principalmente os negativos, estamos afirmando que ele não é capaz de mudar, de crescer. Estamos dizendo que a pessoa é assim e pronto. Também aplicamos rótulos a nós mesmos. Colamos na testa um adesivo dizendo: Sou teimoso. Não pense em vencer qualquer discussão comigo. É uma auto-rotulagem, uma expressão de acomodação perante uma imperfeição, da qual, muitas vezes chegamos a nos orgulhar. Até mesmo os rótulos positivos são preocupantes. Quando, por exemplo, aquele amigo que carregava em sua fronte o rótulo de bonzinho, faz conosco algo que mostra uma característica oposta, vem a decepção. 
- Nunca esperava isso dele. 
Expressão típica de quem não conhece o outro em profundidade, e que preferiu ficar na superficialidade da rotulagem. 
 * * * 
Todos somos almas sendo auto-moldadas a todo instante. Nem temos imperfeições fixas, que ficarão para sempre conosco, nem virtudes em grau de excelência, que não nos permitam o equívoco em situação alguma. Lembremos: rótulos são para potes de geleia, e não para pessoas.
Redação do Momento Espírita, com citações extraídas do livro Pensamentos para uma vida feliz, de Léon Tolstoi, ed. Prestígio, 1999. Em 23.6.2017.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

A NOBREZA DE UM GESTO

 IsmaIl Khatib
Habitualmente falamos que somente coisas ruins ganham manchete. Que notícia boa não é veiculada porque não vende nem jornal, nem revista. No entanto, por vezes, um gesto nobre ganha o noticiário internacional. Assim aconteceu com um palestino que virou manchete mundial, no ano 2005. Ele não protagonizou nenhum dos conflitos que têm abalado as relações e a paz dos povos do Oriente. O mecânico IsmaIl Khatib deu uma verdadeira lição de fraternidade ao doar os órgãos de seu filho Ahmed a pacientes israelenses, que necessitavam de transplantes. O palestino teve seu filho, de apenas doze anos, alvejado por soldados de Israel, durante uma operação de busca no campo de refugiados de Jenin. O mecânico optou pela doação, inspirado pela perda de seu irmão, de vinte e quatro anos que, não resistindo à longa espera por um transplante de fígado, veio a morrer. Entre os beneficiados pelo gesto do palestino se encontravam um bebê de sete meses e uma mulher de cinquenta e oito anos. Alguns eram judeus, árabes-israelenses e uma garota de origem drusa. Conforme reproduziu o jornal Folha de São Paulo, Khatib teria dito: 
-Eu me sinto bem pensando que os órgãos de meu filho estão ajudando seis israelenses. Acredito que o meu filho está agora no coração de todo israelense. 
O fato repercutiu pelo mundo, exatamente pelos conflitos que envolvem as nações em questão. Tanto mais que o menino fora morto por israelenses. O fato é que aquele pai, dolorido pela separação violenta do filho amado, encontrou forças para beneficiar pessoas. Não indagou se pertenciam à sua mesma nação, ao seu povo, à sua família. Não perguntou se eram amigos ou inimigos. Simplesmente doou. Um gesto de humanidade, uma ação altruísta. A nota nos remete aos versos do sublime Galileu há mais de dois milênios: Ama o teu próximo... Faze o bem a quem te persegue... Ama o teu inimigo. 
 * * * 
Em nosso Brasil, embora as campanhas promovidas e a facilidade que se tem para doar órgãos, ainda é muito grande a fila de espera. Estatísticas apontam números bastante expressivos dos que aguardam transplante a fim de poderem prosseguir a viver. A doação de órgãos não é contrária às leis da natureza porque beneficia a vida. Os doadores colaboram com a vida. O Espírito se liberta da carne e permite a outros o retorno da visão, a desvinculação de procedimentos morosos e dolorosos, como, por exemplo, as longas horas de diálise. Permite que um pai retorne ao lar, aos braços dos filhos; que o profissional retome atividades interrompidas; que o jovem volte a tecer sonhos de estudo e produtividade. Aqui, é a bomba cardíaca que torna a regularizar seu ritmo; ali é um fígado que volta a funcionar; além é um pulmão que se enche de ar, insuflando vida, um rim que reassume o seu papel no organismo físico. Beneficiados os que recebem as doações dos órgãos. Abençoados por Deus os que se fazem doadores da esperança e do pleno vigor da vida a outros seres, que ainda têm anos sobre a Terra. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, a partir de notícia publicada no Jornal Folha de São Paulo, de 8 de novembro de 2005. Em 22.6.2017.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

ONDE MORA A PAZ?

Pedro mora próximo à uma rua central de grande capital, há quinze anos. Nos últimos tempos, está à beira de um ataque de nervos, pois não consegue mais suportar o barulho contínuo dos carros. Ele tem algumas escolhas: trabalhar pelo fechamento da avenida, ao menos à noite; pela modificação da legislação de poluição sonora ou uso de automóveis; ou ainda, mudar-se. É importante, porém, comentar também sobre seu vizinho, Bernardo, que mora no apartamento ao lado de Pedro, de frente para a mesma rua. Perguntado a ele o que achava de viver naquele local, a resposta foi surpreendente. Revelou que adora viver ali. Ele acha linda a vista que tem do seu apartamento. Disse que pode ver o maravilhoso nascer do sol de sua janela. Adora observar a cidade. Perceber os habitantes caminhando ou em seus carros, e os resistentes passarinhos que aprenderam a viver em meio à civilização. Numa conversa entre os dois, Pedro não aguentou, e questionou: 
-Mas e o barulho? Você não se incomoda com toda essa barulheira que não tem fim?! 
Bernardo respondeu: 
-Olhe, fico tão concentrado nos meus afazeres, que eu nem percebo o barulho. 
Pedro não podia acreditar. Achou, por um instante, que o vizinho tinha problemas auditivos, e falando bem baixo, tentou descobrir se ele era surdo. Mas não era. Ouvia muito bem. Como explicar isso? Ele ouvia muito bem e não se incomodava com o barulho? 
-E à noite? – Perguntou ainda Pedro, indignado. – Como você faz para dormir? 
-Vou ser bem sincero, caro amigo – respondeu Bernardo – à noite, ao deitar, sinto-me tão feliz com o dia vivido e com as coisas que tenho feito, que também não me incomodo com barulho algum. 
Pedro pôde ver sinceridade e pureza nos olhos e nas palavras do vizinho. Naquele momento, ele percebeu a razão de se incomodar tanto com aquelas coisas: ele não era feliz com o dia que tinha, e nem com as coisas que fazia. 
* * * 
Um outro personagem também ilustra a reflexão proposta. Trata-se de Daniel. Jovem, de família abastada, casado, e morador de um condomínio fechado. Ele foi presenteado por seus pais com uma casa no litoral. Ficou, a princípio, muito animado com a mudança. Afinal, haveria lugar mais tranquilo e pacífico do que próximo ao mar? Os dias passaram e ele percebeu, pouco a pouco, que não seria capaz de suportar aquele estilo de vida. Aquele barulho constante de ondas quebrando; gaivotas gritando logo cedo; aquela umidade de maresia; a areia que insistia em acompanhá-lo em seu carro e em sua casa. Daniel entrou em crise. Variava entre estados de irritação e depressão. Começou a tomar remédios e decidiu: iria se mudar dali. 
* * * 
Ouvindo estes relatos, nos indagamos: Onde mora a paz? Será que a paz está na ausência de ruídos externos? Será que para dormir em paz precisamos apenas de silêncio? A paz tem moradia em nosso íntimo, e enquanto não formos felizes com nossos dias, com as coisas que fazemos, não a encontraremos. Não basta mudar desse para aquele local. Faz-se necessário mudar-se na intimidade. Deixar para trás o lar das atividades fúteis, das conquistas passageiras, e fixar morada na casinha aconchegante da alegria de viver, do amor à família, do prazer de servir. 
Redação do Momento Espírita, com base em matéria publicada na Revista Vida e Yoga, nº 20, ed. Online. Em 21.6.2017.

terça-feira, 20 de junho de 2017

AJUDA DOS CÉUS

Allison DuBois
A garota de pernas longas e ossudas, cabelo crespo e bochechas cobertas de sardas, voltava para casa de bicicleta. Distraída, pensava em que teria feito sua mãe para o jantar. Ao virar a esquina, um carro surgiu ao lado, com dois jovens dentro. Ela pensou se tratar de amigos de seu irmão. O que estava no banco do carona se inclinou para fora da janela, em sua direção. Tinha cabelos longos e parecia com seu irmão Michael. Ele sorriu e perguntou se ela não desejava uma carona até em casa. 
-Não, obrigada – respondeu – moro logo ali, depois da esquina. Estou quase chegando. 
Ele insistiu: 
-Vem. Vai ser divertido. Vem dar uma volta com a gente. 
Ela olhou em torno. Não havia ninguém. Nenhum carro passando. A rua estava vazia. Começou a sentir um mal-estar, mas não conseguia se mexer. Parecia estar hipnotizada. Nesse instante, uma voz soou em seu ouvido. Ou, ao menos, ela pensou que fosse em seu ouvido. 
-Corre! Se manda.
Imagens de sua casa começaram a piscar na mente daquela menina de onze anos. Despertou da paralisia que o medo lhe provocara e pedalou o mais rápido que pôde, em direção à sua casa. O carro se afastou na direção oposta. Chegou em casa com dor no peito, por ter prendido a respiração e pedalado com tanta força. Tremendo ainda, correu aos braços de sua mãe, contando o que acontecera. Infelizmente, como fazem muitos pais, ela não deu maior importância àquilo que fora uma tentativa de sequestro infantil. Mas o comando daquela voz salvara a garota. O episódio a marcou profundamente. Mais de vinte anos passados, ela recorda da cena em todos os detalhes. Naquele dia, ela lembra ter prometido a si mesma que, ao crescer, faria algo para proteger as crianças de agressores. Não sabia direito como, mas tinha certeza de que, um dia, se dedicaria a essa causa. Pensou em ser advogada e juíza, para distribuir sentenças severas a pessoas que maltratavam crianças. Adulta, ela ajudou a criar um sistema de alerta a rapto de crianças no Estado do Arizona, onde reside. Mas, a grande certeza que guarda do episódio, é de que naquele dia aterrorizante, aos onze anos de idade, havia um anjo em seu ombro. O anjo, tanto a protegeu naquela tarde quanto, diz ela mesma, a colocou no caminho que deveria seguir na vida adulta. Traçando perfis de criminosos para a polícia, auxiliando na captura de raptores, ela se sente gratificada. Mais ainda, quando suas palavras podem aliviar a dor dos parentes de uma vítima, retirando um peso de seus corações.
 * * * 
Poucos nos damos conta do quanto somos protegidos. Isso porque a proteção é sutil. As ideias brotam como uma intuição e quase sempre as creditamos à conta de nós mesmos. Atravesse a rua. Siga por aquele caminho. Olhe para trás. Por vezes, o socorro é providenciado através da interferência feliz de um parente, amigo, ou até de um desconhecido. Alguém que chega e nos sugere algo. Alguém que passa e nos socorre. Pensemos nisso e fiquemos atentos à ajuda que os céus nos remetem todos os dias, aprendendo a ouvir com lucidez e sejamos gratos. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 3, do livro Não é preciso dizer adeus, de Allison DuBois, ed. Sextante. Em 20.6.2017.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

DAR GRAÇAS POR TUDO

DIVALDO PEREIRA FRANCO E JOANA D'ÂNGELIS
O Apóstolo Paulo, com sua lucidez inconfundível, recomendou que devemos dar graças a Deus por tudo o que nos acontece, tanto pelas coisas boas como pelas que nos pareçam ruins. Talvez seja por esse motivo que um certo homem agia sempre dessa maneira. Agradecia por tudo, e tinha a certeza de que Deus sempre o protegeria. Um dia ele saiu em uma viagem de avião. Durante a viagem, quando sobrevoavam o mar, um dos motores falhou e o piloto teve que fazer um pouso forçado no oceano. Quase todos morreram, mas o homem conseguiu agarrar-se a alguma coisa que o conservasse em cima da água. Ficou boiando à deriva durante muito tempo até que chegou a uma ilha não habitada. Ao chegar à praia, cansado, porém vivo, agradeceu a Deus por tê-lo livrado da morte. Naquele lugar deserto ele conseguiu se alimentar de peixes e ervas. Derrubou algumas árvores e, com muito esforço, construiu uma cabana. Não era bem uma casa, mas um abrigo tosco, com paus e folhas, que significava proteção. Ele ficou todo satisfeito e mais uma vez agradeceu a Deus, porque agora podia dormir sem medo dos animais selvagens que talvez existissem na ilha. Um dia, ele estava pescando e quando terminou, havia apanhado muitos peixes. Assim, com comida abundante, estava satisfeito com o resultado da pesca e mais uma vez agradeceu ao Criador. Porém, ao voltar para sua humilde cabana, qual não foi sua decepção, ao ver que sua morada estava pegando fogo. Sentou-se em uma pedra chorando e dizendo em prantos: 
-Deus! Como é que o Senhor podia deixar isto acontecer comigo? O Senhor sabe que eu preciso muito desta cabana para me abrigar, e a deixou se acabar em cinzas. Deus, o Senhor não tem compaixão de mim? 
Naquele mesmo instante uma mão pousou no seu ombro e ele ouviu uma voz dizendo: 
-Vamos, rapaz? 
Ele se virou para ver quem estava falando com ele, e qual não foi sua surpresa quando viu à sua frente um marinheiro todo fardado dizendo: 
-Vamos logo, rapaz, nós viemos buscá-lo. 
-Mas, como é possível? Como vocês souberam que eu estava aqui?
Falou o homem surpreso. 
-Ora, amigo, falou o marinheiro, vimos os seus sinais de fumaça pedindo socorro. O capitão ordenou que o navio parasse e me mandou vir buscá-lo naquele barco ali adiante.
Os dois entraram no barco e assim o homem foi para o navio que o levaria são e salvo de volta para os seus queridos. Já em segurança, o homem agradeceu uma vez mais a Deus e pediu perdão pela falta de confiança na Sua providência e misericórdia. 
 * * * 
Em qualquer dificuldade recorda o poder da oração e roga inspiração ao céu, realizando sempre o melhor para que o melhor se faça em ti e através de ti, sem esqueceres que todo apelo encontra resposta, conforme o merecimento de quem pede e a forma como pede. 
Redação do Momento Espírita, com pensamentos extraídos do verbete Dificuldades, do livro Repositório de sabedoria, vol. 1, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. Em 03.09.2010..

domingo, 18 de junho de 2017

DAR E DAR-SE!

JOANA DE ÂNGELIS
E
DIVALDO PEREIRA FRANCO
Quando se fala em caridade, logo consultamos mentalmente os bolsos ou a conta bancária, para verificar se podemos dispor de algum valor em benefício dos financeiramente mais necessitados. Todavia, entre dar moedas para quem delas precise e dar-se em prol do semelhante, vai grande distância. Não negamos que a caridade material é muito importante para quem não possui o mínimo necessário. Entretanto, é importante que pratiquemos também caridade moral, que é a mais difícil, porém a mais meritória. Por caridade moral entende-se o perdão, a paciência, a tolerância, o tempo para ouvir um desabafo etc. Conforme ensinou Jesus, referindo-se ao óbolo da viúva, quando damos o que nos faz falta, ou o que nos é difícil praticar, será mais meritório, aos olhos de Deus, do que dar o que nos sobra ou perdoar a quem amamos. Assim, as mais belas doações que a Humanidade conhece foram realizadas de forma diversa da simples esmola. Gandhi, sem qualquer posse, deu-se à luta pela não violência, tornando-se um símbolo de paz e doando a vida em holocausto pelo ideal libertador que o abrasava. Irmã Dulce, a veneranda religiosa aparentemente frágil, doou-se aos irmãos carentes até os últimos instantes de sua existência sobre a face da Terra. E embora não possuísse bens materiais, foi um exemplo vivo de caridade e amor ao próximo. Francisco de Assis, após despir a túnica que pertencia ao genitor e renunciar ao nome da família, fez as mais preciosas oferendas, dando-se a si mesmo a ponto de tornar-se santo da Humanidade. Jesus, que não possuía uma pedra para reclinar a cabeça, embora as aves do céu tivessem ninhos e as serpentes covis, é o excelente exemplo da maior doação de que se tem notícia na história da Humanidade. Quantos homens e mulheres, seguindo-Lhe as pegadas, deram e doaram-se ao amor pelo próximo, vitalizando a esperança no mundo, através dos tempos. Se meditarmos em profundidade, descobriremos as fortunas de amor escondidas no nosso mundo íntimo. Basta que a boa vontade e a abnegação se façam garimpeiros e descubram as gemas da caridade maior de que podemos dispor fartamente, endereçando-as a todas as criaturas do roteiro por onde transitamos. Esta forma superior de dar-se, nos fará bem, nos fará sentir ditosos, porquanto perceberemos que estamos doando-nos, e a auto-doação é a única forma de encontrar a felicidade. 
 * * * 
O gesto em flor de ternura, a gota do sentimento nobre, a palavra em música de compreensão, o pão em bênção alimentícia, o poema do perdão são orvalho da caridade. E a caridade é como sublime fragrância que perfuma primeiramente o frasco que a transporta em sua intimidade.
Redação do Momento Espírita com base no cap.34, do livro Rumos libertadores, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed.Leal. Em 05.08.2009.

sábado, 17 de junho de 2017

DAR CONTA DE SI

São muitos os que atravessamos a existência na Terra sem muitas preocupações com os próprios atos. Vivemos como se o nosso agir, a nossa postura perante a vida não fosse nossa exclusiva responsabilidade. Por esse motivo, despreocupados com qualquer tipo de consequência, vivemos com o único propósito de amealhar, tirar vantagens pessoais. Não falamos dos que se entregam, de forma explícita, a questões ilegais como o roubo, o furto ou tráfico. Dizemos de nós, os que na intimidade de grandes corporações, no luxo de escritórios bem montados, atuamos no desvio de dinheiro público, na montagem de balanços forjados, na estruturação de contratos fraudulentos. Tudo porque imaginamos a vida como um grande jogo onde aquele que consegue mais para si é o grande vencedor. Outros de nós atuamos no mundo preocupados em agir de forma legal. Trata-se, no entanto, de uma atuação no limite da legalidade, na preocupação de não sermos pegos pela justiça, de não respondermos perante tribunais e juízes. Não medimos esforços na busca de brechas na legislação, para encontrar meios de conseguir vantagens e o que haja de melhor para nós mesmos. Temos ciência de não estarmos contra a lei, entretanto, serão apenas códigos humanos a nos ditar os limites de nossas ações. Porém, não podemos nos esquecer de que a vida aqui na Terra não é patrimônio que nos pertença. Renascemos nas lides terrenas e retornamos à pátria espiritual sob o rigor da lei Divina. Dessa forma, todas as experiências terrenas estão sob a tutela dessa lei, cuja finalidade maior é o aprendizado e o crescimento intelectual e moral de cada um de nós. Ao concluirmos a experiência física, seremos convidados a prestar contas de como agimos, de todo o realizado ao longo dos anos que nos foram dados a viver. Natural que assim seja, considerando que tudo o que dispomos na Terra, incluindo nosso corpo físico, é a título de empréstimo. Nada nos pertence. Somos apenas arrendatários. Portanto, se andarmos no mundo burlando os limites da lei, haveremos de responder, perante as leis humanas e no além túmulo. Poderá ocorrer que, mesmo extrapolando os limites da moralidade, do correto, do respeito ao próximo, os tribunais da Terra não nos alcancem. E poderemos nos vangloriar de haver enganado a lei dos homens. Mas, inevitavelmente, responderemos perante nossa consciência quando essa se defrontar com nossos desacertos morais. Sempre haveremos de prestar conta de nossos atos. Diz o bom senso, então, que antes de agirmos, nos perguntemos se o que fazemos é legal, moral. Necessário analisar se nossos atos não prejudicam o próximo, não atribulam a outrem, se não causam dificuldades a alguém. Tudo que fizermos carrega o peso de nossa intencionalidade e haveremos de responder pelas consequências. Importante nos questionarmos a respeito de nossas próprias ações, quais os valores que escolhemos para nossas decisões. Afinal, serão eles que dirão da nossa felicidade ou desdita, no agora, logo mais ou em momentos mais distantes. Pensemos nisso. 
 Redação do Momento Espírita. Em 21.3.2015.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

DAR CONTA DA ADMINISTRAÇÃO

EMMANUEL
E
CHICO XAVIER
Toda vez que buscamos as palavras de Jesus, nelas encontramos motivos de profundas reflexões. Quando Ele narra aos discípulos a parábola de um homem rico que tinha um feitor infiel, que dissipou seus bens, faz-nos uma grave advertência: todos teremos que dar conta da nossa administração. Talvez você já tenha respondido mentalmente que nada administra e que, portanto, de nada terá que dar conta. Todavia, um exame mais detido nos leva a perceber que todos nós somos administradores em níveis variados. Somos, no mínimo, administradores de nossa própria vida, e isso já é bastante. Individualmente cada um administra seu tempo, suas atividades, e tudo isso acarreta a responsabilidade pessoal pelos próprios atos. Os pais são importantes administradores, não só no que diz respeito à organização e harmonia do lar, mas também na grave questão da educação dos filhos. Certamente teremos que dar contas à Divindade da administração desse departamento chamado lar. No campo profissional não é diferente. Não importa em que setor da vida trabalhemos, teremos que prestar contas do que temos feito. Sejamos nós um limpador de rua, lavrador, jardineiro, professor, médico, arquiteto, político, ou tenhamos outra profissão qualquer, dela teremos que prestar contas um dia. Todos, sem exceção, nascemos com as possibilidades que precisamos para nossa evolução. Dessa forma, devemos florescer onde fomos plantados pelo Pai amoroso e justo, que nos concede, não o que gostamos ou queremos, mas o de que necessitamos. A nossa dedicação, os esforços que empreendermos por desempenhar bem a parte que nos cabe no conjunto, podem parecer insignificantes, mas serão de grande valia quando tivermos que responder, diante das Leis que regem a vida, o que fizemos da nossa administração. E quanto maior é o nosso raio de ação, a influência que exercemos sobre pessoas e situações, maior a nossa responsabilidade. Se, no contexto em que estamos inseridos, dissipamos os recursos que Deus nos confia, agindo como o feitor infiel, as conseqüências, por certo, serão amargas. E se isso acontecer, a ninguém teremos que culpar a não ser a nós mesmos. Na avaliação da nossa administração muitos fatores serão considerados: os talentos pessoais, as possibilidades físicas e psíquicas, a disponibilidade de bens materiais, o apoio de familiares e amigos, enfim, tudo o que temos ao nosso alcance. Por isso, é importante que façamos, desde agora, uma avaliação de como tem sido nossa administração. E, caso constatemos que não tem sido das melhores, esforcemo-nos para melhorar o nosso desempenho. 
 * * * 
O cientista, no conforto do laboratório, e o marinheiro rude, sob a tempestade, estão trabalhando para o Senhor; entretanto, para a felicidade de cada um, é importante saber como estão trabalhando.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 40 do livro Palavras de Emmanuel, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. Em 29.08.2008.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

FALEMOS DE DEUS AOS NOSSOS FILHOS

RAUL TEIXEIRA
A infância é o período ideal para o aprendizado de todos nós. Nessa fase, como uma esponja, a mente infantil melhor absorve o que lhe é apresentado. Nossos pequenos respondem, de forma positiva, aos estímulos a que os expomos. Esse é o motivo pelo qual os aprendizados da infância parecem marcados de maneira profunda, e se refletem em nossos valores, conceitos e hábitos. Assim, aqueles que na infância aprendemos a afetividade, o valor de um abraço, de um carinho, ao nos tornarmos adultos teremos tais expressões como naturais. Seremos pessoas afetuosas, que conquistam e alimentam amizades, que se fazem gentis e simpáticas onde quer que se encontrem. Porém, se formos expostos a estímulos de uma sensualidade precoce, com músicas, coreografias e comportamentos não condizentes com a ingenuidade infantil, logo nos primeiros passos da adolescência começaremos a enfrentar dificuldades emocionais. O poder das palavras mas, principalmente, dos exemplos de mães e pais calam fundo na mente infantil. Por isso, é necessário que reflitamos sobre o que estamos depositando na mente de nossas crianças. Para isso, é importante que avaliemos de que maneira usamos o tempo que passamos com elas. Os momentos da intimidade familiar são preciosos no processo da educação. Será nessas horas que deveremos semear os valores e princípios que queremos lhes deixar, valores que marcarão sua vida adulta. Fundamental, não esqueçamos, que falemos de Deus e das Suas obras aos nossos filhos. Falemos naturalmente, sem exageros ou conceitos sem lógica, pois esses se desmantelarão à medida que eles forem desenvolvendo sua razão. Falemos de Deus, mostrando a grandiosidade do céu, a beleza das flores, a providência da chuva, os benefícios dos raios solares, a carícia dos ventos brandos. E lhes ensinemos a serem gratos a esse Criador extraordinário, Pai de amor e bondade. Também os convidemos ao respeito à natureza, a todos os seres vivos, ao meio ambiente. E, ensinando-os a orar, na intimidade do lar, iremos lhes oferecendo subsídios para melhor enfrentarem seus desafios, logo mais ou em anos ainda distantes. Oração como recurso de reflexão, amparo, tranquilidade e fé. Oração como fortalecimento das próprias forças. Oração de quem se sabe filho de um Pai generoso e bom. Envolvidos por esses conceitos nobres, nossos filhos crescerão no respeito a si mesmos, ao seu próximo, tornando-se bons cidadãos, generosos e solidários. E, entendendo, desde cedo, a importância do respeito aos recursos que a natureza oferece, ao planeta em que vivemos, atuarão em todos os seus dias, de forma coerente e exemplar. Falemos, portanto, de Deus aos nossos pequenos. Que eles saibam que poderão enfrentar adversidades, que poderão sofrer revezes, mas jamais estarão sós. Porque a Providência Divina por eles vela, de forma constante. Ofereçamos a eles o melhor legado, aquele da confiança em Deus, da dignidade, da honra, do respeito a si mesmo, a tudo e a todos. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 53, do livro Ações corajosas para viver em paz, pelo Espírito Benedita Maria, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter. Em 15.6.2017.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

O HÓSPEDE

Quando sabemos que receberemos um hóspede, em casa, alguém de quem gostamos muito, tomamos muitas providências. Organizamos tudo da melhor maneira possível. Afinal, desejamos oferecer tudo de bom, de mais especial. Por isso, limpamos e perfumamos nosso lar. E o enfeitamos com flores delicadas e coloridas. Providenciamos a quem chegará o melhor cômodo da casa. Aquele onde o sol, pela manhã o virá saudar. E se fizer frio, virá aquecê-lo, logo ao despertar. Quando o hóspede chega, fazemos silêncio para não perturbar o seu repouso. Providenciamos para que as crianças não o incomodem. Pensamos em todos os detalhes, nos desdobramos nas atenções quanto aos alimentos. Preparamos o que ele mais aprecia. Desejamos que se sinta bem em nossa casa. Para ele, o melhor. É nosso hóspede. Tudo se torna um envolvimento de carinho para que esteja à vontade em nossa casa. 
 * * * 
Poucos de nós nos damos conta de que existe um hóspede ansioso para penetrar a nossa casa interna. Alguém que tem caminhado de um para outro lado, nas calçadas e ruas da nossa vida emocional, todos os dias. Ele busca se insinuar para que tomemos a iniciativa de convidá-lO a entrar. Ele conhece nosso íntimo. Sabe dos nossos sentimentos feridos, da alegria que buscamos com ansiedade, da saúde que aguardamos se restabeleça. Das esperanças tão embaladas... Ele nos segue pelos corredores da solidão ou nos salões da alegria. Ele se chama Jesus. Quem sabe, ainda hoje, possamos convidá-lO para adentrar o nosso coração. E, como o desejamos bem recepcionar, comecemos por realizar a higiene das peças interiores de nossa alma. Espanemos para longe os pensamentos tristes. Coloquemos perfumes em nossa casa íntima. Envolvamos em silêncio cada compartimento interno para que Ele se faça o mais suave hóspede da nossa vida, dela jamais se apartando. Não esperemos mais. Vamos convidá-lO a se hospedar em nós, para sempre! Todos os que permitiram que Ele adentrasse a porta dos seus corações, nunca mais foram os mesmos. Ele penetrou o coração de Francesco Bernardone e o jovem se transformou em Francisco dos pobres, Francisco de Assis. Ele visitou uma jovem freira na Índia e ela, deixando-se sensibilizar por Sua mensagem, se transformou na irmã dos pobres mais pobres: Madre Teresa de Calcutá, para quem cada mendigo, doente ou necessitado era o próprio Cristo vivo e amado. Se O convidarmos a estar conosco e nos dispusermos a viver a Sua mensagem, Ele, estrela fulgurante, fará sol em nossas vidas, acima e além de todos os problemas que possam colocar nuvens em nossos dias. 
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Jesus, Mestre, Amigo e Irmão Maior. Ele prossegue de braços abertos, aguardando que nos permitamos o aconchego. E que atendamos ao Seu convite: Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração. E achareis descanso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e leve o meu fardo. Atendamos ao convite e abriguemos o Hóspede Celeste na intimidade de nossa alma. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 16, do livro Rosângela, pelo Espírito Rosângela, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter e transcrição do Evangelho de Mateus, cap. 11, vers. 28 e 29. Em 14.6.2017.

terça-feira, 13 de junho de 2017

DAR A VOLTA POR CIMA

Gerson Brenner
É impressionante como algumas pessoas sabem agir com inteligência e bom senso diante das situações adversas que a vida lhes apresenta. Há algum tempo, um ator famoso sofreu um assalto e foi ferido gravemente, ficando em coma por muito tempo. Os dias se passaram, os meses se somaram e, apesar das limitações impostas ao corpo físico, continuou lutando com bravura. Gerson Brenner não se deixou vencer pela soma de acontecimentos amargos e começou a grande luta para dar a volta por cima e continuar vivendo, ainda que com graves limitações nos movimentos do corpo.
Osmar Santos
Um narrador de futebol, não menos famoso, sofreu um acidente de automóvel e ficou por longo tempo sem contato com o mundo exterior. Apesar das barreiras imensas que tentavam isolá-lo do mundo, Osmar Santos empreendeu uma batalha acirrada e, depois de longo tempo, conseguiu se comunicar com o mundo através da arte, pintando quadros. Ele conseguiu dar a volta por cima e reinventar sua vida. Um dia, um acidente de ultraleve matou a esposa de um cantor popular e o jogou num leito de hospital com graves ferimentos na medula e no cérebro. Poucos acreditavam que ele sairia dessa. 
Herbert Viana
Mas Herbert Viana deu a volta por cima, demonstrando rara coragem e uma disposição inabalável. Surpreendendo médicos e enfermeiros, ele aparece cantando e dedilhando sua guitarra para alegrar a enfermaria repleta de pacientes que, como ele, enfrentam horas seguidas de fisioterapia. Assim como essas pessoas famosas, há também muitos heróis anônimos que dão a volta por cima e vencem situações de extrema dificuldade. E, ao contrário do que muita gente pensa, essas são atitudes de pessoas que sabem usar a razão e o bom senso. 
Percebem que não há como vencer, senão aceitando o desafio que as Leis maiores lhes oferecem, com resignação e coragem. Esses são os verdadeiros vencedores, pois transformam uma situação aparentemente sem saída, numa nova maneira de encarar a vida. É como se admitissem a si mesmas: Se Deus me ofereceu esta situação difícil é porque preciso aprender alguma lição com ela. E é isso que vou fazer. Nesse caso, é a obediência consentida pela razão, e a resignação aceita pelo coração. Essa é a posição de um filho que confia no seu Pai e Dele sempre espera o melhor, ainda que esse melhor chegue com aparência de desgraça. Um filho que confia num Pai amoroso e justo e procura retirar de cada situação uma lição a mais, um aprendizado útil, mesmo que seja uma demonstração de coragem, de fé, de humildade, de confiança. E você? Já pensou nas lições que Deus espera que aprenda com as situações que lhe apresenta? Se ainda não havia pensado, pense agora, ainda há tempo. Considere que as provas sempre guardam relação com o tipo de aprendizagem que precisamos demonstrar e são proporcionais ao nosso grau de evolução. Assim, se é a nossa paciência que deve ser testada, teremos uma prova correspondente. Se é a humildade, uma prova em que possa ser demonstrada, e assim por diante. 
 * * * 
Conforme nos recomendou o grande Apóstolo Paulo de Tarso, aprendamos a dar graças por tudo. A flor agradece, com o seu perfume, a terra escura que lhe permitiu nascer e florescer. A borboleta dá graças ao casulo desprovido de beleza que lhe permitiu efetuar a sensível metamorfose, bailando no ar e contribuindo com a polinização. Quando o enfermo recupera a saúde, bendiz a dor que lhe trouxe a lição do equilíbrio. Por todas essas razões, aprendamos a agradecer a tempestade que renova, a luta que aperfeiçoa, o sofrimento que ilumina. Lembrando sempre que a alvorada é dádiva do céu que surge após a noite escura na Terra. 
Redação do Momento Espírita Em 04.04.2011.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

REVIVENDO O AMOR

Na adolescência, ele surge, manifestando-se de muitas formas. Percebe-se que ele chegou ao coração da menina, com anseios de mulher, quando ela passa a se demorar nos cuidados pessoais. O cabelo nunca está bom. Hoje ela o quer liso, depois, encaracolado, mudando a cor, alterando o corte. Ela se olha no espelho de frente, de lado, pelas costas. E nunca está bem. Batom, perfume, maquiagem. Roupa mais justa, roupa mais larga, mais curta. Uma sessão interminável de gostos, segundo a moda. E, mais de uma vez, já no portão de casa, volta correndo, para tornar a se olhar no espelho. Passa pelo pai e pergunta: 
-Estou bonita, pai? 
Afinal, a opinião de um homem é importante. Quando o menino, que sente em si os ardores da masculinidade, o descobre, todos na família percebem. Porque o banho é demorado e frequente. A roupa é escolhida com detalhes. O cabelo – ah, o cabelo – é o item mais trabalhado. Raspar bem o rosto ou deixar crescer a barba? Que indecisão! A grande pergunta é: Como as meninas gostam mais? O motivo de tudo isso chama-se amor. Algo diferente que faz bater o coração no cérebro, tremer as pernas, gaguejar, suar nas mãos. É um sentimento diferente pelo sexo oposto. Há pouco se digladiavam, considerando-se verdadeiros inimigos. Os meninos eram chatos. As meninas, umas tolas. Agora, aquele olhar, um simples olhar de um para o outro é capaz de os fazer alçar às nuvens. É belo esse período da descoberta desse doce sentimento. Não é o mesmo amor que se tem para com os pais, para com os irmãos, os avós, os amigos. É um sentimento que fomenta o desejo de estar ao lado do outro; que tem a capacidade de fazer sonhar de olhos abertos; de acreditar que tudo se realizará, no futuro próximo; que a felicidade é plena, rósea, permanente. Amor, enamorados. Gestos de carinho, olhares perdidos no vazio que, em verdade, se plenificam com a imagem do objeto do amor. Caixas de chocolate, flores, pequenos mimos. Você, que já ultrapassou a linha da adolescência; que está namorando a mesma pessoa há anos; que está casado, já é pai, avô – você recorda como eram apaixonantes aqueles dias de sonho, esperanças, castelos no ar? Talvez você diga que passou da idade, que adolescência é adolescência. Acredite: a época de amar não acaba nunca. Não importa a estação do ano. Quando se ama, há sempre flores e perfumes no coração. Por isso, neste Dia dos Namorados, surpreenda seu amor, mesmo que você já esteja desabituado a gestos creditados aos extremamente apaixonados. Mostre que você ainda é o galã dos sonhos dela. Convide-a para passear, para dançar, para um jantar. Saiam sozinhos. Voltem a sonhar, olhando a lua e as estrelas, que deverão estar brilhando só para vocês dois. Redescubra o amor que um dia os uniu. Ofereça flores, diga palavras de carinho, lembre como ela ainda está bonita. A madureza dos anos lhe fez tão bem! Aprume-se como um garoto saindo pela primeira vez com a namorada. E descubra que o amor jamais envelhece. Porque o amor é o sentimento mais sublime que Deus nos permite alcançar. Pense nisso! Hoje, neste dia especial!
Redação do Momento Espírita. Em 12.6.2017.

domingo, 11 de junho de 2017

LIVRE-ARBÍTRIO E CARIDADE

DIVALDO PEREIRA FRANCO
Nunca será demasiado entretecer-se considerações sobre a caridade. A caridade é sempre luz que abençoa aqueles que jornadeiam na aflição. Mesmo quando não é vista, à semelhança dos raios solares, quando o Astro Rei está ausente, beneficia, penetrando as vidas e renovando-as. Assim, a caridade, seja no seu aspecto material ou moral, reflete o amor de DEUS que alcança as almas, socorrendo-as. Quando a caridade material não se faz necessária, jamais será secundária aquela de natureza moral, porquanto vital o ar, penetra e sustenta a vida. 
São caridades morais: 
O Sorriso de afabilidade ao atormentado que perdeu a esperança; 
A palavra de estímulo quando todos os outros recursos ficaram baldos de resultados; 
O gesto de simpatia ante a circunstância aziaga e infeliz; 
A compreensão fraterna, face à ofensa e à maldade; 
A oração intercessória, em favor do adversário em sofrimento; 
O apoio emocional no momento áspero da desgraça. 
O perdão da ofensa e a dedicação ao tombado; 
A gentileza de um socorro espiritual... 
Quem pode, por acaso, no transe da dor, dispensar qualquer uma destas concessões? 
Qual a pessoa que se sinta tão completa que dispense um amigo ou uma palavra de reconforto? 
A caridade é luz que deve ser considerada como benção de DEUS nas estradas do mundo. Praticá-la ou não é opção de cada indivíduo. Aquele que a utiliza, favorece o crescimento da luz que se esparze; quem se nega a realizá-la, faculta a ampliação da sombra que predomina. O livre-arbítrio e a caridade constituem alavancas para o progresso do homem na direção da sua meta final, que é a felicidade. JESUS, todo amor por excelência, em instante algum deixou de esparzi-la, iluminando as vidas que, desde então, jamais perderam a diretriz. Caridade, portanto, hoje e sempre. 
***
Obra: No Rumo da Felicidade - Divaldo P. Franco/Joanna de Ângelis)

sábado, 10 de junho de 2017

DAR AMOR

Elisabeth Kübler-Ross
O panorama do mundo, neste início do Terceiro Milênio, não é maravilhoso. Há milhões de pessoas que estão passando fome. As guerras continuam devastadoras. Os homens disputam pedaços de terra, que chamam de territórios, como se fossem viver para sempre em cima deles. E cada pedacinho fica manchado com o sangue de muitas vítimas. Há milhões de pessoas sem um teto. Milhões que sofrem de AIDS. Milhões de crianças, adultos e velhos que sofreram e sofrem violência. Milhões de pessoas que padecem de invalidez, seja por terem nascido com a deficiência ou por terem sido vítimas de enfermidades, acidentes ou combates. Todos os dias, em todo o mundo, mais alguém está clamando por compreensão e compaixão. Este é o mundo que recebemos do milênio passado. O mundo que construímos. Agora nos compete construir o mundo renovado do Terceiro Milênio. Escutemos o som das vozes de todos os que padecem. Escutemos como se fosse uma cantiga, um mantra que suplica auxílio. Abramos os nossos corações para todos os que estão precisando e aprendamos que as maiores bênçãos vêm sempre do ajudar aos outros. Acima de pontos de vista econômicos, de crença religiosa, de cor da pele, aprendamos que todos somos filhos do mesmo Pai e nos encontramos na mesma escola: a Terra. Por isso o auxílio mútuo é dever de todos. Podemos não resolver os problemas do mundo, mas resolveremos o problema de alguém. Não podemos resolver o problema da AIDS, mas podemos colaborar valorosamente nas campanhas de esclarecimento às novas gerações. Não podemos diminuir as dores de todos os pacientes, mas podemos colaborar conseguindo a medicação precisa para um deles, ao menos. Com certeza, não podemos devolver mobilidade a membros paralisados. Mas podemos nos tornar mãos e pernas, auxiliando aqueles que precisam. Podemos não resolver o problema da fome no mundo, mas podemos muito bem providenciar para que quem esteja mais próximo de nós, não morra à míngua, providenciando-lhe o alimento ou o salário justo. É muito importante aprender a gostar de tudo o que fazemos. Podemos ser pobres e nos sentir sozinhos. Podemos morar em um local não muito agradável, mesmo assim, ainda poderemos colocar flores nos corações e nos alegrar com a vida. Tudo é suportável quando há amor, único sentimento que viverá para sempre.
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O amor é a virtude por excelência, seja na Terra, seja em outras moradas do Senhor. O equilíbrio do amor desfaz toda discriminação, na marcha que realizamos para Deus. Exercitando o amor conjugal, filial, paternal ou fraternal busquemos refletir, mesmo que seja à distância, o amor do nosso Pai, que a todos busca pelos caminhos da evolução. Vivamos e amemos, de forma equilibrada, sentindo as excelsas vibrações que vertem de Deus sobre as necessidades do mundo. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 40, do livro A roda da vida, de Elisabeth Kübler-Ross, ed. sextante e no cap. 2, do livro Vereda familiar, pelo Espírito Thereza de Brito, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter. Em 26.09.2012.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

DAR A MESMA EDUCAÇÃO

Diante de filhos rebeldes ou indiferentes, é comum ouvirmos pais se fazendo a seguinte pergunta:
-Onde foi que eu errei? 
Outros reclamam, desolados: 
-Eu dei a mesma educação e cada um se comporta de forma diversa. 
Um exame mais detido talvez aponte onde está a nossa falha. Sabendo que cada criança é um Espírito imortal, que traz consigo, ao nascer, a soma das experiências vividas em outras existências, entenderemos que não pode haver uma igual à outra, psicologicamente falando. Por essa razão, nosso primeiro erro está em dar a mesma educação a Espíritos diferentes. O que funciona para uns, pode não funcionar para outros. Para educar uma criança é preciso conhecê-la muito bem e para isso é preciso conviver. Somente a convivência nos permitirá observar cada tendência dos nossos educandos. No convívio diário, observando a criança a brincar com os amiguinhos, saberemos logo se ela é egoísta ou altruísta, violenta ou pacífica, pela sua forma de falar e de se comportar. 
Se é egoísta, fala sempre na primeira pessoa: o meu carrinho, a minha bola, o meu robô, enfim, tudo é só dela e ninguém pode tocar. 
Já o altruísta tende a falar os nossos brinquedos e permite que todos brinquem com o que lhe pertence. 
O violento está sempre armado contra os irmãos e os coleguinhas. É aquele que bate na babá, joga os brinquedos e espanca os animais que encontra pela frente. 
O pacifista busca defender os amigos, mesmo que esses estejam equivocados. Trata bem os irmãos e a babá e está sempre disposto a ajudar. 
Há os que nunca assumem um erro, jogando sempre a culpa sobre algo ou alguém. Há os inseguros que nunca decidem sobre coisa alguma. 
Há os que buscam chantagear pais, irmãos, colegas e professores, colocando-se sempre na posição de vítimas, para que ninguém lhes cobre nada. 
Há, ainda, os que querem mandar em tudo e em todos, como verdadeiros generais que voltam ao mundo em roupagem diferente. 
Enfim, há tantas diversidades de caráter quanto o número de pessoas que habita a face da Terra. Por essa razão, é importante conhecer bem os filhos para poder ajudá-los a crescer moral e intelectualmente. Amar a todos sem distinção, dando a cada um uma educação específica, de acordo com as suas necessidades. Evitar as comparações entre um e outro, que tendem sempre a gerar ciúmes e antipatias. Cuidar para não exigir demais do filho que não tem condições de oferecer mais do que o que já oferece, em detrimento do outro que se esforça pouco e que poderia fazer muito mais. A educação é uma arte e como tal exige esforço e dedicação por parte do educador. Mas, sem dúvida alguma, é muito gratificante poder ajudar as almas a caminhar para Deus. 
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Busque amar os filhos sem deixar de lhes oferecer o remédio necessário para a alma ansiosa por felicidade. Lembre-se sempre de que a escola forma o cidadão mas só o lar constrói o homem de bem. 
Redação do Momento Espírita. Em 31.01.2010.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

ESPETÁCULO DIVINO

A madrugada despede a noite e se instala. Mas, a escuridão ainda predomina. Os homens usam a luz artificial para espancar as trevas. São faróis de carros, para os que se deslocam a distâncias. Nas casas, são lâmpadas, velas, lampiões. Lâmpadas nos postes auxiliam a mostrar o caminho que a cara redonda da lua, com sua luz prateada, não se mostra suficiente. Faróis em pontos estratégicos apontam o rumo aos que navegam nas águas mansas ou agitadas dos mares. Logo mais, os braços da madrugada se espreguiçam e pequenos raios de luminosidade tocam a manhã, para que desperte. Finalmente, é manhã plena e, enquanto os homens correm, de um lado para outro, em função de seus estudos, de seus negócios, de suas vidas, Deus instala Seu extraordinário aparelho multimídia para a projeção do novo dia. Em trabalho sem igual, que a cada dia não se repete da mesma forma, o Arquiteto sem par projeta na tela do Universo, os Seus slides. Há luz, som, animação. Os braços do salgueiro balançam, agitados pelo vento que se veste de brisa ligeira. Jardins, montanhas, campinas. Áreas verdejantes, rios cantantes, fontes generosas se multiplicam. A projeção é tão magnífica que o espetáculo permite se sentir o perfume da terra, das flores, dos veios da madeira aberta em sulcos. Os raios do sol aqui lançam sombra, além se estendem, espancando nuvens. As pequenas elevações parecem ondular na paisagem. As folhas multicoloridas do outono se misturam em um quadro, enquanto noutro as delícias da primavera explodem em botões. Paisagens desérticas, quase intermináveis em um ponto. Dunas, oásis, palmeiras. Paredes altas, montanhosas, de outro. Gelo aqui, calor acolá. Pássaros cantam, ovos são chocados, a vida se multiplica em toda parte. E assim, durante as horas do dia, os slides irão se sucedendo um a um. O homem passa apressado, poucos se dando conta dos quadros que se alternam, sucedem, de contínuo. Quando morre a tarde e a noite retorna, como hábil artista, Deus estende um negro manto, a fim de que os astros, que percorrem o Infinito, possam melhor ser percebidos. Assim é, a cada dia, a cada noite. Se o homem contemplasse mais a natureza, estudasse melhor as suas leis, compreendesse a harmonia que ela leciona, viveria melhor. Quando o cansaço o tomasse, nas horas de trabalho, pararia um pouco e olharia o jardim. Se estivesse cercado por paredes de concreto de vários edifícios, poderia olhar o céu, acompanhar o passeio das nuvens e permitir-se despentear pelo vento. Bastaria colocar a cabeça para fora de uma das janelas em que esteja. Tudo isso o revigoraria. E o faria lembrar de Quem o criou por amor e por amor o sustenta. Dar-se-ia conta de que acima das leis humanas, uma maior, imutável e justa vigora. Lembraria que é filho de Deus, que a vida é um tesouro muito precioso para ser desperdiçado. E, então, aprenderia que o dia foi feito para o homem e não o homem para o dia. O que quer dizer que dosaria trabalho, lazer, meditação. Horário para alimentar o corpo. Horário para alimentar a alma. Sobretudo amaria intensamente aos que com ele convivem neste lar abençoado que se chama planeta Terra. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 14, ed. FEP. Em 8.6.2017.