sexta-feira, 30 de setembro de 2016

CONHECEREIS A VERDADE

Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. A frase foi dita por Jesus e anotada pelo Apóstolo João, em seu Evangelho. E nos perguntamos: De que nos libertará? Afinal, cada um de nós tem suas próprias cadeias existenciais e problemáticas. São questões íntimas que nos infelicitam, são dificuldades de toda ordem, em termos materiais. A que liberdade e a que verdade se referia Jesus? Foi meditando nessas questões, que lemos a história de um rabino da Europa Oriental que, durante a Segunda Guerra Mundial, perdeu sua mulher e seus seis filhos no campo de concentração de Auschwitz. Após a guerra, ele tornou a se casar, mas sua esposa era estéril. Ele sofria pelo desespero de não ter um filho que pudesse pronunciar o kaddisch para ele, depois de sua morte. O kaddisch é uma oração pelos mortos. No caso de pai ou mãe é recitada, conforme a crença hebraica, por onze meses, pelo filho. O psiquiatra que o ouviu, lhe acenou com outros sentidos para a vida, além da própria perpetuação da espécie. Em vão. Então, lhe perguntou se ele não esperava rever seus filhos, na Espiritualidade, quando morresse. Aí, a torrente de lágrimas foi maior. Ele acreditava que seus filhos haviam morrido inocentes na câmara de gás e, por isso, estariam no céu. No entanto, ele mesmo se considerava alguém indigno de compartilhar aquele lugar com eles. Por isso, acreditava que nunca mais os veria. O psiquiatra vienense migrou para determinado raciocínio, que auxiliou o rabino em seu desespero. Mas, foi aí que ficamos a pensar: se aquele pai tivesse o conhecimento, além da sua respeitável ortodoxia, de que Deus é Amor Infinito e não decreta juízos definitivos aos Seus filhos, quão melhor se sentiria. Se ele soubesse que somos julgados pela própria consciência e que a cada um será dado segundo as suas obras; se soubesse que, mais que tudo, a Justiça Divina é de misericórdia... embora as dificuldades de caráter pessoal, quão consolador lhe seria o saber que, após a morte, os amores tornamos a nos reencontrar. Como poderia ser diferente, sendo as leis criadas por um Pai amoroso e bom? Ensinou-nos Jesus: Qual dentre vós é o homem que lhe pedindo pão o seu filho, lhe dará uma pedra? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus. Eis a verdade que liberta da dor da separação pela morte física. A certeza da Imortalidade e dos reencontros. O amor não acaba porque a vida física se finda. O amor é imortal, transcende as fronteiras da morte e une os corações amados. O Deus bom, que veste os lírios dos campos e alimenta as aves dos céus, não poderia ter menos misericórdia para com os Seus filhos. Pensemos nisso. 
E agradeçamos pela libertação da dor maior das ausências físicas porque cremos na Imortalidade da alma, porque cremos em um Deus infinitamente justo e bom, um Deus que é Amor.
Agradeçamos por saber que logo mais nos reencontraremos, os que vivemos na carne e os que já transitaram pelo grande portal da morte. 
Agradeçamos ao Pai de amor e bondade e a Jesus que nos revelou essa verdade. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O supra-sentido, do livro Em busca de sentido, de Viktor E. Frankl, ed. Vozes, com citações do Evangelho de João, cap.8, versículo 32 e do Evangelho de Mateus, cap. 7, versículos 9 e 11. Em 25.11.2013

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

UM INGREDIENTE ESPECIAL

Solidão é algo que nos deixa, habitualmente, entristecidos. Quando dizemos que desejamos ficar sós, que precisamos descansar do corre-corre diário, naturalmente desejamos algumas horas de tranquilidade. Não estamos cogitando de nos retirarmos do convívio de familiares, amigos, conhecidos, para sempre. Histórias de pessoas que ficaram isoladas em determinadas localidades, por um largo tempo, testemunham da necessidade de ouvirem a voz humana, uma outra, que não a sua própria. Pessoas confinadas, por períodos largos, em isolamento, passam a sofrer certos distúrbios. O homem foi criado para viver em sociedade. No livro bíblico de Gênesis, lê-se que Deus verificou que ao homem não seria bom viver só. E lhe providencia uma companheira. Nasciam ali as normativas de uma Lei Divina, a lei de sociedade. Ter relações de vizinhança, de amizade é de suma importância para o ser humano. Isso foi plenamente atestado pelo casal José, de oitenta e nove anos e Michele, de noventa e quatro, que mora sozinho, em um apartamento em Roma. Isolados de contatos exteriores, certo dia, ambos tiveram um ataque de pânico. Os seus gritos atraíram a atenção dos vizinhos, que acionaram a polícia. Pensando se tratar de um assalto, quatro oficiais, que estavam em patrulha, nas proximidades, atenderam ao chamado. Quando chegaram ao apartamento, constataram o isolamento e o pânico do casal. Andrea, um dos policiais, se deu conta de que eles estavam desesperados por se sentirem sozinhos, esquecidos de todos. Então, enquanto aguardava a ambulância, num gesto cheio de humanidade, foi para a cozinha e se pôs, simplesmente, a cozinhar espaguete com manteiga e queijo para os vovôs. Enquanto isso, os outros colegas se puseram a conversar com eles. O resultado foi um autêntico jantar em família, sem cerimônias, servido ali mesmo, na cozinha. Os idosos comeram e choraram. Mas, suas lágrimas eram de alegria, por estranhos se importarem com eles. Um gesto simples, mas de relevância para aqueles dois idosos, que se sentiam perdidos no mundo. Para os policiais italianos, nada de mais cozinhar o espaguete, conversar, entretê-los enquanto chegava o socorro que os conduziria para um atendimento especializado. Nada de mais a não ser um ingrediente muito, muito precioso: humanidade. 
* * * 
Dias atuais. Época de muita comunicação. Sabemos o que ocorre em nossa aldeia global, em tempo real. No entanto, são tempos em que também nos isolamos. Vivendo em grandes edifícios, muitos desconhecemos os vizinhos do mesmo andar. Somos desconhecidos, vivendo lado a lado, parede a parede. Entramos e saímos dos elevadores sem erguer os olhos, sem nos cumprimentarmos, sem sabermos os nomes uns dos outros. Precisamos tanto uns dos outros. Aprendamos a viver com nossos vizinhos. Afinal, eles são os mais próximos de nós, para o bom dia, o olho no olho, um sorriso, uma conversa rápida, um saber que não estamos sós. Que, logo ali, estão pessoas com as quais podemos contar, um dia, em algum momento. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com informações colhidas no site www.sonoticiaboa.com.br. Em 26.9.2016

CONHECER DEUS

Algum dia você já ficou imaginando como seria Deus? Qual seria a imagem de Deus? De um modo geral, nos vem à mente a figura de um ancião, barbas longas, brancas, muitas vezes sentado em um majestoso trono, a cuidar das coisas daqui de baixo... A herança cultural que carregamos nos traz essa imagem que, ao ser analisada mais detidamente, vemos ser distante do que possa ser real. Vejamos: Em que parte do espaço estaria Deus olhando para baixo? Qualquer que seja essa resposta, nos perguntaríamos: E os outros planetas, os outros corpos celestes, que estarão acima, ao lado, atrás... Como Ele cuidará de todos esses, se já não estarão sob Seu olhar? Ainda, por que a figura de Deus como um ancião? Será que Ele já foi jovem um dia? O tempo Lhe alterou o semblante, como acontece conosco? E como pode o tempo alterar a figura de Deus, se Deus é a causa primeira, a origem de todas as coisas? Podemos nos perguntar ainda, por que a figura masculina a representar Deus? Não poderia ser uma figura feminina, como acreditavam algumas culturas antigas? Na dificuldade de transcender nosso pensamento, damos a Deus a figura humana, emprestamos ao Criador do céu e da Terra a pobre imagem humana, como se isso fosse suficiente e mesmo necessário para ver e entender Deus. Ao considerarmos Deus como a Inteligência Suprema e a causa primária de todas as coisas, já não teremos a necessidade de representar a figura de Deus. Como O sabemos a causa e origem de tudo é fácil entender que não há como representá-lO na limitação de nosso pensamento e sentimento. Percebemos que, se ainda não conseguimos entendê-lO ou não há como representá-lO, já O podemos sentir. E sentimos Deus ao contemplar um pôr-do-sol a desdobrar o céu em inúmeros matizes, colorindo o horizonte, a cada dia, de maneira diferente. Sentimos o Criador e toda a pujança do Seu amor a nos tocar, na grandiosidade da natureza que se faz bela, harmoniosa e generosa, dando-nos o suporte para a vida física no planeta. Sabemos da presença de Deus quando nos emocionamos com o milagre da vida, que se repete infinitas vezes no ventre materno, permitindo que uma simples célula dê origem a um organismo complexo e ordenado, após nove meses de elaboração. Se não conseguimos representar, entender ou ver Deus, já é possível tê-lO em nossa intimidade. Sem a necessidade de materializar ou personificar Sua figura, mas apenas senti-lO, nos mínimos detalhes da vida. Seja no microcosmo, na intimidade da organização celular, ou no macrocosmo, nas galáxias e estrelas infindas, aí estará a presença de Deus e de Seu amor, a cuidar de cada um de nós, Seus filhos. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 23, ed. Fep. Em 2.1.2013.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

ÁGAPE

Os gregos antigos eram muito sofisticados ao falar sobre o amor. Segundo eles, era impossível utilizar uma única palavra para definir tudo aquilo que a nossa cultura chama, unicamente, amor. Para eles, havia seis formas de amor, cada qual com suas características. O primeiro tipo, o amor Eros, era nomeado assim por conta do deus grego da fertilidade, representando a ideia de paixão. Eros era o amor capaz de dominar e eximir o ser de sua racionalidade. Envolvia uma falta de controle, que assustava os gregos. A segunda variedade, o Philia, era relativo à amizade, à fidelidade entre companheiros unidos por laços fraternos. Essa forma de amor era muito mais valorizada do que a primeira. O Ludus, terceira forma, guardava relação com a diversão, com a afeição, com as boas companhias e com o prazer de se estar ao lado de quem se quer bem. O amor Ágape, quarto tipo, era a mais radical das formas. Foi traduzido mais tarde para o latim como Caritas, do qual se originou o termo caridade. Ágape representava o amor abnegado, desinteressado. Aquele que se estende ao próximo, a fim de transformá-lo em um irmão. Essa é a forma de amor ensinada na maioria das tradições religiosas. No cristianismo, representa o amor divino que deve ser cultivado e estendido aos nossos semelhantes, seguindo o ensinamento de Jesus: Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a vós mesmos. Ainda, o amor Pragma, o amor maduro, resultado de profundo entendimento, consideração, respeito e admiração, que se desenvolve entre casais de longo matrimônio e entre pessoas que convivem muitos anos. Passadas as ilusões, deixam se levar pela alegria da convivência. É o júbilo de saber que o outro ali está, em todos os momentos e circunstâncias, por mais difíceis e dolorosas que elas sejam. Finalmente, a última forma, o amor Philautia ou autoamor. Não se trata de narcisismo, mas sim de uma maneira muito mais elevada de amor. Os gregos entendiam que, quanto mais a criatura se ama, mais amor tem a oferecer. 
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De que forma entendemos o amor? O que ele representa para nós? Como damos, recebemos e vivenciamos o amor? Entregamo-nos aos preceitos de Jesus, buscando o auto-amor, o amor ao próximo, o amor familiar e fraternal, o amor abnegado? Ou ainda nos perdemos nas teias de Eros, das ilusões e paixões, dos interesses? Qual a nossa verdadeira compreensão do que é o amor? Importante se faz a reflexão a respeito. Importante que analisemos nossas ações, nossos sentimentos, a fim de bem avaliarmos de que espécie é o amor que nos move. O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta, dizia o Apóstolo Paulo. Pensemos nisso! Pensemos sobre o amor. Busquemos o amor que se oferece, que é fiel, que vive a alegria de ver o outro feliz. Vivenciemos o amor, em suas nuances mais sublimes, sempre, diária e constantemente. Redação do Momento Espírita, com base na obra How should we live, de Roman Krznaric, ed. BlueBridge. Em 27.9.2016.

CONHECENDO O VELHO PAI

MAURÍCIO DE SOUSA
Filho, acorda! São oito horas! Você vai se atrasar! De um salto, o rapaz se levantou. Contudo, logo se deu conta que era seu primeiro dia de férias. Atrasar para quê, mãe? Para pescar com seu pai. O jovem perdeu todo o entusiasmo. Sim, ele prometera, quando estivesse em férias, pescar com seu pai. Mas, tinha que ser logo no primeiro dia de férias? Enfim, ele foi, mesmo a contragosto. Sentado ao lado do pai, que dirigia, cantando, ele pensava em como seu pai estava ficando velho e meio lelé. Ficava cantando músicas antigas, ria, conversava e conversava. Finalmente, chegaram. Quer dizer, o carro estacionou, mas o pai disse que ali não era local apropriado para pesca. Só dava peixe pequeno. Andaram durante duas horas, no meio de mata densa, até chegar ao pesqueiro secreto do pai. Claro que é secreto, falou o rapaz, incomodado. Ninguém, a não ser você vem aqui. Nem os peixes. Isso é o que você pensa! - Falou o pai. Aqui é que se reúnem as maiores tilápias da represa. E, disposto, colocou botas altas, calças impermeáveis e entrou na água para cortar o mato que tomava conta quase total do lago. Tudo aquilo estava parecendo muito doido ao filho. Que graça podia ter tudo aquilo? Quando o pai preparou a vara e jogou o anzol, ele não aguentou e falou: Pai, estou preocupado com você. Essa maluquice de vir até este fim de mundo para pescar tilápias. E a mamãe falou que você nunca volta com peixe. Já pensou em procurar um psicólogo? Estou ótimo, falou o pai. O Freitas, que vem sempre aqui comigo, é psicólogo. O Tavares é psiquiatra. Nesse momento, ele sentiu a fisgada no anzol, puxou a linha e lá estava ela: uma grande tilápia. O rapaz estava surpreso. Pai, você já pescou peixe grande assim, antes? Sempre, meu filho. Mas eu nunca vi você levar para casa nenhum. Eu vou mostrar por que, falou o pai. E fotografou o filho segurando o peixe. Depois, pegou a tilápia e a devolveu à água. Eu pesco por prazer, não para encher a barriga. Aquilo sim era legal, pensou o filho. O resto do dia passou pescando com o pai. E devolvendo às águas o que pescava, depois de fotografar. Vá procurar o seu irmão, dizia, soltando o peixe. Ao final do dia, no retorno ao lar, confessou que fazia tempo que não se divertia tanto. Aquilo sim, era radical. À noite, enquanto se preparava para dormir, pensou que seu pai não tinha nada de louco ou de desequilibrado. Seu pai sabia viver. Seu pai era um gênio. E ele descobrira naquele dia. 
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Você já se dispôs a passar um dia inteiro ao lado de seu velho pai, bebendo da sua sabedoria? Já tentou puxar conversa dos tempos em que ele passava brilhantina no cabelo para ir namorar sua mãe? Você já pensou que seu pai também foi moleque, adolescente, rapaz? Que teve sonhos? Olhe seu velho com esses olhos de quem valoriza a experiência, os anos da madureza, as lutas que lhe nevaram os cabelos. E, sem receio, abrace seu velho, agradeça por todos os dias de alegria que ele lhe proporcionou. Faça isso. Mesmo que seja pela primeira vez. Hoje, enquanto é tempo e ele está ao seu lado. 
Redação do Momento Espírita com base na história Meu pai... o rei do peixe, de Maurício de Sousa, da Revista Cebolinha, nº. 224. Disponível no cd Momento Espírita, v. 19, ed. Fep. Em 10.08.2011.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Um ingrediente especial

Solidão é algo que nos deixa, habitualmente, entristecidos.
Quando dizemos que desejamos ficar sós, que precisamos descansar do corre-corre diário, naturalmente desejamos algumas horas de tranquilidade.
Não estamos cogitando de nos retirarmos do convívio de familiares, amigos, conhecidos, para sempre.
Histórias de pessoas que ficaram isoladas em determinadas localidades, por um largo tempo, testemunham da necessidade de ouvirem a voz humana, uma outra, que não a sua própria.
Pessoas confinadas, por períodos largos, em isolamento, passam a sofrer certos distúrbios.
O homem foi criado para viver em sociedade. No livro bíblico de Gênesis, lê-se que Deus verificou que ao homem não seria bom viver só.
E lhe providencia uma companheira. Nasciam ali as normativas de uma Lei Divina, a lei de sociedade.
Ter relações de vizinhança, de amizade é de suma importância para o ser humano.
Isso foi plenamente atestado pelo casal José, de oitenta e nove anos e Michele, de noventa e quatro, que mora sozinho, em um apartamento em Roma.
Isolados de contatos exteriores, certo dia, ambos tiveram um ataque de pânico. Os seus gritos atraíram a atenção dos vizinhos, que acionaram a polícia.
Pensando se tratar de um assalto, quatro oficiais, que estavam em patrulha, nas proximidades, atenderam ao chamado.
Quando chegaram ao apartamento, constataram o isolamento e o pânico do casal.
Andrea, um dos policiais, se deu conta de que eles estavam desesperados por se sentirem sozinhos, esquecidos de todos.
Então, enquanto aguardava a ambulância, num gesto cheio de humanidade, foi para a cozinha e se pôs, simplesmente, a cozinhar espaguete com manteiga e queijo para os vovôs.
Enquanto isso, os outros colegas se puseram a conversar com eles.
O resultado foi um autêntico jantar em família, sem cerimônias, servido ali mesmo, na cozinha.
Os idosos comeram e choraram. Mas, suas lágrimas eram de alegria, por estranhos se importarem com eles.
Um gesto simples, mas de relevância para aqueles dois idosos, que se sentiam perdidos no mundo.
Para os policiais italianos, nada de mais cozinhar o espaguete, conversar, entretê-los enquanto chegava o socorro que os conduziria para um atendimento especializado.
Nada de mais a não ser um ingrediente muito, muito precioso: humanidade.
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Dias atuais. Época de muita comunicação. Sabemos o que ocorre em nossa aldeia global, em tempo real.
No entanto, são tempos em que também nos isolamos. Vivendo em grandes edifícios, muitos desconhecemos os vizinhos do mesmo andar.
Somos desconhecidos, vivendo lado a lado, parede a parede.
Entramos e saímos dos elevadores sem erguer os olhos, sem nos cumprimentarmos, sem sabermos os nomes uns dos outros.
Precisamos tanto uns dos outros. Aprendamos a viver com nossos vizinhos. Afinal, eles são os mais próximos de nós, para o bom dia, o olho no olho, um sorriso, uma conversa rápida, um saber que não estamos sós.
Que, logo ali, estão pessoas com as quais podemos contar, um dia, em algum momento.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita,com informações colhidas no site www.sonoticiaboa.com.br.Em 26.9.2016.

CONHECENDO O INIMIGO

Orson Scott Card
Um filme de ficção científica apresenta uma guerra estelar num tempo futuro. A tela de abertura da película traz um pensamento fascinante: No momento em que eu verdadeiramente conheço meu inimigo, bem o bastante para derrotá-lo, nesse exato momento, eu passo a amá-lo. Ora, como será que isso poderia se dar? Como um sentimento de ódio se transformaria em amor? Será apenas uma divagação tola do autor da ideia? Não. Ela faz muito sentido e precisa ser analisada por nós, racionalmente e também pelos nossos sentimentos. Primeiro, interpretemos tendo em foco os inimigos externos, adversários cruéis que, por vezes, surgem em nossas vidas. Na medida em que nos debruçamos em conhecê-los em profundidade, para identificar seus pontos fracos, quem sabe, vamos descobrindo igualmente suas razões, seu lado humano, seu lado frágil. Descobrimos que ninguém é completamente sórdido, que ninguém é completamente mau. Descobrimos que ali, do outro lado, por trás de uma carranca, aparentemente segura e implacável, existe uma alma em desespero. Sim, o mal é uma doença, é a sombra que ainda não se fez luz e, à medida que vamos conhecendo melhor o outro vamos compreendendo seu lado, seus motivos, não para aceitar o mal; não, de forma alguma, mas para compreendê-lo. Nesse momento em que conhecemos profundamente o adversário, a ponto de poder derrotá-lo, podemos principiar a amá-lo, pois conseguimos ver o mundo por seu olhar, conseguimos sentir o que ele sente e, num exercício de empatia intensa, saber como é estar ali, do lado de lá. Nesse instante, o inimigo passa a ser o mal, propriamente dito, e não mais o nosso semelhante.
* * * 
Mas, ainda podemos vislumbrar essa ideia de uma outra forma, mais brilhante ainda, trazendo para a análise nossos inimigos íntimos - as sombras que nos impedem de nos autoamarmos. Lutamos contra nós mesmos e, quando saímos derrotados, a baixa autoestima, a depressão, a insatisfação, tomam nossas vidas a ponto de anular todas as nossas forças. Porém, se entendermos a ideia de conhecer o inimigo, profundamente, a ponto de amá-lo, podemos colocá-la em prática igualmente na vida íntima. Passamos a nos autoamar, porque nos conhecemos, sabemos dos nossos esforços, das nossas razões, da nossa luta, do quanto já somos melhores hoje do que fomos ontem. Não nos vemos como inimigo de nós mesmos. Autoacolhemo-nos com carinho, com paciência e tolerância. Não descuidamos de nós, pois descaso é autodesamor. Contudo, não nos sobrecarregamos de cobranças descabidas, de exigências exageradas, a ponto de nunca dar conta de nossas expectativas. Quando conhecemos nosso lado sombra, profundamente, através do autoconhecimento, temos instrumentos para nos autoamar e não para nos derrotarmos. Derrotamos o desânimo, a inércia, derrotamos a falta de confiança. Vencemos a ociosidade, a tristeza, vencemos o pessimismo.
 * * * 
Pensemos, por fim: Quem são nossos verdadeiros inimigos? Será que estamos travando uma luta genuína quando pelejamos uns contra os outros? Será que, em verdade, não estamos apenas projetando, lá fora, o que nos assusta tanto, aqui dentro? Pensemos nisso... 
Redação do Momento Espírita, com citação do filme Ender´s Game, dirigido por Gavin Hood, baseado na obra literária de Orson Scott Card. Em 1.7.2014.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

CONHECENDO O CORAÇÃO

Rachel Naomi Remen
Rachel estava no terceiro ano do curso de Medicina e começou a atender os seus próprios pacientes, sob supervisão. A primeira pessoa que lhe coube atender foi uma viúva de oitenta e quatro anos, com uma insuficiência cardíaca das mais simples. Era a paciente ideal para alguém que não tinha muitos conhecimentos. Uma doença de fácil tratamento. O diagnóstico foi preciso: ela sofria de doença coronariana. Com o clínico que a atendia, Rachel conseguiu elaborar um plano de tratamento, prescrevendo dois medicamentos. Em poucas semanas, a paciente não se queixou mais de falta de ar, a tolerância aos exercícios começou a melhorar e o inchaço dos tornozelos diminuiu. Estranhamente, embora Rachel exultasse de felicidade com a sua vitória, a paciente se mantinha sem nenhuma alegria. A jovem médica pensou que, provavelmente, isso se devia à sua idade avançada. A vida, para ela, talvez não tivesse o mesmo significado que tinha para a doutora. No mês de dezembro, Rachel a dispensou da clínica. Indicou-lhe somente um medicamento e lhe recomendou que voltasse em seis meses, para uma reavaliação. Enquanto escrevia a sua primeira receita, Rachel sentia que estava se tornando uma médica de verdade. No início de março, entretanto, a senhora retornou para a consulta. Era a terceira paciente do dia. Enquanto atendia as primeiras, Rachel pensava em que erro teria cometido, pois tinha certeza de que a paciente deveria estar de novo com um quadro de insuficiência cardíaca. Por que outro motivo ela teria voltado tão cedo? Ansiosa, Rachel entrou na sala de exames e encontrou a senhora, totalmente vestida, sentada em uma cadeira. Percebendo o olhar de surpresa da médica, ela disse que não estava ali para um novo exame. Viera para trazer um presente para ela. E, das profundezas de sua enorme bolsa, tirou um embrulho e colocou na mão de Rachel. Eram quatro pequeninas flores roxas. São muscaris, falou a viúva. Há mais de quarenta anos, meu marido e eu temos plantado essas flores no jardim de nossa casa. Elas renascem a cada primavera, sem falhar. São o primeiro sinal de que a vida é mais forte do que o inverno. No outono anterior, quando senti minha própria vida se retrair, não pensei no inverno. Pensei na morte. Lembrei-me dos muscaris e das outras flores do jardim, que retornam a cada primavera. Pensei que nunca mais as veria. Senti muito medo. Quando a senhora me explicou sobre a ação do medicamento que estava me receitando, fiquei descrente. A senhora é tão jovem. Quase sessenta anos nos separam. O que poderia a senhora saber? Mas, agora, eu vim lhe agradecer. Obrigada pela ajuda. Obrigada por conseguir que eu visse outra primavera, que visse outra vez as minhas flores. E saiu. Rachel ficou com o pequeno ramalhete nas mãos. Na sua mente, mil pensamentos começaram a bailar. Os seus livros de farmacologia traziam explicações sobre o modo de ação do remédio que ela prescrevera e sua dosagem. Rachel sabia que, aos oitenta e quatro anos, um coração com problemas responderia ao medicamento. Os livros lhe tinham ensinado tudo o que ela precisava saber a respeito. Só não haviam ensinado que o amor pela vida não é uma função do músculo cardíaco. 
Redação do Momento Espírita, a partir do cap. Conhecendo o coração, do livro As bênçãos do meu avô, de Rachel Naomi Remen, ed. Sextante. Em 22.3.2014.
http://momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=4081&let=&stat=0

domingo, 25 de setembro de 2016

CONHECENDO-SE

Quais são suas maiores preocupações nos dias de hoje? Talvez a essa pergunta você responda que é a educação dos filhos. Outros poderão afirmar ser a violência na sociedade. Haverá, ainda, quem responda ser a manutenção do emprego. É verdade que os desafios da vida e seus naturais compromissos nos empurram para um mar de preocupações com as coisas do mundo. Nenhuma dessas preocupações se mostram fúteis ou não deveriam demandar nosso tempo e energia. As responsabilidades da vida são impositivos que nos propelem ao progresso, ao aprendizado, a novas conquistas intelectuais e morais. Porém, hoje você diria que uma de suas maiores preocupações é a de se autoconhecer? Saber o que habita no país das suas emoções é algo que a você preocupa? Com tantos afazeres e demandas do mundo externo, muitas vezes, delegamos pouco tempo para as coisas do mundo interno. Como se não fosse importante ou não refletisse intensamente em nosso cotidiano, relegamos os interesses do nosso mundo íntimo para o campo do esquecimento. E a alma se ressente, pois que as emoções não são avaliadas, analisadas. Elas repercutem de maneira indiscriminada em nossa intimidade. E, não é por acaso que as doenças da alma surgem tão frequentemente entre nós. Não que elas se gerem espontânea e rapidamente. Quando a alma adoece, é resultado de um processo adiantado de esquecimento e abandono das próprias emoções. Como consequência, surgem as síndromes, fobias, depressões, trazendo à tona as doenças que iniciaram, que existiam na intimidade da alma e nunca receberam a devida atenção. Desta forma, para evitar tais situações, tenhamos sempre um tempo para nós mesmos. Um tempo para analisar nossas atitudes, nosso comportamento, nossas ações e, mais detidamente, nossas reações. Experimentemos, ao final de um dia, antes do merecido repouso, fazer uma breve análise do que ocorreu conosco, no dia que se conclui. Perguntemo-nos se alguém teria alguma queixa contra nós, se agimos injustamente com alguém, se praticamos alguma ação inadequada. As nossas respostas, frente a essa análise, serão o fio condutor para o mergulho oportuno e necessário no país de nossas emoções, no campo dos nossos sentimentos. Então nos poderemos avaliar, entendermo-nos um tanto mais e, aos poucos, nos autoconhecermos. O passo seguinte, será o esforço do corrigir, do não repetir o erro, de não tombar nas mesmas dificuldades emocionais. Esta será a melhor maneira de cuidarmos do nosso mundo íntimo, evitando episódios mais graves e intensos. A nossa melhoria se dará sempre a partir do momento que iniciarmos a viagem inevitável para nossa intimidade, que nos conhecermos, conquistando-nos aos poucos. Assim, caminharemos de maneira mais tranquila para a busca da paz e tranquilidade íntimas, evitando dificuldades maiores com as questões da alma. 
Redação do Momento Espírita. Em 02.12.2010.

sábado, 24 de setembro de 2016

CONFORTO

Nos dias atuais, a ciência progride vertiginosamente no planeta. No entanto, à medida que se suprimem os sofrimentos do corpo, multiplicam-se as aflições da alma. Nos países com padrão social mais elevado, impressiona o crescente número de suicídios. Os jornais estão cheios de notícias maravilhosas quanto ao progresso material. Segredos sublimes da natureza são surpreendidos nos domínios do mar, da terra e do ar. Contudo, a estatística dos crimes humanos segue espantosa. São frequentes as notícias sobre tragédias conjugais, traições e abandonos. Parece haver muita sede de liberdade sem responsabilidade. As criaturas se permitem tristes inquietações sexuais, sem atinar quanto a possíveis limites. Ao muito se facultarem, no entanto, não se tornam mais pacíficas e felizes. Ao contrário, sôfregas e inquietas, passam a imagem de uma imensa carência. Nessa onda de loucuras, surgem novas e intrigantes enfermidades, físicas e psíquicas. A rigor, o homem moderno não se mostra preparado para viver com conforto. Ele a cada dia mais domina a paisagem exterior, mas não conhece a si mesmo. Quando são atendidas as necessidades do corpo, surgem imperiosas as carências da alma. O conforto humano tende a aumentar naturalmente. Pouco a pouco, o homem disporá de mais tempo para si. O trabalho se tornará cada vez mais intelectualizado e eficiente. A democratização das informações também viabilizará o questionamento de antigas crenças e valores. O problema reside em identificar o que convém, ante tal quadro, a um tempo perigoso e promissor. Ressurge oportuna a reflexão de Paulo de Tarso, no sentido de que tudo nos é possível, mas nem tudo nos convém fazer. Com horas livres e acesso à Internet, surge um mundo de possibilidades. O homem pode se permitir as maiores baixezas nesse ambiente virtual. Pode se viciar em pornografia, participar de conversas de baixo calão e incentivar o ódio. Contudo, na conformidade do que decidir viver, terá consequências inevitáveis. Caso se conecte com as faixas infelizes da vida, a cada dia mais infeliz será. Assim, no pleno uso da liberdade pessoal, é o momento de decidir o que se viverá. Não mais movido por convenções sociais, medo ou falta de opções. Tudo é possível, mas convém fazer escolhas felizes e construtivas. Instruir-se, voltar os olhos para o que de belo e puro há no mundo. Cuidar para que as horas de folga sejam momentos de paz e aprimoramento. Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 5, do livro Os mensageiros, pelo Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. Em 23.03.2012.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

O CONFORTO DOS AMIGOS

Susan Schoenberger
Na parede imensa de rocha nua, Deus semeou pequena flor. Minúscula, ela quebra a rigidez da pedra, com sua cor e perfume. No deserto imenso, um pequeno oásis quebra a monotonia do areal a perder de vista. Também no palco do mundo, para arrefecer a rigidez dos problemas e o deserto de afeições, Deus colocou na vida de cada um, uma flor perfumada, um oásis de paz, que se chama amigo. Susan entendeu esta mensagem quando teve seu primeiro bebê. Gozando a licença maternidade, ela começava a pensar quanto seria difícil encontrar novas amizades que se dispusessem a fazer-lhe companhia. Ela era tímida e tinha dificuldades em se aproximar, espontaneamente, das pessoas. Então, chegou uma carta. A remetente era mãe de dois filhos e também se mudara para Baltimore, na Califórnia, recentemente. Conseguira seu endereço com o serviço de fraldas de que Susan se utilizava. A carta falava de uma ideia brilhante, que envolvia casais com filhos pequenos. No sábado, ela e o marido caminharam alguns quarteirões até a casa de Blye, onde conheceram sete casais da vizinhança, cujos filhos ainda usavam fraldas. A espetacular ideia era um tipo de cooperativa de babás. Fizeram um acordo de revezamento. Às sextas-feiras à noite, dois casais tomariam conta de todas as crianças para que os outros seis casais pudessem sair de casa. Susan voltou para casa com sua lista de telefones. Ficou um pouco nervosa e em dúvida se deveria telefonar para algum deles. A questão de deixar seu filho em mãos estranhas a preocupava. Bom, pensou, se os casais estão dispostos a deixar seus filhos comigo, devem ser confiáveis o bastante para cuidarem do meu. Todas as sextas-feiras, Susan conhecia um pouco mais as pessoas da lista, quando tropeçava em brinquedos espalhados ou saíam juntos nos dias de folga. Com o tempo, crianças e mães passaram a ser pessoas especiais. Uma espécie de parentes. A lista modificou a sua vida. Certo dia de verão, ao almoçar na companhia de três mães e quatro crianças, entre migalhas de batatas fritas espalhadas pelo chão, Susan se deu conta do quanto aquelas pessoas eram importantes em sua vida. Lembrou-se da casa de sua mãe. Lá, ela sempre sentia que era um verdadeiro lar. Não porque tivesse fotografias emolduradas da família, piano ou lareira. Era por causa da lista de número de telefones à qual ela podia recorrer todas as vezes que necessitasse de uma amiga para planejar uma festa, transmitir ânimo ou bater um papo no meio da noite. Susan tinha agora a sua lista poderosa. Usa-a sempre. Se organizar uma festa, tem certeza de que alguém comparecerá. Se precisar conversar com alguém, desabafar, a lista cumpre o seu papel. Ainda hoje, quando Susan olha para o papel manchado de suco preso na porta da geladeira com o ímã circular, sente que algo a une a seus vizinhos. E mais do que tudo, sente que está verdadeiramente em casa. Seu lar. 
 * * * 
Henry Wadsworth Longfellow
Um poeta escreveu, num dia de inspiração: 
-Murmurei uma canção no ar e ela caiu por terra. Não sei onde foi parar. Finalmente, eu encontrei a canção, do princípio até o final, no coração de um amigo leal. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Ligue para um amigo, de Susan Schoenberger, e dos versos de A canção, de Henry Wadsworth Longfellow, do livro Histórias para o coração da mulher, organizado por Alice Gray, ed. United Press. Em 5.1.2015.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

NOVENTA SEGUNDOS

A neurocientista americana Jill Bolte Taylor teve um derrame em 2008, aos trinta e sete anos. Seu cérebro ficou comprometido de tal forma que, quando foi apresentada a uma simples conta de matemática, como um mais um, não sabia o que era o número um. Hoje, totalmente recuperada, Jill vem pesquisando o funcionamento do cérebro e das emoções. Oferece palestras e escreveu um livro sobre o que descobriu desde o Acidente Vascular Cerebral até a recuperação. Revela que nossas emoções são originadas por descargas químicas na corrente sanguínea. Dessa forma, diante de um estímulo, nosso corpo reage movido por substâncias que permanecem durante um tempo no sangue. Depois, o organismo absorve essas substâncias e volta ao normal. A doutora Jill explica que a raiva e outras emoções são respostas programadas que podem ser disparadas automaticamente. Diz ela: Uma vez desencadeada, a química liberada por meu cérebro percorre meu corpo e tenho a experiência fisiológica. Noventa segundos depois do disparo inicial, o componente químico da raiva dissipou-se completamente do meu sangue e minha resposta automática está encerrada. Se, porém, me mantenho zangada depois desses noventa segundos, é porque escolhi manter o circuito rodando. Essa constatação da doutora Jill nos faz refletir. Se as emoções, entre elas a raiva, são reações que podem ocorrer, automaticamente mas, a química que liberam dura apenas noventa segundos em nós, por que, então, nos permitimos sentir raiva por horas, dias, semanas, meses e anos? Porque escolhemos continuar sentindo raiva, seria a resposta da pesquisadora. Quantas vezes sentimos raiva de alguém ou de alguma situação, por muito tempo? Quantas vezes escolhemos continuar alimentando raiva de uma pessoa que nos magoou, ou que simplesmente não atendeu nossas expectativas? As causas que disparam a emoção da raiva podem ser muitas, mas o tempo de permanência desse sentimento em nós é uma escolha. Quando o Mestre Jesus nos disse para perdoarmos setenta vezes sete vezes, ele nos deu a chave para não sentirmos raiva, para não desejarmos vingança. Porém, nosso orgulho nos domina e, muitas vezes, nos induz a atos dos quais nos arrependeremos num futuro próximo. Alimentar a raiva é contaminar-se diariamente e enviar aos que nos rodeiam vibrações carregadas de negatividade. Também comprometer nosso organismo, envenenar órgãos nobres, criando possibilidades para o aparecimento de enfermidades. Mas, como podemos evitar que sentimentos negativos perdurem em nós? Primeiramente, observando a nós mesmos. Por que nos irritamos? Por que nos abalamos tanto com o que os outros fazem e falam? Se conseguirmos observar o outro que nos fere e tentar compreender o que o move, talvez possamos perceber um irmão ferido, doente, que sofre e ainda não tem condição de agir de outra forma. Não temos controle sobre a forma do nosso próximo agir, mas podemos controlar a forma como nós reagiremos ao que ele nos apresenta. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no livro A cientista que curou seu próprio cérebro, de Jill Bolte Taylor, ed. Ediouro. Em 22.9.2016. As mensagens do Momento Espírita também estão disponíveis em cd's e livros, em 

CONFLITOS

Um dos graves problemas da criatura humana é a convivência no lar. Famílias existem marcadas por frequentes conflitos. Algumas os resolvem de forma sumária: os esposos se divorciam, os filhos optam por morar fora do lar. Por vezes, a convivência é tão conturbada que alguém desabafa: 
-Sinto vontade de esganá-lo. Preciso me controlar para não perder a cabeça. 
Podemos detectar, nesses relacionamentos, Espíritos que se prejudicaram uns aos outros, em vidas anteriores. Por vezes, foram inimigos e agora estão se reencontrando. Unidos não pelo afeto, nem por afinidade, mas para a reconciliação, enfrentam dificuldades para se harmonizarem porque, de forma inconsciente, guardam a mágoa do passado. Daí as desavenças que, com facilidade, conturbam a vida familiar. Na verdade, esses desencontros são decorrentes muito mais de nosso comportamento no presente do que dos compromissos do pretérito. Deus não nos reúne no lar para nos magoarmos e agredirmos. Alguém já disse certa vez: 
-Deus espera que nos amemos e não que nos amassemos. 
Richard Simonetti
Se desejamos melhorar o ambiente doméstico, o primeiro passo é nos dispormos. Geralmente, esperamos muito uns dos outros, reclamando atenção, respeito, compreensão, tolerância. Devemos cobrar tudo isso sim, e muito mais. Mas não dos outros, de nós mesmos. Melhorando-nos, estimularemos os familiares a fazer o mesmo. Todos aprendemos pelo exemplo. A questão não é fácil, mas não é impossível. Quando dizemos esforço inútil, referindo-nos a uma pessoa intratável, irritada, agressiva, possivelmente o que nos falte seja mais um pouco de perseverança. Não há quem resista indefinidamente ao bem. Além do mais, Jesus pacientemente espera pela nossa decisão de melhoria. Prossegue de braços abertos... aguardando nossa feliz decisão. No lar, no trato com os familiares, pensemos que, se estamos juntos, motivos imperiosos existem. Assim, não percamos a oportunidade de desculpar, perdoar, acertar. Se, às vezes, a situação se tornar melindrosa e nos sintamos vacilar, façamos como aquela mãe que era detestada pela filha, nos anos da infância. Abraçava-a e dizia: Filha, uma de nós duas é culpada. Desculpemo-nos. Sábia atitude! Não renascemos, nem estamos juntos para revides ou vinganças. Tornamos a nos unir para os ajustes com a Lei. Afinemo-nos, pois, começando hoje por desculpar, agora, enquanto a oportunidade se faz presente. 
* * * 
CHICO XAVIER
Os pequenos sacrifícios em família formam a base da felicidade no lar. É sempre possível achar a porta do entendimento mútuo, quando nos dispomos a ceder, de nós mesmos, em pequeninas demonstrações de renúncia a pontos de vista. O lar é o coração do organismo social. Em casa começa nossa missão no mundo.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 8, do livro Sinal verde, pelo Espírito André Luiz, ed. Cec; no cap. Conflitos domésticos, do livro Uma razão para viver, de Richard Simonetti, ed. Gráfica São João e no verbete Lar, do livro Dicionário da alma, por Espíritos diversos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed Feb. Em 14.09.2012.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

CONFLITOS ÍNTIMOS

Conta antiga lenda indígena que, certa feita, um jovem, mergulhado nas angústias e questionamentos naturais da juventude, procurou o grande sábio de sua tribo. Nos primeiros passos para tentar se entender e entender ao mundo, foi buscar no velho homem um pouco de esclarecimento. Solenemente aproximou-se do respeitoso ancião, que o recebeu com um brilho no olhar, próprio dos que entendem os porquês da vida em profundidade. Tentando encontrar as melhores palavras, a forma mais apropriada para se expressar, o jovem explicou o que ali o levava. 
-Grande sábio, trago comigo muitas dúvidas sobre como devo proceder. Afinal, como ser uma pessoa de bem, como ser um homem honrado, se ainda trago no peito tantas paixões e tantas fragilidades morais? 
O sábio, certamente, já se houvera feito tais questões. Os anos lhe haviam permitido caminhar sob o açoite das aflições íntimas. E tal qual o jovem à sua frente, que ora iniciava seus primeiros passos rumo ao autoconhecimento, também ele buscara essas respostas. Então, olhando-o terna e pacientemente, lhe propôs a seguinte imagem. 
-Meu filho, em nosso mundo íntimo, em nosso coração, habitam dois cães ferozes, um bom e outro mau. Como têm origens muito distintas, como não se assemelham em nada, essas duas feras vivem em constante luta, em diuturna batalha. E você sabe qual deles irá ganhar a luta, meu filho? - Indagou o ancião. 
O jovem, atônito pela imagem proposta, não soube responder. Imaginou a luta entre os dois animais e pensou como seria terrível, brutal. Meu jovem, essa batalha em nosso mundo íntimo será ganha pelo cão que mais alimentarmos. Escutando isso, o rapaz, compreendendo a profundidade da lição, retirou-se para a necessária meditação em torno do ensinamento recebido. 
 * * * 
Assim acontece com cada um de nós. Não há quem não traga em sua intimidade tendências positivas e dificuldades de grande monta. Nenhum de nós chega ao mundo sem conflitos a serem vencidos, sem limitações a serem ultrapassadas. Alguns apresentamos grande tendência ao egoísmo, e então a vida nos dá a oportunidade de exercitar a solidariedade. Outros nascemos vaidosos, egocêntricos, e a vida nos oferece lições de humildade e simplicidade. Tantos nascemos avaros, pensando só em amealhar bens para nós mesmos, e a vida nos dá a chance de aprendermos a generosidade. Serão sempre dois cães a lutar em nossa intimidade, a fim de ganhar espaço, vencer batalhas. A eclosão de nossos conflitos íntimos é resultado da consciência a nos alertar sobre os caminhos que a vida nos oportuniza. Nesses momentos, será a hora de pararmos e claramente decidirmos qual dos dois cães desejamos alimentar. Será sempre pela insistência, pelo hábito e pela disciplina, investindo em nossas construções positivas, que conseguiremos vencer as batalhas íntimas. Dessa forma, tenhamos tranquilidade quanto aos enfrentamentos naturais de nossa intimidade. E não nos esqueçamos de que será sempre nossa a decisão de alimentar uma ou outra fera, ou seja, as nossas boas ou más tendências. 
Redação do Momento Espírita. Em 11.4.2014.

AS CRUZES DO CAMINHO

Você já deve ter reparado, no curso das rodovias federais e estaduais, um sem fim de cruzes espalhadas ao longo dos inúmeros quilômetros que ligam as pontas de nosso país. Em geral, elas assinalam um acontecimento trágico ocorrido naquele trecho da estrada: um atropelamento, um choque entre veículos, um tombamento de caminhão, cujo desfecho é a morte de uma ou mais pessoas. Elas também registram, de forma singela, a tristeza, o pesar daqueles que padecem a saudade da ausência física de seus amores. Estradas, tantos quilômetros... e tantas cruzes. Silenciosas, discretas... Ali está o memorial em respeito à lembrança de alguém. Para nós, um desconhecido, mas que foi muito amado por ser filho, filha, esposo, esposa, pai, mãe. Erigidas em meio à pressa, à velocidade, erguem-se em respeito à saudade, às recordações, às lágrimas. 
* * * 
Quantas cruzes deixamos às margens do nosso caminho? Quantas lágrimas deixamos correr soltas, quantos arrependimentos sepultados, amarguras, desilusões, frustrações? Jesus, o Mestre Nazareno, sentenciou: 
-Se alguém quiser me seguir, negue a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. 
Cada cruz que deixamos em nossos caminhos, ainda que referenciem as dores e os sofrimentos pelos quais passamos, ajudam a contar os passos que demos para chegar onde estamos e para sermos o que somos. As cruzes deixadas representam a morte de um antigo eu, a fim de que possamos renascer mais experientes, mais sábios, mais preparados para os novos desafios. Na Epístola aos Efésios, colhemos: Renunciai à vida passada, despojai-vos do homem velho. Renovai sem cessar o sentimento da vossa alma e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade. 
* * * 
Para cada cruz em nossa jornada, uma despedida. Ainda que com lágrimas, pouco a pouco damos adeus ao nosso orgulho, à nossa maledicência, à vaidade, ao desamor, à falta de caridade e fé. Em toda cruz, paulatinamente, vamos deixando para trás o homem velho, os velhos hábitos, os antigos preconceitos. A cada cruz, a exemplo do Rabi da Galileia, entregamos nas mãos do Pai nosso Espírito em marcha, o qual ruma em direção à verdade, ao bem e à felicidade. As cruzes, ao longo das rodovias, representam apenas um breve adeus, uma vez que a vida jamais cessa, os laços fraternos jamais se desfazem e não há dúvidas quanto ao reencontro com nossos amores, no outro plano da existência. Da mesma forma, as cruzes que deixamos no curso de nosso caminho representam lágrimas passageiras, dores que não são eternas, visto que o norte de nossa jornada é a felicidade, o bem, a paz. 
* * * 
Tomemos as nossas cruzes, os nossos desafios, os nossos medos, os nossos infortúnios e sigamos o Cristo. As cruzes às margens de nossas jornadas e as que carregamos são os desafios que a Providência Divina sabe sermos capazes de superar. Com elas aprendemos e através delas nos renovamos. Pensemos nisso! Confiemos! 
Redação do Momento Espírita, com citações do Evangelho de Lucas, cap.9, versículo 23 e da Epístola aos Efésios, cap. V, vers. 22 a 24. Em 20.9.2016.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

CONFIDÊNCIAS

Wallace Leal Rodrigues
Existem pais que se esmeram na educação dos seus filhos. Não perdem nenhuma chance. As mínimas coisas, os menores acontecimentos são motivo de ensinamento. Lemos recentemente o depoimento de um executivo muito bem sucedido. Ele teve o prazer de ouvir da boca de um amigo: 
-Gosto muito de vir à sua casa. É um lugar onde posso dizer tudo o que quero, com a certeza de que você não passará adiante.
Confessava o executivo que o elogio cabia muito mais à sua mãe do que a ele próprio. Recordava-se de que, quando tinha mais ou menos oito anos de idade surpreendeu uma amiga de sua mãe em confidências com ela. Tudo se deu mais ou menos assim. Ele brincava do lado de fora da janela aberta da sala, enquanto ambas conversavam. A senhora em questão, pesarosa, revelava à sua mãe coisas muito íntimas e sérias a respeito de seu filho. Como toda criança, ele aguçou os ouvidos o quanto pôde para não perder nenhuma vírgula do relato. E quanto mais baixava a voz a confidente, mais ele estendia as antenas da audição. Quando a visitante saiu, sua mãe, que percebera que ele tudo ouvira, o chamou e lhe disse: 
-Meu filho, se a Sra. Silva tivesse deixado a sua bolsa aqui, hoje, nós a daríamos a outra pessoa?  
Prontamente, ele respondeu: 
-Claro que não! 
A mãe prosseguiu:
- Pois o que a Sra. Silva deixou hoje aqui é uma coisa muito mais preciosa do que a sua bolsa. Ela nos contou uma história cuja divulgação poderá prejudicar muita gente. Da mesma forma que a bolsa, ela não nos pertence. Por isso, não a podemos transmitir a ninguém. Não a daremos a quem quer que seja. Você compreendeu? 
O garoto assentiu com a cabeça. E a lição lhe serviu para a vida. Ele cresceu, cultivando o respeito a confidências de que fosse, eventualmente, o ouvinte. E até mesmo a bisbilhotices, fofocas que um amigo, cliente ou conhecido lhe trouxesse e deixasse em sua sala. Ali mesmo elas morriam. O que lhe valeu o respeito e a confiança de muitos. Concluía o executivo dizendo que, por vezes, ao se surpreender prestes a passar adiante alguma coisa alhures ouvida, imediatamente lembrava-se da bolsa da Sra. Silva e fechava a boca. A vida é feita de oportunidades. A educação no lar é de precioso quilate. Por ser informal, isto é, não obedecer a rígido currículo, mas se valer das chances que surjam no dia a dia, devem os pais se mostrar sempre atentos, não deixando escapar momento algum propício à edificação. Quem investe hoje na educação do filho, pode guardar a certeza de que ele poderá partir para longe, singrar os mares, voar pelo mundo, alçar o voo da notoriedade, mas as lições profundas recebidas no lar permanecerão como roteiro de vida. Não há quem não recorde, em momento especial de sua vida, as lições que recebeu no berço. Os gestos, as atitudes, as palavras dos pais permanecem vivas, apesar e além do tempo. Basta que nos demos conta do que se passa conosco mesmos, que já abandonamos o colo dos pais há alguns anos. Não são os seus exemplos e suas orientações que nos norteiam em muitas decisões? E quantas vezes nos surpreendemos a dizer: Mamãe tinha razão. Bem dizia meu pai. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. A bolsa, do livro E, para o resto da vida, de Wallace Leal Rodrigues, ed. O clarim. Em 19.07.2010.

VENTO OPORTUNO

DIVALDO PEREIRA FRANCO
A origem das palavras, por vezes, carrega tesouros inestimáveis. Os romanos, nos tempos antigos, tinham o hábito de dar nome aos ventos. Um vento que eles apreciavam era o vento ob Portus. Ele levava os navios em direção ao porto e, por isso, foi chamado de vento oportuno. Acabamos, assim, descobrindo a origem de uma palavra que utilizamos com certa frequência: oportunidade. Em sua origem romana, oportunidade nos remete à ideia de ventos favoráveis que nos levam à segurança de um porto. O vento inoportuno, por sua vez, é aquele que nos conduz para longe do cais, das realizações, dos objetivos. Assim como na vida, nem sempre os melhores ventos para navegação são os que nos atingem a popa, os que chamamos de ventos a favor. Esses, por vezes, causam uma instabilidade muito grande na nau, tornando-a incontrolável. O vento ob Portus não era um vento totalmente a favor. Exigia certa habilidade do navegador. Posicionar e ajustar as velas, virar o leme no ângulo perfeito e perceber o que acontecia ao redor. O vento da oportunidade também não era uma garantia de que o barco iria chegar sozinho ao porto, sem esforço algum de seus tripulantes. O trabalho era intenso e constante. Isso nos remete a pensar nas oportunidades que surgem em nossos dias. A primeira delas, a maior de todas, é sem dúvida, a própria existência terrena. A oportunidade da vida, a oportunidade de crescer; de voltar e acertar; de se perdoar; de acertar as contas; de seguir adiante. As múltiplas existências são ventos oportunos que nos levam ao porto de nossa felicidade futura. Caberá à nossa habilidade posicionar as velas alvas da compreensão, o timão seguro do esforço, os mastros grandiosos da fraternidade para que cheguemos lá, mais cedo ou mais tarde. E depois seguem outras, muitas e muitas, as que percebemos e as que não nos damos conta. Por vezes, a tripulação está adormecida e os bons ventos simplesmente passam sem serem aproveitados. Em outras nos falta habilidade, paciência, sabedoria ou calma. Ainda há vezes em que desprezamos ventanias, acreditando que de nada nos servirão, que só irão tirar a nau de seu prumo. E lá se vai outro vento oportuno desperdiçado. As oportunidades nem sempre são óbvias, não vêm com rótulo, instruções ou avisos luminosos. Caberá à nossa sabedoria decifrá-las. Porém, elas não cessam de chegar, como esta agora, aqui, neste momento. Você, ouvindo algumas palavras de incentivo, de ânimo, de despertamento. O que você fará com isso logo após? Que mudanças irá propor para você mesmo? Não será esse mais um vento oportuno? Pense nisso. * * * Dia novo, oportunidade renovada. Cada amanhecer representa divina concessão, que não podemos nem devemos desconsiderar. Mantenhamos, portanto, atitude positiva em relação aos acontecimentos que devem ser enfrentados. Otimismo diante das ocorrências que surgirão; coragem nos confrontos das lutas naturais; recomeço de tarefa interrompida; ocasião de realizar o programa planejado. Cada amanhecer é convite sereno à conquista de valores que parecem inalcançáveis. 
Redação do Momento Espírita, com citação do cap. 1, do livro Episódios diários, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. Em 19.9.2016. As mensagens do Momento Espírita também estão disponíveis em cd's e livros, em 

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

CONFIANÇA

A confiança nas próprias forças enche o homem de coragem e disposição para lutar. Quem não acredita em si mesmo assume uma postura derrotista. Antes mesmo de tentar, já admite a derrota. Todo empreendimento pressupõe planejamento, estratégia e trabalho a ser realizado. Mas a confiança da possibilidade da vitória é imprescindível para que ela ocorra. Alguns percalços sempre surgem na realização de uma obra de vulto. O pessimista vê neles uma confirmação de sua incompetência. O otimista procura aprender com o malogro, faz ajustes na rota, mas persiste no propósito. A confiança não é necessária apenas em relação a aspectos materiais da existência humana. Ela também é imprescindível em questões morais e espirituais. Muitas pessoas não se dedicam ao burilamento de seu caráter porque acham isso impossível. Acreditam que seus vícios são herança genética e se conformam com eles. Assumem que a gula, o egoísmo, a preguiça e a maledicência são características suas. Imaginam que defeitos morais são imutáveis como a cor dos olhos e a altura. Entretanto, estão errados. O corpo não dá defeitos e virtudes a ninguém. Se fosse assim, a santidade seria apenas um acidente da natureza e não representaria nenhum mérito. Do mesmo modo, a crueldade e a violência seriam mera decorrência da organização física. O Espiritismo ensina que todos os Espíritos são anjos em potencial. Possuem em germe todas as virtudes, mas cada um deve trabalhar para desenvolver seus talentos e habilidades. A transição da ignorância para a angelitude constitui um caminho muito longo. Ele pressupõe inumeráveis encarnações para completar-se. No processo evolutivo, o Espírito, às vezes, erra e, às vezes, acerta. Gradualmente, vai ganhando lucidez e tornando-se mais assertivo. Sempre é necessário reparar os estragos causados nas experiências infelizes. Entretanto, a cada nova experiência o Espírito acumula aprendizado e amplia as possibilidades de agir corretamente. Habilidades intelectuais e artísticas, virtudes e afinidades constituem a herança do que se viveu. Mas também velhos hábitos equivocados deixam sua marca. Assim, as tendências atuais, boas ou más, são o resultado de experiências do passado. Se um homem é violento, a violência não decorre de seu físico, mas de seu Espírito. Um Espírito pacífico e equilibrado não será violento, mesmo se animar um corpo de aparência extremamente rude. Assim, é importante assumir a integral responsabilidade pelo que se é. Quaisquer que sejam suas características, você se construiu assim. Mas está inteiramente em suas mãos modificar-se. Seu destino é a angelitude. Todas as virtudes dos anjos encontram-se latentes em você. Compenetre-se dessa verdade e assuma que se tornar alguém maravilhoso depende apenas de sua vontade, de seu esforço. Certamente não é fácil romper com velhos hábitos. Calar a maledicência, cessar o julgamento leviano do próximo, domar a gula, disciplinar a sexualidade, tudo isso exige uma boa dose de esforço. O mesmo se dá com o desenvolvimento da compaixão, do gosto por leituras sérias e por conversas construtivas. Entretanto, é possível. Você foi criado para ser um anjo pleno de amor e sabedoria. Tenha confiança em seu luminoso destino e lute bravamente para atingi-lo. Só depende de você. 
Redação do Momento Espírita. Em 19.6.2014.

A TRANSITORIEDADE DO MUNDO

PIERRE DE FRÉDY(COUBERTIN)
A cada quatro anos acontecem as Olimpíadas. Foi o historiador e pedagogo francês Pierre de Frédy, também conhecido como Barão de Coubertin quem restabeleceu os Jogos Olímpicos da era moderna. Ele declarava que o importante nos jogos olímpicos não era vencer, mas competir... O essencial não era triunfar, mas batalhar. Coubertin acreditava que a competição sadia poderia criar um bom caráter, promover um julgamento sólido e estimular a boa conduta. As Olimpíadas, segundo ele, poderiam ensinar as pessoas a viver em paz. O que nos chama a atenção, a cada Olimpíada é a história reprisada de centenas de atletas que se apresentam, com o objetivo de honrar as cores do seu país, levando consigo a medalha de ouro. Ou, ao menos, a de prata ou de bronze. Eles se preparam para as mais diversas modalidades. Todos investem horas e horas de treinamento, se impõem muitas renúncias, intensa disciplina, concentração. Mas o que se observa, em cada competição, é que aquele que brilhou de forma ostensiva na Olimpíada anterior, ou nas competições preparatórias, nem sempre consegue reprisar o mesmo sucesso. Há os que chegam à Olimpíada como grandes promessas, contudo, muitas vezes não conseguem superar as marcas de outros atletas. Então, o ouro tão ambicionado, e conquistado anteriormente, não torna a ser colocado em seu peito. Isso nos fala da transitoriedade do mundo, de como hoje podemos ser aplaudidos, intensamente, ovacionados, tidos como os melhores do mundo nessa ou naquela modalidade e, logo mais, alguém nos supera e leva a glória. Nosso lugar no pódio é ocupado por outros, a mídia nos esquece e foca no vencedor do momento, numa constante renovação de atletas melhores e melhores. Isso nos diz de como tudo é efêmero no mundo. Aliás, não foi diferente com o Mestre Jesus. Quem O ovacionou em Sua entrada triunfal em Jerusalém, recebendo-O com palmas e colocando seus mantos no chão para serem pisoteados pelo jumento que Ele montava, O apuparam na semana seguinte. Mesma localidade, poucos dias de diferença, e um cenário tão diverso... Se ao Mestre, Modelo e Guia, Espírito de inigualável grandeza na Terra, assim fizeram, o que podemos nós, pobres criaturas ainda em evolução, almejar? Como podemos imaginar que aqueles que hoje nos aplaudem, amanhã continuarão conosco, se a cena for diferente, se situações adversas se apresentarem, se outras forem as circunstâncias? Isso deve servir para nos trabalhar o orgulho. Para nos alertar da transitoriedade de tudo na Terra. Permanente somente nossas conquistas morais, nosso crescimento interior, nossa evolução intelectual, nosso progresso geral. Patrimônio inalienável, que nos seguirá ao longo de todas as vidas. Pensemos nisso e invistamos mais no nosso patrimônio de Imortalidade, em nossa condição de Espírito, nas conquistas que o ladrão não rouba e a traça não corrói. 
Redação do Momento Espírita. Em 16.9.2016

domingo, 18 de setembro de 2016

CONFIANÇA PLENA

Em 1989, um violento terremoto quase arrasou a Armênia, matando mais de trinta mil pessoas em menos de quatro minutos. Em meio à completa devastação e ao caos, um pai deixou sua esposa segura em casa e correu para a escola onde seu filho supostamente deveria estar, só para descobrir que o edifício estava totalmente no chão. Depois do choque inicial, ele se lembrou da promessa que tinha feito ao filho: 
-Não importa como, quando ou onde, eu sempre estarei com você!
Lágrimas amargas rolaram do seu rosto transtornado. Olhou para as ruínas onde havia sido a escola, e a situação parecia sem esperanças. Mas, face à promessa que fizera ao filho, recobrou o ânimo e buscou lembrar o caminho que percorria com o garoto. Lembrou que a sua sala ficava no canto de trás do prédio. Correu para lá e começou a cavar em meio aos cascalhos. Enquanto cavava, outros parentes desamparados chegaram com os corações em disparada, gritando: 
-Meu filho! Minha filha! 
Outros tentavam retirá-lo de cima dos escombros dizendo: 
-É muito tarde! Eles estão mortos! Vá para casa! Vamos. Encare a realidade! Não há nada que você possa fazer! 
Para cada pai ele respondia com uma única frase: 
-Você vai me ajudar agora? 
E, então, continuava a cavar à procura de seu filho, pedra por pedra. O chefe dos bombeiros, os policiais, todos tentaram, em vão, afastá-lo de cima das ruínas. Corajosamente ele prosseguiu, sozinho... Cavou por oito horas... doze horas... vinte e quatro horas... trinta e seis horas... E então, na trigésima oitava hora, ele puxou um bloco e ouviu a voz de seu filho. Gritou seu nome e o menino respondeu: 
-Pai? Sou eu, pai! Eu disse para os outros meninos não se preocuparem, que se você estivesse vivo você me salvaria, e, quando você me salvasse, eles também estariam salvos. Você prometeu, lembra? 
-Não importa como, quando ou onde, eu sempre estarei com você. 
-Você conseguiu pai! 
O pai, emocionado, perguntou como estava a situação lá embaixo, e o filho respondeu que das trinta e três crianças, quatorze conseguiram sobreviver, graças a uma espécie de cabana triangular que se formou quando o prédio desabou. 
-Venha aqui para fora! 
Disse o pai ao filho querido, estendendo-lhe a mão. 
-Não, pai! Deixe os outros irem primeiro, porque eu sei que você vem me buscar! Não importa como, quando ou onde, eu sei que você estará sempre comigo! 
* * * 
Os pais modernos, confusos diante de tanta informação a respeito da formação do caráter dos filhos, se esquecem de oferecer o que a criança mais necessita: o amor incondicional. Temerosos de que seus filhos se tornem medrosos e inseguros, deixam-nos seguir desolados e sós. Para a criança é de suma importância sentir-se segura e amparada, nos momentos difíceis de sua vida. E esses momentos podem ser um sonho assustador, no meio da noite, quando a criança atravessa os longos corredores escuros em busca do amparo dos braços fortes dos pais, que são para eles um refúgio seguro. Pode ser também o medo do escuro, o medo da água, do elevador, de altura, de insetos, de ficar sozinho, de ser abandonado. Assim, sejamos para nossos filhos o amparo de que eles precisam no momento em que necessitem. Não tenhamos receio de amá-los e fazê-los se sentirem seguros e confiantes, até que superem os medos e possam se tornar pais e mães firmes o bastante para educar seus próprios filhos. 
Redação do Momento Espírita, com base em fato. Em 14.5.2014.

sábado, 17 de setembro de 2016

CONFIANÇA EM DEUS

O profeta Isaías, ao se referir à grandeza de Deus e à confiança que nEle deve ter o homem, diz: Os que esperam no Senhor, adquirirão sempre novas forças, tomarão asas como de águia, correrão e não fatigarão, andarão e não desfalecerão. É muito singular que o profeta compare os que confiam no Senhor às águias. É que elas têm uma forma toda especial de enfrentar as tormentas. Quando se aproxima a tormenta, as águias abrem suas asas, que podem voar a uma velocidade de até noventa quilômetros por hora e enfrentam a tormenta. Elas sabem que as nuvens escuras, a tempestade e os choques elétricos podem ter um extensão de trinta e cinqüenta metros mas, lá em cima, brilha o sol. Nessa luta terrível elas podem perder penas, podem se ferir, mas não temem e seguem em frente. Depois, enquanto todo mundo fica às escuras embaixo, elas voam vitoriosas e em paz, lá em cima. Confiança que traduz certeza é o seu lema. Para além da tormenta, brilha o sol e o sol elas buscam. Também na morte as águias nos concedem excelente lição de confiança. Como todos os seres vivos, elas também morrem um dia. Contudo, alguma vez você já se deparou com o cadáver de uma águia? É possível que já tenha visto um cadáver de galinha, de cachorro, de pombo. Quem sabe até de um bicho do mato, nessas extensas estradas de reserva ecológica. Mas, com certeza, nunca encontrou um cadáver de águia. Sabe por quê? Porque quando elas sentem que chegou a hora de partir, não se lamentam nem ficam com medo. Procuram, com seus olhos, o pico mais alto, tiram as últimas forças de seu cansado corpo e voam a esses picos inatingíveis. Aí, esperam resignadamente o momento final. Até para morrer, elas são extraordinárias. Quando você atinja um momento, assim obscuro, em que as crises aparecem gerando outras crises, não admita que o desânimo se aposse das suas energias. Pense que Deus é o autor e o sustentador de todo o bem. Pequenos dissabores que estejam atingindo você são convites a reexame dos empecilhos que enchem a estrada da sua vida. Discórdia é problema que está pedindo ação pacificadora. Desarmonias domésticas são exigência de mais serviço aos familiares. Doença é processo de recuperação da verdadeira saúde. Até mesmo a presença da morte não significa outra coisa senão renovação e mais vida.
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Sempre que aflições visitem seu lar, em forma de enfermidade ou tristeza, humilhação ou desastre, não se entregue ao desalento. Recorde que, se você procura pelo socorro de Deus, o socorro de Deus também está procurando alcançar você. Se a tranquilidade parece demorar um pouco, persevere na esperança, lembrando de que o amparo de Deus está oculto ou vem vindo. 
Redação do Momento Espírita, com base no texto O sol brilha mais além, de autoria desconhecida, citação de Isaías, 40:31, do Velho Testamento bíblico e no cap. Ante a lei do bem, do livro Escrínio de luz, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. O clarim. Em 16.01.2012.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

CONECTADOS OU ISOLADOS?

Nossa vida na Terra foi presenteada, nestas últimas décadas, com tecnologias de alto padrão e funcionalidade. As distâncias deixaram de existir graças à comunicação virtual que nos faz interagir no mundo em que vivemos. Todos podemos nos conectar e ter sempre atualizadas notícias de amigos e familiares, em pormenores. Até mesmo os pequeninos se realizam e produzem maravilhas com um aparelhinho nas mãos, considerando a desenvoltura com que lidam com eles. Porém, quando o abuso se faz, nota-se que, embora a tecnologia virtual esteja aproximando os distantes, ficamos distanciados dos mais próximos. Quem relata o fato é dona Margarida, mãe de três filhos, avó de duas lindas crianças e cinco adolescentes que vivem equipados com modernos aparelhos, de recursos variados. A maior alegria dessa mãe e avó é tê-los junto a si aos domingos para o tradicional almoço em família, e poder saborear a festa de suas companhias. No entanto, diz ela, não consegue dez minutos sequer de diálogo com eles sem que seja interrompida por um som característico, que lhe tira de imediato a parceria sonhada. Certa feita, fez uma decoração diferente na casa para comemorar um dia festivo e chamar a atenção dos netos para algum detalhe especial, mas não conseguiu. Colocara na sala um painel metálico com fotos de todos os familiares, em momentos importantes de suas vidas, e pequenos papéis contendo frases carinhosas junto de cada foto. Ninguém se deu conta da novidade criada pela mãe e avó, pois que os joguinhos virtuais, os zaps dos amiguinhos, as redes sociais não permitiram. Antes de servir o almoço, dona Margarida chamou-lhes a atenção para o fato. Todos se surpreenderam, pois o painel estava na sala em que se encontravam. De imediato, se levantaram: Nossa, vovó, como é que não percebemos? Eu estava tão pertinho e nem tinha visto. Olhem: que papéis são aqueles? Só então se dirigiram ao painel, e começaram a ler as pequenas mensagens da avó. Os menores ficaram felizes, os maiores, emocionados, os pais nem sabiam o que dizer, pois que também eles não haviam percebido a doce surpresa. Dona Margarida, aproveitando a oportunidade falou aos seus amores: Meus filhos e netos queridos, fico feliz que todos vocês estejam atualizados com essa aparelhagem maravilhosa e útil. Mas não posso deixar passar este momento sem lhes falar que tudo em nossas vidas deve ser sabiamente gerenciado. Temos que dividir o nosso tempo, dando tempo para tudo o que realmente importa. Se de vez em quando vocês pararem de olhar unicamente para o celular, verão que a vida existe abundante além dessa tela. Poderão perceber as árvores floridas, o céu azul e os pássaros que voam em bandos. Poderão até mesmo perceber o carinho de um diálogo gostoso de uma mãe e avó que os espera durante toda a semana para tê-los junto a si por algumas horas... 
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Pensemos nisso: como temos usado nossos modernos aparelhos?
Redação do Momento Espírita Em 18.5.2015.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

A CONDUTA CORRETA

Em alguns ambientes e setores da sociedade, há uma extrema preocupação com resultados. Por exemplo, no meio empresarial o foco costuma ser o lucro. Nas escolas, a obtenção de boas notas. Em concursos, lograr aprovação. Não há nada de errado em buscar eficácia no que se faz. O problema em supervalorizar os resultados é concluir que os fins justificam os meios. Ou levar esse paradigma para todos os aspectos da existência. É ótimo quando bons resultados surgem. Mas, em variadas situações, eles não são o aspecto primordial. Em questões morais, não dá para agir a fim de obter a consequência mais favorável. Muitas vezes, apesar de um proveito mínimo ou inexistente, é preciso perseverar. A respeito, convém refletir sobre a passagem Evangélica conhecida como o óbolo da viúva. Nela, Jesus afirma que duas moedas doadas por uma pobre viúva representavam mais do que os tesouros ofertados por outros mais abastados. Em uma visão objetiva e mundana, as amplas ofertas dos ricos certamente tinham maior valor. Mais coisas poderiam ser compradas com elas do que com os centavos saídos das mãos da viúva. Ocorre que para essa a doação exigiu sacrifício, pois ofereceu o que lhe faria falta. Extrai-se daí a lição de que a correção da conduta vale por si só. Pouco importa que os resultados sejam insignificantes, pelos padrões do mundo. Este ensinamento é muito precioso. Em questões capitais da vida humana, não dá para agir com base no interesse em atingir determinado fim. Quem age exclusivamente por interesse, ainda que esse seja bom, é moralmente frágil. Se a conduta é difícil ou se o resultado demora, esmorece. Pode ficar tentado a alterar seu comportamento para melhorar a situação. Já quem se ocupa primordialmente do dever e nele encontra justificativa logra seguir firme. A dignidade vem do comportamento correto. Quem consegue manter dignidade em face de situações muito adversas revela grande valor moral. Sinaliza estar disposto a acumular prejuízos os mais variados, para viver o que julga ser certo. Imagine-se uma mãe cujo filho seja desequilibrado. Se ela não entender que seu dever reside em fazer o melhor, pode se sentir uma perdedora e desanimar. Ela não tem condições de alterar o caráter do filho à força. Pode educar, exemplificar e confiar na vida. Mas o filho se modificará em seu ritmo próprio. Não é o resultado que confere o mérito, mas a dificuldade em manter a reta conduta. O resultado depende das injunções do mundo e da vontade alheia, sobre as quais não se tem domínio. Já o controle sobre o próprio comportamento é total. 
Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita. Em 13.10.2010.