quarta-feira, 9 de março de 2016

O CÁLICE DAS PÉROLAS

Era uma vez... As histórias maravilhosas começam assim. Não importa o tamanho delas. Se começam por era uma vez, são sempre maravilhosas. Pois era uma vez um homem. Um homem pobre que de precioso só tinha um cálice. Nele, ele bebia a água do riacho que passava próximo à sua casa. Nele, bebia leite, quando o conseguia, em troca de algum trabalho. Era pobre, mas feliz. Feliz com sua esposa, que o amava. Feliz em sua pequena casa, que o sol abraçava nos dias quentes, tornando-a semelhante a um forno. Feliz com a árvore nos fundos do terreno, onde escapava da canícula. Saía pelas manhãs em busca de algum trabalho que lhe garantisse o alimento a ele e à esposa, a cada dia. Assim transcorria a vida, em calma e felicidade. Nas tardes mornas, quando retornava ao lar, era sempre recebido com muita alegria. Era um homem feliz. Trazia o coração em paz, sem maiores vôos de ambição. Então, um dia... Sempre há um dia em que as coisas acontecem e mudam o rumo da História. Pois, nesse dia, nem ele mesmo sabendo o porquê, uma lágrima caiu de seus olhos, dentro do cálice. De imediato, o homem ouviu um pequeno ruído, como de algo sólido, que bateu no fundo do recipiente. Olhou e recolheu entre os dedos uma pérola. Sua lágrima se transformara em uma pérola. Então, o homem pensou que poderia ficar muito rico se chorasse bastante. Como não tinha motivos para chorar, ele começou a criá-los. Precisava se tornar uma pessoa triste, chorosa, para enriquecer. Com o dinheiro da venda das pérolas pensava comprar lindas roupas para sua esposa, uma casa mais confortável, propriedades, um carro. E assim foi. Ele começou a buscar motivos para ficar triste e para chorar muito. Conseguiu muitas riquezas. Ele poderia tornar a ser feliz. No entanto, desejava mais. As pequenas coisas que antes lhe ofertavam alegrias, agora, de nada valiam. Que lhe importava o raio de sol para se aquecer no inverno? Com dinheiro, ele mandou colocar calefação interna em toda sua residência. Por que aguardar os ventos generosos para arrefecer o calor nos dias de verão? Com dinheiro, ele pediu para ser instalado ar condicionado em toda a sua casa. E no carro, e no escritório que adquiriu para gerir os negócios que o dinheiro gerara. E a tristeza sempre precisava ser maior. Do tamanho da ambição que o dominava. Nunca era o bastante. Os afagos da esposa, no final do dia e nos amanheceres de luz deixaram de ser imprescindíveis. Ele não podia perder tempo. Precisava chorar. Precisava descobrir fórmulas de ficar mais triste e derramar mais lágrimas. Finalmente, quando o homem se deu conta, estava sem esposa, sem amigos. Só... Com seu dinheiro, toda sua imensa fortuna. Chorando agora, estava tão desolado, que nem mais se importava em despejar o dique das lágrimas no cálice. A depressão tomara conta dele e nada mais tinha significado. A história parece um conto de fadas. Mas nos leva a nos perguntarmos quantas vezes desprezamos os tesouros que temos, indo à cata de riquezas efêmeras. Pensemos nisso e não desperdicemos os valores verdadeiros de que dispomos. Nem pensemos em trocá-los por posses exageradas. A tudo confiramos o devido valor, jamais perdendo nossa alegria. Haveres conquistados à troca de infelicidade somente geram infelicidade. Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita a partir de pequeno conto do cap. 4 do livro O caçador de pipas, de Khaled Hosseini, ed. Nova Fronteira.

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