Cada vez mais o mundo externo está sendo vigiado.
São sistemas de vigilância nos estabelecimentos comerciais e residenciais; são câmeras que apontam para vários lugares públicos, ruas, estradas.
Com a facilidade e popularização da tecnologia, muitos têm acesso fácil a uma filmadora, uma web-cam, uma máquina fotográfica digital.
Nunca o mundo exterior foi tão documentado, acompanhado, espreitado de perto.
Acompanhamos diariamente todos os acontecimentos no mundo através de imagens reais, cinegrafistas amadores, telefones celulares que registram tudo.
Nada mais escapa. Principalmente, é claro, as desgraças, as fofocas, as notícias sensacionalistas, isto é: tudo aquilo que vende.
Somos a geração do espiar a vida dos outros, em reality shows que expõem a vida íntima das pessoas – e que, obviamente, são pagos para se expor.
A geração que tem as pessoas, o mundo e seus acontecimentos nas mãos, mas que se esqueceu de si mesma.
Há plena vigilância externa, e escassez de observação interior.
A tecnologia não tem culpa alguma. A mídia, em si, não tem responsabilidade alguma.
Quem opera e direciona o uso da tecnologia é o homem. Quem alimenta as mídias é a própria população.
Vê-se claramente assim, que tudo isso é apenas uma manifestação moderna, de condutas viciosas antigas do ser humano.
Muito mais fácil e confortável observar as janelas do vizinho, do que ter que enfrentar um espelho.
Muito mais simples se envolver nos problemas alheios, que não nos dizem respeito, do que facear as tribulações domésticas, as dúvidas íntimas, as procuras e dificuldades da alma.
Fuga. Eis mais uma das maneiras que encontramos de fugir de nós mesmos, de escapar de nossos verdadeiros objetivos, de nossos embates prioritários.
A natureza e as leis da vida são, porém, implacáveis e respondem imediatamente.
Nenhuma ação humana, individual ou coletiva, fica sem resposta ou sem consequências a serem provadas.
Assim, já podemos verificar os efeitos disso em diferentes esferas da vida social, mas principalmente na intimidade do Espírito encarnado na Terra.
Vazio existencial, depressão, fobias, desestruturação fisiológica, e um sem número de distúrbios outros que convencionamos chamar de psicológicos.
É a resposta da natureza para os excessos, de um lado, e para a falta de cuidado consigo mesmo, de outro lado.
Ao invés de nos ocuparmos tanto com a vida dos outros, com a vigilância do mundo, deveríamos investir nossas energias na observância interna.
Instalar câmeras de vigilância, de observação, de monitoramento interior, cuidando de nossos pensamentos, de nossas ações, de nossos próprios passos.
É a proposta antiquíssima de autoconhecer-se, de notar os sentimentos, de onde eles vêm, quando e por que os temos.
É a higiene da alma, que nos proporciona acompanhar nosso crescimento de perto, que nos faculta traçar objetivos espirituais e ter condições de monitorá-los, de segui-los com proximidade.
Imaginemos que possamos ter câmeras que filmam nossas ações e que nos proporcionam poder voltar a vê-las mais tarde, na posição de espectador atencioso e desejoso de se conhecer melhor.
Filmadoras internas da consciência, que registram, sem cortes, todas as cenas vividas em cada dia.
E que depois nos mostram o que podemos melhorar, o que fizemos de certo e de errado.
Instalemos câmeras de vigilância interna!
* * *
E os homens se vão a contemplar os topos das montanhas,
as vastas ondas do mar,
as amplas correntes dos rios,
a imensidão do oceano,
o curso dos astros,
e não pensam em si mesmos...
Redação do Momento Espírita com base no item 8, do
cap. X, do livro Confissões, de Santo Agostinho, ed. Vozes.
Em 27.7.2013.
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