sábado, 31 de outubro de 2015

O ATEU

Richard Simonetti
Conta um articulista que um farmacêutico se dizia ateu e vangloriava-se de seu ateísmo. Deus, com certeza, deveria ser uma quimera, uma dessas fantasias para enganar a pessoas incautas e menos letradas. Talvez alguns mais desesperados que necessitassem de consolo e esperança. Um dia, no quase crepúsculo, uma garotinha adentrou sua farmácia. Era loira, de tranças e trazia um semblante preocupado. Estendeu uma receita médica e pediu que a preparasse. O farmacêutico, embora ateu, era homem sensível e emocionou-se ao verificar o sofrimento daquela pequena, que, enquanto ele se dispunha a preparar a fórmula, assim se expressava: Prepare logo, moço. O médico disse que minha mãe precisa com urgência dessa medicação. Com habilidade, pois era muito bom em seu ofício, o farmacêutico preparou a fórmula, recebeu o pagamento e entregou o embrulho para a menina, que saiu apressada, quase a correr. Retornou o profissional para as suas prateleiras e preparou-se para recolocar nos seus lugares os vidros dos quais retirara os ingredientes para aviar a receita. É quando se deu conta, estarrecido, que cometera um terrível engano. Em vez de usar uma certa substância medicamentosa, usara a dosagem de um violento veneno, capaz de causar a morte a qualquer pessoa. As pernas bambearam. O coração bateu descompassado. Foi até a rua e olhou. Nem sinal da pequena. Onde procurá-la? O que fazer? De repente, como se fosse tomado de uma força misteriosa, o farmacêutico se indaga: E se Deus existir...? Coloca a mão na fronte e roga: Deus, se existes, me perdoa. Faze com que aconteça alguma coisa, qualquer coisa para que ninguém beba daquela droga que preparei. Salva-me, Deus, de cometer um assassinato involuntário. Ainda se encontrava em oração, quando alguém aciona a campainha do balcão. Pálido, preocupado, ele vai atender. Era a menina das tranças douradas, com os olhos cheios de lágrimas e uns cacos de vidro na mão. Moço, pode preparar de novo, por favor? Tropecei, caí e derrubei o vidro. Perdi todo o remédio. Pode fazer de novo, pode? O farmacêutico se reanimou. Preparou novamente a fórmula, com todo cuidado e a entregou, dizendo que não custa nada. Ainda expressou votos de saúde para a mãe da garota. Desse dia em diante, o farmacêutico reformulou suas ideias. Decidiu ler e estudar a respeito do que dizia não crer e ironizava. Porque, embora a sua descrença, Deus que é Pai de todos, atendeu a sua oração e lhe estendeu a Sua misericórdia. 
* * * 
No desdobramento de nossas experiências acabamos todos reconhecendo a presença Divina. É algo muito forte em nós. Mesmo entre pessoas consideradas de má vida e criminosos encontraremos vigente o conceito. A crença em Deus nos dá segurança, com a certeza de que não estamos entregues à própria sorte. É muito bom conceber que, desde sempre, antes mesmo que O conhecêssemos, Deus já cuidava de nós. 
Redação do Momento Espírita, com base nos caps. 2 e 3, do livro A presença de Deus, de Richard Simonetti, ed. São João. Em 05.10.2010.

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