É muito conhecida a saga do pianista brasileiro João Carlos Martins. Não somente por ter iniciado sua carreira artística nacional aos treze anos e aos dezoito, a internacional.
Ou por ter estreado no Carnegie Hall, em Nova York, aos vinte e um anos e, logo em seguida, ter conquistado os palcos da Europa.
Ele é considerado um dos maiores intérpretes de Bach, do século XX, pela crítica internacional, tendo registrado a obra completa para teclado.
Ele é muito conhecido pelas tragédias que lhe marcaram a vida.
Em criança, a saúde era seu ponto fraco. Aos cinco anos, um enorme cisto surgiu no pescoço. A cirurgia para sua remoção não foi bem sucedida.
Por dois anos, ele teve que conviver com uma fístula aberta no pescoço, que expelia secreções toda vez que ele ingeria algum alimento.
Mas, cedo, se revelou sua paixão pela música. A renúncia a muitos prazeres típicos da infância e da adolescência se tornou evidente.
Na busca da perfeição, ele estudava piano de seis a sete horas por dia, de segunda a sábado.
A responsabilidade dos concertos e o comprometimento com a música o disciplinaram.
E, quando a vida parecia lhe sorrir, quando todos os seus sonhos estavam se realizando, num treino de futebol com amigos, ele caiu sobre uma pedra.
O acidente teve graves desdobramentos. A pedra perfurou-lhe o braço, provocando lesões graves. Três dedos de sua mão direita começaram a demonstrar sinais de atrofia.
Era somente o início do seu calvário que o levaria, anos depois, a trocar a carreira de pianista pela de maestro.
Pois essa preciosidade conta que, em outubro ou novembro de 1939, seus pais foram chamados a uma conversa muito séria pelo médico da família e ginecologista.
O conselho era que recorressem ao abortamento. Aquela quarta gravidez era delicada. Havia risco de morte para a gestante e para o feto.
Alay, a mãe, contudo, respondeu que jamais recorreria ao abortamento. Ela desejava dar uma filha ao seu marido e, até então, tivera três filhos.
José, o pai, por sua vez, respondeu que Deus iria acompanhar a gravidez, que o menino ou a menina nasceria saudável e que sua esposa ficaria bem.
E, assim, no dia 15 de junho de 1940, ao meio-dia, nasceu João Carlos Martins, surpreendendo os médicos e toda a maternidade.
Por isso, frisa o maestro, eu posso dizer como é importante o direito à vida.
* * *
Todos os que admiramos o ex-pianista e atual regente João Carlos Martins, somos gratos a esse casal notável que optou pela vida.
Não fossem eles e não teríamos esse brasileiro extraordinário entre nós. Não teríamos tido a oportunidade de viver na mesma terra de um menino prodígio, que realizou uma meteórica carreira no Exterior.
Uma carreira que foi interrompida duas vezes, por problemas físicos.
Não teríamos tido a chance de nos deliciarmos com sua música, nem de aprendermos com a sua força de vontade, a sua perseverança, a sua superação.
Por isso, ao aplaudirmos o pianista, o maestro, o homem que não se permite vencer pelas adversidades, aplaudimos demorada e emocionadamente a Alay e José Martins, os abençoados pais que disseram sim à vida.
Redação do Momento Espírita, com base em dados
colhidos no livro A saga das mãos, de João Carlos Martins, com
Luciano U. Nassar, ed. Campus.
Em 27.8.2013.
http://momento.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário