sábado, 31 de outubro de 2015

O ATEU

Richard Simonetti
Conta um articulista que um farmacêutico se dizia ateu e vangloriava-se de seu ateísmo. Deus, com certeza, deveria ser uma quimera, uma dessas fantasias para enganar a pessoas incautas e menos letradas. Talvez alguns mais desesperados que necessitassem de consolo e esperança. Um dia, no quase crepúsculo, uma garotinha adentrou sua farmácia. Era loira, de tranças e trazia um semblante preocupado. Estendeu uma receita médica e pediu que a preparasse. O farmacêutico, embora ateu, era homem sensível e emocionou-se ao verificar o sofrimento daquela pequena, que, enquanto ele se dispunha a preparar a fórmula, assim se expressava: Prepare logo, moço. O médico disse que minha mãe precisa com urgência dessa medicação. Com habilidade, pois era muito bom em seu ofício, o farmacêutico preparou a fórmula, recebeu o pagamento e entregou o embrulho para a menina, que saiu apressada, quase a correr. Retornou o profissional para as suas prateleiras e preparou-se para recolocar nos seus lugares os vidros dos quais retirara os ingredientes para aviar a receita. É quando se deu conta, estarrecido, que cometera um terrível engano. Em vez de usar uma certa substância medicamentosa, usara a dosagem de um violento veneno, capaz de causar a morte a qualquer pessoa. As pernas bambearam. O coração bateu descompassado. Foi até a rua e olhou. Nem sinal da pequena. Onde procurá-la? O que fazer? De repente, como se fosse tomado de uma força misteriosa, o farmacêutico se indaga: E se Deus existir...? Coloca a mão na fronte e roga: Deus, se existes, me perdoa. Faze com que aconteça alguma coisa, qualquer coisa para que ninguém beba daquela droga que preparei. Salva-me, Deus, de cometer um assassinato involuntário. Ainda se encontrava em oração, quando alguém aciona a campainha do balcão. Pálido, preocupado, ele vai atender. Era a menina das tranças douradas, com os olhos cheios de lágrimas e uns cacos de vidro na mão. Moço, pode preparar de novo, por favor? Tropecei, caí e derrubei o vidro. Perdi todo o remédio. Pode fazer de novo, pode? O farmacêutico se reanimou. Preparou novamente a fórmula, com todo cuidado e a entregou, dizendo que não custa nada. Ainda expressou votos de saúde para a mãe da garota. Desse dia em diante, o farmacêutico reformulou suas ideias. Decidiu ler e estudar a respeito do que dizia não crer e ironizava. Porque, embora a sua descrença, Deus que é Pai de todos, atendeu a sua oração e lhe estendeu a Sua misericórdia. 
* * * 
No desdobramento de nossas experiências acabamos todos reconhecendo a presença Divina. É algo muito forte em nós. Mesmo entre pessoas consideradas de má vida e criminosos encontraremos vigente o conceito. A crença em Deus nos dá segurança, com a certeza de que não estamos entregues à própria sorte. É muito bom conceber que, desde sempre, antes mesmo que O conhecêssemos, Deus já cuidava de nós. 
Redação do Momento Espírita, com base nos caps. 2 e 3, do livro A presença de Deus, de Richard Simonetti, ed. São João. Em 05.10.2010.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

ATÉ QUANDO?

Quantas vezes você já indagou por quanto tempo ainda conseguirá aguentar as dificuldades que o atormentam? Quantas vezes, pela manhã, ao despertar, você se sente sem forças para enfrentar o dia que surge? Quantas vezes já disse a si mesmo que chegou ao limite de suas energias, que não aguenta mais? E, no entanto, você prossegue, dia após dia, nas lides do trabalho, nas problemáticas familiares, nos embaraços financeiros, enfim... É bastante peculiar essa capacidade que tem o ser humano de não se entregar, mesmo que pareça estar em quase desfalecimento. Mais de uma vez, com certeza, você já ouviu falar de crianças e bebês encontrados com vida, após dias de soterrados. Como se recusassem a desistência da luta, da vida. E nos recordamos dos sofrimentos das mulheres que vivem em países onde lhes são negados quaisquer direitos. Sem direito à escola, a atendimento médico, a tratamento humanitário. Mulheres que em plena adolescência, ou ainda na meninice, são dadas em casamento a homens, quase sempre bem mais velhos que elas. Elas têm seus sonhos destroçados, suas vontades menosprezadas. Mulheres que sofrem espancamentos por nada e por coisa alguma. Porque ousaram conceber uma menina, quando o marido aguardava um menino. Porque tentam andar sozinhas pelas ruas, porque planejam fugir, porque erguem a tonalidade da voz. Os maus tratos são rotina. E ninguém se importa. O que faz um homem, portas adentro de seu lar, com a esposa ou filhos, não é da conta de ninguém. Os anos passam e elas vão acumulando no corpo as marcas dos espancamentos: dentes faltando, lacerações, hematomas. Algumas fogem da vida, por não enxergarem perspectivas de alterações positivas, em suas existências. Outras, corajosas, optam por estabelecer objetivos para si mesmas. Objetivos que as mantêm vivas e as fazem não desistir: a vida de seus filhos, a sua liberdade, a liberdade de seu país. Como uma rocha, enfrentam os ventos turbulentos. Choram, lamentam, mas não desistem. Quantas agressões pode suportar um corpo humano? Qual o limite? Algumas ainda carregam a generosidade n'alma, para socorrer seres que creem mais infelizes que elas mesmas. Uma generosidade que não se abala, nem se contamina pelos desapontamentos e desilusões de cada dia. E quando têm a oportunidade de fazer algo a benefício de outrem, se entregam até ao sacrifício da própria vida. São exemplos. Por isso, quando as forças lhe estiverem falhando, pense que dentro de você ainda existem energias. E não se deixe derrotar, jamais. Um dia, o panorama se modifica. A noite se transforma em alvorada. Aguarde pelos raios da madrugada nova e não se entregue ao desânimo, em circunstância alguma. O sol pode demorar a surgir, mas sempre ressurge, afagando a vida e renovando a esperança. Aguarde, sem abandonar a luta. Amanhã, amanhã pode ser o dia da sua libertação do círculo das dores. Espere. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no livro Momento Espírita, v. 7, ed. Fep. Em 11.05.2009.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

ATENTADO À VIDA

Ninguém sabe o porquê. Tudo parecia bem. A jovem senhora estava com viagem marcada para o Exterior. Miami era seu destino. No roteiro, passeios, praia, sol, muitas compras. Compras para o seu guarda-roupa, para a filha, para o neto a caminho. Naquela manhã, bela, bem vestida, ela chegou da rua, almoçou e pediu à sua secretária que a despertasse no cair da tarde. Tinha um compromisso social à noite. Iria repousar, preparando a cútis para estar bonita, radiante para o evento programado. O relógio foi somando os minutos, arrastando as horas. Caía a tarde de outono quando a funcionária foi chamar a senhora. Envolvida em tarefas, deixara transcorrer o tempo. O que viu, ao entrar nos aposentos de dormir, a deixou em choque. A senhora estava banhada em sangue. Atirara contra o próprio coração. Amigos, familiares, todos se surpreenderam. O que levou a senhora a gesto tão tresloucado? Pôr fim à própria vida. Por que, se tinha família, pessoas que a amavam, beleza física, juventude, dinheiro? 
* * * 
Em outro lar, o adolescente de treze anos diz à mãe que irá acampar com amigos, no feriadão. A mãe não o autoriza. Ele terá várias provas na semana. Precisa estudar. Além disso, o local e os pretensos amigos são motivo de preocupação para ela. O garoto insiste. Bate o pé. Diz que irá assim mesmo. Na discussão, a mãe lhe ordena que se recolha ao quarto, que se acalme. Por ora, a conversa está encerrada. Ele se retira. Com raiva, entra no quarto. Bate a porta com violência e grita: A senhora vai se arrepender por ter feito isso comigo! Duas horas depois, a mãe procura o filho. Entra no quarto. A janela está aberta. Lá embaixo, uma multidão se aglomera em torno de um corpo no asfalto. O jovem saltara para a morte, do décimo oitavo andar do edifício. Desespero. Consternação. 
Perguntas sem respostas. Por quê? Por uma simples negativa a um passeio? Mas ele tinha um lar, pais, irmãos, amigos. Por quê? Ninguém pratica um ato extremo como o de lançar-se no abraço da morte, sem algum motivo. E sem, em algum momento, ter dado mostras de desequilíbrio, de insatisfação. O que acontece que não se apercebem os familiares, amigos, colegas? É que olhamos muito pouco para os olhos das pessoas. Esquecemos de verificar os vincos na testa, anotar os rompantes de humor, a insatisfação demonstrada em mil reclamações. O passeio nunca é bom. O restaurante estava muito cheio. O filme não atendeu à expectativa. A roupa nova não agradou. O amigo falhou. A namorada se foi. O dinheiro está curto. E os sinais vão se tornando mais expressivos. Às vezes, a pessoa chega a se tornar quase desagradável, no relacionamento pessoal. São sinais. São alertas. Fiquemos atentos a esses pedidos inconscientes de socorro. E ajudemos. Utilizemos o diálogo, aconselhemos ajuda terapêutica, à prece, à mensagem positiva da crença em Deus. Incentivemos à busca de um apoio espiritual. Falemos da vida que nunca morre. Da imortalidade do Espírito. Enfim, façamos o que esteja ao nosso alcance, evitando lágrimas de arrependimento e dor, para o futuro. Pensemos nisso. E nos façamos mais atentos em nossa vida. Coloquemos nosso coração nos olhos, a fim de olhar com olhos de ver. E de sentir. Olhos de irmão. Olhos de quem se importa com todo ser vivente sobre a Terra. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no livro Momento Espírita, v. 6, ed. FEP. Em 14.1.2014.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

ATENTADO À DIGNIDADE

Espírito Vianna de Carvalho
Quando você comete um equívoco qualquer, o que espera dos outros, com relação ao seu ato infeliz? Salvo os casos patológicos, as pessoas esperam que os outros tolerem e desculpem seus erros, ou, então, que as ensinem a fazer o certo, não é verdade? Todavia, mesmo com esse entendimento, não é assim que agimos com relação aos equívocos das outras pessoas. Um exemplo disso é o infeliz sistema de recuperação de presidiários, vigente em nosso país e em outras nações da Terra. É um sistema que atenta contra a dignidade humana e dificulta a recuperação do delinquente, tornando-o ainda mais rebelde e mais criminoso. Abandonado pela sociedade, o presidiário busca apoio naqueles que lhe inspiram ódio contra esta, que lhe parece injusta, acumulando sentimentos de agressividade e ressentimento para descarregar, mais tarde, naqueles que considera responsáveis pelo seu encarceramento. Ao invés de entender a prisão como uma forma de reparação do mal praticado, nela vê somente um instrumento de punição e de crueldade, que mais o degrada e enlouquece. Não raro, indivíduos que cometem pequenos delitos são obrigados à convivência com pessoas inescrupulosas, em pequenas celas, onde aprendem, com requinte de detalhes, a criminalidade. Nesses casos, em vez de se resolver o problema, se cria um ainda maior, aumentando o número e o grau da delinquência. Já é tempo de se pensar em resolver problemas e não agravá-los com métodos remanescentes dos tempos medievais, de torturas e degradações contra o ser humano. De um modo geral, isso se dá por causa do conceito que se faz do mal, sob seus vários aspectos, confundindo-se o mal, propriamente dito, com aquele que o pratica. Talvez seja por isso que não temos sido eficientes nesse combate. Para agir corretamente em prol do saneamento moral, é preciso não confundir o crime com o criminoso, o vício com o viciado, a rebeldia com o rebelde, do mesmo modo que não confundimos o doente com a doença. Do mesmo modo que se combatem as enfermidades e não os enfermos, assim também se deve combater o crime, o vício, a rebeldia, e não o criminoso, o viciado, o rebelde. O mal não é intrínseco no indivíduo, não faz parte da natureza íntima do Espírito, mas é uma anomalia, como são as outras enfermidades. O bem, tal como a saúde, é o estado natural inerente ao ser. Um corpo doente constitui um caso de desequilíbrio, precisamente como um Espírito transviado, rebelde, viciado ou criminoso. Portanto, os distúrbios psíquicos devem ser tratados com o mesmo cuidado que se tratam as doenças do corpo. Assim como não resolvemos o problema das doenças batendo no enfermo e punindo-o, também não devemos combater os problemas morais espancando e punindo o delinquente. Pode-se e deve-se envidar esforços para que o criminoso se restabeleça e se integre na sociedade como um cidadão sadio, cumprindo as penas estabelecidas pelas leis, com dignidade e confiança, e não como um ser imprestável, pois ele também é filho de Deus. Agindo assim daremos o devido valor às palavras do Cristo quando recomenda que amemos os nossos inimigos e façamos o bem aos que nos fazem mal, porque Ele não proclamou somente um preceito de alta humanidade, proferiu uma sentença profundamente pedagógica e sábia. A benevolência, contrastando com a agressão, é o único processo educativo capaz de corrigir e regenerar o equivocado. 
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Num tempo, não muito distante, os processos arbitrários e injustos cederão lugar a mecanismos de educação e de reeducação, assim como de crescimento moral, através dos quais aqueles que delinquirem encontrarão misericórdia e amor, conduzindo-os ao equilíbrio e à paz. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O criminoso e o crime, do livro Em torno do Mestre, de Vinícius, ed. Feb e na pergunta 78, do livro Atualidade do pensamento espírita, pelo Espírito Vianna de Carvalho, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. Em 13.09.2010.http://momento.com.br/

terça-feira, 27 de outubro de 2015

ATENÇÃO DIVINA

EMMANUEL e CHICO XAVIER
Deus, nosso Pai, tem formas simples e eficazes para nos auxiliar. Aqui, serve-Se do vento para levar uma mensagem a quem necessite. Acolá, utiliza uma mente disposta a servir, para ouvir o clamor de um enfermo, e atendê-lo. Envia a chuva a espaços regulares, programa as tempestades para a melhoria da atmosfera, estabelece o ciclo das estações. Serve-Se das asas dos pássaros e dos insetos, bem como da brisa mansa para a fecundação de diversas espécies vegetais. Por vezes, um descuido de alguém passa a se constituir no atendimento Divino. Assim foi o que ocorreu certa vez com um viajante que, por ser inexperiente, perdeu-se em imenso deserto. Quase a morrer de fome e sede, avistou uma palmeira. À sua sombra encontrou uma fonte de água pura e fresca, com a qual aplacou a sede. Mas a fome ainda o magoava. Descansando o corpo, recostando-se na árvore, encontrou um pequenino saco de couro. Pensando que dentro dele encontraria algo para comer, talvez algumas ervilhas ou pequenos pedaços de carne, o homem abriu o saquinho com rapidez. Grande foi seu desapontamento ao lhe examinar o conteúdo: eram pérolas! Que ironia!, pensou o infeliz. Estou a sucumbir de fome e só o que encontro são pérolas que de nada me servem. Por ser um homem de fé, o viajante não se desesperou e ali mesmo orou fervorosamente ao Criador, pedindo ajuda. Mal se haviam escoado alguns minutos, quando ele ouviu o galope apressado de um cavalo. Logo se viu frente a frente com um cavaleiro nervoso e inquieto. Era o dono das pérolas. Percebendo que o outro encontrara o tesouro, tomou-se de alegria. Como reconhecimento, deu-lhe a comer das provisões que trazia consigo. Na seqüência, convidou-o a montar seu próprio animal e o conduziu até o termo da sua viagem, evitando que o viajante tornasse a se perder. Quando se despediram, o cavaleiro falou ao viajante: Percebe como a Divina Providência agiu? No primeiro momento, tive como uma grande desgraça a perda das minhas pérolas. Contudo, nada mais oportuno. Retornando para as procurar cheguei a tempo de lhe socorrer. Por meios aparentemente singelos, Deus nos livra, às vezes, de grandes flagelos. 
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Em tempo algum as coletividades humanas deixaram de receber a sublime colaboração dos Enviados de Deus, na solução dos grandes problemas do Mundo. Os Enviados pela Providência Divina à Terra agem nos campos das ciências, da filosofia, da literatura, das artes, das religiões, da política, isto é, em todos os campos. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. A obra da Providência, do livro Lendas do céu e da terra, ed. Melhoramentos e na perg. 280 do livro O consolador, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. Em 28.01.2008.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

ATENÇÃO AO IDOSO

Dona Marlene era uma senhora alegre, ativa, independente e muito lúcida. Aos oitenta anos, apresentava algumas limitações físicas compatíveis com a idade. As dores articulares, provocadas pelo desgaste natural e consequente artrose, a incomodavam diariamente, mas nada que lhe diminuísse o entusiasmo. Vibrava com cada conquista pessoal e profissional dos filhos e netos. Novos empreendimentos, cursos, especializações, casamentos, uma nova gravidez na família. Tudo era motivo para seus olhos brilharem de alegria. Morava com uma das filhas e sua casa era muito bem cuidada. Sempre limpa, arrumada, arejada e repleta de porta-retratos, onde cada fotografia contava uma história. Certo dia, durante uma caminhada de rotina, a senhora sofreu uma queda que resultou em uma fratura articular, necessitando ser submetida a cirurgia Após a alta hospitalar, por recomendação médica, ela precisaria ficar um período em repouso, pois levaria algum tempo para voltar a caminhar com independência. Os filhos acharam que a melhor solução seria encaminhá-la a uma Casa de Apoio para Idosos. A justificativa era de que ela necessitava de cuidados especiais, para os quais a família não estava devidamente preparada. Já instalada na Casa de Apoio, dona Marlene recebeu a visita de uma jovem amiga, que a encontrou acamada, totalmente dependente. Durante a conversa, ela dizia que sentia falta da sua casa, dos objetos pessoais, da presença da família, enfim, do seu alegre cantinho. Com o tempo, ela voltou a caminhar. Aos poucos, apesar da fragilidade física, foi se tornando novamente independente. Uma das filhas a visitava semanalmente, mas não falava em levá-la de volta ao seu lar. Nas visitas periódicas, a amiga foi percebendo que a senhora deixara de falar em voltar para casa. Percebeu também a tristeza que lhe ia na alma. Tinha certeza que dona Marlene não falava no assunto porque no fundo se envergonhava da situação de abandono. Nas poucas vezes em que se referia à amada família, justificava de várias formas a dificuldade que seria se ela voltasse para casa. Dizia que a família não poderia assisti-la, pois todos tinham seus compromissos pessoais. Em verdade, seus lábios diziam palavras que seu coração não compreendia. No lugar daquele olhar alegre e doce, antes cheio de brilho, surgiu um olhar triste, sem vida, que refletia solidão e abandono. Não era necessário ter muita sensibilidade para perceber que, por dentro, ela morria a cada dia. Que a esperança de voltar para o seio da família ia embora e junto ia também a vontade de viver. Passado algum tempo, devido a uma determinada complicação de saúde, tornou a ser hospitalizada. Seu organismo cansado, enfraquecido pela dor maior da solidão, não resistiu. Ela havia desistido de viver. 
* * * 
Algumas famílias necessitam contar com o apoio das instituições especializadas para cuidar dos seus idosos. É uma difícil decisão e se justifica, em muitos casos. É compreensível então, contar com tal recurso, enquanto se necessita cumprir nossos deveres profissionais e familiares. Essa atitude não significa abandoná-los. O importante é se fazer presente, levando amor e carinho, pois nada justifica a desatenção e o desamparo. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita. Em 19.05.2011.

domingo, 25 de outubro de 2015

ÀS VOLTAS COM OS ESPÍRITOS

RAUL TEIXEIRA
Não é necessário que alguém acredite na existência de entidades espirituais para que elas atuem das formas mais diversas na vida das pessoas. Não se faz indispensável que alguém seja espiritualista a fim de estar às voltas com as ações de Espíritos desencarnados, nos caminhos humanos. É importante lembrar que a Humanidade terrena é composta por todos os Espíritos que o Criador a ela destinou, em razão da lei de afinidades, e os colocou sob a coordenação de Jesus, o Cristo. Daí, não será difícil compreender que num mundo com tantas potencialidades, com tantos recursos a serem explorados, como é a Terra, a grande massa dos Espíritos a ele vinculados se acha desencarnada. Há mais Espíritos no plano espiritual (erraticidade é um termo usado por Kardec mas que só é entendida no contexto espírita) do que reencarnados. Isso explica porque o número dos mortais cresceu tanto, através dos séculos. Vivendo essa realidade de um mundo considerado em dois níveis gerais, o nível dos que estão no corpo físico e o dos que se encontram fora dele, não é surpreendente a constatação de que ocorram influências recíprocas de um nível sobre o outro. Imensa é a leva de desencarnados que procura contatar os encarnados, seja para ajudar, em qualquer coisa, seja para participar de qualquer tarefa, ou seja para perturbar, de qualquer forma. Enorme é a massa de encarnados que deseja contatar os desencarnados, seja para pedir uma ajuda banal, seja para vingar-se de desafetos ou seja para rogar um socorro direto em casos complexos. Há entidades espirituais que gostam somente de fazer o bem, de ajudar para o bem, de participar de qualquer esforço pelo bem. No entanto, há outras inteiramente voltadas para o contrário, dando vazão às suas inclinações inferiores, ainda não devidamente transformadas. Uma vez que você sabe disso, observe o tipo de sintonias, de contatos mentais que faz e que deseja fazer com os Espíritos. Analise os conteúdos dos seus pedidos dirigidos ao Além e o teor das suas expectativas diante da vida, mantendo a certeza de que quaisquer que sejam suas buscas, alguma entidade espiritual a elas se associará. As suas decisões quanto ao seu estilo de vida, as suas relações de afeto ou desafeto, ao rumo que dê às suas realizações na faixa da honestidade ou da desonestidade, funcionarão como tomadas ideais para a sua ligação com nobres mensageiros da luz ou com desafortunados agentes da sombra. Busque Jesus e una-se a Ele em tudo o que faça. Viva com alegria interior, aprenda a enfrentar e superar problemas sem ódios, sem guardar mágoas de ninguém. Solte-se. Viva em clima de liberdade espiritual, por conservar o coração e a mente livres de vínculos com Espíritos perturbadores. Busque Jesus e tudo o que se refira ao bem, e esteja certo de usufruir a melhor assistência invisível, atraída por suas felizes predisposições morais. 
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Quando um familiar morre e volta ao mundo dos Espíritos, não se torna melhor nem pior do que era quando no corpo físico. Por essa razão, não o perturbe com pedidos que ele não pode ou não deve atender. Confie sempre em Deus, Pai de todos nós, e a Ele dirija a sua prece ou o seu pedido. Mas lembre-se de levar em conta que o Pai conhece nossas necessidades e sempre nos dá o que precisamos, que nem sempre é o que queremos. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 28 do livro Para uso diário, pelo Espírito Camilo, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter. Em 10.09.2009.

sábado, 24 de outubro de 2015

ASSINATURA DE DEUS

Ela era uma mulher diferente da maioria. Cheia de disposição e com um senso de humor que encantava. Dizia: É maravilhoso acordar cedo, com alegria de viver para enfrentar um novo dia de trabalho. Quem prestasse atenção, veria que ela era realmente feliz, graças ao seu bom ânimo frente à vida. Com palavras simples, sempre buscava exaltar o bom e o belo do dia a dia. Mas, havia um momento especial, que a deixava ainda mais radiante. Era, ao acordar, abrir a janela de seu quarto e observar do outro lado da rua, bem na esquina, um enorme cacto de gomos compridos, com as pontas amarelas, exibindo suas grandes flores brancas. Esse espetáculo só podia ser visto por quem acordasse muito cedo, pois que essas flores desabrocham depois do anoitecer, e permanecem abertas, apenas até que o sol surja novamente. Admirando aquele quadro, seu pensamento viajava... Louvava e agradecia a Deus, por tamanho presente. Quanta sabedoria e sensibilidade o Pai Celestial possui e distribui conosco. Quanto amor por todos nós, filhos Seus, ao nos presentear com tanta beleza. E a imaginação fluía, pensando em como podia uma planta originária de lugares secos, íngremes, desérticos, brindar a vida com tão belo mimo. Pesquisando, aprendeu que todas as variedades de cacto florescem. Que suas flores têm cores variadas, desde o branco, passando pelo amarelo, laranja e rosa, até o vermelho brilhante. Lembrou-se de uma frase que lera, em algum lugar: Os quadros mais lindos da natureza foram pintados por Deus, e a Sua assinatura são as flores, que só Ele sabe fazer. 
* * * 
Como é importante valorizarmos as belezas da Criação. Nosso mundo está repleto de maravilhosas cenas, em inéditos e surpreendentes lugares. Geograficamente temos localidades inimagináveis. A variação do clima, nos mais diferentes pontos, permite que as belezas naturais nos encantem o olhar com quadros resplandecentes. Em nosso planeta, podemos contemplar lagos cor-de-rosa, campos deslumbrantes de tulipas e de lavanda perfumada. Montanhas gigantescas, vales aconchegantes e tantos outros lugares incríveis. Este é o nosso mundo, nos apresentando telas de raríssima beleza, especialmente quando atentamos para a variedade de flores ao redor, em situações jamais imaginadas: em um cacto, a flor, que enlevou aquela mulher. Em uma frincha de rocha, a presença da flor delicada e colorida, como que a sorrir, por ter vencido o desafio. Em um pântano, de aparência e odor repugnantes, o lírio, mostrando a sua pureza. É sempre a Sabedoria Divina nos ensinando a valorizar o bom e o belo, independente de onde se encontrem. É a grandeza infinita do Criador! * * * Que sejamos um cacto, florindo, mesmo que por algumas horas. Que sejamos pedra, mas, que permitamos surgir em nós, uma pequena, colorida e bela flor. E se nos sentirmos pântano, ofertemos, ainda assim, a pureza de um lírio. 
Redação do Momento Espírita. Em 29.8.2015.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

ASSEMELHAR-SE ÀS CRIANÇAS

Apresentaram a Jesus então umas criancinhas, a fim de que ele as tocasse. E como seus discípulos repelissem com palavras rudes aqueles que as apresentavam, Jesus vendo isso repreendeu-os e lhes disse: “Deixai vir a mim as criancinhas, não as impeçais; pois o reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham. Eu vos digo, em verdade, que todo aquele que não receber o reino de Deus como uma criança, nele não entrará.” E tendo-as abraçado, abençoou-as impondo-lhes as mãos.
* * * 
A passagem narrada por Marcos no seu Evangelho é de profunda beleza, e apresenta um dos pontos altos da lição do Cristo. Por que Jesus promete o reino dos céus para aqueles que se assemelharem a criancinhas? Não identificava Ele, ali, naqueles corpos infantis, Espíritos reencarnados, voltando ao palco terrestre com seus desafios, suas mazelas, suas lutas, assim como qualquer outro ser? Obviamente que sim. Então, o que Jesus quis dizer com isso? O Mestre educador falava do ser criança em si, do período da infância, dessa época em que todos somos cândidos, humildes e moldáveis. Ele falava da pureza dos pequenos, que ainda não tiveram tempo de se submeter aos vícios, que ainda não aprenderam a malícia nem a complexidade exagerada do comportamento adulto. Simplicidade. A vida da criança é simples, e Jesus estava ali exaltando a simplicidade na vida como mola propulsora para nos lançar a esse estado íntimo de felicidade, de reino dos céus no coração. A criança se contenta com tão pouco... Valoriza as pequenas coisas, não tem vaidades, não é dissimulada e nem preconceituosa. Assemelhar-se às crianças é também enxergar o mundo com alegria, com deslumbramento, sem ressalvas, sem mágoas... É ser mais leve. Sim, as crianças pesam muito menos do que os adultos. É ser mais leve nas atitudes, nas preocupações, no apego excessivo às coisas. A ideia de criança de Jesus é o oposto da ideia de velho, não no sentido de idoso, mas daquele que não modifica suas opiniões, que não altera seu comportamento, que não cede por nada neste mundo. Velho é quem se deixou amargar pelo caminho. Criança é quem respira alegria e dá novas chances a si mesmo e aos outros todos os dias. 
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Andrey Cechelero
Minha vista cansada... Meu cenho triste... 
Colhi pela calçada, raio de sol que persiste
Saudade da criança que um dia fui, 
Vontade, ânsia, de um rio que não mais flui. 
Haverá como retornar? 
É possível ser menino e voltar a despertar? 
Abro a porta do futuro e encontro o rosto lindo de meu filho.
Deus o fez parecer comigo para que nunca esquecesse de meu menino eterno. 
Quero ser menino contigo, meu filho! 
Menino que quer aprender, que quer escutar, que quer se deslumbrar todos os dias. 
Quero ser menino contigo e viajar pela Terra mais uma vez, como se fosse a primeira, pois as crianças sempre assistem o que gostam diversas vezes, com a alegria e a emoção da primeira vez. 
Redação do Momento Espírita, com base no Evangelho de Marcos, cap. 10, versículos 13 a 16 e no poema Quero ser menino contigo, de Andrey Cechelero. Em 20.10.2014.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

ASPECTOS DO SOFRIMENTO

Era um dia quente de verão, naquela cidade do Interior do Sul do Brasil. Mas, apesar do calor, a vida deveria seguir seu curso, normalmente. O jovem trabalhador acordou cedo, como de costume, e enfrentou a alta temperatura com bom ânimo e coragem. Trabalhou o dia todo, atendeu pessoas, suou muito e, ao final da tarde estava exausto. Gostaria de ir para casa, tomar um banho, descansar, mas ainda teria que enfrentar uma sala de aula, sem ar condicionado. 
-Sou um infeliz! 
Pensou consigo mesmo. Mas, o que fazer? Era preciso ir para a Universidade, pois era cumpridor de seus deveres e a responsabilidade o chamava. Jogou rapidamente um pouco de água fresca no rosto, pegou a tradicional pasta com os materiais de estudo, e lá se foi... Caminhava pelas ruas e sentia mais e mais o desconforto do calor, a roupa úmida de suor, e se sentia ainda mais infeliz. 
-Oh vida dura! Não ter tempo nem para tomar um banho para aliviar a canseira, é demais! 
Pensava. 
-Ainda se eu tivesse um carro para não ter que enfrentar esse calor infernal do asfalto! 
Subia uma ladeira, cabisbaixo, mergulhado nos próprios pensamentos, quando escutou, ao longe, uma melodia que alguém assoviava, com musicalidade e alegria. Olhou para trás, mas não avistou ninguém. Intrigado com o assovio que se tornava mais próximo a cada passo, percebeu que, a sua frente, algo se movia lentamente. Apressou o passo e foi se aproximando de um homem que se arrastava, lentamente, ladeira acima, com o auxílio das mãos. O homem não tinha pernas e uma lona de borracha envolta no que restara de suas coxas eram seus sapatos... Como seus passos eram demasiado lentos, ele podia assoviar, admirar a paisagem, agradecer a Deus pela vida... O jovem, diante daquela cena, sentiu-se profundamente constrangido. Como pudera ter se deixado levar por tamanha ingratidão e infelicidade, por tão pouco?! Olhando a situação daquele homem, que se movia com tanta dificuldade e expressava sua alegria assoviando, ele ergueu a cabeça e seguiu com outra disposição de ânimo. Agora, ele já não se achava a mais infeliz das criaturas só porque o suor e o cansaço o incomodavam no momento... 
* * * 
O sofrimento tem a dimensão que nós lhe damos. Por vezes, mergulhamos de tal forma nos próprios problemas que não percebemos que eles são pequenos demais para nos tirar a disposição e a alegria de viver. Há momentos em que as nossas lágrimas nos impedem de perceber o remédio, que está ao alcance de nossas mãos. Às vezes, é preciso que se apresente uma situação mais grave que a nossa ou um problema maior, para que possamos avaliar as reais dimensões de nossos sofrimentos. Isso não quer dizer que devamos ignorar as dificuldades que surgem no caminho, mas que devemos estar atentos para não permitir que nossas dores nos tornem egoístas e insensíveis. É importante refletir sobre o que leva uma pessoa sem pernas, que se arrasta pelas ruas, a fazer isto assoviando em vez de reclamar e se considerar o mais infeliz dos seres. Talvez essa pessoa entenda que a reclamação não tornaria a sua situação melhor, mas a alegria faz o sofrimento desaparecer. Assim, por uma questão de inteligência e bom senso, quando a situação estiver muito difícil, lembre-se daquele homem que, em vez de subir a ladeira chorando, subia assoviando. Afinal de contas, se a dor é inevitável, o sofrimento é opcional. Pense nisso 
Redação do Momento Espírita, com base em fato. Em 02.07.2010.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

ASCENSÃO

Em algum momento de nossa vida, será que já paramos um pouco para observar as coisas a nossa volta? Quantos de nós temos passado pela vida, sem estabelecer objetivos para estes momentos da trajetória terrena. Se pudéssemos nos observar no decorrer dos dias, iríamos nos identificar, por vezes, como um indivíduo ausente, sem a certeza de estar verdadeiramente vivendo. Nesta condição de espectador da vida, veríamos um ser passando pelas coisas sem se dar conta de que elas existem. É como se tivéssemos apenas um único objetivo: passar pela vida. Quantas vezes olhamos para o céu e observamos as estrelas, a lua, o espaço, e paramos para refletir na grandiosidade disso tudo? E por que estão ali? A beleza da natureza! Quantas vezes passamos por ruas enfeitadas pelas árvores, pelas flores, e nos damos conta de tanto colorido? Ao invés disso, preferimos passar sem olhar para os lados. Para não perdermos a hora, preferimos dar mais atenção a fatos mais chocantes, como as notícias policiais, onde só o que aparece é a violência. De preferência a coisas que só nos tragam aborrecimentos. A vida é, no entanto, superior benção de Deus, que a grande maioria dos homens não têm sabido valorizar. Cada experiência constitui base de segurança para uma nova etapa, na qual o ser se promove, ganhando mais sabedoria e superando os instintos agressivos, que serviram de sustentação e defesa em nossa fase primária do processo evolutivo. A reencarnação, por isso mesmo, tem como meta prioritária, o desenvolvimento da inteligência, através da conquista do conhecimento, e a sublimação dos sentimentos, por meio das realizações do amor. Viver no corpo é um desafio que a todos nós cabe aceitar. Devemos, por isso mesmo, valorizar mais o tempo, numa aprendizagem incessante, que resultará em aquisição de plenitude interior. Todos os nossos compromissos com a vida são de natureza edificante. São as oportunidades dos resgates dos erros pretéritos, mediante as realizações do bem e o aprimoramento dos sentimentos ético-morais que facultam a ascensão. A cada queda, a repetição da experiência se faz inevitável, até que se fixem os resultados iluminativos na consciência eterna de cada indivíduo. A marcha é lenta, enquanto o ser não opta por viver a verdade que o liberta, preferindo, sob o impulso das paixões primitivas, o prazer desgastante, em detrimento da emoção enobrecida. Por isso, o ser deve escolher a vivência dos deveres de engrandecimento espiritual próprio e da comunidade, estabelecendo o caminho a seguir e vencendo a distância que o separa da verdadeira vida. 
* * * 
Para que possamos renascer na Terra, é feito todo um planejamento antes de nosso retorno, é o que se chama planejamento reencarnatório. Esse planejamento tem, na maioria das vezes, a nossa participação. Somos nós que decidimos algumas etapas de nossa vida. Isso, é claro, sob a orientação dos Espíritos superiores, que sabem exatamente o que nos será de maior proveito para a evolução. 
Redação do Momento Espírita.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

ÁRVORES GENEROSAS

Charles R. Swindoll
A gratidão é uma rara virtude. É comum as pessoas guardarem mágoas por muitos anos de coisas desagradáveis que vivenciaram. Mas se esquecem, com rapidez, das dádivas que lhes foram ofertadas, ao longo da vida. Isso nos recorda de uma história simples e fantasiosa, que chegou a ser tema de um filme de curta-metragem, chamado A árvore generosa. É a história de uma árvore que se apaixona por um garoto. Moleque, ele se balançava nos seus galhos. Colocou um balanço e imaginava voar, balançando-se sempre mais alto, mais alto. Subia nela, até o topo, para ver à distância, imaginando que a árvore era um navio e ele estava em alto mar, à busca de terras a serem descobertas. Na temporada das frutas, ele se servia das maçãs, deliciando-se com elas. Cansado, dormia à sua sombra. Eram dias felizes e sem preocupações. A árvore gostava muito dessa época. O menino cresceu e se tornou um rapaz. Agora, por mais que a árvore o convidasse para brincar, ele não ouvia. Seu interesse era angariar dinheiro, muito dinheiro. A árvore generosa lhe disse, um dia: Apanhe minhas maçãs e as venda. O jovem aceitou a sugestão e a árvore ficou feliz. Por um largo tempo, ela não o viu. Ele se transferiu para outros lugares, viajou, angariou fama e fortuna. Quando ela o viu, outra vez, sorriu, feliz e o convidou para brincar. Contudo, ele agora era um homem maduro. Estava cansado do mundo. Preocupações lhe enrugavam a testa. Tantos eram os problemas que nem ouviu o coração da árvore bater mais forte quando ele se encostou, de corpo inteiro, à sua sombra, para pensar. Queria sumir, desaparecer, desejando em verdade fugir dos problemas. A árvore generosa lhe sussurrou aos ouvidos e agora ele ouviu: Derrube-me ao chão, pegue meu tronco e faça um barco para você. Faça uma viagem, navegando nele. Ele aceitou a sugestão e a árvore tornou a se sentir feliz. Muitos anos se passaram. Verões de intenso calor, primaveras de flores, invernos de ventos e noites solitárias. Finalmente, o homem retornou. Estava velho e cansado demais para brincar, para sair em busca de riqueza ou para navegar pelos mares. A árvore lhe sugeriu: Amigo, fui cortada, já não tenho sombra. Sou somente um toco. Que tal sentar e descansar? O velho aceitou a sugestão e a árvore ficou feliz. * * * Fazendo uma retrospectiva de nossas vidas, comparando-as com a da árvore e do menino, é possível que nos identifiquemos em alguns pontos. Quantas árvores generosas tivemos na vida? Quantas nos deram parte delas para que crescêssemos e pudéssemos alcançar nossos objetivos? Quantas árvores generosas nos sustentaram nas horas difíceis, alimentando-nos com seus recursos? Foram muitas, muitas mesmo. Se as fôssemos enumerar todas, talvez não coubessem seus nomes em uma só folha de papel: pais, amigos, irmãos, vizinhos, colegas. Por isso, essa é uma homenagem de gratidão a todas as árvores generosas dos nossos caminhos. A todos os que foram sustento, abrigo, aconchego, fortaleza. Obrigado, amigos. Obrigado, Senhor da Vida. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Reflexões de Charles R. Swindoll, do livro Histórias para o coração, de Alice Gray, ed. United Press. Em 27.11.2008.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O ARTISTA QUE O MUNDO NÃO TERIA CONHECIDO

É muito conhecida a saga do pianista brasileiro João Carlos Martins. Não somente por ter iniciado sua carreira artística nacional aos treze anos e aos dezoito, a internacional. Ou por ter estreado no Carnegie Hall, em Nova York, aos vinte e um anos e, logo em seguida, ter conquistado os palcos da Europa. Ele é considerado um dos maiores intérpretes de Bach, do século XX, pela crítica internacional, tendo registrado a obra completa para teclado. Ele é muito conhecido pelas tragédias que lhe marcaram a vida. Em criança, a saúde era seu ponto fraco. Aos cinco anos, um enorme cisto surgiu no pescoço. A cirurgia para sua remoção não foi bem sucedida. Por dois anos, ele teve que conviver com uma fístula aberta no pescoço, que expelia secreções toda vez que ele ingeria algum alimento. Mas, cedo, se revelou sua paixão pela música. A renúncia a muitos prazeres típicos da infância e da adolescência se tornou evidente. Na busca da perfeição, ele estudava piano de seis a sete horas por dia, de segunda a sábado. A responsabilidade dos concertos e o comprometimento com a música o disciplinaram. E, quando a vida parecia lhe sorrir, quando todos os seus sonhos estavam se realizando, num treino de futebol com amigos, ele caiu sobre uma pedra. O acidente teve graves desdobramentos. A pedra perfurou-lhe o braço, provocando lesões graves. Três dedos de sua mão direita começaram a demonstrar sinais de atrofia. Era somente o início do seu calvário que o levaria, anos depois, a trocar a carreira de pianista pela de maestro. Pois essa preciosidade conta que, em outubro ou novembro de 1939, seus pais foram chamados a uma conversa muito séria pelo médico da família e ginecologista. O conselho era que recorressem ao abortamento. Aquela quarta gravidez era delicada. Havia risco de morte para a gestante e para o feto. Alay, a mãe, contudo, respondeu que jamais recorreria ao abortamento. Ela desejava dar uma filha ao seu marido e, até então, tivera três filhos. José, o pai, por sua vez, respondeu que Deus iria acompanhar a gravidez, que o menino ou a menina nasceria saudável e que sua esposa ficaria bem. E, assim, no dia 15 de junho de 1940, ao meio-dia, nasceu João Carlos Martins, surpreendendo os médicos e toda a maternidade. Por isso, frisa o maestro, eu posso dizer como é importante o direito à vida. 
* * * 
Todos os que admiramos o ex-pianista e atual regente João Carlos Martins, somos gratos a esse casal notável que optou pela vida. Não fossem eles e não teríamos esse brasileiro extraordinário entre nós. Não teríamos tido a oportunidade de viver na mesma terra de um menino prodígio, que realizou uma meteórica carreira no Exterior. Uma carreira que foi interrompida duas vezes, por problemas físicos. Não teríamos tido a chance de nos deliciarmos com sua música, nem de aprendermos com a sua força de vontade, a sua perseverança, a sua superação. Por isso, ao aplaudirmos o pianista, o maestro, o homem que não se permite vencer pelas adversidades, aplaudimos demorada e emocionadamente a Alay e José Martins, os abençoados pais que disseram sim à vida. 
Redação do Momento Espírita, com base em dados colhidos no livro A saga das mãos, de João Carlos Martins, com Luciano U. Nassar, ed. Campus. Em 27.8.2013.
http://momento.com.br/

domingo, 18 de outubro de 2015

UM ARTISTA DE IMAGINAÇÃO DELIRANTE

Você já observou, alguma vez, um caracol, andando com sua casa às costas? A concha, em verdade, lhe abriga os órgãos e é uma proteção extra contra a desidratação e os predadores. Em condições adversas, o caracol recolhe o pé e a cabeça para dentro dela. Sela a abertura com um muco espesso, podendo se colar a superfícies. Por isso, os encontramos presos a troncos, folhas ou muros. O caracol é um dos moluscos mais comuns. Contudo, existem muitas espécies que, calcula-se, vivam no mar há cerca de quinhentos e cinquenta milhões de anos. O que encanta, em verdade, nessas criaturas de corpo mole, é exatamente a sua proteção, a concha calcária. Existem colecionadores que pagam fortunas por algumas dessas preciosidades. As formas, as cores, o brilho são inigualáveis. A superfície das denominadas conchas cipreas, por exemplo, levou os navegadores portugueses, que as encontravam, de forma abundante, na costa africana, a pensar que era a partir delas que os chineses fabricavam a porcelana. Daí, o seu nome popular de porcelanas. Uma variação dessa espécie foi definida por um estudioso como uma obra de arte somente concebida por um artista de imaginação delirante. Ela traz, no dorso, um padrão que faz lembrar um delicado mosaico duma antiga civilização, ao qual se sobrepõem misteriosas manchas escuras. Apresenta, ainda, um mosaico de ladrilhos menores e mais esparsos. Finalmente, a base mostra pintas escuras num fundo quase branco, semelhantes ao que se vê na zona do ventre de muitos felinos, como o leopardo e o jaguar. Nativa do Oceano Índico, existe também na Austrália e o seu tamanho varia entre dois a oito centímetros. Existem ainda as conchas em forma de cone, que incluem centenas de espécies distribuídas por todo o mundo. Coloridas por fora, têm o interior raiado de madrepérola. Maravilhas infindáveis da natureza! Conchas caprichosas com imagens em alto relevo, que representam um rosto que parece ser de uma mulher, ou a que se assemelha a uma imagem de Cristo, alcançam, no mercado, o valor de até três milhões de euros. O homem pode tomar dessas belezas e as polir, enaltecendo ainda mais o seu aspecto. Contudo, as mais de cinquenta mil espécies existentes apresentam sutilezas, detalhes únicos, que extasiam os colecionadores e os fazem desejá-las. Muitos homens se dedicam a encontrá-las, recolhê-las, classificá-las, estudá-las. Alguns, pelo puro prazer de decifrar e admirar os mistérios da natureza. Outros, pelo valor que podem adquirir no mercado. E existem aqueles que, admirando tais belezas somente recordam do Artista de imaginação delirante. E erguem louvores ao Senhor da Vida. A Quem idealizou tudo isso, inesgotável em Sua Criação. Esses cogitam que, enquanto o homem dorme, Deus esculpe arabescos nas conchas e inventa novas cores para as enfeitar. Em oração, exclamam: Senhor Deus, Pai dos céus e de toda a Terra. Ajuda-nos a entender a Tua grandeza. Permite-nos agradecer a riqueza que nos ofereces, a oportunidade do estudo e o prazer do descobrimento. Afinal, neste dia que apenas desponta, que maiores maravilhas ainda nos reservas? O que fizestes, Senhor dos mares, enquanto nós dormíamos? 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 28, ed. FEP. Em 9.9.2015.

sábado, 17 de outubro de 2015

ARTÍFICE DO PROGRESSO

A vida na Terra não é perfeita. Oscilações da economia com freqüência jogam por terra planos longamente acalentados. O passar do tempo pouco a pouco dilapida o vigor físico. Amigos e familiares desencarnam. Por sua natureza material, a Terra é um local de transição. Nela há certas vicissitudes inevitáveis, como a dor, a doença e a morte do corpo físico. Esses fenômenos são comuns e até certo ponto aceitos com naturalidade. O que possui o condão de tornar o viver terreno realmente áspero são as fissuras morais dos homens. Fôssemos todos leais e bondosos e a vida na Terra seria um paraíso. Mas por ora não é assim. O egoísmo persiste forte nos corações humanos. É ele que faz com que busquemos nossos interesses imediatos, despreocupados das tragédias e dores que causamos aos outros. Com base nessa realidade, muitos acreditamos que a raça humana não tem jeito. Achamos que tudo está mesmo perdido e procuramos nos envolver o mínimo possível no que ocorre a nossa volta. Deixamos de votar, de nos indignar e de cobrar uma postura ética no comportamento político e social. Esse gênero de comportamento não é novo. No âmbito religioso, por séculos houve a tendência de candidatos à santificação retirarem-se do mundo. Gastavam o tempo em cerimônias e preces, esquecidos das dificuldades dos que permaneciam envoltos nos afazeres mundanos. A frase do Cristo, na qual ele diz que Seu Reino não é deste Mundo, costuma ser invocada como sustentáculo desse proceder. Entretanto, Jesus jamais demonstrou desprezo pelo Mundo e por suas criaturas. Enquanto aqui esteve, Ele se dedicou a educar e a curar os enfermos do corpo e da alma. Em dada oportunidade, afirmou que Seus seguidores deveriam ser o sal da Terra e a luz do Mundo. Esse enunciado certamente significa que o cristão precisa fazer a diferença. Que ele deve agir para que o Mundo se converta em um local mais justo e fraterno. Assim, não utilize os quadros chocantes da Terra como desculpa para cruzar os braços. Pense que você tem um papel a cumprir no contexto em que está inserido. Mire-se nos exemplos do Cristo e viva com muita correção. Trabalhe, sirva, seja leal, indulgente e compreensivo. Mas não enterre e nem esconda os seus talentos. Saia de seu círculo mais restrito de relações e aja para que o Mundo se torne um lugar melhor. Desenvolva ideais de elevação e pureza e os partilhe com o próximo. Indigne-se com os desmandos da política e cobre reformas. Sinta-se responsável pelo local em que vive. Lentamente tudo se transforma e aprimora. As leis humanas estão em constante aperfeiçoamento. Certas práticas iníquas do passado, como o duelo e a escravidão, hoje não são mais admitidas. Muitos de nós lutamos para que cada melhora ocorresse. Reflita sobre isso e torne-se um artífice do progresso. Você experimentará algumas dores e decepções ao se envolver em questões sociais. Mas saberá que cumpriu a parte que lhe toca na construção de um mundo melhor. No ocaso de sua vida terrena, quando tudo o mais se extinguir, a paz pelo dever bem cumprido persistirá em seu coração. Pense nisso. Redação do Momento Espírita.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

ARTICULADORA DA PAZ

RITA LEE
O mundo ainda é dos homens. São eles que dominam o mercado financeiro, a política, as nações. São eles que ditam a moda, que dizem como a mulher deve se vestir, se calçar. Hoje, a moda é ser magra, Top Model, busto grande, medidas certinhas. Os homens querem assim e as mulheres se submetem. Ao menos, uma porção delas, que idealizam que o bom é ser fotografada, cobiçada e adulada. Para isso, não há medida para os sacrifícios. Dietas rigorosas, malhação, poções ditas milagrosas para manter a forma física impecável. As revistas que trazem receitas com dietas emagrecedoras vendem edições sem conta. E as mulheres colocam silicone aqui, acolá, para ficar como dita a moda. Submetem-se a cirurgias e modificam o nariz, a face. E se entregam a toda sorte de atitudes, para aparecerem na revista, no jornal, na televisão. Vestem trajes que deixam à mostra o busto, as pernas, as costas. Quase tudo. Cós baixo, mini blusa, calça ajustada nas coxas, saia curta. Paradoxalmente, estamos vivendo o momento em que 56% das cadeiras universitárias são ocupadas por mulheres. Momento em que as mulheres se sobressaem na magistratura, na pesquisa científica, na política, no jornalismo. Momento das mulheres que assumem o lar, vão à luta, sustentam a casa, educam os filhos sozinhas. Mulheres de coragem que não temem levantar pela madrugada, preparar o café, levar os filhos para a creche e enfrentar oito horas de trabalho. Depois, buscar os filhos na creche, ajudar fazer a lição, cozinhar, lavar, passar. Todo dia, seis ou sete dias por semana. E, quando chega o domingo, é preciso levar as crianças ao parque, andar de bicicleta, ajudar a estudar para a prova. Uma rotina infindável! E ei-las ativas. Heroínas anônimas, que não aparecem na TV. Muitas delas já abandonaram a silhueta da mocidade há muito tempo. Aumentaram o tamanho do manequim, depois de muitas crianças geradas. As pernas não têm a elegância das modelos. São pernas rijas, por vezes crivadas de varizes, por cuidados que não puderam se permitir, por repouso que não puderam gozar. Por esforços além do possível que tiveram que empreender. São essas mulheres as articuladoras da paz. Elas detestam a guerra, as gangues, a violência. Porque isso tudo lhes rouba os filhos, razão de sua própria vida. Por isso, elas lutam por mais vagas nas creches. Por mais segurança na saída das escolas. Por isso elas educam os filhos no lar, ensinam valores morais, comparecem aos templos religiosos. As mulheres. Articuladoras da paz. Por elas, os problemas seriam resolvidos na mesa das discussões, sem confrontos bélicos, que fazem jorrar sangue. Por elas, todas as crianças teriam um lar, comida, roupa, creche, escola. Todas ganhariam presentes no natal e teriam doce à mesa, para a sobremesa. Todas poderiam tomar sorvete, andar de roller e de skate. Isso porque a mulher mãe não distingue os seus dos filhos alheios. Ela sabe o que é gerar e amar um filho. Ela sabe o quanto dói a dor do filho. Oxalá esteja próximo o dia em que as mulheres objeto se unam a essas lutadoras de todos os dias. Oxalá se unam e mostrem toda sua força. Oxalá... Porque desejamos paz ao Mundo. Desejamos ter crianças brincando no parque sem medo. Jovens nos bancos universitários. Mulheres que honram o Mundo com suas presenças. 
Redação do Momento Espírita, a partir de pronunciamento da roqueira Rita Lee.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

ARTES INFANTIS

Hermínio Miranda
Como você costuma reagir às artes dos seus filhos? Você é daqueles que acredita que as crianças devam ser bem disciplinadas para se tornarem adultos responsáveis? Você está certo. Contudo, o que deve se considerar é como a disciplina é imposta aos pequenos. Esta é a história de um escritor brasileiro que narra sua experiência pessoal, acontecida lá pelos seus sete ou oito anos de idade. Hoje ele já conta mais de oitenta. Ele morava, com os pais, a poucos metros de distância dos trilhos do trem. Era um garoto retraído e meio caladão. Mas, um belo dia resolveu testar a sua força e pontaria. Escolheu para alvo o trem que passava. Pegou uma pedra, mirou e atirou. Acontece que era um trem de passageiros. A pedra quebrou uma vidraça. Felizmente não atingiu ninguém. Quando o trem chegou à estação seguinte, telefonaram para aquela onde vivia o garoto e, naturalmente, não foi difícil descobrir o autor do ato terrorista. Os pais não eram dados a castigos corporais, mas o pai decretou um castigo terrível para o filho. Deveria ficar sentado à vista de todos, no alto de uma pilha de dormentes de madeira, à beira da linha do trem. O menino se sentia humilhado. E o pior de tudo é que não estava entendendo a razão de todo aquele castigo. Afinal de contas, ele só jogara uma pedra no trem. Lá pelas tantas, porém, se aproximou um empregado da estação ferroviária. Subiu os dormentes e se sentou ao lado dele. Não trouxe palavras de condenação ou de censura. Também não desautorizou a providência punitiva do pai. Mas explicou, de forma adulta, que o gesto impensado poderia ter ferido, talvez até matado alguém, no trem. Que ele pensasse nas consequências. Alguém poderia ter ficado cego ou muito ferido com a sua arte. Ao concluir o seu depoimento, recordando desse momento infantil, o escritor confessa que nunca mais jogou pedras em ninguém, embora tenha levado algumas pedradas pela vida afora. Mas o que ele recorda e com muita gratidão, apesar de tantos anos passados, é que aquele homem foi a primeira pessoa que, em vez de repreender, censurar ou criticar, lhe falou como um adulto. De homem para homem, sem ironias, ou agressividade. Acima de tudo, explicou a ele a situação. Isso lhe permitiu entender o porquê da penalidade que estava sofrendo.
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Antes de qualquer crítica apressada ou condenação, é indispensável ouvir os filhos. É importante que eles expliquem as suas razões, da mesma forma que os pais, na qualidade de educadores, devem explicar o erro que eles cometeram. Muitas vezes, somente o fato dos filhos descobrirem que cometeram uma falta, já lhes constitui penalidade suficiente porque a consciência os acusa. O que equivale a dizer que, melhor do que qualquer castigo, sem diálogo, vale uma boa explicação acerca de consequências, perigos e responsabilidade. Como dizem: É conversando que a gente se entende... 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 12 do livro Nossos filhos são Espíritos, de Hermínio Miranda, ed. Arte e cultura. Em 15.02.2011.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A ARTE DOS ELOGIOS

A baixa autoestima é vista como uma espécie de carência de vitaminas emocionais para as crianças e adultos. Preocupados com o desenvolvimento dos seus filhos e com suas conquistas, alguns pais exageram na hora dos elogios. Criança viciada em elogios se torna problema na escola. Ela sempre ficará na dependência da aprovação verbal dos professores. Adulada em excesso e sem motivo, a criança cresce esperando o mesmo de todas as pessoas. Hoje, ela espera o afago verbal dos pais, dos professores. Amanhã será do chefe, da namorada ou do namorado para se sentir bem. É que o excesso de elogios, e nem sempre verdadeiros, gera insegurança e não autoestima. O educador, escritor e pai de cinco filhos, Paul Kropp, de Toronto, estabeleceu alguns itens que acredita importantes para aumentar a autoconfiança dos nossos filhos, sem correr o risco de sermos demasiadamente generosos em elogios, sejam eles merecidos ou não: 1. Inclua seu filho no que você estiver fazendo. E lembre-se de que nem tudo precisa ser perfeito no trabalho dele. Deixe a criança experimentar, agir, auxiliar. Pequenas tarefas falam de responsabilidade e amadurecimento. 2. Não apresente ao seu filho obstáculos grandes demais. A dificuldade das tarefas atribuídas às crianças deve ir aumentando aos poucos. 3. Não corra para ajudar o seu filho. Dê a ele a chance de experimentar a frustração. A frustração faz parte do mundo real e a criança deve aprender, desde cedo, a lidar com ela. 4. Certifique-se de que ele tenha desafios fora de casa: grupos de excursão, equipes de natação, aulas de música. 5. Elogie os resultados finais com sensatez. Quando descobrir nos olhos de seu filho que ele está satisfeito com algo que fez, não seja severo na crítica. Finalmente, para ajudar a criança a desenvolver uma noção real de seu valor: Preste atenção ao que seu filho faz ou diz - você não precisa concordar, mas tem de ouvir. Encontre tempo suficiente para desenvolverem projetos juntos, sem perder de vistas as habilidades da criança. Lembre-se de que não são os falsos elogios que constroem a identidade de seu filho, mas sim a atividade e o sucesso. Os elogios, por si mesmos, não levam os filhos a crescer e buscar novos desafios. E para aquele que sabe o que quer, não serão uma ou duas críticas que o irão abater. Por tudo isso os pais, que conhecem seus filhos, devem usar de bom senso. Elogios e críticas bem dosadas, aliadas ao tempo e esforço pessoal, possibilitam a autoconfiança e a consciência do próprio valor. 
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O falso elogio enche a criança de expectativas irreais. A falta deles acaba por desvalorizá-la e deprimir. Quando a criança precisa de um elogio para elevar a sua autoestima, terá dificuldades para aprimorar o seu caráter porque estará sempre na dependência do que os outros pensam. Estará buscando aprovação e não aprimoramento. Incentivar é permitir a possibilidade da experiência, do erro e do acerto. Eis o caminho ideal para a correta formação do caráter dos nossos filhos. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Seu filho é viciado em elogios?, da revista Seleções Reader's Digest, de maio de 2000. Em 25.01.2012.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

A ARTE DO MATRIMÔNIO

RAUL TEIXEIRA
Qual será o segredo dos casamentos duradouros? Casais que convivem há anos falam de paciência, renúncia, compreensão. Em verdade, cada um tem sua fórmula especial. Recentemente, lemos as anotações de um escritor que achamos muito interessantes. Ele afirma que um bom casamento deve ser criado. No casamento, as pequenas coisas são as grandes coisas. É jamais ser muito velho para dar-se as mãos, diz ele. É lembrar de dizer te amo, pelo menos uma vez ao dia. É nunca ir dormir zangado. É ter valores e objetivos comuns. É estar unidos ao enfrentar o mundo. É formar um círculo de amor que una toda a família. É proferir elogios e ter capacidade para perdoar e esquecer. É proporcionar uma atmosfera onde cada qual possa crescer na busca recíproca do bem e do belo. É não só casar-se com a pessoa certa, mas ser o companheiro perfeito. E para ser o companheiro perfeito é preciso ter bom humor e otimismo. Ser natural e saber agir com tato. É saber escutar com atenção, sem interromper a cada instante. É mostrar admiração e confiança, interessando-se pelos problemas e atividades do outro. Perguntar o que o atormenta, o que o deixa feliz, por que está aborrecido. É ser discreto, sabendo o momento de deixar o companheiro a sós para que coloque em ordem seus pensamentos. É distribuir carinho e compreensão, combinando amor e poesia, sem esquecer galanteios e cortesia. É ter sabedoria para repetir os momentos do namoro. Aqueles momentos mágicos em que a orquestra do mundo parecia tocar somente para os dois. É ser o apoio diante dos demais. É ter cuidado no linguajar, é ser firme, leal. É ter atenção além do trivial e conseguir descobrir quando um se tiver esmerado na apresentação para o outro. Um novo corte de cabelo, uma vestimenta diferente. Detalhes pequenos, mas importantes. É saber dar atenção para a família do outro pois, ao se unir o casal, as duas famílias formam uma unidade. É cultivar o desejo constante de superação. É responder dignamente e de forma justa por todos os atos. É ser grato por tudo o que um significa na vida do outro. 
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O amor real, por manter as suas raízes no equilíbrio, vai se firmando dia a dia, através da convivência estreita. O amor, nascido de uma vivência progressiva e madura, não tende a acabar, mas amplia-se, uma vez que os envolvidos passam a conhecer vícios e virtudes, manias e costumes um do outro. O equilíbrio do amor promove a prática da justiça e da bondade, da cooperação e do senso de dever, da afetividade e advertência amadurecida. Redação do Momento Espírita, com base no cap. A arte do atrimônio, no cap. Na mulher o homem aprecia, no cap. Na mulher o homem aprecia, do livro Um presente especial, de Roger Patrón Liján, ed. Aquariana e no cap. 2, do livro Vereda familiar, pelo Espírito Thereza de Brito, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter. Disponível no livro Momento Espírita, v. 3, ed. FEP. Em 16.6.2014.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A ARTE DO AMOR

Leo Buscaglia
Comunicação, a arte de falar um com o outro, dizer o que sentimos e pretendemos, falando com clareza, ouvir o que o outro fala, deixá-lo certo de que estamos ouvindo é, sem sombra de dúvida, a habilidade mais essencial para a criação e a manutenção de um relacionamento amoroso. A afirmativa é de Leo Buscaglia, professor de uma Universidade da Califórnia. Ele diz que o mais alto nível da comunicação é o não verbal. O que quer dizer: se você ama, mostre isto em atitudes. Faça coisas amorosas para o outro. Seja atencioso. Coloque os seus sentimentos na prática. Faça aquela comida favorita. Mande flores. Lembre-se dos aniversários. Crie os seus próprios feriados de amor. Não espere pelo Dia dos Namorados. E ele relaciona alguns pontos importantes para que uma relação a dois se aprofunde e se agigante, vencendo os dias, os meses e os anos. Diga sempre ao outro que o ama, através de suas palavras, suas atitudes e seus gestos. Não pense que o seu par já sabe disso. Ele precisa desta afirmação. Cumprimente sempre o seu amor pelos trabalhos bem feitos. Não o deprecie. Dê o seu apoio quando ele falhar. Pense que tudo o que ele faz por você, não o faz por obrigação. E estímulo e elogio asseguram que ele vai repetir a dose. Quando você se sentir solitário, incompreendido, deixe-o saber. Ele se sentirá mais forte por reconhecer que tem forças para confortar você. Afinal, os sentimentos, quando não externados, podem ser destrutivos. Lembre que, apesar de amá-lo, o outro ainda não pode ler a sua mente. Não se feche em si mesmo. Expresse sentimentos e pensamentos de alegria. Eles dão vida ao relacionamento. É maravilhoso celebrar dias comuns, datas pessoais, como o primeiro encontro, o primeiro olhar, o dia da reconciliação depois de um breve desentendimento. Dê presentes de amor sem motivo. Ouça a sua própria voz a falar de sua felicidade. Diga ao seu amor que ele é uma pessoa especial. Não deprecie os sentimentos dele. O que ele sente ou vê é sua experiência pessoal, portanto, importante e real. Abrace sempre. A comunicação de amor não verbal revitaliza a relação. Respeite o silêncio do seu companheiro. Momentos de quietude também fazem parte das necessidades espirituais de cada um. Finalmente, deixe que os outros saibam que você valoriza a quem ama, pois é bom partilhar as alegrias de um saudável relacionamento com os outros. 
* * * 
É possível que você esteja pensando que todas essas ideias não são realmente necessárias entre pessoas que se amam. Elas acontecem de forma espontânea. Mas, nem tanto. Nem sempre. São esses vários aspectos da comunicação que constituem o alicerce de um relacionamento amoroso saudável. Eles também produzem os sons mais maravilhosos do mundo. Os sons do amor. Experimente! 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 2 do livro Amando uns aos outros, de Leo Buscaglia, ed. Nova Era. Em 02.06.2010.

domingo, 11 de outubro de 2015

A ARTE DE RESOLVER CONFLITOS

Christina Feldman 
O trem atravessava sacolejando os subúrbios de Tóquio numa modorrenta tarde de primavera. Um dos vagões estava quase vazio: apenas algumas mulheres e idosos e um jovem lutador de Aikidô. O jovem olhava, distraído, pela janela, a monotonia das casas sempre iguais e dos arbustos cobertos de poeira. Chegando a uma estação as portas se abriram e, de repente, a quietude foi rompida por um homem que entrou cambaleando, gritando com violência palavras sem nexo. Era um homem forte, com roupas de operário. Estava bêbado e imundo. Aos berros, empurrou uma mulher que carregava um bebê ao colo e ela caiu sobre uma poltrona vazia. Felizmente nada aconteceu ao bebê. O operário furioso agarrou a haste de metal no meio do vagão e tentou arrancá-la. Dava para ver que uma das suas mãos estava ferida e sangrava. O trem seguiu em frente, com os passageiros paralisados de medo e o jovem se levantou. O lutador de Aikidô estava em excelente forma física. Treinava oito horas todos os dias, há quase três anos. Gostava de lutar e se considerava bom de briga. O problema é que suas habilidades marciais nunca haviam sido testadas em um combate de verdade. Os alunos são proibidos de lutar, pois sabem que Aikidô é a arte da reconciliação. Aquele cuja mente deseja brigar perdeu o elo com o Universo. Por isso o jovem sempre evitava envolver-se em brigas, mas no fundo do coração, porém, desejava uma oportunidade legítima em que pudesse salvar os inocentes, destruindo os culpados. Chegou o dia! Pensou consigo mesmo. Há pessoas correndo perigo e se eu não fizer alguma coisa é bem possível que elas acabem se ferindo. O jovem se levantou e o bêbado percebeu a chance de canalizar sua ira. Ah! Rugiu ele. Um valentão! Você está precisando de uma lição de boas maneiras! O jovem lançou-lhe um olhar de desprezo. Pretendia acabar com a sua raça, mas precisava esperar que ele o agredisse primeiro, por isso o provocou de forma insolente. 
- Agora chega! Gritou o bêbado. Você vai levar uma lição. 
E se preparou para atacar. Mas, antes que ele pudesse se mexer, alguém deu um grito: 
-Hei! 
O jovem e o bêbado olharam para um velhinho japonês que estava sentado em um dos bancos. Aquele minúsculo senhor vestia um quimono impecável e devia ter mais de setenta anos... Não deu a menor atenção ao jovem, mas sorriu com alegria para o operário, como se tivesse um importante segredo para lhe contar. 
- Venha aqui. 
Disse o velhinho, num tom coloquial e amistoso. 
- Venha conversar comigo. 
Insistiu, chamando-o com um aceno de mão. O homenzarrão obedeceu, mas perguntou com aspereza: 
-Por que diabos vou conversar com você? 
O velhinho continuou sorrindo. 
-O que você andou bebendo? 
Perguntou, com olhar interessado. 
- Saquê.
Rosnou de volta o operário. 
- E não é da sua conta! 
 Com muita ternura, o velhinho começou a falar da sua vida, do afeto que sentia pela esposa, das noites que sentavam num velho banco de madeira, no jardim, um ao lado do outro. 
-Ficamos olhando o pôr-do-sol e vendo como vai indo o nosso caquizeiro, comentou o velho mestre. 
Pouco a pouco o operário foi relaxando e disse: 
-É, é bom. Eu também gosto de caqui... 
-São deliciosos. 
Concordou o velho, sorrindo. 
-E tenho certeza de que você também tem uma ótima esposa. 
-Não, falou o operário. Minha esposa morreu. 
Suavemente, acompanhando o balanço do trem, aquele homenzarrão começou a chorar. 
-Eu não tenho esposa, não tenho casa, não tenho emprego. Eu só tenho vergonha de mim mesmo. 
Lágrimas escorriam pelo seu rosto. E o jovem estava lá, com toda sua inocência juvenil, com toda a sua vontade de tornar o mundo melhor para se viver, sentindo-se, de repente, o pior dos homens. O trem chegou à estação e o jovem desceu. Voltou-se para dar uma última olhada. O operário escarrapachara-se no banco e deitara a cabeça no colo do velhinho, que afagava com ternura seus cabelos emaranhados e sebosos. Enquanto o trem se afastava, o jovem ficou meditando... O que pretendia resolver pela força foi alcançado com algumas palavras meigas. E aprendeu, através de uma lição viva, a arte de resolver conflitos.
Redação do Momento Espírita com base em conto do livro Histórias da alma, histórias do coração, de Christina Feldman e Jack Kornfield, ed. Pioneira. Disponível no livro Momento Espírita, v. 3, ed. Fep. Em 19.04.2011.

sábado, 10 de outubro de 2015

A ARTE DE RACIOCINAR

Raciocinar é uma arte que merece uma reflexão mais detida por parte de todos nós. Mas, e o que é raciocinar? Segundo os dicionários, raciocinar é fazer uso da razão para conhecer, para julgar da relação das coisas; ponderar; pensar. De maneira geral, nós estamos raciocinando a maior parte do tempo pois pensamos, fazemos cálculos, tiramos conclusões. Todavia, quando se trata de tomar decisões em nossas ações diárias, parece que nossa capacidade de raciocinar fica prejudicada ou é abafada pelo egoísmo. Quando estamos no trânsito, por exemplo, e há um veículo atravessado na rua, cujo motorista espera que alguém lhe dê a vez para poder seguir, a razão diz que se o deixarmos passar o tráfego fluirá melhor, beneficiando a todos. Mas, geralmente, não é essa a nossa decisão. Quando passamos por um lugar onde houve um acidente e a aglomeração de pessoas está grande, ao invés de ouvirmos os apelos da razão para seguir em frente e não atrapalhar, as mais das vezes nos juntamos à multidão só para satisfazer a curiosidade e julgar a ocorrência sem conhecimento de causa. Se vamos assistir a um espetáculo, um evento qualquer, o bom senso nos adverte que o melhor é ocupar os lugares mais distantes dos corredores, para facilitar a entrada dos que chegarão depois. Mas o que acontece, geralmente, é que nos sentamos nas primeiras cadeiras e quem chegar depois que passe nos espaços apertados que deixamos. E, por vezes, ainda reclamamos pelo fato de ter que encolher as pernas para que os outros passem. Outra situação bastante despropositada é a das mães ou pais com crianças pequenas que ocupam lugares de difícil acesso. Se for um evento em que se faz necessário o silêncio, quando os pequenos começam a chorar ou gritar, esses pais perturbam metade da plateia até chegarem às portas de saída. Todas essas situações poderiam ser evitadas se usássemos a arte de raciocinar, tomando sempre as decisões mais racionais. Nas questões emocionais, o raciocínio sempre é bom conselheiro, mas o que acontece amiúde, é que não lhe damos ouvidos, preferindo agir como os irracionais. Se necessitamos chamar a atenção de um filho ou outro familiar, por exemplo, e percebemos que esse chega nervoso, irritado, a razão nos aconselha deixar para outro momento mas, infelizmente, nem sempre a ouvimos e despejamos sobre ele uma enxurrada de palavras ásperas, agravando a situação. Se o namorado ou namorada nos diz que já não somos mais o amor da sua vida, a razão pede que nos afastemos mas, nem sempre é assim que agimos. E é por esse motivo que muitos crimes passionais são cometidos. Vale a pena prestar mais atenção nessa faculdade bendita que Deus nos deu, chamada razão. Se lhe déssemos ouvidos, aliando-a ao sentimento, por certo evitaríamos muitos males, tanto para nós quanto para os outros. 
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Quando suas vistas contemplarem as densas nuvens cinzentas que pairam há apenas alguns metros de altura, ouça com atenção a voz da razão a lhe dizer, com toda segurança que logo acima brilha o Sol, soberano, que vencerá as trevas em pouco tempo. Pense nisso! Redação do Momento Espírita. Em 27.6.2013

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A ARTE DE OUVIR

Ela era uma senhora solitária, envolta no luto da dor, desde que o marido morrera. Vivia só, na grande casa do meio da quadra. Casa com varanda e cadeira de balanço. Todas as manhãs, o entregador de jornais, garoto de uns 10 anos, passava pedalando sua bicicleta e, num gesto bem planejado, atirava o jornal nos degraus da varanda. Nunca errava. Paff! Era o sinal característico do jornal caindo no segundo degrau. Então, numa manhã de inverno, quando se preparava para lançar o jornal, ele a viu. Parada nos degraus da varanda, de pé, acenando-lhe para que se aproximasse. Ele desceu da bicicleta e foi andando em direção a ela. 
-O que será que ela quer? - Pensou o garoto. Será que vai reclamar de alguma coisa? 
-Venha tomar um café, falou a senhora. Tenho biscoitos gostosos. 
Enquanto ele saboreava o lanche que lhe aquecia as entranhas, ela começou a falar. Falou a respeito do marido, de suas vidas, da sua saudade. Passado um quarto de hora, ele se levantou, agradeceu e saiu. No dia seguinte e no outro, a cena se repetiu. O menino decidiu falar a seu pai a respeito. Afinal, ele achava muito estranha aquela atitude. O pai, homem experiente, lhe disse: 
-Filho, ouça apenas. A senhora Almeida deve estar se sentindo solitária, após a morte do marido. Deixe-a falar. Recordar os dias de felicidade vividos deve lhe fazer bem ao coração. É importante que alguém a ouça. 
Nos dias que se seguiram, nas semanas e nos meses, o garoto aprendeu a ouvir, demonstrando interesse em seus olhos verdes e espertos. Quando a primavera chegou, ela substituiu o café quentinho pelo suco de frutas. O verão trouxe sorvete. Ao final, o entregador de jornais já iniciava sua tarefa pensando na parada obrigatória em casa da viúva. Habituou-se a escutar e escutar. Percebeu, com o tempo, que a velha senhora foi mudando o tom das conversas. Como a primavera, ela voltou a florir, nos meses que vieram depois. Quando o ano findou, o menino foi estudar em outra cidade. O tempo se encarregaria de lecionar mais esperança no coração da viúva e amadurecer ideias no cérebro jovem. Muitos fatores contribuíram para que o garoto e a viúva não tornassem a se encontrar. Contudo, uma lição o acompanhou por toda a vida. Ele nunca se esqueceu da importância de ouvir as pessoas, suas dificuldades, seus problemas, suas queixas. Lição que contribuiu também para o seu sucesso como esposo, pai de família e profissional. 
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Saber ouvir é uma virtude. De um modo geral, nos cumprimentamos, perguntando uns aos outros, como está a saúde e a dos familiares. Raramente esperamos por uma resposta que não seja a padrão: Tudo bem. Normalmente, se o outro passa a desfiar o rosário das suas dores e a problemática da família, nos desculpamos apontando as nossas obrigações e quefazeres. Entretanto, quando nos sentimos tristes, desejamos ardentemente que alguém nos ouça, que escute a cantilena das nossas mágoas. Pensemos nisso. Mas pensemos agora, enquanto ainda nos encontramos a caminho com nossos irmãos, na estrada terrena. 
Redação do Momento Espírita, com base no texto O que aprendi com os vizinhos, de Seleções Reader´s Digest, de abril de 1999. Em 27.05.2010.