segunda-feira, 31 de agosto de 2015

APRENDE-SE COM EXEMPLO

Norman Cousins
Quantas vezes você reclamou da sujeira das ruas? Quantas vezes adjetivou como relaxada a pessoa que joga papel, lata, pacotes vazios pela janela do carro, emporcalhando a rodovia? Normalmente, a reação é de desagrado e se costuma afirmar que quem assim procede é porque lhe falta educação. Contudo, uma questão existe que parece escapar à observação superficial. É que, de um modo geral, algumas pessoas, porque veem sujeira em locais públicos, resolvem por também serem descuidadas. O papel da bala, do bombom, que poderia ser guardado no bolso ou na bolsa até chegar a uma lixeira, é descartado em qualquer lugar. Isto é, no chão. Por acreditar que se aprende pelo exemplo, um taxista inovou com seu carro. Quando ainda era empregado de limpeza numa empresa de táxis, observara que, no fim do dia, os táxis pareciam uma lata de lixo. Eram papéis jogados ao chão, assentos e puxadores das portas pegajosos. Tão logo conseguiu sua carteira de motorista profissional pôs em prática a sua ideia. Lustrou bem o táxi que lhe deram para dirigir. Arranjou um tapete bonito. Cada vez que um passageiro saía, ele verificava se tudo estava em ordem para o cliente seguinte. Voltava sempre com o táxi impecável para a empresa. Logo mais, resolveu colocar umas reproduções pequenas de quadros célebres, no interior do carro. Vinte e cinco anos depois, esse taxista afirmou: Ninguém me decepcionou. Cada passageiro que entrava, comentava como o táxi era bonito, diferente. E ninguém deixava nenhuma sujeira nele: nem papéis, nem restos de casquinhas de sorvete, nem chicletes. Nem um pouquinho de lixo. E filosofando, concluiu: As pessoas gostam de coisas bonitas. Se plantarmos mais árvores e flores pela cidade, se tornarmos os edifícios mais atraentes, aposto que mais pessoas iriam utilizar as latas de lixo. Aquele motorista tem uma boa dose de razão. Todos nós, com o dom da vida, recebemos também um senso estético. A maior parte das pessoas não precisa aprender sobre a raridade da beleza, do bom tom. Age e reage quando a encontra. E, se tiver o sentimento de que faz parte dessa beleza, contribuirá para que ela se estenda por todos os lugares. E são essas pessoas que continuam fazendo a grande diferença no mundo. São essas que dão exemplos para os que ainda não têm olhos de ver. Essas veem uma lata abandonada na calçada e a recolhem, para jogá-la, logo adiante, na lixeira. Alguns mais corajosos, quando observam alguém descartando papéis pela rua, se aproximam e alertam ao descuidado: Amigo, o senhor deixou cair alguma coisa ali atrás. São essas criaturas que primam pela seleção do lixo, que o acondicionam bem e disponibilizam, nos dias certos, para a coleta pública. São essas criaturas que se preocupam com a reciclagem, com o descarte correto dos produtos. Criaturas que plantam flores, regam jardins, mantêm o quintal e a frente de sua casa sempre limpos. Que tal engrossarmos as fileiras desse tipo de pessoa? Afinal, quem não deseja viver entre a beleza, a limpeza, os perfumes e a saúde? 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Um táxi meio diferente, de Norman Cousins, de Seleções Reader’s Digest, de dezembro de 1982. Em 19.04.2011.

domingo, 30 de agosto de 2015

APRENDAMOS A AGRADECER

A porta giratória da agência bancária trava. O cliente, impaciente, começa a esvaziar os bolsos: chaves da casa, do carro, celular, óculos. O segurança se aproxima para checar se não há uma arma oculta sob a roupa. Não há. Aquele cliente é antigo, nunca andou armado. Ele libera a porta e o homem entra mal-humorado. Toda semana esse senhor cumpre o mesmo ritual: toma um café na lanchonete em frente à agência, depois vai pagar contas e sacar dinheiro. O segurança sabe o nome dele: Frederico Silva. Mas o senhor Frederico Silva não sabe o nome do segurança, nunca olhou para ele, nem sabe que sua vida já foi salva por aquele homem em quem ele nunca reparou. Era uma quarta-feira abafada. Depois de sair da lanchonete, o senhor Frederico atravessou a rua e foi seguido por um homem. O segurança notou que o desconhecido olhava nervosamente para os lados e mantinha a mão direita na jaqueta. Estranhou o uso de uma jaqueta tão pesada naquele calor intenso. Algo muito forte aguçou os sentidos do vigilante. Uma voz interna lhe dizia que havia um grande perigo ali. Quando o senhor Frederico entrou na agência, o segurança deu o alarme para os colegas. Eles travaram a porta giratória no exato momento em que o estranho fazia menção de entrar. Agrupados em frente à entrada, formaram uma barreira humana. O rapaz compreendeu que suas intenções haviam sido descobertas. Sorriu maliciosamente, deu meia volta e saiu andando pela rua, como se nada tivesse acontecido. Naquele dia, o senhor Silva foi alertado pelo gerente de que estava sendo seguido, que deveria mudar sua rotina e seus hábitos, por motivo de segurança. Ele agradeceu, ignorando que um homem de quem ele sequer sabia o nome é que o havia salvo de um iminente latrocínio. * * * Durante nossa vida, somos frequentemente respaldados e auxiliados por pessoas de quem desconhecemos a identidade. São invisíveis. Passam despercebidas. Fazem seu trabalho silenciosamente e usufruímos disso sem nos darmos conta de sua importância. Constantemente, cruzamos com elas, mas não as vemos. Geralmente associadas a tarefas pesadas, braçais, serviçais, costumam ser ignoradas. Muitas vezes, até humilhadas e menosprezadas. No entanto, sem elas a vida seria muito diferente. Provavelmente seria inviável. Quando nos conscientizamos de que não somos autossuficientes e necessitamos de uma rede de pessoas cujas existências se interligam com a nossa, mesmo que elas não façam parte de nosso núcleo familiar ou círculo de amizade, devemos erradicar de nós o orgulho, o sentimento de superioridade, de arrogância. Se hoje somos servidos, amanhã poderemos estar em posição de servir. Lembremo-nos de ter gratidão por todos os que trabalham sem serem vistos, sem quase nunca receberem os créditos pelas tarefas executadas. Eles podem ser invisíveis para a maioria das pessoas, mas não o são para alguém muito maior do que todos nós. Redação do Momento Espírita. Em 25.8.2015.

sábado, 29 de agosto de 2015

APRENDA COM AS CRIANÇAS

Os adultos desejam ensinar tudo às crianças. Quando elas iniciam a balbuciar, não se cansam de repetir as palavras, a fim de que aprendam a falar de forma correta. Nós lhes ensinamos o alfabeto, os números, as cores. Mergulhamos com elas nos livros, auxiliando-as a descobrir as maravilhas do macro e do microcosmo. Somos os mais experientes porque já vivemos alguns anos a mais do que elas. Contudo, existem lições de sabedoria que essas criaturinhas nos ensinam, todos os dias. Quando uma criança se machuca, não importa se é um pequeno ou grande machucado, ela logo chora e procura o colo da mãe. Chorando, ela informa que está doendo, que aquilo a está incomodando muito. Buscando o colo da mãe, ela deseja ser acarinhada, confortada, auxiliada. Lição para o adulto: você não precisa suportar a dor sem chorar. E procure alguém em quem você confia para ajudá-lo. Pode ser um amor precioso, ou um amigo, um irmão. Enfim, alguém que lhe dê a mão. Quando uma criança cai de um brinquedo e quebra o braço, nem por isso deixa de, ainda com o braço engessado, subir no mesmo brinquedo. Deseja provar que é capaz, que consegue, que vai vencer. Ensina, desta forma, que não se deve desistir porque o negócio não deu certo ou porque foi reprovado em teste de seleção em uma empresa. O importante é não se deixar abater e continuar a tentar, até conseguir. Quando uma criança está com sono, ela se aconchega, fecha os olhinhos e dorme. Se o coelhinho de pelúcia perdeu uma orelha ou o carrinho quebrou, assim mesmo ela dorme. E no sono, se permite sonhar. Sonha com lugares lindos, bolas coloridas, muitos brinquedos, sorvete, brincadeiras e amigos. Nova lição para o adulto: se seu corpo assinala que está na hora de dormir, atenda-o. Recolha-se ao leito e descanse. Depois, você recomeçará as tarefas, e muito melhor. Não se permita a insônia por causa de coisas materiais. Se os índices da bolsa oscilaram, ou se sua conta bancária não apresenta tantos dígitos, durma mesmo assim. Seu corpo precisa recuperar as energias pelo repouso. Depois, você retornará às lutas, ao trabalho, às melhores decisões. Quando uma criança brinca, ela se permite entrar em seu mundo de faz-de-conta e mergulha por inteiro. Ela fantasia, fala com seus bichinhos e bonecos, cria histórias, sonha de olhos abertos. Ela é o homem que voa, o dono de uma grande fazenda cheia de animais, o astronauta a caminho do Infinito. Não há limites para a sua imaginação. E isso a satisfaz, a faz feliz. Com isso, diz ao homem que ele nunca deve deixar de sonhar e de perseguir os seus sonhos. Que deve se concentrar em seus desejos e perseverar. Tudo é possível àquele que trabalha, prossegue, não desiste. 
* * * 
A criança é alguém que nos diz, todos os dias, que é bom viver, que o mundo é belo e que não há limites para a mente humana. Ela nos afirma, com seu jeito de ser, que podemos sonhar, sem perder a esperança; que podemos sofrer reveses, sem cair no desânimo; que podemos preservar a saúde, mesmo que adversidades nos envolvam. Enfim, ela nos ensina que a esperança deve brilhar sempre em nossos olhos. Isto porque, depois deste dia, o sol despertará o amanhã e tudo terá o brilho do novo, do não conquistado, da alegria ainda não fruída.
Redação do Momento Espírita. Em 17.07.2009.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

APRENDA A CALAR!

Marie Chantal Dufour Eisenbach
Há muita necessidade de silêncio nos dias atuais... As pessoas ansiosas por se fazer ouvir, falam cada vez mais alto, como se isso bastasse para que os outros as escutassem. Em restaurantes, shoppings, filas, salas de espera, salões de beleza, aeroportos, se ouvem os falatórios. E, para aumentar o ruído, em alguns lugares tem um som ambiente mais alto ainda... E, quando não se tem alguém para falar, o celular serve. A pessoa faz uma ligação e se esquece de que está dividindo o ambiente com outros indivíduos, que não estão interessados no seu assunto. É impressionante como as pessoas falam muito, e falam alto... Além de ser um grande desrespeito aos ouvidos alheios, essa gritaria torna impossível um diálogo entre pessoas de voz moderada, nesses ambientes comuns. Mas não é só a falta de silêncio exterior que assola muitas pessoas hoje em dia. É também a falta de silêncio interior. Poucos indivíduos ouvem a própria voz e analisam seus pensamentos antes de exteriorizá-los. O hábito de meditar antes de expor uma opinião ou um julgamento, é muito pouco cultivado em nossa sociedade. E isso tem sido motivo de desarmonia e intrigas, de mal-entendidos e hostilidades. Saber calar, saber ouvir, ser senhor de suas palavras e de seus sentimentos é um desafio que merece ser pensado. Talvez, foi por ter percebido essa necessidade em nosso meio, que um Espírito amigo nos trouxe a seguinte mensagem: 
Aprenda a silenciar a palavra que sai gritada de seus lábios, ferindo a sensibilidade alheia e lhe deixando à mercê das companhias inferiores. 
Aprenda a calar... 
Aprenda a silenciar a palavra suave, mas cheia de ironia, que sai de sua boca ridicularizando, humilhando a quem se dirige e que lhe intoxica, provocando a dor de estômago, as náuseas ou a enxaqueca. 
Aprenda a calar... 
Aprenda a silenciar o murmúrio que sai entre dentes, destilando raiva e rancor e atingindo o alvo, que fere como punhal, ao tempo que lhe fragiliza a ponto de não se reconhecer, de se assustar consigo mesmo. 
Aprenda a calar... 
Aprenda a calar o pensamento cruel que lhe passa na mente e que, por invigilância, nele você se detém mais do que deveria. Você se assustaria se pudesse ver sua máscara espiritual distorcida. 
Aprenda a calar... 
Aprenda a calar o julgamento que extrapola o que vê e o que sabe, levando-o a conjeturar sobre o outro, o que não sabe e não viu, plasmando idéias infelizes que são aproveitadas pelos opositores daquele que é julgado. 
Aprenda a calar... 
Aprenda a calar todo e qualquer sentimento indigno, zelando pelas nascentes do seu coração, para que não macule e não seja maculado. Aprenda a vigiar os sentimentos para que cada dia, mais atento e vigilante, saia da esfera mesquinha a que se aprisiona voluntariamente, e possa alçar voos mais altos e sublimes. 
Aprenda a calar... 
E, enquanto não consegue deixar de gritar, falar, murmurar, pensar cruelmente e julgar, insista em orar nesses momentos. Nem que as frases lhe pareçam desconexas e vazias de sentimento. Insista na oração até que, um dia, orará não com palavras nem pensamentos, mas será sentimento por inteiro, amor, amor puro e verdadeiro em ação, dinâmico, envolvendo os outros e a si mesmo, verdadeiro discípulo que conseguirá ser. Aprenda, definitivamente, a calar! 
Redação do Momento Espírita, com base em mensagem do Espírito Stephano psicografada por Marie-Chantal Dufour Eisenbach, na Sociedade Espírita Renovação, em 14/03/2005. Disponível no CD Momento Espírita, v. 11, ed. Fep Em 31.01.2010.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O APÓSTOLO DOS GENTIOS

Na velha Jerusalém, numa manhã clara do ano 35, vamos encontrar um moço israelita de singular beleza e austeridade. O jovem Saulo representava toda a vivacidade de um homem solteiro, que contava cerca de 30 anos de idade. Possuidor de temperamento apaixonado e indomável, trazia no coração a Lei de Moisés. Trajando a túnica do Patriciado, falava de preferência o grego, a que se afeiçoara na cidade natal, no convívio com mestres amados, trabalhados pelas escolas de Atenas e Alexandria. Defensor ardoroso da Lei Moisaica, desejava submeter Roma e Atenas aos seus princípios. Foi nessa época que Saulo de Tarso iniciou a perseguição acirrada aos seguidores do Carpinteiro de Nazaré. Cego pelo orgulho de raça e julgando-se protetor da integridade do judaísmo dominante, não aceitava as idéias de fraternidade e humildade ensinadas pelo Cristo e disseminadas pelos discípulos galileus. Adentrou no pavilhão singelo, nas cercanias de Jerusalém, onde pôde ouvir as pregações do jovem cristão chamado Estêvão, a falar aos pobres e miseráveis, que o ouviam atentos e esperançosos. Entendendo constituir-se uma afronta aos ensinos de Moisés, envidou esforços para punir todos quantos se dissessem seguidores do Carpinteiro crucificado pelo Sinédrio, pouco tempo antes. Alguns dias depois, tombava Estêvão, o primeiro mártir do Cristianismo, a golpes de pedradas e zombarias, diante do tribunal implacável dos donos do poder temporário, do qual o jovem Saulo fazia parte. O Doutor da Lei, pregador eloquente e convicto, não demorou a convencer o Sinédrio da necessidade de eliminar os Homens do Caminho, como eram chamados, inicialmente, os seguidores do Cristo. Iniciou-se, então, a perseguição aos cristãos, na tentativa de apagar para sempre as ideias do Sublime Galileu. Investido dos poderes necessários, Saulo rumou para Damasco, onde, segundo informações, estaria Ananias, o velho pregador do Cristianismo. Seguido por pequena caravana, o Doutor da Lei se deslocou de Jerusalém para a extensa planície da Síria. Saulo seguia pensativo, meditava sobre a serenidade do jovem Estêvão, entregando-se ao martírio por amor ao Sublime Crucificado. Em dado instante, todavia, quando mal despertara das angustiosas cogitações, sentiu-se envolvido por luzes diferentes da tonalidade solar. Diante de tal situação foi tragado por inevitável vertigem e tombou do animal sobre a areia ardente. Uma luz, mais intensa que a luz do sol, lhe banhou os olhos deslumbrados. Viu, então, surgir a figura de um Homem de majestosa beleza, dando-lhe a impressão de que descia do céu ao seu encontro. Os olhos compassivos, imanados de simpatia e amor, iluminavam a fisionomia grave e terna, onde pairava uma Divina tristeza... O Doutor de Tarso contemplava-O com profundo espanto, quando, numa inflexão de voz inesquecível, o desconhecido falou: 
-Saulo!... Saulo!... Por que Me persegues? 
O moço de Tarso postou-se instintivamente de joelhos diante daquele vulto divino e interrogou em voz trêmula: 
-Quem sois vós, Senhor? 
Aureolado de uma luz balsâmica e num tom de inconfundível doçura, o Senhor respondeu: 
-Eu sou Jesus!... 
Daquele dia em diante, o jovem tarsense, deixando-se penetrar pelo profundo amor de Jesus Cristo, passou de perseguidor a defensor ardoroso do Evangelho. Lutou e amou... Humilhando-se, suportou o desprezo dos antigos amigos. Foi preso e apedrejado. Sofreu no rosto a saliva odienta dos orgulhosos e iludidos dos caminhos do mundo. . . Mudou seu nome de Saulo para Paulo de Tarso e foi o pioneiro nas viagens de pregação do Evangelho, nos primeiros tempos do Cristianismo. Conhecido como o Apóstolo dos Gentios deixou, em suas várias epístolas, um legado de amor e fidelidade ao Cristo Redentor. 
Redação do Momento Espírita, com base no livro Paulo e Estêvão, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. Em 25.02.2009.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

APÓS A TEMPESTADE

DIVALDO PEREIRA FRANCO
Não são muitas as pessoas que reconhecem o valor da mensagem impressa, atribuindo aos livros pouca ou nenhuma importância. Assim pensam, sem imaginarem o que seria dos ensinos de Jesus se os evangelistas não os tivessem anotado e entregue à posteridade. E da filosofia de Sócrates, sem os escritos de seu discípulo Platão. O tempo ter-se-ia encarregado, com certeza, de os diluir nos séculos, eis que todas as histórias que somente vivem na memória das criaturas e são passadas oralmente, de geração a geração, acabam por se tornar lendas, cujo fundo de verdade é bem difícil de ser identificado. Há algum tempo, uma jovem senhora vivia um drama familiar imenso. O marido a abandonara e ela não dispunha de meios para garantir o sustento dos três filhos menores. Lesada no afeto e sem vislumbrar melhores perspectivas, resolvera abandonar a vida física. Arquitetou uma estratégia e conseguiu uma substância corrosiva para realizar o seu intento. Enquanto retornava ao lar, acariciando no bolso a porção fatídica, passou por uma banca de livros espíritas e a capa de um determinado livro lhe chamou a atenção. Aproximou-se, abriu-o e leu alguns títulos. O atendente, vendo-a devolver o livro à prateleira e fazer o gesto de quem iria se retirar, perguntou-lhe se não desejava levar a obra. Timidamente, ela se desculpou, dizendo que não dispunha de dinheiro. O jovem, sensibilizado, tomou do volume e o colocou nas mãos da senhora, presenteando-a. Ela se foi com a obra intitulada Após a tempestade. Chegando em casa, pensou em ler uma página. Seria a sua despedida do mundo. Folheou-o e surpreendeu-se com um título: Suicídio. Sentou-se e leu atentamente as observações ali contidas a respeito dessa fuga da vida. Ao concluir a leitura, a vontade de matar-se já havia passado. Virou a página e leu outra mensagem, e outra mais, até que se deu conta de que tinha lido várias e seu estado de ânimo mudara. As lágrimas lhe brotavam com abundância dos olhos. Havia motivos para viver: Deus a amava e ela era responsável por três vidas, além da sua própria. A vida é patrimônio Divino e não deve ser malbaratada. Dispôs-se a prosseguir vivendo. Os meses escoaram e a situação se transformou. Conseguiu um emprego, voltou-se à religião, ela que já havia se esquecido de orar e, finalmente, cinco anos após, seu marido retornou ao lar. Cinco anos, após a tempestade... À semelhança da referida obra, outras tantas existem à disposição de almas aflitas e seres sedentos de orientação. Mensagens volantes, livros grandes, opúsculos, todos servem ao objetivo do Amor Divino: atender os seus filhos que vivem o infortúnio, para que se redescubram e descubram o amor que nunca perece. 
* * * 
O livro nobre pode ser considerado pão da vida. É preparado com o trigo da sabedoria para sustentar as criaturas, todos os dias. E difundir o bom livro é espalhar esperanças no mundo. As almas sofridas nele encontrarão sempre repouso para as suas fadigas e os ignorantes, a luz do conhecimento para as suas mentes. 
Redação do Momento Espírita com base em fato extraído do Divulgador do livro espírita, de maio de 1998, a respeito do livro Após a tempestade e nos verbetes Livro e livro espírita, do livro Repositório de sabedoria, v.2, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo P. Franco, ed. Leal. Em 26.05.2009.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

APÓS A MORTE

A morte é um fenômeno biológico inevitável. Os homens são Espíritos encarnados. Eles estão na Terra, mas não são da Terra. Permanecem aqui de forma transitória, a fim de que evoluam intelectual e moralmente. Por falta de informações, ao longo do tempo surgiram variadas teorias sobre o estado dos Espíritos após a morte. Concebeu-se a ideia de um céu de eleitos, em completo ócio e totalmente indiferentes ao tormento de quem não mereceu a salvação. Como contraparte indispensável, surgiu o conceito de um inferno onde os infelizes pecadores seriam eternamente torturados. De acordo com as concepções religiosas, inúmeras outras formulações teóricas foram feitas. Entretanto, as descrições sempre foram bastante genéricas e um tanto fantasiosas. Há evidentes incoerências em algumas descrições. Por exemplo, pessoas bondosas merecem o céu, mas se tornam egoístas ao lá chegar, pouco se importando com o sofrimento de quem não teve a mesma dádiva. Nessa linha, uma mãe amorosa e boa seria eternamente feliz, embora sabendo que seus filhos sofreriam para sempre. Essa artificialidade gerou bastante descrença. Consequentemente, persiste uma dúvida generalizada a respeito do que ocorre com o Espírito após a morte do corpo. O Espiritismo lança luz sobre essa questão. Ele não formula uma mera teoria, a partir de concepções filosóficas. São os próprios Espíritos desencarnados que relatam sua situação. A mediunidade bem empregada permite o intercâmbio com os integrantes do plano espiritual. Por meio dela é possível verificar como eles vivem, se sofrem ou são felizes e a razão disso. Não se trata de imaginar como está atualmente um Espírito que viveu na Terra de determinado modo. Ele próprio descreve sua situação. O livro O céu e o inferno compõe as obras básicas da Codificação Espírita. Ele é rico de relatos feitos por Espíritos a respeito de como se sentem, da vida que levam, de sua felicidade ou infelicidade. Desses relatos extrai-se que a morte não é um processo milagroso que converte homens em anjos. Quem era bondoso na Terra persiste bondoso e solidário no plano espiritual. Se amava o trabalho, permanece laborioso. Já o homem mesquinho também assim se mantém. Não há saltos na evolução. A análise dessas descrições revela que a felicidade depende de como se viveu, do bem ou do mal que se fez. Não há favores ou privilégios. Cada qual é feliz ou infeliz de acordo com seu próprio mérito. O homem caridoso é recebido pelos inúmeros seres a quem amparou enquanto na Terra. Ele experimenta extremo júbilo ao sentir-se amado, ao saber que bem gastou seu tempo e seus talentos. Já o criminoso vivencia grandes padecimentos. Ele vê suas vítimas, revê mentalmente as maldades que cometeu e não há fuga ou desculpa possível. O Espírito é feliz ou infeliz na exata proporção das virtudes que possui. 
* * * 
Ciente dessa realidade e de que você inevitavelmente morrerá, reflita sobre o modo como vive. Para evitar construir sua casa sobre a areia, no dizer evangélico, dedique-se a amealhar virtudes e a fazer o bem. Apenas isso garantirá sua felicidade, quando retornar ao seu verdadeiro lar. Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no Cd Momento Espírita, v. 17, ed. Fep. Em 03.11.2010.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

APONTAMENTOS CRISTÃOS

O Espírito André Luiz, autor da obra Nosso lar, escreveu uma mensagem intitulada Apontamentos cristãos, e nos adverte: 
Não te encolerizes. O punhal da nossa ira alcança-nos a própria saúde, impondo-nos o vírus da enfermidade. 
Não critiques. A lâmina de nossa reprovação volta-se, invariavelmente, contra nós, expondo-nos as próprias deficiências.
Não comentes o mal do próximo. O lodo da maledicência vai se derramar sobre os nossos passos, enodoando-nos o caminho. 
Não apedrejes. Os calhaus da nossa violência de hoje tomarão amanhã, por alvo, a nossa própria cabeça. 
Não desesperes. O raio de nossa inconformação aniquilará a sementeira de nossos melhores sonhos. 
Não perturbes. O ruído de nossa dissensão irá desorientar nosso próprio raciocínio. 
Não escarneças. O fel de nosso sarcasmo azedará o vinho da alegria no vaso de nosso coração, envenenando-nos a existência. 
Não escravizes. As algemas do nosso egoísmo irá nos aprisionar no cárcere da loucura. 
Não odeies. A labareda de nosso ódio irá incendiar nosso próprio destino. 
Não firas. O golpe da nossa crueldade, brandido na direção dos outros, retornará a nós mesmos, inevitavelmente, fazendo chagas de dor e aflição no corpo de nossa vida. 
* * * 
A Lei de Causa e Efeito rege o Universo todo. Tanto o mundo material como o espiritual estão sujeitos ao seu funcionamento perfeito e constante. Sabendo disso, o homem inteligente descobre a possibilidade de gerar causas positivas, através de escolhas, de ações e de pensamentos. Todas elas, inevitavelmente, irão gerar consequências ou efeitos, igualmente felizes. O Universo, por ser bom em sua essência, possui esses mecanismos de incentivo ao bem, trazendo sempre uma porção de felicidade a quem semeia felicidade. Por isso, possui mecanismos de alerta e correção. Quando um caminho infeliz é escolhido, reconduz, de outra forma, cada um de nós, à trilha mais segura e mais certa. Aquele que descobre o quanto faz bem semear o amor, a fraternidade, dificilmente volta a escolher caminhos desacertados. Aquele que consegue ouvir a voz da consciência a dizer: Muito bem! É este o caminho! Jamais esquece esta alegria, jamais se sente o mesmo. Semear amor para colher felicidade. É esta a semeadura da nova era. Eis como a Lei de Causa e Efeito ajudará na conquista de nossa ventura maior. Experimente isso em sua vida agora, e perceba os resultados valorosos imediatamente. 
Redação do Momento Espírita com base no cap. 34, do livro Vozes do grande Além, por diversos Espíritos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. Em 12.04.2011.

domingo, 23 de agosto de 2015

APOIOS ESQUECIDOS

Charles Plumb
Charles Plumb era piloto e, certa vez, seu avião foi derrubado, durante uma missão de combate. Ele saltou de paraquedas, salvando a vida. Caiu em campo inimigo, foi capturado e passou seis anos como prisioneiro. Sobreviveu e, ao retornar ao seu país, começou a fazer palestras, relatando a sua odisseia e o que a prisão lhe ensinara. Certo dia, em um restaurante, foi saudado por um homem: 
-Olá, você é Charles Plumb, o piloto que teve seu avião derrubado, não é mesmo? 
-Sim, respondeu. Como você sabe? 
-Ora, era eu quem dobrava o seu paraquedas. Parece que funcionou bem, não é verdade? 
O piloto ficou boquiaberto. Muito grato, afirmou: 
-Claro que funcionou, caso contrário eu não estaria aqui hoje. 
Naquela noite, ele não conseguiu dormir, pensando e pensando. Quantas vezes vi esse homem no porta-aviões e nunca lhe disse 
“Bom dia?” 
Eu era um piloto arrogante e ele, um simples marinheiro. Pensou nas horas que o marinheiro passou humildemente no barco, em meio a tantos outros pilotos, tão senhores de si, como ele próprio se considerava. Pensou que o marinheiro teve em suas mãos habilidosas, que enrolavam os fios de seda dos paraquedas, as vidas de tantos que nem conhecia. Mas a sua tarefa bem realizada era a responsável por vários deles continuarem a viver. Todos os que haviam precisado de um paraquedas, um dia. Hoje, quando Plumb inicia as suas palestras, o faz perguntando à plateia: 
-Quem dobrou o seu paraquedas hoje? 
Porque a vida é assim. Todos temos alguém cujo trabalho é importante para que possamos seguir adiante. Precisamos de muitos paraquedas durante o dia: físicos, emocionais, mentais, espirituais. Precisamos do coletivo e o motorista nos conduz, tendo nas suas mãos as nossas vidas. Mas nem o olhamos. Na repartição, aguardamos o cafezinho com quase ansiedade, desejando realizar a pausa entre as tarefas e saboreá-lo, com calma. No entanto, nos esquecemos de olhar nos olhos da funcionária que o serve, de a cumprimentar, de perguntar se está bem. Sequer lhe sabemos o nome. Entramos no elevador, dizemos o andar que desejamos, sem desejar um bom dia ao ascensorista que passa horas, dentro daquela caixa, que sobe e desce, sem parar. Por vezes, perdemos de vista o que é verdadeiramente importante. Esquecemos das pessoas que nos salvam, no momento oportuno, sem que lhes tenhamos pedido. Dos que nos suportam, dos que nos oferecem o ombro amigo para chorar. Dos que ouvem as nossas lamúrias e as nossas alegrias. Deixamos de saudar, de agradecer, de dizer algo amável, de sorrir. E que se dirá dos amigos espirituais? Nosso anjo de guarda que se desvela em cuidados? Deus, que todos os dias, pinta quadros novos de beleza para nosso deleite? Deus, cujo amor nos sustenta, cuja misericórdia nos alcança. Lembremos de mostrar nossa gratidão. Um telefonema, um sorriso às pessoas. Um pequeno cartão. Um mimo inesperado em invólucro delicado. Um instante de reflexão. Uma prece. Uma oração de gratidão. Obrigado, Senhor, por tudo que eu tenho. Por tudo que me dás. Pelo pão, pelo ar, pela paz. Por minha vida. Pela vida dos meus amores. Pelo dia de hoje, obrigado, Senhor.
Redação do Momento Espírita com base em fato da vida de Charles Plumb. Em 8.11.2013.

sábado, 22 de agosto de 2015

APLICAÇÃO DO TEMPO

Toda vez que sentimos cansaço, e que o dia parece ter furtado todas as nossas energias, poderíamos nos perguntar se o que fizemos foi realmente produtivo. Se esses desgastes dos dias nos têm trazido maiores benefícios para a vida; se podemos, nos momentos de pausa para o descanso, refletir a respeito do que temos feito, e nos sentirmos felizes porque fizemos além daquilo que seja a simples obrigação do dia. Será que no decorrer do dia, aproveitamos mesmo o tempo para produzir aquilo que seja o mais proveitoso para nós e para os outros? Muitos de nós temos gasto o tempo em grandes esforços, tantas vezes improdutivos. Trabalhamos em excesso, nos entregamos aos programas noturnos sem nos darmos conta das necessidades do repouso. Ficamos presos a dificuldades, de tal maneira, que nem no momento do repouso conseguimos nos libertar do fantasma da preocupação excessiva. Não queremos dizer que devemos nos entregar ao repouso que leva à ociosidade e à preguiça. O que devemos pensar é se estamos aplicando bem a nossa cota de tempo. Enquanto vivemos as experiências do mundo, nas lutas, no acerto dos equívocos, nas tentativas das construções felizes, poucas vezes, damos valor ao tempo que as bênçãos de Deus nos concede para a evolução de nós mesmos. É necessário que façamos uma avaliação, a respeito das horas a escoarem por nossas mãos. Se administrarmos melhor a nossa cota de tempo poderemos, sem maiores dificuldades, nos dedicarmos aos momentos de alegrias, às distrações, aos passeios, sem que deixemos de lado as obrigações profissionais, as do lar e da sociedade. O tempo bem administrado nos facultará melhor aproveitamento de nossas energias físicas e psíquicas. Passaremos ao equilíbrio: nem atividade demais, nem descanso excessivo. Podemos também buscar, nas horas do cansaço, o repouso através de uma leitura edificante. Através de uma visita a um amigo, mantendo um diálogo que nos acrescente alguma coisa. Pela atenção que prestamos aos nossos familiares nas atividades em conjunto no lar, que nos proporcionam um clima mental diferenciado daquele que costumamos ter no decorrer do dia. Não joguemos fora os tempinhos tantas vezes desprezados. Aproveitemos para escrever um ligeiro bilhete de carinho a alguém enfermo ou enfrentando momentos graves. Telefonemos a um familiar ou amigo, que não vemos há muito tempo, demonstrando atenção. Preguemos um botão, arrumemos uma gaveta para encontrar utilidade para muita gente. Desenvolvamos ideias felizes para fazer o bem a alguma pessoa que saiba necessitada. Não é preciso ficar neurótico de tanto trabalhar, apenas evitar as horas vazias, preservando-se da inutilidade daqueles que, ocupados em não fazer nada, deixam de servir, desvalorizando os minutos. Se aproveitarmos esses tempinhos, a curto prazo teremos encontrado motivos gloriosos de viver. Teremos aprendido a amar a vida. Teremos iluminado nosso caminho, pois cada ação produtiva saída de nós, é motivo de alegrias a nos clarear a existência. 
* * * 
Se nos dedicarmos à leitura quinze minutos por dia, teremos condições de nos mantermos atualizados. Depende de nós dispormos do tempo e, mais do que isso, selecionar o que ler, nesse precioso tempo de um quarto de hora por dia. Podemos imaginar quantos livros poderemos ler em um ano? Não esqueçamos: quinze minutos por dia. 
Redação do Momento Espírita Em 22.10.2012

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

APESAR DOS LIMITES

No tempo em que ainda era um simples estudante de Medicina, numa Universidade do Meio Oeste dos Estados Unidos da América, Dr. Marlin nutria a estúpida preocupação com um mundo cheio de pessoas aleijadas e de doentes sem esperança de cura. Por essa razão, era partidário da eutanásia e da eliminação dos portadores de deficiência física. Moço e irreverente, costumava travar calorosas discussões com os colegas que pensavam de maneira diferente da sua. Aos seus inflamados argumentos, os companheiros respondiam: 
-Mas, então, você não vê que nós estamos aqui, estudando Medicina, precisamente para cuidar dos aleijados, dos coxos e dos cegos? 
-Os médicos existem neste mundo para curar os doentes, era sempre a resposta que ele dava. E, se nada pudermos fazer em seu benefício, o melhor para eles é a morte. 
No entanto, uma noite, quando prestava serviço como interno de Hospital, no último ano do curso, Marlin foi chamado para assistir a uma parturiente, imigrante alemã, que morava num bairro miserável da cidade. Era o décimo filho que a pobre mulher dava à luz e o bebê entrou neste mundo com uma das perninhas bastante mais curta do que a outra. Antes de fazer com que a criança pudesse respirar por si mesma, acudiu-lhe um pensamento: 
-Que despropósito! Este pequeno vai passar a vida inteira arrastando esta pobre perna. Na escola será vítima de chacota dos outros meninos, que o chamarão "manco". Para que hei de obrigá-lo a viver? O mundo nunca dará pela falta dele. 
Mas, apesar dos pensamentos, o garoto levou a melhor. O jovem médico não conseguiu deixar de insuflar o ar da vida naqueles pequenos pulmões, pondo-os a funcionar. Cumprido o dever, o interno agarrou a maleta do ofício e foi embora censurando o próprio procedimento: 
-Não posso compreender por que fiz isto! Como se não houvesse filhos demais naquele antro de miséria. Não entendo porque deixei viver mais aquele e, ainda por cima, estropiado. 
Os anos correram... O Dr. Marlin consagrou-se como médico e conquistou vasta clientela. As ideias que sustentava na juventude mudaram. Agora ele se dedicava a salvar e conservar vidas. Um dia, seu filho único e a esposa morreram num acidente de automóvel e Marlin tomou a filha do casal para criar. Amava com todas as forças a netinha Bárbara. No verão em que completou dez anos, a menina acordou, certa manhã, queixando-se de torcicolo e de dores nas pernas e nos braços... Pensou-se que fosse poliomielite, a temível paralisia infantil, mas depois verificou-se que era uma raríssima infecção causada por vírus pouco conhecido, que também causava paralisia. O Dr. Marlin reuniu vários neurologistas e todos foram unânimes em afirmar que não se conhecia remédio nem tratamento algum para aquela enfermidade. Em todo caso, existe um médico no Oeste, homem moço, que escreveu recentemente sobre o êxito que tem obtido em casos como este, observou um dos neurologistas. O Dr. Marlin não teve dúvidas. Tomou a neta e se dirigiu para o hospital indicado. Quando ficou frente a frente com o médico, único capaz de salvar a neta tão querida, o Dr. Marlin observou que o jovem colega coxeava acentuadamente... 
-Esta perna curta faz de mim um igual dos meus doentes, observou o Dr. T. J. Miller, ao notar o olhar do Dr. Marlin. Consinto que as crianças me chamem de "manco" e elas adoram isso. De fato, prefiro esse nome ao meu nome real, que é Tadeu, e sempre me pareceu um tanto pomposo e ridículo! Como a tantos outros meninos, deram-me o nome do moço interno que uma noite me ajudou a vir ao mundo... 
O Dr.Tadeu Marlin empalideceu e engoliu a seco. Por alguns minutos lembrou-se dos pensamentos que lhe acorreram naquela noite distante: O mundo nunca dará pela falta dele. Estendeu comovidamente a mão ao jovem colega, o coxinho devotado, graças a quem a neta ia poder andar, outra vez, e pensou consigo mesmo: 
-Em todo caso, sempre é melhor ser coxo do que cego, como eu fui, por muito tempo. 
Redação do Momento Espírita adaptado de Seleções Reader’s Digest, de fev/1948. Disponível no livro Momento Espírita, v. 3, ed Fep. Em 26.04.2010.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

APENAS UM VOLTOU...

Explicar as parábolas de Jesus, para crianças, requer arte nas palavras, requer linguagem própria e muito cuidado. Recentemente, encontramos texto com tal iniciativa nobre, que alcança o seu objetivo com muita propriedade. Diz assim: 
-Certa vez Jesus andava pelo caminho, quando uns homens se aproximaram Dele. Aqueles homens estavam doentes. Eles eram vítimas de hanseníase, uma terrível doença de pele, na época, chamada lepra. Naquele tempo, não havia tratamento para esse tipo de doença e as pessoas que ficavam enfermas eram retiradas da cidade, e tinham que ficar longe de suas famílias, de sua casa. Quando alguém se aproximasse, elas deveriam gritar bem alto: 
-"Imundo, imundo...", que quer dizer "sujo, impuro", para que as pessoas se afastassem. 
Já pensou que vida triste? Não poder abraçar seus pais e amigos, dormir em sua cama confortável e ter de viver isolado de todo mundo?... Pois é... Aqueles homens viviam assim. Mas eles ouviram falar de Jesus, e esperavam ansiosamente o dia em que pudessem encontrá-Lo. Quando ouviram dizer que Jesus se aproximava, não ligaram para as regras nem para os homens, e correram até o Mestre. Eles sabiam que Jesus tinha o poder de curar os doentes e sarar suas feridas. Eles sabiam que Jesus era amoroso e bom. Ao se aproximarem daquele Homem de semblante tranquilo, se ajoelharam e falaram bem alto: 
-"Senhor, cura-nos!" 
Jesus ficou muito comovido ao ver aqueles homens, pois o Senhor conhece nosso coração e nossos sentimentos. Ele sabia o quanto eles eram infelizes. Então Jesus ordenou que fossem curados e a doença imediatamente desapareceu. Aquela pele machucada e cheia de cicatrizes foi transformada em uma pele lisinha e limpa igual à pele de uma criança. Os homens ficaram tão felizes que começaram a se abraçar e pular de felicidade. 
* * * 
O que você faria se acontecesse um milagre assim em sua vida? Você sairia correndo para comemorar? Você iria correndo agradecer a Jesus? Pois é. Nove homens pensaram da primeira forma, nem se lembraram de agradecer ao Mestre. Só um voltou correndo, ajoelhou-se diante de Jesus e agradeceu tão grande amor. 
* * * 
Podemos refletir sobre a mesma questão proposta à alma infantil: como temos agido em nossos dias, perante os tantos gestos de carinho que recebemos? Desde a ajuda mais simples, os pequenos favores e cortesias às grandes dádivas que recebemos, como a saúde, o corpo perfeito ou não, a oportunidade da vida. Será que estamos nos comportando como os nove que nem sequer voltaram para um simples agradecimento? Ou já conseguimos valorizar tudo o que recebemos, e cultivamos em nós a virtude da gratidão? Se pararmos para pensar, perceberemos que são tantas coisas para agradecer! Tantas coisas, que talvez, se as percebêssemos mais frequentemente, teríamos menos espaço nos pensamentos para as reclamações, as queixas, as tristezas. Reflitamos se estamos sendo suficientemente gratos em nossas vidas... 
Redação do Momento Espírita. Em 01.04.2009.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

APENAS UM LEMBRETE....

Lembre-se que você é um Espírito imortal vivendo breve experiência num corpo físico. Lembre-se que seu corpo é feito de matéria e, como tal, sofre o desgaste natural como tudo o que é matéria. Mas esse desgaste não atinge o Espírito. Assim, quando você perceber que a sua pele está enrugando, lembre-se de que esse é um fenômeno que não alcança o Espírito. Enquanto a sua pele enruga, seu Espírito pode ficar ainda mais radiante e mais iluminado. Você não pode deter os segundos, nem evitar que se transformem em anos. Não pode impedir que o seu cabelo caia ou se torne branco, mas isso não deve ser motivo para levar embora a vitalidade da sua alma imortal. Sua esperança jamais poderá estar atrelada à sua forma física, pois o ser pensante que você é, é o mais importante e sobreviverá por toda a eternidade. Sua força e sua vitalidade independem da sua idade. Seu Espírito é o agente capaz de espanar a poeira do tempo. Lembre-se de que você não é um corpo que tem um Espírito, é um Espírito temporariamente vivendo num corpo físico. Chegará o dia que você encontrará uma linha de chegada e perceberá que logo à frente há outra linha de partida... A vida é feita de idas e vindas... Partidas e chegadas. Um dia você terá que abandonar esse corpo, mas jamais abandonará a vida... Lembre-se que cada dia é uma oportunidade de viver e viver bem. Se acontecer de cometer um engano, não detenha o passo, siga em frente pois logo adiante encontrará outro desafio... A vida é feita de desafios... Vencemos uns, somos vencidos por outros, mas não podemos deter o passo. E o maior de todos os desafios é vencer a si mesmo, usando a razão para não se deixar dominar por vícios e prazeres excessivos e prejudiciais. Importante é não perder tempo vivendo de lembranças amargas e fotografias pela metade, amarelas e empoeiradas... O dia mais importante é o dia de hoje... E hoje você tem a oportunidade de reescrever a sua história... Conhecer novas paisagens... Colecionar imagens de cores vivas. Lembre-se que você é um Espírito feito de luz e a luz sempre pode suplantar as trevas... por mais densas que sejam. O importante é que jamais detenha o passo... Se as forças físicas não lhe permitem mais correr como antes, ande depressa. Se algo o impedir de andar depressa, caminhe lentamente, mas siga em frente. E, se por algum motivo, não puder mais caminhar sem apoio, use bengalas, muletas, cadeira de rodas. Mas vá em frente... E se, um dia, você não puder mais movimentar seu corpo para continuar andando, voe com o pensamento. Seu pensamento nada e ninguém poderá deter. Você é livre para pensar, para aprender, para alcançar os céus em busca de esperança e paz. O essencial é que você não pare nunca... Deus não criou você para a derrota. Deus criou você para a vitória, para a felicidade plena. E essa conquista é a parte que lhe cabe. Este é apenas um lembrete pois, um dia, um Sublime Alguém já nos disse tudo isso e nós esquecemos. Esquecemos que Ele saiu do corpo mas jamais saiu da vida... O Seu suave convite ainda paira no ar: Quem quiser vir após Mim, tome a sua cruz, negue-se a si mesmo, e siga-Me. Esquecemos que Ele afirmou com convicção e firmeza: Nenhuma das ovelhas que o Pai Me confiou se perderá. Eu sou uma de Suas ovelhas e você também é. Não importa a que religião você pertença. Não importa a que religião eu pertença. Somos as ovelhas que o Criador confiou ao Sublime Pastor da Galileia, para que Ele nos ensine o caminho que nos conduzirá à felicidade plena. 
* * * 
Este é apenas um lembrete... que você pode até desconsiderar... Mas uma coisa é certa: você não deixará de existir, como Espírito imortal que é e não evitará os percalços e as lições da caminhada, porque você, você é filho da Inteligência Suprema do Universo... Pense nisso! Redação do Momento Espírita. Disponível no cd Momento Espírita, v. 11 e no livro Momento Espírita, v. 5, ed. Fep. Em 06.03.2012.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

APENAS UM FILHO

Na aldeia era comum se encontrarem as mulheres na praça, em torno do poço que servia à comunidade. Era o momento em que elas faziam pequena pausa em seus tantos afazeres, aproveitando para trocarem ideias, conversarem a respeito das novidades que, afinal, naquela localidade, não eram muitas. Naquela manhã, encontraram-se três mulheres ao lado do poço. E, enquanto retiravam a água e enchiam seus potes com o precioso líquido, puseram-se a conversar. Falou a primeira: 
- Meu filho é muito forte, corre e pula. É com alegria que o vejo disputando corrida com outros meninos e vencer a todos. 
A segunda disse, logo em seguida: 
- O meu filho canta como os passarinhos. Acorda pela manhã e canta. Conhece belas canções e enche de harmonia os meus ouvidos. 
E, porque a terceira mulher permanecesse em silêncio, enquanto despejava água do balde em seu pote, um homem que as observava, perguntou: 
- Você não tem filhos? 
A jovem olhou para ele e respondeu, com delicadeza: 
- Tenho um menino. Mas ele é um menino normal como todas as crianças. 
Com seus potes cheios de água, as três mulheres foram caminhando, de retorno aos seus lares. No meio do caminho, pararam para descansar e o homem sentou-se ao lado delas. Passados poucos minutos, elas viram seus filhos vindo ao seu encontro. O primeiro vinha pulando pequenos obstáculos pelo caminho e correndo. Notava-se-lhe a vivacidade, a agilidade. O segundo vinha cantando uma linda canção e sua voz soava pelo caminho, de forma encantadora. O terceiro simplesmente vinha andando mas, ao ver sua mãe, foi em sua direção e a abraçou, com especial carinho, como se lhe desejasse transmitir energias renovadas. Depois, abaixou-se, pegou o pote cheio de água e foi andando, no rumo de casa. Nesse momento, as três mulheres se voltaram para o homem que continuava sentado à beira do caminho e lhe indagaram: 
- E então, o que o senhor achou dos nossos filhos? 
O homem levantou-se, demonstrando que prosseguiria seu caminho e respondeu, de forma sábia:
- Realmente, eu acabei de ver três meninos. Mas vi apenas um filho. 
* * * 
No Código Divino que conhecemos como o Decálogo, que nos chegou através do grande legislador hebreu, está escrito: Honra a teu pai e tua mãe, a fim de viveres longo tempo na Terra que o Senhor, teu Deus, te dará. A exortação nos remete ao preito de gratidão que devemos ter para com aqueles que são os responsáveis pela nossa vida na Terra. Os que nos geraram um corpo a fim de que, Espíritos imortais, transitemos pela Terra, progredindo e crescendo para a luz. Honrar pai e mãe é estar atento às suas necessidades, é auxiliá-los nas tarefas, é lhes dizer da gratidão, com afagos, carinho. Mesmo que possamos dizer que deles, por uma ou outra razão, não recebemos carinho, apoio, atenção maior, não nos esqueçamos de ser filhos. Qualquer que seja a circunstância, eles nos permitiram viver. E por isso estamos aqui, nesta abençoada escola chamada Terra, um planeta de tantas belezas e generosas bênçãos. Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base em lenda judaica. Disponível no CD Momento Espírita, v. 27, ed. FEP. Em 30.3.2015.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

APENAS O BOM SENSO

Observava a maneira maternal com a qual Dona Marta aconselhava um jovem rapaz que, aparentando seus trinta e cinco anos, trazia uma fisionomia triste e apagada. Embora trabalhasse em um salão de beleza dos mais finos da capital paranaense e tivesse uma clientela das mais selecionadas, faltava brilho em sua vida. Trabalhando mais ou menos doze horas por dia, em contato com as mais variadas personalidades, umas serenas e tantas outras desequilibradas, a rotina estava fazendo com que ele desanimasse cada vez mais. Onde o sossego e a tranquilidade se, ao retornar para casa, só enfrentava problemas tanto com os filhos quanto com a ex-mulher que quase o enlouqueciam? Como ter um descanso agradável se os familiares conseguiam transtorná-lo por completo? O tempo passava rapidamente, e percebia-se o total descaso para com tudo que o rodeava, inclusive as pessoas que o amavam. A autodestruição era evidente e mais forte a cada dia que passava. E não havia a menor chance de aproximação reparadora, pois ele mantinha a guarda fechada, não permitindo intromissões nem conselhos. Mas, Dona Marta, senhora escolada em muitos anos de trabalho no auxílio fraterno, como quem nada sabia, mas com muita sabedoria comentou com ele algo mais ou menos assim: Meu filho, como foi que você acordou hoje? O que você sentiu? Normalmente, como sempre, respondeu amargo. Nada de extraordinário! O mesmo tempo, as mesmas ações, o mesmo comportamento, ou seja, igual a todos os outros dias de todas as outras semanas dos últimos meses, retrucou com ironia. E ela, muito sábia, continuou: Mas, ao acordar, você abriu os olhos e pôde contemplar tudo a sua volta, não foi? Sim. Respondeu secamente. Depois, fez sua higiene sem auxílio de ninguém e tomou sua bela refeição matinal, desfrutando do bom e do melhor, em termos de alimentação, não é mesmo? Claro, esse é um item obrigatório em meu dia de trabalho, senhora. Mas depois disso, com toda disposição, encaminhou-se para cá, em seu carro, dirigindo, vendo a paisagem da cidade que lhe acolhe e, ao chegar aqui, ouviu e respondeu a várias saudações carinhosas de bom dia dos companheiros de trabalho e clientes, não foi? Com certeza, e também dei carona a um conhecido que se machucou no futebol e estava temporariamente proibido de dirigir! Então, meu amigo, você não pode dizer que não houve nada que não lhe impressionasse a rotina. Se você pode ver, ouvir, sentir, andar, falar, você já tem, além da normalidade, pois tem emprego para onde ir, amigos que o acolhem, saúde e percepções fantásticas do mundo, que nem todos possuem. Repense seu dia a dia e seja, de hoje em diante, um ser radiante, inteiro, porque viver só pela metade é uma perda da oportunidade de ser feliz. 
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Se você também acha que sua vida se transformou em triste rotina, mesclada de aborrecimentos constantes e que nada mais tem graça, pode ser que esteja percebendo o mundo pela metade. Nesse caso, quebre a monotonia, faça uma visita a um orfanato, a um hospital infantil, a uma casa de repouso para idosos. Entre em contato com essas pessoas solitárias e dependentes e dedique um pouco do seu tempo. Se as suas horas perderam a graça, ofereça-as a quem de fato dará a elas muita importância. Seja voluntário em alguma obra assistencial e verá que tudo a sua volta terá um colorido diferente, devolvendo a você o bom ânimo e a alegria de viver, trabalhar e ser útil. Pense nisso! 
Redação do Momento Espírita. Em 5.3.2013.

domingo, 16 de agosto de 2015

APENAS A OBRIGAÇÃO

A notícia chamou a atenção pela violência, como tantas que a mídia divulga diariamente. Essa, porém, tinha um quesito diferente. Jovens de classe média alta, escolarizados, bem vestidos, saudáveis, atacaram um morador de rua. O fato, ocorrido na madrugada de uma cidade grande, seria mais um nas estatísticas policiais, não fosse a presença de outra pessoa em cena. Esse também jovem, classe média, de boa família, reagiu de forma diferente ao ver o morador de rua sendo espancado. Sem pensar nas consequências, movido apenas pelos seus valores, ele se colocou entre os agressores e o morador de rua. Sua intenção era a defesa do agredido, chamar à razão aqueles que deixaram de ser racionais, ao se permitirem dar vazão a instintos bárbaros. Como consequência, tornou-se igualmente vítima da violência. Foi hospitalizado com várias fraturas. Submeteu-se a extensa cirurgia, para restauração dos ossos esmigalhados da face. Depois de vários dias, ao ter alta hospitalar, ainda sofrendo o risco de perder o movimento do olho esquerdo, teve oportunidade de afirmar que faria tudo novamente, se necessário fosse. Também disse que não se sentia um herói. Uma atitude não vai mudar o mundo, concluiu ele, mas pequenas coisas vão mudando. Pelo menos uma, duas ou três pessoas vão pensar alguma coisa, vão ensinar algo para seus filhos. A simplicidade nas palavras desse jovem demonstram a profundidade de seus sentimentos. Enquanto tantos acham que nada podem fazer para mudar o mundo, ele apenas fez o que achava que era seu dever. Enquanto tantos se encastelam na reclamação, na lamúria, ou se isolam, fechando-se em si mesmos e em suas casas para evitar as pessoas e os problemas, ele se expôs, executando sua parte para mudar o mundo. E, como todo idealista, acredita que o pode mudar. Sabe que não o poderá mudar sozinho, mas tem consciência que pode colaborar, fazer a sua parte. Por isso, não se sente herói. Apenas sente a alegria do dever cumprido. Mesmo que tenha pago o alto preço da agressão à sua integridade física, fez o que achava certo. 
 * * * 
Muitos sonhamos em mudar o mundo. Entretanto, esquecemos de cumprir nossas obrigações mais corriqueiras. Reclamamos da injustiça no mundo e continuamos a desrespeitar o outro, passando-lhe à frente em filas. Indignamo-nos com a corrupção de políticos, mas prosseguimos na tentativa de suborno a fiscais, guardas de trânsito e outros funcionários públicos. Queremos a paz, mas somos violentos no trânsito, dirigindo desrespeitosamente, fazendo do nosso veículo uma arma. Se queremos mudar o mundo, façamos nossa parte. Não precisamos realizar nada de extraordinário. Apenas cumprir o dever que a consciência nos dita. E porque somos a luz do mundo, conforme nos afirma Jesus, deixemos nossa luz brilhar nas ações do bem agir, nos conduzindo de maneira nobre e lúcida pelas estradas da vida. 
Redação do Momento Espírita. Em 25.07.2012.

sábado, 15 de agosto de 2015

APELOS COMUNITÁRIOS

Você se considera um bom membro da comunidade em que vive? Talvez, sem um exame mais detido, muitos de nós respondêssemos que sim, que desempenhamos bem o papel que nos cabe. Todavia, os fatos denunciam que grande parte dos cidadãos não colabora de forma satisfatória na sociedade da qual faz parte. Se todos tivéssemos espírito comunitário jamais seria necessário, por exemplo, fazer apelos para que se economize água, energia elétrica ou outro bem qualquer. Todos usaríamos os bens comuns com moderação e bom senso, pois se é verdade que no bairro ou na cidade em que vivemos não faltam esses recursos, em muitos lugares do país eles são escassos. Dia desses, assistindo ao telejornal, percebemos uma cena que nos comoveu. Eram as comunidades do Nordeste do país se organizando e se unindo para vencer a fome que por lá impera, devido à seca prolongada. A solidariedade era a palavra de ordem. Os moradores das várias comunidades se uniram para, juntos, fazer o que isoladamente ninguém conseguiria realizar. Numa casinha singela a dona da casa exibia a mesa farta, onde, tempos antes, a fome grassava, impiedosa. Com carinho servia a filharada, mas as lágrimas no rosto denunciavam a compaixão pelas outras mães, em cujo lar ainda coabitam a fome e a miséria. Aquela senhora, magra, simples e de grandeza moral indiscutível, pensava nos outros... Lamentava que outros filhos de Deus estivessem passando pelo que ela mesma havia passado e isso lhe causava pesar. Talvez aqueles que não experimentaram infortúnios como esses não consigam avaliar suas dimensões. Quem jamais passou fome, talvez não saiba aquilatar o que isso significa, pois o máximo que sentimos é o apetite exacerbado, que logo satisfazemos. Mas, fome, não. Diante dessa realidade, não entendemos como pode haver pessoas que preferem queimar seus estoques de alimentos a vendê-los a preços baixos, o que, segundo eles, prejudicaria o mercado. E, enquanto isso, criancinhas morrem de fome ou disputam o alimento com os animais. Observando esses quadros tristes por que passam nossos semelhantes, nossa consciência nos adverte que não temos o direito de desperdiçar nada, sob pena de sofrermos privações mais tarde. Mesmo que tenhamos a impressão de que nada temos a ver com tudo isso, não poderemos esquecer a recomendação do Cristo: Fazer aos outros o que gostaríamos que os outros nos fizessem. 
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Desprezar a fraternidade de uns para com os outros, mantendo a flama do conhecimento superior, será o mesmo que encarcerar a lâmpada acesa numa torre admirável, relegando à sombra os que padecem, desesperados, ou que se imobilizam, inermes, em derredor. 
Redação do Momento Espírita com pensamento extraído do verbete Fraternidade, do livro Dicionário da alma, por Espíritos diversos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. Em 17.12.2009.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

APELO DE UM IDOSO

Dizem que sou um velho. Por vezes, você passa por mim, com um grupo de amigos e ri do meu andar lento e atrapalhado. Você pode achar que eu não percebo os seus risos. Contudo eles me ferem, porque eu gostaria de andar rápido como fazia há tão pouco tempo. Mas as pernas não obedecem ao meu comando com presteza. Às vezes, não consigo distinguir com clareza o letreiro do ônibus e acabo por tomar a direção errada. Motorista, tenha um pouco de paciência comigo. Reconheço que você tem horário a cumprir, que muitos reclamam do seu desempenho, das suas freadas e da sua forma de dirigir. Pense um pouco. Não errei por querer lhe atrapalhar, simplesmente me enganei. Pense em quantas vezes você já se enganou na vida e precisou da compreensão dos outros. Explique-me onde descer, de preferência aquele ponto que seja menos complicado para eu retornar ao lugar onde estava e depois tomar o ônibus certo. Ajude-me. Eu poderia ser seu avô, a quem, com certeza, você trata com carinho e atenção. Se eu tivesse um neto como você, possivelmente não andaria sozinho pelas ruas. Ele me tomaria pela mão e me guiaria, impedindo que eu corresse tantos riscos. Ah, não esqueça. Quando eu estiver atravessando a rua e o sinal abrir, espere um minutinho mais. Não me apresse com buzina ou arrancada brusca. Posso tentar ser mais rápido e cair. Você que anda pela rua e é indagado por mim a respeito de algum local, use de paciência. Posso demorar um pouquinho para desdobrar o papel que trago no bolso com o endereço exato de onde eu devo chegar. Minhas mãos tremem e os dedos parecem rígidos. Espere que eu pergunte e se eu não entender, explique outra vez. Pense em quantas vezes você já pediu a seus pais, seus professores, seus colegas que repetissem a explicação de algo que você não entendeu. Procure ser claro. Fale devagar. Se possível, me acompanhe até o local mais próximo de onde eu devo chegar. Você que está na fila do caixa eletrônico, tenha calma. Preciso fazer tudo devagar. Afinal, ainda não consegui assimilar as grandes mudanças da eletrônica. Passar o cartão, guardar números de memória, a tal da senha e digitar... Tudo é um tanto complicado. Eu consigo fazer direitinho, se você me der um tempo. Lembre: sou um idoso, hoje. Já fui jovem, fui ágil, preciso, produtivo. Também fui impaciente. O tempo me ensinou a ter paciência comigo mesmo, pois já não consigo fazer tudo que desejaria. E com os outros que não conquistaram ainda a paciência. * * * A comunidade que despreza os seus idosos está longe do caminho da civilização. Mesmo que tecnologicamente apresente avanços surpreendentes, se não alcançou o respeito à vida humana, aos mais velhos, aos mais fracos, ainda necessita andar muito. A mais elevada nação será aquela que souber amparar o mais fraco. Que estabelecer programas de atendimento especializado aos necessitados e primar pela atenção àqueles que se esforçaram para que as leis fossem implantadas, a economia direcionada e a felicidade florescesse nos corações da infância, da juventude e da madureza. 
Redação do Momento Espírita. Em 08.12.2011.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

APELO DA ESPERANÇA

Minha querida amiga: Hoje, estou escrevendo especialmente para você. Tenho acompanhado os seus últimos dias, e muito tem me preocupado a tristeza e a surda revolta que encontrei em seu olhar. Não me passaram desapercebidas as suas preocupações e medos e, apesar de ter-me colocado ao seu lado, abrindo os meus braços para confortá-la, você passou ao largo, sem abrir o seu coração ao meu. Por isso estou aqui, insistindo com você! Não desista! A notícia da gestação inesperada surpreendeu-a com violência e você olha ao seu redor sem encontrar um caminho seguro para seguir. Aquele que compartilhou com você as horas mornas dos prazeres fáceis, talvez não queira saber mais da sua companhia e menos ainda, do fruto do instante que já é passado. Sua família talvez não queira saber dos seus problemas e, como de outras vezes, apenas lhe virará as costas, dizendo que você plantou e agora faz a colheita. Mas, amiga querida, o que cresce em seu íntimo não é um problema. É seu filho! Uma alma cara ao seu coração, um amor que volta aos seus braços para lhe acompanhar os dias que ainda estão para serem vividos. Não aborte! Não mate a felicidade que bate às portas de sua alma, pedindo-lhe pouso seguro! Pela sua mente passam imagens de todos os prazeres que terá que abandonar em nome de uma condição indesejada: as festas, os encontros, a liberdade de ir e vir como queria e com quem queria... Pensa em seu corpo... Em vê-lo deformado, em perder a forma cobiçada, no desconforto, na dor, no parto. Pensa nas despesas...nos gastos... Mas eu sei!... Eu sei de você! Sei que traz tantas coisas guardadas dentro do coração, tantos sonhos que não compartilha com ninguém, tanta doçura que não expressa... Amiga, eu a conheço! Sei que tem fome de amor, desse amor profundo e sem jaça que procurou nos braços de tantos que não a compreenderam e que muitas vezes, desprezam o seu valor. Aquele que retorna pelo seu ventre também sabe, por isso, escolheu-a para chamá-la pelo mais sublime nome humano que já pousou nos lábios dos seres que habitam essa terra : Mãe! Reconheço que não terá dias fáceis, que alguns serão de noites sem estrelas. Prometo, contudo, estar ao seu lado e ao lado de seu filho, observando, alegre, seu ventre crescer, pleno de vida! E digo mais: não contará apenas com a minha presença, mas, com a presença de muitos que a amam e que velam pela sua paz e pela paz de seu filho! Não desista de ser feliz! Não aborte seu sonho! Não mate seu filho, para o seu próprio bem! Com todo o carinho de meu coração. Sua amiga e companheira eterna: A esperança. 
Redação do Momento Espírita Em 19.07.2010.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

APELO AO MEU PAI

O relacionamento entre pais e filhos é dos mais gratificantes. Também dos mais difíceis, quando uma ou ambas as partes não oferecem o que há de mais precioso para um relacionamento saudável: o amor. Por isto, cremos muito oportuno pararmos um pouco e ouvirmos o apelo que um filho dirigiu a seu pai, no dia que deixava a casa paterna: De verdade te digo: partirei, pai, da tua casa. Digo assim: da tua casa! Porque não a sinto minha. Porque mesmo que tenha vivido aqui desde o dia em que nasci, quando comecei a compreender, entendi que nascer não basta para ser filho. Por isso partirei, e obrigado! Digo sinceramente que nada me faltou. Nem a casa, nem a escola, nem o médico, nem o brinquedo favorito. Nem a roupa que hoje me veste, nem o carro que usei ontem. Porque quero, sempre quis, algo mais que não me deste. E tua volumosa carteira, fonte sempre provedora de remédios materiais, nunca conteve bilhetes para comprar um minuto de tua atenção necessária, de teu tempo fundamental para ocupar-te de mim. Pensarás que fui um bom filho. Porque nunca te interessaste: sabes que fui reprovado na escola? Que terminei com minha namorada? Que fiquei bêbado em antros de baixo calão? Que faltava aula? Que experimentei maconha? Que roubava de mamãe? Não, não o sabes. Não houve tempo para pensar em coisas triviais. Enfim, nós, os adolescentes, somos travessos e preguiçosos. Mas, ao nos fazermos homens, corrigimos os passos! Pois não, pai, não era o caso! E toda a minha delinquência era um grito de chamada ao que jamais respondeste e que, quem sabe, nunca ouviste! Por isso, hoje me perguntas em que ponto me falhaste. Só poderia responder-te: Pai, falhaste! O que vou fazer? Quem sabe! Para onde irei? Que importa! Onde encontrarei o dinheiro para pagar esta vida com a qual me acostumaste? Não podes acreditar que eu viva sem ar condicionado, sem dinheiro para o CD, sem as garotas, sem as festas. Sem um pai envolvido em indústrias e altas empresas, que é importante em política, que tenha viajado ao Exterior e que frequente altas rodas. Não podes acreditar que viverei sem isso? Que assim a minha vida está feita? E quem disse que era vida a estadia nesses salões, pelos quais sais e entras! Mas nunca posso ver-te nem dizer-te: Pai, hoje ficas? Nunca morei na tua casa. Isso nunca foi vida... Agora é que vou viver... Fora daqui. Longe de ti, sem a esperança de vires a mim, e nunca chegares. Partirei, pai. Teus negócios, em investimentos de amor, atingiram a bancarrota, e declaras tua falência no comércio do meu amor. Pagaste caro e hoje perdes quase todo o teu investimento. Mas, se colocares à venda os poucos bens que te restam para salvar o negócio, proponho-me como sócio! E estuda bem a minha oferta, que não haverá melhor licitador. Eu te compro, pai, o tempo que não tiveste para dar a teu filho. Compro-te, para gozá-lo, todo este carinho inútil que nunca soubeste usar. Pagarei bem por tua risada, tua palavra, tua preocupação, teu ciúme e tua carícia. Compro esses sentimentos. Escuta o preço porque, mesmo que eu não saiba de finanças, poderei ser bom comprador. Se estiveres disponível como pai, eu te pagarei com o meu coração! 
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Se o Supremo Criador te dá um filho, treme pelo sagrado depósito que te confere. Faze com que esse filho, até os dez anos, te admire. Até os vinte, te ame. Sê para esse filho, até os dez anos, seu pai. Até os vinte, seu professor e até a morte, seu amigo. 
Redação do Momento Espírita, com base no texto De verdade te digo de autoria de Rogel Gutiérrez Diaz, e em pensamento de autoria desconhecida, ambos da obra Um presente especial de Roger Patrón Luján, ed. Aquariana. Em 18.08.2009.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

APATIA

DIVALDO PEREIRA FRANCO
e
JOANA DE ÂNGELIS
Olhando só para o chão, percebeu apenas o movimento das sombras sem cor. Sem coragem de olhar para o céu, deixou de ver o voo azul das borboletas. 
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Apatia é doença da alma. Congela a vontade, paralisa os movimentos, faz-nos estátuas vivas. Vivos-mortos que perdem o sentido de viver, que cedem ao automatismo dos dias, que adquirem visão monocromática de tudo e de todos. Indiferença. Os apáticos sofrem do vício da indiferença. Acostumaram-se com as notícias ruins, as desgraças, os flagelos destruidores, e tais fatos nem mais lhes tocam o coração. Não são capazes nem de enviar bons pensamentos às vítimas. Uma prece? Não. Prece é coisa de religioso fanático. 
– Dizem ou pensam. Acostumaram-se com o jeitinho, esquecendo que tal maneira de negociar ou resolver as questões é apenas corrupção disfarçada. Acostumaram-se com as lágrimas dos outros e elas não mais os emocionam. Foram obrigados a represar suas emoções. Expressar emoções é para os fracos. 
– Cochicham. Acostumaram-se com o mal... inacreditavelmente. 
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Acostumamo-nos a olhar mais para o chão do que para o céu, esta é a verdade, e depois de um tempo nem achamos o chão tão ruim assim... Isso é gravíssimo, pois se perde a referência de algo melhor, de algo maior, e todos precisamos mirar alto para poder crescer. A apatia nos aprisionou em estruturas de pensamentos absurdas, nos aprisionou à falta de emoções e em comportamentos robóticos insensíveis. Ela nos fez pensar que não somos capazes de mudar nada, que tudo sempre foi assim, que a Humanidade não tem jeito e que nosso futuro é desesperador. O apático é alguém que perde a batalha antes mesmo de enfrentá-la. 
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Elimina do teu vocabulário as frases pessimistas habituais, substituindo-as por equivalentes ideais. Não digas: "Não posso"; "Não suporto mais"; "Desisto". Faze uma mudança de paisagem mental e corrige-a por outras: "Tudo posso, quando quero"; "Suporto tudo quanto é para o meu bem" e "Prosseguirei ao preço do sacrifício, para a vitória que persigo". A apatia é doença da alma, que a todos cumpre combater com as melhores disposições. Na luta competitiva da vida terrestre, não há lugar para o apático. Receando o labor bendito ou dele fugindo, mediante mecanismos de evasão inconsciente, a criatura se deixa envenenar pela psicosfera mórbida da autopiedade, procurando inspirar compaixão antes que despertar e motivar amor. Reage com vigor à urdidura da apatia, do desinteresse. Ora e vence o adversário sutil, que em ti procura alojamento, utilizando-se de justificativas falsas. A lei do trabalho é impositivo das leis naturais que promovem o progresso e fomentam a vida. Não é por outra razão que a tradição evangélica nos informa: “Ajuda-te e o céu te ajudará”, conclamando-nos à luta contra a apatia e os seus sequazes, que se fazem conhecidos como desencanto, depressão, cansaço e equivalentes. 
Redação do Momento Espírita, com base no poema Apatia, de Adélia Maria Woellner, e no cap. 35, do livro Alerta, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. Em 21.7.2015

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

APARENTES INJUSTIÇAS

Entre historiadores, filósofos ou sociólogos, é corrente a ideia de que a evolução de uma sociedade se reflete na sua legislação. Segundo essa análise, quanto mais justas e ponderadas forem as leis de determinado povo, maior o seu desenvolvimento coletivo. Assim, percebemos que situações que eram aceitas há algum tempo, hoje são motivo de escândalo. As leis de hoje a ninguém concedem o direito de lavar sua honra, através do duelo, como no passado, sem estar sujeito a penalidades legais. Porém, tal prática ainda era corrente no Século XIX. Não podemos hoje conceber que homens e mulheres tenham direitos diferenciados ou que as mulheres sejam vítimas de preconceito. Porém, a legislação não possibilitava seu direito ao voto e restringia sua atuação no mercado de trabalho, nas primeiras décadas do Século XX. Para alterar essas situações, inúmeros foram os juristas, estudiosos, filósofos e legisladores que, de boa fé, buscaram desenvolver leis cada vez mais justas. E os mecanismos da justiça vêm sendo aperfeiçoados ao longo do tempo, visando proteger e garantir o bem-estar e a justiça para todos. Muito embora o esforço e dedicação e, apesar do progresso indubitável das estruturas jurídicas na sociedade, ainda há muita injustiça a grassar no mundo. Isso porque trazemos em nossa intimidade grande soma de imperfeições, que se refletem na sociedade. Como não temos perfeita consciência das leis de justiça e fraternidade, agimos movidos por sentimentos diversos que os da correção das ações e da justeza dos atos. E assim, porque não primamos pelo respeito às leis e aos direitos de nosso próximo, geramos injustiças. Ao mesmo tempo, nós mesmos também podemos ser atingidos pelas injustiças da sociedade. Conhecedor da natureza humana como ninguém, Jesus, percebendo nossas dificuldades íntimas e de relacionamento, nos preveniu a respeito. Não foi por outro motivo que nos ensinou que as bem-aventuranças estariam com aqueles que têm fome e sede de justiça. De forma nenhuma queria indicar o Mestre que deveríamos estar à mercê dos injustos e dos maus. Lecionou-nos a resignação frente a impositivos em que não temos como atuar em nossa defesa ou nos salvaguardar. Portanto, perante as injustiças que acontecem no mundo, das pequenas às de grande monta, que tenhamos a coragem da humildade e da paciência para enfrentá-las. Perceberemos, um dia, que muito melhor nos será perecer da injustiça que soframos, do que sermos os semeadores dela. Preferível sempre sofrermos a sua ação, mesmo não lhe compreendendo os motivos, de imediato, do que procurar fazer justiça com as próprias mãos. Assim, sejamos daqueles a primar pelo certo, pelo justo e pelo bem. E, se as limitações e dificuldades daqueles que nos cercam nos atingirem com o peso da injustiça, entreguemo-nos a Deus, confiando na sua sempre soberana Justiça. Pensemos: a Justiça Divina é infalível e a todos alcança. Os aparentemente injustiçados de agora estamos ressarcindo passados compromissos infelizes. Logo mais, a plenitude nos alcançará. 
Redação do Momento Espírita. Em 3.12.2013.

domingo, 9 de agosto de 2015

OS PAIS ENVELHECEM

Talvez a mais rica, forte e profunda experiência da caminhada humana seja a de ter um filho. Plena de emoções, por vezes angustiante, ser pai ou mãe é provar os limites que constituem o sal e o mel do ato de amar alguém. Quando nascem, os filhos comovem por sua fragilidade, seus imensos olhos, sua inocência e graça. Basta vê-los para que o coração se alargue em riso e cor. Um sorriso é capaz de abrir as portas de um paraíso. Eles chegam à nossa vida com promessas de amor incondicional. Dependem de nosso amor, dos cuidados que temos. E retribuem com gestos que enternecem. Mas os anos passam e os filhos crescem. Escolhem seus próprios caminhos, parceiros e profissões. Trilham novos rumos, afastam-se da matriz. O tempo se encarrega da formação de novas famílias. Os netos nascem. Envelhecemos. E então algo começa a mudar. Os filhos já não têm pelos pais aquela atitude de antes. Parece que agora só os ouvem para fazer críticas, reclamar, apontar falhas. Já não brilha mais nos olhos deles aquela admiração da infância e isso é uma dor imensa para os pais. Por mais que disfarcem, todo pai e mãe percebe as mínimas faíscas no olho de um filho. É quando pais idosos, dizem para si mesmos: Que fiz eu? Por que o encanto acabou? Por que meu filho já não me tem como seu herói particular? Apenas passaram-se alguns anos e parece que foram esquecidos os cuidados e a sabedoria que antes era referência para tudo na vida. Aos poucos, a atitude dos filhos se torna cada vez mas impertinente. Praticamente não ouvem mais os conselhos. A cada dia demonstram mais impaciência. Acham que os pais têm opiniões superadas, antigas. Pior é quando implicam com as manias, os hábitos antigos, as velhas músicas. E tentam fazer os velhos pais se adaptarem aos novos tempos, aos novos costumes. Quanto mais envelhecem os pais, mais os filhos assumem o controle. Quando eles estão bem idosos, já não decidem o que querem fazer ou o que desejam comer e beber. Raramente são ouvidos quando tentam fazer algo diferente. Passeios, comida, roupas, médicos - tudo passa a ser decidido pelos filhos. E, no entanto, os pais estão apenas idosos. Mas continuam em plena posse da mente. Por que então desrespeitá-los? Por que tratá-los como se fossem inúteis ou crianças sem discernimento? Sim, é o que a maioria dos filhos faz. Dá ordens aos pais, trata-os como se não tivessem opinião ou capacidade de decisão. E, no entanto, no fundo daqueles olhos cercados de rugas, há tanto amor. Naquelas mãos trêmulas, há sempre um gesto que abençoa, acaricia. * * * A cada dia que nasce, lembre-se, está mais perto o dia da separação. Um dia, o velho pai já não estará aqui. O cheiro familiar da mãe estará ausente. As roupas favoritas para sempre dobradas sobre a cama, os chinelos em um canto qualquer da casa. Então, valorize o tempo de agora com os pais idosos. Paciência com eles quando se recusam a tomar os remédios, quando falam interminavelmente sobre doenças, quando se queixam de tudo. Abrace-os apenas, enxugue as lágrimas deles, ouça as histórias (mesmo que sejam repetidas) e dê-lhes atenção, afeto... Acredite: dentro daquele velho coração brotarão todas as flores da esperança e da alegria. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v.13, ed. Fep. Em 10.07.2009.

sábado, 8 de agosto de 2015

APARENTE CONTRADIÇÃO

"É necessário que venha o escândalo; mas ai do homem por quem o escândalo venha."
Essas palavras de Jesus têm feito muitos cristãos se questionarem sobre a aparente contradição que encerram. Em primeiro lugar não se entende porque o escândalo é necessário. Em segundo, se é necessário, por que quem o comete será punido? Esses ensinos do Mestre são perfeitamente lógicos, levando-se em consideração o estágio evolutivo da Terra, e a Lei de Causa e Efeito. Em outras palavras, como é que as Leis Divinas corrigiriam os equivocados, senão lhes permitindo sofrer a consequência dos próprios atos? Quando Pedro desembainha a espada para cortar a orelha do soldado romano, Jesus adverte: Pedro, embainha tua espada. Quem com a espada fere, pela espada será ferido. Considerando-se que escândalo signifique mau exemplo, princípios falsos, abuso do poder, enfim tudo o que leva o homem à queda, a compreensão não se faz difícil. Talvez um exemplo elucide melhor a questão. Um assassino que tirou, de forma violenta, a vida de seus semelhantes, certamente deverá sofrer a reação dessa violência, pois receberá segundo suas obras. A violência pela qual ele haverá de passar, nesse caso, e o escândalo necessário. Mas não é preciso que outro homem seja o motivo desse escândalo, matando-o de forma violenta. Deus possui outros recursos que não a mão do homem para fazer com que as Leis se cumpram. Mas, se o homem se faz objeto do escândalo, ai dele, pois receberá, a seu turno, a reação do seu ato de insânia. Alguns dirão: Sendo assim, o mal é necessário e durará sempre, porque, se desaparecesse, as Leis Divinas se veriam privadas de um poderoso meio de punir os culpados. Logo, é inútil cuidar de melhorar os homens. Todavia, deixando de haver culpados também desnecessárias se tornariam quaisquer punições. Suponhamos que a Humanidade se transforme e passe a ser constituída de homens de bem: ninguém pensará em fazer o mal ao seu próximo e todos serão ditosos por serem bons. Essa é a condição dos mundos elevados, donde já o mal foi banido. Assim virá a ser a Terra, quando houver progredido o bastante. E, desnecessário será o escândalo. Quando os homens compreenderem as Leis que regem o universo moral, a elas se ajustando, não haverá mais necessidade de haver escândalos, ou seja, de haver sofrimentos. E isso não é de se lamentar. * * * A maldade não é um estado permanente dos homens; ela decorre de uma imperfeição temporária e, assim como a criança se corrige dos seus defeitos, o homem mau reconhecerá um dia os seus erros e se tornara bom. Não sendo o mal de origem Divina, será arrancado da face da Terra como o próprio Cristo afirmou: Arrancada será toda a árvore que meu Pai não plantou. 
Redação do Momento Espírita, com base no item 11, do cap. VIII, de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. FEB. Em 6.1.2014.