domingo, 30 de agosto de 2015

APRENDAMOS A AGRADECER

A porta giratória da agência bancária trava. O cliente, impaciente, começa a esvaziar os bolsos: chaves da casa, do carro, celular, óculos. O segurança se aproxima para checar se não há uma arma oculta sob a roupa. Não há. Aquele cliente é antigo, nunca andou armado. Ele libera a porta e o homem entra mal-humorado. Toda semana esse senhor cumpre o mesmo ritual: toma um café na lanchonete em frente à agência, depois vai pagar contas e sacar dinheiro. O segurança sabe o nome dele: Frederico Silva. Mas o senhor Frederico Silva não sabe o nome do segurança, nunca olhou para ele, nem sabe que sua vida já foi salva por aquele homem em quem ele nunca reparou. Era uma quarta-feira abafada. Depois de sair da lanchonete, o senhor Frederico atravessou a rua e foi seguido por um homem. O segurança notou que o desconhecido olhava nervosamente para os lados e mantinha a mão direita na jaqueta. Estranhou o uso de uma jaqueta tão pesada naquele calor intenso. Algo muito forte aguçou os sentidos do vigilante. Uma voz interna lhe dizia que havia um grande perigo ali. Quando o senhor Frederico entrou na agência, o segurança deu o alarme para os colegas. Eles travaram a porta giratória no exato momento em que o estranho fazia menção de entrar. Agrupados em frente à entrada, formaram uma barreira humana. O rapaz compreendeu que suas intenções haviam sido descobertas. Sorriu maliciosamente, deu meia volta e saiu andando pela rua, como se nada tivesse acontecido. Naquele dia, o senhor Silva foi alertado pelo gerente de que estava sendo seguido, que deveria mudar sua rotina e seus hábitos, por motivo de segurança. Ele agradeceu, ignorando que um homem de quem ele sequer sabia o nome é que o havia salvo de um iminente latrocínio. * * * Durante nossa vida, somos frequentemente respaldados e auxiliados por pessoas de quem desconhecemos a identidade. São invisíveis. Passam despercebidas. Fazem seu trabalho silenciosamente e usufruímos disso sem nos darmos conta de sua importância. Constantemente, cruzamos com elas, mas não as vemos. Geralmente associadas a tarefas pesadas, braçais, serviçais, costumam ser ignoradas. Muitas vezes, até humilhadas e menosprezadas. No entanto, sem elas a vida seria muito diferente. Provavelmente seria inviável. Quando nos conscientizamos de que não somos autossuficientes e necessitamos de uma rede de pessoas cujas existências se interligam com a nossa, mesmo que elas não façam parte de nosso núcleo familiar ou círculo de amizade, devemos erradicar de nós o orgulho, o sentimento de superioridade, de arrogância. Se hoje somos servidos, amanhã poderemos estar em posição de servir. Lembremo-nos de ter gratidão por todos os que trabalham sem serem vistos, sem quase nunca receberem os créditos pelas tarefas executadas. Eles podem ser invisíveis para a maioria das pessoas, mas não o são para alguém muito maior do que todos nós. Redação do Momento Espírita. Em 25.8.2015.

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