terça-feira, 30 de setembro de 2025

CADA QUAL TEM SEU DIA

Se souberes de alguém 
Que se afastou do bem, 
Nada digas de mal, 
Porque não sabes se a pessoa 
Que se complica ou se atordoa 
Tem algo que lhe agride a limpeza mental. 

Se escutares na estrada 
Que essa ou aquela criatura vive errada, 
Abençoa, trabalha e silencia... 
Com referência à tentação e à queda 
Ou à calúnia feroz que a tanta gente enreda, 
Cada qual tem seu dia. 
* * * 
Muitos de nós ainda temos certo prazer em notar, e depois divulgar, que alguém caiu, que alguém se perdeu ou cometeu um equívoco absurdo. 
Curioso que nunca é para nosso aprendizado. 
Nunca é com a intenção de nos precavermos do mesmo mal, mas sim por uma espécie de vício doentio. 
Há muito por trás disso, por trás desses pequenos prazeres que, muitas vezes, não reconhecemos facilmente. 
Acreditamo-nos melhores porque o outro está derrubado, porque o outro está caído e se perdeu pelo caminho. 
Como é tolo e absurdo esse sentimento.
Essa é a raiz da maledicência que consome a Humanidade, disfarçada de tantas outras coisas. 
Algo que antes estava nos cochichos, nas fofocas que iam de boca a ouvido. 
Depois, foi para os telefones. 
Agora, de maneira rápida, divulga-se nas redes sociais. Falar mal por falar mal.
Que ganhamos com isso? 
Nem nos damos conta de que se trata de um vício moral. 
Nem pensamos que, como estamos a caminho, poderemos, também, em algum momento, tropeçar e cair. 
Por isso, a orientação segura nos versos do poema: 
Se escutas na estrada, que aquela pessoa vive errada, abençoa, trabalha e silencia. 
Nada digamos de mal, pois não sabemos o contexto da vida do outro, não ouvimos o seu lado, não estamos vivendo a sua vida. 
Desconhecemos as suas lutas. 
Muito fácil julgar à distância. 
Muito fácil escandalizar-se na plateia, sem estar com as roupas do personagem no mesmo palco. 
Bom seria pensarmos como gostaríamos de ser alvo da compaixão alheia se fôssemos nós os caídos. 
Por isso, o convite do bem é o abençoa, trabalha e silencia.
Não amplifiquemos o mal, divulgando-o, sem critérios.
Abençoemos o irmão que cai, enviando-lhe vibrações de suporte para que possa se reerguer. 
É isso que devemos desejar uns aos outros. Em seguida, trabalhemos, vigilantes, para que nós não venhamos a cair.
Que o exemplo dele nos possa servir como lição para agir corretamente. Sejamos discretos, silenciando. 
Divulguemos o bem com alegria. 
Mas, no que diz respeito ao mal que descobrimos no outro, mantenhamo-nos em silêncio. 
Se tivermos algo a dizer, que seja diretamente a ele. 
Cada qual tem seu dia. 
Não temos ideia do que é estar na pele do outro ou mesmo calçar seus sapatos, como diz a expressão popular.
Compreendamos. 
Se queremos que o mal desapareça da face da Terra, trabalhemos em nós a maledicência, pois ela tem corroído a Humanidade por dentro, sem que percebamos. 
* * *
Se vires chaga ou lama, 
Cala-te, faze o bem, asserena-te e ama. 
Planta alegria e paz. 
De tolerância e amparo no caminho
Ou do braço leal de algum vizinho, 
Eu preciso e também precisarás! 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 30, do livro Alma e Vida, pelo Espírito Maria Dolores, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. CEU. 
Em 30.09.2025

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

MOEDA RARA

Classificamos como raro um objeto, um item que seja difícil de encontrar. 
Algo escasso ou incomum. 
Tratando-se de um livro, torna-se raro porque teve uma edição limitada. Ou porque restam poucos exemplares no mundo. 
Um selo torna-se raro por ter sido lançado em evento específico, comemorativo a data importante. Ou porque foi emitido com erro, cortado ou carimbado de uma forma diferente. Pode ser muito valioso até mesmo por haver vários exemplares em uma única folha. 
Em síntese, ser único ou quase isso. 
Portanto, raro é algo difícil de se obter, pouco ofertado, que dificilmente se encontra. 
Raras são as pepitas de ouro, os diamantes de alta qualidade e as esmeraldas. 
Em se falando de sentimentos, também há um que pode ser considerado raro, desde que não se apresenta em todos os corações. 
Chama-se gratidão. 
A gratidão exige retornar no tempo, olhar para trás, viver uma etapa não mais existente. 
Requisita humildade frente às conquistas, o compartilhamento diante da vitória. 
Raros são aqueles que, superadas as dificuldades, conseguem lembrar dos que os ampararam durante as lutas ferrenhas. 
Não importa onde estejamos, sempre haverá aqueles a quem devemos gratidão. 
Aos pais, não importa se, efetivamente, assumiram ou não sua função, devemos-lhe a vida. 
Gratidão por quem nos acordava pela manhã, com a mesa posta, a fim de que pudéssemos ir à escola, alimentados. 
À professora que nos alfabetizou, sem o que os passos seguintes seriam impossíveis. 
Ao conselho do professor, à fala amiga do colega, às orientações de quem estava próximo. 
Podemos imaginar quão diferentes seriam nossos passos se não fossem as ações dessas pessoas? 
É imperioso reconhecermos no outro o quanto ele contribuiu para sermos quem somos. 
Ou para chegarmos aonde nos encontramos. 
Somente o arrogante e pretensioso não consegue encontrar motivos de gratidão. 
Afinal, ninguém se faz sozinho, tampouco dispensa colaboração. 
A gratidão nasce da generosidade do coração quando reconhecemos nossas limitações. 
Quando lembramos do quanto precisamos da ajuda de muitos, a fim de que nossos esforços culminassem em êxito. 
A beleza da gratidão pede que não nos percamos na prepotência de quem se imagina autossuficiente. 
E, do alto das nossas conquistas, recordemos os apoiadores do nosso caminhar. 
Quantos serão? Poucos? Muitos? 
Talvez hoje não mais necessitemos que nos auxiliem, que nos amparem.
Mas nos merecem gratidão pelo que representaram quando as dificuldades nos alcançaram. 
Saibamos ser reconhecidos, agradecidos.
E lhes ofereçamos nossas preces, nosso abraço, nosso carinho. 
Traduzamos nossa gratidão em gestos constantes, oferecendo a flor preciosa dos nossos mais doces sentimentos. 
Afinal, não somos apenas aquilo que conquistamos com nossos esforços. 
Somos também a somatória de tudo aquilo que colhemos das mãos generosas daqueles que nos acompanharam a jornada, que cruzaram nossos caminhos, que ombrearam problemáticas conosco. 
Gratidão, sempre. 
Não esqueçamos de acionar essa moeda rara. 
Redação do Momento Espírita 
Em 12.05.2025

domingo, 28 de setembro de 2025

MODIFICANDO O PANORAMA MENTAL

Qual a diferença que pode fazer um sorriso na vida de alguém? 
Como uma palavra gentil, um gesto de afabilidade pode transformar o dia de uma pessoa? 
Não há quem possa dizer que não tenha dias difíceis, de insatisfação ou grande indisposição. 
São aqueles dias nos quais amanhecemos um tanto contrariados, com mau humor sem razão. 
Nesses dias, o café da manhã não sai de acordo, faltou a fruta que queríamos, queimamos o pão na torradeira. 
A saída de casa é cheia de imprevistos e parece que tudo conspira para nos atrapalhar ainda mais. 
Na rua, nos damos conta de que esquecemos algo importante, em casa. 
Perdemos a condução, por causa de alguns instantes. 
Ou, então, o trânsito e os outros motoristas parecem querer nos irritar. 
Temos, todos nós, vez ou outra, dias assim. 
Seja por uma indisposição física, uma preocupação grave que nos desestabiliza ou o cansaço acumulado pelos tantos afazeres. 
Por isso, é previsível que, muitas vezes, nos encontremos com pessoas que estejam nesse estado de ânimo. 
Ao entrarmos em uma loja, talvez aquele possa não ser um bom dia para o funcionário que vem nos atender. 
Estará com uma certa apatia, esforçando-se para não deixar transparecer seu mau humor. 
Ou o caixa do supermercado, de poucas palavras, sem um sorriso ou gentileza para nos agradar, apenas fazendo sua função. 
Pode ser que encontremos algum motorista, irritado e sem paciência, desequilibrando-se por algum desacerto nosso, que foi feito sem nenhuma intenção.
Nessas horas, quase sempre, nossa postura é de incompreensão e de irritação. 
Acreditamos que não deveríamos ser tratados assim, criticamos a postura do outro, tomando aquilo como algo pessoal. 
Chegamos a mudar nosso humor, dizemos que tal situação estragou nosso dia. 
Tudo isso porque nos deixamos contaminar pela problemática ou indisposição do outro. 
Porém, e se, nessas situações, conseguíssemos retribuir de forma diferente? 
Que tal se, ao nos depararmos com alguém irritado, impaciente, nos propuséssemos a contagiá-lo com o nosso bom estado de espírito? 
O que aconteceria se ao servidor de má vontade, desejássemos, com sinceridade, um excelente dia, paz e tranquilidade? 
O que aconteceria se respondêssemos com gentileza e paz de espírito a alguém que, no trânsito, dirige seu veículo nervosamente? 
A partir do momento em que nos damos conta de que a indisposição do outro não é por nossa causa, mas decorrente de problemas pessoais, tudo se modifica. 
Passamos a compreender suas razões e, ao invés de reagir na mesma sintonia, podemos agir em sentido contrário. 
Então, se os nossos dias estão tranquilos, ofereçamos essa tranquilidade para aqueles que dela precisam. 
Se a jornada terrena está em uma fase de calmaria, compreendamos que muitos estão aflitos, e que nossa palavra calma e ponderada, poderá ajudá-los. 
Compreendamos as dores alheias, oferecendo um sorriso, uma gentileza, um olhar amável. 
Dessa forma, com pequenos gestos, poderemos melhorar o dia de alguém, aliviando dificuldades de quem percorre horas de sofrimento. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 09.02.2023

sábado, 27 de setembro de 2025

MODERNO E EFICIENTE

A renomada cientista chegou na escola do município. 
Sua chegada atraiu repórteres, políticos e os curiosos pais. Dra. Brown, com mestrados e doutorados, dominando vários idiomas, ministrou uma aula para a quinta série. 
Seu objetivo era demonstrar o que havia de mais moderno e eficiente em termos de tecnologia, no mundo. 
Para atender a curiosidade, a aula foi transmitida por vídeo-conferência para a praça da cidade. 
Ela falou sobre as mais avançadas invenções tecnológicas e fascinou as crianças com aparelhos que trouxera em uma grande mala. 
Finalizou dizendo que cada aluno deveria trazer, no dia seguinte, um texto descrevendo o que de mais moderno e eficiente havia em sua própria casa. 
O melhor relato ganharia relevante amparo financeiro. 
No outro dia, havia ainda mais pessoas na praça desejando saber quem seria o premiado. 
Dra. Brown leu todos os textos e depois de algum tempo, emocionada, anunciou o vencedor. 
Era um menino de dez anos que escrevera: 
-A senhora pediu para escrever sobre o que houvesse de mais moderno e eficiente em minha casa. Bom, eu moro longe da escola. Levanto bem cedo porque venho a pé. Minha mãe me oferece um copo de café com leite quentinho. Ela é muito rápida para acender o fogão a lenha. Dos aparelhos que a senhora citou na aula não tem nenhum lá em casa. Não temos energia elétrica. Minha mãe ilumina toda a casa com uma lamparina, movida a querosene. Acho que ela também é cientista, como a senhora. A pouca roupa que temos é lavada no rio, com sabão de cinza. Quando volto da escola, o almoço está pronto. Mamãe e eu cuidamos da plantação em volta da casa: uma rocinha de arroz, feijão, algumas verduras. A refeição é sempre deliciosa, até com alguns ovos, porque temos galinhas. E um pomar, que visito todo dia. Gostei da máquina que filtra água, que a senhora mostrou. Lá em casa, também mamãe nos dá água boa. Ela ferve bastante a água do rio, deixa esfriar e coloca em vidros esterilizados. A senhora devia conhecer a minha mãe. Ela é linda. Seu maior sonho é aprender a ler. Mas contas ela faz muito bem. Até me ajuda na tarefa. De noite, ela narra histórias de um homem chamado Jesus e fazemos oração, antes de dormir. Às vezes, escuto meus colegas conversando sobre o que passou na televisão. Nesses dias, tenho vontade de ter uma em minha casa, mas depois a vontade passa. Porque sou muito feliz ajudando minha mãe, conversando com ela, sendo amado por ela. Aí, chego a ter certeza que lá em casa não falta nada. Lembrei do espremedor de frutas ultrapotente que a senhora mostrou. Achei interessante. Mas, lá em casa, comemos a fruta no pé, todo dia. Bom, acho que o meu texto não servirá para o que a senhora pediu. Escrevi porque minha mãe me ensinou a cumprir em dia tudo que for solicitado. Agradeço a sua visita à minha escola e a oportunidade de conhecer a segunda mulher mais importante do mundo. A primeira, sem dúvida, é a minha mãe. Termino minha redação seguro e certo: o que há de mais moderno e eficiente em minha casa atende pelo nome de mamãe. 
Terminada a leitura, concluiu a Dra. Brown: 
-Descobri hoje, nesta cidade do interior, uma lição que nenhuma universidade do mundo conseguiu me ensinar. Eu me preocupei muito em ter, em inventar, em chamar a atenção. Deixei de enxergar o que realmente vale a pena nesta vida: a extraordinária tarefa de ser mãe. O grande tesouro do amor. 
Redação do Momento Espírita, com base na crônica O que há de mais moderno e eficiente em sua casa?, de Ângela Aparecida Gonçalves Reis Ferreira, do jornal A voz da cidade, Paraguaçu, de 4 de maio de 2013. 
Em 12.05.2014.

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

ENCANTAMENTO IMEDIATO

HILDEBRANDO E LEOPOLDINA
ARAÚJO
Foi assim.
Ele seguiu da capital do Estado à cidade próxima. 
Os Campos Gerais, com suas superfícies suavemente onduladas, campos e declives acentuados cobertos por florestas, o encantaram, mais uma vez. 
Sussurros de segredos antigos lhe chegavam à acústica da alma, como se os pinheiros lhe lembrassem algo vivido outrora, em felicidade. 
O espetáculo, motivo de sua viagem, o encontrou no Teatro Ópera. 
Contudo, nenhuma cena do palco, nenhuma performance dos atores o marcou como o que descobriu na plateia. 
Era uma jovem de invulgar beleza e seu olhar insistente desejou mergulhar nos olhos dela. 
Terá ela percebido a insistência com que a contemplava?
Interessou-se em descobrir-lhe a identidade. 
Os amigos da cidade a conheciam. 
Era a primogênita  do segundo casamento de numerosa família. 
No dia seguinte, bateu à porta da casa dela e, tão logo recebido, despejou suas intenções: viera pedir a mão de Conceição. 
Afetuoso, o pai foi ao quarto da filha e lhe disse que ela recebera um pedido de casamento. 
Que devia responder? 
Ela se surpreendeu. 
-Quem seria o desconhecido audacioso? 
Disse ao pai que, antes de responder, gostaria de ouvir a voz dele. 
E foi assim, por detrás de um reposteiro, que ela ouviu as respostas firmes do jovem ao seu pai inquiridor. 
O timbre daquela voz lhe recordou algo bom, harmonioso. 
O coração saltou no peito, a mente pareceu mergulhar em um mar de lembranças não afloradas. 
No ano seguinte, estavam casados. 
Corria o ano de 1917. 
Foram trinta anos de consórcio de ideais, de corações. 
Um casamento feliz. 
A chama acesa na alma, mantida na doçura, somente amadureceu. 
Fruto sem fim, quando ele partiu, ela manteve seu legado de benemerência e serviço ao próximo. 
Não tiveram filhos. 
Mas cuidaram dos quinze irmãos dela, que conviveram com eles, além de muitos jovens conhecidos e desconhecidos para os quais foram mecenas, pais e incentivadores nas carreiras.
E tudo começou tão de repente. 
Acreditam alguns que o que surge repentinamente é somente paixão e arrefece nos dias, na convivência, ante os desafios.
Amor assim, surgido do encontro de dois olhos, somente encontra resposta em vidas anteriores. 
Amores vividos, compartilhados, retornam ao cenário da carne para o reencontro. 
Alguns, com o nobre desiderato de espalhar benesses a outros, filhos da alma. 
São amores de raiz profunda, fincada nas bases da afeição mais pura e duradoura. 
São reencontros de almas afins, por vezes, tendo singrado mares de dores, de dificuldades, em existências várias, consolidando o afeto, amadurecido nos temporais da vida.
Hoje, diz-se amor de rompante. 
Amor à primeira vista. 
Trata-se de verdadeiro reencontro de almas. 
Traz o selo de planejamento anterior à vida atual. 
Tudo planificado na Espiritualidade para se concretizar na Terra. 
Uma doçura de amor, que ultrapassa o tempo, vence a morte e retorna ao cenário do mundo para reviver a alegria dos esponsais, e distribuir os benefícios de uma afeição verdadeira. 
Redação do Momento Espírita, com relato da vida de Leopoldina Conceição Vicente de Castro e Hildebrando Cezar de Souza Araújo. 
Em 26.9.2025

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

A AMPULHETA

Ampulheta
No dia em que completou cinquenta anos, apareceu sobre sua cabeceira, uma ampulheta.
Uma linda peça em metal lustroso, tendo em seu centro duas ampolas de vidro extremamente finas. 
A areia branca, em movimento lento, já havia moldado dunas generosas na parte de baixo. 
Ele percebeu, também, que havia mais grãos nessa parte do que na parte por cair. 
Ao lado da distinta peça, havia uma mensagem: 
-Quem disse que a areia não pode parar? Era uma espécie de enigma? Um ensinamento? Um teste? 
Ele não tinha a mínima ideia. 
Pensou por dias, semanas... 
Parar a areia? O que é capaz de segurá-la? 
E começou a fazer algumas experiências. 
Aumentou seu tempo na prática de meditação. 
Transformou numa disciplina diária. 
Após cada momento de introspecção, ia lá dar uma olhada no instrumento. 
A areia continuava caindo. 
Enquanto fazia suas orações, tentava perceber se a areia havia parado de correr, pelo menos por um segundo. 
Mas não percebeu nenhuma mudança. 
Enquanto fazia suas leituras à noite, alimentando-se de mensagens edificantes, preparando-se para um sono reparador, vez ou outra, entre parágrafos, o olho dava uma escapada para o lado, tentando perceber alguma coisa diferente. 
Tudo igual. 
Continuou seus dias até que um acontecimento o surpreendeu. 
Sua rotina de trabalho incluía muitas horas fechado num escritório, sozinho, lidando com mensagens, telefonemas, bancos, clientes. 
Mesmo trabalhando meio período em home office, aquelas horas sentado, olhando para telas, números, resolvendo problemas, eram extremamente cansativas. 
Pausas eram sempre bem-vindas, mas ele não se dava esse direito. 
Precisava render mais, cumprir prazos, buscar a excelência em tudo. 
Num meio de tarde de um dia de semana qualquer, alguém simplesmente entrou em seu escritório, quase que derrubando a porta. 
-Pai, pai! Preparei uma surpresa. Você precisa vir comigo agora. 
Como recusar o convite de uma criança tão doce e com aquele sorriso de quem tinha feito arte? 
Sua filha o pegou pela mão e o levou para a parte de trás da casa. 
Ela havia preparado um piquenique só para os dois. 
Fez tudo sozinha, sem ajuda de ninguém. 
Estendeu a toalha, colocou pratos, talheres, trouxe o suco e a metade de bolo que havia. 
Ah! E sem esquecer a xícara de cafezinho do pai. 
Além disso, posicionou um pequeno quadro negro com os seguintes dizeres: 
"Piquenique do papai e da filhinha."
Ele ficou encantado. 
Significava muito ela ter feito tudo aquilo sozinha. 
A iniciativa, a capacidade de preparo, a idealização... 
Só que ela não parou por aí. 
Em volta da toalha, havia enfeites. 
Ela havia decorado com algumas peças que encontrou pela casa. 
Pequenos vasos de flores, souvenirs de viagens, brinquedos dela e... algo do pai. 
Ele não conteve a emoção. 
Ali, em volta do singelo piquenique, estava a sua ampulheta.
Estava virada de lado e a areia parada. 
Ele entendeu tudo.
Lembrou da mensagem: 
-Quem disse que a areia não pode parar? 
Sentou-se, aproveitou o momento e não se lembra quando saiu dali. 
Redação do Momento Espírita 
Em 24.09.2025

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

NOITE DE GRATIDÃO

Festa de aniversário. 
Como tantas outras. 
Ou será que não? 
Ambiente aconchegante, não demasiado amplo. 
Música e leveza no ar, flores nas mesas, toalhas delicadas.
Cumprimentos à porta, sorrisos e abraços. 
Nesses momentos, é encantador reencontrar amigos que não víamos há muito tempo, companheiros de trabalho, antigos chefes de repartição. 
Tudo é tão agradável que quase chegamos a pensar que a festa foi concebida essencialmente para nós. 
A conversação flui e desejamos tirar o atraso de tanto tempo sem nos reencontrarmos. 
Recordamos tempos vividos, rimos e sorrimos, entre o saborear dos pratos do jantar. 
Finalmente, chega o momento em que serão oferecidos os doces. 
Canta-se os Parabéns e a voz de um amigo, recordando os tempos em que cantava e cantava muito, se ergue, quando os outros se calam. 
Sua voz ressoa com os versos seguintes da canção, com os quais deseja ao aniversariante tudo de bom que a vida pode lhe oferecer, muita saúde e amigos também. 
Aplausos se confundem. 
Já não se sabe se aplaudimos o homenageado da noite ou o convidado cantante, que a todos emocionou. 
Os olhos contemplam a mesa de doces, artisticamente montada, cheia de cores e de formas. 
Faz-se ouvir a voz do aniversariante. 
É um verdadeiro poema de gratidão aos pais, à família, aos amigos, à vida. 
Recorda detalhes, fala do cinquentenário que se cumpre. 
Do quanto fez. 
Do tanto que ainda há a fazer. 
Sucede-lhe a mãe. 
Em uma folha de papel, para não esquecer dos versos tecidos no amor, ela encanta os presentes dizendo da surpresa da gravidez, da inexperiência da mocidade, da chegada do pequenino. 
Tudo versa gratidão: ao marido, aos avós do menino, pela recepção amorosa daquele pedacinho de gente. 
Enaltece os talentos do filho, poeta e músico. 
E quando todos pensavam que poderiam servir-se dos docinhos que estavam ali, acenando doçura, o irmão vem à frente para falar do quanto é grato a Deus por ter esse irmão.
Lembra os momentos de compartilhamento do quarto, das travessuras e das peripécias vividas juntos, considerando a proximidade das suas idades. 
-Como aprendi com você! Como é bom tê-lo como irmão mais velho! 
Falam depois outro irmão, a irmã... 
Dois amigos se entreolham. 
Desejariam tomar a palavra. 
Falar também de como aquele ser é importante em suas vidas, o quanto lhes faz bem a sua convivência, repartindo versos, rimas e canções. 
Como a sua presença é significativa para eles. 
Desejariam falar... mas se detêm. 
Um segreda ao outro: 
-Melhor nos calarmos e dizermos a ele no particular. 
Afinal, a noite foi recheada de manifestações e todos anseiam por saborear as doçuras. 
* * * 
Noite de gratidão. 
Os aniversários são momentos em que constatamos o quanto a nossa vida influencia a vida de outros. 
Temos uma amiga que costuma anotar, ano a ano, os cumprimentos individuais. 
E compara, para ver se cresceram em número. 
Diz ela: 
-É bom saber se estou sendo útil, amiga, irmã. Os números me alertam. 
Quando descobrimos que explode gratidão, sabemos que estamos jornadeando de mãos dadas. 
Somos companheiros, amigos, irmãos. 
Redação do Momento Espírita 
Em 22.09.2025

terça-feira, 23 de setembro de 2025

LIÇÃO DE UM CORAÇÃO INFANTIL

Maurice Druon
Foi ao visitar o hospital que o menino conheceu a garota doente. 
Ao entrar, ele teve uma vaga impressão de tristeza. 
Achou estranho. 
Afinal, o médico lhe mostrou um grande armário com pílulas contra tosse, pomada amarela contra bolhas, pó branco contra febre. 
Mostrou-lhe a sala onde se podia olhar através do corpo de uma pessoa como através de uma janela, para ver onde a doença se escondeu. 
Mostrou-lhe outra com espelho, onde se operavam tantas coisas que ameaçavam a vida. 
-Estranho, pensava o garoto. Se aqui impedem o mal de ir adiante, tudo devia parecer alegre e feliz. Por que estou sentindo tanta tristeza? 
O médico lhe explicou como a doença insistia em entrar no corpo das pessoas. 
Que havia mil espécies de doenças, que usavam máscaras para que não pudessem ser reconhecidas e como era difícil manter a saúde. 
Explicou ainda que era preciso estudar muito para desmascarar, desanimar a doença, colocá-la para fora e atrair a saúde, impedindo-a de fugir. 
No entanto, quando entrou no quarto da doentinha, ele a achou muito bonita, mas pálida. 
Os cabelos se esparramavam pelo travesseiro. 
Ela lhe disse que não podia andar. 
Também não tinha muita importância porque ela não tinha lugar nenhum para ir. 
Roberto lhe falou do jardim, cheio de flores, que ele tinha em sua casa. 
Ela pareceu se animar um pouco e respondeu que se tivesse um jardim, talvez sentisse vontade de sarar, para passear entre as flores. 
Enquanto ela continuava desfilando sua tristeza, contando das pílulas e injeções que devia tomar todos os dias e dos exercícios que precisava fazer, Roberto pensava: 
-Para esta menina sarar, é preciso que ela deseje ver o dia seguinte. Se ela tivesse uma flor, com sua maneira toda especial de se abrir, de improvisar surpresas, talvez quisesse sarar. Uma flor que cresce é uma verdadeira adivinhação que recomeça cada manhã. Um dia ela entreabre um botão, num outro desfralda uma folha mais verde que uma rã, num outro desenrola uma pétala. Talvez esta menina esqueça a doença, esperando cada dia uma surpresa. 
Roberto afirmou que ela iria sarar e desejou ardentemente isto. 
Depois foi providenciar flores, diversas flores e as colocou sobre a mesa, perto da janela, aos pés da cama. 
Trouxe uma esplêndida rosa, que parecia ir lentamente abrindo suas pétalas como se estivesse envergonhada ou talvez quisesse guardar a surpresa para o dia seguinte. 
Então, a menina que somente ficava olhando o teto e contando os buraquinhos da madeira, contemplou as flores e sorriu. 
Naquela noite mesmo a tristeza saiu pela janela e a menina começou a mover as pernas. 
* * * 
Você sabia... 
...que a medicina não pode quase nada contra um coração muito triste? 
Para se curar dos males físicos é preciso ter vontade de viver. Todo bom médico sabe disso. 
E sabe também que para travar a luta ininterrupta contra a doença, preservando a saúde, é preciso ver nos pacientes seus irmãos. 
Em síntese, é necessário amar muito as criaturas. 
Só assim ele tem condições de detectar as doenças e restabelecer a saúde dos seus pacientes. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 11, do livro O menino do dedo verde, de Maurice Druon, ed. José Olympio. 
Em 23.09.2025

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

MODELOS

Que modelos temos apresentado aos nossos filhos para que eles possam seguir? 
Às vezes, buscamos modelos de longe, nomes expressivos que tenham realizado grandes benefícios para a Humanidade.
Se são autênticos, naturalmente falam à alma do jovem, que é idealista por natureza. 
Contudo, existem, por vezes, criaturas bem próximas a nós, que não valorizamos devidamente. 
Avós, parentes, amigos que traduziram sua vida em legado de paz, que sacrificaram tudo por seus ideais, que exerceram suas atividades para além do dever. 
Lemos, certa feita, acerca de um prisioneiro político romeno que somente aos setenta e seis anos, graças à queda do regime, pôde visitar seus filhos e conhecer seus netos. 
Um homem de setenta e seis anos, de profundos olhos azuis que, apesar de toda a dureza e maus tratos sofridos na prisão, manteve seu entusiasmo pela vida, na certeza de que tudo valera a pena. 
Mesmo o sacrifício da família, do prestígio, do poder que gozava. 
Contemplando o mar, nas areias das praias americanas, comendo batatas fritas e aprendendo com os netos a atirar um disco de plástico, exclamava: 
-Que belo sonho. Que maravilha. A vida vale a pena ser vivida em toda sua plenitude. 
Um de seus netos, alguns dias depois, precisou escrever uma redação para a escola. 
Durante várias horas ele trabalhou duro, sobre as folhas de papel. 
Quando terminou, leu em voz alta, para sua mãe emocionada:
-Conheci um verdadeiro herói. O pai de minha mãe foi parar na cadeia por falar abertamente contra o governo. Depois de seis anos de solitária prisão, ele foi libertado. Minha mãe, meu tio e minha avó saíram do país. Ele não foi autorizado a ir embora com eles. Sozinho, ficou em seu país amargando a dor da separação e o desrespeito de amigos e parentes que o consideravam um fracassado. Ouvir falar de meu avô fez com que eu entendesse que lutar por minhas crenças é muito importante para mim. Na quinta série escrevi à professora uma carta de protesto porque considerei que ela tomara uma decisão injusta em relação a um de meus amigos. Atualmente, sou o representante da turma no Conselho de alunos e estou lutando com firmeza para melhorar nossa escola. Tenho orgulho de meu avô romeno. Espero em Deus que possa vê-lo outra vez. 
O exemplo é nobre e, como percebemos, estabeleceu rumos dignos a outras vidas. 
Sua lição foi a de que não devemos silenciar nossa voz na defesa dos valores e da verdade. 
Ao contrário, devemos falar para sermos ouvidos. 
Senão, como já aprendemos a sentir, sempre haverá uma parte em nós que permanecerá insatisfeita. 
Lutar pelos ideais de enobrecimento é ensinamento que não devemos relegar a segundo plano, em se falando de nossos filhos, nossos tesouros e responsabilidade maior. 
* * * 
Aproveitemos todas as lições com que a vida nos honra as horas. 
Estejamos atentos, tendo olhos de ver e ouvidos de ouvir. 
Os exemplos passam ao nosso lado e suas experiências são lições significativas que não podemos ignorar. 
Redação do Momento Espírita, com base no Artigo O que os heróis nos ensinam, da Revista Seleções Reader’s Digest, de fevereiro de 1998. 
Em 29.06.2017.

domingo, 21 de setembro de 2025

UM MODELO PARA SEGUIR

É normal! 
Esta é uma expressão que se escuta muitas vezes, quando se deseja justificar determinados comportamentos e atitudes. 
É normal! Todos fazem! 
Em verdade, nos equivocamos. 
O fato de muitos procederem de determinada maneira não quer dizer que aquilo seja normal. 
Por exemplo, pode ser comum dizer palavrão. 
Mas, com certeza, não será padrão de normalidade, a não ser que nos esqueçamos dos itens mínimos de educação. 
Pode ser comum a mentira, o enganar o outro. 
Contudo, não poderá ser considerada atitude normal, pois fere a ética. 
Observando bem, constatamos que os seres humanos somos muito propícios à imitação, a copiar modelos. 
Uma atriz aparece com um vestido diferente e, logo, é imitada por muitas mulheres. 
As lojas reproduzem aquele modelo, disponibilizando-o à venda, sabendo que terão mercado garantido. 
O corte de cabelo do ator famoso de filme em cartaz, de imediato é imitado por centenas de garotos. 
Assim é com a gíria que se alastra como rastilho de pólvora, com trejeitos, danças. 
A adolescente aparece na escola com um tênis da marca X.
É o que basta para as colegas pressionarem os pais por um igual. 
Assim é com quase tudo. 
Imitam-se falas, maneiras de andar, de se expressar. 
Fazer como o outro, agir como algum modelo se torna nocivo, quando a ação imitada conduz a algo ruim. 
No século XIX, quando o escritor russo Léon Tolstoi publicou seu famoso romance Anna Karenina, o número de suicídios multiplicou. 
As mulheres que se acreditavam não amadas, que tinham problemas semelhantes aos da pobre heroína do romance russo, procuraram a mesma falsa porta do suicídio. 
Mas, se há exemplos ruins, existem, de outra parte, exemplos de extraordinário valor. 
E nos reportamos ao maior de todos os exemplos. 
Aquele que afirmou: 
-Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. 
Há mais de dois mil anos, Ele lançou Sua proposta de felicidade para o mundo. 
E, no entanto, embora homens e mulheres de nobreza O tenham seguido, dado a vida pela verdade que Ele expressou, a Humanidade, como um todo, ainda anda distante de imitá-Lo. 
Como seria salutar a todos nós se O buscássemos imitar em nossos dias. 
Se O tomássemos verdadeiramente por Modelo e Guia e nos dispuséssemos a fazer o que Ele fez. 
Afinal, nada tão difícil. 
O segredo é fazer ao outro aquilo que se deseja para si. E, como todos desejamos o bem, o belo para nós é o que nos compete desejar e fazer ao nosso próximo. 
* * * 
Pensemos nisso. 
O Evangelho está aí, há mais de dois mil anos, nos convidando a sermos felizes. Jesus prossegue de braços abertos, repetindo o Seu convite e a nos dizer que Ele é o Mestre e Senhor. 
Imitemo-Lo. 
Todos os que O imitaram alcançaram a felicidade, a harmonia desde esta Terra. 
Lembremos: Francisco de Assis... Madre Teresa de Calcutá... Albert Schweitzer... Damião de Vesteur... Gandhi... 
Redação do Momento Espírita. 
Em 05.04.2010.

sábado, 20 de setembro de 2025

O DEVER E A ACOMODAÇÃO

Só mais cinco minutos! 
O alarme toca. É preciso acordar. 
O corpo, porém, parece dizer que não está preparado e pede:
-Só mais uns minutinhos! Só mais cinco minutos! 
Quantos de nós passamos por essa situação, em muitas manhãs? 
Especialmente naquelas de dias nublados, frios. 
O dever chama, temos compromisso marcado com outras pessoas, precisamos respeitar determinados horários.
Entretanto, o corpo parece pedir: 
-Deixa pra lá, dorme mais um pouco, fica na cama! 
Essa luta do dever contra a preguiça ou mesmo contra o cansaço é representativa. 
Não vamos analisar a questão de que, talvez, muitos de nós precisemos de mais horas de sono, o que nos convida a rever nossos horários. 
A ilustração, hoje, serve para mostrar que ainda temos em nós forças contrárias ao cumprimento do dever. 
No caso apresentado, acabamos acordando, pois quase sempre é o emprego que está em jogo, nosso ganha-pão. E não podemos arriscar. 
Chegar atrasado pode gerar advertências, suspensões ou mesmo a perda de oportunidades importantes. 
Levemos essa questão para outras áreas do dever, a dos deveres morais, a conquista das virtudes, a reforma íntima. 
Por vezes, mesmo sabendo qual é o nosso dever, agimos como quem se acomoda na cama, pois dá muito trabalho agir corretamente. Pedir desculpas, assumir que erramos, exige sacrifício. 
Então, preferimos deixar como está. 
Ajudar alguém em necessidade... 
-Será que vou? 
Pensando melhor, alguém vai acabar ajudando... 
São pensamentos comuns naqueles de nós que ainda lutamos contra o dever. 
Ligar para fulano, ligar para a mãe ou o pai para saber como estão. 
-Ah! Mas aí ela começa a me criticar, começa a perguntar demais e quer entrar na minha vida. Acho que não vou ligar.
Vejamos como é assim que perdemos oportunidades ímpares de fazer o bem, de atender quem precisa. 
Quase sempre, simplesmente, porque não somos capazes de pequenos sacrifícios. 
Pensamos no que é mais confortável, em optar por aquilo que nos dá prazer, em não sair da nossa zona de conforto. 
Será que dessa forma cresceremos? 
Será que amadureceremos, quando deixamos para depois e depois? 
Ficar a vida toda apenas optando por aquilo que nos dá prazer, aquilo que nos interessa, não parece uma visão extremamente egoísta, individualista? 
Isso é tão verdadeiro que, queiramos ou não, a vida dá o seu jeitinho, e acaba nos colocando em situações das quais não temos como escapar. 
É o Pai Maior colocando os filhos mimados na linha e determinando: 
-Agora chega de fugir da escola, vamos aprender. 
Dever é a obrigação moral do indivíduo para consigo mesmo, e para com os outros. 
É lei da vida. 
Cumprir o dever exige sacrifício, esforço. 
Muitas vezes, não se constitui prazer. 
Porém, é o que nos dará a satisfação para a alma, edificando nossa felicidade. 
Buscar prazeres mundanos é como tomar água do mar esperando que sacie nossa sede. 
Cumprir os deveres é caminhar no deserto e, enfim, merecer o encontro com o poço de água fresca e cristalina. 
Redação do Momento Espírita 
Em 18.09.2025
https://momento.com.br/pt/index.php

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

DINHEIRO É SANGUE

Hildebrando Araújo
A frase nos causou estranheza. 
Sobretudo por partir da boca generosa de homem conhecido por sua dedicação ao semelhante. 
Desejaria, acaso, assinalar que para conquistá-lo se faz necessário suar sangue?
Estaria se referindo àqueles que, de forma impiedosa, exigem de seus subordinados horas intermináveis de trabalho, que os exaurem, como se lhes retirassem o precioso líquido que lhes corre nas veias? 
Ou estaria pensando naqueles desonestos que extraem sua riqueza da desgraça de seu semelhante? 
Indagando a esposa, tão dedicada ao bem quanto ele próprio, ouvimos a explicação. 
Leopoldina Araújo
-Meu marido diz que dinheiro é sangue porque tem que circular, não pode ficar parado, tem que ficar circulando.
Interessante alegoria. 
O sangue é um dos componentes mais vitais do nosso corpo, atuando como um complexo sistema de transporte, regulação e defesa. 
Suas funções são abrangentes e essenciais para a manutenção da vida. 
É como um rio em nosso organismo, garantindo que cada célula receba o que precisa e que os resíduos sejam eliminados.
Também atua como a linha de frente do nosso sistema imunológico e de cicatrização. 
Os glóbulos brancos circulam, identificando e atacando vírus, bactérias, fungos e outros invasores. 
O plasma transporta anticorpos, que neutralizam agentes estranhos. 
Por sua vez, as plaquetas e as proteínas de coagulação são essenciais para estancar sangramentos. 
Trabalhando juntas, formam um coágulo, vedando a ferida e evitando a perda excessiva de sangue. 
Demo-nos conta, então, de que aquele filantropo sabia exatamente o que representava ter uma grande fortuna.
Hildebrando Araújo, o criador da frase, distribuía fartamente seus bens. 
Não só os quinze irmãos de sua esposa, mas também inúmeros filhos de conhecidos e desconhecidos do interior do Estado, encontraram um lar em sua residência, um castelinho, em zona privilegiada da capital curitibana. 
O dinheiro, circulando, sem parar, lhes pagou os estudos, enquanto recebiam apoio moral e incentivo para seu próprio crescimento. 
Viúva, a esposa preocupou-se em assegurar que a vitalidade do dinheiro não estagnasse. 
Em testamento, repartiu os bens, recordando de familiares, mesmo distantes. 
Contudo, uma parte foi delegada a uma instituição benemérita a fim de que criasse uma fundação para oferecer a meninos e meninas, em situação de risco, a possibilidade de cursos profissionalizantes. 
Algo que os guindasse à condição de cidadãos honrados, garantindo o seu sustento e contribuição salutar à sociedade.
Dessa maneira, honrou a frase do marido: 
-Dinheiro é sangue. Precisa circular para manter a vida, para oxigenar as artérias de um mundo necessitado de produção e paz. Precisa circular para garantir que cada célula da sociedade receba o seu quinhão, em termos de oportunidade de crescimento. Como um rio generoso, precisa auxiliar a impedir o avanço do mal, criado pelas bactérias da ociosidade e pelo vírus da hora vazia. Dinheiro é sangue. Tem que circular, transformando bolsões de miséria e dor em bênçãos de vida frutífera. 
Redação do Momento Espírita, com dados da vida do casal Hildebrando e Leopoldina Araújo. 
Em 19.09.2025

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

FÓRMULA ESPECIAL

Maurice Druon
Fórmula especial Maurice Druon, que foi Ministro da Cultura da França e pertenceu à Academia Francesa, em sua obra O menino do dedo verde apresenta o jardineiro Bigode como uma personalidade muito especial. 
Ele descobre que o filho do patrão, Tistu, possui o polegar verde. 
É uma qualidade maravilhosa. 
-Um verdadeiro dom do céu, explica ele para a criança. 
Você sabe: há semente por toda parte não só no chão, mas nos telhados das casas, no parapeito das janelas, nas calçadas das ruas, nas cercas e nos muros. 
Milhares e milhares de sementes estão ali esperando que um vento as carregue para um jardim ou para um campo. 
Muitas vezes elas morrem entre duas pedras, sem ter podido transformar-se em flor. 
Mas, se um polegar verde encosta numa delas, esteja onde estiver, ela brota no mesmo instante. 
Então, um dia, Tistu, em seus oito anos, foi conhecer a cadeia da cidade. 
Viu uma enorme parede cinzenta sem uma única janela.
Depois, outras paredes com janelas cheias de grades pretas. Alguém lhe explicou que os pedreiros haviam colocado horríveis pontas de ferro por toda parte para que os prisioneiros não fugissem. 
Explicaram também que os prisioneiros eram homens maus e que os colocavam naquele lugar para curar a sua maldade.
Quer dizer, tentavam ensinar-lhes a viver sem matar e roubar.
Tistu viu, atrás das grades, prisioneiros caminhando em roda, de cabeça baixa e sem dizer uma palavra. 
Pareciam infelizes, com a cabeça raspada, as roupas listradas e os sapatos grosseiros. 
-O que estão fazendo? - Perguntou. 
E lhe responderam que eles estavam em recreio. 
-Imagine, pensou o menino, se o recreio deles é assim, o que não serão as horas de aula. Esta prisão é muito triste, por isso é que eles querem fugir. 
Naquela noite, às escondidas, Tistu foi até a cadeia e colocou o seu polegar verde por toda a parede da prisão. 
Colocou no chão, no ponto em que a parede se encontrava com a calçada, nos buracos entre as pedras, ao pé de cada haste das grades. 
No dia seguinte, quando os habitantes da cidade se levantaram, descobriram que a cadeia da cidade se transformara em um castelo de flores. 
O muro estava coberto de rosas. 
As trepadeiras subiam pelas grades e caíam de novo. 
As pontas de ferro foram substituídas por cactos. 
Os prisioneiros, como já não viam grades em suas celas, nem pontas de ferro nos muros, se esqueceram de fugir. 
Os resmungões pararam de reclamar, entusiasmados com a beleza do lugar. 
Os maus perderam o costume de brigar e todos tomaram gosto pela jardinagem. 
Logo, logo, a cadeia da cidade era apontada como modelo no mundo todo. 
Nenhuma fuga. 
Trabalho e disciplina, ordem e educação era o que nela se via.
Os habitantes da cidade descobriram, enfim, que as flores não deixam o mal ir adiante. 
* * * 
Os malfeitores, aqueles que nos roubam a paz, são credores do perdão e da misericórdia de Deus, tanto quanto nós mesmos. 
São, também, nossos irmãos, como o melhor dos homens. 
Suas almas, transviadas e revoltadas, foram criadas, como nós, para se aperfeiçoar. 
 A caridade prescreve que os devemos auxiliar a sair do lameiro e, se não podemos transformar as grades em trepadeiras e as pontas de ferro em roseirais, podemos lhes dirigir as nossas preces, a fim de que o arrependimento lhes chegue e eles desejem se melhorar.
Filhos de Deus, como nós, são credores da nossa compaixão e merecem tratamento humanitário e condições para que possam se reabilitar. 
Afinal, poderiam ser nosso pai, nossos irmãos, nossos amigos, se esses tivessem, em algum momento, transgredido as leis. 
Redação do Momento Espírita, com base nos caps. 6, 7 e 9 do livro O menino do dedo verde, de Maurice Druon, ed. José Olympio e no item 14, do cap. XI do livro O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. FEB. 
Em 17.09.2025

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

MODELO INIGUALÁVEL

DIVALDO PEREIRA FRANCO
JOANNA DE ÂNGELIS
Foi aguardado por séculos e proclamada Sua chegada por homens de vários povos. 
Os sábios consultavam as estrelas, à espera de um sinal.
Chegou em uma noite quase fria, Aquele que fora anunciado pelos antigos profetas. 
Desde o berço lecionou humildade sem temer, contudo, dizer-Se o Mestre e incentivar a que Lhe imitássemos os feitos.
Escolheu as paisagens verdejantes e as montanhas para entoar Seus hinos de nobreza, como jamais foram modulados na Terra, de tal forma que ninguém, em época alguma, conseguiu abafar. 
Alimentou-Se mais da prece, do contato íntimo com o Pai do que do repasto material. 
Dispondo de recursos inimagináveis, preferiu a simplicidade para manifestar a Sua presença entre os homens e contagiar os que O cercavam. 
Servindo-Se das expressões comuns e de fatos por todos conhecidos, deu vitalidade a Suas palavras que atravessaram os séculos e permanecem úteis para o homem que aguarda uma nova aurora. 
Com capacidade para arregimentar exércitos de servidores, escolheu somente 12 companheiros, e os honrou com o trabalho de implantar o Reino dos Céus, na intimidade das criaturas. 
É Jesus, Esse Divino Sol. 
Viveu cercado pela maldade de muitos e experimentou as agressões dos astuciosos, sempre puro, servindo ao Pai.
Diante dos grandes da Terra não Se apequenou e ao lado dos pequenos não os ofuscou com Sua grandeza. 
Ao contrário, os chamou amigos e irmãos. 
Por ser o amor a fonte da vida, Ele amou sem cessar. 
Não lamentou a prisão, não Se queixou dos maus tratos.
Nada pediu. 
Foi traído e perdoou. 
Abandonado por aqueles mesmos a quem beneficiara e a quem concedera a Sua amizade mais profunda, não reclamou e entregou-Se ao Pai. 
Depois de todas as aflições experimentadas, o Seu primeiro gesto, após a morte, foi buscar os amigos, ansiosos, saudosos, para lhes lecionar a Imortalidade e amparar seus corações. 
Sua mensagem de fraternidade igualou os homens, cujas diferenças se encontram somente nas conquistas do Espírito imortal. 
Dignificou a mulher, retirando-a da escravidão que padecia.
Abraçou a criança e a elegeu como símbolo de pureza. 
A viuvez e a dor receberam dele o bálsamo da alegria, do alento. 
Com Seus ditos e Seus feitos inaugurou a Nova Era com vistas a um futuro melhor. 
Embora muitos ainda o aguardem, no tempo, Ele já veio e permanece no leme, direcionando todos aqueles que, sensibilizados por Sua mensagem, se decidem a consolar os seus irmãos, consolidando na face do planeta as bases para o Reino ditoso que almejamos. 
* * * 
Jesus nasceu durante o reinado de César Augusto. 
Esse imperador era um idealista e o seu período de governo ficou conhecido como o período áureo, pois ele estimulou a filosofia, a literatura e as artes. 
O mundo de então era uma imensa caldeira de aflições. 
Por isso veio Jesus: para ser o Guia, o Norte, o amparo de todos quantos desejassem aceitar o Seu convite de paz e renovação. 
Redação do Momento Espírita com base no cap. 25 do livro Estudos Espíritas, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. 
Em 12.02.2010.

terça-feira, 16 de setembro de 2025

NEGÓCIOS

Peter Drucker
Ganhar a vida já não é suficiente, o trabalho tem que nos permitir vivê-la também. 
A frase é daquele que é considerado o Pai da Administração Moderna – Peter Drucker – e revela uma verdade preciosa para os dias de hoje. 
Drucker acompanhou um período sem precedentes na Terra, no que diz respeito ao mundo dos negócios.
Nascido em 1909, veio a desencarnar em 2005, após uma vida de muitas conquistas e de farto material produzido na área corporativa.
Sua citação sobre o papel do trabalho, da profissão, em nossa existência, precisa ser analisada em profundidade, pois traz consequências imediatas em todo viver, uma vez colocada em prática. 
A profissão tem como função principal nos fazer peça útil na sociedade e, também, nos propiciar o ganha-pão. 
A reflexão de Drucker nos convida a pensar: 
-De que adianta ganhar a vida, ter o meio de sustento, ter riqueza, se não consigo “usufruir” disso tudo para meu benefício? 
O trabalho tem que nos permitir viver a vida. 
Ele não pode nos escravizar numa teia de compromissos, responsabilidades, sem nos deixar sequer respirar o ar de uma bela manhã. 
Se nos transformamos nos chamados workaholics(viciados em trabalho), perdemos o foco verdadeiro da encarnação, trocando os meios pelos fins. 
Sim, a profissão, o trabalho, tudo isso são meios. 
Meio de subsistência, meio de crescimento intelectual, meio de ser útil. 
Quando percebermos que o mundo dos negócios, a vida profissional está nos deixando quase loucos, é tempo de parar tudo e repensar. 
Temos, como Espíritos encarnados, compromisso direto com a melhoria material do planeta, ao mesmo tempo que temos compromisso conosco de nos melhorarmos, de nos tornarmos pessoas de bem. 
Assim, não podemos deixar que essas atividades simplesmente nos absorvam todas as energias, a ponto de nos fazer chegar em casa, ao final de cada dia, sem vontade sequer de conversar, de brincar com um filho pequeno, de sorrir. 
Temos que dar a cada coisa seu devido valor. 
E o mundo dos negócios não pode ser mais importante do que a família, do que a saúde de nosso corpo e de nosso Espírito.
Se você percebe que a vida tem lhe carregado para esse caminho, pare, pense, reflita, reprograme tudo enquanto há tempo. 
* * * 
Do Eclesiastes do Antigo Testamento Bíblico retiramos: 
-Melhor é um punhado com descanso, do que ambas as mãos cheias com trabalho e aflição de espírito. 
Pense nisso. 
Pense se realmente vale a pena tanta aflição, tanto desespero, tantas horas de tensão, apenas por questões puramente materiais. 
Não podemos deixar de trabalhar, é certo, mas quem sabe possamos deixar o trabalho mais leve, menos extenuante, menos neurótico, permitindo que vivamos a vida em abundância. Pense nisso. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita v. 24, ed. FEP. 
Em 15.09.2025

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

MODELO E GUIA

Em O livro dos Espíritos, na questão 625, Allan Kardec pergunta: 
-Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem para lhe servir de modelo e guia?
E os Espíritos respondem: 
-Jesus. 
Jesus é a personalidade histórica mais importante do planeta. 
O meigo e singelo carpinteiro dividiu o tempo em duas fases: antes e depois Dele. 
Poucos puderam entender a fundo o Seu pensamento, ainda hoje, muito mais do que atual, moderno. Jesus foi o homem que deu aos outros homens um sentido definitivo para a vida: o amor. 
Feminista antes do feminismo, ergueu Sua voz em defesa da mulher, ensinando a integridade e a comiseração. 
Pacifista antes do pacifismo, demonstrou que a violência é a arma dos vencidos. 
Humanista antes do humanismo, exemplificou a lei maior da solidariedade, apiedando-se da dor. 
Psicólogo antes da psicologia, convidou a todos para a construção conjunta de um mundo mais justo. 
Ecologista antes da ecologia, sempre foi o excelente defensor da vida. Jesus é, definitivamente, o tipo do homem ideal: simples, sábio, verdadeiro e bom. 
* * * 
Nesse tempo em que as ansiedades convergem para um mundo onde não haja mais a dor, a violência, a injustiça, a crueldade e a impiedade, Jesus Se faz o exemplo de vida máximo que, se for seguido, trará à Humanidade o que ela tanto busca: felicidade e paz. 
Jesus não é, portanto, uma imagem esculpida a ser adorada.
É o exemplo perfeito de conduta a ser estudado, sentido e vivenciado. 
Jesus é o homem integral.
Redação do Momento Espírita. 
Em 24.07.2012.

domingo, 14 de setembro de 2025

O MITO DA ALMA GÊMEA

Aristófanes, poeta cômico grego, contemporâneo de Sócrates, afirmou que no começo os homens eram duplos, com duas cabeças, quatro braços e quatro pernas. 
Esses seres mitológicos eram chamados de andróginos. 
Os andróginos podiam ter o mesmo sexo nas duas metades, ou ser homem numa metade e mulher na outra. 
Bem, isso tudo Aristófanes criou para explicar a origem e a importância do amor. 
O mito fala que os andróginos eram muito poderosos e queriam conquistar o Olimpo e, para isso, construíram uma gigantesca torre. 
Os deuses, com o intuito de preservar seu poder, decidiram punir aquelas criaturas orgulhosas dividindo-as em duas, criando, assim, os homens e as mulheres. 
Segundo o mito, é por isso que homens e mulheres vagueiam infelizes, desde então, em busca de sua metade perdida.
Tentam muitas metades, sem encontrar jamais a certa. 
A parte do mito sobre a origem da Humanidade perdeu-se ao longo das eras, mas a ideia de que o homem é um ser incompleto, em sua essência, perdura até hoje. 
Talvez seja em função disso que o ser humano busca, incessantemente, por sua alma gêmea para preencher sua carência afetiva. 
Embora o romantismo tenha sustentado esse mito por milênios, e muitos de nós desejemos que exista nossa metade eterna, é preciso refletir sobre isto à luz da razão. 
Se fôssemos seres incompletos, perderíamos nossa individualidade. 
Seríamos um Espírito pela metade, e não poderíamos progredir, conquistar virtudes, ser feliz, a menos que nossa outra metade se juntasse a nós. 
É certo que vamos encontrar muitas pessoas na face da Terra com as quais temos muitas coisas em comum, mas são seres inteiros, e não pela metade. 
O que ocorre é que, quando convivemos com uma pessoa com a qual temos afinidades, desejamos retê-la para sempre ao nosso lado. 
Até aí não haveria nenhum inconveniente, mas acontece que, geralmente, desejamos nos fundir numa só criatura, como os andróginos do mito. 
E nessa tentativa de fusão é que surge a confusão, pois nenhuma das metades quer abrir mão da sua forma de ser.
Geralmente tentamos moldar o outro ao nosso gosto, violentando-lhe a individualidade. 
O respeito ao outro, a aceitação da pessoa do jeito que ela é, sem dúvida é a garantia de um bom relacionamento. 
Assim, a relação entre dois inteiros é bem melhor do que entre duas metades. 
As diferenças é que dão a tônica dos relacionamentos saudáveis, pois se pensássemos de maneira idêntica à do nosso par, em todos os aspectos, não teríamos uma vida a dois. 
Pessoas com ideias diferentes têm grande chance de crescimento mútuo, sem que uma queira que o outro se modifique para que se transformem num só. 
Assim, vale pensar que, embora o romantismo esteja presente em novelas, filmes, peças teatrais, indicando que a felicidade só é possível quando duas metades se fundem, essa não é a realidade. 
Todos somos Espíritos inteiros, a caminho do aperfeiçoamento integral. 
Não seria justo que nossos esforços por conquistar virtudes fossem em vão, por depender de outra criatura que não sabemos nem se tem interesse em se aperfeiçoar. 
Por todas essas razões, acredite que você não precisa de outra metade para ser feliz. 
Lute para construir na própria alma um recanto de paz, de alegria, de harmonia e segurança, como Espírito inteiro que é.
Só assim você terá mais para oferecer a quem quer que encontre pelo caminho, com sua individualidade preservada e com o devido respeito à individualidade do outro. 
Pense nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. II, do livro A filosofia e a felicidade, de Philippe van den Bosch, ed. Martins fontes. 
Em 07.06.2010.

sábado, 13 de setembro de 2025

MISSIONÁRIOS DO AMOR

DIVALDO PEREIRA FRANCO

JOANNA DE ÂNGELIS
Quando se fala em missionário, a primeira imagem que nos acode à mente é a de um religioso devotado ao bem, alguém que dedique seus dias e noites, de forma integral, para o bem dos seus irmãos, para a Humanidade. 
No entanto, missionários existem de diversos portes. 
E alguns muito próximos a nós. 
Por vezes, pais amorosos, que recebem nos braços filhos deficientes e os sustentam por toda uma vida, com seus cuidados e extremada ternura. 
De outras, amigos excepcionais, que estendem mãos de veludo para aplacar as dores dos espinhos nas carnes alheias. 
Filhos dedicados que nascem para iluminar nossas vidas, à semelhança de astros luminíferos em nosso céu borrascoso. Recordamos de uma família que conhecemos.
O segundo filho do casal nasceu portador de séria enfermidade que, a pouco e pouco, lhe foi retirando a mobilidade. 
Primeiro foi o andar impreciso, depois somente com amparo forte, até à imobilidade dos membros inferiores. 
Da dificuldade de coordenação motora à dependência total para as mínimas necessidades: beber um copo d'agua, levar o alimento à boca. 
Enquanto o drama era vivido e sofrido pelos pais, a esposa engravidou pela terceira vez. 
O diagnóstico nada animador prescrevia um abortamento, dadas as complicações cardíacas da gestante, além da possibilidade do bebê ser portador de microcefalia. 
Estribado na fé, o casal aguardou o tempo. 
O bebê nasceu perfeito. 
Garoto feliz, demonstrou, desde os primeiros momentos, o quanto era grato por estar vivo. 
Mais de uma vez, deixava dos folguedos para correr ao pescoço da mãe, abraçá-la e dizer: 
-Eu amo a minha vida, amo a minha casa, amo todos vocês. 
A nota mais interessante começou a ser observada quando o pequeno não tinha mais que ano e meio. 
Colocava-se em pé em sua cadeirinha e, com cuidado, ajudava colocar a alimentação na boca do irmão. 
Na sua linguagem infantil, pronunciava: 
-Eu judo o mano. 
E na medida em que cresceu, a ajuda se tornou mais constante e efetiva. 
Hoje, quase aos sete anos, o pequeno é o guardião do seu irmão. 
Dormem no mesmo quarto, por insistência dele. 
Não são raras as madrugadas em que ele se levanta do leito, atravessa o corredor, se dirige ao quarto dos pais para pedir ajuda para o mano, que precisa alguma atenção maior.
Nenhuma queixa, nenhuma reclamação. 
Deixa de brincar com os amigos para se dedicar ao irmão.
Busca água, conduz a cadeira de rodas, joga vídeo-game, assiste filmes, comenta futebol. 
Dia desses, na sua inocência infantil, olhou para a mãe e lhe disse: 
-Mãe, sabe por que eu nasci? 
E, ante a surpresa da genitora, aduziu: 
-Eu nasci para cuidar do mano.
* * * 
Missionários existem, sim, em nossos lares. 
Anônimos, ocultos, realizam sua tarefa. 
Missionário é todo aquele que se entrega em totalidade à tarefa de amor, na obscuridade da estrada ou nos palcos da ciência, da filosofia ou da religião. 
Missionário é todo aquele que traz a consciência do seu dever de servir além e acima de qualquer circunstância. 
Movido pelo amor, é qual chama ardente que não se extingue.
Sol de primeira grandeza que ilumina outras vidas, em barracos infectos ou em mansões suntuosas. 
Sua missão é amar e servir. 
Como a violeta escondida na ramagem do jardim, exala seu perfume e se esconde na capa humilde de servidor. 
* * * 
Quem ama, coroa as horas de luz. 
Quem serve, adorna o coração de ventura imorredoura.
Saiamos na direção do sol para servir. 
Redação do Momento Espírita, com pensamento final do verbete Servir, do livro Repositório de sabedoria, v. 2, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 23.11.2017.