Há quase setenta anos, a grande poetisa brasileira Cecília Meirelles propunha uma reflexão poderosa e urgente.
Num de seus poemas ela concluía:
Não há mais daqueles dias extensos, com o tempo suficiente para acompanharmos o amadurecimento dos frutos, e contemplarmos os pombos em seus movimentos pelo telhado.
Cecília comentava, preocupada, sobre novos tempos, tempos de pressa, tempos em que não se tinha mais tempo para nada.
Não há mais daqueles dias extensos, largamente abertos para o livro que chega, para a saudade que chama...
Tempo para ler com calma, saborear uma bela obra, não como quem mantém um placar de leituras por mês ou por ano, engolindo as linhas avidamente, mas como quem aproveita cada página, indo e vindo, sem hora para terminar.
A leitura da contemplação, da descoberta do belo, das outras histórias, dos outros mundos.
Não somente a leitura utilitarista que nos faz consumidores de manuais disso ou daquilo.
Ao final do poema, a autora expressa o sintoma maior:
Como um bando perseguido nos apressamos.
Quem corre atrás de nós, com o passo de um exército ou de um temporal?
De verdade, parecemos, sim, muitas vezes, um bando sendo perseguido.
Estamos sempre com pressa, sem tempo, e notando que as horas correm sem que possamos administrar como desejaríamos.
Quem corre atrás de nós?
Que doença é essa que criamos para nós mesmos, sociedade contemporânea?
Pensemos se faz sentido tanta ansiedade, tanta pressa, tanto desespero.
Ainda há tempo de reverter isso tudo.
Ainda há tempo de moldar nossos dias de forma diferente.
Obviamente que as necessidades materiais, as convenções sociais nos colocaram, por vezes, dentro de rodas-vivas complexas.
Por isso, atuemos com cautela, começando com pequenas mudanças em nossos hábitos diários.
A prática da meditação necessita ser implantada em nosso dia. Cinco minutos, dez minutos.
Comecemos simples, mas comecemos.
O contato com a natureza faz-se indispensável.
Precisamos guardar momentos para essa troca tão saudável, momentos de contemplação, quando nos despimos dos aparatos tecnológicos e apenas respiramos.
Autoconhecimento.
Manter contato conosco mesmo, buscando fazer análises de nossos pensamentos, de nossas ações, observando a temperatura de nossas emoções em cada dia.
Quanto mais conhecedores de nós mesmos, mais seguros, mais equilibrados, mais aptos a resolver as situações que a vida nos apresenta.
Por fim, a oração, esse contato constante com o Criador e com o plano espiritual.
Não aquele contato de quem ora apenas pedindo.
O contato de quem deseja uma sintonia com pensamentos mais elevados que pululam no espaço.
Quanto mais conectados ao Criador, quanto mais ligados ao nosso verdadeiro eu, menos pressa, menos ansiedade.
Como resultado, mais assertividade, mais clareza e disciplina.
Que venham novos dias extensos!
Que venham dias a serem saboreados, notados.
Dias de aprendizado, dias de amor em família, dias inesquecíveis, sem pressa, sem medo.
Redação do Momento Espírita, com citação do poema
Não há mais daqueles dias extensos, de
Cecília Meirelles, da obra Cecília Meireles –
Poesia Completa, v. 2, ed. Nova Fronteira
Em 10.9.2025
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