quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

LIGAR-SE A DEUS

A vida moderna é rica de divertimentos e distrações. 
Entre as múltiplas obrigações do cotidiano e as oportunidades de lazer, tende a sobrar pouco tempo para o homem refletir sobre o seu destino.
Contudo, gradualmente as criaturas vão se cansando de viver sem pensar e passam a tentar compreender o mundo e a si próprias. 
A preocupação em cultivar a própria espiritualidade reflete essa busca por compreensão, a opção pelo transcendente, em detrimento das trivialidades. 
Em qualquer ambiente que se freqüente não são raras referências a energias, anjos, santos, igrejas e promessas. 
Em um mundo materialista e no qual tudo é transitório, cresce nos homens a necessidade de conectar-se com Deus. 
Cada qual procura identificar a corrente religiosa ou filosófica com a qual guarda mais afinidade. 
A multiplicidade de credos não deve causar espanto. 
Sendo essencialmente distintas as criaturas, em valores e experiências, não podem todas trilhar o mesmo caminho para a divindade. 
Deus é bom e grande o suficiente para compreender que os seus filhos conseguem concebê-lo e amá-lo de diferentes modos.
O selvagem que ingenuamente identifica os poderes divinos com o sol ou a lua, por certo não ofende o pai soberano. 
Assim, não é relevante que você acredite desta ou daquela forma. 
Na verdade, a busca pela espiritualidade envolve a consciência da própria pequenez, em face da imensidão criadora do pai. 
A vontade de espiritualizar-se também sinaliza que o homem cansou de caminhar a esmo e deseja estabelecer uma meta digna de ser buscada.
Ele quer perceber qual é o seu papel diante da vida, o propósito de sua existência. 
Como cada qual exterioriza sua tentativa de harmonização com o cosmo, como considera melhor louvar ao Criador, constitui uma opção pessoal.
Mas o bom senso indica que Deus é pleno e perfeito em si mesmo, independente do que suas criaturas façam. 
O Senhor da vida não será mais ou menos feliz, se você O honrar de um modo ou de outro. 
A melhor maneira de agradá-Lo é demonstrar que você respeita a obra Dele, tratando bem os seus semelhantes. 
A respeito, são oportunas as palavras do cristo. 
Em determinada passagem do Evangelho, Jesus afirma que, antes de sacrificar a Deus, o homem deve reconciliar-se com seu irmão. 
O amigo divino assevera que qualquer dádiva que se pretenda ofertar deve ser deixada diante do altar, depois que a reconciliação for providenciada. 
O principal é estabelecer a paz com o semelhante. Isso bem evidencia que o sacrifício realmente agradável a Deus é o esforço que a criatura faz para harmonizar-se com Suas leis. 
E Jesus disse que toda a lei divina resume-se em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. 
Embora todas as demonstrações de religiosidade sejam respeitáveis, elas se revelam essencialmente vãs, se não forem acompanhadas de um esforço sincero de amar e compreender o próximo. 
É incoerente venerar o Criador, mantendo o coração cheio de ódio por suas criaturas. 
Não há nada que consiga serenar um coração rancoroso e vingativo. 
Por isso, busque e louve a Deus na conformidade de seu entendimento.
Mas saiba que o supremo amor que criou e sustenta o universo deseja apenas que você ame e respeite a vida, nada mais. 
Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita.
https://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=1260&let=&stat=0

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Uma vida, duas vidas, um sorriso

Antoine de Saint-Exupéry
Foi durante a guerra civil na Espanha. Antoine de Saint-Exupéry, o autor de O pequeno príncipe, foi lutar ao lado dos espanhóis que preservavam a democracia. 
Certa feita, caiu nas mãos dos adversários. 
Foi preso e condenado à morte. 
Na noite que precedia a sua execução, conta ele que foi despido de todos os seus haveres e jogado em uma cela miserável. 
O guarda era muito jovem. 
Mas era um jovem que, por certo, já assassinara a muitos. 
Parecia não ter sentimentos. 
O semblante era frio. 
Vigilante, ali estava. 
E tinha ordens para atirar para matar, em caso de fuga. 
Exupéry tentou uma conversa com o guarda, altas horas da madrugada.
Afinal, eram suas últimas horas na face da Terra. 
De início, foi inútil. 
Contudo, quando o guarda se voltou para ele, ele sorriu. 
Era um sorriso que misturava pavor e ansiedade. 
Mas um sorriso. 
Sorriu e perguntou de forma tímida: 
-Você é pai? 
A resposta foi dada com um movimento de cabeça, afirmativo. 
-Eu também, falou o prisioneiro. Só que há uma enorme diferença entre nós dois. Amanhã, a esta hora eu terei sido assassinado. Você voltará para casa e irá abraçar seu filho. Meus filhos não têm culpa da minha imprevidência. E, no entanto, não mais os abraçarei no corpo físico. Quando o dia amanhecer, eu morrerei. Na hora em que você for abraçar o seu filho, fale-lhe de amor. Diga a ele: "Amo você. Você é a razão da minha vida." Você é guarda. Você está ganhando dinheiro para manter a sua família, não é? 
O guarda continuava parado, imóvel. 
Parecia um cadáver que respirava. 
O prisioneiro concluiu:
-Então, leve a mensagem que eu não poderei dar ao meu filho. 
As lágrimas jorraram dos olhos. 
Ele notou que o guarda também chorava. 
Parecia ter despertado do seu torpor. 
Não disse uma única palavra. 
Tomou da chave mestra e abriu o cadeado externo. 
Com uma outra chave abriu a lingueta. 
Fez correr o metal enferrujado, abriu a porta da cela, deu-lhe um sinal. 
O condenado à morte saiu apressado, depois correu, saindo da fortaleza.
O jovem soldado lhe apontou a direção das montanhas para que ele fugisse, deu-lhe as costas e voltou para dentro. 
O carcereiro deu-lhe a vida e, com certeza, foi condenado por ter permitido que um prisioneiro fugisse.
Antoine de Saint-Exupéry retornou à França e escreveu uma página inesquecível: 
"Uma vida, duas vidas, um sorriso."
* * * 
DIVALDO PEREIRA
FRANCO
Tantas vezes podemos sorrir e apresentamos a face fechada, indiferente.
Entretanto, as vozes da Imortalidade cantam. 
Deus canta em todo o Universo a glória do amor. 
Sejamos nós aqueles que cantemos a doce melodia do amor, em todo lugar, nos corações. 
Hoje mais do que ontem, agora mais do que na véspera, quebremos todos os impedimentos para amar. 
Redação do Momento Espírita, com base em Conferência de Divaldo Pereira Franco, na abertura do 4º Simpósio Paranaense de Espiritismo, em Curitiba, Paraná. 
Em 29.1.2024.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

LÍDERES

Grão-duque Henri Guillaume
Líder é aquele que se destaca. 
Aquele cujas ações, por corajosas ou extraordinárias, merece a atenção dos demais homens. 
Líder é aquele que, em meio ao caos, se mantém firme e acena com a bandeira da esperança. 
Pode ser um artista, um cientista, um homem de negócios, um anônimo.
Por vezes, são governantes que se destacam, levando-nos não somente a aplaudi-los, mas a crer que o mundo melhor está se concretizando na Terra. 
Foi com esse espírito que lemos a manchete: 
Soberano de Luxemburgo se recusa a assinar lei que permitiria eutanásia.
Luxemburgo é o menor país membro da União Européia. 
Situado entre a Bélgica, França e Alemanha, seus quatrocentos e setenta mil habitantes estão entre os mais ricos da União Européia. 
É governado, desde o ano 2000, pelo Grão-duque Henri Guillaume. 
O projeto de lei relativo à eutanásia foi aprovado, em fevereiro de 2008 pelos deputados. 
Agora, a Assembleia Parlamentar é chamada a votar, em segundo turno, o mesmo documento, que, para ter força de lei, deverá ser assinado e promulgado pelo Soberano. 
O Grão-duque informou aos líderes parlamentares que a sua consciência cristã lhe impede de fazer algo do gênero. 
De imediato, o pensamento de todos se voltou ao que ocorreu na Bélgica, em 1990, onde o Rei Balduíno I, tio do Grão-duque Henri renunciou por um dia, para não colocar a própria assinatura numa lei que legalizava o abortamento. 
Depois daquela breve demissão provisória, o soberano belga retomou o trono e tudo continuou como era antes. 
A situação do Grão-duque parece mais complexa. 
Para não colocar a sua assinatura na lei, o Grão-duque arrisca algumas perdas. 
Ocorre que a maioria do Parlamento está estimulada a estudar uma reforma institucional destinada a reduzir sensivelmente o poder da coroa.
Assim, o Grão-duque permanecerá no próprio posto, mas não terá condições de fazer greve contra o Parlamento. 
Na prática, lhe será tirado todo poder de assinar medidas legislativas.
Alguns o apoiam, exaltando a coerência moral de um homem que não se dobra, nem mesmo ao voto parlamentar. 
Outros, como o próprio Primeiro-ministro, dizem que se a câmara dos deputados vota uma lei, esta deveria poder entrar em vigor. 
A situação em Luxemburgo, com relação ao tema, ainda não está definida.
Mas, do ponto de vista bioético, ver alguém que esteja no poder discordar do rumo que as coisas estão seguindo na Europa, é um grande avanço.
Se a lei entrar em vigor, no Grão-ducado, Luxemburgo seria o terceiro país da União Européia, junto à Holanda e Bélgica, a legalizar a eutanásia.
Louvamos a coragem do Soberano. 
Vibramos para que ela se mantenha firme, demonstrando que mais importante do que ter cargos no mundo, é honrar a consciência. 
É saber que a autoridade na Terra é temporal e que, acima dos homens, reina a Lei de Deus, imutável. 
E essa Lei prescreve o amor. 
E quem ama não legitima a morte de seres humanos, mesmo que seja em nome de um pretenso e provisório poder. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no livro Momento Espírita, v. 8, ed. FEP.
Em 9.1.2014.

domingo, 28 de janeiro de 2024

LÍDERES MODELO

EMMANUEL E CHICO XAVIER

Toda vez que modelos de líderes, de pessoas extraordinárias são apresentados, é comum se ouvir os comentários dos que acreditam que jamais poderão se igualar: 
-Ah, mas ele era um santo. Ele era excepcional. 
Contudo, quando se pesquisa a biografia desses homens e mulheres que se destacaram na Humanidade, nos mais variados ramos, o que descobrimos é que não nasceram feitos, prontos. 
Ao contrário, percorreram um longo caminho, no qual a persistência, a perseverança, o esforço pessoal foram companheiros constantes.
Recordamos de Gandhi, que é reverenciado como exemplo de liderança da não-violência. 
No começo de sua vida, não foi assim. 
Sua índole e temperamento eram diferentes. 
Quase o oposto do seu comportamento de Mahatma. 
Antes de ir para a África do Sul, era de natureza violenta, egoísta, ambicioso e cruel. 
Como advogado, vaidoso e inseguro, usava terno europeu, camisa branca de colarinho engomado, gravata de seda, sapatos de alta qualidade, lustrosamente polidos. 
Na África do Sul, morava em uma bela vila inglesa, em área aristocrática da praia. Amava o dinheiro. 
Era um autêntico indiano europeizado. 
Depois da leitura de um livro de Ruskin, sua visão de mundo se transformou. 
Como ele mesmo afirmou: 
-Aquele livro assinalou o ponto decisivo da minha vida. 
Mas não foi com facilidade que adquiriu sua posterior calma e serenidade.
Nem sem terrível autodisciplina. 
Ele realizou um esforço consciente para se modificar.
Começou a realizar serviços assistenciais, varrer locais públicos, limpar latrinas. 
Transformou-se em um homem de natureza totalmente diversa. 
E então, nasceu o novo homem, o Mahatma Gandhi. 
Diferente não foi com Saulo de Tarso. 
Orgulhoso, preparava-se na escola de Gamaliel, em Jerusalém, para substituir o mestre. 
Conhecido pela sua oratória, estava habituado a receber o aplauso do mundo. 
Trajava a túnica do patriciado, utilizava um carro semelhante às bigas romanas, puxado por soberbos cavalos brancos. 
Dominava o idioma grego, além da língua hebraica. 
Algo semelhante a atualmente vestir-se com um autêntico Giorgio Armani, andar num BMW e expressar-se, com propriedade, no idioma inglês.
Temperamento apaixonado e indomável, rico de agudeza e resolução, aspirava um futuro brilhante para si mesmo. 
Defensor ferrenho da lei mosaica, perseguiu os seguidores do Cristo, estabelecendo o terror. 
Após o seu encontro com Jesus, às portas de Damasco, modificou-se. 
O tribuno transformou-se em escravo do dever, em apóstolo do amor, em defensor da verdade. 
Nada lhe foi fácil. 
Foram três anos no deserto de Dan, onde precisou exercitar o anonimato, a humildade, até se reconciliar com seus perseguidos. 
Depois, foi o aprendizado em Antioquia, o serviço anônimo ao semelhante, o ouvir, estudar, refletir. 
O retorno à tribuna, agora sem pompa e sem orgulho, para a defesa da Boa Nova, teve que ser pacientemente aguardado. 
Só então surge o grande Paulo de Tarso que, de tal forma viveu os ensinos de Jesus que pôde afirmar: 
-Já não sou eu quem vive, é o Cristo que vive em mim. 
Esforço, perseverança, vontade. 
Aprendamos com essas criaturas. 
Elas conseguiram. 
Também nós conseguiremos. 
Redação do Momento Espírita, com base na introdução do livro O pensamento vivo de Gandhi, coordenação editorial da editora Martin Claret e no livro Paulo e Estêvão, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. 
Em 28.8.2015

sábado, 27 de janeiro de 2024

O NASCER DO SOL E A PRESENÇA DE DEUS

Após a sessão matinal de orações, o noviço perguntou ao abade: 
-Todas essas orações que o senhor nos ensina, fazem com que Deus se aproxime de nós? 
-Vou responder a você com outra pergunta. – Disse o abade.-Todas essas orações que você reza irão fazer o sol nascer amanhã? Claro que não! O sol nasce porque obedece a uma lei universal! Então esta é a resposta à sua pergunta. Deus está perto de nós, independente das preces que fazemos. 
O noviço revoltou-se: 
-O senhor quer dizer que nossas orações são inúteis?! 
-Absolutamente. – Respondeu, com serenidade, o abade. – Se você não acordar cedo, nunca conseguirá ver o sol nascendo. Se você não orar, embora Deus esteja sempre por perto, você nunca conseguirá notar Sua presença. 
* * * 
Que bela lição encontramos aqui. 
Não oramos para que Deus esteja próximo e nos ouça. 
Oramos para criar uma ponte entre nós e o Criador de tudo e de todos.
RAUL TEIXEIRA
Em verdade somos nós que precisamos nos aproximar dEle, assim como das coisas do Espírito, dos verdadeiros tesouros do Universo.
Somos nós que esquecemos da Providência Divina, de nossos protetores. 
Eles jamais se afastam de nós. 
Somos nós que, ao fecharmos os olhos e ouvidos da alma, nos afastamos de seus conselhos, de suas inspirações, de seu amparo. 
A oração é a higiene do Espírito. 
Uma comunicação saudável da criatura com seu Criador. 
Precisamos adquirir esse hábito, mantendo-nos constantemente em contato com o Alto, tornando-nos assim mais fortes e mais preparados para enfrentar os reveses da vida, e as vicissitudes que se apresentarem. 
A oração é um diálogo de coração com coração, em que abrimos os salões de nossa alma para receber a visita de nossos amigos, daqueles que, de outras esferas, velam por nossas vidas. 
Não nos preocupemos com a beleza dos dizeres, e sim com a sinceridade e a pureza de seu conteúdo. 
Quando houver mais sentimento, mais honestidade em nossas palavras, mais fortes serão os raios invisíveis que nossa oração emitirá em direção ao firmamento divino. 
Vale lembrar a lição do abade ao noviço: 
-Se você não acordar cedo, nunca conseguirá ver o sol nascendo. Se você não orar, embora Deus esteja sempre por perto, você nunca conseguirá notar Sua presença. 
* * * 
A seara exuberante de grãos e de frutos se distende ante as suas necessidades. 
Contudo, para que dela se aproveite, você terá que cozer os grãos e preparar as polpas, a fim de utilizá-los devidamente. 
A chuva benfazeja se derrama sobre larga faixa terrestre, trazendo o amparo dos céus à fertilidade do chão e à manutenção das fontes. 
Mas, se você pretende dela valer-se, é preciso construir a calha conveniente ou providenciar o pote que a possa recolher. 
Pensando desse modo, vemos que as bênçãos do Criador, sob forma de energias balsâmicas e equilibradas, se espalham sobre todas as Suas criaturas. 
Porém, para que você possa ser dulcificado por essa benesse, torna-se necessário unir-se, em sintonia feliz, a essas faixas de luz. 
E a prece propicia esse diálogo, essa união. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O discípulo impaciente, do livro Histórias para pais, filhos e netos, de Paulo Coelho, ed. Globo e no cap. 3, do livro Rosângela, pelo Espírito Rosângela Costa Lima, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter. 
Em 27.1.2024.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

O METEORO E A TOUPEIRA

Khalil Gibran
Quando nosso amado morreu, a Humanidade morreu, e por um tempo tudo ficou paralisado e cinzento. 
Então, o Oriente escureceu e uma tempestade irrompeu, varrendo a Terra.
Os olhos do céu abriram-se e fecharam-se, e a chuva caiu torrencialmente lavando o sangue que jorrava das mãos e dos pés. 
Também eu morri. 
Mas, nas profundezas do meu esquecimento, Ele disse:
-“Pai, perdoai-os, pois eles não sabem o que fazem.” 
E Sua voz buscou o meu Espírito que se afogava e o trouxe à praia. 
Ao abrir meus olhos, vi Seu corpo pálido pendurado a uma nuvem, e Suas palavras tomaram forma no meu corpo e tornei-me um novo homem. Khalil Gibran
Não mais me entristeci. 
Quem se entristeceria por um mar que desvela seu rosto, ou uma montanha que ri ao sol? 
Que homem diria tais palavras ao ver seu coração atingido? 
Que outro juiz dos homens libertou seus juízes? 
E alguma vez o amor desafiou o ódio com força mais segura de si própria?
Alguma vez foi tal clarim ouvido entre o céu e a Terra? 
E houve alguma outra vez em que o assassinado tenha se compadecido do seu próprio assassino? 
Ou que o meteoro teria se retardado para poupar a toupeira? 
As estações se cansarão e os anos envelhecerão, antes que essas palavras se exauram: 
-“Pai, perdoai-os, pois eles não sabem o que fazem.” 
E nós, embora gerados por muitas e muitas vezes, as guardaremos... 
* * * 
Jesus não só ensinou pelo discurso.
Ele foi além, exemplificando, um a um, todos eles. 
Já havia falado sobre o perdão, sobre as setenta vezes sete vezes, e nos instantes derradeiros de Sua vida na Terra, mostrou, com beleza suprema, a prática do perdoar. 
Qualquer outro condenado injustamente estaria se debatendo, acusando seus assassinos, jogando-lhes pragas, prometendo vingança. 
Ele não... 
Ele nunca faria isso. 
Ele compreendia o coração adoecido do homem da Terra e assim percebia que, naquele momento, quem precisava de ajuda, de amparo, não era Ele, mas sim, eles, Seus opositores.
Não os tinha como inimigos, pois não guardava ódio algum. 
Eram opositores momentâneos, opositores da verdade, toupeiras aterradas no solo da ignorância. 
Ele, como meteoro gigantesco, amoroso em grau extremo, identifica a toupeira se debatendo no chão, e retarda sua investida para não prejudicá-la. 
Seu pedido de perdão por elas representa tal sentimento sublime. 
* * * 
Pensemos no gesto do Cristo, grandioso, surpreendente. 
Que ele nos inspire a perdoar, começando pelas pequenas coisas do dia a dia. 
Que sejamos mais tolerantes com os deslizes do nosso próximo. 
Que entendamos que os maus estão doentes, infelizes, e precisam de nossa ajuda, e não de nossa animosidade em retribuição à sua. 
Perdoar é livrar-se do peso da mágoa, que consome com o passar dos dias. 
Perdoar é fazer-se leve, elevando-se acima das dificuldades do mundo, assim como Jesus o fez. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Filipe, do livro Jesus, o filho do homem, de Khalil Gibran, ed. EDIOURO. 
Em 25.1.2024.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

LIDERAR COM SABEDORIA

Conta-se que, certa vez, um jovem político assumiu o governo de um distrito que até a gestão anterior havia sido muito próspero. 
Mas, desde que ele assumiu, os negócios não iam bem. 
Confuso, o rapaz procurou um grande mestre da região para que o ajudasse a resolver o problema. 
Ao encontrá-lo, explicou-lhe a situação e esperou a resposta do mestre. Mas ele não disse nada.
Deu um pequeno sorriso e com um gesto o convidou a acompanhá-lo.
Caminharam até chegar à beira de um rio muito largo. 
Depois de meditar olhando as águas, o mestre preparou uma fogueira e fez com que o moço se sentasse ao seu lado. 
Ambos ficaram ali por longas horas observando o fogo enquanto as labaredas crepitavam. 
Quando as chamas já não dançavam mais, o mestre apontou para o rio e falou: 
-Agora você entende porque é incapaz de fazer como seu antecessor fez para sustentar a grandeza do seu distrito? 
O rapaz respondeu: 
-Desculpe, mestre, mas não compreendi. 
O ancião, então, falou: 
-Reflita, meu jovem, sobre a natureza do fogo que queimava à nossa frente. Era forte e poderoso. Nenhuma grande árvore ou animal poderia igualar-se em força. Com facilidade, poderia ter conquistado tudo ao seu redor. Em contrapartida, observe o rio. Começou como um pequeno filete nas montanhas distantes. Às vezes rola macio, às vezes rápido, mas não se detém, tomando as terras baixas como seu curso. Contorna qualquer obstáculo e abraça qualquer fenda. A água quase não pode ser ouvida. Quando a tocamos, percebemos que ela dificilmente pode ser sentida, tão gentil é sua natureza. E, no final, o que sobrou daquilo que foi o fogo poderoso? Somente um punhado de cinzas. Por ser tão forte, ele destrói tudo a sua volta, mas também se torna vítima, consumindo sua própria força. O rio, não. Ele é calmo e quieto. Assim, ele vai rolando, crescendo, ramificando-se, tornando-se mais poderoso a cada dia, na sua jornada em direção ao imenso oceano. Ele provê a vida e sustenta a todos. Da mesma maneira que ocorre com a natureza, acontece com os líderes. Há aqueles que são como o fogo: orgulhosos, poderosos e autoritários. E os que são humildes como a água. Donos de uma força interior de grande alcance e capazes de conquistar o coração das pessoas a quem lideram. Os primeiros nada constroem. Espalham temor e afastam as pessoas. Os segundos trazem uma primavera de prosperidade para suas províncias. Reflita, meu jovem, sobre o tipo de líder que você é, e talvez encontre aí a resposta para seus problemas.
* * * 
A lição do sábio ancião é válida para todos aqueles que estão investidos na função de dirigir empresas, conduzir pessoas, governar.
A comparação que o mestre faz entre o fogo, que espalha suas labaredas e assusta com seu poder devastador, e o rio que, com perseverança, contorna obstáculos para atingir seus objetivos, são extremamente significativas para quem exerce a difícil tarefa da liderança. 
Caso você esteja enfrentando dificuldades dessa natureza, vale a pena meditar sobre a tática que vem empregando e talvez encontre também uma resposta capaz de solucionar os seus problemas. 
* * * 
Liderar com sabedoria é saber conquistar a amizade dos seus liderados, criando um clima de confiança mútua e companheirismo. 
Jesus foi o exemplo máximo de liderança. 
Seus ensinos e orientações ultrapassaram as fronteiras de Sua terra natal e influenciaram o mundo todo. 
Mesmo sem ter sido conhecido pessoalmente pelos cristãos da atualidade, continua servindo de Modelo e Guia para boa parte da Humanidade.
Redação do Momento Espírita, com base em história de autor desconhecido.
Em 16.11.2010.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

O ZELADOR DA FONTE

Charles R. Swindoll
Conta uma lenda austríaca que, em determinado povoado, havia um pacato habitante da floresta que foi contratado pelo Conselho Municipal para cuidar das piscinas que guarneciam a fonte de água da comunidade.
O cavalheiro, com silenciosa regularidade, inspecionava as colinas, retirava folhas e galhos secos, limpava o limo que poderia contaminar o fluxo da corrente de água fresca. 
Ninguém lhe observava as longas horas de caminhada ao redor das colinas, nem o esforço para a retirada de entulhos.
Aos poucos, o povoado começou a atrair turistas. 
Cisnes graciosos passaram a nadar pela água cristalina. 
Rodas d'água de várias empresas da região começaram a girar dia e noite. 
As plantações eram naturalmente irrigadas, a paisagem vista dos restaurantes era de uma beleza extraordinária. 
Os anos foram passando. 
Certo dia, o Conselho da cidade se reuniu, como fazia semestralmente.
Um dos membros do Conselho resolveu inspecionar o orçamento e colocou os olhos no salário pago ao zelador da fonte.
De imediato, alertou aos demais e fez um longo discurso a respeito de como aquele velho estava sendo pago há anos, pela cidade.
E para quê? 
O que é que ele fazia, afinal?
Era um estranho guarda da reserva florestal, sem utilidade alguma.
Seu discurso a todos convenceu. 
O Conselho Municipal dispensou o trabalho do zelador da fonte, de imediato. 
Nas semanas seguintes, nada de novo. 
Mas no outono, as árvores começaram a perder as folhas. 
Pequenos galhos caíam nas piscinas formadas pelas nascentes. 
Certa tarde, alguém notou uma coloração meio amarelada na fonte. 
Dois dias depois, a água estava escura.
Mais uma semana e uma película de lodo cobria toda a superfície ao longo das margens. 
O mau cheiro começou a ser exalado. 
Os cisnes emigraram para outras bandas. 
As rodas d'água começaram a girar lentamente, depois pararam. 
Os turistas abandonaram o local. 
A enfermidade chegou ao povoado. 
O Conselho Municipal tornou a se reunir, em sessão extraordinária e reconheceu o erro grosseiro cometido. 
Imediatamente, tratou de novamente contratar o zelador da fonte. 
Algumas semanas depois, as águas do autêntico rio da vida começaram a clarear. 
As rodas d'água voltaram a funcionar. 
Voltaram os cisnes e a vida foi retomando seu curso. 
* * * 
Assim como o Conselho da pequena cidade, somos muitos de nós que não consideramos determinados servidores. 
Aqueles que se desdobram, todos os dias, para que o pão chegue à nossa mesa, o mercado tenha as prateleiras abarrotadas; os corredores do hospital e da escola se mantenham limpos. 
Há quem limpe as ruas, recolha o lixo, dirija o ônibus, abra os portões da empresa. 
Servidores anônimos. 
Quase sempre passamos por eles sem vê-los. 
Mas, sem seu trabalho, o nosso não poderia ser realizado ou a vida seria inviável. 
O mundo é uma gigantesca empresa, onde cada um tem uma tarefa específica, mas indispensável. 
Se alguém não executar o seu papel, o todo perecerá. 
Dependemos uns dos outros. 
Para viver, para trabalhar, para ser felizes! 
Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O zelador da fonte, de Charles R. Swindoll, do livro Histórias para o coração, de Alice Gray, ed. United Press. 
Em 24.1.2024.

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Verdadeira Prova de Amor

Um senhor de idade chegou a um consultório médico, para fazer um curativo na sua mão, na qual havia um profundo corte.
E muito apressado pediu urgência no atendimento, pois tinha um compromisso.
O médico que o atendia, curioso perguntou o que tinha de tão urgente para fazer.
O simpático velhinho lhe disse que todas as manhãs ia visitar sua esposa que estava em um lar para idosos, com mal de Alzheimer muito avançado.
O médico muito preocupado com o atraso do atendimento disse:
– Então hoje ela ficará muito preocupada com sua demora? 
No que o senhor respondeu: 
– Não, ela já não sabe quem eu sou. Há quase cinco anos que não me reconhece mais. 
O médico então questionou: 
– Mas então para quê tanta pressa, e necessidade em estar com ela todas as manhãs, se ela já não o reconhece mais? 
O velhinho então deu um sorriso e batendo de leve no ombro do médico e respondeu: 
– Ela não sabe quem eu sou… Mas eu sei muito bem quem ela é! 
O médico teve que segurar suas lágrimas enquanto pensava… 
O verdadeiro AMOR, não se resume ao físico, nem ao romântico… 
O verdadeiro AMOR é aceitação de tudo que o outro é… 
De tudo que foi um dia… 
Do que será amanhã… e do que já não é mais! 
Autor desconhecido

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

SABEDORIA DE MENDIGO

Aubrey Davis
Era uma vez uma cidade muito gelada, como gelada também era a relação entre os seus habitantes. 
Viviam isolados, cada qual em sua própria casa, indiferentes aos demais.
Um dia, um mendigo chegou à cidade. 
Sofrendo com os açoites do vento e com a fome que lhe castigava o estômago, ele bateu na porta de uma daquelas casas. 
Mal a porta se abriu, uma voz rouca espantou o pedinte, que pensou muito antes de bater na próxima casa. 
Foram mais gritos e xingamentos. 
Quando se levantou para seguir seu caminho, em busca de uma cidade mais acolhedora, percebeu que havia uma porta entreaberta. 
Era a porta do templo que se abria e fechava com o movimento do vento.
Foi entrando devagarinho... 
Encontrou o guardião do templo e seu ajudante, ambos congelados pela mesmice daquela cidade cinzenta e fria. 
Cumprimentou, limpou a garganta, provocando um ruído forçado, tentando obter alguma atenção. 
Tudo em vão. 
Então, ele falou bem alto: 
-Que pena que não poderei fazer aquela sopa quentinha, para espantar o frio e matar a fome. 
-Sopa?!, falou interessado o velho guardião. 
-Sim, eu sei fazer uma deliciosa sopa de botão de osso. São necessários seis botões, mas eu tenho apenas cinco. 
-Eu não tenho nenhum botão de osso. 
Foi a resposta. 
Mas o alfaiate poderá nos ajudar, interveio o ajudante, animado. 
A vontade de tomar uma sopa quentinha fez com que buscassem o alfaiate. 
Ali também morava a má vontade, que somente desapareceu com a palavra mágica: sopa
Ele providenciou o botão, com uma condição: iria junto para ver o milagre da tal sopa. 
O mendigo pediu também uma colher de pau, uma panela grande, uma faca, e outras coisinhas mais... 
E foi assim que o guardião do templo, seu ajudante, o alfaiate e sua sobrinha saíram pelas ruas, batendo de porta em porta para pedir os utensílios necessários para se fazer a sopa de botão de osso. 
Uma a uma, as pessoas foram se juntando, na praça, até que tudo havia sido providenciado. 
O mendigo provou e disse que a sopa estava boa mas, poderia ficar ainda melhor se alguém trouxesse um pouco de cenoura, repolho, sal, pimenta, alho, e outros ingredientes. 
As pessoas se lembravam que tinham alguma coisa em suas despensas. E mais e mais ingredientes foram surgindo. 
E todos que foram se achegando, trazendo algo mais para tornar a sopa mais substanciosa, mais deliciosa, foram se olhando, trocando ideias sobre o resultado daquela movimentação toda. 
A sopa ficou pronta. 
Todos se serviram. 
Mais de uma vez. 
Surgiu até alguém para tocar um acordeão e o povo dançou e dançou, a noite toda. 
No dia seguinte, não faltaram portas se abrindo para o mendigo se abrigar do frio. 
Como ele tinha que seguir o seu caminho, despediu-se e se foi, não sem antes deixar os botões milagrosos para que aquela população pudesse continuar fazendo a sopa. 
Muito tempo se passou. 
Os botões foram se perdendo, um a um... 
Mas todos já haviam descoberto que o verdadeiro milagre não estava nos botões, e sim na solidariedade que agora reinava entre eles. 
Esse fora o maior milagre realizado pela sabedoria de um mendigo.
Redação do Momento Espírita, com base no livro Sopa de botão de osso, de Aubrey Davis, ed. Brinquebook.
Em 22.1.2024.

domingo, 21 de janeiro de 2024

LIDERANÇA COMPARTILHADA

Alexandre Magno
Conta-se que Alexandre, o Grande, conduzia seu exército para casa, depois da grande vitória contra Porus, na Índia. 
Cruzavam por uma região árida e deserta e os soldados sofriam terrivelmente com o calor, a fome e, mais que tudo, a sede. 
Os lábios rachavam e as gargantas ardiam devido à falta de água. 
Muitos estavam prestes a se deixar cair no chão e desistir. 
Por volta do meio-dia, o exército encontrou um destacamento de viajantes gregos. 
Vinham montados em mulas e carregavam alguns recipientes com água.
Um deles, vendo o rei quase sufocar de sede, encheu um elmo com água e o ofereceu a ele. 
Alexandre pegou o elmo nas mãos e olhou em torno de si. 
Viu os rostos sofridos dos soldados, que ansiavam, tanto quanto ele, por algo refrescante. 
-Obrigado, mas pode ficar com a água, disse ele, pois não tem sentido matar a minha sede sozinho, e você não tem o suficiente para todos
Devolveu a água sem tomar uma gota. 
Os soldados, aclamando seu rei, puseram-se de pé e pediram que o líder continuasse a conduzi-los adiante.
* * * 
O rei Alexandre deu um grande exemplo de verdadeira liderança. 
De uma liderança que compartilha, que divide, que caminha lado a lado, diferente do autoritarismo, que centraliza o poder e inibe a ação e a iniciativa dos seus liderados. 
Esse modelo de líder que estabelece regras para os outros e que não as cumpre, já está ultrapassado pelo novo modelo de liderança compartilhada. 
Para ser um bom líder é preciso estar disposto a seguir à frente para abrir o caminho, para dar o exemplo, para orientar e conduzir sua equipe. 
Hoje não há mais lugar para aquele modelo de líder que ficava no alto do seu trono dando ordens e exigindo que fossem cumpridas. 
O que realmente funciona é o tipo de líder que serve mais, que abre caminhos, que descobre meios de superar obstáculos junto com a equipe.
É o líder que incentiva, que desperta a motivação e o entusiasmo e que está sempre disposto a ouvir e a corrigir o passo, se for necessário. 
O verdadeiro líder é aquele que não espera pelos outros e não escolhe as tarefas, mas realiza tudo o que está ao seu alcance. 
O líder seguro é naturalmente respeitado pela sua autoridade intelecto-moral e não pela prepotência que geralmente afasta os companheiros de equipe e espalha o temor, ao invés de despertar o respeito. 
Ademais, quem está investido da responsabilidade de conduzir outras pessoas é alguém que tem a tarefa de oferecer o melhor de si, de ser uma lição viva, mas uma boa lição viva, capaz de conduzir ao bem e à liberdade. 
Esse modelo de liderança também é válido para os pais e educadores em geral. 
Quem consegue despertar em seu time o desejo de envolvimento e comprometimento com as tarefas ou com as metas que deverão ser atingidas, está a um passo da vitória. 
Assim, se você está investido na função de chefia, seja ela em que nível for, lembre-se sempre do exemplo de Alexandre, o Grande, e considere cada membro da sua equipe tão importante quando você mesmo. 
E isso, independente da função que cada um ocupe. 
* * * 
Você está no lugar correto, com as pessoas certas e na melhor situação que as Leis Divinas lhe permitem estar. 
Se hoje você ocupa a posição de líder é porque precisa aprender a liderar com sabedoria para que possa crescer e promover o crescimento dos que lhe seguem os exemplos. 
Se você está sob a coordenação de alguém, é porque precisa aprender a aceitar orientações com o firme propósito de colaborar, dando o melhor de si. 
Tanto uma posição quanto a outra são excelentes oportunidades de crescimento e regeneração que Deus oferece a quem tem o desejo sincero de elevar-se na escala evolutiva, rumo à felicidade tão sonhada.
Pense nisso! 
Redação do Momento Espírita,com base em história do livro Os donos do futuro, de Roberto Shinyashiki, ed. Infinito. 
Em 13.11.2010.

sábado, 20 de janeiro de 2024

AS LIÇÕES PARA BEM VIVER

George Ivanovich Gurdjieff
O pensador russo Gurdjieff, que morreu em 1949, falou a respeito da importância do autoconhecimento e de se saber viver. 
Ele estabeleceu algumas regras, que nos merecem reflexões. 
Segundo os especialistas em comportamento humano, quem consegue praticar a metade dessas lições, com certeza, terá mais harmonia íntima e menos estresse. 
Escreveu o filósofo: 
"Faça pausas de dez minutos a cada duas horas de trabalho, no máximo. Repita essas pausas na vida diária e pense em você, analisando suas atitudes. Aprenda a dizer não sem se sentir culpado ou achar que magoou. Querer agradar a todos é um desgaste enorme. Planeje seu dia, sim, mas deixe sempre um bom espaço para o improviso, consciente de que nem tudo depende de você. Concentre-se em apenas uma tarefa de cada vez. Por mais ágeis que sejam os seus quadros mentais, você se exaure. Esqueça, de uma vez por todas, que você é imprescindível. No trabalho, em casa, no grupo habitual. Por mais que isso lhe desagrade, tudo anda sem a sua atuação, a não ser você mesmo. Peça ajuda sempre que necessário, tendo o bom senso de pedir às pessoas certas. Diferencie problemas reais de problemas imaginários e elimine-os. Eles são pura perda de tempo e ocupam o espaço mental precioso de coisas mais importantes. Evite se envolver na ansiedade e tensão alheias enquanto ansiedade e tensão. Espere um pouco e depois retome o diálogo, a ação. Saiba que a família não é você, está junto de você, compõe o seu mundo, mas não é a sua própria identidade. Entenda que princípios e convicções fechadas podem ser um grande peso, a trave do movimento e da busca. É preciso ter sempre alguém em quem se possa confiar e falar abertamente. Saiba a hora certa de sair de cena, de retirar-se do palco, de deixar a roda. Nunca perca o sentido da importância sutil de uma saída discreta. Não queira saber se falaram mal de você e nem se atormente com isso. Escute o que comentaram de positivo, com reserva analítica, sem qualquer convencimento. Competir no lazer, no trabalho, na vida a dois, é ótimo... Para quem quer ficar esgotado e perder o melhor. A rigidez é boa na pedra, não no homem. A ele cabe firmeza, o que é muito diferente. Não abandone suas três grandes e inabaláveis amigas: a intuição, a inocência e a fé. Por fim, entenda de uma vez por todas, definitiva e conclusivamente: você é o que fizer de você mesmo." 
* * * 
Grande número de nós gastamos boa parte do nosso tempo em esforços inúteis e desnecessários. 
Uns desperdiçamos horas tentando fazer com que os outros aceitem nossas ideias. 
Outros perdemos horas de sono pensando no que iremos dizer, no dia seguinte, numa conversa que não acontecerá.
Por vezes, nos detemos por longo tempo alimentando ilusões. Isso prova que fazemos esforços inúteis ou até prejudiciais ao nosso bem-estar.
Assim, anotemos as regras de Gurdjieff e nos preparemos para uma vida de melhor qualidade. 
Redação do Momento Espírita, com base nas 20 regras de vida de George Ivanovich Gurdjieff. 
Em 13.10.2021.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

O MUNDO ESTÁ PERDIDO

RAUL TEIXEIRA
Ante os acontecimentos infelizes que afligem o planeta, as guerras que se multiplicam, é comum ouvirmos a expressão: 
O mundo está perdido! 
Entretanto, o mundo não está perdido. 
Está na mais perfeita harmonia. 
O sol cumpre sistematicamente o seu papel, sem alarde. 
A Terra oferece todos os recursos da sua intimidade, que possibilitam a vida das criaturas.
As sementes germinam, a floração acontece, os rios seguem seus cursos e os animais atendem aos objetivos que o Criador lhes estabeleceu.
Portanto, o mundo não está perdido. 
Nós é que nos esquecemos da nossa condição de filhos de Deus e nos debatemos em busca de ilusões, que nos distanciam da felicidade almejada. 
Esquecidos de que somos filhos da luz, nós nos atormentamos nas trevas e acabamos nos precipitando nos despenhadeiros de variados vícios.
O mundo não está perdido... 
Nós é que perdemos o rumo... 
A Terra faz seus movimentos de rotação e translação, obedecendo às leis do Criador. 
Os astros giram no espaço infinito, na mais perfeita sintonia com o pensamento divino. 
O sol dardeja ouro sobre a Terra, tornando possível a vida. 
A chuva generosa cumpre seu papel... 
O mundo não está perdido. 
Nós é que estamos com a visão distorcida. 
Nossa miopia moral nos faz perder a fé no Criador... 
E as manhãs que se renovam, como dádivas de Deus para o nosso crescimento, escorrem ligeiras pelas nossas mãos. 
Os minutos que se repetem, incansáveis, são desvalorizados por nós.
Olhamos o mundo, através das nossas lentes embaçadas pelo pessimismo e fazemos coro ao vozerio geral: O mundo está perdido.
Mas aqueles que têm os olhos lubrificados pela fé racional dilatam o seu campo de visão e contemplam o equilíbrio do mundo. 
Seus passos são ligeiros e decididos, pois a confiança em Deus os sustenta com o otimismo. 
São pessoas assim que mudam o ambiente terrestre, que fazem luz onde as sombras teimam em se instalar. 
Sua confiança no Criador do Universo é, de tal forma grandiosa, que jamais se permitem cair nas malhas do amolentamento. 
São pessoas que não reclamam do mundo, mas fazem do mundo, a cada dia, um lugar melhor.
Por isso, o mundo não está perdido... 
Nós é que nos perdemos por nos distanciarmos do Nosso Pai. 
Por nos sentirmos senhores do mundo. 
Por relegarmos a segundo plano os valores morais. 
Quando abrirmos os olhos, sairmos da casca do egoísmo e retirarmos a capa do orgulho, veremos que o mundo tem um colorido diferente.
Enxergaremos as belezas naturais com que Deus enfeitou a Terra e nos deslumbraremos com o perfeito equilíbrio que impera em todo o Universo.
* * * 
No reino da natureza, o ser humano é o único dotado de razão. 
É o único ser capaz de questionar e entender o seu Criador. 
Nós, como seres humanos, somos os únicos capazes de enxergar algo além das aparências. 
Não nos deixemos levar pelo pessimismo. 
Corrijamos o ângulo da nossa visão, lubrifiquemo-la com o óleo da fé em Deus e façamos a nossa parte.
Pensemos nisso! 
Façamos isso! 
Redação do Momento Espírita, com base em palestra proferida por Raul Teixeira, na cidade de Amparo/SP, em 20.2.2004. 
Em 18.1.2024.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

QUADRO FAMILIAR

Ronaldo José Lungatto
Uma cena, como uma pintura, desenha-se à nossa frente: um homem compenetrado, pai de família, estudando para a fase final de seu doutorado. 
No ambiente tranquilo, ouvem-se alguns passos apressados e leves. 
Era Sarah, sua filhinha. 
-Papai, você quer ver meu desenho? 
Perguntou ela, com brilho nos olhos. 
Sem olhar para ela, o pai respondeu, com calma: 
-Sarah, papai está ocupado. Volte um pouco mais tarde, querida. 
Dez minutos depois, ela volta à biblioteca, dizendo: 
-Papai, me deixa mostrar o meu desenho? 
-Sarah, meu amor, volte mais tarde. Isto que estou fazendo é importante. 
Respondeu ele. 
Três minutos depois ela entra novamente, fica a um palmo do nariz do pai e fala com todo poder que um comandante de cinco anos de idade poderia conseguir: 
-Você quer ver ou não? 
-Não, eu não quero. 
Retorquiu o homem, sem pensar muito no que havia dito. 
Com isso, ela zuniu para fora e o deixou só. 
De alguma maneira, ele não estava tão satisfeito quanto pensou que ficaria. 
Sentiu-se como que puxado, e foi até a porta da frente. 
-Sarah! – ele chamou – Você poderia entrar um minuto, por favor? Papai gostaria de ver o seu desenho. 
Ela entrou sem reclamações e se atirou em seu colo. 
Era um grande quadro. 
No alto, com sua melhor letra, estava escrito: Nossa família. 
-Explique-me o quadro. – Pediu ele. 
Com os pequeninos dedos de sua mão, ela descreveu: 
-Aqui é a mamãe (uma figura de palito com cabelo longo, amarelo e ondulado). Aqui sou eu, do lado de mamãe. Aqui é Katie (nosso cachorro). E aqui é Missy (a pequenina irmã). 
-Adorei seu desenho, querida. – elogiou o pai, sorrindo.- Vou pendurar na parede da sala de jantar, e toda noite, quando eu voltar para casa, eu vou olhar para ele. 
Ela sorriu, de orelha a orelha, e foi brincar. 
Ele ficou intranquilo. 
Algo sobre o desenho de Sarah. 
Alguma coisa estava faltando. 
Foi até a porta da frente e voltou a chamar a filhinha. 
-Posso ver seu desenho, outra vez? 
Ela o apanhou rapidamente e, logo, estava no colo do pai, animada. 
Foi, então, que ele fez uma pergunta, da qual não estava certo de que gostaria de ouvir a resposta: 
-Querida... Tem a mamãe, e Sarah, e Missy, e até Katie em seu desenho. Tem também sol, nossa casa e muitos pássaros. Mas, Sarah, onde está seu papai? 
Depressa, ela respondeu, nem sequer imaginando a lição que estava prestes a dar a seu pai: 
-Você está na biblioteca! 
Com aquela declaração simples, Sarah fez parar o tempo para seu pai.
Erguendo-a, suavemente, ele a mandou de volta para brincar ao sol da primavera. 
Algumas semanas se passaram, e ele tornou-se doutor.
Então, certa noite, ainda com o coração apertado, conversando com sua esposa antes de dormir, fez-lhe a seguinte pergunta: 
-Bárbara... Eu quero voltar para casa. Posso? 
Vinte segundos de silêncio se seguiram. 
Parecia que ele havia prendido seu fôlego por mais de uma hora. 
-Gary, disse a esposa. – As meninas e eu o amamos muito. Nós o queremos em casa. Mas você não esteve aqui! Eu me senti como pai e mãe por muito tempo! 
-Aquela era a verdade clara, sem disfarce. – Pensou ele. 
Sua vida tinha sido descontrolada, sua família estava em piloto automático, e ele tinha uma longa estrada pela frente se a quisesse conquistar novamente. 
Agora, que a névoa havia se dissipado, ele estava disposto a tentar. 
E esse passou a ser o objetivo mais importante de sua vida. 
Redação do Momento Espírita, com base no texto Quadro familiar, de Ronaldo José Lungatto. Disponível no livro Momento Espírita, v. 3, ed. FEP. 
Em 17.1.2024.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

O PÔR DO SOL E A ORQUÍDEA

RUBEM ALVES
O sol estava se pondo. 
O pôr do sol a fez lembrar-se do seu pai. 
E ela começou a falar. 
Ele estava mortalmente enfermo e sabia disso. 
Ela abandonou o seu trabalho para estar com ele. 
E conversaram sobre a partida que se aproximava, tranquilamente.
Aqueles que aceitam a chegada da morte ficam tranquilos. 
Disse-me que a hora que seu pai mais amava era o crepúsculo. 
Desde menina, ele se assentava com ela e ia mostrando a beleza das nuvens incendiadas, a progressiva e rápida sucessão das cores: azul, verde, amarelo, abóbora, vermelho, roxo... 
À medida que a morte se aproximava, a fraqueza aumentava. 
Mas, mesmo fraco, queria ver o pôr do sol. 
Talvez pela irmandade de um homem que morre e um sol que se põe.
Numa dessas tardes, ela não conseguiu conter as lágrimas. 
Chorou. 
Ele a abraçou e colocou seu dedo sobre seus lábios. 
-“Não quero que você chore...” 
E, apontando para o sol que se punha, disse: 
-“Eu estarei lá...” 
E contou-me também de uma orquídea que silenciosamente acompanhou esses momentos de despedida. 
A orquídea, depois que seu pai partiu para o pôr do sol, se recusou a parar de florir... 
Será que o seu pai foi morar na orquídea? 
É possível... 
* * * 
O belo texto de Ruben Alves aborda, com delicadeza, uma temática muito comum nos textos espíritas. 
A Doutrina dos Espíritos tem como arcabouço maior a imortalidade da alma. 
Foram as vozes dos imortais que se fizeram ouvir através da mediunidade segura e confiável de jovens francesas. 
Foram essas vozes que bradaram: 
-A morte não existe! Estamos aqui! Mais vivos do que nunca! Estamos no pôr do sol. 
E foram esses Espíritos, almas que já haviam vivido na Terra, que iniciaram o processo de elaboração da chamada Codificação Espírita. 
A autoria do Espiritismo é dos Espíritos em conjunto com Kardec. 
Foram os seres que já se encontram no pôr do sol que anunciaram verdades confortantes aos amigos encarnados na Terra. 
A orquídea que nunca deixa de florir é similar à alma humana. 
Nunca deixa de existir, nunca deixa de crescer e florescer. 
Haverá dia em que iremos encarar a morte de forma diferente. 
Uma separação temporária que, às vezes, nem mesmo separação o é – se considerarmos que entre almas não necessita haver afastamento. 
O amor não se perde nunca, pois ele não está no outro, está em nós. 
O ser amado ora está aqui, ora acolá, nesses tantos ir e vires da vida, mas isso não faz o amor fenecer nem desistir de amar. 
O amor, por ser criação de Deus - como tudo, nEle confia sempre. 
Nele se fortalece. 
Que as inevitáveis separações da vida possam ser vistas de ângulos diferentes daqueles de sempre. 
Não perdemos ninguém, pois a ninguém possuímos na verdade. 
Ninguém deixa de existir, pois a morte não existe. 
É apenas um momento de transição de um estado de vida para outro.
Todos vivem. 
Todos viveremos. 
Redação do Momento Espírita, inspirado no texto O pôr do sol e a orquídea, do livro Ostra feliz não faz pérola, de Ruben Alves, ed. Planeta.
Em 16.1.2024.
http://momento.com.br/pt/index.php

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

AS LIÇÕES DO MESTRE

Ele estabeleceu as mais belas lições desde o berço. 
Jamais alguém foi Mestre tão completo e excepcional. 
O Rei Solar e Governador planetário tinha sempre algo a ensinar.
Ao nascer, escolheu a intimidade de um estábulo, desprovido de conforto e de atavios. 
Lição de que a verdadeira realeza é do Espírito.
Como testemunhas do primeiro instante, Seu pai, Sua mãe.
Provavelmente, uma parteira que viera auxiliar a gestante na délivrance.
Lição de aconchego. 
O nascimento é um momento muito especial em que o ser deve ser acolhido com todo afeto e discrição. 
Mas, não se esqueceu de compartilhar a alegria do Seu nascimento com os que lhe aguardavam a vinda. 
Os mais próximos. 
Por isso, um mensageiro celeste visitou os pastores no campo e lhes anunciou a notícia alvissareira, dizendo-lhes onde poderiam encontrar o menino e como identificá-lO. 
Também recordou dos que se encontravam distantes e por isso, uma estrela brilhou de forma diferente, anunciando que Ele chegara ao planeta azul. 
Os magos, de várias partes do Oriente, que estudavam os astros e consultavam os céus, em busca de um sinal, a seguiram e O encontrando,
O adoraram. 
E porque um nascimento merece ser comemorado, um coro celeste se fez ouvir na acústica das almas simples, aos ouvidos de quem tinha ouvidos de ouvir. 
Um coro que anunciava a grande dádiva com que o Pastor presenteava Seu rebanho: 
Glória a Deus nas alturas, paz na Terra,
 boa vontade para com os homens.
Uma especial comemoração. 
Lição da alegria de que se deve revestir toda nova vida que aporta ao planeta. 
Mestre excelente, não prescindiu da família, lecionando continuamente da sua importância. 
Durante quase trinta anos, esteve no lar de Nazaré. 
E submeteu-se às tradições, exercendo a profissão de Seu pai terreno. 
As mãos celestes, que haviam modelado as formas planetárias, esmerando-se em detalhes, agora tomavam da madeira bruta para transformá-la igualmente em coxos para os animais, bancos, mesas. 
Lição de humildade e de serviço. 
Quando deixou o lar paterno para dominar as estradas do mundo, elegeu o dos amigos como Seu próprio.
Em Cafarnaum, foi a casa do pescador Simão Pedro. 
Quando na Galileia, era o Seu local de aconchego, depois das lides do dia, exaustivas, junto ao povo. 
Lar. 
Refúgio. 
Oásis para recompor as energias. 
Local de descanso. 
Na Judeia, foi a chácara dos irmãos Marta, Maria e Lázaro.
Lição das bênçãos familiares, da sua importância para o refazimento, a alimentação pelo combustível do amor. 
O Pastor veio para o meio do Seu rebanho sem descuidar de nenhum detalhe. 
Amor não amado, demonstrou a preocupação com Sua mãe, ao deixá-la na Terra. 
Entre as agonias da crucificação, lembrou-se de entregá-la ao Apóstolo João. 
Nova lição. 
A de que a família se estende para além das fronteiras da consanguinidade. 
Família corporal. 
Família espiritual. 
Tudo, em todos os instantes de Sua vida terrena, foi plenificado de ensino.
Nem poderia ser diferente com aquele que asseverou: 
-Vós me chamais mestre e senhor. E dizeis bem, porque eu o sou. 
Jesus. 
Modelo e Guia. Mestre e Senhor. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v.30, ed. FEP. 
Em 6.9.2016.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

LIÇÕES DIFERENTES

Há algum tempo, um programa de televisão entrevistou certa personalidade, possuidora de vasta fortuna, após ter sido vítima de um sequestro. 
Ela havia sido encontrada em seu cativeiro, em um bairro pobre, vizinho à sua residência. 
O entrevistador perguntou-lhe sobre os traumas e efeitos do sequestro e como ela vinha conduzindo a vida, após ocorrência tão marcante. 
Não sem causar surpresa, a conhecida dama da sociedade mostrava-se tranquila e feliz, agradecida por estar viva, de volta ao seio familiar e dos amigos. 
-Mas, disse ela, a grande marca desse sequestro, foi o que ele conseguiu produzir em mim internamente. Nos dias de cativeiro, eu ficava pensando e refletindo o que era realmente importante para mim, o que valia a pena, o que tinha valor. Naquele momento eu quase não dispunha de nada, nem mesmo do destino da minha vida, analisava a senhora. Foi aí que percebi que coisas, sem importância ou significado, eu valorizava demais. Jamais seria capaz de sair do meu carro para abrir o portão da minha casa. Isso era função dos empregados. E por outro lado, dei-me conta de quanto tempo eu passei longe de minhas filhas, em atividades dispensáveis ou fúteis, abrindo mão de conviver com meus dois grandes tesouros. Desde que retornei para casa, meus valores são totalmente outros. E comecei também a trabalhar, voluntariamente, em uma associação, para melhorar as condições de vida daquela comunidade onde estive em cativeiro. 
* * * 
As lições que essa senhora retirou, de um momento de dor e dificuldade, são exemplares. 
Porque, afinal, é exatamente esse o papel que a dor tem em nossa vida: nos provocar a melhoria. 
É verdade que a vida poderia se utilizar de muitas outras ferramentas e, várias vezes, o faz. 
Há inúmeras situações em que somos convidados a sermos melhores através da docilidade, do amor, da gentileza, da candura. 
Porém, quase sempre, abrimos mão de caminhos mais amenos para amadurecermos. 
É quando a vida percebe ser necessário utilizar-se de outras ferramentas para que o aprendizado se faça. 
Não por vingança ou castigo. 
Apenas por necessidade de evoluirmos, de progredirmos. 
E, como não aceitamos o convite do amor, a dor chega como substituta.
Assim, as agruras, dores, problemas que nos batem à porta, sejam dores da alma, sejam do corpo, são sempre lições para o aprendizado necessário. 
Jamais a dor vem sem algum significado. 
Sempre traz consigo lições valiosas, cujo aprendizado cabe a cada um de nós concretizar.
Ao invés de blasfemarmos contra a dor, revoltarmo-nos pelas dificuldades, deixemo-nos conduzir pelos desígnios da vida, fazendo o nosso melhor, e deixando à Providência Divina que nos ampare nos momentos mais difíceis. 
Guardemos a certeza: jamais estaremos sós, pois coube ao Mestre da Galileia nos assegurar: 
-Vinde a mim todos vós que vos encontrais cansados e aflitos, e eu vos aliviarei. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 9.11.2012.