sexta-feira, 30 de junho de 2023

SE EU NÃO TIVESSE NASCIDO

Alguns dias em nossas vidas são realmente desanimadores. 
Verificamos o saldo bancário, o limite do cartão de crédito e nos damos conta de que não temos nenhuma reserva de que possamos nos servir.
Olhamos em nosso entorno e tudo parece conspirar contra nós. 
Estamos na iminência de perder o emprego. 
Aliás, o cargo comissionado já nos foi retirado. 
E que baque foi em nossas economias. 
Estamos vivendo problemas afetivos que somente nos entristecem.
Amigos, que acreditávamos verdadeiros, nos deram as costas.
O dia nem está cinzento. 
Está preto mesmo. 
Nada poderia ser pior. 
Nesses dias, algo que nos ocorre à mente, por vezes, é que melhor seria não ter nascido. 
Para que tudo isso, afinal? 
Não construímos nada de grandioso, somos um fracasso profissional. 
E por aí afora... Desânimo total. 
Um abismo de tristezas. 
Quando isso acontecer, seria muito bom se parássemos um pouco e revíssemos nossa vida, em detalhes, como fez certo personagem. 
Se eu não tivesse nascido, eu não teria salvo meu irmão de perecer afogado, quando pequeno, caiu na piscina. Eu estava por perto. Fui muito rápido e o retirei da água. 
Se eu não tivesse nascido, meus pais, agora idosos, não poderiam contar com minha ajuda para os levar a consultas e a passear em finais de semana. E, acima de tudo, alegrá-los com meus abraços, toda vez que os visito. 
Se eu não tivesse nascido, não teria criado aquele projeto espetacular, que influencia muitas vidas, há nada menos de trinta anos. Um projeto que parecia simples, sem muita pretensão, mas que modificou alguns destinos. Pessoas tristonhas que nele encontraram apoio. Pessoas acabrunhadas que nele descobriram razão para reformular seus sentimentos. Até pessoas que abandonaram a ideia de fuga da vida, por causa desse projeto. 
Se eu não tivesse nascido, eu não teria oferecido meu voluntariado em benemérita instituição, há tantos anos. Sei que são somente dois braços e uma mente. Mas uma grande vontade de colaborar, ampliando os seus possíveis benefícios. 
Se eu não tivesse nascido, não teria dado à luz alguns livros, que instruem, esclarecem, oferecem ideias renovadas para todos os que os leem. 
Se eu não tivesse nascido, não teria encontrado essa pessoa especial, com quem me consorciei. Não teria conhecido a sua delicadeza, a sua gentileza, as suas renúncias a benefício dos outros. Eu teria mesmo perdido uma grande oportunidade. 
Se eu não tivesse nascido, não teria me tornado pai de dois meninos, jamais os teria encontrado, jamais os teria conhecido. Jamais teria podido apreciar sua beleza interior e a suavidade de suas almas. 
Se eu não tivesse nascido, enfim, concluo, eu não poderia me erguer agora, por descobrir que não sou tão infeliz como supunha. Sou uma criatura buscando caminhos, uma criatura buscando soluções para intrincados problemas que se apresentam mas, que no fundo, somente me tornarão mais maduro. 
Então, depois de tudo isso, só me cabe dizer: 
-Muito obrigado, meu Deus, porque eu nasci.  Obrigado pelo que sou, por tudo que tenho, pelo que me dás, todos os dias. Obrigado, Senhor Deus!
Redação do Momento Espírita
Em 30.6.202

quinta-feira, 29 de junho de 2023

LÁGRIMAS: PALAVRAS DA ALMA

Muitas vezes, na vida, vivenciamos situações em que a emoção é tamanha que nos faltam palavras para expressar nossos sentimentos.
Podemos considerar as lágrimas como as palavras de nossa alma.
Através delas, somos capazes de demonstrar incontáveis sentimentos. 
As lágrimas, na maioria das situações, escorrem de nossos olhos sem que tenhamos controle sobre elas. 
Em alguns momentos, elas contam histórias de dores, mas também têm na sua essência, algo de belo. 
Quando elevamos o pensamento, sintonizando com a Espiritualidade maior, seja com nosso anjo protetor, com o amado amigo Jesus ou com Deus, sentimos os olhos marejados. 
Observando a natureza, temos a oportunidade de presenciar alguns espetáculos que ela nos oferece. 
Emocionamo-nos percebendo a grandeza e a perfeição Divina na presença de um pôr-do-sol, de uma queda d'água ou de um arco-íris.
Diante do nascimento de uma criança, somente as lágrimas são capazes de traduzir e qualificar a magnitude desse instante Divino. 
Quando estamos sensíveis, por vezes carentes de alguma manifestação de afeto, um simples aperto de mão ou um afago carregado de amor é suficiente para provocar nossas lágrimas. 
Quando deixamos que o som de uma música elevada alcance nosso coração, somos capazes de chorar de emoção, pois sentimos a alma tocada e acariciada por aquela doce e vibrante melodia. 
Tanto a dor emocional quanto a dor física nos chegam sem pedir licença, ocupando espaço considerável em nossa alma e em nosso corpo.
Lágrimas são derramadas pela dor da partida de um ente querido, pela dor da ausência e da saudade, pela dor do erro cometido e do arrependimento. 
Ao constatarmos a dor do próximo, lágrimas jorram de nossos olhos.
Deparamo-nos com tantas carências, tantas necessidades não atendidas, enfermidades, privações e abandono. 
* * * 
Cada lágrima derramada tem seu significado. 
Seja ela vertida pela dor ou pela alegria, nos diz que somos seres movidos pela emoção, capazes de exteriorizar os nossos sentimentos. 
Demonstra que nos sensibilizamos em momentos simples e efêmeros, indicando que estamos sintonizados com o que há de belo na vida. 
E, quando as lágrimas derramadas forem de dor, façamos com que o motivo que nos comove seja também o mesmo motivo que nos move.
Que o movimento seja no sentido da modificação íntima. Que seja impulso para olhar a vida sobre um novo ângulo, para trabalhar em nós mesmos a resignação, a paciência, a esperança, a fé e a confiança em Deus.
Redação do Momento Espírita. Disponível no cd Momento Espírita, v. 22, ed.Fep.
Em 30.6.2012.

quarta-feira, 28 de junho de 2023

TRÊS CONCLUSÕES

CHICO XAVIER
EMMANUEL
ANDRÉ LUIZ
O tempo de que dispomos, nesta vida, pode nos parecer longo, considerando que vivemos época de grande longevidade possível. 
No entanto, não nos iludamos. 
Ele é curto comparado ao serviço que nos compete realizar, a bem de nós mesmos. 
Assim, justo meditar no gasto excessivo de forças, no trato com assuntos da vida dos outros. 
Pensemos: 
Quantos milhares de minutos e de frases esbanjamos por décadas, sem a mínima utilidade, ventilando temas e questões que não nos dizem respeito? 
Percebamos os temas das nossas principais conversas em família.
Notemos os assuntos pelos corredores das repartições. 
Escutemos nossas falas, na maioria das reuniões de amigos.
Iremos nos assustar. 
Para termos ideia dessa perda, reflitamos em três conclusões de interesse fundamental. 
Primeira: o que os outros pensam. Aquilo que os outros pensam é ideia deles. Não podemos lhes tomar o lugar e nem a cabeça para lhes imprimir nossos pensamentos. Cada um tem a sua própria interpretação diante das realidades do mundo. Um indígena e um físico contemplam a luz, mantendo conceitos absolutamente diferenciados entre si. Acontece o mesmo na vida moral. Necessário nutrir o próprio cérebro com pensamentos limpos, mas não está em nosso poder exigir que os semelhantes pensem como nós. 
Segunda: o que os outros falam. A palavra dos outros, sejam amigos, adversários, conhecidos ou desconhecidos, é criação verbal que pertence a eles apenas. De forma efetiva, eles se expressam como podem. Comentam as ocorrências do dia a dia com os sentimentos dignos ou menos dignos de que são portadores. É nosso dever cultivar a conversação criteriosa, saudável. Contudo, não dispomos de meios para interferir na manifestação pessoal dos que nos cercam, por mais caros que nos sejam. 
Terceira conclusão: o que os outros fazem. A atividade dos nossos irmãos é fruto da escolha e resolução que lhes cabe. A Sabedoria Divina não nos criou para sermos cópias ou guardiões uns dos outros. Cada consciência é um domínio à parte. As criaturas que nos rodeiam agem com excelentes intenções, nessa ou naquela esfera de trabalho, e se ainda não conseguem agir melhor, ou com plena retidão, isso é problema deles e não nosso.
Cobremos sempre a ação nobre de nossa parte, mas não imponhamos esperar o mesmo do próximo. 
Cada um está dando aquilo que pode dar. 
As três conclusões nos ajudam a conviver melhor, a desperdiçar menos tempo com o que se refere à vida alheia, e mais tempo com nossas próprias obrigações. 
Podemos e devemos ajudar, cooperar, sem dúvida alguma. 
Numa sociedade colaborativa, todos saem ganhando com o conviver pacífico e respeitoso. 
Todavia, reflitamos sobre o tempo excessivo gasto na preocupação com aquilo que os outros pensam, falam e fazem. 
A maior parte disso não nos diz respeito e não pode ser alterada por nós.
Importante dar a cada um o direito de ser como é e a nós o de ser como somos: obras em permanente mudança. 
Em síntese: respeito para os outros e obrigação para nós. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 22, item Três conclusões, do livro Estude e Viva, pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, ed. FEB. 
Em 28.6.2023.

terça-feira, 27 de junho de 2023

O MAIS APTO SUCESSOR

Donald E. Wildmon
Nas monarquias, um dos grandes dilemas se refere à linha de sucessão.
De um modo geral, bem estabelecida. 
Por vezes, algumas dificuldades se apresentam se o monarca pretende que quem o suceda dê continuidade aos seus projetos. 
Assim era o caso daquele rei, envelhecido nos anos e que começou a cogitar a qual dos quatro filhos deveria confiar a coroa, tão logo ele partisse para o Além. Por isso, principiou a ter longas entrevistas, em particular, buscando saber qual deles teria o melhor a oferecer ao reino. 
O primeiro entrevistado sintetizou a sua vontade de suceder ao pai. Ele era possuidor de imenso tesouro, amealhado ao longo dos anos e estava disposto a colocar todos esses recursos a benefício do reino. Isso significaria que o reino poderia ser considerado o mais rico dentre todos. E poderiam ser ampliadas as fontes de comunicação com outros reinos, multiplicadas as possibilidades de navegação e de estradas, com estabelecimento de um comércio mais intenso. No todo, mais e mais riquezas para o reino. 
O segundo filho, depois de muitos arrazoados e de ouvir seu pai, disse que se considerava, dentre os irmãos, o mais inteligente. Dessa forma, colocaria sua inteligência a serviço do reino. Poderia promover melhorias na indústria, criando técnicas inovadoras para os serviços de toda ordem. Com tudo que viesse a promover, tinha certeza de que o reino seria considerado, por todos os governantes, como o mais inteligente da Terra.
O terceiro filho foi mais direto. Ele não tinha tantas riquezas quanto o primeiro irmão, nem podia dizer ser mais inteligente do que o segundo. Mas, ele tinha um predicado muito importante. Era possuidor de muita força. Ele vencia todos os torneios em que a força fosse a tônica. E seria com sua força que reinaria. Os exércitos seriam treinados para terem os soldados mais fortes, a guarda pessoal do rei seria imbatível. Nas grandes batalhas ou nos pequenos embates, contra quem quer que fosse, o reino teria assegurada sua vitória, pela força. 
Finalmente, o quarto filho chegou para a entrevista. Inquirido a respeito do que teria a oferecer ao reino, foi preciso: 
-Meu pai, não tenho tesouros guardados, nem sou possuidor de inteligência extraordinária ou de grande força. Meus irmãos passaram anos cultivando esses valores. Eu tenho vivido no meio do povo. Não tive condições de seguir o exemplo de qualquer um deles. Estou com os que adoecem, com os que se mostram tristes, com os que apresentam desânimo. Trabalho com eles, estou com eles, falo com eles. Ofereço o medicamento para o corpo, boas palavras e ânimo para os seus dias de luta. Portanto, a única coisa que tenho para oferecer é o meu amor pelo povo. Não ficarei desapontado se não for nomeado seu sucessor. De qualquer forma, continuarei a fazer o que tenho feito até agora. 
Quando o rei morreu, o povo aguardou, com ansiedade, a notícia de quem seria o novo soberano. E uma grande alegria ecoou em todos os corações quando souberam que o quarto filho fora nomeado sucessor. 
Redação do Momento Espírita, recontando a história Para quem deixarei o meu reino?, de Donald E. Wildmon, do livro Histórias para o coração 2, de Alice Gray, ed. United Press. 
Em 27.6.2023.

segunda-feira, 26 de junho de 2023

AS LÁGRIMAS

Existem pessoas que afirmam ter uma grande dificuldade para chorar. 
Há quem acredite que as lágrimas são próprias da feminilidade, que atestam fraqueza, fragilidade.
Certa feita, um pai foi surpreendido pela pergunta de seu filho de cinco anos: 
-Pai, por que nunca vi você chorar? 
Que poderia ele responder? 
Talvez fossem seus anos de raiva, tristeza e até alegria engolidas, que o impedissem de se expressar com lágrimas. 
Ou talvez porque fora educado com os conceitos de que o homem não deve chorar. 
A verdade é que aquele pai sofria de problemas de depressão, com os quais lutava há tempos e somente respondeu: 
-Filho, lágrimas fazem bem para meninos e meninas. Fico feliz que você possa chorar sempre que está triste. Os pais, às vezes, têm dificuldade para mostrar como se sentem. Talvez eu possa melhorar algum dia. 
Nos dias que se seguiram, o pai orou intensamente a Deus rogando por alguma coisa que o fizesse sentir-se melhor. 
Aproximava-se o Natal com todo seu encanto e magia. 
O diretor da escola convidou o garoto de cinco anos para cantar pequena estrofe de uma canção natalina, em um culto religioso. 
Naturalmente, os pais se encheram de entusiasmo. 
O filho tinha pendores para a música. 
Estudava piano desde os quatro anos. 
Gostava de cantar. 
À medida que os dias iam sendo marcados no calendário, dando ciência da proximidade do evento, pais e filho principiaram a ficar ansiosos. 
O menino começou a temer não conseguir e o pai compareceu à cerimônia religiosa, na véspera de Natal, com expectativas limitadas.
Colocou-se no lugar do filho e imaginou que jamais ele enfrentaria um microfone e um público com centenas de pessoas. 
O garoto aproximou-se do microfone e começou a entoar as notas, uma a uma. 
Eram versos lindos que enchiam o espaço e os corações. 
O pai contemplou o menino e sentiu-se invadir por uma onda de ternura. 
O que seu filho cantava tinha sabor de eternidade, uma beleza sem par.
Parecia-lhe que um anjo se corporificara ali, perante a comunidade, para brindar a todos com um presente especial de Natal. 
Então, grossas lágrimas surgiram nos seus olhos. 
A canção terminou e ele buscou o filho. 
Ajoelhou-se, para ficar do tamanho dele e penetrou com o seu o olhar azul do menino. 
-Patrick, você se lembra de quando me perguntou por que nunca me tinha visto chorar? 
O menino afirmou com a cabeça. 
-Bem, estou chorando agora. Seu canto foi tão lindo que me fez chorar. 
O garoto sorriu, feliz. 
Atirou-se nos braços do pai, dizendo-lhe ao ouvido enquanto o estreitava fortemente: 
-Às vezes, a vida é tão bonita que a gente tem de chorar. 
* * * 
Por temperamento nos retraímos em muitas circunstâncias. 
Todos detemos a capacidade dos melhores sentimentos de amor.
Expressá-los, permitir que outros compartilhem das nossas emoções, das alegrias ou das dores que nos invadam o íntimo, é também exercício de humildade e fraternidade. 
Quando nos sentirmos tocar nas fibras mais delicadas de nosso ser, pela música, por um gesto de carinho, uma conquista dos nossos pequenos, permitamo-nos a visita das lágrimas doces, expressão do amor que alimenta outros amores, sem vergonha, porque ninguém evolui realmente sem o cultivo dos sentimentos mais edificantes.
Redação do Momento Espírita, com base no conto Longe, na manjedoura, da Revista Seleções Reader’s Digest, dezembro de 1998. 
Em 18.12.2018.

domingo, 25 de junho de 2023

O LADO BOM

Conta o diretor de uma agência funerária que, em sua profissão, tinha visto enterros de todos os tipos, mas nenhum o havia comovido tanto quanto o do velho Hank, o homem mais desprezado da sua região. Um dia, o Prefeito comunicou-lhe que o velho Hank morrera, e pediu-lhe para que se encarregasse dos funerais. O enterro não seria muito concorrido, pois havia muita gente que teria satisfação em ver aquele velho sob sete palmos de terra. Hank vivera, durante muitos anos, numa cabana solitária, tendo por únicos companheiros cinco ou seis cães vadios. Cercara bem o seu terreno e não permitia a entrada de ninguém. Uma vez por semana, vinha à cidade comprar alimentos e embebedar-se. E, além de tudo, era brigão. Um por um, os habitantes foram se voltando contra o infeliz, que ficou conhecido como o homem que todos odiavam. O velho Hank não era religioso, mas de acordo com os costumes, o agente funerário pediu a um pastor que fizesse a cerimônia.
-Não vai ser fácil para o senhor, disse-lhe. Não há muito que dizer de bom sobre o velho Hank. Bastará que leia uma página das Escrituras e nós o enterramos logo. 
O sacerdote, alma generosa, respondeu-lhe dizendo nunca ter conhecido alguém que não tivesse um lado bom. No dia seguinte, o pastor e o diretor almoçaram juntos no restaurante local. Falaram com a proprietária sobre o velho. 
-A senhora sabe de alguma coisa boa, a respeito dele? 
Perguntou o ministro. A mulher, embora surpreendida pela pergunta, respondeu logo com suavidade:
-Agora já posso contar o segredo do velho Hank. 
E, tirando uma caixa escondida sob o balcão, continuou: 
-Durante muitos anos, o velho comeu aqui, quando fazia a sua visita semanal à cidade. Todas as vezes, deixava comigo algum dinheiro para que eu guardasse a fim de comprar presentes, no Natal, para as crianças pobres. Vejam, há quase 40 dólares. Ele sempre completava cinquenta, no Natal. 
Naquela tarde o edifício da Prefeitura estava cheio de curiosos. O sacerdote pediu para que os alunos da escola em frente fossem dispensados para assistir ao funeral. Quando as crianças chegaram, o pastor encaminhou-se para o caixão e iniciou o serviço fúnebre. Disse mais ou menos o seguinte: 
-Hank, aqui viemos para enterrar-te. Há muita gente, mas são bem poucos os que lamentam a tua morte. O caixão está nu, pois ninguém teve o gesto de colher nem mesmo algumas flores silvestres para enfeitá-lo. Mas, meu caro Hank, eu jamais enterrei alguém sem uma homenagem de flores e tu não serás o primeiro. Tu tens, afinal de contas, alguns amigos aqui presentes, embora eles nunca te tivessem conhecido. 
Voltou-se para as crianças e perguntou quais as que haviam recebido, no Natal, presentes enviados por um amigo desconhecido. Um murmúrio de surpresa percorreu o auditório quando vinte e uma crianças subiram para perto do caixão. Disse-lhes, então, o sacerdote, que o velho Hank era o amigo desconhecido. Pediu-lhes que se dessem as mãos e fizessem uma roda em volta do caixão. 
-Hank, prosseguiu ele, comovido, tu tens de fato alguns amigos aqui, mas eles não conheceram você a tempo de trazer-te flores. Em todo caso, formaram aqui uma grinalda das mais belas flores que crescem no jardim de Deus: as crianças, às quais tu proporcionaste momentos de felicidade.
* * * 
Ninguém é essencialmente mau. 
Todos os filhos de Deus trazem em sua intimidade a centelha do Amor Divino e a farão brilhar um dia. 
Redação do Momento Espírita com base em artigo publicado na Revista Seleções Reader’s Digest, dezembro/1948. 
Em 21.06.2010.

sábado, 24 de junho de 2023

LAÇOS DE FAMÍLIA

A convivência familiar nem sempre é harmônica. 
Frequentemente, tem-se mais espontaneidade e prazer no relacionamento com amigos do que com irmãos. 
Causam perplexidade as dificuldades de relações entre pessoas que foram criadas juntas e tiveram experiências similares em seus primeiros anos. 
Elas aprenderam com os pais valores e lições semelhantes, mas apresentam grandes diferenças em seus gostos e tendências. 
Alguns irmãos, tão logo atingem a idade adulta, deliberadamente se afastam dos demais.
Outros, mesmo permanecendo em contato, estão em constantes atritos. 
A razão dessa dificuldade de relacionamento é explicada pelo Espiritismo.
Ele esclarece que existem duas espécies de família, a material e a espiritual. 
A família material é estabelecida pelos laços sanguíneos. 
A família espiritual decorre exclusivamente de afinidade e de comunhão de ideias e valores. 
O parentesco corporal é estabelecido a partir da necessidade de aprendizado e de refazimento de erros do passado. 
A parentela corporal pode ou não ser composta de Espíritos afins, ditos parentes espirituais. 
A parentela espiritual é facilmente identificável. 
São as pessoas que se buscam e têm prazer na companhia umas das outras. 
Elas têm valores em comum e seu relacionamento é tranquilo e prazeroso.
Se dois irmãos carnais têm genuína afinidade, eles sempre são grandes amigos. 
As dificuldades surgem quando a vida reúne antigos desafetos no mesmo lar. 
A convivência entre seres radicalmente diferentes e com uma certa dose de antipatia costuma ser explosiva. 
Entretanto, a Sabedoria Divina jamais se equivoca. 
Se ela providenciou essa reunião, é porque se trata de providência imprescindível à conquista da harmonia. 
A Lei Divina estabelece o amor e a fraternidade entre os seres.
Quando alguns Espíritos não aprendem suas lições com facilidade, a vida providencia os meios necessários para que o aprendizado ocorra. 
Por exemplo, dois cônjuges que se traem e infelicitam. 
Eles podem aprender a lição de que a lealdade é um tesouro. 
Também podem, a partir da ciência de sua própria fragilidade moral, ter compaixão do erro do outro. 
Mas muitos que traem e vilipendiam se permitem odiar quem com eles faz o mesmo. 
Esses por vezes renascem como irmãos, para que aprendam a se amar fraternalmente. 
Embora esse convívio não seja fácil, ele corresponde a uma real necessidade espiritual. 
Em inúmeros outros contextos, a Providência Divina reúne no mesmo lar Espíritos que se permitiram equívocos uns contra os outros. 
A família é um poderoso instrumento para eliminar rancores seculares e viabilizar a transformação moral das criaturas. 
Ciente dessa realidade, valorizemos a nossa família! 
Redação do Momento Espírita. Disponível no livro Momento Espírita, v. 8, ed. FEP. 
Em 5.3.2014.

sexta-feira, 23 de junho de 2023

O LIVRO DA NATUREZA

Lucas Tayuil de Freitas
Lemos, em precioso artigo de um jornalista e navegador: 
Os aprendizados que vêm da natureza são simples, poderosos e nos dão bons exemplos todos os dias. 
Basta enxergá-los. 
Já nos recomendou um Sábio das terras galileias, há uns dois mil anos, que contemplássemos a Criação. 
Serviu-se de sementes, de lírios do campo, de aves do céu, de redes e peixes para Seus ensinos. 
Louvou o cordeiro, a ovelha. 
Também recordou da prudência das serpentes. 
Dedilhou suas mais belas canções no alaúde de um imenso lago, que os homens chamaram de Mar da Galileia. 
A natureza. 
Um grande livro, um dicionário que decifra significados e nos mostra sinônimos. 
Um livro de História antiquíssima, que guarda os feitos e os fatos das múltiplas gerações, grafando traço a traço na casca dos troncos das árvores. 
Ou na escultura das rochas milenares, grafadas pelos ventos e pelas águas.
Um livro de orações que nos convida a agradecer o nascer do sol, com o trinar dos pássaros em prece, no alvorecer; que finda o dia cantando, feliz pelas horas vividas; que louva o Criador com o vento que sussurra segredos entre as folhas..... 
Sim, basta ter olhos de ver, ouvidos de ouvir. 
Ver a água transparente que inicia num pequeno olho que brota da terra, e se dispõe a viajar, milhas e milhas, desejando alcançar o oceano. 
E é o imenso oceano que nos ensina a grande lição da aceitação do outro.
O oceano não recusa o rio doce, não recusa rio algum. 
A água une e dissolve. 
É a sua natureza. 
Não há esta e aquela água, somente água. 
Um par de gotas mal se encontra e já são uma só. 
Mal se veem e são o oceano. 
E o oceano recebe homens maus, recebe traficantes de armas, refugiados, enamorados. 
O oceano recebe exércitos de guerreiros. 
E batalhões de paz. 
Homens que viajam a negócios. 
Pessoas que gozam férias. 
Como seria bom se aprendêssemos a ser mais humanos, imitando o oceano. 
Encontrarmos o outro e nos reconhecermos irmãos, sem preconceitos, sem erguer muros nem barreiras. 
Vermo-nos como seres criados pelo mesmo Senhor absoluto dos mundos, com a mesma finalidade: chegarmos ao oceano da perfeição. 
Assim, enquanto peregrinamos pelos rios da vida, bastaria nos unirmos, entendermos que todos estamos a caminho e formarmos uma Humanidade fraterna. 
E como rios não obedecem fronteiras, lançam-se onde queiram, assim deveríamos ser também. 
Sem distinção de raça, credo, nacionalidade, nos permitirmos ser cidadãos do mundo. 
Quão mais simples seria a vida se nos sentíssemos assim: gotas formando rios, rios caminhando para o oceano, transpondo fronteiras amigas. 
Sermos água límpida, que sacia a sede; que lava as sujidades; que limpa a atmosfera quando despenca dos céus, em abundantes jorros.
Simplesmente água, que tem a mesma composição no alto da montanha europeia, no interior da floresta americana, na fonte que apenas murmura, em nascente tímida em algum lugar deste planeta. 
Aprender com a natureza. 
Simples como as pombas, prudentes como as serpentes. 
Majestosos como os lírios dos campos, confiantes como os pássaros dos céus. 
Criaturas de Deus. 
Seres imortais. 
Redação do Momento Espírita, a partir de inspiração no artigo O oceano recebe todo rio, de Lucas Tayuil de Freitas, da Revista Vida Simples, edição 169, de abril/2016.
Em 23.6.2023.

quinta-feira, 22 de junho de 2023

FONTE INESGOTÁVEL

Num mundo material, de quantidades limitadas, de medidas em litros, quilos, é natural pensarmos que quando se doa algo, fica-se com menos do que se tinha antes. 
Imaginemos uma caixa de bombons, com vinte unidades, que precisamos repartir com cinco membros da nossa família. 
A matemática do Fundamental ensina muito bem as crianças a conhecerem o resultado, isto é, a saberem que, nessa divisão, cada integrante deverá receber quatro doces. 
Imaginemos a mesma caixa tendo que ser repartida numa família maior, com dez pessoas. 
Nosso pensamento lógico logo conclui: cada um irá receber menos que no primeiro caso. 
Esse tipo de raciocínio é compreensível quando estamos na esfera das coisas, dos objetos, que podem ser medidos em unidades, quilos, metros.
No entanto, levemos esse mesmo pensamento para outra dimensão. 
Para a dimensão do amor. 
Suponhamos que o amor é a nossa caixa de bombons! Se dividirmos esse amor com duas ou três pessoas, elas recebem um tanto. 
Mas, se a repartirmos com mais e mais, cada novo amor da nossa vida vai receber cada vez menos. 
Vejamos como fica estranha a lógica neste caso, pois estamos falando de algo que não se mede, de um sentimento, que não se pode colocar numa caixa, num envelope ou num vaso. 
Talvez possamos imaginar que o amor que temos está numa espécie de vaso, desses valiosos, de porcelana. 
Selecionamos com quem dividir esse líquido precioso porque temos a impressão de que sua quantidade é limitada. 
O resultado será o mesmo: quanto maior o número de pessoas menor será a quantidade do líquido para cada uma. 
Comparando essas divisões com o tempo, percebemos que não teríamos tempo para todos! 
Não teríamos como dar atenção a muitos. 
São sinais que fazem parecer que nosso amor tem alguma limitação.
Quando pensamos assim, estamos nos servindo da lógica da caixa de bombons ou do vaso com líquido. 
Agora, imaginemos que, ao invés do vaso, o amor que dispomos vem de uma fonte, que jorra sempre, sem parar. 
E quanto mais nos utilizamos dessa fonte, mais forte ela jorra! 
Isso muda tudo, não é mesmo? 
Os que gostamos de chocolate podemos dizer: 
-É uma caixa de bombons sem fim! 
Podemos pensar dessa forma, se quisermos. 
Nesse caso, dividir é multiplicar. 
A lei do amor funciona assim. 
Pais que têm muitos filhos podem até ter dificuldade de tempo, de dividir atenção, mas nunca de amar menos a cada um. 
Filhos e irmãos que cresceram e formaram novas famílias, repartindo seu amor com a figura de um esposo, uma esposa e outras crianças, não deixam de amar seus pais e irmãos. 
Pelo contrário: a nova experiência de vida os ensina a amar mais e valorizar os que vieram antes. 
Se temos muitos amigos não significa que amemos menos cada um. 
Ter mais amigos nos faz amar melhor cada um deles. 
Por isso, não tenhamos medo de ficar sem o amor dos nossos amores, quando eles se encontram no caminho de aprender a dividir. 
Não permitamos que o ciúme contagie nosso coração. 
Ele apenas nos fará menos receptivos ao bem que possa nos alcançar. 
O amor é uma fonte inesgotável. 
Quanto mais se divide, mais se multiplica.
Redação do Momento Espírita 
Em 22.6.2023.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

LAÇOS DE AFETO

MÁRIO QUINTANA
Do poeta e escritor gaúcho Mário Quintana, encontramos uma preciosidade que fala sobre algo muito simples: um laço. 
Escreveu ele: 
Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço... Uma fita... Dando voltas. Enrosca-se, mas não se embola. Vira, revira, circula e pronto: está dado o laço. É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço. É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido, em qualquer coisa onde o faço. E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando... Devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço. Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido. E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço. Ah, então, é assim o amor, a amizade. Tudo que é sentimento. Como um pedaço de fita. Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora, deixando livre as duas bandas do laço. Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade. E quando alguém briga, então se diz: romperam-se os laços. E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço. Então o amor e a amizade são isso... Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam. Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço! 
* * * 
ANDRÉ LUIZ
E
CHICO XAVIER
Tem toda razão o poeta em sua analogia. 
Amor e amizade são sentimentos altruístas. 
Quem ama somente deseja o bem do ser amado. 
Por isso, não interfere em suas escolhas, em seus desejos. 
Sugere, opina, mas deixa livre o outro para a tomada das próprias decisões. 
Quem ama auxilia o amado a atingir seus objetivos. 
Nunca cobra o ofertado, nem exige nada em troca. 
Quem ama não aprisiona o amado, não o algema ao seu lado. 
Ama e deixa o amado livre para estender suas asas. 
Assim crescem os dois, pois há espaços para ambos conquistarem. 
Na amizade, não se faz diferente o panorama. 
O verdadeiro amigo não deseja que o outro pense como ele próprio pois reconhece que os pensamentos são criações originais de cada um.
Entende que o amigo é uma bênção que lhe cabe cultivar e o auxilia a realizar a sua felicidade sem cogitar da sua própria. 
Sente-se feliz com o bem daquele a quem devota amizade. 
Entende que cada criatura humana é um ser inteligente em transformação e que, por vezes, poderão ocorrer mudanças na forma de pensar, de agir do outro.
Mudanças que nem sempre estarão na mesma direção das suas próprias escolhas. O amigo enxerga defeitos no coração do outro, mas sabe amá-lo e entendê-lo mesmo assim. 
E, se ventos diversos se apresentam, criando distâncias entre ambos, jamais buscará desacreditar ou desmoralizar aquele amigo. 
Tudo isso, porque a ventura real da amizade é o bem dos entes queridos.
Um laço que ata... 
Um laço que se desata.. 
Aqueles a quem oferecemos o coração, poderão se distanciar, buscar outros caminhos, atravessar outras fronteiras. 
Eles têm o direito de assim proceder, se o desejarem. 
De nossa parte, lembremos da leveza do laço e cuidemos para que não se transforme em nó, que prende e retém. 
Redação do Momento Espírita, com base em versos do poeta Mário Quintana e no cap. 12, do livro Sinal verde, pelo Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Cec. 
Em 02.02.2011.

terça-feira, 20 de junho de 2023

MINHA PRECIOSIDADE

Robertson McQuilkin e Muriel
Como acaba o amor entre um casal?
Essa foi a pergunta que Roberto se fez naquela manhã. 
Em sua juventude, ele lera muito a respeito, especialmente para não deixar que a chama da paixão se extinguisse, na medida da soma dos anos de matrimônio. 
Lembrava de ter lido que o amor desaparece quando não existe reciprocidade, quando a outra pessoa não se comunica, quando deixa de haver um relacionamento físico, quando uma das partes se torna um fardo para a outra. 
E ele se esforçara para que cada dia fosse único para ambos. 
Lembrava de comprar flores em comemoração nenhuma, somente para surpreender a esposa e a ver sorrir. 
Telefonava, em pleno expediente, só para dizer: 
-Amor, eu te amo! 
Mas, muito cedo, Muriel, a esposa amada, sucumbira nas sombras do Mal de Alzheimer. 
Por que chegara tão cedo, apagando a luz dos seus olhos brilhantes? 
Ele a olhava e via que ela continuava a ser uma mulher adorável. 
Roberto deixara a profissão para se dedicar, inteiramente, aos cuidados dela. 
No entanto, tantas vezes, ele lhe falava, lhe falava, sem que ela conseguisse entender as palavras dele e muito menos lhe responder.
Certo dia, um aluno o encontrou, no supermercado e lhe perguntou, de chofre: 
-Reitor, o senhor não sente falta do seu cargo, da sua atividade? 
Ele jamais pensara antes a respeito. 
Lembrou do quanto lhe era gratificante seu trabalho. 
Ao mesmo tempo, se deu conta do quanto tivera que aprender para cuidar da casa, cozinhar, atender as necessidades todas de sua amada. 
Naquela noite, em suas preces, abriu seu coração: 
-Pai Celeste, eu gosto do que estou fazendo. Não tenho nenhum arrependimento. Atender a mulher que amo, estar ao lado dela, cuidá-la, me faz feliz. No entanto, meu Pai, quando o treinador deixa o jogador no banco de reservas é porque não o quer no jogo. Então, me pergunto: por que me retiraste do jogo? 
Na manhã seguinte, como habitualmente, ele saiu com a esposa a caminhar, ao redor do quarteirão. 
Andavam lentamente, dadas as dificuldades dela. 
Ele a segurava firme pelo braço, a fim de lhe transmitir segurança. 
Um casal abraçado, andando na calçada... 
Um andarilho passou por eles. 
Por um instante, olhou os dois e comentou: 
-Muito bem. Gostei. Gostei disso. 
E seguiu pela rua, repetindo: 
-Gostei disso. Muito bem. Gostei. 
Quando retornaram ao lar, as palavras daquele homem voltaram à mente de Roberto. 
Foi, então, que ele entendeu. 
O Senhor havia lhe respondido por meio da boca daquele andarilho. 
Em voz alta, como se desejasse que os céus ouvissem, falou: 
-Tu me respondeste, bom Deus. “Muito bem. Gostei.” Essa foi a Tua mensagem. Entendi. Eu posso estar sentado no banco de reservas, mas se estás gostando disso e dizes que é bom, é isso o que importa... Com certeza, Senhor, minha vida é mais feliz do que noventa e cinco por cento dos que vivem neste planeta. Muriel é minha preciosidade. E se me permites estar ao seu lado, ouvir os seus silêncios, olhar seus olhos que parecem apagados, mergulhados no vazio, eu agradeço. Obrigado, Senhor, por me permitir cuidar tão bem da minha preciosidade. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Ela é minha preciosidade, de Robertson McQuilkin, do livro Histórias para o coração 2, de Alice Gray, ed. Limited Pres. 
Em 20.6.2023.

segunda-feira, 19 de junho de 2023

O FIO MÁGICO

Era uma vez uma menina muito ansiosa. Ela nunca estava onde parecia estar. Por exemplo: ela estava em casa, tomando café da manhã mas, dentro de sua cabeça, já estava no dia seguinte fazendo a prova de matemática. Havia ido mal na prova, repetido de ano, não viajado para as férias na praia, e depois, e depois... A voz da mãe a trouxe de volta:
-Menina! Onde você está com a cabeça? Derrubou todo o café! 
Mais tarde, ela parecia estar na escola, na aula de português porém, dentro da cabeça, estava duas horas na frente, voltando para casa com as amigas. Sempre estava no futuro. Certa tarde silenciosa, ela ouviu uma voz chamá-la. Era uma senhora de feição tranquila, parecida com uma boa vovó. 
- Veja o que tenho aqui, menina, disse ela, mostrando uma bola feita de fios de seda cor de prata. 
-O que é isso? 
-É o fio da sua vida. Se você não tocar nele, o tempo passará normalmente. Mas, se quiser que o tempo ande mais rápido é só dar um leve puxão na linha e passará uma hora como se fosse um segundo! Você aceita? 
A menina ficou intrigada e desejou testar. No dia seguinte, levou o fio para a escola, escondido na mochila. A primeira aula estava tão chata! Queria que fosse hora de voltar com as amigas... E por que não? Então, deu um leve puxão no fio. Na mesma hora, a sineta tocou e lá fora o sol estava se pondo. Funcionava! Daí para frente ela puxava o fio com frequência. Só um pouquinho de cada vez. Quando estava com medo de uma prova, puxava e já estava no dia seguinte, passada a preocupação. Na quarta, bastava um puxão e já seria sábado. Depois, descobriu que se o puxão durasse um tanto mais, estaria na faculdade. De menina, seria moça! Mais tarde, puxou o fio depois que soube que o namorado passaria dois anos estudando no Exterior. Já estava com outro! Melhor assim, não passaria pela dor da separação. Assim foi puxando, puxando. Um problema maior era um puxão. De puxão em puxão, foi vivendo. Porém, percebeu que não havia visto o nascimento e nem os dois primeiros anos do netinho. E tantas outras coisas importantes da vida familiar. Certa tarde, a velha senhora reapareceu.
-Então, menina, sua vida foi boa? 
- Não tenho certeza. Respondeu ela. É verdade que, por causa do fio mágico eu me livrei de muito sofrimento. Pulei as partes ruins da vida e isso é ótimo... Mas, foi tudo tão rápido! E agora me resta tão pouco tempo! Sinto que ficou faltando alguma coisa. 
-O que acha que ficou faltando na sua vida? 
-Tudo de que fugi e que teria me transformado, eu acho. Quem eu seria hoje se essa parte da minha vida não estivesse faltando? Parece que não aprendi nada e que minha trajetória não tem sentido, entende? 
-Então vou lhe conceder um desejo, um só, para que você possa corrigir isso. 
A menina, agora idosa, pensou. Reviu sua vida como se fosse um filme, com as partes boas e ruins. E disse: 
-Quero começar tudo de novo, sem o fio mágico. 
Fechou os olhos. Quando os abriu, era de novo uma menina, estava na mesa do café da manhã de sua infância ouvindo a mãe dizer: 
-Menina! Onde você está com a cabeça? Derrubou todo o café! 
Redação do Momento Espírita, com base em conto tradicional da Europa, recontado por @biapicchia, encontrado no site www.femininosagrado.com.br
Em 19.6.2023

domingo, 18 de junho de 2023

LABORATÓRIO DE AMOR

O que fazer quando alguém deseja se alfabetizar? 
Certamente o caminho mais fácil será buscar a escola. 
Quando desejamos aprender um ofício, buscar uma profissão?
Vamos às escolas técnicas, à Universidade. 
Lá, certamente encontraremos meios, possibilidades e recursos para nossa formação. 
E quando desejamos aprender a amar? 
Qual a melhor escola a buscar? 
Após breve reflexão, percebemos, através de nosso cotidiano, de nossa vida de relação, grande e indispensável escola. 
Não existe fórmula para aprender a amar sem conviver. 
Toda possibilidade de relacionamento com o próximo é convite para o aprendizado do amor. 
É natural que, quanto mais frequente, quanto maior a convivência, maiores sejam os desafios e as oportunidades para essa aprendizagem. 
Dessa forma, a vida em família, o viver sob o mesmo teto, a intimidade do cotidiano familiar possibilitam incomparável laboratório de experimentação. 
Por essa razão é que a Providência Divina ali coloca muitos daqueles seres com compromissos adquiridos desde muito tempo. Sob a tutela do lar encontraremos ou reencontraremos almas que, de alguma forma, se vinculam à nossa História por já termos vivido outras experiências reencarnatórias, em tempo próximo ou distante. 
Sob nova vestimenta, com outros vínculos de relação, no ambiente do lar se apresentam possibilidades de experiências necessárias à nossa economia moral. 
Não raro, desafetos do ontem renascem sob vínculos sanguíneos a fim de superar as diferenças.
Vítimas e algozes de relações passadas, agora sob o abençoado véu do esquecimento, reiniciam suas lides nos liames do lar. 
Assim também amores se reencontram, almas afins se programam para as experiências em regime de comunhão cooperativa, com planejamentos estabelecidos antes do nascimento. 
É por essa razão que o lar será sempre a oficina bendita, o laboratório por excelência, no exercício do amor. 
Por isso mesmo é natural que relacionamentos familiares, por vezes, se apresentem em fase de construção dos laços de afeto e bem querer.
Importante tenhamos em mente que o acaso não é fator que defina a estrutura de nossa família. 
Portanto, por mais desafiadoras sejam as relações familiares, serão essas as mais necessárias e ricas em aprendizado. 
Entendendo-as como operosa lide nos exercícios do coração, perceberemos que mesmo antagonismos e atritos que surjam nessa convivência são processos naturais entre os recém matriculados aprendizes do amor. 
Superando divergências, iremos aos poucos renovando paisagens íntimas e restabelecendo parâmetros em nossa intimidade. 
Ausentarmo-nos ou fugirmos desses relacionamentos será adiar compromisso perante aqueles que constituem hoje nosso universo familiar. 
Entendermos que as dificuldades de relação são passíveis de serem melhoradas, e mesmo superadas, desde que haja vontade, denota maturidade e desejo de ajustamento. 
Assim, entendamos nosso lar, por mais difícil que às vezes se nos apresente como a melhor escola que a vida nos proporciona. 
E somos todos, aqueles que nos relacionamos na intimidade da família, professores uns dos outros, no maravilhoso desafio do aprendizado do amor. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 27.12.20

sábado, 17 de junho de 2023

JUVENTUDE INTERIOR

DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANNA DE ÂNGELIS
A juventude é essa fase dourada da vida, em que os sonhos superam a realidade, e na qual a exuberância, a força e a beleza estabelecem o seu domínio. 
Na Terra, essa fase é determinada por certo número de primaveras. 
É um período de tal forma atraente que desde sempre o perseguimos e desejamos nos manter nele. 
Para isso, buscamos poções mágicas, fontes milagrosas, que jamais serão encontradas. 
Na atualidade, com o objetivo de mantermos, por mais tempo, uma aparência jovem, frequentamos academias, nos submetemos a cirurgias plásticas, utilizamos produtos e cosméticos os mais diversos. 
Tudo isso pode nos conferir uma boa aparência exterior, no entanto, importante pensarmos como estamos em nossa intimidade. 
Por vezes, somos exatamente aqueles que agasalhamos ideias arcaicas, ultrapassadas, enquanto buscamos nos manter jovens por fora. Isso nos diz que podemos retocar, modernizar a aparência que mostraremos para o mundo. 
Seremos semelhantes a um presente muito bem embrulhado, com laçarotes coloridos, trazendo no interior um produto que cheira a bolor, algo com data de validade vencida há muito tempo. 
Rejuvenescer ideias, espantar preconceitos, mudar pareceres antiquados exigem mais do que uma cirurgia plástica. 
Podemos afugentar as rugas do corpo, mas o Espírito necessita de outros esforços para rejuvenescer. 
* * * 
Quando nos dispusermos a perceber que somos Espíritos imortais revestidos de um corpo material, apenas para viver na Terra, compreenderemos melhor o processo do rejuvenescimento.
Perceberemos que a tão procurada fonte da juventude se encontra em nós mesmos, e se mostra desde o instante em que resolvemos nos conhecer e aceitamos as mudanças naturais da vida. 
Utilizando essa fonte, poderemos nos transformar intimamente, tornando mais verdadeiro e simpático o nosso sorriso; nos tornarmos mais sábios; termos um olhar mais sereno. 
Tudo isso estará retratando nossa realidade de Espírito que busca evoluir, que deseja alcançar patamares mais elevados. 
Quando, independente da idade que tenha o nosso corpo, soubermos admirar um raio de sol, o desabrochar de uma flor, o sorriso de uma criança, estaremos vivendo a plenitude da juventude. 
Quando nosso foco estiver no aprendizado de novas ciências, novas tecnologias, estaremos mantendo ativa e jovem a nossa energia mental.
Quando buscarmos crescer para a luz espiritual, embora dependente ainda das leis materiais, nosso olhar estará em perfeita conexão com a vida. 
Manter essa juventude interior deve ser objetivo de todos os que nos encontramos sobre a Terra. 
Isso nos permitirá termos nossas vidas transformadas em produtivas searas, fortalecidas pelo amor de Jesus. 
O perfume desse amor maior nos manterá espiritualmente jovens e repletos da vida abundante. 
A juventude física é passageira, por mais tentemos deter as consequências do avanço dos anos. 
Entretanto, a juventude da alma que se dispõe a compartilhar suas energias, transformadas em bênçãos de luz e paz, nos enriquecerá para sempre.
Façamos mais em nosso próprio favor. 
Zelemos pelos exemplos que espalhamos, estejamos sempre dispostos a aprender mais e mais, em terapêutico processo de evolução constante.
Conservemo-nos eternamente jovens na intimidade de nós mesmos.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 11, do livro Luz nas trevas, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 9.2.2019.

sexta-feira, 16 de junho de 2023

JUVENTUDE E LIBERDADE

Cresce o número de adolescentes grávidas... 
Adolescentes são vítimas do alcoolismo...
Cresce o número de crimes praticados por jovens... 
Aumenta o consumo de álcool e cigarro entre os adolescentes... 
Estas são algumas das notícias que estampam os jornais nos últimos tempos. 
Onde foi parar a liberdade? 
Juventude é sinônimo de liberdade. 
É o que cantam os jovens. 
Ser jovem é ser livre, dizem. 
Será que os nossos jovens sabem o que é ser livre? 
Ou será que estão buscando a liberdade entregando-se ao jugo das drogas e da libertinagem? 
Parece que há uma confusão muito grande na cabeça do jovem moderno, que luta tanto pela liberdade e se entrega sem reflexão à dependência química. 
Pois, em nome dessa pseudoliberdade apertam os grilhões que os manterão presos por muito tempo. 
Dos homens de Malboro que conhecemos outrora e cujos outdors eram mostrados em nossas cidades, todos já se despediram da vida física, sendo que a maioria deles corroídos por cânceres variados. 
Será que a juventude não consegue distinguir o que seja a verdadeira liberdade? 
Tão logo o adolescente pode, corta o cordão umbilical que o une aos pais.
Afinal, é careta ser chamado de filhinho da mamãe, por depender da sua amorosa proteção. 
Mas, será que careta não é ser dependente do cigarro, do álcool ou de outras drogas? 
Será que não é melhor seguir as orientações dos pais que verdadeiramente o amam, ao invés de se entregar aos interesses mundanos dos traficantes e dos comerciantes inescrupulosos? 
Em nome da liberdade, os jovens entregam-se aos desejos carnais, permitindo que a gravidez lhes traga responsabilidades precoces. 
Em nome da liberdade, deixam os filhos, gerados sem responsabilidade, entregues a si mesmos, quando não os matam ainda no ventre. 
Em nome da liberdade, buscam o cigarro, os alcoólicos, dos quais não conseguem libertar-se, tornando-se escravos desses venenos livres. 
Em nome da liberdade, deixam-se dominar pela fúria e caem nas malhas dos crimes. 
Nós perguntamos: isso tudo é liberdade ou é escravidão? 
Que futuro podemos esperar se os jovens, que são a concretização do futuro, se degradam dia a dia? 
Com que mãos firmes poderemos contar no amanhã, se as dos nossos jovens estão trêmulas pelos efeitos das drogas? 
Será que poderemos contar com cérebros brilhantes se os nossos jovens destroem seus neurônios sob a ação do álcool? 
Cabe aos pais e educadores a grande tarefa de orientar e mostrar novos rumos aos jovens de hoje, para que nossa sociedade não apodreça nas bases. 
Cabe aos jovens discernir o que é lícito e o que convém ao verdadeiro cristão.
No dizer de Paulo, o Apóstolo, tudo me é permitido, mas nem tudo me convém. 
Aí está a chave para quem anseia por ser verdadeiramente livre.
Busquemos a libertação física pela limitação dos apetites. 
A libertação intelectual pelo conhecimento da verdade, e, por fim, a liberdade moral pela conquista das virtudes. 
Só dessa forma seremos soberanamente livres. 
* * * 
Em grande parte dos acidentes de trânsito os motoristas estão embriagados. 
O grande incentivo ao uso do álcool surge no ambiente familiar. 
Por ser o álcool uma droga socialmente aceita, os pais não se dão conta de que estão permitindo que seus filhos adentrem por caminhos de difícil volta. 
Redação do Momento Espírita, com base em dados extraídos de nota publicada no Jornal Gazeta do Povo, em 26/09/96. 
Em 13.09.2010.

quinta-feira, 15 de junho de 2023

OUVE

Camille Flammarion

Ouve.

Ouve o sussurro reconfortante

Do vento nos ramos do salgueiro.

Ouve os estalos d’água da fonte solitária

Vertendo pureza e servindo sem o saber.

Escuta o recital da asa branca

Profundo e rouco atrás de um par que a aceite.

Escuta o canto simples das cigarras

Ecoando na floresta em noites de verão.

Percebe o bater transparente das asas do beija-flor

Frenéticas, quase oitenta vezes, num único segundo.

Percebe o rufar do trovão à distância

Anunciando novo movimento na sinfonia do céu.

Descobre a complexa canção das baleias

Correndo grandes distâncias na imensidão marinha.

Observa a areia regendo as vagas no calar da noite

Nenhum compasso se repete. Uma pauta sem fim.

Ouve o coração acelerado

De quem acabou de voltar ao mundo

Na ânsia de ser mais.

Ouve!

A música do Grande Compositor está em todo lugar.

Desperta e ouve!

Mas, ouve com atenção

Pois, a voz da beleza - falava um grande sábio

A voz da beleza fala baixo…

*   *   *

Camille Flammarion, importante astrônomo e pesquisador psíquico francês, assim se expressou, com propriedade:

Em todas as províncias da vida, a mão do Criador inteligente e previdente se revela aos olhos que sabem verdadeiramente ver.

E sempre que a dúvida nos perturbe, nada melhor se nos impõe que o estudo acurado da natureza, porquanto todos os que tiverem consigo o sentimento do belo e verdadeiro, ante o espetáculo maravilhoso da Criação, logo terão dissipadas as nuvens, qual floração de luz.

A natureza tem harmonias para a alma, tem quadros para o pensamento, tem tesouros para as ambições do Espírito e ternuras para as aspirações do coração.

Sim, ela os tem, porque não nos é estranha. Somos um com ela.

Fazemos parte da grandiosidade do Universo. Somos parte dessa natureza encantadora que cada dia nos surpreende com suas habilidades, perfeições e mistérios.

Precisamos aprender a nos conectar melhor com tudo isso.

A vida moderna nos privou do contato mais constante com os outros seres vivos. O verde passou a ser visto enquadrado em poucas paredes, quando nos permitimos construir janelas.

Areia, grama, pássaros passaram a ser atrações eventuais e não mais convívios diários.

A beleza continua estuante ao nosso redor, por vezes, praticamente gritando: Estou aqui. Mas, não temos tempo, não temos ânimo e nem interesse.

Curioso ver o ser humano doente, agoniado, ansioso, inseguro, com o remédio claramente ao seu lado...

A conexão com Deus através da natureza tem poder terapêutico.

A natureza nos acalma, nos ensina sobre a paciência, nos dá lições de persistência. Desenvolve na alma a empatia, a sensibilidade e tantas e tantas outras virtudes.

Que possamos nos permitir mais momentos de vida na natureza.

Que, assim como outros bons hábitos diários, acrescentemos os momentos de contemplação, a visita e os cuidados com um jardim, namorar o canto de alguns pássaros...

Percebamos esta vida maior que nos envolvePercebamos o quão grande e bela é a Criação Divina e que fazemos parte dela com muita honra e alegria.

Redação do Momento Espírita, com base no poema Ouve,
 de Andrey Cechelero; pt. 4, cap. 2 e pt. 5, cap. 1, do livro
 Deus na Natureza, de Camille Flammarion, ed. FEB.
Em 15.6.2023.

quarta-feira, 14 de junho de 2023

JUSTIÇA

O quadro era muito triste. Olhamos aquela mulher outra vez. E a mente rapidamente calculou os meses intermináveis que a detém ao leito de dores. Contemplando-lhe o corpo minado pela enfermidade, o cansaço estampado na face, a memória que a trai a cada instante, com imensos lapsos de esquecimento do passado distante, quanto do ontem ainda presente, sentimos compaixão. Imaginamos a sua vida de trabalho e operosidade. Mulher dinâmica, valorosa, criou cinco filhos quase a sós. A profissão do esposo o mantinha semanas a fio, longe do lar. Sempre foi ela quem decidiu, opinou, escolheu. Disciplina lhe foi nota constante. Valor que passou aos cinco filhos. Disciplina de horários, na palavra, na conduta. Dinâmica e corajosa, enfrentou enfermidades dos filhos, dificuldades financeiras imensuráveis. Os anos se somaram. Os filhos cresceram. Casaram e constituíram a própria família. Vieram os netos e a soma de trabalhos não cessou, pois que agora os pequeninos lhe eram deixados à guarda, por horas, sim, desde que as forças já não eram as mesmas da juventude ativa e sadia. E então, quando o inverno dos anos lhe cobriu de neve os cabelos, intensificaram-se as dores. Morreram-lhe em curto espaço de anos o esposo e três filhos, em circunstâncias trágicas. Enfraqueceram-lhe ainda mais as forças e o coração ferido se deixou desfalecer. Acresceram-lhe as inquietudes e a doença se instalou, vigorosa. Olhando-a agora, sobre a cama, semi-desfalecida, recordamos-lhe os esforços para a preservação da vida dos filhos, pela sua educação.
Lembrando-lhe os anos de atividade e labuta, perguntamo­-nos o porquê de tanto sofrimento.
As pessoas dizem que é o ciclo natural da vida. 
Nascer, crescer, enfermar, morrer. 
Mas a pergunta não cala em nós. 
Desejamos resposta mais convincente. 
Afinal, dói-nos na alma observar a debilidade e a dependência da mulher mãe, esposa, avó. 
Enquanto oramos por ela, soam-nos aos ouvidos as exortações do Evangelho de Jesus: 
-A cada um segundo as suas obras. 
É como se pudéssemos, no recesso do Espírito, escutar a voz do Sublime Cantor Galileu, em plena natureza.
Tornamos a olhar para o corpo da enferma e agradecemos à Divindade.
Podemos agora entender a sua serenidade na dor. 
Ela sabe que é a justiça de Deus que a alcança, permitindo-lhe o resgate de faltas cometidas em dias passados, de vidas anteriores. 
Por isso ela sorri. 
E ora. 
E espera. 
Aguarda os dias do reencontro com os seus amores, afirmando convicta:
-Quando Deus quiser, hei de partir. E estou me esforçando para seguir viagem vitoriosa.
* * * 
Ninguém sofre de forma injusta. 
Se assim não fosse, não poderíamos conceber que Deus, nosso Pai, fosse infinitamente justo e bom, pois puniria a bel prazer uns e outros, concedendo felicidade a outros tantos. 
Dessa forma, cabe-nos cultivar a resignação ante os problemas que nos atingem e não podem ter seu curso alterado, por nossa vontade. 
Contudo, é sempre bom lembrar que cada um de nós, sobre a Terra, pode se tornar instrumento da Divindade, para aliviar a carga do seu irmão, socorrendo. 
Eis porque a fraternidade é dever. 
Redação do Momento Espírita Disponível no livro Momento Espírita, v. 6, ed. FEP. 
Em 19.10.2021.